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Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 1 AJUSTES FISIOLÓGICOS DA GRAVIDEZ Diagnóstico da gestação Hormonal: - Accioly e Chemin: hCG: testes sensíveis já pode detectar em níveis acima de 25mUI/ml (8º /9º dia pós fertilização). O pico de secreção ocorre em torno de 60 dias (100.000UI/ml) após a concepção, em seguida caracteriza-se por queda gradativa, tendo aos 100 a 130 dias cerca de 5000mUI/ml. - Accioly: é o parâmetro mais precoce e exato para o diagnóstico da gestação. Investiga a subunidade β no HCG, que pode ser rastreado na urina ou no sangue Clínico (Accioly e Chemin): - Presunção - amenorréia de 4 semanas, náuseas, provável perda de peso, congestão mamária e polaciúria (micção frequente e em pequeno volume). - Probabilidade - amenorréia de 10 a 14 dias, mais aumento do volume uterino e alteração da forma e da consistência uterina. - Certeza - percepção e apalpação dos movimentos fetais e auscultação dos batimentos cardíacos. Ultrassonográfico (Accioly): Com 4 semanas gestacionais identifica-se o saco gestacional, com 6 a 7 os batimentos cardiofetais, com 12 a placenta e com 16 semanas a estrutura já está bem definida. Idade gestacional (Accioly e Chemin): É calculada a partir do 1º dia da última menstruação. Quando a data da última menstruação (DUM) é desconhecida, mas a gestante conhece o período do mês que ela ocorreu deve-se: Se o período foi no início meio ou fim do mês, considerar como DUM os dias 5, 15 e 25 respectivamente. Quando a data e o período da DUM são desconhecidos: A idade gestacional e a data provável do parto serão, inicialmente, determinadas por aproximação, basicamente pela medida da altura do fundo uterino e pelo toque vaginal, além da informação sobre o início dos movimentos fetais que ocorre entre 16 e 20 semanas. O período gestacional é composto de 40 semanas, que pode ser dividido em 3 trimestres: 1o trimestre até a 14a semana; 2o trimestre: da 14ª a 28a semana; 3o trimestre: da 28ª semana em diante. No 1o trimestre tem-se intensa divisão celular e a saúde do embrião vai depender da condição nutricional pré-gestacional da mãe (reservas energéticas e micronutrientes). Já nos 2º e 3º trimestres o meio externo exerce influência direta na condição nutricional do feto (Vitolo). São determinantes para o crescimento e desenvolvimento normais do feto: ganho de peso adequado, a ingestão de energia e nutrientes, o fator emocional e o estilo de vida (Vitolo). O feto ganha o total de 1kg até 28 semanas e nas duas semanas seguintes 2,5kg, há um intenso ganho de peso fetal nas últimas 10 semanas (Vitolo). Diferenciação celular de acordo com o período gestacional Idade gestacional Tipo de crescimento Velocidade Peso médio do feto 1º trimestre (12 semanas) Hiperplasia Lenta 12ª semana 300g 2º trimestre (13-27 semanas) Hiperplasia e hipertrofia Acelerada 27ª semana 1000g 3º trimestre (≥28 semanas) Hipertrofia Máxima 38ª semana 3000g A curva de ganho de peso fetal (Lubchenco) permite avaliar se o crescimento está adequado (entre o percentil 10 e 90). Se < P10 está ocorrendo restrição no crescimento intrauterino e se > P90 pode-se ter alterações nos níveis de glicose ou diabetes gestacional (Vitolo). Períodos de crescimento fetal: Blastogênese: É o período de implantação. Da fecundação até a 2º semana de gestação. É um período hiperplásico. São necessários: ácido fólico, vitamina B12. Embrionário ou Organogênese: Vai até o 60º dia da gestação. Ocorre hipertrofia e diferenciação celular. São necessários aminoácidos e vitamina B6. No final deste período o embrião adquire o aspecto fetal humano. Fetal: A partir do 3º mês até o final da gestação. É um período de crescimento rápido e hipertrofia celular. O feto passa de 6g para 3,0-3,5kg, que representa 60% do ganho materno. O ganho ponderal no 3º trimestre é apontado como tendo papel importante na prevenção do BPN, o que pode contribuir para a prevenção de determinadas doenças crônicas (Accioly). Placenta: Após a fecundação do óvulo, este se fixa no endométrio que passa a se chamar decídua ou caduca e vai dar origem a placenta (Chemin e Accioly). Segundo Vitolo a placenta é uma estrutura esponjosa, com diâmetro de 15 a 17 cm. É um anexo fetal com funções essenciais como proteção, nutrição, respiração, excreção e produção de hormônios (estrogênio e progesterona - Accioly 09 / proteína com função semelhante a da insulina – Vitolo), e pesa entre 600 e 650g ao termo (X 450 - 500g – Vitolo). Representa a única via de troca de nutrientes, oxigênio e resíduos metabólicos entre mãe e feto, então qualquer alteração pode comprometer o bem estar e desenvolvimento fetal. Uma lesão na placenta compromete sua capacidade de nutrir o feto independente de quão bem nutrida esteja a mãe (Krause). É capaz de sintetizar glicogênio, colesterol e ácidos graxos no início da gravidez, funcionando como reservatório para o embrião. O tamanho materno determina o tamanho final da placenta que por fim vai determinar o peso ao nascer do Prof. Michelle Teixeira michellet.teixeira@gmail.com Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 2 bebê. Mães com peso pré-gravídico abaixo do ideal possuem placenta de peso menor, e maior risco de baixo peso ao nascer (BPN) e parto prematuro; o número de células placentárias pode ser 15 a 20% menor em bebês com restrição de crescimento intrauterino (RCIU) (Krause). O fluxo sanguíneo materno e fetal é separado pela membrana placentária, por onde ocorre a troca de material, sendo que esta se torna mais fina ao final da gravidez, permitindo a passagem até de drogas (Accioly). Complicações maternas da gravidez como: doença cardiovascular e renal, diabetes e pré-eclâmpsia, comprometem a capacidade materna de distribuir os nutrientes essenciais e o oxigênio através da placenta para o feto o que resultará em RNBP (Chemin). O fluxo sanguíneo materno e fetal é separado pela membrana placentária, por onde ocorre a troca de material, sendo que esta se torna mais fina ao final da gravidez, permitindo a passagem até de drogas (Chemin e Accioly). A transferência de nutrientes pela placenta pode acontecer por (Accioly): Difusão simples: do meio mais concentrado (sangue materno) para o menos concentrado (sangue fetal). Ex. O2, CO2, vits lipossolúveis A, D, E e K, hidratos de carbono com PM<1000, eletrólitos, ácidos graxos e água. Difusão facilitada: mesmo mecanismo, mas mais rápido que o simples pelo uso de transportador de membrana específico. Ex. carboidratos. Transporte ativo: realizado por um transportador de membrana contra gradiente de concentração, com gasto de energia. Ex. aminoácidos, Fe2+, Ca2+, Iodo, fosfato e vitaminas hidrossolúveis. Pinocitose: processo lento de invaginação da membrana. Ex: grandes proteínas, lipoproteínas, fosfolípidios e imunoglobulinas (IgG é a única que atravessa pela placenta). Ultrafiltração: pelo gradiente de pressão hidrostática ou osmótica. Ex: solutos e água. O transporte de lipídeos maternos é mais complexo e a placenta é capaz de regular a captação, a estocagem e a liberação deles, controlando a composição dos lipídeos plasmáticos fetais. Altos níveis de colesterol interferem no metabolismo lipídico da placenta e sua alta captação pode causar esteroidogênese, já que o colesterol é precursor da síntese de progesterona (Vitolo). Papel dos hormônios durante a gestação: Os hormônios são responsáveis pelas modificações corporais que permitem o desenvolvimento da gestação e sua produção é influenciada pela saúde geral e pelo estado nutricional geral da gestante. A produção hormonal pode ser dividida em 2 fases (Accioly): Fase ovariana até a 8ª semana, ocorre estímulo para produção de hCG, responsável pela secreção esteróidea (colesterol: progesterona e estrogênio). Fase placentária a partir da 8º-9º semana. A placenta assume a produção de esteróides em quantidades crescentes. O corpo lúteo é o responsável pela produção de hormônios esteróides, e as células do trofoblasto pela elevada secreção de hCG, sendo que na fase placentáriatem-se queda de hCG, e a placenta assume o papel. Tab. 1 – Ação dos hormônios sobre o organismo materno na gestação Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 3 Gonadotrofina coriônica humana (hCG) (Cel do trofoblasto e placenta) Manutenção inicial da gravidez. Impede rejeição imunológica do embrião e inibe a contratilidade espontânea do útero através da produção de relaxina, que age com a progesterona. Permite o diagnóstico hormonal da gestação e estimula a produção de progesterona pelo ovário (Accioly) Estimula produção de relaxina pelo ovário, estrogênio pela placenta e testosterona pelo testículo fetal e impede regressão do corpo lúteo (Chemin). Importante no início quando a placenta ainda não produz progesterona e estrogênio em quantidades suficientes (Vitolo) Lactogênio placentário humano (hPL) ou Somatomamotrofina coriônica (Placenta) Ação mamotrófica e ação contra-insulínica (↑ resistência periférica à insulina): ↑ glicemia pela glicogenólise, promove a lipólise e ↓ consumo de glicose e glicogênese (Chemin e Accioly). Não está envolvido na produção láctea (Accioly). Estimula o pâncreas a secretar insulina e colabora para o crescimento fetal (Chemin) Tem ação semelhante à do GH fazendo deposição de proteínas nos tecidos e inicia o processo de produção do leite (lactogênese) (Vitolo) H. do crescimento (hGH) (Pituitária) ↑ glicemia, estimula crescimento de ossos longos e promove retenção de nitrogênio Tireotropina coriônica humana (hCT) (Placenta) Estimula produção de hormônios da tireóide (T3 e T4) Tiroxina (Tireóide) Regula velocidade da oxidação celular (TMB). Aumenta glicogenólise e absorção intestinal de hexoses (Chemin) Regula as reações oxidativas da produção de energia, mas pela hiperventilação (causada pela progesterona) há maior suprimento de oxigênio e não sobrecarrega a função da tireóide (Vitolo) Calcitonina (Tireóide) Inibe reabsorção óssea de cálcio Horm. da paratireóide (paratireóide) Aumenta a reabsorção de cálcio ósseo, assim como sua absorção intestinal, e promove excreção urinária de fósforo Progesterona (Placenta) Produzida antes de 8-9 semanas de gestação, é indispensável para o êxito da implantação e da placentação (Accioly) Relaxa musculatura lisa do útero (Vitolo) ↓ motilidade do trato gastrointestinal (Chemin e Accioly) favorecendo a deposição de gordura materna, náuseas, pirose, refluxo gastroesofágico e constipação intestinal. Natriurético - Aumenta excreção de sódio (Chemin e Accioly) Estimula o apetite na 1º metade da gestação ↓ PCO2 arterial e alveolar (Chemin) Promove armazenamento de nutrientes no endométrio e desenvolvimento mamário Reduz contratilidade uterina (Chemin) Seu desequilíbrio pode contribuir para o processo de ganho de peso (Vitolo) Estrogênio (Placenta) Altera mucopolissacarídeos do tecido conjuntivo, tornando-o mais hidroscópico (favorece crescimento uterino – Accioly), elástico (Accioly e Chemin). Aumenta elasticidade da parede uterina e do canal cervical (Vitolo) ↓ proteínas séricas; favorece a formação de edema (Chemin e Accioly) Afeta função da tireóide; Modificações no metabolismo glicídico (Chemin e Accioly) ↓ apetite na 2º metade da gestação; Alterações mamárias; Hiperpigmentação cutânea; Alterações no tecido conjuntivo e vascular; Promove desenvolvimento do tecido glandular mamário, determinando proliferação do sistema ductal; e junto com a progesterona inibe a prolactina inibindo a produção de leite durante a gestação (Accioly). Prolifera musculatura uterina e tecido mamário, dilata os órgãos sexuais externos e do orifício vaginal, relaxa musculatura pélvica (Chemin) Estimula contração uterina (Chemin) Comum ao estrogênio e progesterona: Interfere no metabolismo do ácido fólico (Chemin e Accioly) Participa da mamogênese (Vitolo). Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 4 Modificações no organismo materno: Essas alterações fisiológicas decorrentes da gestação podem ser agravadas pela desnutrição com consequências para a mãe e para o feto (Chemin). As adaptações fisiológicas afetam o sistema orgânico e as vias metabólicas da gestante, alterando os parâmetros laboratoriais plasmáticos e urinários, principalmente nos últimos 2 trimestres. Há impacto também sobre os níveis de lipídios, colesterol, caroteno, vitamina E e fatores de coagulação (Vitolo). Os fatores fisiológicos que exercem maior força são (Vitolo): Aumento de 50% na expansão do volume plasmático (pico por volta de 28 a 32 semanas gestacionais) com 20% de aumento no conteúdo de hemoglobina (pico no parto); Aumento dos níveis de estrogênio e progesterona 1- TMB A partir do 3º mês ocorre um aumento em 15 a 20%, visando suprir as necessidades fetais e cobrir o consumo energético materno pelo custo da gestação e pelo aumento da função renal e cardíaca. Necessidades diárias do feto no último trimestre (Vitolo): 50 a 70% das Kcal vindos de glicose (43kcal/kg/dia) 20% dos aminoácidos Restante dos lipídios Caso a glicemia materna caia, tem-se diminuição da transferência de glicose para o feto e os ácidos graxos se tornam a principal fonte de energia (Vitolo). 2- Metabolismo Glicídico O feto constitui o parasitismo verdadeiro, pois mesmo em jejum materno, ele requer as mesmas quantidades de glicose e aminoácidos que nas situações de alimentação normal, sendo seu nível glicêmico apenas 20mg% menor que o materno (Chemin e Accioly). Em função desta extração contínua a glicemia materna pode estar reduzida (15-20mg) em relação ao período pré-gestacional (Chemin). Para manter o consumo contínuo de glicose pelo feto, o organismo materno sofre os seguintes ajustes: o estrogênio e a progesterona induzem a hiperplasia das células β pancreáticas aumentando os níveis de insulina, porém os hormônios hPL, hGH, estrogênio, progesterona, cortisona, prolactina e glucagon atuam reduzindo a utilização periférica de glicose pela ↓ sensibilidade tecidual à insulina, o resultado é uma resistência à insulina fisiológica. Há uma diminuição de 40 a 50% na utilização periférica da glicose no 3º trimestre (Accioly). A hiperglicemia e a hiperinsulinemia são fisiológicas na gestação (Chemin). A ação da insulina é 50 a 60% menor ao final da gestação A quantidade de eritrócitos aumenta 18% por ocasião do parto semsuplementação de ferro e 30% com suplementação (Vitolo). 3- Metabolismo Lipídico A adrenalina (ou epinefrina), hPL, hGH e glucagon aumentam a mobilização de gordura corporal com o objetivo de servir como fonte energética para o metabolismo materno, conservando a glicose para o feto e para o sistema nervoso materno, o resultado é a elevação dos níveis plasmáticos de ácidos graxos, triglicerídios, colesterol e fosfolipídios, que vão servir como reserva energética no jejum. Também há aumento de lipoproteínas, apolipoproteínas e lipídios totais (Accioly). Isso minimiza o catabolismo proteico e preserva a glicose e os aminoácidos para o feto (Chemin e Accioly). No jejum, os ácidos graxos livres são mobilizados no fígado e formam as cetonas, estes também cruzam a placenta e podem ser utilizados como fonte de energia, ou, podem ser utilizados pelos tecidos maternos poupando o uso de glicose (Dan). Após uma redução inicial durante as primeiras 8 semanas de gestação, ocorre um significativo aumento nos níveis sanguíneos de triglicerídios (150%), ácidos graxos, colesterol (125 a 150%), lipoproteínas e fosfolipídios (Dan) X O colesterol aumenta cerca de 30% e os triglicerídios podem triplicar (Accioly). X Os níveis de triglicerídios podem estar aumentados em 2 a 3 vezes (Chemin). 4- Metabolismo Proteico A insulina facilita a entrada de aminoácidos nas células para ocorrer síntese tecidual fetal e das estruturas maternas, com isso seus níveis séricos estão diminuídos na gestação. Os aminoácidos podem ser utilizados para síntese proteica ou em menor porção, oxidados para formação de energia. A síntese proteica aumenta em 15% no 2º trimestre e 25% no 3º trimestre (Dan). A hemodiluição provoca redução das proteínas plasmáticas, principalmente a albumina facilitandodesenvolvimento de edema (Chemin e Accioly). 5- Sistema respiratório Há aumento de 20% na necessidade de O2 (Chemin) que é suprimido pela hiperventilação causada pelo aumento de estrogênio e progesterona que aumentam a sensibilidade e a vascularização dos centros respiratórios (pode levar a desconforto nasal) (Vitolo). Ocorre aumento da ventilação pulmonar (cerca de 40%) causando diminuição da pCO2 tornando mais fácil a eliminação fetal através da placenta, e aumento da pO2 no sangue materno, com melhor suprimento ao feto. O crescimento do útero empurra o diafragma para cima, tornando a respiração mais difícil. Assim, a gestante se sente dispneica e o corpo compensa com alterações anatômicas que melhoram as trocas gasosas nos pulmões (Krause, Accioly e Chemin). Ocorre maior movimentação do diafragma e do tórax, aumentando o volume corrente e a expiração é mais completa (Accioly). Há substituição da respiração torácica pela abdominal, a gestante fica ofegante. 6- Sistema circulatório e equilíbrio hidroeletrolítico O tamanho cardíaco aumenta como um todo (Chemin) (12% - Krause). O débito cardíaco aumenta de 30% para 40% pela intensa circulação placentária (625ml/minuto). A frequência cardíaca que aumenta por volta da 28-32º semana cerca de 10bpm acima do normal, ao final da gestação reduz-se, chegando àquela pré-gravídica; com o aumento da FC aumenta-se também o débito cardíaco (Chemin). A pressão arterial sistólica sofre ligeira queda nos primeiros 2 trimestres e a diastólica uma queda Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 5 significativa, devido a vasodilatação periférica, retornando aos níveis pré-gravídicos no 3º trimestre. A sistólica reduz de 3 a 4mmHg e a diastólica reduz de 10 a 15mmHg (Accioly e Chemin). Os fluxos sanguíneo cerebral e hepático permanecem inalterados, enquanto o renal aumenta 50% no 1º trimestre e reduz no último mês. Com isso, os níveis séricos de uréia e creatinina diminuem (Vitolo). O volume sanguíneo aumenta 50% desde a 6º semana com pico no início do 3º trimestre (30 a 34 semanas – Vitolo), enquanto o volume globular sobe apenas 25% a partir do 6º mês, ou seja, há expansão do volume sanguíneo mais rápida que a do volume globular (hemodiluição), e por isso, os valores de hemoglobina e hematócrito para grávidas são menores, e elas têm anemia fisiológica (Todos). A concentração de Hb diminui 20% e o hematócrito 15%. Apesar disso, o volume corpuscular médio (VCM) e a concentração média de hemoglobina (HCM) ficam inalterados (Vitolo). A quantidade de eritrócitos aumenta 18% por ocasião do parto sem suplementação de ferro e 30% com suplementação (Vitolo). Há ganho hídrico em torno de 7,5l (70% do ganho de peso na gestação) em uma gestante sem edema, o que torna o Na+ essencial para manter o equilíbrio hidroeletrolítico. Para isso, há ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona que estimula a reabsorção tubular de Na+. 7- Sistema urinário Há aumento da taxa de filtração glomerular em 50% e do fluxo sanguíneo para os rins, para facilitar a depuração de resíduos metabólicos, como uréia, creatinina e ácido úrico (Accioly). O aumento do volume sanguíneo junto com a secreção de progesterona que leva a dilatação e hipotonia renal e dos ureteres contribuem para o aumento da taxa de filtração glomerular (Chemin). Aumenta também em 50% a quantidade de glicose a ser filtrada, porém a habilidade máxima em reabsorvê-la se mantém (Krause - a reabsorção tubular é menos eficiente), desenvolve-se glicosúria fisiológica. Além de aumento da excreção de vitaminas hidrossolúveis (Krause). Desde o início da gestação, a mulher tem aumento na frequência de micção pelas alterações hormonais e pelo útero “descansar sobre a bexiga”. Ao final do período, a cabeça fetal penetra na pelve, levando ao aumento da pressão no local e conseqüentemente da frequência urinária, ocasionalmente havendo incontinência urinária (Accioly e Chemin). São perdidos pela urina: iodo, folato, aminoácidos e glicose, sendo comum a glicosúria (Chemin). Ainda, são comuns as infecções urinárias em função do retardo do fluxo da urina pela maior pressão das veias ovarianas sobre os ureteres, obstruindo-o parcialmente (Chemin) e a presença de glicose, aminoácidos e vitaminas hidrossolúveis (Accioly). A capacidade de excretar água é diminuída favorecendo o edema não patológico nas pernas. O edema moderado nas extremidades inferiores está associado a bebês um pouco maiores e menor taxa de prematuridade (Krause). Há maior secreção de renina, angiotensina e aldosterona, para compensar o efeito natriurético da progesterona preservando a homeostase materna (Chemin). 