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RESUMÃO CIRURGIA CASO 01 – CUIDADOS PEROPERATÓRIOS Avalição pré-operatória: tem como objetivo reduzir a morbimortalidade no trans e no pós-operatório. A solicitação de exames deve ser feita de forma criteriosa e não como simples rotina. >> ACV: em pacientes sem risco cardiovascular, deve ser solicitado parecer cardiológico a partir dos 50 anos. Nos mais jovens, a avaliação da capacidade funcional através da anamnese é suficiente para selecionar aqueles que precisam de avaliação especializada. Solicitar sempre quando: doença cardíaca prévia, cirurgia oncológica, obesidade, DRC e DM > 10a evolução. Em cirurgias eletivas, há situações em que devemos compensar o paciente antes da cirurgia devido ao risco cardíaco extremo, são elas: (1) síndromes coronarianas instáveis; (2) ICC; (3) arritmias importantes; (4) doença valvular grave. >> AR: cirurgias no andar superior do abdome provocam repercussão na função pulmonar, pois limitam os movimentos respiratórios. Para minimizar, é importante boa analgesia e fisioterapia (de preferência antes do procedimento, porque depois o pcte está com dor). Somente suspender tabaco se houver intervalo > 6semanas até a cirurgia. Solicitar parecer quando: cirurgia no esôfago, grandes incisões no abdome superior, > 60 anos, fumantes e em pacientes com sintomas respiratórios. >> AGU: nos pctes renais crônicos, devemos investigar anemia, uremia (altera qualitativamente a função plaquetária), DHE, distúrbio ácido- básico. Realizar diálise pré e pós sempre que necessário. Nos pacientes que não são crônicos, é importante manter o volume intravascular e evitar substâncias nefrotóxicas. Solicitar FR quando: comorbidades renais e pacientes > 50 anos. >> Sistema hepatobiliar: pacientes com estigmas de hapatopatia devem ser investigados para quantificar o grau de perda da função hepática e quanto à presença de infecção. Child A (5-6 pontos) ou MELD < 10 podem ser realizados procedimentos cirúrgicos com monitorização da função. Child B (7-9 pontos) ou MELD 10-15 podem ser realizados procedimentos exceto cirurgias cardíacas e hepatectomia. Child C (10-15 pontos) ou MELD >15, hepatites agudas ou Child A-B associados a outras comorbidades devem ser evitados procedimentos cirúrgicos, se possivel. >> Sistema endócrino: DM – É a comorbidade mais comum. Nesses pacientes, devemos investigar lesão de órgão-alvo (coração e rins). O uso de hipoglicemiantes deve ser suspenso no dia da cirurgia e o controle realizado por insulina. No pré-op níveis entre 100-200 e de 120-180 no trans-op são aceitáveis . Controles mais rígidos devem ser evitados a fim de não causar hipoglicemia. Pacientes com controle exclusivo com dieta: controle de HGT com escala de insulina Pacientes em uso de hipoglicemiantes orais: suspender medicações no dia da cirurgia controle de HGT com escala de insulina retornar aos medicamentos após início da dieta. Cirurgia de pequeno e médio porte com jejum restrito à primeira refeição: manter o esquema normal de insulina e controla o HGT com escala de insulina. Cirurgias de pequeno e médio porte com jejum de duas ou mais refeições: trocar a insulina regular da manhã por insulina NPH na metade da dose habitual; infusão IV de glicose 5% 100ml/h; controle de HGT com regular. Cirurgias maiores: nesses casos, está indicada insulina IV. Pós-operatório: nos pacientes com uso de insulina no intraoperatório deve-se manter o controle de HGT com retorno às dosagens habituais à medida que introduz a dieta. Hipotireoidismo - Pacientes com hipo descompensado leve/moderado podem ser submetidos à cirurgia sem aumento do risco cirúrgico. Pacientes com descompensação grave devem ter seu quadro compensado antes do procedimento. Nesse caso, é comum o coma mixedematoso, que se caracteriza por RNC, hipotermia, bradicardia, hiponatremia, IC e bradipneia. Hipertireoidismo - as alterações do hipertireoidismo podem ter impacto no pós-operatório devido à hiperatividade da célula muscular lisa e diminuição da resistência vascular periférica que estimula o sistema renina-angiotensina-aldosterona que resulta em retenção de sódio e água e aumento do esforço cardíaco. O paciente deve tomar sua medicação na manhã da cirurgia. Pacientes com hipertireoidismo descompensado devem ter a cirurgia adiada até compensação a fim de diminuir risco de crise tireotoxica (maior risco nas primeiras 48h pós- operatório). Caracteriza-se por hipertermia, taquicardia e delírios. >> Sistema hematológico: exige investigação de três pontos: anemia, hipercoagulabilidade e coagulopatia. Coagulopatia – questionar sobre casos na família e relato de procedimentos anteriores assim como uso de medicamentos anti- coagulantes. Caso haja algo positivo na história, solicitar TP e TTPa.Se em uso de AAS ou clopidogrel por colocação de stent, deve ser mantido pelo tempo mínimo de uso e só depois realizar a cirurgia, se não for possível, realizar num serviço que disponha de hemodinâmica. Anemia – para valores < 6, transfusão imediata; entre 6-10, avaliar necessidade; > 10 dificilmente é necessário (a menos que haja doença cardíaca com pulmonar com indicação de manter HB alta). Quando perda sanguínea estimada for > 2CH, solicitar HMG prévio e reserva. TVP – tem como fator de risco condições que propiciam a manutenção da tríade de Virchow (hiperviscosidade, lesão endotelial e estase). O uso de warfarin e heparina é comum e pode propiciar sangramento excessivo durante a cirurgia. Nas cirurgias de baixo porte, pode ser mantida a anticoagulação, nas demais, precisamos alterar algumas vezes: Pctes com FA – aumento risco AVE. CHADS2 > 5 = anticoagulação plena com heparina. Demais casos, suspende warfarina e administra heparina profilática. Uso de próteses valvares mecânica = anticoagulação plena com heparina Uso de próteses valvares biológicas = heparina profilática Eventos tromboembólicos prévios – esperar 4 semanas para realizar o procedimento. No período de 1-3 meses devem mudar para heparina plena e, de 4-6 meses, heparina profilática. A warfarina deve ser suspensa 5 dias antes das cirurgias eletivas e, quando iniciada heparina plena, esta deve ser mantida até 6h antes da cirurgia e reiniciada dentro de 12h do POI. Na emergência, quando não há suspensão da warfarina, infundir plasma fresco e vitamina K; se usa HNF, deve-se administrar o sulfato de protamina. >> Sistema imunológico: nos pacientes imunossuprimidos, é importante pesquisar sítios de infecção ocultos para evitar complicações no pós-op. Esses pacientes têm maior risco de infecção e deiscência da FO. Classificação de risco do paciente Classificação cirúrgica Baixo risco – mínimo estresse fisiológico e risco ao paciente. Por exemplo: cirurgias orificiais, correção de catarata, artroscopia diagnóstica. Médio risco – estresse fisiológico moderado, geralmente com perda de sangue mínima, mas com potencial de perdas maiores. Alto risco – estresse fisiológico intenso. Geralmente necessita de HTF e/ou grande quantidade de fluidos, monitorização invasiva e pós-op em UTI. Pctes que serão submetidos à cirurgias de grande porte, solicitar: HMG, ureia, creatinina, eletrólitos e glicemia independente do status prévio para ter os valores basais. Cuidados pós-operatórios: incluem a recuperação pós-anestésica, a recuperação hospitalar e a convalescença domiciliar e terminam com o restabelecimento do paciente. O pós-op imediato são as primeiras 24h. Febre acima de 38°C no pós-op imediato ocorre em até 15% dos paciente e a maioria não está relacionada à infecção. PROJETO ACERTO (ACEleração da Recuperação Total pós-operatória): as evidências mostram que muitas condutas vêm sendo transmitidas de geração para geração sem o devido respaldo científico. Os principais pontos são: >> Abreviação do jejum pré-operatório - a resposta metabólica aotrauma cirúrgico é potencializada pelo jejum pré-operatório prolongado. Após algumas horas de jejum, ocorre diminuição dos níveis de insulina e aumento dos níveis de glucagon, determinando uma utilização rápida da reserva hepática de glicogênio. Em menos de 24 horas de jejum, o glicogênio hepático é completamente consumido. Antes disso, a gliconeogênese é ativada e a proteína muscular passa a ser utilizada provendo glicose para os tecidos que dependem exclusivamente dela como fonte de energia (SNC, medula renal e eritrócitos). O cortisol junto com a queda da insulina e o aumento de hormônios adrenérgicos e tireoidianos são responsáveis pelas reações catabólicas que fornecem aminoácidos para a circulação. O jejum pré-operatório contribui para o aumento da resistência à insulina, intensificando o estresse metabólico do trauma cirúrgico. A abreviação do jejum pré-operatório com oferta de solução enriquecida de carboidratos (CHO) até duas horas antes da operação está sendo vista como um dos fatores benéficos para diminuir a resposta orgânica, a resistência insulínica, o estresse cirúrgico e melhorar o bem estar do paciente. Essa prática permite uma recuperação mais rápida do trauma cirúrgico. >> Realimentação precoce no pós-operatório: convencionalmente, o retorno da dieta para pacientes submetidos à anastomoses intestinais tem sido prescrito após a volta do peristaltismo, caracterizada clinicamente pelo aparecimento de RHA e eliminação de gases. Com isso, o jejum pós- operatório se prolonga por um período de 2-5dias e durante esse período, o paciente recebe apenas hidratação venosa com um mínimo de calorias e sem oferta de nitrogênio. Essa prática baseia-se no pressuposto de que o repouso intestinal seria importante para garantir a cicatrização da anastomose digestiva com menor risco. Estudos sobre fisiologia gastrintestinal, nutrição e trauma vêm mostrando que o tubo digestivo