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Atividade racional: a intuição e a 
razão discursiva
Introdução
A atividade racional é uma das mais interessantes no ser humano, pois por meio dela podemos obter
conhecimento e julgar os acontecimentos. Além disso, ela nos possibilita ir além em determinados campos da
ciência. Segundo Marilena Chaui (2000 p. 81), “o raciocínio é considerado o conhecimento que exige provas,
demonstrações das verdades que estão sendo conhecidas ou investigadas”. Podemos tomar como exemplo um
caçador que está em busca de uma raposa. Ele verifica as pegadas, observa os galhos quebrados e, enfim, parte
de pistas e indícios para uma conclusão ou decisão final. Nesta aula, estudaremos os procedimentos racionais e
suas bases principais, tais como a intuição, a dedução, a indução e a abdução.
Ao final desta aula, você será capaz de:
• compreender as diferenças entre empirismo e idealismo.
• entender os conceitos de dedução, indução e abdução;
Intuição
Para entender a intuição, imagine o esforço intelectual de um médico, que faz o diagnóstico e compreende a
causa da doença, já projetando os possíveis modos de tratá-la. Para Chaui (2000, p. 81), “a intuição é uma
compreensão global e instantânea de uma verdade, de um objeto, de um fato. Nela, de uma só vez, a razão capta
todas as relações que constituem a realidade e a verdade da coisa intuída”. Ainda de acordo com a autora (2000),
a intuição corresponde a um ato intelectual de discernimento e compreensão.
Razão Discursiva
Diferente da intuição, a razão discursiva não se dá de uma só vez. Esta razão exige prova, conexões entre ideias e
passo a passo para uma conclusão.
Dedução
Segundo Chaui (2000), a dedução consiste em partir de uma verdade já conhecida - seja por intuição, seja por
demonstração anterior - e que funciona como um princípio geral ao qual se subordinam todos os casos que serão
demonstrados a partir dela. Aqui, aplicamos uma verdade provada a todos os casos similares. Diz-se que a
dedução vai do geral ao particular, isto é, tem como ponto de partida o geral e como ponto de chegada o
particular. O ponto de partida da dedução é uma ideia ou teoria verdadeira.
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EXEMPLO
Tomemos como ponto de partida as definições geométricas gerais de ponto, linha e área e
deduzimos todas as figuras geométricas possíveis. Utilizamos uma definição geral que se aplica
a todas as figuras geométricas e caminhamos em direção a figuras que podem ser formadas
segundo essa definição geral.
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Figura 1 - Pensamento dedutivo.
Fonte: Ollyy/Shutterstock.com
De acordo com Dicionário básico de Filosofia (JAPIASSU; MARCONDES, 1991), a palavra “dedução” tem o
significado exposto no quadro a seguir.
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Figura 2 - Etimologia e significado do termo “dedução”.
Fonte: JAPIASSU; MARCONDES, 1991, p. 49.
Outra definição para “dedução” é que se trata de “[...] uma inferência que vai dos princípios para uma
consequência logicamente necessária.” (ARANHA, 1986, p. 100).
Figura 3 - Teorema de Tales
Fonte: NeydtStock/Shutterstock.com
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Assim, podemos afirmar que a dedução é um procedimento ou atividade racional na qual objetos particulares
são conhecidos e investigados a partir de uma teoria geral. Sabemos que a razão nos fornece regras para que
possamos realizar a dedução; caso elas não sejam seguidas, a dedução em si não possuirá validade e será
considerada falsa. No próximo item falaremos a respeito de outro procedimento racional: a indução.
Indução
A indução é o procedimento mais importante, pois possibilita a descoberta de características ou propriedades de
materiais, objetos etc. Segundo Chaui (2000, p. 82), percebemos que a indução realiza um caminho oposto ao da
dedução. Mas como exatamente? Bem, com a indução, partimos de casos particulares iguais ou semelhantes e
vamos à procura de uma lei, definição ou teoria geral que subordina e explica todos os casos particulares.
A indução também deve seguir as regras da razão para se tornar válida, ou seja, não deve haver violação dessas
normas sob penalidade de o resultado ser considerado falso. “A dedução e a indução são conhecidas com o nome
de inferência, isto é, concluir alguma coisa a partir de outra já conhecida. Na dedução, dado X, infiro (concluo) a,
b, c, d. Na indução, dados a, b, c, d infiro concluo X.” (CHAUI, 2000, p. 83).
Para que tenhamos um entendimento melhor a respeito de indução, realizamos o seguinte experimento:
colocamos para ferver diferentes líquidos e observamos sua vaporização. Induzimos, a partir das observações,
que o fogo desempenha um papel importante, promovendo a evaporação dos líquidos. Logo, concluímos que
essa propriedade é o calor.
