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TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO Fernanda da Luz Ferrari Funções, habilidades e competências Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Aplicar as funções administrativas na estrutura organizacional. Relacionar as habilidades dos gerentes com as funções administrativas. Reconhecer as competências necessárias ao desenvolvimento das organizações. Introdução Identificar o tipo de estrutura organizacional, o modelo de gestão e o modo como se dá o processo de tomada de decisão favorece a atuação dos gestores. Desse modo, eles desenvolvem habilidades e competências que viabilizam a maximização dos resultados organizacionais. Neste capítulo, você vai ver como as funções administrativas são aplicadas à estrutura organizacional. Também vai ver como as habili- dades dos gerentes se relacionam com as funções administrativas. Por fim, vai conhecer as competências necessárias ao desenvolvimento das organizações. Funções administrativas na estrutura organizacional As estruturas organizacionais compõem os aspectos formais da organiza- ção. Elas sempre estiveram presentes, em função da sua importância para as empresas. Por sua vez, as instituições são organizações que têm em comum uma dimensão administrativa. Quando consideradas no seu aspecto global, elas acabam constituindo um processo administrativo. As etapas do processo administrativo são o planejamento, a organização, a direção e o controle. A seguir, você vai conhecer cada uma delas. Planejamento O planejamento representa a primeira função administrativa. Ele serve de base para as outras funções, antecipando os objetivos que devem ser atingidos (CHIAVENATO, 2014a). Dessa forma, planejar implica determinar os objetivos futuros e a forma como poderão ser alcançados com baixos custos. Observe, na Figura 1, a importância do planejamento no processo administrativo. Figura 1. Planejamento no processo administrativo. Fonte: Chiavenato (2014a, p. 156). O planejamento pode ser desenvolvido nos níveis estratégico, tático e operacional. Veja a seguir. Planejamento estratégico Conforme Oliveira (2003), o planejamento estratégico é o processo admi- nistrativo que proporciona sustentação metodológica para se estabelecer a Funções, habilidades e competências2 melhor direção a ser seguida pela empresa. Essa direção deve atuar de forma inovadora e diferenciada. O planejamento estratégico é desenvolvido a longo prazo e é um processo contínuo na tomada de decisões. Ele envolve a empresa como um todo e comporta seis etapas: 1. determinação de todos os objetivos empresariais; 2. análise de todas as condições ambientais; 3. análise organizacional; 4. alternativas estratégicas; 5. planejamento estratégico; 6. planejamento tático e operacional, por meio do qual o planejamento estratégico é implantado. Planejamento tático Está situado no nível intermediário. Antes dele está o planejamento estratégico e a seguir, o planejamento operacional. É composto por decisões que envolvem aspectos como empreendimentos limitados, áreas menores e níveis mais baixos da hierarquia da organização. De acordo com Oliveira (2003), o planejamento tático é desenvolvido em níveis organizacionais inferiores. Sua principal fi nalidade é a utilização efi ciente dos recursos disponíveis para a consecução dos objetivos previamente fi xados, segundo uma estratégia predeterminada. Além disso, ele considera as políticas orientativas para viabilizar o processo decisório da empresa. Planejamento operacional O planejamento operacional se preocupa com o modo de fazer e com o que fazer. Ele se refere a atividades realizadas a nível operacional. Os planeja- mentos operacionais correspondem a um conjunto de partes homogêneas do planejamento tático. Segundo Oliveira (2003), cada um dos planejamentos operacionais deve detalhar: os recursos necessários para o seu desenvolvimento e a sua implantação; os procedimentos básicos a serem adotados; os produtos ou resultados esperados; os prazos estabelecidos; os responsáveis por sua execução e sua implantação. 