está apto para receber nutrientes e pode se beneficiar muito mais se isso ocorrer precocemente. Foi demonstrado que o peristaltismo normal no pós-operatório é mais rápido no intestino delgado que retorna sua função em 4-8 horas após operação; o cólon esquerdi e o estômago após 24 horas; entretanto, as contrações antrais do estômago retornam com 2h. Assim, do ponto de vista da motilidade, é possível realizar a re-introdução precoce da dieta no pós-op de cirurgias do TGI. Além disso, o jejum intestinal não é desprovido de repercussões locais. A carência prolongada de alimentos na luz intestinal determina atrofia de mucosa, que pode romper a barreira mucosa e determinar translocação bacteriana. A realimentação precoce tem sido associada à alta mais precoce e menor morbidade. >> Terapia nutricional peri-operatória: , a resposta orgânica ao trauma pode levar ao aparecimento ou agravamento de desnutrição pré- existente, queda da qualidade de imunidade e possibilidade de falha de cicatrização e aparecimento de infecções. Por isso, a terapia nutricional pré-operatória está indicada para paciente cirúrgico eletivo com objetivo de prevenir a desnutrição ou minimizar seus efeitos. Está indicada para pacientes com risco nutricional ou classificados como desnutridos moderados ou graves (ASG-B ou C) e candidatos à operações de grande porte. São considerados com risco nutricional grave quando existe, pelo menos, um destes quatro: 1) perda de peso >10% em 6 meses; 2) IMC < 18,5Kg/m2; 3) ASG-C ou 4) albumina sérica < 3mg/dL. A intervenção nutricional neste momento destina-se a preparar o paciente para o ato operatório proposto. Isso pode ser alcançado em 7-14 dias. Tal preparo permitirá modular a resposta imune-inflamatória consequente da má nutrição, diminuindo as complicações pós-operatórias. A triagem deve detectar pacientes idosos, aqueles com perda de peso, doença maligna, hiporexia ou níveis séricos de albumina < 3g/dL e encaminhá-los para avaliação nutricional através de ASG. Quanto à via de acesso de nutrição, deve ser dada preferência à oral ou enteral. Caso o paciente não apresente hiporexia, ingira mais que 70% de sua dieta e tenha o TGI apto, a via escolhida deve ser a oral. A TN enteral está indicada quando o TGI está integro, mas o paciente apresenta hiporexia e ingere menos que 70% de sua dieta. Já a parenteral deve ser feita quando o TGI não está apropriado ou se a via enteral não suprir mais que 70% das necessidades. Deve ser feita com fórmula polimérica padrão. Para calcular as necessidades calórico-proteicas podemos usar a fórmula de Harris-Benedict: para homens a formula é 66,5 + (13.8 x peso [kg])+(5,0 x altura [cm]) – (6,8 x idade [anos]). Para mulheres a formula é diferente: 655 + (9,6 x peso [kg]) + (1,7 x altura [cm]) – (4,7 x idade [anos]). A regra de bolso (30-35 kcal/kg/dia) é mais prática e também é muito utilizada. No período pré- operatório a oferta de proteína deve ser em torno de 1,0-1,5 g/Kg/dia e, após trauma ou intervenção cirúrgica aumenta,podendo chegar até 2,0 g/Kg/dia. >> Antibiótico profilaxia >> Abolição do preparo de cólon em cirurgias eletivas colorretais >> Redução do uso de fluidos intravenosos no peri-operatório >> Uso restrito de SNG e drenos abdominais >> Analgesia peri-operatória Complicações: >> Atelectasia pulmonar – febre entre o 1° e o 3° DPO. Dispneia, hipoxemia, tosse; porém, pode cursar sem sintomas respiratórios, somente com febre e mal-estar. A confirmação é feita através do raio-x de tórax mostrando consolidação em forma de triângulo com a ponta voltada para o hilo pulmonar + desvio do mediastino. Profilaxia: hidratação, fisioterapia, analgesia. Tratamento: estimular tosse, fisioterapia. >> Infecção de ferida cirúrgica: febre após o 3° DPO. Risco aumentado em feridas contaminadas e em imunossuprimidos e diabéticos. Confirmação pelo exame físico. Tratamento: retirada dos pontos para drenagem, na presença de celulite ou sinais de sepse iniciar ATB. >> Hematoma da ferida cirúrgica: dor, aumento do volume, alteração da cor das bordas, drenagem de sangue entre os pontos. Confirmação: USG que avalia a extensão do hematoma para definir a conduta. Tratamento: pequenos hematomas = tto conservador; hematomas maiores = drenagem ou reabertura da ferida, hemostasia e fechamento. >> ITU: disúria, polaciúria, urina turva e fétida. Confirmação: SU e URC. Tratamento: retirar sonda se possível + ATB terapia empírica até o resultado das culturas. CASO 02 – INFECÇÃO EM CIRURGIA Infecção do sítio cirúrgico: é a segunda causa de infecção nosocomial (38%). Pode surgir até 30 dias após a cirurgia ou, em situações em que há próteses, em até um ano. A maioria das práticas visa diminuir a população bacteriana da pele no momento da incisão cirúrgica. Durante a cirurgia, a profilaxia é feita através de trações delicadas, hemostasia adequada, remoção de tecido desvitalizado ou necrótico, ausência de espaço morto, fechamento sem tensão. Recomendações: uso de ATB profilaxia em tempo hábil, pré-op meticuloso, uso de antissépticos, tricotomia no momento da cirurgia, uso de proteção individual e lavagem das mãos. Fatores de risco: >> Relacionados ao paciente – ASA>3; ascite; inflamação crônica; desnutrição; obesidade; diabetes; extremos de idade; imunossupressão; infecção à distância; doença vascular periférica; hipoxemia; hipotermia; hipercolesterolemia. >> Ambientais – medicações contaminadas; desinfecção/esterilização inadequadas; antissepsia inadequada da pele; presença corpo estranho. >> Relacionados ao tratamento – presença de drenos, cirurgias emergenciais; ATB profilaxia inadequada; cirurgias prolongadas. Classificação, manifestações e tratamento >> ISC incisional superficial – ocorre nos primeiros 30 dias e se restringe à pele e subcutâneo. Apresenta pelo menos uma das características: drenagem purulenta, cultura positiva, sinais ou sintomas de infecção(dor local, eritema e edema da ferida), diagnóstico por cirurgião. Tratamento: deve-se abrir os pontos da FO e permitir a drenagem do material purulento; irrigação diária com SF0,9% e desbridamento. O cirurgião deve fazer exploração digital da ferida a fim de assegurar a ausência de comprometimento de tecidos profundos. Na ausência de celulite, não precisa de ATB. >> ISC incisional profunda – ocorre nos primeiros 30 dias (sem prótese) a 1 ano (com prótese). Acomete tecidos moles profundos à lesão, como fáscia e músculo. Características: drenagem purulenta proveniente de ferida profunda, abcesso em incisão profunda, deiscência espontânea. Tratamento: havendo necrose da fáscia e saída de secreção, deve-se abrir os pontos da incisão e realizar desbridamento extenso e drenagem do material purulento. A presença de crepitação da ferida está associada à fasciíte necrosante. A terapia antimicrobiana é recomendada. >> ISC de órgãos ou cavidades – envolve qualquer parte do corpo que não a pele, fáscia e camadas musculares do local da incisão. Apresenta: drenagem purulenta através de dreno oriunda de órgão ou cavidade, cultura positiva de material aspirado de órgão ou cavidade, abcesso ou outra evidência de infecção de órgão ou cavidade (ao exame clínico, operatório ou de imagem). Tratamento: além da ATB terapia, pode requerer nova cirurgia. As coleções localizadas podem ser tratadas através de drenagem externa guiada por USG. Em infecções difusas ou coleções que não responderam à drenagem externa, uma nova abordagem cirúrgica está indicada, com lavagem exaustiva da cavidade. ATB e profilaxia: consiste no uso de ATB antes da presença de infecção, visando prevenção de infecção de FO. O ATB deve ser feito uma hora antes do procedimento (limpos e potencialmente contaminados) a fim de manter níveis elevados na circulação e concentração tecidual adequada para inibir a proliferação bacteriana. Para manutenção dos níveis, novas doses devem ser feitas respeitando a meia-vida do ATB. Após procedimento, suspender. Seleção do ATB: recomenda-se cefazolina 1-2g IV na maioria dos procedimentos eletivos. Nas cirurgias em que ocorre contaminação por anaeróbios, associar metronidazol 0,5mg, IV. Alternativa ampicilina- sulbactam 3g, IV. Nos alérgicos à penicilina, substitui por vanco ou clinda com cipro. Indicações: risco de contaminação bacteriana elevada; quando a contaminação não é frequente, mas o risco é alto (próteses, órteses e cirurgia cardíaca); quando a contaminação é rara, mas o hospedeiro não pode se defender. Princípios: > O atb deve ser ativo contra o microorganismo > O risco de infecção deve superar o do uso do ATB > O ATB escolhido não deve estar entre os “mais potentes” > A meia-vida do medicamento deve ser adequada para propiciar cobertura durante a cirurgia > Deve ser administrado antes que ocorra a contaminação > Deve ser suspenso após o término da cirurgia Classificação das cirurgias segundo o potencial de contaminação Cirurgias limpas – realizadas em tecidos estéreis ou passíveis de descontaminação, na ausência de processo infeccioso local. Ex.: epiderme, subcutâneo, sistema musculo-esquelético e cardiovascular. Cirurgias potencialmente contaminadas – são realizadas em tecidos colonizados por flora bacteriana pouco numerosa, em tecidos cavitárioas com comunicação com o meio externo ou de difícil descontaminação, na ausência de processo infeccioso local. Ex.: TGI (exceto cólon), respiratório superior e inferior, genito-urinário, cirurgias oculares e de vias biliares. Cirurgias contaminadas – são as realizadas em tecidos colonizados por flora microbiana abundante, de difícil descontaminação, na ausência de processo infeccioso local. Ex: cólon, reto e ânus; em tecidos com lesões cruentas e cirurgias de TCE abertos. Cirurgias infectadas – são realizadas em qualquer tecido, na presença