Observamos que cada um dos líquidos de nosso experimento evapora em um determinado tempo. Procuramos a
causa para isto e concluímos que se trata de alguma propriedade ou característica intrínseca ao líquido, que o faz
evaporar em uma velocidade X. Podemos, então, formular uma teoria geral a respeito da evaporação de líquidos
relacionada às propriedades de cada um deles. Com os conhecimentos adquiridos a respeito da indução,
partimos agora para o terceiro e último caso, que é a abdução.
SAIBA MAIS
O livro Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa (2001), é um ótimo recurso para se
entender o procedimento racional denominado “indução”. A leitura desse clássico de nossa
literatura vale a pena!
FIQUE ATENTO
A dedução e a indução são procedimentos racionais que se opõem. Enquanto a indução parte
dos vestígios para chegar ao todo, na dedução parte-se do todo, de uma lei geral, e estuda-se os
casos particulares.
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Abdução
Entenda a abdução como a busca de uma conclusão pela leitura e interpretação racional de sinais, indícios e
signos. De acordo com Chaui (2000), a abdução é uma espécie de intuição que ocorre passo a passo até se chegar
a uma conclusão.
Um exemplo clássico e mundialmente conhecido de abdução são os contos policiais nos quais os detetives e
investigadores coletam pistas e vão decifrando o evento principal aos poucos, até que finalmente formam uma
teoria para o caso que investigam. Abdução é um meio que a razão dispõe para iniciar um estudo de um novo
campo científico ainda inexplorado (CHAUI, 2000). O caso da abdução é muito utilizado por historiadores, por
exemplo.
Podemos concluir, portanto, que a indução e a abdução são procedimentos racionais que empregamos para a
aquisição de conhecimento. Já a dedução é usada na verificação ou comprovação de uma verdade, de um
conhecimento adquirido.
SAIBA MAIS
O livro “As aventuras de Sherlock Holmes”, de Sir Arthur C. Doyle, é uma boa fonte para que
você possa visualizar na prática a técnica da abdução, bem como os outros procedimentos
racionais estudados nesta aula. Confira: <https://books.google.com.br/books?
id=mzcdDAAAQBAJ&pg=PT2&lpg=PT2&dq=as+aventuras+de+sherlock+holmes+sir+arthur+conan+doyle&source=bl&ots=X0NKBUkfnM&sig=zg1ezlO4BT6dpShtczwSPCZ93RM&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjNtvjPlYfOAhWCGZAKHQOrAOk4FBDoAQghMAE#v=onepage&q=as%20aventuras%20de%20sherlock%20holmes%20sir%20arthur%20conan%20doyle&f=false
>.
https://books.google.com.br/books?id=mzcdDAAAQBAJ&pg=PT2&lpg=PT2&dq=as+aventuras+de+sherlock+holmes+sir+arthur+conan+doyle&source=bl&ots=X0NKBUkfnM&sig=zg1ezlO4BT6dpShtczwSPCZ93RM&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjNtvjPlYfOAhWCGZAKHQOrAOk4FBDoAQghMAE#v=onepage&q=as%20aventuras%20de%20sherlock%20holmes%20sir%20arthur%20conan%20doyle&f=false
https://books.google.com.br/books?id=mzcdDAAAQBAJ&pg=PT2&lpg=PT2&dq=as+aventuras+de+sherlock+holmes+sir+arthur+conan+doyle&source=bl&ots=X0NKBUkfnM&sig=zg1ezlO4BT6dpShtczwSPCZ93RM&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjNtvjPlYfOAhWCGZAKHQOrAOk4FBDoAQghMAE#v=onepage&q=as%20aventuras%20de%20sherlock%20holmes%20sir%20arthur%20conan%20doyle&f=false
https://books.google.com.br/books?id=mzcdDAAAQBAJ&pg=PT2&lpg=PT2&dq=as+aventuras+de+sherlock+holmes+sir+arthur+conan+doyle&source=bl&ots=X0NKBUkfnM&sig=zg1ezlO4BT6dpShtczwSPCZ93RM&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjNtvjPlYfOAhWCGZAKHQOrAOk4FBDoAQghMAE#v=onepage&q=as%20aventuras%20de%20sherlock%20holmes%20sir%20arthur%20conan%20doyle&f=false- -7
Figura 4 - Sherlock Holmes, personagem famoso por utilizar métodos de investigação racionais.
Fonte: Prill/Shutterstock.com
Como vimos, a dedução, a indução e a abdução são atitudes racionais que utilizamos na busca de novos
conhecimentos. Sem estes procedimentos, ficaríamos estacionados no que já é conhecido e comprovado, o que
dificultaria tecnologias e descobrimentos.