3Funções, habilidades e competências Organização A principal função da estrutura organizacional é alcançar os objetivos de- lineados. De acordo com Child (2012), organizar é o processo de ordenar o esforço coletivo de forma a obter um resultado potencialmente superior àquele de indivíduos que agem ou trabalham sozinhos. Para que ocorra o controle e o monitoramento dos objetivos, algumas for- mas hierárquicas surgem de maneira natural e alguns profissionais assumem a liderança das atividades. De acordo com Child (2012), essas manifestações do ato de administrar normalmente são chamadas de “organização”, como na expressão “a organização da companhia XYZ”. Esse termo significa que a forma de organizar usada por uma empresa persiste de maneira reconhecível, pelo menos por algum tempo. As organizações apresentam características processuais, estruturais e definidoras de limites, como você pode ver no Quadro 1. Fonte: Adaptado de Child (2012, p. 6). Estruturais Processuais Entre fronteiras Estrutura básica Hierarquia: níveis, camadas, autoridade, linhas de subordinação Especialização: papéis, grupos e unidades Procedimentos Regras e padrões Cronogramas Sistemas Integração/ coordenação Controle Recompensa Terceirização Organização virtual Alianças Administração entre fronteiras Quadro 1. Componentes da organização As organizações podem apresentar as estruturas a seguir. Estrutura linear: autoridade linear ou única, linhas formais de comu- nicação, centralização das decisões e aspecto piramidal. Estrutura funcional: autoridade funcional ou dividida, linhas diretas de comunicação, descentralização das decisões, ênfase na especialização. Estrutura linha-staff: serviços, consultoria, monitoramento, plane- jamento e controle. Funções, habilidades e competências4 Direção De acordo com Chiavenato (2014b), os estilos de direção dependem das supo- sições que os administradores fazem a respeito do comportamento humano dentro da empresa. Nos anos 1960, o economista Douglas McGregor distinguiu duas concepções acerca da natureza humana, criando a teoria X e a teoria Y. De acordo com Chiavenato (2014b), a teoria X baseia-se em algumas con- cepções e premissas incorretas e distorcidas a respeito da natureza humana. Veja a seguir. O homem é indolente e preguiçoso por natureza. Ele evita o trabalho ou trabalha o mínimo possível em função de recompensas salariais. Falta-lhe ambição, não gosta de assumir responsabilidades e prefere ser dirigido e sentir-se seguro. O homem é fundamentalmente egocêntrico e seus objetivos individuais opõem-se, em geral, aos objetivos da empresa. Sua natureza o leva a resistir à s mudanças, procurar segurança e não assumir riscos que o ponham em perigo. A dependência do homem o torna incapaz de autocontrole e autodisci- plina. Ele precisa ser dirigido e controlado. Segundo a teoria Y: a administração é responsável pela organização dos recursos da empresa (dinheiro, materiais, equipamentos e pessoas) no interesse exclusivo de seus objetivos econômicos; a administração é um processo de dirigir os esforços das pessoas, incentivá -las, controlar suas aç õ es e modificar seu comportamento para atender à s necessidades da empresa; sem a intervenção ativa da direção, as pessoas seriam passivas em rela- ção à s necessidades da empresa ou mesmo resistiriam a elas, portanto as pessoas devem ser persuadidas, recompensadas, punidas, coagidas e controladas; suas atividades devem ser padronizadas e dirigidas em função dos objetivos e necessidades da empresa; como as pessoas sã o basicamente motivadas por incentivos econômi- cos (salários), a empresa deve utilizar a remuneração como meio de recompensa (para o bom trabalhador) ou punição (para o empregado que não se dedica à sua tarefa). 5Funções, habilidades e competências Controle O controleobjetiva medir, corrigir e regular o desempenho para assegurar a realização dos objetivos e planos das etapas anteriores, de planejamento, organização e direção. Controle estratégico Conforme Chiavenato (2003), o controle estratégico é caracterizado pelo seu aspecto cíclico e repetitivo. O primeiro passo é estabelecer padrões e objetivos a serem alcançados. Existem vários tipos de padrões para avaliar e controlar os diferentes recursos da organização, como você pode ver a seguir. Padrões de quantidade: números de colaboradores, etc. Padrões de qualidade: padrões de qualidade da produção, etc. Padrões de tempo: permanência média do colaborador na organização, etc. Padrões de custo: custo de estocagem de matérias-primas, etc. Controle tático Envolve aspectos menos globais, é orientado a médio prazo e é decidido a nível intermediário. Controle operacional É mais específi co e orientado a curto prazo, atuando sobre a execução das tarefas e atividades a nível operacional. No livro Estrutura Organizacional: uma abordagem para resultados e competitividade (OLIVEIRA, 2014), você pode aprender mais sobre a estrutura organizacional. Como você viu, ela é um instrumento administrativo amplamente utilizado como fator de sustentação da produtividade e do desenvolvimento das organizações. Funções, habilidades e competências6 Os gerentes e as funções administrativas Algumas habilidades são associadas ao sucesso gerencial. Com o passar do tempo, elas devem