de processo infeccioso local. Profilaxia e tipo de cirurgia: na cirurgia classificada como limpa, não se faz uso de ATB, exceto quando há prolongamento do tempo cirúrgico, contaminação durante o ato, paciente com 3 ou mais comorbidades e idade superior a 65 anos, uso de prótese (quadril, joelho, herniorrafia com tela) ou naquelas em que uma possível infecção do sítio cirúrgico traga alta morbimortalidade (cardíaca, neurológica, cirurgia vascular, cirurgia de grandes vasos). As esplenectomias, apesar de serem cirurgias limpas, apresentam comportamento semelhante ao de cirurgias potencialmente contaminadas, devendo ser administrado ATB profilático. Nas cirurgias potencialmente contaminadas sempre existe recomendação para uso de ATB profilático, sendo a colecistectomia laparoscópica uma exceção à regra pelo baixo índice de infecção. Peritonite: muitas infecções intra-abdominais envolvem peritonite ou abscesso intra-abdominal. A peritonite pode ser classificada em: a. Peritonite primária – infecção monobacteriana na qual não se detecta o foco da infecção e a integridade do TGI não é violada. Ocorre na PBE, relacionada à cateter de diálise peritoneal e ascite neutrofílica com cultura negativa. b. Peritonite secundária - ocorre em consequência de um processo infeccioso local na cavidade abdominal com ou sem perfuração de víscera oca e que pode levar à peritonite difusa. c. Peritonite terciária – ocorre após falha no manejo inicial de uma peritonite secundária, não consegue controlar o foco infeccioso intra-abdominal. Infecção abdominal não complicada = processo contido num órgão, sem ruptura da integridade anatômica e a maioria é manejada com ressecção cirúrgica simples e não precisa de ATB após o procedimento. Infecção abdominal complicada = é um processo infeccioso que ocorre além do órgão-fonte da infecção causando peritonite localizada com ou sem formação de abscesso ou peritonite difusa, dependendo da capacidade do hospedeiro de conter a infecção. Quadro clínico – dor abdominal e sinais sistêmicos como febre, taquicardia e taquipneia. Desconfiar sempre naqueles pacientes que desenvolveram sepse grave ou choque séptico após cirurgia abdominal. Etiologia – a E.coli é a mais comumente envolvida, outra são: Klebsiella sp., Enterobacter e Pseudomonas aeruginosas. A Candida é encontrada com frequência nos pacientes hospitalizados com infecção intra-abdominal. Tratamento – (1) controle de foco – drenagem de abscesso e fluidos infectados, desbridamento de tecidos infectados necróticos, restauração da anatomia e função. (2) Uso de ATB – o principal objetivo é prevenir a disseminação local e hematogênica dos microorganismos; pacientes com infecção intra-abdominal não complicada que realizaram cirurgia só precisam de ATB profilaxia; nos casos complicados, deve-se usar ATB por 5-7 dias ou menos desde que haja regressão dos sintomas e melhora do leucograma. Fasceiíte necrotizante: infecção bacteriana destrutiva e rapidamente progressiva do tecido subcutâneo e fáscia superficial, associada à altos índices de mortalidade. A gangrena de Fournier é a forma de FN que atinge bolsa escrotal e região perineal. Etiologia – streptococo hemolítico do grupo A e o staphylococcus aureus, isoladamente ou em sinergismo, são os agentes iniciadores da FN. No entanto, outros patógenos aeróbios e anaeróbios podem estar presentes. Classificação – tipo I caracteriza-se pelo isolamento de pelo menos uma espécie de anaeróbio obrigatório em combinação com outros facultativos que não o streptococo; mais comum após cirurgias e em pcte com DM e doença vascular. O tipo II ou gagrena estreptocócica caracteriza-se pelo isolamento de streptococo do grupo A isolado ou associado ao staphylo aureus; ocorre tipicamente após ferimentos penetrantes, procedimentos cirúrgicos, queimaduras e traumas. Características clínicas – inicia com área eritematosa, dolorosa e localizada, que aumenta em horas oudias associada a edema tecidual importante. Em seguida, ocorre cianose local e formação de bolhas de conteúdo amareladoo ou avermelhado-escuro. A área envolvida torna-se rapidamente circundada por borda eritematosa e recoberta de tecido necrótico. Comumente, o edema pode ser observado antes dos outros sintomas, a dor é muito mais intensa e desproporcional, mesmo após o início do tratamento é um indício importante de FN. Exames radiológicos – a TC evidencia gás no subcutâneo e necrose com espessamento assimétrico da fáscia, além de mostrar possível acometimento muscular. A RNM também é útil. Diagnóstico – edema inelástico, cianose, palidez, hipoestesia cutânea, crepitação, fraqueza muscular, odor fétido e exsudatos, rápida progressão e falta de resposta aos ATB. Manifestações sistêmicas de sepse estão usualmente presentes. O diagnóstico definitivo é feito à exploração cirúrgica, pela presença de necrose da fáscia. Tratamento – debridamento cirúrgico radical de todo o tecido necrótico, ATB parenteral de amplo espectro e medidas gerais de suporte agressivas. A antibioticoterapia isolada não é efetiva, devido ao comprometimento da concentração da droga no local da infecção, prejudicada pela necrose e trombose de vasos sanguíneos. A penicilina é o ATB de escolha para o tratamento das infecções estreptocócicas e possui amplo espectro de ação. No entanto, a clindamicina pode ser superior. Quando se suspeita de infecção mista ou por anaeróbios, acrescenta-se um aminoglicosídeo mais clindamicina ou metronidazol. Alguns autores enfatizam que a adição de corticoide sistêmico produz rápida melhora, no prazo de 5-7 dias. Realizar amputação quando necessário. CASO 03 – RESPOSTA NEUROENDOCRINOIMUNOMETABOLICA Definição: é a capacidade que o organismo tem de responder a agressões com o objetivo de aumentar a probabilidade de um indivíduo sobreviver ao trauma. O resultado dessa resposta envolve a manutenção do fluxo sanguíneo e da oferta de oxigênio para tecidos e órgãos, além de mobilizar substratos para uso como fonte de energia e auxílio na cicatrização. Resposta endócrina: diante de um trauma, o organismo se mobiliza para a produção de glicose no intuito de oferta-la àqueles tecidos que a utilizam preferencialmente como energia (hemácias, leucócitos recrutados, SNC e medula adrenal). A glicose é armazenada em forma de glicogênio no fígado que, sob influência hormonal, é consumido em 12-24h através da glicólise. Após o fim dos depósitos de glicogênio, a resposta hormonal tem como objetivo o estímulo à gliconeogênese. >> Resposta endócrina à cirurgia eletiva – encontra-se normalmente em bom estado nutricional, sendo prescrita dieta zero e SG. Cortisol e ACTH: através das fibras aferentes, há estímulo do hipotálamo que provoca a liberação do hormônio hipotalâmico liberador de corticotrofina que estimula a síntese e secreção do ACTH pela adenohipófise. Este hormônio atua na suprarrenal estimulando a produção de cortisol que é fundamental no trauma: Mobiliza AA da musculatura esquelética que servirão para gliconeogênese, cicatrização de feridas e síntese hepática de proteínas de fase aguda. Estímulo à lipólise. Há destruição dos TGL da gordura com liberação de glicerol e ácidos graxos livres. Os níveis de cortisol permanecem elevados por no mínimo 24h. Catecolaminas: o desajuste da circulação associado à estímulos provenientes da ferida provocam liberação de catecolaminas da medula suprarrenal cujo objetivo é preservar a perfusão sanguínea através do compartimento intravascular, protegendo o organismo de perdas volêmicas. Além disso atua estimulando a gliconeogênese e são responsáveis, junto com os opioides endógenos, pela atonia intestinal pós- operatória. Para ação adequada das catecolaminas, é necessária presença de glicocorticoides. Na presença de insuficiência suprarrenal, pode haver hipotensão ou choque. As catecolaminas urinárias permanecem altas por 48-72h após cirurgias não complicadas. ADH: tem secreção aumentada pelo trauma. Estímulo: osmolaridade plasmática, volemia, ação da angiotensina II e estímulos da ferida cirúrgica. O ADH promove reabsorção de água nos túbulos coletores. Por isso, é comum encontrarmos certa retenção hídrica no pós-operatório, justificando queda do débito urinário mesmo com hidratação adequada. Em 2-4 dias a diurese volta ao normal. Na periferia, causa vasoconstrição esplâncnica causando isquemia seguida de reperfusão (quando a volemia é restaurada) induzindo formação de radicais livres que comprometem a barreira do TGI favorecendo translocação bacteriana. Estimula gliconeogênese e permanece elevado por 1 semana. Aldosterona: liberada pela ação da angiotensina II e por elevação do K+ no soro (lesão tecidual). Atua na manutenção do volume intravascular, retendo sódio e eliminando ora potássio ora H+. Por isso, há tendência à alcalose metabólica que pode se tornar mista quando associada à SNG, hiperventilação anestésica e taquipneia pela dor. Glucagon: é responsável pela gliconeogênese hepática. Insulina: níveis reduzidos no pós-op pelo predomínio dos hormônios contrainsulínicos. Hormônio do crescimento (GH) e fator de crescimento insulina-símile (IGF-1): o GH estimula a produção hepática de IGF-1 pelo fígado, porém, este fator é inibido pela IL-1 e IL-6 durante a resposta ao trauma. O GH, nestas ocasiões, tem função catabólica nas fases iniciais do trauma. Hormônios tireoidianos e TSH: os níveis de TSH ficam normais ou pouco reduzidos. Balanço nitrogenado negativo: os AA musculares derivados da proteólise são utilizados pelo fígado, porém o grupamento amino não é aproveitado no processo de gliconeogênese hepática, sendo eliminado na urina; aumentando a produção urinária de ureia. Por isso, o balanço é negativo: mais proteínas estão sendo consumidas do que sintetizadas. >> Redução