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Ciência Politica e Direito: Cidadania em construção

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CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO:
Cidadania em construção
2017 São Paulo
Fernando Gustavo Knoerr 
viviane Coêlho de séllos-Knoerr 
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO:
Cidadania em construção
Nossos Contatos 
São Paulo 
Rua José Bonifácio, n. 209, 
cj. 603, Centro, São Paulo – SP 
CEP: 01.003-001 
 
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
L784
Ciência política e direito : Cidadania em construção.
Viviane Coêlho de Séllos-Knoerr / Fernando Gustavo Knoerr.
Título independente – São Paulo– SP.
1ª ed. Clássica Editora, 2017.
207p. :
ISBN 978-85-8433-052-2
1. Economia. 
2. Administração pública. 
I. Título.
 CDD 320-01
Editora Responsável: Verônica Gottgtroy
Produção Editorial: Editora Clássica 
Capa: Editora Clássica 
Equipe Editorial
EDITORA CLÁSSICA
Conselho Editorial
Allessandra Neves Ferreira
Alexandre Walmott Borges 
Daniel Ferreira 
Elizabeth Accioly 
Everton Gonçalves 
Fernando Knoerr 
Francisco Cardozo de Oliveira 
Francisval Mendes 
Ilton Garcia da Costa 
Ivan Motta 
Ivo Dantas 
Jonathan Barros Vita
José Edmilson de Souza-Lima 
Juliana Cristina Busnardo de Araujo 
Lafayete Pozzoli
Leonardo Rabelo 
Lívia Gaigher Bósio Campello 
Lucimeiry Galvão 
Luiz Eduardo Gunther
Luisa Moura 
Maria Lucia de Barros Rodrigues
Mara Darcanchy 
Massako Shirai 
Mateus Eduardo Nunes Bertoncini 
Nilson Araújo de Souza 
Norma Padilha 
Paulo Ricardo Opuszka 
Roberto Genofre 
Salim Reis 
Valesca Raizer Borges Moschen 
Vanessa Caporlingua 
Viviane Coelho de Séllos-Knoerr 
Vladmir Silveira 
Wagner Ginotti 
Wagner Menezes 
Willians Franklin Lira dos Santos
PREFÁCIO
É uma verdadeira honra e um grande prazer apresentar esta obra dos 
meus amigos e colegas, Viviane Séllos-Knoerr e Fernando Knoerr, ao público, 
pois tanto leitores leigos, bem como profissionais, aproveitarão muito deste 
erudito livro. Os autores, professores do Centro Universitário de Curitiba 
– UNICURITIBA, exibem grande habilidade e sabedoria não meramente 
no entendimento e interpretação das grandes obras da filosofia do direito da 
Civilização do Oeste, mas também uma aguda facilidade em explicar ideias 
profundas e complexas para os leitores.
Nesta narrativa encontrarão as origens das ideias políticas e as fontes 
do direito dos nossos países descendentes da Europa. A história começa com 
uma discussão sobre os vários tipos de pensamento, os métodos e a ciência. Na 
segunda parte, os autores cavam mais profundamente para desvendar os alicerces 
intelectuais do direito no pensamento clássico da Grécia e da Roma, tratando de 
autores importantíssimos como Sócrates, Platão, Aristóteles e Cícero, bem como 
outros menores e mais antigos. Com a herança Cristã, a filosofia do direito no 
Oeste demonstra características mais religiosas, e os conflitos das monarquias 
e da Igreja vêm á tona. Pensadores católicos como Santo Agostinho e São 
Tomás de Aquino são os mais conhecidos da Idade Meia, mas abordam também 
autores como os Protestantes Luther e Calvin e os não religiosos, como o realista 
Maquiavel, vêm superar as escolas do pensamento da Igreja tradicional. Com a 
revolução de modernidade, o mundo da Europa se tornou mais secular e surgiram 
as filosofias mais racionalistas e empíricas. Os autores descrevem bem as 
correntes diversas da época moderna, inclusive as teorias do Estado, como as de 
Bodin e Hobbes, o individualismo e liberalismo de Locke, Montesquieu, Kant e 
o Iluminismo, e os teóricos mais coletivos como Hegel e Marx. A viagem através 
da história da filosofia política e jurídica termina no século XX com os conceitos 
de Max Weber, o Estado social, e as teorias de Hans Kelsen. 
Nesta narração o leitor vai deslumbrar os precursores das ideias atuais 
que formam as bases de nossos sistemas de política e direito contemporâneo. 
Verá disputas sobre a natureza da ciência e da própria realidade; discussões sobre 
as relações entre o Estado e o indivíduo e seu papel na sociedade; argumentos 
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
6
sobre as definições de liberdade e igualdade; e a mais importante hoje em dia, 
questões sobre os direitos, quais tipos de Estados e quais modos de mudanças 
sociais, econômicas e políticas são necessárias para conseguir a realização e 
proteção destes direitos.
E nós não podemos ter melhor guias nesta viagem através da filosofia 
do oeste do que com estes dois autores tão ilustres. Viviane Coêlho de Séllos-
Knoerr é coordenadora do Programa de Mestrado em Direito Empresarial e 
Cidadania do Centro Universitário de Curitiba – UNICURITIBA. Graduada 
pela Universidade Federal do Espirito Santo e mestre em Direito das Relações 
do Consumo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Também 
é doutorada em Direito do Estado com ênfase em Direito Constitucional 
pela PUC-SP. Além de coordenadora do Programa Mestrado, é professora 
do UNICURITIBA e autora de muitos livros sobre temas como direito 
constitucional, ética na advocacia, responsabilidade empresarial e do consumo, 
também é organizadora de livros de diversas áreas do conhecimento. Ela 
também publicou muitos capítulos em livros e artigos em diversas revistas do 
direito acerca da sustentabilidade, práticas socioambientais, dignidade humana, 
responsabilidade empresarial e relações do consumo. 
Fernando Gustavo Knoerr é bacharel pela Universidade Federal do 
Paraná, onde também obteve seu título de Mestre e Doutor em Direito do Estado. 
Ele foi professor de Direito na UFPR e agora é professor de Direito no Centro 
Universitário Curitiba – UNICURITIBA, discente no Programa do Mestrado, 
bem como professor do direito administrativo da Escola de Magistratura do 
Paraná e da Fundação Escola do Ministério Público do Paraná. Atuante no 
profission legal no Paraná e em Santa Catarina, sendo membro dos Institutos de 
Direito e da OAB, servindo na Comissão do Direito Eleitoral desta organização. 
Com especialização em Direito Administrativo e Eleitoral, ele é autor de um 
livro sobre as perspectivas da reforma política no Brasil e também de artigos 
sobre as reformas, o Direito Constitucional e Penal do Brasil, e imunidade 
tributária das entidades filantrópicas.
Com estes autores destacados, é fácil prever que os leitores irão gostar 
e aproveitar muito desta visão panorâmica da história do pensamento político e 
jurídico. Com o conhecimento encontrado num tour por dentro destas páginas, 
vão ganhar um entendimento mais profundo dos temas e das questões que 
persistem ainda hoje em dia. Boa viagem!
Augustus Bonner CoChrAn, III
Professor da Ciência Política, Cátedra de Adeline A. Loridans
Faculdade de Agnes Scott
Atlanta, Georgia, Estados Unidos da América
7
Sumário
LIVRO I
GNOSIOLOGIA E EPISTEMOLOGIA
CAPÍTULO I – SOBRE O CONHECIMENTO ..................................................
I.1. Pensamento e linguagem ..................................................................
I.2. Senso comum .....................................................................................
I.3. Os mitos ..............................................................................................
I.4. A teoria ...............................................................................................
CAPÍTULO II – A CIÊNCIA E O MÉTODO .....................................................
II.1. A ciência .............................................................................................
II.2. O médoto ...........................................................................................
LIVRO II
O JUSNATURALISMO COSMOLÓGICO
CAPÍTULO I – FASE FÍSICA OU NATURALISTA .............................................
I.1. A construção do conceito de jusnaturalismo ................................
I.2. A origem mitológica ..........................................................................I.3. A origem ontológica .........................................................................
I.3.1. A escola jônica ................................................................................
I.3.1.1.Tales de Mileto ..............................................................................
I.3.1.2. Anaximandro ............................................................................... 
I.3.1.3. Anaxímenes ...................................................................................
CAPÍTULO II – ESCOLAS DE TRANSIÇÃO ....................................................
II.1. A transição – passagem da fase física para a fase humanista ........
II.2. A dialética de Heráclito ....................................................................
II.3. Parmênides ........................................................................................
II.4. Pitágoras e o número. A fase humanista da filosofia pré-socrática
II.5. Os sofistas .........................................................................................
II.5.1. Protágoras, Górgias e o Direito ...................................................
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CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
8
CAPÍTULO III – FASE HUMANISTA ..............................................................
III.1. Sócrates ............................................................................................
III.2. Platão ...............................................................................................
III.2.1 A base idealista platônica ..............................................................
III.2.2. Teoria política em Platão. A República. As Leis ...........................
III.3. Aristóteles .......................................................................................
III.3.1. O pensamento filosófico aristotélico ........................................
III.3.2. O pensamento político de Aristóteles: justiça e formas de governo
III.4. O Helenismo e as escolas filosóficas posteriores: epicurismo, 
estoicismo, ceticismo e ecletismo ...........................................................
CAPÍTULO IV – A SABEDORIA JURÍDICO-POSITIVA ROMANA ....................
IV.1. A civilização romana .......................................................................
IV.2. A filosofia em Roma .........................................................................
IV.3. O Direito romano ............................................................................
IV.3.1. Cícero ............................................................................................
IV. 4. A construção jurídico-positiva romana .......................................
IV.5. O ocaso de Roma ..............................................................................