EXEMPLO
Em A Liga dos Cabeça-Vermelha (2011), uma entidade misteriosa fornecia dinheiro a
determinados homens com cabelos ruivos. Um personagem chamado Wilson, que possui
cabelos ruivos, tenta a todo custo se associar a essa misteriosa liga. Quando consegue, em um
dia comum vai ao escritório e se depara com a porta trancada e a liga dissolvida. Sherlock
Holmes segue sua excelente dedução para elucidar este mistério.
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Agora faremos um estudo a respeito de técnicas utilizadas na busca da verdade e da razão. Continue
acompanhando!
Diferenças entre empirismo e idealismo
Empirismo
Podemos compreender o empirismo como a busca do conhecimento, da razão e da verdade por meio da
experiência. Antes de nossa experiência, nossa razão é como uma folha em branco, em que nada foi escrito
(CHAUI, 2000, p. 88). A partir de nossas experiências, vamos preenchendo essa folha em branco com referências.
Ao longo da história da Filosofia, muitos filósofos defenderam a tese empirista, dentre os quais podemos
destacar: Francis Bacon; John Locke; George Berkeley; e David Hume.
FIQUE ATENTO
Na abdução, há a presença da indução, mas com uma única diferença: há a constatação ou
conclusão do que foi levantado em uma só etapa.
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Figura 5 - O filósofo John Locke (1632-1704), adepto do empirismo.
Fonte: Alphaspirit/Shutterstock.com
Segundo Chaui (2000, p. 88) os empiristas afirmam que “nossos conhecimentos começam com as experiências
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Segundo Chaui (2000, p. 88) os empiristas afirmam que “nossos conhecimentos começam com as experiências
em nossos sentidos, isto é, nossas sensações”. Os objetos exteriores excitam nossos órgãos dos sentidos e vemos
cores, sentimos sabores e odores, ouvimos sons etc.
Idealismo
Para que possamos entender o “idealismo”, devemos primeiramente entender o que é realismo. Chaui (2000)
afirma que o realismo é a posição filosófica que pressupõe a existência objetiva da realidade externa como uma
realidade racional em si e por si, e que podemos acessá-la por meio da razão, conhecida como razão objetiva.
Devemos entender que há uma diferença entre a realidade e o conhecimento racional que dela temos. Embora a
realidade externa exista em si, só podemos conhecê-la por meio de nossas ideias, certo? Por exemplo, nossa
percepção do mundo exterior, dos lugares e das pessoas a nossa volta é subjetiva e pode ter diversas
interpretações. Essa posição filosófica é chamada de idealismo.
Fechamento
Assim, finalizamos o conteúdo a respeito dos procedimentos racionais. Compreendendo seus principais
componentes e situações.
Nesta aula, você teve a oportunidade de:
• perceber que o homem adquire e testa o conhecimento por meio dos procedimentos racionais;
• ver que esses procedimentos possibilitam avanços em diversas áreas do conhecimento humano;
• compreender a intuição, a dedução, a indução e a abdução;
• identificar a diferença entre o empirismo e o idealismo.
Referências
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. : introdução à filosofia. São Paulo:Filosofando
Moderna, 1993.
CHAUI, Marilena. . São Paulo: Ática, 2000.Convite à Filosofia
COTRIM, G. : História e grandes temas. São Paulo: Saraiva, 2000.Fundamentos da Filosofia
DOYLE, Arthur Conan. . Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 2013.As Aventuras De Sherlock Holmes
D i s p o n í v e l e m : < b o o k s . g o o g l e . c o m . b r / b o o k s ?
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FIQUE ATENTO
O idealismo difere do empirismo pelo fato de o primeiro estar baseado na realidade racional
por meio de nossas ideias, ao passo que o segundo é um procedimento no qual adquirimos
experiência por meio de nossas sensações e sentidos.
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>. Acesso em: 22 jul. 2016.
JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. . 2. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1991.Dicionário básico de filosofia
MICHAELIS. . São Paulo: Melhoramentos, 2009.Dicionário escolar da língua portuguesa
PESSANHA, José Américo Motta. São Paulo: Nova Cultural, 1987.Sócrates – Coleção Os Pensadores. 
ROSA, Guimarães. . 19. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.Grande Sertão: veredas
http://books.google.com.br/books?id=mzcdDAAAQBAJ&pg=PT2&lpg=PT2&dq=as+aventuras+de+sherlock+holmes+sir+arthur+conan+doyle&source=bl&ots=X0NKBUkfnM&sig=zg1ezlO4BT6dpShtczwSPCZ93RM&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwjNtvjPlYfOAhWCGZAKHQOrAOk4FBDoAQghMAE#v=onepage&q=as%20aventuras%20de%20sherlock%20holmes%20sir%20arthur%20conan%20doyle&f=false
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	Introdução
	Intuição
	Razão Discursiva
	Dedução
	Indução
	Abdução
	Diferenças entre empirismo e idealismo
	Empirismo
	Idealismo
	Fechamento
	Referências

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