da resposta pós-operatória – a cirurgia laparoscópica produz menor resposta ao trauma, uma vez que uma FO menor é infiltrada por menos leucócitos e, consequentemente, menor produção de mediadores humorais. O bloqueio das vias aferentes com anestesia epidural reduz os níveis de cortisol, ácidos graxos livres e aldosterona quando comparados à anestesia geral. >> Fases de recuperação cirúrgica: Fase adrenérgica-corticoide – é o período inicial após procedimentos cirúrgicos. A taxa de gliconeogênese, síntese de proteínas de fase aguda, atividade imune de células de defesa e o balanço negativo de nitrogênio é máximo. A lipólise também encontra-se exacerbada. Esta fase dura cerca de 6-8 dias em cirurgias eletivas não complicadas. Fase anabólica precoce – caracteriza-se por declínio na excreção de nitrogênio; restauração do balanço do potássio; ação anabólica do IGF-1. A diminuição do ADH promove diurese de água retida; paciente manifesta desejo de se alimentar (diminuição do IL-1). O pcte entra em balanço nitrogenado positivo, representado por síntese proteica e ganho de massa magra e peso. Anabólica tardia – paciente apresenta ganho ponderal mais lento à custa de tecido adiposo. Pode durar meses a anos. >> Resposta endócrina ao trauma acidental – refere-se tanto à lesões multissistêmicas e queimaduras, quanto à condições que colocam a vida do paciente em risco como sepse, hemorragias, pancreatite necrosante. A reação do organismo é mais intensa quanto mais grave for a lesão. Nos casos graves, as modificações hormonais e humorais da eletiva amplificam-se e tendem a se perpetuar tornando a resposta ao estresse deletéria para o hospedeiro. Fase de baixo fluxo: na fase inicial, o débito cardíaco diminui, a resistência vascular aumenta e a volemia está diminuída. Os níveis de hormônios de estresse estão elevados, mas ocorre queda da temperatura central e hipometabolismo. Fase de refluxo: com a restauração da volemia pela infusão de cristaloidese/ou HTF, inicia-se esta nova fase. Caracteriza-se por: hipermetabolismo (supera o da eletiva); febre pós-traumática (elevação da IL-1); proteólise acelerada. Na lesão acidental, a principal fonte de energia são os lipídios, com o tempo, caso o paciente não receba suporte nutricional adequado, sobrevém a cetose; os corpos cetônicos são usados pelos músculos esqueléticos e cardíaco e pelos rins. Na proteólise descontrolada, há comprometimento diafragmático que prejudica a dinâmica respiratória. A persistência de lipólise pode determinar a formação de microêmbolos gordurosos. A vasoconstrição pode determinar shunts. A IRA e a SARA são possíveis complicações. A disfunção de múltiplos órgãos pode ser o desfecho do quadro. >> Resposta endocrinológica ao jejum - No jejum, a proteólise promove aumento da taxa de excreção de nitrogênio nos primeiros 5 dias. Caso o jejum se prolongue, a eliminação urinária de nitrogênio diminui, refletindo diminuição da proteólise que é compensada por um aumento da lipólise. Os ácidos graxos provenientes da quebra da gordura penetram no fígado e são utilizados na beta-oxidação resultando na produção de corpos cetônicos que começam a ser utilizados por tecidos que antes só utilizavam glicose. Para evitar que o paciente entre em cetose, deve-se administrar 100g de glicose por dia naqueles com dieta zero. O fornecimento de glicose exógena ao organismo e consequente elevação da insulina interrompe os processos de proteólise e lipólise. Resposta imune: mesmo após a atenuação da resposta endócrina, com diminuição dos níveis dos hormônios, há persistência da resposta imune. Citocinas – durante a fase aguda do trauma, um grande número de neutrófilos e monócitos migram da corrente sanguínea aos locais de lesão tecidual. Essas células secretam diversas citocinas pró-inflamatórias com ação autócrina, parácrina e endócrina. As citocinas pro-inflamatórias agem promovendo aderência leucocitária ao endotélio vascular, elevação dos níveis de prostaglandinas, aumento da síntese de proteínas de fase aguda, degradação proteica muscular e lipólise sistêmica. Têm como benefícios: participação da cicatrização, estímulo à resposta imune, resposta contra microorganismos, ação anti-inflamatória e modulação da resposta imune. Em contrapartida, esses mesmos agentes são responsáveis pela febre, hipermetabolismo, anorexia. Os glicocorticoides aumentam a síntese de IL- 10 que diminui a intensidade da resposta inflamatória. Mediadores das células endoteliais: sob o estímulo de citocinas, as células endoteliais são capazes de sintetizar e liberar mediadores humorais como prostaglandinas, fator ativador plaquetário, endotelina, óxido nítrico, prostaciclina e colagenase. Quando essas células são muito ativadas, há liberação maciça desses mediadores, que se relacionam com SARA, trombocitopenia e vasoplegia. Mediadores intracelulares: as principais substâncias intracelulares produzidas no trauma são os radicais livres que oxigênio que exercem ação citotóxica nos microorganismos agressores. Por serem citotóxicos, comprometem a morfologia celular e a estrutura dos ácidos nucleicos, sendo essas condições observadas quando há persistência do mecanismo agressor, uma vez que esgotam-se as substâncias de defesa intracelular capazes de inativar esses radicais. Derivados do ácido aracdônico: no estresse orgânico, a fosfolipase A é ativada degradando o ácido aracdônico das membranas celulares por duas vias: ciclooxigenase e lipooxigenase; a primeira sintetiza as prostaglandinas e tromboxano (vasoconstrição e agregação plaquetária) e prostaglandinas (vasodilatação, anti-agregação e anti-inflamatória) e da segunda, surgem os leucotrienos. A lesão endotelial pelo processo inflamatório e/ou traumático faz predominar as ações do tromboxano sobre as prostaglandinas o que pode ser lesivo ao endotélio e às vísceras. Opioides endógenos: atuam nos mesmos receptores cerebrais e medulares da morfina; são liberados pela hipófise anterior em resposta a estímulos provenientes do trauma. A nível intestinal, causa atonia; depressão miocárdica e vasoconstrição com aumento da RVP. CASO 04 – NUTRIÇÃO EM CIRURGIA Introdução: a resposta ao trauma é catabólica e lesões graves ocasionam hipermetabolismo, fenômeno que leva rapidamente à desnutrição. Adaptações metabólicas: Consequências da desnutrição em cirurgia – as principais são cicatrização anormal, deiscência da FO e maior probabilidade de infecção. Adaptações fisiológicas ao jejum – o glicogênio hepático é rapidamente consumido, em 12-24h. Lipólise e proteólise são ativadas para fornecer substratos ao fígado para gliconeogênese: glicerol e AA. Pela quebra de TGL são liberados ácidos graxos utilizados por vários tecidos e também são transformados no fígado em corpos cetônicos pelo processo de beta- oxidação. A partir de então, após 24h de jejum, o SNC passa a usar os corpos cetônicos como fonte energética, poupando glicose. Dietas com 400Kcal impedirão a ocorrência de cetogênese, porém não impedirá as demais alterações. Sepse e estados inflamatórios – marcados por intenso hipermetabolismo com proteólise intensa. A elevação constante dos hormônios contrainsulínicos e o aumento da RPI fazem com que haja um estado constante de gliconeogênese. Assim, é comum o surgimento ou agravamento da hiperglicemia com introdução da terapia nutricional. Câncer – a redução da ingesta calórica está relacionada a fatores obstrutivos (CA de cabeça e pescoço e esôfago), vômitos repetidos consequentes à quimioterapia e anorexia por mediadores humorais e citocinas. Necessidades nutricionais: a dieta é composta por: constituintes calóricos proteínas, carboidratos e lipídios; constituintes não-calóricos água, vitaminas e oligominerais (micronutrientes). Proteínas – pré-op 1g/kg/dia; pós-op e pós-trauma 2g/kg/dia. Lipídios – não devem ultrapassar 30% do total diário de calorias da dieta. Carboidratos – devem representar 55% do total de calorias da dieta. Água – a perda hídrica do adulto é constituída de 500-1000ml de perdas insensíveis, 50-100ml nas fezes e 1000ml na urina. Para cada grau de elevação da temperatura corporal durante o estado febril, aumenta-se a perda insensível em 200ml. Recomenda-se ingestão de 1-1,5ml de água por Kcal consumida, ou seja, em torno de 35-40ml/kg/dia. Vitaminas e oligominerais - Vitamina B1 (tiamina): 25mg/dia. Sua deficiência pode ser encontrada no alcoolismo, levando ao Beribéri, caracterizado por IC, acidose lática refratária, confusão mental, nistagmo, hiperbilirrubinemia e trombocitopenia. O tratamento é feito com 10mg/dia. - Vitamina D: 400microg/dia. - Vitamina K: 10mg/semana. - Zinco: má absorção intestinal ou doença diarreica, resultando em dermatite, alopecia, cicatrização deficiente, imunossupressão e cegueira noturna. A reposição é feita com 3-6mg/dia de zinco elementar. Risco nutricional: Desnutrição ou potencial para desenvolver desnutrição: perda involuntária de mais de 10% do peso habitual nos últimos 6 meses ou 5% do peso habitual em um mês ou peso 20% abaixo do peso ideal; doenças crônicas; aumento demanda metabólica. Alteração na consistência e horários da dieta Ingestão nutricional inadequada (impossibilidade de ingerir ou absorver a alimentação adequadamente por mais de 7 dias. Os pacientes em risco nutricional devem ser submetidos à uma avaliação nutricional, os demais devem ser reavaliados periodicamente. Avaliação nutricional: parte essencial da abordagem de qualquer paciente. A avaliação inicial deve ser feita através da avaliação subjetiva geral que consiste numa pontuação que leva em consideração os seguintes parâmetros da anamnese e exame físico. Análise da composição corporal: se o paciente for ASG B ou C, há indicação de realização de medidas objetivas. -Medidas