LIVRO III
O JUSNATURALISMO TEOCÊNTRICO
CAPÍTULO I – A HERANÇA CRISTÃ .............................................................
I.1. O Cristianismo e início da Idade Média .............................................
I.2. O pensamento medieval. A Patrística e a Escolástica ......................
I.2.1. A Escolástica tradicional – Santo Agostinho ..............................
I.2.1.1. O Direito e a Lei ............................................................................
I.2.1.2. A Igreja medieval e a cidade romana ..........................................
I.2.1.3. A teoria dos bens .........................................................................
CAPÍTULO II – A ESCOLA TOMÍSTICA .........................................................
II.1. São Tomás de Aquino ........................................................................
II.1.1. A teoria das quatro causas ...........................................................
II.1.2. O pensamento político tomista .....................................................
II.1.3. A lei e a justiça no pensamento tomista .......................................
CAPÍTULO III – O DESFECHO DA LUTA ENTRE A IGREJA E O PAPADO ........
III.1. Dante Aliguieri .................................................................................
III.2. Marsílio de Pádua ............................................................................
III.3. Guilherme de Occam ........................................................................
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9
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
CAPÍTULO IV – O RENASCIMENTO E A REFORMA PROTESTANTE ..............
IV.1. O Renascimento ................................................................................
IV.1.1. Causas do Renascimento ..............................................................
IV.2. A Reforma Protestante ...................................................................
IV.2.1. Os reformadores e a propagação das teorias protestantes .....
IV.3. Nicolau Maquiavel ..........................................................................
IV.3.1. O Príncipe. Principados novos. Principados mistos e hereditários
LIVRO IV
O JUSNATURALISMO RACIONALISTA
CAPÍTULO I – TEORIA DOS ESTADOS ......................................................... 
I.1. O Racionalismo e o Empirismo ...........................................................
I.2. Os Estados nacionais modernos .......................................................
I.3. Jean Bodin ..........................................................................................
I.4. Thomas Hobbes ..................................................................................
I.4.1. O Leviatã ...........................................................................................
I.4.2. A estrutura da teoria hobbesiana .................................................
I.5. John Locke ..........................................................................................
I.5.1. A separação dos poderes e o Estado em Locke ..............................
I.6. O Parlamentarismo e seu fundamento teórico ...............................
I.7. Barão de Montesquieu ......................................................................
I.7.1 O Espírito das Leis ............................................................................
I.8. David Hume .........................................................................................
I.9. Jean-Jacques Rousseau ......................................................................
I.9.1. O Contrato Social e a Vontade Geral .............................................
CAPÍTULO II – A FORÇA REVOLUCIONÁRIA ...............................................
II.1. O Iluminismo .....................................................................................
II.2. Immanuel Kant ..................................................................................
II.2.1. Traços do pensamento kantiano ..................................................
II.2.2. A Ética e o Direito em Kant ............................................................
II.3. A Revolução Americana ...................................................................
.
CAPÍTULO III – O ÍMPETO COLETIVISTA .....................................................
III.1. Georg Wilhelm Friedrich Hegel ......................................................
III.1.1. A filosofia do Direito ...................................................................
III.2. O socialismo .....................................................................................
III.2.1. O socialismo utópico ....................................................................
III.3. Karl Marx .........................................................................................
III.3.1. O pensamento marxista ................................................................
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CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
10
CAPÍTULO IV – O ESTADO CONTEMPORÂNEO ..........................................
IV.1. A Revolução Russa ...........................................................................
IV.2. Max Weber .......................................................................................
IV.3. O Estado social .................................................................................
IV.4. A Teoria Pura de Hans Kelsen ..........................................................
IV.4.1. O edifício Kelseniano ....................................................................
REFERÊNCIAS ............................................................................................
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184
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193
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11
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
LIVRO I
GNOSEOLOGIA E EPISTEMOLOGIA
CAPÍTULO I
SOBRE O CONHECIMENTO
I.1 PENSAMENTO E LINGUAGEM
A vida humana é composta por uma miríade de particularidades. Os 
homens integram os processos da natureza, mas, ao contrário dos animais, a 
iniciar pelo nascimento, são compelidos a romper com as rotinas naturais. Os 
primeiros contatos, desde a mais tenra idade, já ocorrem com objetos que pedem 
interpretação e suas atitudes têm de satisfazer padrões de comportamento já 
estabelecidos socialmente. Dessa forma o ser humano vai se iniciando no 
mundo dos significados e nas mais elementares regras éticas. 
Todas as partes da realidade (física e metafísica) têm significado e os 
homens, ao longo de suas vidas, vão se tornando intérpretes e o pensamento 
(logos) exerce papel fundamental nesse processo de interpretação. Essa 
é a singularidade do ser humano, pois os homens necessitam pensar para 
sobreviver e dessa forma abstraem significados dos objetos, codificam-nos 
em signos e passam a se comunicar por meio desses signos (códigos) criados 
convencionalmente. A essa capacidade dá-se o nome de inteligência. É no 
homem que essa capacidade exerce papel ativo e preponderante, pois o conjunto 
de signos, suas regras de combinação com outros signos de acordo com seus 
significados e significantes, formam uma estruturação fora da experiência 
mental chamada linguagem. 
A linguagem foi o primeiro código estabelecido pelo homem através 
dos sons de sua fala que passaram a ter significados específicos, alterando desse 
modo à comunicação entre os humanos, sua organização social até então restrita 
ao gestual e ao pictórico como atestamos através dos desenhos nas cavernas. A 
partir da linguagem, a forma de comunicar se e desenvolver raciocínios lógicos 
transformou se por completo alterando definitivamente a relação entre os 
homens e sua percepção particular e coletiva do mundo que o cercava.
A linguagem possibilitou ao homem estruturar seu pensamento 
possibilitando que o mesmo opere não só no ato mas também no pensamento 
possível de modo que o homem passa a pertencer não só ao mundo natural, mas 
também ao mundo da linguagem. 
Essa duplicidade de relações entre o intelecto e a realidade aparece 
assim em dois aspectos: um real e outro da interpretação, ou, um objetivo 
e outro subjetivo.
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
12
O filósofo inglês David HUME (1711-1776), na seção II da sua obra 
Investigações sobre o entendimento humano, faz viva referência à “origem das 
idéias” e assinala o caráter ilimitado do pensamento humano:
À primeira vista, nada pode parecer mais ilimitado do que o 
pensamento humano, que não apenas escapa a toda autoridade e a todo poder 
do homem, mas também nem sempre é reprimido dentro dos limites da natureza 
e da realidade. Formar monstros e juntar formas e aparências incongruentes 
não causam à imaginação mais embaraço do que conceber os objetos mais 
naturais e mais familiares. Apesar de o corpo confinar-se, sobre o qual se 
arrasta com sofrimento e dificuldade, o pensamento pode transportar-nos num 
instante às regiões mais distantes do Universo, ou mesmo além do Universo, 
para o caos indeterminado, onde se supõe que a Natureza se encontra em total 
confusão. Pode-se conceber o que ainda não foi visto ou ouvido, porque não 
há nada que esteja fora do poder do pensamento, exceto o que implica em 
absoluta contradição. Entretanto, embora nosso pensamento pareça possuir 
esta liberdade ilimitada, verificaremos, através de um exame mais minucioso, 
que ele está realmente confinado dentro de limites muito reduzidos e que todo 
poder criador do espírito não ultrapassa a faculdade de combinar, de transpor, 
aumentar ou de diminuir os materiais que nos foram fornecidos pelos sentidos 
e pela experiência. Quando pensamos numa montanha de ouro, apenas unimos 
duas idéias compatíveis, ouro e montanha, que outrora conhecêramos. Podemos 
conceber um cavalo virtuoso, pois o sentimento que temos de nós mesmos nos 
permite conceber a virtude e podemos uni-la à figura e forma de um cavalo, que 
é um animal bem conhecido. Em resumo, todos os materiais do pensamento 
derivam de nossas sensações externas ou internas; mas a mistura e composição 
deles dependem do espírito e da vontade. Ou melhor, para expressar-me em 
linguagem filosófica: todas as nossas idéias ou percepções mais fracas são 
cópias de nossas impressões ou percepções mais vivas1
A prática de interpretar o mundo circundante é uma atitude imanente 
ao homem – isto é, que sempre existiu com ele, sendo-lhe inseparável – e 
reflete a condição humana em sua interação com tudo que há ao seu redor. No 
entanto, nem sempre a interpretação construída corresponde ao que realmente 
ocorre. Quando a relação não se estabelece normalmente, então se diz que 
existe um problema. E um dos problemas mais antigos está no conflito entre 
as representações que o homem faz do mundo e as suas ocorrências naturais2. 
1 HUME, David. Investigações sobre o entendimento humano. São Paulo, Abril Cultural, 1996. 
P. 37 (Coleção Os Pensadores, vol. HUME).
2 Ver-se-á adiante que esse problema, por ser de tamanha importância, originou, nos séculos XIX e 
XX ideologias políticas que são verdadeiras construções mentais que longamente distanciadas das 
ocorrências naturais do mundo, cuja tentativa de pô-las em prática trouxe terríveis consequências 
13
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
Esse conflito de ocorrências entre um âmbito e outro, leva os homens a procurar 
formas de evitar erros de interpretação e uma dessas formas é a de tentar 
encontrar a certeza como parâmetro seguro de compreensão e comportamento. 
O problema da certeza é muito tão amplo que dele não escapam nem 
o homem de conhecimento, o sábio que interpreta as palavras, nem o homem 
de ação, o que interpreta o mundo natural para transformá-lo. Importante 
destacar dois conceitos preliminares para iniciar a análise e a reflexão em 
torno desse tema. Trata-se dos conceitos de certeza subjetiva (ou fé) e de 
certeza objetiva (ou prova). 