ser aprimoradas pelos gerentes para que todos os objetivos sejam atendidos. No entanto, ao abordar as habilidades no trabalho gerencial, Mintzberg (2010) demonstra que não basta pensar nas competências necessárias ao gerente. É preciso levar em consideração o que ele denomina mentalidades gerenciais. As mentalidades gerenciais são a maneira com que um gerente percebe, interpreta e lida com o ambiente no qual está inserido. Mintzberg (2010) propõe uma estrutura que viabilize a eficácia do trabalho gerencial em contexto. Essa estrutura apresenta cinco fios, que podem ser compreendidos como as mentalidades gerenciais. Esses fios estão apresentados na Figura 2 por meio de um nível pessoal que se conecta a um nível social e de um nível conceitual (fio reflexivo) que se conecta a um nível concreto (fio proativo). Dessa forma, ao analisar a eficácia de um gerente no seu contexto de trabalho, você deve compreender a interligação desses fios, bem como a correlação ou integração entre todos os fios da estrutura. Figura 2. Eficácia gerencial em contexto. Fonte: Mintzberg (2010). No mundo contemporâneo, o contexto empresarial exige dos gestores ha- bilidades que vão além da interligação dos fios. Ele exige que os profissionais desenvolvam e aprimorem pessoas. Na era informacional e tecnológica, as pessoas devem ser vistas como um patrimônio intangível. Elas precisam ser 7Funções, habilidades e competências constantemente motivadas e reconhecidas para que possam transformar o conhecimento em recursos tangíveis para a organização (STADLER, 2014). A empresa e os gestores devem perceber os profissionais como parceiros do negócio. É preciso gerenciar com as pessoas por meio de uma gestão participativa, reconhecendo e motivando os profissionais que conduzem a organização no dia a dia. Mas, afinal, de que forma os gestores podem aplicar as suas habilidades no dia a dia da empresa? A seguir, você pode ver algumas respostas a essa pergunta. Eliminando velhas estruturas organizacionais: é preciso acabar com a rigidez e desburocratizar a organização, excluir as comunicações formais e flexibilizar a empresa para que ela funcione melhor. Mudando a cultura organizacional: por meio da implantação de um espírito democrático, proporcionando mais suporte aos profissionais e motivando a equipe, uma nova cultura pode ser construída. Trabalhando de portas abertas: a gestão deve ser transparente, incor- porando os profissionais nas tomadas de decisão. É preciso ter coerência entre discurso e prática. Eliminando o desnecessário: o gestor deve ser objetivo e direcio- nar o seu tempo para questões importantes e prioritárias, que gerem resultados. Mudando: mudanças são processos constantes nas organizações, prin- cipalmente diante de mercados tão competitivos. Trabalhando em equipe: é preciso saber escolher. O gestor deve es- colher sua equipe e gerenciar com ela. Uma equipe deve ter compro- metimento, cooperação e dedicação. Liderando: no gerenciamento de pessoas, é fundamental liderar e também decidir qual tipo de liderança deve ser utilizada para que as metas e os objetivos sejam alcançados e para que todos os membros da equipe sejam recompensados por suas atividades e sua dedicação. Mas você sabe quais são os três tipos de liderança mais utilizados pelos gestores? Veja a seguir. ■ Liderança autocrática: de acordo com Chiavenato (2014b), o líder fixa as diretrizes sem qualquer participação do grupo e impõe as ordens para a execução das tarefas. ■ Liderança liberal: nesse estilo de liderança, os subordinados têm completa liberdade para tomar decisões e muitas vezes as atividades se desenvolvem de forma pouco produtiva. ■ Liderança democrática: o líder envolve o grupo na tomada de deci- sões, apoia, orienta e explica. Funções, habilidades e competências8 Para aprender mais sobre o assunto deste capítulo, leia O monge e o executivo: uma história sobre a essência da liderança (HUNTER, 2004). Competências necessárias ao desenvolvimento das organizações Os recursos, por si só, não trazem resultados para uma organização. É preciso que sejam aplicados por profi ssionais que administrem de forma correta, com competência, para que o sucesso seja alcançado. Fleury (2002, p. 55) propõe que competência consiste no “[...] saber agir responsável e que é reconhecido pelos outros. Implica saber como mobilizar, integrar e transferir os conhecimentos, recursos, habilidades, [...] [agregando] valor econômico à organização e valor social ao indivíduo [...]”