antropométricas: informa sobre a massa muscular e as reservas de gordura. São aferidas: pregas cutâneas, prega do adutor, circunferência da parte média do braço, circunferência abdominal, circunferência da panturrilha peso ideal para altura e bioimpedância (melhor método para avaliar porcentagem de gordura corporal). - Proteínas séricas: níveis de albumina (normal > 3g) não refletem com acurácia perdas recentes, pois a meia-vida dela é de 14-21 dias. Outros marcadores de meia-vida mais curta podem ser usados: pré-albumina (2 dias), transferrina (8-9dias) e proteína transportadora de retinol. - Função imunológica: testes cutâneos podem ser utilizados nesta avaliação. Cálculo do gasto energético basal (GEB): a equação de Harris-Benedict é a mais utilizada para calcular a necessidade metabólica total em 24h e tem como variáveis o peso, altura e idade. O resultado obtido é multiplicado por 1,1 em pacientes normais e 1,4 em pacientes hipermetabólicos. A regrinha de bolso é 20-40Kcal/kg/dia. A calorimetria indireta vem se mostrando um método mais confiável de calcular o GEB. Avaliação do catabolismo proteico e do balanço nitrogenado: tem maior importância nos doentes já em terapia nutricional, informando se o tratamento, especialmente a quantidade proteica, está adequado. Indicações de terapia nutricional: ingesta oral < 70% das necessidade calóricas totais; albumina <3g/dL; trato gastrointestinal não funcionante; doença hipercatabólica (queimadura, sepse, pancreatite); jejum > 7 dias; emagrecimento > 10% do peso corporal; terapia nutricional prevista por > 7dias. Considerações operatórias: Pré-operatório – deve ser feita a terapia nutricional por 7-14 dias no pré- op com oferta de 1g/kg/dia de proteínas. Em desnutridos, pode resultar em diminuição do peso, por redução do edema. Dieta enteral: quando passível de administração é sempre superior à parenteral. Benefícios – redução nas taxas de infecção e de produção de proteínas de fase aguda no pós-operatório, manutenção da função imunológica intestinal e da atividade neuronal, promove síntese e liberação de hormônios GI que mantém o trofismo intestinal (reduz translocação). Complicações – fisiologicamente, o estômago tem a função de tornar o bolo alimentar isoosmolar antes que ele passe para o duodeno. No entanto, quando a dieta é administrada pela SNE, o estômago é ‘pulado’ e o conteúdo que chega ao duodeno é hiperosmolar podendo cursar com complicações como diarreia, desidratação, DHE e hiperglicemia; necrose intestinal e perfuração são mais raras. Contraindicação – a alimentação enteral está contraindicada em pacientes instáveis hemodinamicamente, pois a circulação esplâncnica, nestes casos, está prejudicada, interferindo na absorção de nutrientes. Fórmulas enterais – o valor calórico total é distribuído em 10-15% de proteínas, 50-60% de carboidratos e 25-35% de lipídios. As fórmulas podem ser completas (compostas por todos os nutrientes) ou incompletas (apenas um nutriente). Em relação à complexidade das proteínas, as dietas podem ser poliméricas (proteínas intactas), oligoméricas (hidrolisados proteicos), monoméricas (AA). As fórmulas podem ainda ser direcionadas à doença de base. Imunonutrição – alguns AA têm função imunomoduladora, sendo fundamental nas dietas enterais. Glutamina e arginina. Vias de administração de dieta enteral >> SNE: mais usada. Pode ser posicionada o estômago, duodeno ou jejuno. Pacientes com gastroparesia ou pancreatite devem obrigatoriamente receber nutrição pós-pilórica. >> Gastrostomia: indicada em pacientes com NE superior a 6 semanas. Pode ser realizda por via cirúrgica ou endoscópica percutânea. Contraindicações via endoscópica: cirurgia abdominal prévia, obesidade, discrasias sanguíneas, ascite, hipertensão porta, sepse, obstrução total de esôfago e diálise peritoneal. >> Jejunostomia: deve ser preferida nos pacientes com gastroparesia, refluxo frequente e episódios de aspiração. A dieta deve ser feita de forma contínua e lenta, pois o jejuno não tolera grandes volumes. Dietas hiperosmolares podem levar à isquemia ou perfuração intestinal. Nutrição parenteral: recomendada em pacientes com TGI não funcionante ou em situações onde o TGI necessite de repouso com jejum previsto para 5 dias. Contraindicações – instabilidade hemodinâmica, pacientes em quimioterapia e/ou radioterapia (alta taxa de infecções e trombose do cateter). Via de administração – veia central com uma via destinada exclusivamente à NPT. É um método transitório, pois não consegue repor as necessidade diárias, pode permanecer por 4-7 dias. Fórmula – glicose à 50%, AA, vitaminas e oligoelementos. Indicações >> Fístulas gastrintestinais: diminui a produção de secreções pelo TGI, diminuindo o débito da fístula e aumentando a probabilidade de fechamento. >> Síndrome do intestino curto: NPT permanente domiciliar. >> Queimaduras: quando a NE não é capaz de suprir as calorias. >> Falência hepática: os AA de cadeia ramificada melhora a encefalopatia. Seu uso no perioperatório pode diminuir as complicações da ressecção hepática. >> Enterite por radiação: a NPT deve ser ofertada a esses pacientes até que a mucosa intestinal tenha se recuperado por completo. >> íleo prolongado Complicações >> Sepse por cateter: staphylococcus é o principal responsável. >> Complicações metabólicas: hiperglicemia é a principal, níveis acima de 400mg/dL obrigam a interrupção. Pode ainda haver DHE. >> Outras: trombose de veia central, complicações relacionadas ao cateter e colecistite acalculose por distensão da vesícula biliar. Monitorização – dosar diariamente os níveis de glicose, eletrólitos e ureia. CASO 05 – ATENDIMENTO INICIAL AO POLITRAUMATIZADO INTRODUÇÃO: o tratamento de um doente vítima de trauma requer avaliação rápida das lesões e instituição de medidas terapêuticas de suporte à vida. Por isso, é essencial que a abordagem seja sistematizada e que possa ser revista e aplicada. Isso constitui a avaliação inicial. A sequência adotada é: (1) Preparação (2) Triagem (3) Avaliação primária (4) Reanimação (5) Medidas auxiliares à avaliação primária e à reanimação (6) Considerar necessidade de transferir o doente (7) Avaliação secundária (8) Reavaliação e monitorização contínuas após reanimação (9) Tratamento definitivo As avaliações primária e secundária devem ser repetidas com frequência a fim de identificar possível deterioração no estado do doente e definir condutas a partir das novas alterações. As orientações do ATLS são feitas de forma linear, mas sabe-se que na prática, muitas coisas acontecem simultaneamente, esse formato auxilia o médico a rever mentalmente o andamento do processo. (1) PREPARAÇÃO - FASE PRE-HOSPITALAR: o sistema pré-hospitalar deve estar em contato com o hospital que irá receber o doente de modo que haja notificação antes que o doente seja removido pela equipe de resgate da cena do acidente. Dessa forma, a equipe hospitalar pode se preparar para receber o paciente. Na fase pré-hospitalar deve ser dada ênfase à manutenção de vias aéreas, controle de hemorragia externa e choque, imobilização do doente e transporte imediato ao hospital apropriado mais próximo. Deve-se abreviar ao máximo a permanência do doente no local do acidente e obter o máximo de informações possíveis à respeito da história do trauma. - FASE HOSPITALAR: no hospital, deve haver uma sala de reanimação disponível para receber os doentes traumatizados com todos os equipamentos necessários por perto a fim de facilitar a realização das manobras de reanimação. (2) TRIAGEM: a triagem envolve a classificação dos doentes de acordo com o tipo de tratamento necessário e os recursos disponíveis. A triagem também se aplica à classificação dos doentes no local e à escolha do hospitalpara o qual o doente deverá ser transportado de acordo com a gravidade de suas lesões. Existem dois tipos de situações de triagem: múltiplas vítimas e vítimas em massa. Múltiplas vítimas – em incidentes com múltiplas vítimas, o número de doentes e a gravidade das lesões não excedem a capacidade de atendimento do hospital. Nesta situação, os doentes com risco de vida iminente e os doentes com trauma multissistêmicos serão atendidos primeiro. Vítimas em massa – nesses casos, o número de doentes e a gravidade das lesões excedem a capacidade de atendimento da instituição e da equipe. Nesta situação, os doentes com maiores possibilidades de sobrevida, cujo atendimento implica em menor gasto de tempo, de equipamentos, de recursos e de pessoal, serão atendidos primeiro. (3) AVALIAÇÃO PRIMÁRIA O tratamento do doente deve consistir de uma avaliação primária rápida, reanimação das funções vitais, avaliação secundária pormenorizada e, finalmente, início do tratamento definitivo. Este processo constitui o ABCDE do trauma e identifica as condições que implicam em risco de vida através da seguinte sequência: A – Vias aéreas com proteção da coluna cervical A via aérea deve ser prioridade para que sua permeabilidade seja garantida o mais precoce possível. Primeiramente, deve-se tentar contato verbal com a vítima, se ela estiver respondendo, é pouco provável que a obstrução da via aérea represente um risco imediato; no entanto, deve-se avaliar a via aérea com curtos intervalos de tempo. Se o paciente apresenta sinais e obstrução da via aérea, deve-se procurar corpos estranhos e fraturas faciais, mandibulares ou traqueo-laríngeas, que podem resultar em obstrução das VA. A proteção da coluna cervical deve ser estabelecida através do colar ou, quando não disponível, manualmente e só então pode-se realizar as manobras para permeabilizar a via aéreas como a de elevação do mento ou de tração da mandíbula. Vítimas com TCE grave e RNC ou com ECG inferior ou igual a 8 exigem uma via aérea