8- Sistema digestivo Náuseas, enjôos e vômitos matinais que podem levar a anorexia devido a elevação do estrogênio. Gengivas edemaciadas e hiperêmicas devido a elevação estrogênio, hCG e da progesterona. A mulher fica mais susceptível a doença periodental (Chemin). Ptialismo ou sialorreia com pH reduzido, associada ao aumento da frequência alimentar e higiene bucal inadequada pode propiciar a cárie (Accioly). A maior ocorrência de cáries pode ocorrer pela necessidade aumentada de flúor ou pelos hábitos de higiene não compatíveis com a maior ingestão, além da diminuição do pH (Chemin). A progesterona atua diminuindo o tônus do cárdia, o que o torna menos resistente e mais propício ao retorno do bolo alimentar pirose (Chemin). Hipotonia do sistema gastrointestinal pela progesterona, causando maior tempo de esvaziamento gástrico, elevando a incidência de náuseas, pirose, refluxo gastroesofágico e obstipação intestinal. É comum também além do refluxo gastroesofágico, a hérnia de hiato (Chemin). A obstipação pode ser precipitada pela pressão do útero sobre o intestino, pelos exercícios físicos reduzidos e pela suplementação de ferro (Chemin). Hipotonia do intestino delgado aumentando o tempo de contato entre nutrientes e a mucosa absortiva, favorecendo a absorção de nutrientes e água (anabolismo). Redução da secreção gástrica de ácidos que leva a menor incidência de úlceras e melhora das pré- existentes (Accioly e Chemin). Hipotonia da vesícula proporcionando menor liberação de bile (estase biliar), e consequentemente intolerância a alimentos gordurosos na gestação (Chemin). A doença de vesícula biliar é um dos problemas médicos mais comuns na gravidez. O esvaziamento da bile torna-se menos eficiente devido ao efeito da progesterona. Então, o volume da vesícula biliar aumenta em 2 vezes e sua capacidade de esvaziar eficientemente é reduzida. A constipação e a desidratação também são fatores de risco conhecidos para o desenvolvimento de pedras na vesícula biliar (Krause). O fígado se mostra aumentado (Chemin). Aumento da reabsorção de água pela ação da progesterona, resultando em constipação; regurgitação e refluxo gástrico causados pelo relaxamento do esfíncter esofágico inferior e a pressão no estômago pelo útero em crescimento (Krause). A doença celíaca durante a gestação pode aumentar o risco de aborto espontâneo, BPN e reduzir a duração da lactação. Ela induz a má absorção e deficiências de fatores essenciais para a organogênese (Krause). 9- Alterações nutricionais Diminuição de: albumina sérica, vit C, ác fólico, vit B12, retinol e do status hematológico. Além disso, também é menor a concentração sérica de outras proteínas e de vitaminas hidrossolúveis (Krause). Aumento de: células brancas, caroteno e tocoferol sérico e excreção de metabólitos, folato, niacina e piridoxina. E vitaminas lipossolúveis (Krause), em até 50%, na gestação, com exceção da vit A que fica inalterada (Chemin). Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 6 10- Mudanças no olfato e paladar e preferência pelos alimentos na gestação Essas mudanças garantem o consumo de eletrólitos em quantidades adequadas para expansão plasmática e facilita o ganho de peso. Como por exemplo, há aumento no consumo de sal pela diminuição da sensibilidade ao mesmo, há aumento na capacidade de sentir o sabor amargo (proteção a possíveis envenenamentos) (Vitolo).Os desejos e aversões aos alimentos podem trazer uma capacidade diminuída de sentir o sabor salgado (Krause). Em relação às crenças, duas práticas são prejudiciais: a eliminação de proteínas de origem animal e a tentativa de limitar o ganho de peso para produzir um feto menor para um parto mais fácil. Os 4 alimentos mais comumente evitados são: leite, carnes magras, carne de porco e fígado (proteínas animal). Os alimentos mais comumente desejados são doces e laticínios. As aversões mais comuns são: álcool, café, outras bebidas cafeinadas e carnes (Krause). 11- Modificações psicológicas (Accioly) Estão associadas aos fatores hormonais e socioculturais. Em relação aos fatores hormonais: Progesterona Efeito depressivo no SNC e influência sobre o comportamento introspectivo e regressivo da mulher Catecolaminas Papel regulador das emoções (depressão e euforia) Corticoesteróides Responsáveis por variações emocionais (depressão, euforia, paranoia e problemas de cognição) Os fatores socioculturais são de natureza complexa. Um aspecto é a visão da gestação como um estado intermediário entre o status de mulher e de mãe, associado a medidas restritivas (tabus e rituais). Conflitos internos podem se exacerbar durante a gravidez e muitas vezes, explicam intercorrências como êmese, hiperêmese, bulimia, ganho de peso excessivo ou insuficiente e ansiedade. O conflito com o companheiro também pode estar envolvido. Fatores que interferem no resultado da gestação: Quanto mais fatores inadequados estiverem presentes, pior será o prognóstico e isso classifica a gestante em alto, médio ou baixo risco. Sendo os fatores passíveis de modificação os que mais contribuem (54%) sobre o resultado da gestação (Chemin). A estatura e o peso pré-gestacionais são fatores condicionantes do tamanho placentário, o que influenciará diretamente no tamanho de nascimento (Chemin). Peso pré-gestacional Peso excessivo pré- gestacional Prevalência: 25% Chemin, Krause, Accioly e Dan: macrossomia, DM e HA gestacional e parto cesáreo. Krause: pode levar morte fetal precoce, descoberta da gravidez tardiamente (>28sem), morte fetal intrauterina (MFIU), lactente muito prematuro (≤ 32sem), com defeitos cardíacos Krause e Vitolo: defeitos no tubo neural Krause: mulheres com sobrepeso apresentam problemas de fertilidade, pois a relação de testosterona para estrogênio está alterada (testosterona > estrogênio) Dan: risco de malformações fetais, aborto espontâneo no 1º trimestre parto prematuro, risco de resultados perinatais desfavoráveis (RN grande para idade gestacional, macrossomia, óbito fetal acima da 28ª semana, índice de apgar no 5º minuto inferior a 7, aspiração de líquido meconial e óbito neonatal precoce), trauma, asfixia, morte perinatal e desproporção cefalopélvica Desnutrição pré- gestacional Chemin, Accioly e Krause: BPN. Dan: > risco de morbimortalidade. Krause: natimortos, altas taxas de aborto espontâneo, morte neonatal e malformações congênitas. Ganho de peso gestacional Ganho insuficiente Prevalência: <10% Accioly e Chemin: Baixo peso ao nascer, parto prematuro, maiores índices de morbimortalidade neonatal Dan: RN pequeno para idade gestacional, maior tempo de permanência hospitalar e risco de parto prematuro Vitolo: menor conteúdo de DNA (ácido desoxirribonucléico), prejuízos neurológicos na criança, deficiência imunológica, seqüelas de crescimento pós-natal, acometimento na produção de enzimas e nas funções de rim, pulmão e fígado Ganho excessivo Macrossomia fetal (>4kg) (3 vezes mais – Dan) e DM. E HAS (Chemin) Chemin e Vitolo: HA, aumento de cesárea, parto prematuro, baixo peso e malformações Vitolo: aumento de 2 a 3 vezes de macrófagos, citocinas inflamatórias, e proteína C reativa = inflamação leva a obesidade futura Chemin: complicações anestésicas e hemorragias pós- parto, maior tempo de hospitalização e gastos Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 7 hospitalares, infertilidade, mortalidade perinatal, enfermidades crônicas não transmissíveis e malformações riscos proporcionais ao grau de obesidade Krause: retenção de peso pós- parto Dan: 1,5 vezes mais risco de hipoglicemia ou hiperbilirrubinemia, cesárea e risco de obesidade infantil Dan: A resistência periférica e hepática à insulina está aumentada em gestantes obesas. Após o parto, obesas têm maior chance de endometrites, laceração, infecção e feridas inflamatórias, aumento de hemorragias pós-parto e disfunção da lactação. Em obesas mórbidas, a proporção de gestação prolongada atinge taxa significativamente maior 11,2% que nos casos com IMC normal (7,2%). Vitolo: O aumento de peso no último trimestre promove estímulo do crescimento da massa muscular fetal. Sabe- se que a desnutrição durante o período gestacional e o início da vida pós-natal causam prejuízos durante toda infância. Há aumento do tecido adiposo fetal durante o último trimestre, de 12 a 17% do total de sua composição corporal. Crianças que nascem a termo e com peso adequado para idade gestacional possuem mais adipócitos do que as pequenas para idade gestacional, que ainda têm redução de 13% da sua massa magra. Estatura Baixa estatura (<150cm) Necessidade de cesárea (Accioly), baixo peso ao nascer e desproporção céfalo-pélvica (Accioly e Chemin). Krause: estas mães devem dar importância a um peso pré- gravídico adequado e um ganho de peso satisfatório Grande estatura Krause: tendem a ter bebês grandes Idade materna Faixa etária considerada ideal para concepção: 20 a 29 anos, uma mulher com mais de 5 anos pós-menarca já é considerada madura (Chemin). As mulheres mais velhas são as que apresentam maior paridade, que está associado a desgaste metabólico (Vitolo). Mulheres mais velhas com gestações múltiplas são mais propensas ao comprometimento cardíaco e podem apresentar mais retenção de líquido total (Krause). Acima de 35 anos Accioly: Anomalias