. Carbone (2013) corrobora: uma competência resulta da mobilização, por parte do indivíduo, de uma combinação de recursos ou insumos. Para ele, a pessoa expressa a competência quando gera resultado no trabalho, o que decorre da aplicação conjunta de conhecimento, habilidades e atitudes. Na Figura 3, você pode ver como a aplicação sinergética de atitudes, habili- dades e conhecimentos acaba gerando um desempenho profissional adequado, expresso por comportamentos produtivos no ambiente de trabalho. Figura 3. Fontes de valor para o indivíduo e para a organização. Fonte: Adaptada de Fleury (2002). 9Funções, habilidades e competências Competências essenciais As competências essenciais, de acordo com Chiavenato (2014b), apresentam quatro características básicas. Veja a seguir. 1. Proporcionam forte vantagem competitiva, que alavanca o negócio da empresa e a destaca dos demais concorrentes. 2. Constituem os fatores crí ticos do sucesso empresarial. Um fator crítico é aquele que, se nã o estiver presente, inviabiliza o sucesso. 3. São singulares, específicas e próprias da empresa. Definem aquilo que a empresa sabe fazer melhor do que as outras. Em outras palavras, caracterizam e identificam a empresa no mercado. 4. São de difícil imitação pelas demais empresas. A sua complexidade decorre do fato de que são criadas, desenvolvidas, integradas e arti- culadas de maneira própria. Dificilmente as outras empresas podem copiá-las. Seu arranjo também é singular e próprio de cada empresa. Aprenda mais sobre o conceito de competência lendo o artigo disponível no link ou no código a seguir. https://goo.gl/6vvj Quando uma competência atende diretamente à s demandas dos diferentes stakeholders, diz-se que ela é uma competência essencial ou central. O impacto de uma competência essencial manifesta-se em três aspectos competitivos da organização, descritos a seguir. 1. Valor percebido: as competências essenciais são aquelasque permitem a oferta de benefícios fundamentais para os clientes. Constituem o valor do produto ou serviço, ou seja: o que o comprador está realmente pagando, quanto ele está disposto a pagar a mais para ter acesso aos benefícios e qual é a hierarquia de valor que o cliente tem em relação aos benefícios oferecidos. Os benefícios fundamentais nem sempre sã o Funções, habilidades e competências10 percebidos, porque o cliente tem sua atenção voltada para benefícios adicionais, como descontos ou propaganda. 2. Diferenciação dos concorrentes: a competência essencial é sempre singular e diferente em relação à concorrência. Ela permite que a em- presa se distancie ou se diferencie dos competidores. É o caso de marca, tradição, serviços adicionais, curva de aprendizado, acessos únicos ou gestão além dos parâmetros do setor. 3. Capacidade de expansão: a competência essencial permite que a empresa ingresse com sucesso em novos segmentos de produtos/serviços. Ela ofe- rece novas oportunidades à empresa pois apresenta uma forç a competitiva que viabiliza a oferta de novos produtos e serviços gerados a partir dela. Neste capítulo, você viu a importância das funções administrativas no dia a dia da empresa. Também estudou o desenho organizacional por meio dos tipos de organi- zação e das características e habilidades dos gestores. CARBONE, P. P. Gestão por competências, caminho certo para o sucesso. 2013. Disponível em: <https://ubq.org.br/2013/07/15/gestao-por-competencias-caminho-certo-para-o- -sucesso/>. Acesso em: 08 out. 2018. CHIAVENATO, I. Administração: teoria, processo e prática. 5. ed. São Paulo: Manole, 2014. CHIAVENATO, I. Comportamento organizacional: a dinâmica do sucesso das organizações. 5. ed. São Paulo: Manole, 2014. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. Rio de Janeiro: Elsevir, 2003. CHILD, J. Organização: princípios e pratica contemporâneos. São Paulo: Saraiva,– 2012. FLEURY, M. T. L. A gestão de competência e a estratégia organizacional. In: FLEURY, M. T. (Coord.). As pessoas na organização. São Paulo: Gente, 2002. MINTZBERG, H. Managing: desvendando o dia a dia da gestão. Porto Alegre: Bookman, 2010. 11Funções, habilidades e competências OLIVEIRA, D. P. R. Estrutura organizacional: uma abordagem para resultados e compe- titividade. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. OLIVEIRA, D. P. R. Planejamento estratégico: conceitos, metodologias e práticas. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2003. STADLER, A. Gestão de pessoas: ferramentas estratégicas de competitividade. Curitiba: InterSaberes, 2014. Leituras recomendadas FLEURY, M. T. L.; FLEURY, A. Construindo o conceito de competência. RAC, ed. esp, p. 183-196, 2001. HUNTER, J. C. O monge e o executivo: uma história sobre a essência da liderança. Rio de Janeiro: Sextante, 2004. Funções, habilidades e competências12 Conteúdo:
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