definitiva. Achado de respostas motoras descoordenadas sugere fortemente a necessidade de uma via aérea definitiva. O pescoço da vítima não pode ser hiperextendido, hiperfletido ou rodado a fim de manter a VA. Os dispositivos de imobilização devem ser mantidos até que seja excluída uma lesão de coluna cervical. Considerar a existência de uma lesão cervical em todo doente com traumatismos multissistêmicos, especialmente nos doentes que apresentem nível de consciência alterado ou trauma fechado acima da clavícula. B – Ventilação e respiração A permeabilidade da VA, por si só, não significa ventilação adequada. Uma troca adequada de gases é necessária para que seja possível oxigenação e eliminação adequada de CO2. Uma boa ventilação exige funcionamento adequado dos pulmões, da parede torácica e do diafragma. Para examinar todos esses componentes, deve-se expor o tórax para avaliar adequadamente a excursão da parede torácica. A ausculta deve ser realizada para se confirmar o fluxo de ar nos pulmões. A inspeção visual poderá detectar lesões da parede do tórax capazes de comprometer a ventilação. As lesões que podem prejudicar de imediato a respiração são tórax instável com contusão pulmonar, pneumotórax hipertensivo, hemotórax maciço e pneumotórax aberto. Tais lesões devem ser identificadas na avaliação primária. Armadilhas: (1) O doente pode se apresentar profundamente taquidispneico dando a impressão que seu problema mais importante é na VA. Nessas circunstâncias, quando o problema é devido a um pneumotórax simples ou hipertensivo, a IOT e ventilação vigorosa pode agravar as condições do doente. (2) No doente inconsciente, quando se torna necessária IOT e ventilação, esses procedimentos podem revelar ou agravar pneumotórax. Portanto, o tórax do doente deve ser avaliado periodicamente. O raio-x deve ser feito logo após a IOT e ventilação. C – Circulação com controle de hemorragia Volume sanguíneo e débito cardíaco – a hemorragia é a principal causa de mortes pós-traumáticas evitáveis. A hipotensão em doentes traumatizados deve ser considerada como hipovolêmica até que se prove o contrário. Portanto, é importante a avaliação rápida e precisa do estado hemodinâmico do doente traumatizado. Os elementos clínicos a serem avaliados são: nível de consciência, cor da pele e pulso. Quando o volume sanguíneo está diminuído, a perfusão cerebral pode ser prejudicada, resultando em alterações no nível de consciência. Um doente traumatizado com pele de coloração rósea, especialmente em face e extremidades, raramente está criticamente hipovolêmico. Ao contrário, a coloração acinzentada da face e a pele esbranquiçada das extremidades são sinais evidentes de hipovolemia. Deve-se avaliar pulsos centrais bilateralmente. Pulsos cheios, lentos e regulares são, usualmente, sinais de normovolemia em pacientes que não fazem uso de beta-bloqueador. Pulso rápido, filiforme é habitualmente um sinal de hipovolemia. A ausência de pulsos centrais, não relacionada a fatores locais, indica manobra de reanimação cardiocirculatória. Hemorragia: a hemorragia externa é identificada e controlada na avaliação primária. O controle da perda deve ser feito, inicialmente com pressão manual direta sobre o ferimento. Uma tala inflável também pode ajudar. Os torniquetes só devem ser feitos em casos de hemorragias graves. As zonas de hemorragia oculta grave são o tórax, abdome, retroperitônio, bacia e ossos longos. Armadilhas: (1) Idosos têm uma capacidade limitada de aumentar sua frequência cardíaca em resposta à perda sanguínea. Dessa forma, perde-se um dos sinais mais precoces de hipovolemia, a taquicardia. O uso de anticoagulantes (FA, DC e AVEi) pode aumentar a perda sanguínea. (2) Crianças têm uma reserva fisiológica exuberante e, frequentemente demonstram poucos sinais de hipovolemia mesmo após perdas significativas, Quando há deterioração clínica, ela ocorre rapidamente. (3) O atleta bem condicionado possui mecanismos de compensação semelhantes aos da crianças, com bradicardia relativa e não demonstra taquicardia após perdas significativas. D – Disfunção neurológica, estado neurológico Visa avaliar o estado de consciência do doente, assim como o tamanho das pupilas e sua reação, sinais de lateralização e o nível da lesão da medula espinhal. A ECG é um método rápido e simples para determinar o nível de consciência e pode prognosticar a evolução do doente. O RNC pode representar diminuição da oxigenação e/ou na perfusão do SNC ou ser decorrente de trauma direto ao cérebro. A alteração do nível de consciência implica necessidade imediata de reavaliação da ventilação, da oxigenação e da perfusão. Hipoglicemia, álcool, narcóticos ou outras drogas também podem alterar o nível de consciência. No entanto, excluídos esses problemas mencionados, deve ser considerada como originária de um trauma ao SNC até que se prove o contrário. Armadilha: nos casos de hematoma epidural, há comumente o intervalo lúcido. É importante reavaliar os pacientes constantemente para identificar alterações no estado neurológico e encaminhar ao neurocirurgião o mais precocemente possível. E - Exposição/controle do ambiente O doente deve ser totalmente despido, usualmente cortando as roupas, para o exame adequado. Após remover os trajes e completada a avaliação, é imperativo que o doente seja protegido com cobertores aquecidos ou com dispositivos de aquecimento externo para prevenir hipotermia. Para tanto, os fluidos devem ser aquecidos antes da infusão e a temperatura ambiente deve ser mantida em níveis adequados. (4) REANIMAÇÃO – a adoção de medidas agressivas de reanimação e o tratamento de todas as lesões potencialmente fatais, à medida que são identificadas, são essenciais para maximizar a sobrevivência do doente. A – VIA AÉREA: a VAdeve ser protegida em todos os doentes. A elevação do mento ou a tração da mandíbula podem ser suficientes. Se o doente está inconsciente e não tem o reflexo de deglutição, o uso de tubo orofaríngeo pode ser útil temporariamente. Entretanto, quando houver dúvidas em relação à capacidade do doente em manter a permeabilidade de sua VA, deve-se proceder IOT. O risco de obstrução das vias aéreas é grande na presença de trauma cranioencefálico (TCE), trauma de face e pescoço, intoxicação por drogas ou álcool e alterações na fonação (traumas laríngeos). Pacientes com TCE grave e rebaixamento do nível de consciência ou portador de Glasgow igual ou inferior a 8 exigem via aérea definitiva, tanto para garantir a oxigenação, como para evitar broncoaspiração. As principais indicações para a instalação de acesso definitivo às vias aéreas são: -Apneia; -Impossibilidade de manter vias aéreas pérvias por outros meios; -Proteção das vias aéreas inferiores contra aspiração de sangue ou conteúdo gástrico; -Comprometimento iminente das vias aéreas (ex: lesão por inalação, fraturas faciais ou convulsões reentrantes); -Incapacidade de manter oxigenação adequada com ventilação sob máscara; -TCE com Glasgow < 8; A forma preferencial de se obter um acesso definitivo à via aérea é através da intubação orotraqueal. Todo cuidado deve ser tomado para se evitar o agravamento de potencial lesão da medula cervical, mantendo a coluna cervical retificada através da tração por um auxiliar. A indução rápida seqüencial, um método anestésico, permite uma intubação orotraqueal rápida e não traumática, combinando anestésicos de ação rápida e bloqueadores neuromusculares. Não sendo necessário a hiperextensão da coluna cervical. Dispositivos que medem o CO2 expirado devem estar presentes para confirmar o posicionamento do tubo endotraquel na traqueia, além disso a ausculta de murmúrio vesicular em ambos hemitórax e a ausência de murmúrio epigástrico sugerem intubação correta. *Como prever uma VA difícil: LEMON L – “Look externally” – procure externamente características que sabidamente são relacionadas a VA difícil, como lesão cervical, artrite avançada de pescoço, trauma mandibular ou maxilofacial, limitação na abertura da boca, micrognatismo, prognatismo, pescoço curto e musculoso. E – “Eveluate” – avalie pela regra do 3, 3, 2. A distância entre os incisivos deve ser de pelo menos três dedos. A distância entre osso hioide e mandíbula deve ser de pelo menos três dedos. A distância entre a proeminência tireóidea e a boca deve ser de pelo menos dois dedos. M – “Mallampati” – avalia o grau de visibilidade do hipofaringe quando paciente abre a boca. O – Obstrução N – “Neck mobility” – mobilidade do pescoço A intubação nasotraqueal pode ser utilizada, mas exige um paciente alerta e colaborativo; quanto mais profundos os movimentos respiratórios, mas fácil será de acompanhar o fluxo de ar através da laringe e, portanto, mais fácil a intubação. As contraindicações incluem apneia e trauma de face. Tais lesões devem ser suspeitas se houver evidências de fraturas nasais, olhos de guaxinim (equimose periorbitária bilateral), sinal de Battle (equimose retroauricular) e possíveis perdas de LCR (rinorreia ou otorréia). A máscara laríngea (ML) é uma alternativa para se assegurar uma via aérea pérvia quando a realização de ventilação sob máscara foi insatisfatória ou múltiplas tentativas de intubação foram infrutíferas. É um procedimento difícil e em muitos casos só o anestesista está habituado com ele. A ML não é considerada uma via aérea definitiva, devendo esta ser providenciada na chegada do paciente à Sala de Emergência. Os acessos cirúrgicos e a cricotireoidostomia por punção são outros métodos empregados para se acessar a via aérea em pacientes politraumatizados. As principais indicações para via aérea cirúrgica são: -Trauma maxilofacial extenso; -Presença de distorção anatômica resultante de trauma de pescoço; -Incapacidade