congênitas, SHG, DM gestacional e altos índices de morbidade perinatal. Além de aborto espontâneo, placenta prévia (Chemin 11). Vitolo: natimorto, BPN, RNPT, HAS, DMG, placenta prévia e aborto espontâneo no 1º trimestre Vitolo e Chemin: Gestante > 40 anos: ↑ o risco de trissomia do cromossomo 21 (sínd de Down) Adolescentes Capitulo a frente Multiparidade Considera-se intervalo entre partos adequado quando ≥ 24 meses. Menos de 2 anos de intervalo há esgotamento das reservas maternas de nutrientes risco para BPN (Todos). Quanto maior a paridade maior é pode ser o grau de obesidade em mulheres (a multiparidade facilita o aumento da adiposidade) (Vitolo). As multíparas apresentam facilidade para depósito de gordura (2,5kg a cada gestação, sendo esse efeito cumulativo mais intenso após os 35 anos de idade) (Chemin). Já as primigestas têm maior incidência de Distúrbios Hipertensivos da Gravidez (Chemin e Vitolo). Anemia Redução na capacidade de trabalho, menor desempenho mental, menor resistência às infecções e tolerância às hemorragias. Parto prematuro e baixo peso ao nascer (Accioly e Chemin). Por outro lado, hematócrito alto (>40%) pode significar expansão plasmática inadequada, favorecendo a pré-eclâmpsia (Chemin). Infecções (Accioly e Chemin) Compromete o estado nutricional materno, aumenta o risco de parto prematuro e mortalidade perinatal. Trabalho físico excessivo Ocorre desgaste das reservas corporais maternas, menor ganho gestacional e sobem as taxas de mortalidade materna. Cigarro Pode levar a restrição de crescimento intrauterino (Accioly e Chemin). Afeta o crescimento fetal e aumenta o risco de prematuridade e mortalidade perinatal (Chemin e Vitolo). O tabagismo também está associado à inadequação do ganho de peso gestacional (Accioly). As mulheres que fumam se alimentam menos, tendo menor consumo calórico ou ineficiência na utilização das calorias, que se relaciona com os efeitos deletérios e estes são proporcionais ao número de cigarros (Chemin). Componentes oxidantes da fumaça de cigarro podem comprometer vitamina C e provavelmente β- caroteno,B12 e B6 e folato, entretanto, parar o fumo pode causar ansiedade e estresse, então se permanecer o uso de cigarro este deve ser de no máximo 5 unidades/dia (Chemin). Fumantes requerem a ingestão 3 vezes maior de ácido fólico do que as não fumantes para manter a mesma concentração de folato sérico e 2 vezes mais vitamina C (Chemin e Vitolo). Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 8 Álcool Doses elevadas podem prejudicar o transporte de O2 pelo cordão umbilical, além disso, é um componente com alta capacidade de absorção, elevado valor calórico e efeito vasodilatador, atravessando facilmente a barreira placentária e encharcando o líquido amniótico e os tecidos fetais (Krause e Chemin). Pode-se acumular em níveis tóxicos para o feto, causando anomalias fetais, como RCIU e síndrome alcoólica fetal (Accioly e Chemin). Além de aborto espontâneo, descolamento prematuro da placenta e parto de BPN (Krause). Tem-se ainda, RNPT e em estudos em animais, o consumo crônico de álcool pode mobilizar a vitamina A, aumentando sua concentração fetal e gerar efeitos teratogênicos (Chemin). E hipotonicidade (Vitolo). São características da síndrome alcoólica fetal: déficits no crescimento pré e pós-natal, atrasos de desenvolvimento, microcefalia, alterações oculares, anormalidades faciais e de articulações esqueléticas (Krause). Assim, não se recomenda o consumo de nenhum tipo de bebida alcoólica durante a gestação, nem mesmo aquelas com teor alcoólico reduzido (Krause). É permitido apenas o consumo ocasional, mas na ausência de limites seguros, é sugerido que evite o uso (Chemin). Cafeína Em caso de consumo excessivo tem-se BPN e má- formação congênita. Além de aumentar o risco de abortos espontâneos no 1º trimestre, esse risco aumenta se o consumo aumentar de 100 para 500mg/dia (Krause). Associa-se à malformações o consumo de 10 a 14 xícaras de café/dia e RNBP com consumo diário superior a 2-3 xícaras médias/dia (300ml/dia) (Chemin). Estudos de âmbito epidemiológico não comprovaram a associação de café com BPN, prematuridade ou RCIU, entretanto outro estudo demonstrou o risco de aborto espontâneo com o consumo elevado de cafeína (Vitolo). Recomendações: Recomendações: Deve se restringir a 4 xícaras de café/dia (Vitolo) X Seu consumo não deve ultrapassar 2 a 3 xícaras peq/dia (100 a 150ml), não esquecendo das bebidas como chás, refrigerantes e o chocolate (Chemin) X Deve ser consumida com moderação = 2 xíc de café ou < 200mg/dia de cafeína (Krause) X Ingestão de cafeína maior que 300mg/dia aumenta o risco de aborto espontâneo, risco de BPN e morte fetal tardia (Dan) X A quantidade de cafeína não deve ultrapassar 300mg/dia (Accioly). Chás (Vitolo) Há uma portaria da secretaria do estado do RJ que contraindica o uso de chás na gravidez, como erva- doce, espinheira santa, erva cidreira, camomila e boldo. Os efeitos seriam de sangramento e relaxamento uterino, entretanto há críticas às publicações porque foram feitos com extratos de plantas e em doses excessivas, acima das normalmente consumidas. Intoxicação alimentar (Vitolo) Não utilizar produtos lácteos, como queijos moles produzidos de leite não pasteurizados, saladas cruas de restaurantes e lenchonetes e peixe cru Não consumir doces ou preparações feitas de clara de ovo ou ovo não cozido, como maionese caseira É preferível consumir camarões, atum em lata, salmão e tainha, por possuírem baixo teor de mercúrio. Situação socioeconômica (Chemin) A morbimortalidade materna e fetal se mostra inversamente proporcional à escala social. Estão em maior risco os grupos de baixa renda, menor escolaridade, más condições de moradia-saneamento- alimentação-estilo de vida, dificuldade de acesso a serviços de saúde, situação conjugal insegura e esforço físico e carga horária excessivos. Baixa escolaridade, baixa renda, falta de saneamento e assistência pré natal de qualidade. Problemas neurológicos como depressão, psicose, insegurança (Chemin). Accioly : situação marital insegura, baixo número de consultas de pré-natal, não planejamento ou aceitação da gestação. A violência doméstica está associada a menor ganho de peso gestacional. Drogas ilícitas (Chemin) Maconha – lipossolúvel, atravessa a placenta e é lentamente excretada. Assim como tabaco, interfere no transporte de oxigênio, aumenta a frequência cardíaca e pressão arterial, com menor perfusão placentária levando a RNBP e à irritabilidade ao nascer. Cocaína -- atravessa rapidamente a placenta, a mãe pode ter ruptura de placenta e parto prematuro, com contrações descontroladas. Os filhos podem ter BPN, RCIU, paralisia, lesão fetal e física, batimentos cardíacos anormais, síndrome de abstinência e até o óbito. Medicamentos e radiação (Chemin) Drogas lipossolúveis atravessam a membrana placentária devendo ser evitadas durante todo o período. Uso de aspirina (ou ibuprofeno) no final da gravidez é desaconselhável por favorecer sangramento excessivo durante o parto. A radiação é contraindicada no início da gestação, fase da diferenciação celular, por exercer efeito sobre a formação do feto. Doença obstétrica na gravidez atual e inadequado desempenho obstétrico anterior (Chemin) Podem levar a BPN, RCIU, mortalidade perinatal, macrossomia, aborto, malformações, RNPT, ganho ponderal inadequado e quadros hemorrágicos. Nascimentos múltiplos (Krause) A incidência tem aumentado devido ao uso de drogas fertilizantes e maior número de gravidezes em mulheres com idade avançada. Esses bebês têm risco muito maior de serem prematuros com RCIU ou BPN. O baixo peso ao nascer e especialmente o muito baixo peso ao nascer desempenham um papel importante na mortalidade perinatal, enterocolitenecrosante e síndrome da angústia respiratória. Contaminantes (Krause e Dan) Mercúrio, chumbo, cádmio, níquel e selênio são embriotóxicos. Gestantes não devem utilizar dolomita como suplemento de cálcio porque este contém chumbo. Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 9 São encontrados traços de metil mercúrio, que é um contaminante na maioria dos peixes, em quantidades maiores em cação, peixe-espada, cavalinha, lofolátilo e atum grande (tipo usado para sushis ou filés frescos), as concentrações podem ser maiores em áreas com poluição de mercúrio ambiental. Peixes expostos a contaminação por mercúrio, podem causar graves danos ao sistema nervoso central (ex. comprometimento motor, intelectual e psicossocial) (Dan). Segundo a FDA devem ser consumidos no máximo 2 porções por semana de peixes e frutos do mar (Dan e Krause), como o atum em lata, bagre, camarão e salmão e evitar peixes com alta concentração como cação, peixe-espada, cavalinha e marlim (Dan). Bifenispoliclorados (PCB) se concentram em peixes gordurosos como o salmão, truta e carpa, e podem ser absorvidos através da pele e pulmões. Inicialmente eles entram no corpo pela ingestão desses peixes gordurosos contaminados, a partir daí, podem atravessar a placenta e chegam até o leite materno, e por isso as grávidas devem evitar os peixes contaminados com PCB. O bisfenol A outro contaminante pode afetar a função da tireóide pois diminui a meia-vida no soro de T4) (Krause 13). Mulheres grávidas têm 20 vezes mais chances de se infectar com Listeria monocytogenes do que adultos saudáveis. São contaminantes alimentos como leite cru, frutos do mar defumados, patês, queijos moles, salsichas do tipo Frankfurter, cortes de frios de balcão e carnes não cozidas. Essa infecção causa aborto espontâneo e meningite fetal e do recém-nascido. Síndrome do ovário policístico (Krause) mulheres apresentam maiores problemas quando engravidam Toxinas ambientais, dioxinas, polibrominatobifenil (PBB), ésteres de fitalato, e outros produtos industriais (Krause) afetam a fertilidade Homocisteína plasmática elevada e deficiência de B12 (Krause) levam a infertilidade e perda fetal recorrente Qualidade do ar e pureza da água - podem contribuir