Quando o homem abstrai em sua consciência algum significado 
originado de algum detalhe da realidade, de algum fato, opera-se uma 
representação mental. Ao relacionar a representação mental com a realidade 
que lhe deu causa, realiza-se a interpretação. O problema da certeza está no 
modo pelo qual o homem se coloca diante dessa interpretação. Confia-se na 
interpretação porque ela parece segura? Ou pode-se julgá-la segura porque se 
confia nela? O que vem antes? 
No primeiro caso surge a definição de certeza objetiva, pois é solicitada 
uma comprovação anterior, isto é, provas que possam dar uma justificação de 
sua segurança. No segundo caso aparece a certeza subjetiva, porque confia-
se, aceita-se, antes, sem qualquer comprovação – de forma impulsiva e 
contemplativa – imediatamente o que é afirmado nessa interpretação. 
Em suma, a certeza objetiva pode apresentar problema pois exige 
meios que a justifiquem, (prova), ao passo que a certeza subjetiva, ou certeza 
imediata, é espontânea e depende apenas de adesão da consciência humana. Essa 
adesão incondicionalda consciência diante de uma interpretação é chamada de 
fé, ou crença ingênua3. 
I.2 O SENSO COMUM
Tanto no caso da fé quanto no da certeza objetiva está-se diante do 
conhecimento, que é a apropriação da realidade por meio de signos cujas 
interpretações são dotadas de algum grau de certeza. Conhece-se alguma 
coisa quando se sente com segurança que a inteligência humana apropriou-se 
do modo de ser dessa coisa, de tal maneira que seja possível atuar sobre ela, 
inclusive para modificá-la.
à civilização.
3 As crenças podem ser ingênuas ou justificadas. Quando ingênuas, as crenças não se apoiam em 
motivos. Quando justificadas, recorrem a garantias da própria mente humana, garantias intuitivas 
que procuram dá-las suporte, mas um suporte subjetivo do próprio indivíduo. Nota do Autor. 
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
14
O primeiro grande mecanismo pelo qual se forma o conhecimento 
da realidade é o da fé. Nesta, as certezas definem-se através do modo pelo 
qual funcionamento a inteligência, alimentada em primeira mão pelos sentidos, 
chamada intuição. O Eu conhecedor humano, sua sensibilidade, memória e 
imaginação, fica envolvido no processo de elaborações intuitivas. Nesse caso 
o Eu conhecedor está convencido, isto é, está dotado de convicção. Essa é a 
forma natural pela qual originariamente se conhece o mundo. Esse tipo de 
conhecimento, pelo qual se organiza a experiência comum do mundo, no dia-
dia, chama-se senso comum. As principais características são: 
a) É um conhecimento natural, transmitido e apreendido quase sem 
esforços conscientes, sem intenção, sem intervenção da vontade;
b) É um conhecimento espontâneo e intuitivo, surge espontaneamente 
sem qualquer determinação racional da consciência; 
c) É conhecimento prático, pois está ligado às necessidades vitais do 
homem, alimentando o instinto (que também se vê nos animais) de preservação 
da vida. 
No entanto, apesar de não ser alimentado pela razão, não se 
pode desprezar completamente o senso comum. O filósofo francês René 
DESCARTES (1596-1650), começa seu Discurso do método, publicado em 
1637, exatamente discorrendo sobre o senso comum, ou como ele denominou, 
o “bom senso”, asseverando que o pensamento filosófico nele tem sua origem: 
O bom senso é a coisa do mundo melhor partilhada, pois cada qual 
pensa estar tão bem provido dele, que mesmo os que são mais difíceis de 
contentar em qualquer outra coisa não costuma desejar tê-lo mais do que o 
têm. E não é verossímil que todos se enganem a tal respeito; mas isso antes 
testemunha que o poder de bem julgar e distinguir o verdadeiro do falso, que 
é propriamente o que se denomina o bom senso ou a razão, é naturalmente 
igual em todos os homens; e, destarte, que a diversidade de nossas opiniões 
não provém do fato de serem uns mais racionais do que outros, mas somente 
de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e não considerarmos as 
mesmas coisas. Pois não é suficiente ter o espírito bom, o principal, é aplicá-
lo bem. As maiores almas são capazes dos maiores vícios, tanto quanto das 
maiores virtudes, e os que só andam muito lentamente podem avançar muito 
mais, se seguirem sempre o caminho reto, do que aqueles que correm e dele 
se distanciam. Quanto a mim, jamais presumi que meu espírito fosse em nada 
mais perfeito do que os do comum; amiúde desejei mesmo ter o pensamento 
tão rápido, ou a imaginação tão nítida e distinta, ou a memória tão ampla ou tão 
15
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
presente, quanto alguns outros. E não sei de quaisquer outras qualidades, exceto 
as que servem à perfeição do espírito; pois, quanto à razão ou ao senso, visto 
que é a única coisa que nos torna homens e nos distingue dos animais, quero 
crer que existe inteiramente em cada um, e seguir nisso a opinião comum dos 
filósofos, que dizem não haver mais nem menos senão entre os acidentes4, e não 
entre as formas ou naturezas dos indivíduos de uma mesma espécie5.
Como reconhece DESCARTES, não se pode desprezar ou relegar o 
senso comum ao esquecimento, pois todo homem o tem e é o que o distingue 
dos animais.
I.3 OS MITOS 
O senso comum é a forma mais imediata de consciência da realidade, 
pois torna o mundo acessível à esfera das representações. Todavia, há diferentes 
configurações do senso comum, diferentes formas de relacionar o que acontece 
com a esfera interna das representações humanas: os acontecimentos fatuais 
podem ser vistos como mistério ou como problema. Como mistério, quando 
para a consciência conhecedora inexiste distinção entre a realidade exterior e a 
realidade interior dos sentimentos humanos a respeito do mundo. Nesse caso, a 
compreensão do mundo dá-se por meio da intuição. O conhecimento resultante 
é assegurado, portanto, por certezas intuitivas, chamadas mitos. 
Muito antes da linguagem conceitual já havia a linguagem simbólica 
dos mitos, definida como a forma mais primitiva de compreensão e comunicação 
humana. No mito, a linguagem ocorre por meio das vivências emocionais dos 
participantes da comunicação. Em geral, são falas que acompanham os rituais 
como ocorrências permeadas de significado pelas quais o homem constrói o 
imaginário coletivo e nele se insere. Os mitos trazem à luz profundas emoções 
humanas, imediatamente compartilháveis por serem fundamentais a essa 
condição, alicerces da percepção do homem por si mesmo:
Todos os povos, em dado momento de sua evolução, criaram lendas, 
ou seja, relatos maravilhosos nos quais, durante um certo tempo e 
pelo menos em certa medida, acreditaram. Na maioria das vezes, as 
lendas – por movimentarem forças ou seres considerados superiores 
aos humanos – pertencem ao domínio da religião. Elas se apresentam 
como um sistema, mais ou menos coerente, de explicação do mundo: 
cada gesto do herói cujas façanhas são narradas é um gesto criador e 
implica consequências que têm efeitos sobre o universo. Pertencem a 
4 É acidente o que pertence a um ser sem pertencer à sua essência. Nota do original.
5 DESCARTES, René. Discurso do Método. São Paulo, Abril Cultural, 1996, p. 65 (Coleção Os 
Pensadores, vol. DESCARTES).
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
16
esse tipo os grandes poemas épico-religiosos da literatura hindu. Em 
outros países predomina o elemento épico [de fundo histórico]. [...]
Na Grécia, o mito possui todas essas características, ora colorem-se de 
história e serve como título de nobreza para as cidades ou famílias, 
Ora desenvolvem-se em epopéia. Ora servem para apoiar ou explicar as 
crenças e os ritos da religião. Nenhuma das funções que a lenda assume 
em outros lugares é estranha ao mito grego. Mas ele é também algo bem 
diverso. A palavra grega que serve para designá-lo – mythos – aplica-se 
a qualquer história narrada, seja o assunto de uma tragédia ou a intriga 
de uma comédia, seja o tema de uma fábula de Esopo. O mito se opõe 
ao logos como a fantasia à razão, como a palavra que narra à palavra 
que demonstra. Logos e mythos são as duas metades da linguagem, 
duas funções igualmente fundamentais da vida do espírito. O logos, 
sendo uma argumentação, pretende convencer; implica no auditor, a 
necessidade de formular um juízo. O logos é verdadeiro, no caso de 
ser justo e conforme à “lógica”; é falso quando dissimula alguma burla 
secreta (um “sofisma”). Mas o “mito” tem por finalidade apenas a si 
mesmo. Acredita-se ou não nele, conforme a própria vontade, mediante 
um ato de fé. Caso pareça “belo” ou verossímil, ou simplesmente porque 
se quer acreditar. O mito, assim, atrai em torno de si toda a parcela 
irracional existente no pensamento humano; por sua própria natureza, é 
aparentado à arte, em todas as suas criações. E talvez esse seja o caráter 
mais marcante do mito grego: pode-se constatar sua integração em 
todas as atividades do espírito. Não há nenhum domínio do helenismo 
seja a plástica ou a literatura que não tenha constantemente recorrido a 
ele. Para um grego um mito não conhece nenhumafronteira. Insinua-se 
por toda a parte. E tão essencial a seu pensamento quanto o ar ou o sol 
à sua própria vida6”
Mito é um termo grego que significa palavra que simboliza o mundo7. 