de visualização das cordas vocais devido ao acúmulo de sangue e secreções ou edema das vias aéreas. A via aérea cirúrgica deve ser sempre considerada em pacientes com via aérea difícil. Dentre os acessos cirúrgicos destacam-se cricotireoidostomia cirúrgica e traqueostomia. A cricotireoidostomia cirúrgica é conseguida de forma rápida através da incisão transversa cervical sobre a membrana cricotireoide, palpada entre a cartilagem tireoide e cricoide da laringe. O orifício é dilatado por uma pinça hemostática. A cânula utilizada em adulto deve ser de menor diâmetro (Portex 7-8 mm ou tubo de traqueostomia com o mesmo diâmetro). É uma contraindicação relativa à sua realização em < 12 anos. Há também a cricotireoidostomia por punção (CP), sendo realizada através da punção da membrana cricotireoidiana com uma agulha, passa- se uma cânula de grosso calibre em direção a traquéia para que se possa iniciar a ventilação intermitente a jato. A CP não é considerada via aérea definitiva e pode ser empregada em crianças < 12 anos. É um procedimento rápido e deve sempre ser utilizada quando existir indicação cirúrgica de se acessar a via aérea, de imediato, em segundos. Exemplo disso, paciente com fratura maxilofacial extensa (indicação de via aérea cirúrgica) e entra em apneia. Deve-se limitar a sua utilização por um período não > 30 min enquanto consegue-se uma via aérea definitiva, pois há uma retenção de CO2, pois a fase expiratória é curta. A ventilação intermitente a jato o paciente fica acoplado a uma fonte de O2 de alta pressão. A traqueostomia deve ser evitada e encarada como método de exceção, indicada nos casos de fratura de laringe (CI formal a intubação endotraqueal e a cricotireoidostomia) e como método cirúrgico de acesso a via aéreas em crianças < 12 anos. As fraturas de laringe são palpáveis e ocasionam enfisema subcutâneo, que também é percebido no exame físico como crepitação local. B – VENTILAÇÃO /RESPIRAÇÃO: pacientes inconscientes ou com problemas ventilatórios deve-se estabelecer o controle definitivo da VA. Este procedimento deve ser realizado com proteção contínua da coluna cervical. Caso a IOT esteja contraindicada ou não seja possível, deve ser adotada uma VA cirúrgica. O pneumotórax hipertensivo compromete a ventilação e circulação. Quando suspeitado, deve ser tratado imediatamente por descompressão torácica. Todo doente deve receber oxigenioterapia suplementar (por TOT ou máscara). A monitorização da oxigenação deve ser feita com oxímetro de pulso. C – CIRCULAÇÃO E CONTROLE DE HEMORRAGIA: o controle definitivo da hemorragia é essencial e a reposição do volume intravascular com fluidos EV é importante. Deve-se puncionar 2 acessos venosos periféricos calibrosos, de preferência em MMSS, considerar necessidade de dissecções ou acesso venoso central. Assim que a veia for puncionada, devem ser tiradas amostras de sangue para tipagem sanguínea e exames laboratoriais de rotina, incluindo teste de gravidez em todas as mulheres em idade fértil. A reanimação volêmica agressiva e contínua não substitui o controle definitivo da hemorragia que inclui cirurgia, angioembolização e estabilização pélvica. A infusão inicial pode exigir cerca de 1-2L. O choque associado ao trauma é mais frequentemente de origem hipovolêmica. Se o doente permanece sem resposta à infusão de solução endovenosa, pode ser necessária transfusão sanguínea. O paciente pode chegar ao hospital com hipotermia ou desenvolvê-la durante o atendimento, por isso, é importante aquecer os líquidos a serem infundidos e controlar a temperatura do ambiente. A hipotermia é uma complicação potencialmente fatal nas vítimas de traumatismo e medidas agressivas devem ser adotadas. Isso pode exigir uma intervenção cirúrgica ou a aplicação de um dispositivo externo para reduzir o volume pélvico em determinados tipos de fraturas de bacia. (5) MEDIDASAUXILIARES Monitorização cardíaca: todos os traumatizados deve ser monitorizado. A presença de taquicardias inexplicáveis, fibrilação atrial, extrassístoles ventriculares e alterações do segmento ST podem indicar trauma cardíaco contuso. AESP pode indicar tamponamento cardíaco, pneumotórax e/ou hipovolemia. Quando há bradicardia, deve-se suspeitar de hipóxia ou hipoperfusão. A hipotermia extrema também pode causar essas arritmias. Sonda urinária: o débito urinário é um indicador sensível da volemia do doente e reflete a perfusão renal. A monitorização do débito urinário é realizada de forma mais adequada pela inserção da sonda. A cateterização transuretral da bexiga está contraindicada nos casos em que se suspeita de secção uretral: sangue no meato uretral, equimose perineal, sangue no escroto, deslocamento cranial ou não palpação da próstata ao toque retal e fratura pélvica. Desta maneira, a sonda só deve ser passada após exame da região e, em caso de dúvidas quanto à integridade da uretra deve-se realizar a uretrografia retrógrada. Sonda gástrica: está indicada para descompressão gástrica e para diminuir os riscos de aspiração, porém não a evita completamente. O conteúdo espesso não será drenado, além do que a passagem da sonda poderá induzir vômitos. Para que a sonda gástrica seja eficiente, é necessário que haja sistema de sucção funcionante. Caso haja fraturas da lâmina crivosa, deve-se passar a sonda através da cavidade oral. Outras: a forma mais adequada de avaliar a eficiência da reanimação é através do comportamento de parâmetros fisiológicos, como frequência de pulso, PA, FR, gasometria arterial, temperatura corporal e débito urinário. Radiografias e procedimentos diagnósticos: raio-x AP do tórax e da pelve podem oferecer informações úteis para guiar os esforços de reanimação da vítima de trauma fechado. A radiografia de tórax pode indicar lesões capazes de ameaçar a vida do doente e que exigem tratamento e as radiografias pélvicas podem indicar precocemente HTF. Raio-x de coluna cervical AP também é útil na avaliação inicial. Pacientes com RNC com indicação de TC, podem aproveitar e fazer TC de cervical também. O FAST e a LPD constituem instrumentos úteis na detecção rápida de sangramento oculto intra-abdominal. A identificação da fonte de perda sanguínea intra- abdominal oculta pode indicar a necessidade do controle cirúrgico da hemorragia. (6) CONSIDERAR NECESSIDADE DE TRANSFERÊNCIA (7) AVALIAÇÃO SECUNDÁRIA A avaliação secundária só deve ser iniciada depois de completar a avaliação primária e quando as medidas indicadas para reanimação tiverem sido adotadas e o doente demonstrar tendência para normalização de seus sinais vitais. Deve ser feito exame do traumatizado da cabeça aos pés, incluindo uma história clínica completa. Nesta etapa também são feitos os exames complementares necessários, tanto radiológicos quanto laboratoriais. História: deve-se obter as informações do doente, mas, quando não for possível, recorrer a família e o pessoal de atendimento pré-hospitalar. O uso da fórmula mnemônica AMPLA é bastante útil. A = alergias M = medicamentos P = passado médico / prenhez L = líquidos e alimentos ingeridos recentemente A = ambiente e eventos relacionados ao trauma As informações à respeito do evento são bastante importantes e nos permite pensar em possíveis lesões para o doente. Trauma fechado – ocorre normalmente por colisões automobilísticas e, nesses casos, é importante saber a respeito do uso de cinto de segurança, deformação do volante, direção do impacto, danos ao automóvel ou intrusão no compartimento de passageiros, ejeção de dentro do veículo. Trauma penetrante – a extensão da lesão depende da região lesada, dos órgãos próximos e da velocidade do projétil. Queimaduras – importante saber as circunstâncias nas quais as queimaduras ocorreram como o local em que ocorreu, assim como as substâncias que alimentaram as chamas e possíveis lesões associadas. Ambientes de risco – história de exposição a elementos químicos, tóxicos e radiação é importante tanto pelas disfunções pulmonares, cardíacas e de outros órgãos quanto pelo perigo que esses agentes representam ao pessoal médico-hospitalar. Exame físico: Cabeça – toda a cabeça e o couro cabeludo devem ser examinados à procura de lacerações, contusões ou evidências de fraturas. Nos olhos, deve-se avaliar acuidade visual, tamanho da pupila, hemorragia, lesões penetrantes, lentes de contato (remover), deslocamento do cristalino, encarceramento ocular. A acuidade pode ser testada pedindo para que o paciente leia algo e os músculos extraoculares podem ser testados solicitando que o paciente acompanhe o movimento do dedo com os olhos. Estruturas maxilo-faciais – os traumatismos maxilo-faciais, quando não estão associados a obstrução da VA ou a hemorragia importante, devem ser tratados posteriormente quando o paciente estiver estabilizado. Os doentes com fratura no terço médio da face podem ter fratura da placa crivosa. Coluna cervical e pescoço – doentes com trauma craniano e maxilo-facial devem ser considerados como portadores de lesão instável de coluna cervical e seu pescoço deve ser imobilizado até que se prove que não há lesões. A ausência de déficit neurológico não exclui lesão de coluna cervical e este tipo de lesão deve ser presumida até que um estudo radiológico completo e a TC tenham sido revisados por um médico experiente. O exame do pescoço inclui inspeção, palpação e ausculta. Dor ao longo da coluna cervical, enfisema subcutâneo, desvio da traqueia e fratura de laringe podem ser evidenciados. As carótidas devem ser palpadas e auscultadas. Oclusão e dissecção de carótidas pode ocorrer tardiamente após uma lesão sem sinais ou sintomas precursores. Ferimentos cervicais penetrantes podem lesar diferentes órgãos e sistemas. As lesões que se estendem além do platisma não devem