negativamente a gravidez (Krause) a taxa de partos prematuros aumenta Cirurgia de by-passpós-gástrico (Krause) Embora a perda de peso pré-gestacional possa aumentar a taxa de gestação, isso tem o potencial de gerar um ambiente uterino abaixo do ideal para o desenvolvimento fetal. Um estudo sugere que o feto irá se desenvolver adequadamente se a gestação ocorrer não antes que 1 ano após a cirurgia com a suplementação de nutrientes adequada. Mulheres obesas após o parto podem apresentar taxas mais elevadas de anemia que as mulheres de peso normal. É comum a deficiência de ferro, vitaminas A, D, B12, K, folato e cálcio que podem levar a anemia grave (mãe) e anormalidades congênitas como rins menores, raquitismo neonatal, RCIU e dificuldade do feto se desenvolver (Krause 13). Dan: Após a cirurgia bariátrica há melhora significativa na fertilidade, favorecendo a ocorrência da gravidez. Comparando-se gestações de pacientes obesas mórbidas antes da gastroplastia e após a perda de peso induzida pela cirurgia, encontra-se redução significativa na necessidade de cesárea, incidência de macrossomia e DM. O Colégio Americano de Ginecologia defende prioridade para perda de peso anterior a gravidez e acusa a bariátrica como promessa preliminar no tratamento de obesidade no período pré-gestacional. É comum deficiência de ferro, vitamina B12, folato e cálcio em pós-cirurgia bariátrica. É recomendada a reposição de ferro após qualquer cirurgia bariátrica. Na gravidez recomenda-se a suplementação de 60mg/dia desde o início da gestação. A deficiência de vit B12 é menos comum que a de ferro e ocorre com mais frequência após as cirurgias disabsortivas. Recomenda-se que seja realizada a reposição de vit B12, 1000μg, por via intramuscular, a cada 3 meses. Recomenda-se a suplementação periconcepcional e pré-natal de ácido fólico, pelo menos 1 mg/dia. A deficiência de cálcio é comum, e a prevenção de sua deficiência é realizada pela suplementação diária de 1000mg/dia deste mineral. Complicações: Vômitos podem ser causados pela ingestão excessiva ou pela mastigação inadequada, podendo haver diminuição dos níveis séricos de potássio e magnésio, sendo necessária a reposição dos mesmos. A gestante, assim como outros pacientes operados, podem apresentar vômitos devido a suboclusão do tubo digestivo causada por aderência, hérnia interna ou deslocamento do anel. A utilização do teste de tolerância a glicose oral (100g) nestas gestantes pode trazer complicações quando a paciente apresenta antecedente da síndrome de dumping. Neste caso, recomenda-se o seguimento mensal da glicemia materna. Orientações gerais: Não se recomenda gravidez no período de 12 a 18 meses subsequentes a cirurgia, pois neste período a perda de peso é mais intensa e não houve adaptação do organismo à nova situação. A suplementação indicada é de 400μg de folato/dia durante o período reprodutivo, 50 a 100mg de ferro elementar por dia para idade fértil e gestante, e 1000mg de cálcio/dia. A dieta deve ser fracionada, de alto teor proteico, respeitando o horário das refeições. As refeições principais devem conter proteína animal em maior quantidade, principalmente a carne vermelha, por ter maior concentração de ferro. Recomenda-se que a alimentação seja devagar, com duração aproximada de 40 minutos, promovendo boa mastigação dos alimentos, sem a ingestão de líquidos juntamente com a refeição. Deve-se reduzir o uso de óleo e temperos industrializados no preparo dos alimentos. Infecções vaginais (Krause) As infecções estão ligadas às contrações prematuras e subsequentes partos precoces. Exemplo: Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 10 vaginose bacteriana (VB). O uso de probióticos em mulheres grávidas com VB é indicada, pois algumas cepas de lactobacilos podem colonizar a vagina e deslocar e matar patógenos como E. coli e Gardnerellavaginalis. Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 11 ASSISTÊNCIA PRÉ-NATAL (APN) É a avaliação sistemática da paciente desde a concepção até o ano após o parto (Chemin). Objetivos: Assistência psicológica durante a gestação; Orientações de hábito de vida e de higiene; Profilaxia, diagnóstico e tratamento de doenças; Vigilância do crescimento e vitalidade fetal; Práticas educativas de saúde, nutrição e cuidados de puericultura; Preparação psicológica e física para o parto e nascimento humanizado e lactação. O principal objetivo é acolher a mulher desde o início da gravidez, assegurando no fim da gestação o nascimento de uma criança saudável e a garantia do bem estar materno e fetal (Accioly). Na ausência de pré-natal, a mortalidade perinatal aumenta em 5 vezes. Para o seu sucesso são necessários: a participação de equipe multidisciplinar, cuidado pré-natal precoce para detectar as gestantes de alto risco e empregar medidas profiláticas e terapêuticas, contribuindo para menores taxas de mortalidade perinatal e neonatal, além de contribuir para o sucesso do aleitamento materno e assistência de qualidade. Deve-se iniciá-lo após a suspeita da gravidez, com intervalo máximo de 4 semanas entre as consultas e após a 36ª semana o intervalo máximo deve ser de 15 dias (Chemin). O início da APN deve acontecer após a confirmação do diagnóstico da gestação. O número mínimo de consultas deve ser 6, preferencialmente 1 no 1º trimestre, 2 no 2º trimestre e 3 no 3º trimestre e o encerramento do acompanhamento só se encerra após o 42º dia de puerpério. Idealmente, deve ocorrer 4 consultas com nutricionista, com início concomitante ao pré-natal. A 1ª consulta deve ocorrer até a 16ª semana, a 2ª com intervalo de 15 a 30 dias, a 3ª ainda no 2º trimestre e a 4ª no 3º trimestre (Accioly). Gestantes de risco têm maior número de consultas, diminuindo o intervalo entre elas (Chemin). Na 1ª consulta da assistência nutricional pré-natal deve-se investigar: idade gestacional, idade materna, atividade profissional, pareceres da equipe de saúde, presença de fatores de risco (idade materna < 15 anos e > 35 anos, ocupação, situação conjugal insegura, não planejamnt/aceitação da gestação, baixa escolaridade – menor de 5 anos, condições de saneammento desfavoráveis, altura < 1,45m, peso < 45kg e > 75kg, dependência de drogas ilícitas, baixa renda per capita), história reprodutiva anterior desfavorável, doença obstétrica atual, intercorrências clínicas e enfermidades crônicas, avaliação da evolução da altura uterina, avaliação da sintomatologia digestiva, avaliação de picamalácia, avaliação das condições de aleitamento, avaliação de exames complementares e avaliação nutricional (Accioly). Nas consultas subsequentes, deve-se rever o prontuário, fazer avaliação do ganho de peso desde a última consulta e do ganho de peso total, avaliação dietética detalhada, investigação da sintomatologia digestiva e das intercorrências, acompanhamento dos exames e da evolução da altura uterina, ajuste da orientação nutricional, incentivo ao aleitamento materno e esclarecimento de dúvidas (Accioly). Avaliação do estado nutricional: A anamnese nutricional da gestante deve incluir avaliação antropométrica, alimentar, bioquímica e clínica (Vitolo). Objetivos da avaliação antropométrica: Identificar gestantes com desvio ponderal no início da gestação. Detectar gestantes com ganho de peso insuficiente ou excessivo para a idade gestacional em função do estado nutricional prévio. Fornecer base para elaboração de condutas adequadas para melhorar o estado nutricional materno, suas condições para o parto e as condições ao nascer. É um meio mais acessível, não invasivo e rápido. São indicadores mais citados na avaliação da gestante: peso, estatura, circunferência braquial e dobra cutânea triciptal, sendo o ganho de peso e o IMC indixadores antropométricos indispensáveis para avaliação da gestante (Vitolo). Já a medida da altura uterina e a circunferência da panturrilha são apontados como indicadores de nutrição materna e fetal (Vitolo). No 1º trimestre de gestação, fase de embriogênese, o ganho de peso não é muito relevante. São consideradas respostas normais da gestante no 1º trimestre: perda de peso até 3kg, manutenção do peso pré-gestacional ou o ganho ponderal de 2kg sem qualquer comprometimento no binônio mãe/filho. A partir do 2º trimestre o ganho de peso adequado vai depender do estado nutricional da gestante (Chemin). Elas devem ganhar, de modo simplificado e de âmbito clínico, em torno de 15kg para aquelas com baixo peso, entre 10 e 12kg para as eutróficas e entre 6 e 7kg para as obesas e com sobrepeso, durante todo o período gestacional (Vitolo). Accioly: Em 2009 o IOM publicou uma atualização das recomendações para ganho de peso durante a gestação, contudo esta deve ser validada para aplicação na assistência pré-natal de mulheres brasileiras por se tratar de uma proposta americana. Dentre as modificações observadas destacam-se: - Adoção de pontos de corte propostos para IMC pré- gestacional propostos pela OMS para a avaliação de adultas e adolescentes (quadro 1). - Revisão e definição da faixa de ganho de peso semanal e total para gestante com obesidade pré- gestacional, que passa a ser de 0,22 g/sem (variando de 0,17 a 0,27 kg) e 5 a 9 kg, respectivamente. - Revisão do ganho de peso semanal para o 2o e 3o trimestres segundo categorias de IMC pré-gestacional e definição dos valores máximos e mínimos (quadro 1). - Recomendação de adoção das mesmas faixas de ganho de peso para mulheres com estatura < 1,57 m e 1,57 m. Procedimentos de avaliação na 1ª consulta: 1. Peso pré-gestacional conhecido e avaliação baseada no IMC pré-gestacional: Desenvolvida no Chile esta forma de classificação se baseia no IMC. Em 2004, o MS (SISVAN) recomendou adotar a Curva de Atalah, o IMC por semana gestacional tem a vantagem de permitir realizar o diagnóstico nutricional em qualquer momento do pré- Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 12 natal e ainda permite a visualização do estado nutricional pelo traçado da curva no gráfico (Vitolo). Gestantes adultas: calcular