Para interpretar o mundo por meio de símbolos, a consciência o vê como 
conjunto de enigmas e não como um conjunto de ocorrências. O enigma é 
dotado de significado, de mistério. Interpretar um enigma é desvendar o seu 
mistério. O mito é uma forma de desvendar os significados dos mistérios do 
mundo. A função do mito é conferir à natureza uma dimensão humana por meio 
de uma linguagem simbólica.
O historiador romeno Mircea Eliade (1907-1986), ensina o 
significado do mito:
6 GRIMAL. Pierre. A mitologia grega. São Paulo, 1.987. p.8.
7 COTTERELL, Arthur. World Mythology. HE, UK: Parragon Publishing Book, 2005. p. 52.
17
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
A definição que a mim, pessoalmente, me parece a menos imperfeita, 
por ser a mais ampla, é a seguinte: O mito conta uma história sagrada; 
ele relata um acontecimento ocorrido no tempo primordial, o tempo 
fabuloso do “princípio”. Em outros termos, o mito narra como, graças 
às façanhas dos Entes Sobrenaturais, uma realidade passou a existir, 
seja uma realidade total, o Cosmo, ou apenas um fragmento: uma ilha, 
uma espécie vegetal, um comportamento humano, uma instituição. 
É sempre, portanto, a narrativa de uma “criação”: ele relata de que 
modo algo foi produzido e começou a ser. O mito fala apenas do que 
realmente ocorreu, do que se manifestou plenamente. Os personagens 
dos mitos são Entes Sobrenaturais. Eles são conhecidos sobretudo 
pelo que fizeram Os mitos revelam, portanto, sua atividade criadora 
e desvendam a sacralidade (ou, simplesmente, a “sobrenaturalidade”) 
de suas obras. Em suma, os mitos descrevem as diversas, e algumas 
vezes dramáticas, irrupções do sagrado (ou do “sobrenatural”) no 
Mundo. É essa irrupção do sagrado que realmente fundamenta o 
Mundo e o converte no que é hoje. E mais: é em razão das intervenções 
dos Entes Sobrenaturais que o homem é o que é hoje, um ser mortal, 
sexuado e cultural8
Nesse diapasão, a consciência humana, ao se defrontar com o mundo 
para conhecê-lo, busca descobrir a chave dos mistérios que escondem a sua 
verdadeira face, para além do mundo aparente (metafísica), da realidade 
profana.9 O importante é descobrir a face oculta, plena de sentido, por isso 
verdadeira. Os rituais, as cerimônias sagradas, exercem papel fundamental 
no processo de rememoração desses mitos; a repetição constante reatualiza 
os mitos na consciência. A esse fenômeno a antropologia denomina “eterno 
retorno” 10, associado aos primórdios da consciência humana:
Um homem moderno poderia raciocinar do seguinte modo: eu sou o 
que sou hoje porque determinadas coisas se passaram comigo, mas es-
ses acontecimentos sé se tornaram possíveis porque a agricultura foi 
descoberta há uns oito ou nove mil anos e porque as civilizações urba-
nas se desenvolveram no antigo Oriente Próximo, porque Alexandre 
Magno conquistou a Àsia e Augusto fundou o Império Romano, porque 
Galileu e Newton revolucionaram a concepção de Universo, abrindo 
8 ELIADE, Mircea. Mito e realidade. São Paulo, Perspectiva, 1986, p. 07.
9 GAARDEN, Jostein. O Livro das Religiões. Jostein Gaarde, Victor Hellern, Henry Notaker. 
Tradução de Isa Mara Lando. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. p. 19. 
10 ELIADE, Mircea. O mito do eterno retorno. São Paulo: Mercuryo, 1990 – p. 276.
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
18
caminho para as descobertas científicas e preparando o advento da ci-
vilização industrial, porque houve a Revolução Francesa e porque as 
idéias de liberdade, democracia e justiça social abalaram os alicerces 
do mundo ocidental após as guerras napoleônicas, e assim por diante.
De modo análogo, um “primitivo” poderia dizer: eu sou como 
sou hoje porque antes de mim houve uma série de eventos. Mas 
teria de acrescentar que se passaram nos tempos míticos e que, 
consequentemente, constituem uma história sagrada, porque os 
personagens do drama não são humanos, mas Entes Sobrenaturais. 
Mais ainda: ao passo que um homem moderno, embora considerando-
se o resultado do curso da História Universal, não se sente obrigado 
a conhecê-la em sua totalidade, o homem das sociedades arcaicas é 
obrigado não somente a rememorar a história mítica de sua tribo mas 
também a reatualizá-la periodicamente em grande parte11
Os mitos, portanto, permitem acesso a um plano superior da realidade 
mediante rituais religiosos, através dos quais a consciência conhecedora 
se funde com a realidade fundamental a ser conhecida, diluindo a distinção 
entre o eu conhecedor do intérprete e os mistérios do mundo que estão sendo 
desvendados ritualisticamente.
I.4 A TEORIA 
As representações humanas mais imediatas constituem o senso comum que 
pode ser traduzido em palavras sob a forma de discurso mítico. Indo além, vê-se que 
esse mesmo senso comum do homem ocidental, pode ser configurado como discurso 
teórico, organizando uma nova forma de conhecimento do mundo, a ciência. 
Diferente do discurso mítico, que concebia a realidade como um 
enigma, cujo mistério deve ser desvendado, a ciência passa a conhecer o mundo 
como ocorrência, cuja causa deve ser explicada. Explicar a causa é resolver o 
problema a partir de sua origem. Essa mudança de concepções de discurso faz 
surgir a questão: como ocorreu a passagem de uma concepção do mundo como 
mistério para uma concepção do mundo como problema? 
Independente de conceber a natureza como enigma ou como problema, 
foi o pensamento grego que legou a base fundamental do pensamento do 
ocidente, segundo o qual a natureza possui existência autônoma em relação a 
qualquer estado de consciência. 
11 ELIADE, Mircea. Op. cit. p. 15.
19
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
O nascimento da filosofia na Grécia constitui um acontecimento 
histórico ímpar, pois a filosofia grega é a negação do mito grego, da concepção 
do mundo como mistério, mas é, ao mesmo tempo, uma confirmação do 
senso comum grego em geral e em especial do princípio da existência 
independente e autônoma do mundo. Constitui a negação do mito porque cria 
e institui o modo de pensamento racional, o logos. Ao adotar esse modo de 
pensar como atitude investigativa, o homem grego passou a utilizar como 
instrumentos do pensamento, a lógica, a matemática e a observação. Assim 
surgiu o questionamento das causas de tudo que existe na physis (mundo 
físico, realidade). A filosofia grega preocupou-se sobretudo com as primeiras 
causas e os filósofos que iniciaram esta forma de compreender a realidade estão 
enquadrados no período histórico pré-socrático, quando se destaca a atuação 
da Escola de Mileto. Foram lançadas, desse modo, as bases instrumentais para 
a formulação das primeiras teorias científicas sobre a natureza, chamadas de 
cosmologias, que significa discurso teórico sobre o Cosmo, ou seja, sobre a 
ordem do Mundo. Muito mais tarde, com Aristóteles, é que surgiu a física, 
como o estudo das leis causais do movimento e do repouso dos corpos. 
O que é, então, uma teoria? Entre os gregos havia em algumas cidades 
a tradição de enviar um observador às festas religiosas promovidas em outras 
cidades. O observador não participava dessas festas, não interferia, apenas as 
contemplava, para depois efetuar um pormenorizado relato, identificando os 
símbolos, os significados que nelas encontrava. Esse observador, na língua grega, 
era denominado de theoroi, de onde deriva as palavras teórico, teorema e teoria. 
O historiador alemão Werner JAEGER (1888-1961) faz viva referência 
aos theoroi em sua obra Paidéia, assinalando a importância que Platão dá a 
esses homens na sua obra As Leis:
Platão considera a sua polis tão diferente de tudo quanto existe, 
que se impõe o problema de saber como se deverão encarar as suas 
relações com o resto do mundo. Por não ser cidade marítima, não 
desenvolverá um comércio digno denota, mas aspirará à autarquia 
econômica. Mas também no campo espiritual se deve isolar contra 
todas as influências ocasionais do exterior que possam desviar a ação 
das suas leis perfeitas. As viagens ao estrangeiro só serão autorizadas 
aos mensageiros, embaixadores e theoroi. Platão inclui na última 
categoria não os embaixadores permanentes, acepção tradicional 
daquele termo, mas sim os homens em quem vive algo do espírito da 
investigação científica, isto é verdadeiros “observadores” da cultura e 
das leis de outros homens, dedicados a estudar serenamente a situação 
reinante no estrangeiro.
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
20
(...) 
A finalidade principal destas viagens de estudo ao estrangeiro é 
levar os theoroi a travarem relações com as poucas personalidades 
superiores, homens divinos, que existem no meio da multidão e com 
os quais vale a pena falar e chegar a um entendimento12
O discurso contemplativo passou desde então a ser chamado de teo-
ria. Essa fase primeva do conceito de teoria diz respeito ao nascimento da filo-
sofia, e não ainda ao nascimento da ciência. Importante assinalar que a filosofia 
nasceu na Grécia por volta do ano V a.C., ao passo que o nascimento de ciência 
é registrado na Europa dos séculos XVI e XVII, após a invenção de instrumen-
tos de observação mais poderosos, que ampliavam o alcance dos sentidos. 
O nascimento da filosofia constitui a explicitação conceitual do sen-
so comum grego e o ponto de partida da ciência moderna. A diferença entre a 
filosofia grega e a ciência moderna, é que a primeira busca somente um saber 
contemplativo, ao passo que segunda busca um saber operativo.
12 JAEGER, Werner. Paidéia, a formação do homem grego. São Paulo: Martins Fontes/UNB, 
1.989 p. 935.