ser exploradas manualmente ou com instrumentos no serviço de emergência. Devem ser exploradas por um cirurgião no centro cirúrgico. O achado de hemorragia arterial ativa, hematoma em expansão, frêmito arterial ou comprometimento da VA frequentemente exige avaliação cirúrgica. Paralisia isolada de uma extremidade superior, deve levantar suspeita de lesão de raiz de nervo cervical e deve ser documentada cuidadosamente. Tórax – inspeção visual do tórax, em sua face anterior e posterior, permite identificar lesões como pneumotórax aberto e grandes segmentos instáveis. Contusões e hematomas devem alertar o médico para a possibilidade de lesão oculta. A palpação deve incluir clavículas, costelas e esterno. A pressão esternal é dolorosa tanto na fratura de esterno quanto da disjunção costocondral. A ausculta da região anterossuperior do tórax pode dar o diagnóstico de pneumotórax, enquanto a das bases auxilia na detecção de hemotórax. Bulhas abafadas e pressão de pulso diminuída podem indicar tamponamento cardíaco. A distensão das veias do pescoço pode sugerir tamponamento ou pneumotórax hipertensivo, mas a hipovolemia pode abolir esse sinal. A diminuição do MV, o timpanismo à percussão e o choque podem ser os únicos sinais do pneumotórax hipertensivo. A radiografia de tórax confirma presença de hemotórax ou pneumotórax simples. Alargamento de mediastino pode sugerir ruptura de aorta. Abdome – as lesões abdominais devem ser identificadas e tratadas de maneira agressiva. O diagnóstico não é tão importante quanto a identificação da lesão. Um exame inicial normal do abdome não exclui lesões intra-abdominais significativas. O doente com lesão contusa abdominal deve ser avaliado frequentemente, preferencialmente pelo mesmo observador, pois os achados podem mudar. Doentes com hipotensão inexplicada, lesões neurológicas, alteração do sensório decorrentedo uso de álcool e/ou drogas e com achados abdominais duvidosos deve-se considerar a realização de lavagem peritoneal, FAST ou, quando hemodinamicamente estáveis, uma TC. As fraturas de pelve e das últimas costelas podem confundir o exame do abdome. Períneo/reto/vagina – deve ser examinado à procura de contusões, hematomas, lacerações e sangramento uretral. O toque retal pode ser realizado antes da introdução da SVD e deve-se observar a presença de sangue na luz intestinal, próstata alta e flutuante, presença de fraturas pélvicas, integridade da parede do reto e tonicidade do esfíncter. Nas pacientes do sexo feminino, o exame vaginal deve ser realizado naquelas com risco de lesão vaginal. Deve-se avaliar se há presença de sangue na vagina e lacerações. Além disso, deve ser solicitado teste de gravidez para todas as mulheres em idade fértil. Músculo-esquelético – as extremidades devem ser inspecionadas para verificar a presença de contusões e deformações. A palpação dos ossos pesquisando dor ou movimento anormais ajuda a identificar fraturas ocultas. Fraturas pélvicas podem ser suspeitadas pela identificação de equimoses sobre as asas do ilíaco, púbis, lábios ou escroto. A mobilidade da pelve em resposta à pressão delicada anteroposterior das cristas ilíacas anteriores e da sínfise púbica com as palmas das mãos pode sugerir ruptura do anel pélvico. Essas manobras devem ser feitas apenas uma vez. O exame dos pulsos periféricos pode identificar lesões vasculares. Ruptura de ligamentos provoca instabilidade da articulação. Lesão de tendões interfere com a movimentação ativa da estrutura. Perdas de sensibilidade ou contratilidade muscular pode ser decorrente de lesão nervosa ou de isquemia, incluindo síndrome compartimental. Deve-se examinar ainda o dorso do doente. Sistema nervoso – inclui avaliação sensorial e motora das extremidades, assim como reavaliação do nível de consciência e do tamanho e resposta da pupila do doente. Nos doentes com lesões neurológicas é necessário um parecer do neurocirurgião. Se um doente com traumatismo craniano piora do ponto de vista neurológicoo, a oxigenação e a perfusão do cérebro e a adequação da ventilação (ABCDE) deve ser reavaliada. Na ausência de alterações nesses parâmetros, cabe ao neurocirurgião definir a conduta. Os exames adicionais, cuja necessidade será avaliada durante a avaliação secundária, devem ser realizados após estabilização hemodinâmica do paciente e tenha sido examinado cuidadosamente. (8) REAVALIAÇÃO: o doente traumatizado deve ser reavaliado constantemente para assegurar que fatos novos não passem despercebidos e para identificar o agravamento de anormalidades conhecidas. À medida que as lesões com risco de vida são tratadas, outras lesões igualmente graves se tornam aparentes. Doenças clínicas preexistentes podem se tornar evidentes e afetar o prognóstico. A diurese deve ser mantida com no mínimo 0,5ml/kg/h. O alívio da dor é uma parte importante do manuseio do traumatizado, devendo-se fazer o uso de opiáceos IV ou ansiolíticos. Esses agentes devem ser usados com cautela para não causar RNC e mascarar lesões sutis ou mudanças no estado do doente. CASO 06 – CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS Introdução: a cicatrização da ferida consiste no esforço dos tecidos para restaurar a função e estruturas normais. A regeneração é a restauração perfeita da arquitetura do tecido pré-existente, na ausência de formação de cicatriz. No caso das feridas, a acurácia da regeneração é trocada pela velocidade de reparo. Fase inflamatória: inicia-se no exato momento da lesão. O sangramento traz plaquetas, hemácias e fibrina. A exposição do colágeno atrai as plaquetas que desencadeiam a cascata de coagulação e quimiotaxia. O coágulo formado estabelece barreira impermeabilizante que protege da contaminação. A lesão tecidual causa liberação de histamina, serotonina e bradicinina que causa vasodilatação, aumento do fluxo sanguíneo local e, consequentemente, sinais inflamatórios. O aumento da permeabilidade capilar é responsável pelo edema e pela passagem de elementos celulares para a área da ferida. O mediadores de ação curta são a histamina e a serotonina e as mais duradouras são a bradicinina e a prostaglandina (quimiotaxina neutrofilica). Os primeiros a chegarem no local da ferida são os neutrófilos e monócitos com a função de desbridar as superfícies da ferida e fagocitar partículas antigênicas e corpos estranhos. O pico de atividade dos polimorfonucleares ocorre nas primeiras 24-48h, seguindo- se de um aporte maior de macrófagos durante os 2-3 dias seguintes. Esses ativam elementos celulares da fase subsequente como fibroblastos e células endoteliais. Fase proliferativa: é composta por 3 eventos que sucedem o período de maior atividade inflamatória: neo-angiogênese, fibroplasia e epitelização. Caracteriza-se pela formação do tecido de granulação constituído por leito capilar, fibroblastos, macrófagos, frouxo arranjo de colágeno, fibronectina e ácido hialurônico. Inicia-se por volta do 3° dia após a lesão perdura por 2-3 semanas e é o marco inicial da formação da cicatriz. Neo-angiogênese – é o processo de formação de novos vasos sanguíneos que têm como objetivo suprir os fibroblastos responsáveis pela síntese de colágeno. Os novos vasos se formam a partir do estímulo de citocinas em brotos endoteliais que crescem da periferia para o centro da ferida. A neo- angiogênese é responsável, não só pela nutrição do tecido, mas também pelo aumento do aporte de células como macrófagos e fibroblastos para o local da ferida. Fibroplasia – células mesenquimais são transformadas em fibroblastos e atraídas para o local inflamatório onde se dividem e produzem os componentes da matriz extracelular. O fibroblasto aparece no sítio da lesão a partir do 3° dia, quando os leucócitos já higienizaram a região. A função primordial dos fibroblastos é sintetizar colágeno, ainda na fase celular da inflamação. O colágeno é o material responsável pela sustentação e pela força tensil da cicatriz, produzindo e degradado continuamente pelos fibroblastos. Inicialmente, a síntese de colágeno novo é a principal responsável pela força da cicatriz, sendo substituída depois pela formação de ligações cruzadas entre os feixes de colágeno. A taxa de síntese se equilibra com a de destruição na quarta semana e, então inicia a fase de maturação do colágeno que continua por meses ou mesmo anos. Epitelização – nas primeiras 24-36h após a lesão, fatores de crescimento epidérmicos estimulam a proliferação de células do epitélio. A células epiteliais migram a partir das bordas sobre a área cruenta induzindo a contração e a neoepitelização da ferida, reduzindo sua superfície. A epitelização envolve uma sequência de alterações nos ceratinócitos da ferida: separação, migração, proliferação, diferenciação e estratificação. Matriz extracelular – a principal função é a restauração da continuidade do tecido lesado, funcionando como arcabouço para migração celular. Os fibroblastos são as maiores fontes de proteínas da matriz, onde irão ordenar os feixes de colágeno produzidos, além de ser arcabouço para os vasos neoformados. É constituída de várias proteínas, como fibrina e colágeno, proteoglicanos, glicoproteínas, água e eletrólitos. Fase de maturação: Contração da ferida – a ferida sofre um processo de contração por meio de um movimento centrípeto de toda a espessura da pele circundante, reduzindo a quantidade e o tamanho da cicatriz. Essa contração ocorre por causa da diferenciação dos fibroblastos em miofibroblastos (sob efeito de fatores de crescimento). Remodelação – tem início durante a 3ª semana e caracteriza-se por aumento da resistência, sem aumento da quantidade de colágeno. O aumento da resistência deve-se à remodelagem da fibra de colágeno
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