IMC pré-gestacional e consultar pontos de corte da tabela 1. Idealmente a 1ª consulta deve ocorrer no 1º trimestre. O peso informado como pré-gestacional deve ser correspondente a no máximo 2 meses antes da concepção OU o peso medido até a 14ª semana gestacional. Caso não seja possível a obtenção de tais medidas, utilizar o peso atual e o IMC atual. Calcular a idade gestacional pela data da última menstruação ou pelo disco obstétrico. Quando necessário arredondar a semana gestacional da seguinte forma: 1,2,3 dias – considerar semana completa / 4,5,6 dias considerar a semana seguinte. Exemplo: IG = 10 semanas e 2 dias – 10 semanas IG = 10 semanas e 5 dias – 11 semanas Para cada situação nutricional inicial há uma faixa de ganho de peso recomendada. Para o 1o trimestre o ganho de peso é apresentado como um valor agrupado para o período, enquanto que para o 2o e 3o trimestres, a velocidade de ganho de peso é prevista de forma semanal (quadro 1). Accioly – IOM - 2009 Quadro 1 OBSERVAÇÃO: Deve-se avaliar cuidadosamente ganho de peso> 0,5 kg/sem ou > 3 kg/mês, que, especialmente após a 20ª semana é sugestivo de edema e SHG. 2. Peso pré-gestacional desconhecido e avaliação baseada no IMC pré-gestacional: Calcular o IMC gestacional e realizar o utilizando diagnóstico nutricional utilizando a proposta de Atalah (quadro 2) ou o gráfico de IMC por semana gestacional (figura 1). OBS: A figura 1 apresenta o gráfico de IMC segundo a idade gestacional. Adoção do gráfico de IMC segundo idade gestacional deve ser feita cautela, pois, em estudos nacionais, desenvolvidos com mulheres adultas, verificou-se que a avaliação do estado antropométrico materno por este método não teve associação com o resultado obstétrico. Com isso, sugere-se que após a classificação do IMC gestacional segundo o Quadro 2 ou figura 1, a avaliação deve ser feita por meio do ganho de peso semanal, de acordo com IMC inicial, consultando-se o quadro 1, inclusive nas consultas subsequentes. Accioly – Instituto Americano de Medicina (IOM – 2009) Ganho de peso (kg) total até a 14ª semana Ganho de peso semanal (kg) no 2º e 3º trimestres (a partir da 14ª semana) Ganho ponderal total (kg) Ganho de peso mínimo (kg/mês) Baixo peso (BP) (<18,5) 2,0 0,51 (0,44-0,58) 12,5-18,0 0,44 Adequado (A) (18,5-24,9) 1,5 0,42 (0,35-0,50) 11,5-16,0 0,35 Sobrepeso (SP) (25,0-29,9) 1,0 0,28 (0,23-0,33) 7,0-11,5 0,23 Obesidade (O) (≥30,0) 0,5 0,22 (0,17-0,27) 5-9 0,17 Dan 09 Krause 10 e Chemin Krause 13 Accioly- Ministério da Saúde (IMC PPG) – refere ser IOM 1990 Estado nutricional Ganho ponderal total (kg) no 1º trimestre (<14 semanas) Ganho de peso semanal (kg) no 2º e 3º trimestres (≥ 14 semanas) Ganho ponderal total (kg) Ganho de total – Krause 2013 < 19,8 < 20 < 18,5 Não descreve Baixo peso 2,3 0,5 12,5-18,0 12,7-18,14 19,8-26,0 20-25 (24,9 Chemin ) 18,5-24,9 Não descreve Normal 1,6 0,4 11,5-16,0 11,34-15,88 26,0-29,0 25-29 (29,9 - Chemin) 25-29,9 Não descreve Sobrepeso 0,9 0,3 7,0-11,5 6,8-11,5 (Krause) 6,8 - 11,34 >29,0 > 30 --- Não descreve Obesidade - 0,3 --- (Krause) 7,0 ≥ 6,0 (Krause) --- Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 13 Vitolo: Os pontos de corte utilizados para o IMC pre gestacional são os mesmos recomendados pela OMS e a recomendação de ganho de peso é baseado na nova proposta da IOM 2009. Apresenta vantagem sobre o Normograma de Rosso por poder ser usada em mulheres de qualquer altura (Vitolo): As recomendações de ganho de peso devem ser distintas entre primíparas e multíparas, pois estas se beneficiam de ganho de peso menor quando comparadas as primíparas. Há ainda necessidade de recomendações de ganho de peso diferentes para mulheres com menos de 1,60m ou menos de 20 anos, mas ressalta que não há (Vitolo). Classificação do estado nutricional pré-gestacional e recomendação para ganho de peso IMC (kg/m²) pré- gestacional Ganho de peso total (kg) Ganho de peso semana g/semana (variação) para 2º e 3ª trimestres < 18,5 (baixo peso) 12,5 a 18 510g (440 a 580g) 18,5 – 24,9 (eutrofia) 11,5 a 16 420g (350 a 500g) 25,0-29,9 (sobrepeso) 7,0 a 11,5 280g (230 a 330g) ≥ 30 (obesidade) 5 a 9 220g (170 a 270g) Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 14 Figura 1: Gráfico de Acompanhamento Nutricional de gestantes – IMC segundo semana gestacional Considerar o traçado da curva: - ascendente: estado nutricional adequado - descendente: estado nutricional inadequado (gestante de risco. OBS: Accioly coloca que segundo MS o gráfico deve ser utilizado para acompanhamento em consultas subseqüentes. Gráfico de IMC segundo semana gestacional O gráfico contém 3 curvas que delimitam 4 faixas de estado nutricional: Baixo peso – BP Adequado – A Sobrepeso – S Obesidade – O CONSULTAS SUBSEQUENTES (Accioly): A avaliação nutricional deve ser baseada no ganho de peso recomendado (kg) na gestação, segundo estado nutricional inicial (tabela 1). Accioly coloca que segundo o Ministério da Saúde a avaliação em consultas subsequentes pode ocorrer por meio do ganho de peso recomendado (kg) na gestação, segundo estado nutricional inicial OU pela evolução no gráfico de IMC segundo idade gestacional. Normograma e curva de Rosso (Chemin) Usava-se normograma específico para determinar a porcentagem de peso em relação à altura. Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 15 Na década de 80 o MS adotava a curva de adequação do peso para estatura, proposta por Rosso, no cartão da gestante, porém esta vigorou até o ano 2000 (Chemin e Accioly), figura 1. Faz-se a relação peso atual da gestante x altura para encontrar a relação P/E no normograma. O P/E encontrado deve ser transportado até a curva ou tabela e relacionado com a idade gestacional atual. O estado nutricional da gestante será classificado em: Faixa A: baixo peso Faixa B: normal (eutrofia) Faixa C: sobrepeso Faixa D: obesidade Os valores satisfatórios são aqueles que se apresentam próximos de 100% (Chemin). Classificação do estado nutricional de acordo com P/E pré –gestacional (Chemin): Desnutrição ou baixo peso < 90% Eutrofia 90 – 110% Sobrepeso 110 – 120% Obesidade≥ 120% Para classificação do estado nutricional durante a gestação se utilizava curva correspondente, localizando o valor percentual encontrado na figura anterior, de acordo com a idade gestacional (Chemin). Críticas: acentua diferenças nos extremos (aumenta prevalência de déficits e excessos ponderais), superestima distúrbios nutricionais, induzindo maior ganho de peso, contribuindo para maior incidência de obesidade. A curva de Rosso tem perdido sua importância devido à mudança do perfil nutricional das populações, onde a obesidade tem prevalecido. Sua indicação é válida para populações em que a prevalência da desnutrição é alta, pois garante que todas serão identificadas (Chemin). OBS: Na curva de Rosso descrita por Dan 09, o peso excessivo é sobrepeso, não existe a faixa obesidade. Chemin: 1) Para casos de peso pré-gestacional conhecido: Curva de adequação percentilar do ganho de peso em função da idade gestacional (Fig3) Considera-se no gráfico: Aumento do peso = peso atual - peso pré-gestacional. Considera limites de normalidade entre P25 e P90, com ganho entre 8 e 16kg para todas as gestantes. Peso pré-gestacional peso medido a não mais de 2 meses antes da gestação ou no 1º trimestre da mesma (até 14ª semana gestacional) Críticas: O ganho de peso recomendado (8 a 16 kg) é igual para todas as gestantes independente do seu estado nutricional pré-gestacional. A gestante tem que começar na eutrofia (Chemin). 2) Para casos que o peso prévio não é conhecido: Padrão da relação peso para altura segundo a idade gestacional Construída da 13ª a 39ª semana gestacional, para estatura de 1,40 a 1,69 m e os pontos de corte sugeridos para normalidade são P10 e P90. Peso para altura segundo a idade gestacional (p10 e p90). Críticas: Não permite a avaliação de gestantes que iniciaram a gestação com o peso fora do P10 e P90; não permite avaliar o ganho de peso e não permite avaliar gestantes com estatura superior a 1,69 m. Grávidas fora de P10 e P90 são chamadas anormais (Chemin). Vantagens: É independente do peso pré-gestacional e as medidas de peso atual e estatura são de fácil obtenção. Alternativa para avaliação nutricional quando o peso pré-gestacional for desconhecido e para as Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 16 gestantes com o peso pré-gestacional superior ou inferior aos apresentados na tabela de referência: Ganho de peso normal é o ganho de peso semanal médio de: - 0,4kg/semana no 2º trimestre (IG ≥14 sem) - 0,3kg/semana no 3º trimestre (IG ≥28 sem) Crítica: recomendação igual independente do estado nutricional pré-gestacional e do ganho de peso até o dia da consulta. Observações: 1. Abaixo de P10 ou P25 sugere desnutrição materna e RCIU, deve-se investigar alimentação inadequada, hiperêmese gravídica, infecções, parasitoses, anemias, doenças debilitantes e problemas familiares. Devem receber aconselhamento nutricional e suplementação alimentar e remarcar a consulta com intervalo menor do que o estabelecido. Além disso, a gestante deve terminar a gestação com um ganho de peso mínimo de 8kg. 2. Acima de P90 maior será o risco quanto mais elevado o ganho de peso. Suspeitar de síndromes hipertensivas e retenção hídrica. Investigar obesidade, edema, macrossomia, gravidez múltipla, polidrâmnio, DM e dieta inadequada. Remarcar a consulta com intervalo menor que o estabelecido. Além disso, o ganho total não deve ultrapassar a faixa de 16 kg. 3. Ganho de peso acima do P90 no 1º trimestre gestantes não precisam ganhar mais de 8 kg na gestação toda. 4. A adolescente deve ganhar o limite superior da faixa de ganho de peso recomendado (Krause). 5. Gestante com altura < 1,40m ganho total recomendado é de 10 a 11 kg. 6. Ganho superior a 0,5kg/semana considera-se um ganho súbito merece investigação. 