21
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
CAPÍTULO II
A CIÊNCIA E O MÉTODO CIENTÍFICO
II.1 A CIÊNCIA
A ciência moderna escolheu a Matemática como a sua linguagem. As 
representações científicas passam a ser exclusivamente quantitativas. A expe-
riência corpórea, material, passa a ser valorizada como o principal recurso de 
justificativa da certeza objetiva, a única aceita pela ciência. Essas três causas po-
dem ser resumidas da seguinte forma: com a ciência moderna o conhecimento do 
mundo deixa de ser um saber contemplativo para passar a ser um saber operativo. 
A filosofia grega separa o céu da terra e contempla o céu assim como 
os theoroi contemplavam as cerimônias sagradas dos outros povos. A posição 
do filósofo é de um contemplador da realidade da coisa apenas observada. 
A ciência moderna, por sua vez, unifica o céu e a terra, considerando am-
bos como partes de um mesmo Universo, de um mesmo todo, submetido às 
mesmas leis. Esse universo deve ser entendido como um livro escrito em 
caracteres matemáticos. Em suma, o observador (cientista) na medida em que 
domina essas leis, domina o mundo, reunindo em suas mãos o curso dos acon-
tecimentos. É o que deseja a ciência.
O saber operativo é, portanto, o conhecimento do mundo voltado 
para a sua manipulação e para a modificação técnica da ordem natural dos seus 
acontecimentos. A técnica é um modo de dominação da natureza por meio do 
controle de seus mecanismos causais, isto é, das leis que regulam a manifesta-
ção das forças naturais. É nesse sentido que passa a ser entendida a atitude de 
observação. Entre os gregos, observar era olhar sem interferir; entre os moder-
nos, a partir dos séculos XVI e XVII, observar é medir; o que significa interferir 
corporal e quantitativamente.
Galileu Galilei (1564 – 1642) é considerado o pai da ciência moderna 
e Isaac Newton (1642-1727) é quem sistematiza e apresenta a nova forma de 
conhecimento como uma maneira original e autônoma de interpretar o mundo. 
Surgem então as primeiras teorias científicas, em lugar dos mitos. Di-
ferente das teorias, que no sentido grego relata uma contemplação passiva, no 
sentido que recebe a partir da Modernidade, no sentido científico, passa a ser 
um discurso que relata matematicamente as leis gerais que regem os aconteci-
mentos, tanto os do céu quanto os da Terra. Na prática, foi extirpado o antigo 
significado do theo (Deus) que havia no termo teoria.
Os enunciados científicos (teorias, teoremas) devem ser confirmados 
pela experiência da observação e da medição. Para saber quais as leis que regem 
o que acontece no céu, são observados acontecimentos semelhantes aqui mes-
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
22
mo na Terra. Desse modo, o acontecimento estudado é explicado cientificamen-
te, pois na ciência explicar um acontecimento é descobrir as relações causais 
universais, segundo as quais agem as causas que produzem sempre os mesmos 
efeitos, desde que se repitam as mesmas condições.
As teorias científicas são explicações causais dos acontecimentos, e 
que, por meio de teorias científicas, permitem predições dos mesmos futuros, 
assim, quando se constrói uma teoria científica busca-se relacionar um determi-
nado fato, descrito convenientemente, com uma Lei Causal da natureza. Essa 
lei deve ser dotada de uma validade universal, o que significa que vale para 
todos os homens e para todas as situações possíveis. Com base nas leis cau-
sais, o cientista pretende entender como se comporta a natureza agora, como se 
comportou e como se comportará no futuro. Entender como a natureza agora 
se mostra é explicar, entender como se comportou é retrodizer; e entender 
como se comportará no futuro é predizer. Em qualquer dos três casos, o cien-
tista está apenas relacionando acontecimentos com leis causais, que se aplicam 
em qualquer ponto da escala cronológica, seja presente, passado ou futuro. O 
estabelecimento da relação lógica, a partir da sequência de causas, permitem 
estabelecer a escala cronológica.
A ciência começou a desenvolver-se quando esse desafio voltado a des-
cobrir leis e a justificá-las foi formulado como um problema que permitia solução 
mediante o uso de um método de descoberta, análise e justificação de interpretações.
II.2 O MÉTODO
A ciência, assim como as artes, a história, a política, a cultura e a 
sociedade, também passa por mudanças. Mas como compreender essas mudan-
ças? Afinal de contas, como é possível que se alterem conclusões, certezas e 
justificavas que foram alcançadas segundo métodos científicos de rigor?
De uma forma geral, o método engloba um conjunto de etapas e pro-
cedimentos que permite a compreensão da realidade, enquadrando-a no padrão 
científico (epistemológico) então vigente. Trata-se assim de um caminho de 
aproximação da verdade.
O método socrático-platônico é bastante conhecido. A preocupação 
na antiguidade não era a de encontrar um método propriamente científico para a 
busca da verdade. O que se buscava pela dialética de então eram as noções de 
Bem, Belo, Justo, Verdade dentre outras. Ensina Sócrates que:
A filosofia consiste em partir do mundo da opinião rumo ao conhe-
cimento ou à verdade, num movimento de ascensão do qual se pode 
dizer que é orientado pelas opiniões [...] A dialética é a arte da conver-
23
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
sação ou do debate amigável. O debate amigável que conduz à verda-
de torna-se possível ou necessário pelo fato de as opiniões acerca do 
que as coisas são, ou as opiniões acerca do que alguns grupos muitos 
importante de coisas são, serem contraditórias13.
Na antiguidade, em contraposição à modernidade, a “dúvida universal” 
não conduziria senão a um vazio, ao invés do coração da verdade14. As opiniões são 
fragmentos da verdade15, pois revelam nosso mais importante acesso à realidade16. 
Mas o mais célebre dos métodos é tributado a René Descartes (1596 
– 1650), que em 1637, num prefácio de um livro sobre dióptrica, meteoros e 
geometria, escreveu sobre o Discurso sobre o método para bem conduzir a ra-
zão na busca da verdade dentro da ciência. A razão, afirma Descartes, é o que 
possibilita a distinção entre o verdadeiro e o falso. O método, por suavez, é o 
que coloca os pensamentos no rumo correto para se alcançar a verdade. Perce-
be-se que Descartes está preocupado com o aumento gradual de conhecimento 
seguro, não se contentando com o que ele aprendera nas letras17. O filósofo 
francês declara sua predileção pela matemática “devido à certeza e à evidência 
de suas razões”18. Sua desilusão com as “ciências dos livros” se deve ao fato 
de consistirem na compilação de um universo de opiniões, sem que haja uma 
ordem necessária nas razões, bem como uma demonstração adequada. Ainda, a 
concepção de ciência em Descartes remete à imagem de um prédio, cuja parte 
mais importante são os alicerces sobre o que tudo mais será erguido.
Mas que, no tocante a todas as minhas opiniões que até então aco-
lhera em meu crédito, o melhor a fazer seria dispor-me, de uma vez 
para sempre, a retirar-lhes essa confiança, a fim de substituí-las em 
seguida ou por outras melhores, ou então pelas mesmas, depois de 
tê-las ajustado ao nível da razão. E acreditei firmemente que, por este 
meio, lograria conduzir minha vida muito melhor do que se edificasse 
apenas sobre velhos fundamentos, e me apoiasse tão-somente sobre 
princípios de que me deixara persuadir em minha juventude, sem ter 
jamais examinado se eram verdadeiros.19
13 STRAUSS, Leo. Direito Natural e História. Portugal: Edições 70, 2009. p. 108.
14 Ibid., p. 108.
15 .Ibid., p. 109. 
16 Ibid., p. 108.
17 A Gramática, a História, a Poesia e a Retórica, isto é, saberes tipicamente das “ciências 
humanas”. Esses saberes correspondiam aos “saberes do espírito” na época.
18 DESCARTES, René. Discurso sobre o método: para bem conduzir a própria razão e procurar 
a verdade nas ciências. In. Os pensadores. São Paulo: Nova cultural, 1996. p. 69.
19 Ibid., p. 75.
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
24
Nessa passagem, Descartes mira a argumentação ao seu método, que 
terá a dúvida como elemento central. Tudo o que não for claro e evidente deve 
ser posto em dúvida. O método cartesiano passa ainda por um processo de divi-
são, de ordenação e de revisão.
Em suma, o método seguido, mas não necessariamente proposto, por 
Descartes será uma espécie de mistura da concepção dos antigos - que ele con-
siderava muito abstrata - da aritmética – que ele julga demasiadamente rebus-
cada e obscura – e da lógica – que para ele tem um caráter explicativo apenas, 
não contribuindo efetivamente ao conhecimento. 
É Immanuel Kant que fornece um arcabouço de novas noções que 
possibilitam a guinada das ciências rumo à linguagem. A questão fundamental 
da Crítica da Razão Pura é: “como são possíveis os juízos sintéticos a priori”20? 
Essa pergunta conduzirá Kant à possibilidade transcendental21, o que por sua 
vez o permitirá substituir a noção de essência pela noção de sentido22. 
A pesquisa científica, seja ela de cunho de ciências exatas ou relativa às 
ciências humanas, passou por uma revolução em seu estudo, comumente referi-
da como “viragem linguística”. A linguagem passa assim a consistir na unidade 
construtora e fixadora de verdades. A verdade toma a forma de uma proposição, 
e nesse sentido, tal proposição precisa ser averiguada. Os fundamentos da ciência 
devem passar, portanto, necessariamente por uma análise da linguagem. Essa vi-
ragem linguística das ciências se deve à Gottlob Frege (1848 – 1925) e Bertrand 
Russell (1872–1970) que deram início a um projeto logicista. Ambos os filósofos 
trabalhavam com a filosofia da matemática, que em muitos casos emprega conhe-
cimentos analíticos. Conhecimentos analíticos são aqueles que não tem proble-
mas de significado, isto é, o sentido (significado) equivale à verdade. A ciência, 
por sua vez, corresponderia a um conhecimento sintético, na medida em que faz 
referência ao mundo. Significado e verdade nas ciências, portanto, entretém uma 
relação bem mais complexa do que nas matemáticas. 