7. Gestantes com peso < 45 kg e > 75 kg são de risco para recém-nascido com BPN e pré-termo 8. Essas gestantes abaixo de P10 e P25 e acima de P90 são consideradas gestantes de risco. Krause: mulheres de peso normal com ganho de peso de 12 a 16 kg têm resultado ótimo na gestação. Ganho de peso < 6,8 kg está associado à malformação intrauterina. Dan: Embora seja difícil definir o ganho de peso materno ideal ele seve ser entre 10 a 13 kg. Chemin: Segundo a maioria dos autores, a eutrofia seria o ganho em torno de 20% do peso inicial, em valores de IMC isso corresponderia a aumento de 4,6 pontos. Avaliação nutricional – Accioly Circunferência do braço e medida do tríceps (Vitolo) São úteis para avaliar modificações que ocorrem durante o período gestacional, comparando com as medidas tomadas anteriormente. O perímetro braquial aumenta do início até o fim da gestação e a medida do tríceps pode diminuir já que há transferência das reservas energéticas entre os segmentos corporais durante a gestação. Recomenda-se a utilização da circunferência muscular do braço, que pode ser comparada a padrões de referência ou a valores iniciais e finais. Dietética – atenção ao número e composição das refeições e grupos de alimentos presentes. Investigar tabus, alergias e picamalácia. Usar frequência de consumo semiquantitativo. Picamalácia - perversão do apetite com a ingestão de substâncias como terra, barro, tojolo, ração para cães, água de sabonete, cabelo, fósforo, raspas de gelo, giz ou combinações alimentares atípicas como manga verde embebida de água, vinagre e sal. Abaixo apresenta-se uma proposta para investigação de picamalácia. Consumo de terra ou barro geofagia Consumo de amido não nutritivo amilofagia. Exemplos: gelo, cinza de cigarro, tijolo, terra, água de sabonete, borra de café. Entrevista para a investigação da picamálacia na gestação: Tem vontade de ingerir substâncias ou combinações de alimentos estranhas durante a gestação? (1) Sim. Qual (is), frequência? _____________ (2) Não Caso a resposta da 01 seja Sim, o que sente é vontade ou desejo de ingerir tais substâncias? ______________ Quando sente a vontade de ingerir a substância realmente a ingere? (1) Sim. Qual (is), frequência? ________________ (2) Não Este comportamento já ocorreu em outras gestações ou em períodos de amamentação anteriores ou mesmo fora da gestação? (1) Sim. Quando? _________________________ (2) Não Você sabe o motivo dessa vontade/desejo? __________ Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 17 Inquéritos alimentares (Vitolo) Tem como objetivo a identificação de erros alimentares que possam prejudicar a saúde da mãe e do feto. - Alimentação diária habitual Mesmo que história dietética. É uma técnica quantitativa que questiona quanto os alimentos mais consumidos na dieta e suas quantidades. É mais indicada na primeira consulta com o paciente. - Inquérito recordatório de 24 horas Consegue-se obter o consumo alimentar quantitativo do dia anterior a consulta. É utilizada em investigações populacionais para se verificar o padrão alimentar médio. Na clínica pode ser útil pata observar mudanças de prática alimentar após intervenção nutricional. - Inquérito de freqüência É a técnica mais utilizada para verificar hábitos alimentares do ponto de vista qualitativo. Relata a freqüência com que determinados alimentos aparecem, diariamente ou semanalmente, nas refeições. Deve-se colocar na lista somente os alimentos mais relevantes. - Inquérito por registro É mais fidedigno quantitativamente, pois a pessoa vai anotando os alimentos à medida que vai consumindo. É menos provável a omissão, mas requer que o paciente seja alfabetizado, com bom nível de escolaridade e que queira cooperar. A limitação desta técnica é a mudança de comportamento quanto as práticas alimentares, mesmo que inconsciente. Têm-se maior risco de subestimar as mulheres e homens obesos e, à medida que aumentam os dias de registro, ele se torna menos completo e preciso. Clínica: investigar sinais e sintomas digestivos, funcionamento intestinal, patologias ou intercorrências associadas e presença de sinais sugestivos de carência nutricional. Exames laboratoriais: tipagem sanguínea,sífilis, anti-HIV, hematimetria (hemoglobina e hematócrito), hepatite B e toxoplasmose, glicemia de jejum, teste de tolerância a glicose, urina tipo I, protoparasitológico, colpocitologia oncótica e bacterioscopia da secreção vaginal. Exames complementares: ultrassonografia e dopplerfluxuometria. Medida da altura uterina: visa acompanhamento do crescimento fetal e detecção de seus desvios, diagnóstico de suas causas e orientação para as condutas adequadas. Utiliza-se gráfico com indicador altura uterina em relação à idade gestacional (semanas). Chemin: Na gestação normal, têm-se crescimento médio do concepto de 4cm/mês. Pressão arterial Conceitua-se hipertensão arterial na gestação: - níveis tensionais ≥ 140 mmHg de pressão sistólica e ≥90 de pressão diastólica, mantido em 2 ocasiões, resguardando o intervalo de 4 hrs. - aumento de 30mmHg ou mais na pressão sistólica e/ou 15mmHg ou mais na pressão diastólica em relação aos níveis conhecidos - presença de pressão ≥ 110mmHg em uma única aferição Presença de edema Funcional Na avaliação da deficiência de vitamina A pode-se adotar a entrevista padronizada da cegueira noturna gestacional. Entrevista padronizada: 1. Dificuldade para enxergar durante o dia? 2. Dificuldade para enxergar com pouca luz ao à noite? 3. Tem cegueira noturna? São considerados casos de cegueira noturna gestacional, casos em que a pregunta 1 for não e ao menos uma das respostas das perguntas 2 ou 3 forem sim. Para confirmação do diagnóstico de DVA proceder a avaliação dietética com ênfase na investigação de fontes de vitamina A. Se necessário solicitar a dosagem de retinol sérico materno, sendo indicativo de DVA quando os níveis séricos forem < 1,05 µmol/L. A cegueira noturna resulta da redução dos níveis séricos associados aos ajustes fisiológicos da gestação. Tal redução é ocasionada por: - Baixa reserva hepática de vitamina A pré-gestacional; - Baixa ingestão de alimentos fonte de vitamina A; - Baixa ingestão de lipídios e proteínas; - Presença de processos infecciosos. A presença de cegueira noturna gestacional pode ser prevenida e tratada com estímulo ao consumo de alimentos fonte com diversificação alimentar, fortificação de alimentos e suplementação. A OMS recomenda a suplementação de vitamina A durante a gestação em populações com prevalência de cegueira noturna ≥ 5%, respeitando-se a dose segura para idade reprodutiva, que é de 10.000 UI/dia ou 25.000 UI/semana, por um período de 12 semanas de gestação até o parto. No Brasil o Ministério da Saúde insitituiu o Programa de Suplementação de Vitamina A que contempla pré- escolares, mulheres residentes em áreas de risco para DVA: Nordeste, norte de Minas Gerais (Vale do Jequitinhonha e Vale do Mucuri) e Vale do Ribeira (São Paulo). Para puérperas recomenda-se uma dose única de 200.000UI no pós-parto imediato, ainda na maternidade. Accioly: Orientações para todas as gestantes: Estimular: Fracionamento da dieta com menor volume (5 a 6 refeições/dia); X Vitolo: 6 refeições Ingestão de vegetais e frutas de preferência cruas e como entrada; Consumo de alimentos fortificados com ferro, folato e vitamina A; Consumo de preparações alimentares simples, assadas, cozidas, ensopadas, grelhadas; Consumo moderado de óleo nas refeições. Preferir como tempero de salada vinagre, limão, sal, cheiro verde, salsa, ervas e azeite; Ingestão hídrica, no mínimo de 2 litros de água /dia, evitando os horários das grandes refeições X não tem respaldo científico (Vitolo) Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 18 Orientar para o consumo moderado de açúcar. Vitolo: Verificar se há o consumo de 3 porções de lácteos por dia Consumir 2 unidades de frutas por dia Estimular consumo de feijão 4 vezes por semana Não exceder volume diário de 300 a 400ml, exceto água Consumir peixe 2 a 3 vezes por semana Como boa fonte de ferro pode consumir fígado de 100 a 150g por semana, que não há risco de excesso de colesterol Desencorajar: Consumo de fast food e lanches rápidos no lugar principalmente das grandes refeições; Consumo de alimentos gordurosos, frituras, preparações concentradas em CHO simples e calorias vazias; alimentos processados e industrializados que contenham conservantes; edulcorantes e produtos diet/light (só em caso de diabetes); O tabagismo, o uso de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas; Orientar o consumo moderado de café, mate e chá. A cafeína está associada ao aumento da perda reprodutiva e complicações na gestação. A quantidade de cafeína não deve ultrapassar 300mg/dia; Para prevenção de toxoplasmose: evitar consumo de carnes cruas (cozinhar até atingir 80º C no centro), e após manipulá-las evitar tocar mucosas; evitar contato com gatos e suas fezes; lavar bem as mãos e utensílios após o contato com vegetais ou carnes cruas ou mal cozidas; evitar contato direto com solo e areia; o leite cru e ovos devem ser submetidos a altas temperaturas de cocção; Orientar a gestante a usar sutiã durante a gestação; recomendar banho de sol nas mamas (15min no sol, evitando de 10 as 16hs ou um palmo de distância de lâmpada de 40Watts); Esclarecer que o uso de sabões, cremes ou pomadas no mamilo deve ser evitado; Orientar que a expressão das mamas (ordenha) durante a gestação para a retirada do pré-colostro está contraindicada. Recomendações sobre atividade física na gestação: O exercício pode ser benéfico na prevenção primária de diabetes gestacional, particularmente em mulheres o besas com IMC > 32kg/m2. A participação em atividades recreacionais diversas parece ser segura durante a gestação. Atividades com alta chance de queda ou aqueles com alto risco de trauma abdominal devem ser evitadas durante a gestação. Segundo a Chemin, devido ao relaxamento fisiológico dos ligamentos, as gestantes são mais susceptíveis a deslocamentos e lesões, devendo evitar exercícios aeróbicos e de alto impacto. No início da gestação os exercícios devem ser evitados, pois pode se relacionar com defeitos no desenvolvimento fetal inicial (Chemin). É aconselhável que se reduza a intensidade da atividade física no final da gestação, pois esta pode comprometer até 200g no peso de nascimento. Possíveis atividades: caminhada, bicicleta e hidroginástica. A exceção fica para as gestantes de risco, com provável indicação de repouso e ausência de atividade física (Chemin). Em linhas gerais, exercícios diários moderados com duração média de 30 minutos são recomendados durante a gestação. Orientação para gestantes com desvio no ganho de peso (ganho insuficiente ou excessivo): Orientação com base no VET adequado e esclarecer quanto ao ganho de peso recomendado; Investigar causas; Adequar a dieta conforme queixas, intercorrências, tabus, erros alimentares; Aumentar o fracionamento da dieta com menor volume. - Ganho de peso insuficiente: Chemin: Deve-se investigar as possíveis causas de inadequação da dieta como náuseas e vômitos, pobreza, gestação na adolescência, problemas familiares, infecções, abuso físico, baixo nível educacional e distúrbios alimentares. Para estas gestantes, o cálculo inicial da dieta deve ser feito com o peso ideal para idade gestacional correspondente, o que implicará aumento da quantidade de alimentos a ser ingerida. Orientações: Aumentar a frequência das refeições (6 x ao dia); Aumentar ingestão de líquidos entre as refeições; Estimular a ingestão de fontes de vitamina C nas grandes refeições; Usar sal iodado; Para as inapetentes pode-se aumentar a densidade energética com óleo e açúcar; Aumentar lanches ricos em CHO (mingau, canjica, abacate com açúcar e limão, banana com aveia); Evitar chá, mate e café nas grandes refeições; Evitar fumo e álcool; Sugerir suplementos dependendo do nível sócio econômico. Accioly: Orientar com base no VET adequado e esclarecer quanto ao ganho de peso recomendado; Investigar possíveis causas como sintomas digestivos, infecções, problemas familiares e atividade física excessiva; Adequar dieta conforme queixas, intercorrências,condição sociodemográfica, tabus e erros alimentares; Conforme avaliação dietética, caso a alimentação seja adequada, aumentar a quantidade total de alimentos, Aumentar fracionamento (5 a 6 refeições, com intervalo de 3/3h); Orientar quanto ao consumo temporário da quantidade de óleo e carboidratos das preparações, com reforço para que não se torne um hábito alimentar; Fazer uso de suplementos nutricionais. - Ganho de peso excessivo As mulheres obesas deveriam ser informadas que a gestação não é um período para perda de peso. O objetivo nutricional seria a escolha de alimentos de qualidade antioxidante elevada, que são conhecidos por auxiliar a minimizar radicais livres (Krause). Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 19 Accioly: Orientar com base no VET adequado e esclarecer quanto ao ganho de peso recomendado; Investigar possíveis causas como dieta inadequada, edema, ansiedade, erros na pesagem; Adequar dieta conforme queixas, intercorrências, condição sociodemográfica, tabus e erros alimentares; Estimular o uso de preparações culinárias simples Orientar quanto ao adequado consumo de CHO complexos e estimular o consumo de hortaliças e frutas Restringir o uso de óleo e azeite em saladas. Preferir o uso de vinagre, limão, sal, cheiro verde, salsa, ervas Desestimular o consumo de alimentos gordurosos e frituras, além de preparações concentradas em CHO simples. Chemin: Orientações: Dieta restritiva está totalmente contraindicada; O cálculo da dieta em geral se faz sem o acréscimo do adicional energético da gestação; Deve-se corrigir erros alimentares; Aumentar o fracionamento (6x/dia) e o volume; Preferir refeições simples, sem acréscimos de molhos; Aumentar líquidos nos intervalos; Restringir óleo e azeite, preferindo vinagre, limão; Evitar chá, café, mate, fumo, açúcar de forma indiscriminada e edulcorantes artificiais; Estimular atividade física e o aleitamento materno; Orientar quanto a tabus e uso de produtos diet e light. Accioly – Valores de Exames Laboratoriais considerados normais para a gestação Medidas Parâmetros normais na gestação Albumina 2,5 g% Ácido úrico 2,0 - 5,0 mg% Colesterol total 200 – 325 mg/100mL Creatinina 0,5 – 1,0 mg% Glicemia plasmática Rastreamento de diabetes gestacional antes de 20 semanas, na primeira consulta Negativo < 85 mg/dL Positivo ≥ 85 mg/dL e/ou na presença de fatores de risco para o diabetes gestacional – seguir a investigação (Capítulo 11) Duas glicemias plasmáticas > 126 mg/dL Teste de tolerância oral à glicose (TTOG) com 75 g de glicose – 2 horas Jejum < 95 mg/dL 1 h < 180 mg/dL 2 h < 155 mg/dL dois ou mais valores acima do normal confirmam o diagnóstico de diabetes gestacional Hemoglobina (Hb) Ausência de anemia Anemia leve Anemia moderada Anemia grave ≥ 11g/dL 10 – 10,9 g/dL 8 – 9,9 g/dL ≤ 8 g/dL Hemoglobina glicada ≤ 6,5 g/dL Hematócrito 0 a 12° semanas 13° a 28° semanas 29 a 40 ° semanas ≥ 33% ≥ 31,5% ≥33% Hemácias CHCM HCM VCM 3,3 – 4,4 milhões/mm³ 32 – 55 23 – 31 ≤ 85 dL – anemia microcítica > 95 dL – anemia macrocítica AST (mU/mL) 4 - 12 ALT (mU/mL) Até 22 Proteínas totais 6 – 7 g% Triglicerídeos < 150 mg/dL HDL colesterol >50 mg/dL LDL colesterol < 160 mg/dL Ureia 10 – 20 mg% Plaquetas 75 – 320 mil/mm³ Retinol sérico ≥ 1,05 µmol/mL Urina Ausente Bactérias (por campo) Ausente Corpos cetônicos Ausente ou traços Glicose Até 5 Hemácias (por campo) Traços: repetir em 15 dias Proteínas Traços + hipertensão e/ou edema: pré-natal de alto risco Maciça: referir pré-natal de alto risco Capítulo elaborado por Michelle Teixeira 20 Orientações nutricionais para sinais e sintomas digestivos: Náuseas e vômitos: relacionados ao aumento do estrogênio, podem levar a anorexia. Se manifestam até a 12ª-20ª semana, preferencialmente pela manhã (Chemin). 70% das mulheres relatam náuseas e 50% relatam vômitos no 1º trimestre (Vitolo e Chemin). Orientações: Tranquilizar a gestante que esse fato não vai prejudicar a nutrição do bebê, pois nessa fase a condição nutricional anterior que terá mais impacto (Vitolo e Chemin) Evitar frituras e alimentos gordurosos e com odor forte e/ou desagradável ou que causem desconforto /intolerância (Chemin e Dan 09) Evitar uso de temperos picantes nas preparações, preferir os suaves (Chemin e Dan 09) Preferir alimentos sólidos pela manhã e ricos em glicídios ou carboidratos (ex. cream cracker, torradas, geléias e iogurte) Ingerir salgados tipo cream cracker logo após se levantar pela manhã (Vitolo). Devem ser ingeridos sem líquidos antes do café da manhã. Quando esta tentativa for infrutífera, deve-se optar pela nutrição enteral ou parenteral (Dan 09). Ingerir alimentos secos pela manhã ricos em sacarídeos (Chemin) Refeições pequenas, frequentes e secas, de alimentos contendo carboidratos facilmente digeríveis (Krause). Refeições pequenas e frequentes = dieta fracionada e em menor volume (8 vezes ao dia - Vitolo) (Accioly: 5 a 6 refeições/dia) (Accioly e Chemin) Algumas mulheres não toleram gorduras devido ao aspecto olfativo de comidas quentes, alimentos em temperatura ambiente contendo gordura como batata chips e alimentos tipo lanche podem ser preferidos (Krause). Ingerir líquidos nos intervalos das refeições. Preferir frutas com caldo (Accioly e Chemin) Evitar monotonia alimentar para prevenir a anorexia (Accioly e Chemin) Evitar deitar-se após grandes refeições (Accioly e Chemin) Aconselhar a ingerir o máximo possível quando não estiver com náuseas (Krause) Comer o que deseja todas as vezes que sentir fome (Chemin) Tratamento com vitamina B6 (suplementação de 25mg 3 vezes ao dia – Krause e Vitolo) Consumir gengibre ou produtos que o contenham (Vitolo e Chemin) Aliviar angústias e tensões (Chemin) Preferir alimentos com baixo teor de gordura e abrandados (tipo purê) (Vitolo) Também podem aumentar as náuseas os movimentos, barulhos (incluindo mascar chicletes e aparelhos de som), luzes brilhantes e condições climáticas adversas (Krause). Cheirar limões têm sido utilizado para auxiliar no bloqueio de odores de fundo nocivo (Krause). Outras terapias utilizadas incluem (Krause): Gomas de mascar anti-náuseas Pirulitos especiais Folha de framboesa vermelha Elixir de gengibre enriquecido com ácido fólico Redução de barulho Acupuntura Longas chuveiradas Hipnose Hiperêmese gravídica = vômito persistente e prolongado. Provoca alteração no balanço hidroeletrolitico, perda de peso acima de 5%, cetose e cetonúria, distúrbios neurológicos, lesão hepática, lesão renal e hemorragia retiniana (Dan). É necessário hospitalização para reposição intravenosa de fluidos e eletrólitos para impedir a desidratação e prevenção de cetose (Krause e Chemin). Em caso de hiperêmese, referenciar a gestante para o serviço de assistência pré-natal de alto risco (Accioly). Inicialmente, no quadro agudo, as pacientes não devem ingerir líquidos ou alimentos (Dan). Dan: A alimentação enteral tem mais sucesso nas mulheres em que a náusea e vômito estejam relacionados ao consumo de comida. Nos demais casos, independente da ingestão, a nutrição parenteral periférica e enteral devem ser combinadas. Existe uma resistência a introdução de nutrição enteral ou parenteral, em maternidades, provavelmente pela pequena experiência dos profissionais com o método. No entanto, após a introdução da nutrição enteral, os sintomas de náusea e desconforto abdominal logo diminuem. A nutrição enteral é preferível, entretanto ela deve ser contraindicada caso persistam náuseas e vômitos, devido risco de aspiração. Pirose ou azia ou refluxo gástrico: possivelmente relacionada ao aumento da progesterona que leva a hipotonia do esfíncter esofagiano e maior taxa de esvaziamento gástrico. Pode levar ao surgimento de hérnia de hiato diafragmática nas últimas semanas gestacionais, em geral essa hérnia regride após o parto (Chemin). È comum na última fase e com frequência ocorre a noite (Krause). Ocorre mais comumente após as refeições devido a pressão do útero sobre