Os teóricos do círculo de Viena23, na esteira de Kant e inspirados em 
Wittgenstein – para quem o significado de uma sentença consiste em sua condi-
ção de verdade24 - realizarão um estudo minucioso do significado das proposi-
ções e da relação delas com a verdade científica.
20 KANT, I. Crítica da Razão Pura. 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. p. 49.
21 Chamo de transcendental a todo o conhecimento que em geral se ocupa menos dos objetos, que 
do nosso modo de os conhecer, na medida em que este de ser possível a priori”. Ibid., p. 53. 
22 DELEUZE, G. Jean Hyppolite, lógica e existência. In. A ilha deserta e outros textos. São Paulo: 
Iluminuras, 1954. p. 25.
23 O círculo de Viena corresponde a um grupo de filósofos que se organizavam informalmente 
em torno de Motiz Schlick, e que tinham uma atitude comum em direção à filosofia consistente 
no empirismo lógico delineado por Ludwig Wittgenstein.
24 CARNAP, Rudolf. The elimination of Metaphysics Through Logical Analisys of Language. In 
Ayer, A. J. (Ed.) Logical Positivism. p. 3.
25
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
Nesse ambiente, destaca-se o trabalho Rudolf Carnap (1891–1970) 
que demonstra em A eliminação da metafísica por meio da análise lógica da 
linguagem a necessidade da ciência se afastar da linguagem natural, a fim de 
que não incorra em ambiguidades ou sentenças sem significados. Carnap propõe 
o afastamento da experiência e o encerramento do ser no mundo da linguagem. 
O significado para ele é dependente de dois critérios: o da redução, que fixa o 
significado elementar da palavra, e o da aplicação, que explicita o significado. 
Essa redução faz com que um termo atinja sua “sentença protocolar”. Segundo 
Carnap, é nessa redução do enunciado em seus elementos mais simples que 
reside o método de verificação. É a partir dessa “sentença protocolar” que se 
decide se o enunciado é verdadeiro ou falso.
Já com Karl Popper (1902-1994) inicia-se um processo de revisão 
crítica da metodologia científica, que ocorre pela substituição do critério de 
verificação e de prova pelo critério de falseabilidade, situando-o na contramão 
do indutivismo que caracterizava as ciências empíricas do século XVIII. Popper 
parte da noção de que toda teoria, para ser científica, deve ser falsificável. Ser 
falsificável significa que deve ser passível de ser refutado pela experiência um 
sistema científico empírico25. Todavia, impor a falseabilidade como critério de 
cientificidade não implica a exclusão da comprovação, da verificação, da con-
frontação com a experiência. 
Contudo, só reconheceria um sistema empírico ou científico se ele for 
passível de comprovação pela experiência. Essas considerações suge-
rem que deve ser tomado como critério de demarcação, não a verifica-
bilidade, mas a falseabilidade de um sistema. Em outras palavras, não 
exigirei que um sistema científico seja susceptível de ser dado como 
válido, de uma vez por todas, em sentido positivo; exigirei, porém 
que a sua forma lógica seja tal que se torne possível validá-lo através 
de recurso a provas empíricas, em sentido negativo: deve ser possível 
refutar, pela experiência, um sistema científico empírico26
A falseabilidade de Popper, isto é, a testabilidade como método de 
distinção da verdade objetiva, vem se contrapor à mera observação, que visa 
o “nosso conhecimento”. Conhecimento subjetivo (psicologismo) e verdade 
objetiva são, portanto, grandezas distintas. Essa busca pela ciência (verdade) 
objetiva pressupõe uma visão contínua da história da ciência, excluindo a pos-
25 POPPER, K. R. Lógica da Investigação Científica. São Paulo: Abril Cultural, in. Os pensadores, 
1975. p. 15.
26 POPPER, K.; apud. COUTO, Luís Flávio S., Karl Popper e a falseabilidade como critério básico 
de cientificidade de uma teoria. IN. http://www.infocien.org/Interface/Colets/v01n16a012.pdf
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
26
sibilidade de um progresso das ciências e pressupondo, por sua vez, a existência 
de um padrão perene de racionalidade. 
Ao contrário de Descartes, Popper propõe a seguinteimagem:
A base empírica da ciência objetiva nada tem, portanto de “absoluto”. 
A ciência repousa em pedra firma. A estrutura de suas teorias levanta-
-se, por assim dizer, num pântano. Assemelha-se a um edifício cons-
truído sobre pilares. Os pilares são enterrados no pântano, mas não em 
qualquer base natural ou dada. Se deixarmos de enterrar mais profun-
damente esses pilares, não o fazemos por termos alcançado terreno 
firme. Simplesmente nos detemos quando achamos que os pilares es-
tão suficientemente assentados para sustentar a estrutura – pelo menos 
por algum tempo.27
O mais recente dos filósofos da ciência propriamente dito a merecer 
análise neste tópico é Thomas Kuhn (1922-1996). Ao contrário dos que o pre-
cederam, Kuhn não estabelece verdades, nem métodos específicos de investiga-
ção científica, fornecendo uma compreensão histórica dos métodos científicos 
em termos de paradigmas, que corresponderiam à forma como os problemas 
surgem em determinadas épocas. Por meio dessa noção de paradigma, o que 
Kuhn crítica de forma mais veementemente é a noção de linearidade e de cumu-
latividade dos conhecimentos científicos. 
Longe de pensar o conhecimento científico como Descartes, isto é, 
como a imagem da construção de um edifício, cuja base seria totalmente indu-
bitável, e também longe de pensar num padrão de racionalidade comum a várias 
épocas, Kuhn trabalha com mudanças de paradigmas que corresponderiam a 
mudanças de mundo, e o princípio norteador dessa mudança de mundo é o da 
incomensurabilidade. Tal princípio impede que a ciência seja norteada por pro-
blemas fixos, fazendo uso de cânones estáveis. Nem mesmo os fatos são fixos, 
como nos mostra Kuhn ao combater a tese de que uma revolução científica é 
redutível a uma reinterpretação dos dados estáveis e individuais. 
É em função dessa visão da história das ciências que Kuhn questiona 
os métodos científicos de verificação. Segundo ele, há (apesar de serem pou-
cos) quem defenda a existência de critérios absolutos. Há também cientistas e 
filósofos que acreditam na probabilidade como melhor critério de verificação. 
No concernente à probabilidade, Kuhn localiza o problema da veri-
ficação probabilística, concentrando-o na necessidade de recorrer à linguagem 
de observação pura ou neutra, o que a seu ver é impossível devido à impossi-
27 POPPER, K. R., A lógica da pesquisa científica. Trad. de Leonidas Hegenberg e Octanny 
Silveira da Mota. 5.ed. São Paulo: Cultrix, 1990.
27
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
bilidade (inexistência) de uma linguagem com tais características. Ensina “que 
os novos paradigmas nascem dos antigos, incorporam comumente grande parte 
do vocabulário e dos aparatos, tanto conceituais como de manipulação, que o 
paradigma tradicional já empregara”28. A diferença, portanto, não reside na lin-
guagem ou nos conceitos, mas no seu modo de emprego. Não é porque são her-
dados conceitos tradicionais que estes serão empregados de forma igualmente 
tradicional. Além disso, Kuhn destaca que o novo paradigma implica a criação 
de novas relações entre os termos, conceitos e experiências. A verificação pro-
babilística acarreta esse problema, pois pretende comparar uma teoria científica 
com todas as outras teorias imagináveis que se adaptem ao mesmo conjunto de 
dados observados. Kuhn então prossegue argumentando que se 
“não há sistema de linguagem ou de conceitos que seja científica ou 
empiricamente neutro, então a construção de testes e teorias alterna-
tivas deverá derivar-se de alguma tradição baseada em um paradigma 
(...) Consequentemente, as teorias probabilísticas dissimulam a situa-
ção de verificação tanto quanto a iluminam”29
Com isso Kuhn questiona o método provável de verificação. 
O arcabouço de noções apresentado por Kant também possibilita pen-
sar em métodos que não correspondem precisamente ao método científico. A 
ciência política, que é por excelência um tipo de ciência dos homens - huma-
nidades - nem sempre poderá se apropriar das técnicas científicas para validar 
seus conhecimentos. Nesse sentido, também é necessário refletir sobre o méto-
do nas ciências humanas. 
A virada linguística que Kant permitiu aos empiristas lógicos do círcu-
lo de Viena também possibilitou os estudos hermenêuticos. É cada vez maior o 
número de trabalhos das ciências humanas que se ampara no método interpreta-
tivo, em detrimento do método laboratorial. Paul Ricoeur (1913-2005), filósofo 
francês dedicado à tradição hermenêutica-fenomenológica, afirma que graças à 
inversão proporcionada por Kant entre uma teoria do conhecimento e uma teoria 
do ser, a teoria dos sinais se destacou em comparação com a teoria das coisas30. 
As razões para que as ciências humanas não sejam reificadas aos 
moldes do que ocorre com as ciências naturais são bem analisada por Charles 
Taylor, num artigo intitulado Interpretation and the sciences of man; por isso, 
as ciências empíricas não dão conta da variabilidade das ciências humanas. 
28 KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2011. p. 190.
29 Ibid., p. 187
30 MORUJÃO, Alexandre F. Prefácio da tradução portuguesa. In. KANT, Immanuel. Crítica da 
razão pura. 7. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010. p. XXII-XXIII. 
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
28
Antes de tudo, o empirismo lógico necessita das já mencionadas reduções 
às proposições protocolares ou unidades fundamentais, a partir das quais é 
realizada a verificação. Com isso, as ciências empíricas não conseguiriam 
senão o engessamento das ciências humanas. Além deste problema, Taylor 
comenta sobre esse caráter laboratorial da pesquisa: é difícil, se não impossível, 
que as ciências do homem consigam delimitar seus objetos de estudo sem que 
nenhuma interferência externa ocorra. A complexidade das relações humanas 
implica a impossibilidade de um sistema fechado. A última crítica feita pelo 
autor ao método científico no artigo em questão se deve ao fato de que objetos 
das ciências, ao contrário das ciências dos homens, não são autodefiníveis. O 
homem tem por característica ser um animal autodefinidor. 
A análise de todos esses vícios cientificistas permite concluir que as 
ciências humanas não podem ser submetidas a procedimentos de validação. A 
proposta de Taylor é que o método a ser utilizado nas ciências humanas contemple 
as significações intersubjetivas, em detrimento da pretensão de encontrarmos 
dados brutos na sociedade sobre os quais poderíamos construir nossos edifícios 
de conhecimento. O autor define esses dados brutos como a impossibilidade de 
haver outra interpretação dos fatos. O homem é um animal que se auto-interpreta, 
e portanto não há significados para além de sua interpretação. 
Pode-se argumentar então, que a corrente principal das ciências 
sociais está presa a certos limites de categoriais que então enraizados 
no tradição epistemológica do empirismo; em segundo lugar, que 
essas restrições consistem em severas desvantagens e nos impedem de 
nos confrontarmos com importantes problemas do dia que deveriam 
ser objeto da ciência política. Precisamos ir além das conexões de 
uma ciência baseada em verificação para uma ciência que nos permita 
estudar a intersubjetividade e as significações comuns incorporadas 
na realidade social (TAYLOR, 1971. p. 45. Tradução do autor)
Todavia, o abandono da análise tradicional do empirismo lógico 
não implica o abandono da linguagem como meio de compreensão das 
humanidades. Taylor mostra que mais do que mera ferramenta de coesão social, 
de comunicação, a linguagem é constitutiva da realidade social. 
“Não há uma dependência unilateral aqui. Podemos falar em 
dependência mútua se quisermos, mas o que realmente esse vínculo 
aponta é a artificialidade da distinção entre a realidade social e a 
linguagem de descrição dessa realidade social.”31 
31 TAYLOR, C. Interpretation and the science of Man. 1971. p. 24. 
29
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadaniaem construção
É mister destacar que essa intersubjetividade de significações 
mencionada na citação supracitada não se confunde com as significações 
comuns igualmente presente na citação. A intersubjetividade diz respeito à 
linguagem que possuímos em comum, uma espécie de background que subjaz 
as práticas constituintes de nossas realidades, bem como a compreensão 
de algumas normas. Por outro lado, significações comuns dizem respeito às 
referências de mundo que temos, tais como ações, celebrações e sentimentos32. 
A hermenêutica como método, portanto, não pretende certezas ou 
verdades válidas - como bem define Isaiah Berlin, “baseada na philosophia 
perennis”33. Além disso, tal método não prevê a eliminação de teses 
concorrentes. Diferentes pontos de vista, de concepções de mundo e de 
homem implicam diferentes análises e diferentes resultados. Finalmente, o 
grande ganho desse método é o de não cair na ilusão de que se sabe algo 
de permanente sobre a sociedade; ao contrário, aposta-se em caminhos de 
compreensão muito mais frutíferos. 
32 TAYLOR, 1971, p. 30. Tradução nossa.
33 BERLIN, I. Limites da Utopia. São Paulo: Companhia das letras, 1991.p. 19.
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
30
LIVRO II
O JUSNATURALISMO COSMOLÓGICO 
CAPÍTULO I
FASE FÍSICA OU NATURALISTA
I.1 A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE JUSNATURALISMO
O conceito de Jusnaturalismo nasce na filosofia, muito antes de migrar 
para a doutrina do Direito. Previamente à ordenação da conduta dos indivíduos 
em sociedade, o Jusnaturalismo serviu como parâmetro para a formulação de 
conceitos e explicações sobre a própria realidade. No Direito, segundo afirma 
Norberto Bobbio, o Jusnaturalismo consiste num “sistema de normas de conduta 
intersubjetiva diverso do sistema constituído pelas normas fixadas pelo Estado 
(direito positivo)34”. O direito natural “tem validade em si, é anterior e superior 
ao direito positivo e, em caso de conflito, é ele que deve prevalecer35”. 
Na filosofia, a história do Jusnaturalismo apresenta-se dividida em 
três fases: cosmológica, teocêntrica e racionalista. A primeira busca 
definir o conhecimento a partir da descoberta dos elementos da natu-
reza (physis) como a parte concreta do universo (cosmos). A segun-
da afirma que a divindade cristã é o referencial de toda a ordem do 
Mundo. Deus fez o cosmos e colocou cada ser em seu devido lugar. 
Compreender a ordem da realidade leva a compreender a razão divina 
que inspirou sua criação e apenas um ser recebeu de Deus esta prer-
rogativa: o homem.36 Já a terceira, a racionalista, parte do pressuposto 
de que a razão humana só concebe como válido o que ela mesma cria 
ou pode explicar. No Racionalismo a razão humana autonomiza-se, 
ganha vida própria a partir do momento em que se livra da influência 
de elementos religiosos. 
I.2 A ORIGEM MITOLÓGICA
A Mitopoiese (do grego: poyésis=construir) consiste em construir a 
fantasia de caráter absoluto e eterno. Como já analisado, o mito é uma entidade 
construída pela imaginação humana, metafísica e por isso imortal. Tudo que se 
passava na realidade era explicado pelos mitos, isto é, acontecia pela vontade 
34 BOBBIO, Norberto. Dicionário de Política, UNB, 12ª ed. 2002, Brasília, vol. 1, p. 655.
35 Op. cit. p. 656.
36 HIND, Rebecca. 1000 Faces of God. New York: Barnes & Noble Books, 2004. p. 15.
31
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
dos deuses. Na Grécia Antiga eram criados Deuses e lendas para explicar cada 
detalhe da realidade. 
Jupiter, o deus dos deuses do Olimpo, também conhecido por Zeus, 
tinha como esposa Themis, deusa da justiça. Diz o mito que Themis37 usava uma 
venda nos olhos para julgar quem tinha ou não razão, pois assim não julgaria 
pelas aparências. Na mão direita empunhava uma espada, para punir os culpados. 
Mas como poderia punir, se para isso tinha os olhos vendados? Para isso ela se 
utilizava de uma de suas três filhas: Diké, a deusa da punição que também possuía 
uma espada; Eirene, a deusa da paz e Eunomia, a deusa da segurança.
Imaginava-se que, se alguém praticasse uma injustiça, Themis, (e ela 
não via, por ter os olhos vendados), cedo ou tarde o puniria. Essa era uma forma 
de culpar alguém moralmente, com o intuito de que ele se abstivesse da prática 
da injustiça. O castigo de Themis, executado por Diké, poderia até demorar, 
mas sempre era aplicado.
Até então, somente os deuses tinham a razão, aplicada no comando de 
todos os elementos da realidade e simbolizada pelo domínio do fogo. Prometeu, 
amigo dos homens e compadecido por estes, rouba uma tocha do carro flamejante 
de Zeus e lhes entrega. Como castigo, Zeus amarra prometeu a uma enorme pedra 
no cume de uma montanha e o fere, de modo que as águias se alimentassem de 
suas vísceras durante o dia, regeneradas a cada noite, num suplício eterno.
Zeus fez uma mulher (Pandora) e a entregou ao homem junto com 
uma caixa na qual encerrou todos os males que utilizava na ordenação da physis. 
Apesar da proibição, ditada por Zeus de que não a abrisse, Pandora, impelida 
por natural curiosidade, destampou-a e todos os males se espalharam pela Terra. 
Fechou-a rapidamente, mas somente em tempo de manter na caixa um dos 
males: a capacidade de predizer o futuro, entendida como mal porque elimina a 
esperança.38 A partir de então o homem passou ser responsável por seus próprios 
atos. Os acontecimentos doravante não mais seriam por vontade dos deuses. 
Os deuses lavaram as mãos, por assim dizer, e passaram a atribuir aos 
homens a responsabilidade por seu próprio destino.
Outro exemplo da fonte mitológica do Jusnaturalismo na Grécia 
antiga encontra-se na figura de Antígona, na tragédia de mesmo nome escrita 
por Sófocles. Antígona se recusa receber as ordens do rei porque julga que, por 
37 “A justiça personificada, Themis, é esposa de Jupiter, e a balança é o seu atributo. Themis, assaz 
frequentemente representada na arte dos últimos séculos, que a emprega na decoração dos nossos 
tribunais e nos nossos palácios da justiça, não corresponde a nenhum tipo particular na arte antiga, 
e nunca lhe vemos estátuas. Nenhuma fábula na mitologia se prende a essa deusa, que, não obstante, 
ocupa uma posição elevada no Olimpo, pois, à mesa dos deuses, ela se senta à direita de Júpiter” in 
MENARD, René. Mitologia Greco-Romana. Opus, São Paulo, 1.991, v. 01, p. 88.
38 POUZADOUX, Claude. Contos e Lendas da Mitologia Grega. Tradução de Eduardo Brandão. 
São Paulo: Cia das Letras, 2001. p. 35.
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
32
se tratar de ordens emanadas da autoridade política, não podem sobrepor-se às 
leis eternas emanadas dos deuses. É afirmação de um “justo por natureza” que 
se opõe ao “justo por lei”. Essa dicotomia demonstra claramente as esferas do 
Direito Positivo e do Direito Natural.
I.3 A ORIGEM ONTOLÓGICA
Abandonado pelos Deuses e responsável pelo peso de seu próprio 
destino, o homem vê-se forçado a construir uma explicação da realidade, que 
deve ser tão convincente e perene quanto a fornecida pelos mitos. Nasce a 
filosofia, filha da angústia e do espanto. A partir de então o homem tem de 
explicar sua própria realidade, não mais a partir de mitos, mas de seu próprio 
ser. A questão ontológica busca resolver o vazio deixado pela explicação 
mito poética a partir de sua decadência, de seu descrédito. O homem utiliza o 
logos (razão) para resolver a questão ontológica, como explica Aristóteles na 
Metafísica, IV, 1:
“Há uma ciência que estuda o Ser enquanto ser, e seus atributos 
essenciais. Ela não se confunde com nenhuma das outras ciências 
chamadas particulares, pois nenhuma delas considera o Ser em geral, 
enquanto ser, mas recortando uma certa parte do ser, somente desta 
parte estudam o atributo essencial; como, por exemplo, procedem as 
ciências matemáticas. Mas já que procuramos os primeiros princípio e 
as causas mais elevadas, é evidente que existe, necessariamente, alguma 
realidade à qual tais princípios e causas pertencem emvirtude de sua 
própria natureza. Se, pois, os filósofos, que buscavam os seres, tSer são 
elementos destes, não enquanto acidente, mas enquanto ser. Eis por que 
devemos estudas as causas primeiras do Ser enquanto ser39”.
A Ontologia, como ciência filosófica surge na cultura grega pela ação 
construtiva de Aristóteles, que a chamava de prote philosophia, filosofia primeira, 
e também de teheologikê epistéme, ciência divina, porque estuda os seres mais 
divinos até alcançar o “Primeiro Motor”, o “Ato Puro”, a causa primeira.
Ontologia é, portanto, o estudo das condições a partir das quais algo 
passa a existir, a ter presença na realidade. O homem se utiliza de razão e 
sensibilidade para descobrir sua existência. O logos é resultante da conjugação 
desses dos fatores.
Neste plano, o homem capta os dados da realidade através dos sentidos 
e, submetendo-os ao tratamento pela razão, busca a explicação de sua existência 
39 SANTOS, Mário Ferreira dos. Ontologia e Cosmologia. Logos, São Paulo, 4ª ed., 1964, p. 13
33
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
e de tudo que há no Cosmos. Busca encontrar o princípio como elemento 
responsável pela criação e pela manutenção de tudo que existe, ponto de partida 
da explicação da realidade. Elemento da phisys, num elemento da realidade.
Uma das questões fundamentais no estudo da ontologia está no como 
conhecer o ser? Ora, o objeto da ontologia é o Ser, entendido como referência 
geral a tudo que existe, a tudo que há na physis. Neste viés, a ontologia encontra 
bases para realizar as suas investigações e essas bases não se afastam do existir. 
O Ser revela-se nas menores experiências vividas pelos homens 
e os primeiros filósofos gregos – também chamados de pré-socráticos – o 
procuravam na observação do mundo material, buscando encontrá-lo no 
princípio de todas as coisas. Isso não significa que se ocuparam apenas com 
o mundo físico e desprezaram o humano, essa compreensão apenas física do 
pensamento pré-socrático verifica-se pelo fato de esses filósofos não terem à 
época um vocabulário filosófico estruturado, o que veio acontecer somente com 
Platão e Aristóteles séculos depois, responsáveis pela criação dos primeiros 
sistemas filosóficos do Ocidente. Porém, uma compreensão mais detida da 
filosofia pré-socrática permite afirmar que foram responsáveis pela construção 
de uma visão hilozoísta40 do mundo, enxergando para além do mundo físico 
uma essência universal e imutável que valeria inclusive para o ser humano.
Nessa essência universal que está por detrás do ser, de tudo o que é, 
do que existe, encontram-se leis imutáveis que fogem às limitações culturais de 
tempo e espaço. Essas leis imutáveis de raiz ontológica (pois são o fundamento 
daquele ser) constituem fonte de um Direito também chamado de Natural, daí o 
nome Jusnaturalismo Ontológico.
I.3.1 A ESCOLA JÔNICA 
A Escola Jônica é classificada como a que marca a primeira fase 
do pensamento pré-socrático. Ela é assim denominada por ter se originado 
nas colônias jônicas, na Ásia Menor. Os jônicos atribuem vida à matéria 
(hilozoísmo). No entanto, afirmam que a divindade é o elemento primitivo e 
gerador de todos os seres. O primeiro momento é representado pelo jônicos 
antigos e o segundo, pelos novos jônicos. Procurando entender a origem do 
cosmos, os antigos consideravam o universo como matéria estática. Dentre 
os pensadores desse período, encontram-se Tales de Mileto, Anaximandro e 
Anaxímenes, integrantes da Escola de Mileto. 
No Séc. VI a.C., os países jônicos, ou simplesmente a Jônia, conheceram 
um grande progresso econômico, sobressaindo-se entre as cidades marítimas, a 
40 Hilozoísmo, Sistema filosófico que atribui à matéria uma existência necessária e dotada de vida.
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
34
de Mileto, que, depois de ser conquistada pelos persas, foi destruída em 494. A 
grande pergunta formulada pelos jônicos era: de que está constituído o Universo? 
Mas a resposta era, no entanto, superada pelo afã de encontrar soluções para os 
problemas de ordem prática, exigidos, sobretudo, pelo grande desenvolvimento 
mercantil de sua época. E esse mercantilismo imprimiu aos jônicos, em grande 
parte, o sentido pragmático de suas investigações. Eram estudiosos da natureza 
em suas manifestações meteorológicas. 
É apenas com Anaxágoras, adiante analisado, que essa fase será 
abandonada e superada por outra, denominada antropológica. 
Observa-se também na filosofia jônica o abandono das imagens 
fantásticas da natureza (mitos). Há observação direta, experiências, tanto 
que os filósofos jônicos se tornam inventores. Isso não impede, porém, que 
os mitos da época teogônica influam na formação de suas filosofias (afinal as 
ruptura da história da filosofia não ocorrem de forma tão imediata e radical) 
mas sempre com um cunho positivo e científico. 
Na atuação dos jônicos, há a tendência para relacionar os 
fenômenos mais transcendentes aos fatos familiares, afastando-se, assim, 
quanto possível, do aspecto misterioso que tinham as crenças anteriores. É 
por isso que os jônicos são considerados propriamente mais físicos do que 
filósofos. Os problemas que mais afetavam os interesses econômicos dos 
povos da jônia, absorviam mais detidamente a atenção de seus filósofos, 
sobretudo os que se referiam à meteorologia, naturalmente por se tratar de 
um povo de navegadores. Observa-se na obra dos jônicos a preocupação 
maior para o mar, grande tema de suas investigações. Não só o mar como o 
ar, as nuvens, as chuvas, as tempestades. 
I.3.1.1 TALES DE MILETO (624-548 A. C.)
TALES de Mileto é considerado o mais antigo filósofo grego. É o 
fundador da escola de Mileto (incluída na classificação geral da escola Jônica), 
sendo responsável por introduzir o conhecimento de diversas filosofias orientais 
como a cáldica e a egípcia, nas construções ocidentais. São duvidosas as 
origens de Tales, se de tronco fenício ou semítico. Não se conhece nenhuma de 
suas obras, somente fragmentos citados por outros filósofos. Foi considerado 
um dos sete sábios da Grécia, e também o pai da filosofia grega, “o fundador, 
disse Aristóteles, dessa classe de filosofia”, a filosofia jônica que se ocupava da 
natureza da matéria. 
Dentre os temas do pensamento milésio, o principal é a água. Esta é 
o princípio de todas as coisas, não propriamente a água (hydros) mas o úmido 
35
CIÊNCIA POLÍTICA E DIREITO: cidadania em construção
(hygros). Há, inegavelmente, em Tales notória influência de doutrinas egípcias, 
segundo as quais a água (do Nilo) é a criadora da terra fértil do Delta. Além 
disso, havia nessa época a crença de que a Terra flutuava no infinito composto 
por água. Tal doutrina deriva, também, das antiquíssimas e primitivas tradições 
mitológicas das teogonias e cosmogonias do Oriente sumério, caldeu, hebreu, 
fenício, egípcio, egeu, onde todos falavam de um caos aquoso. 
A causa motora de todas as coisas é a alma, a potência divina, que põe 
tudo em movimento e penetra no úmido elementar. Tales é o responsável pela 
ruptura de filosofia dominada pela teogonia, dando início à filosofia que tem por 
centro de indagação os elementos da physis, onde são buscados os princípios. 
Inicia-se a fase física da Escola de Mileto.
I.3.1.2 ANAXIMANDRO (610-547, A. C.)
Também nascido em Mileto. Discípulo de Tales, a quem sucedeu 
na escola milésia. Foi mestre de Anaxímenes e este, por seu turno, o foi de 
Anaxágoras. Pouco se sabe de sua vida e obra. Para ele o princípio primeiro 
(arque, de onde deriva arcaico, antigo) de todas as coisas é imortal, eterno 
e fundamental, o apeíron (a=não, peiron=limite); possui os caracteres do 
ilimitado, do qualitativamente indeterminado, do indefinido, do absoluto, 
e é animado por um movimento eterno. Estimulado por uma força vital 
intrínseca e de geração incessante, desagregam-se os contrários desse infi-
nito, formando, primeiramente, o ar; em segundo lugar, a água, depois os 
elementos. Todas as coisas, afinal,

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