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Câncer de próstata O câncer de próstata, na maioria das vezes, não é um câncer letal. A maioria dos homens morre com câncer de próstata, mas não de câncer de próstata. A mediana é de 60 anos. No Brasil, é o câncer mais comum no homem (excluindo os tumores de pele não melanoma). É o 2º câncer em mortalidade no homem, primeiro pul- mão, depois cólon. A dosagem do PSA permite a detecção precoce durante a fase assintomática, mas atualmente a re- comendação é que não se faça (INCA). Adenocarcinoma de próstata: câncer mais comum no homem. 2º câncer em mortalidade. Fatores de risco Idade (> 60 anos) Raça negra História familiar Dieta rica em gorduras Obesidade Testosterona Mutações BRCA-1 e BRCA-2 Mutação HPC-1 (raro) IGF-1 Tabagismo e etilismo: não são fatores de risco para a doença, mas o tabagismo aumenta a mortalidade. História de DST e prostatite: também não são fato- res de risco. ETIOPATOGÊNESE Genes relacionados: TMPRSS2 e ERG. • Polimorfismos no gene do receptor de androgê- nio. Mesmo na ausência de androgênios circulan- tes, o receptor se mantém ativado. Alterações epigenéticas: hipermetilação do gene GSTP1 (praticamente em 100% dos casos). História familiar: 85% dos cânceres de próstata são esporádicos, mas nos 15% restantes o risco aumenta muito em função do número de familiares acometi- dos, grau de parentesco e idade em que a doença ocorreu. Testosterona: o tumor é estimulado pela testoste- rona, mas esse hormônio não é a causa do tumor. Em tumores avançados, pode-se utilizar inibidor da tes- tosterona para diminuir o crescimento excessivo. Dieta: rica em gordura e carne vermelha. Obesidade. Fatores de proteção Soja. Licopenos: tomate, melancia, toranja, damasco, ma- mão, caqui, goiaba vermelha. Suplementos dietéti- cos: Licovit® e Tomat®. Magnésio: castanha do Pará. PATOLOGIA Adenocarcinoma acinar: 95%. Sarcomas, linfomas, carcinoma epidermóide: 5%. ORIGEM: zona periférica: 70%. Nas células malignas da próstata, a camada ex- terna das células basais está tipicamente ausente. O grande achado patognomônico de CA de próstata na biópsia é a presença de invasão perineural. A lesão provavelmente precursora do adeno- carcinoma de próstata é o HGPIN (high grade pros- tatic intraepitelial neoplasia). Proliferação atípica de pequenos ácinos (ASAP): é uma dúvida, requer repetição de biópsia. Grau histológico: Escore de Gleason Classifica a citoarquitetura (arranjo glandular) em 5 graus distintos, sendo o 1 o mais diferenciado e o 5 o menos diferenciado. O escore é dado pela pontuação do padrão do- minante + pontuação do padrão secundário (4 + 3 é diferente de 3 + 4). O escore, logo, varia de 2 a 10. Escore de Gleason Bem diferenciado Gleason 2-4 Intermediário Gleason 5-7 Pouco diferenciado Gleason 8-10 • Tumores com Gleason 2-4 tipicamente são acha- dos incidentais em material de RTU de próstata durante o tratamento da HPB. A maioria dos tu- mores detectados pelo screening com PSA é Gleason 5-7. • Um Gleason ≥ 8 se associa a tumores avançados com baixa probabilidade de cura. Formas de disseminação do adenocarcinoma Local: vesículas seminais, base da bexiga. Linfática: cadeia ilíaca-obturatória. Hematogênica: preferencialmente esqueleto axial. As metástases ósseas em geral são osteoblásticas (radiopacas no RX simples). O achado, em um RX, de lesão osteoblástica em ho- mem com > 50 anos é muito sugestivo de câncer de próstata. Sítios mais comuns de metástase à distância: coluna lombar ➜ fêmur proximal ➜ pelve ➜ coluna torá- cica ➜ costelas. HISTÓRIA NATURAL Por conta do screening, a maior parte dos paci- entes recebe o diagnóstico quando ainda é assinto- mática, com um tumor de pequeno volume restrito à zona periférica (onde se origina 70% das vezes). O tumor pode existir de forma latente ou pro- gredir na próstata. Os tumores de baixo grau e mo- deradamente diferenciado permanecem latentes por muito tempo, sem necessidade de tratar. Quando progride, pode invadir os tecidos adja- centes: vesículas seminais, colo vesical, tecidos lin- fáticos (cadeia ilíaca-obturatório). A metástase à distância se faz principalmente para os ossos: bacia, coluna, fêmur, costelas, crânio. Pode levar a uma paraplegia com o comprometi- mento da medula. Quadro clínico • Assintomático. • Sintomas da HPB (pela idade) – de esvaziamento: hesitação, jato intermitente, gotejamento termi- nal. A coexistência de hematúria e hematoesper- mia não é comum na HPB, e deve levantar a sus- peita de câncer de próstata. • Estadiamento mais avançado: sintomas urinários. • Disseminação linfática locorregional: edema de membros inferiores, desconforto pélvico ou pe- rineal. • Metástases esqueléticas: dor óssea crônica e/ou aguda (fratura patológica). Pode ocorrer uma sín- drome de compressão epidural da medular espi- nhal: paraplegia, nível sensitivo, distúrbio esfinc- teriano. RASTREAMENTO Não existe evidência definitiva de que os bene- fícios sejam maiores que os riscos (grande parte dos tumores permanece latente pelo resto da vida do paciente). Muitos indivíduos que recebem o diag- nóstico não iriam evoluir com o câncer invasivo e re- cebem muitos malefícios pelo tratamento. O PSA e o toque retal parecem insensíveis para detecção precoce dos tumores agressivos: é possível que os tumores agressivos só estejam sendo diag- nosticados pelo screening quando a doença já se tornou incurável. INCA Não recomenda devido à falta de evidências de benefício. Homens que querem fazer devem ser ori- entados quanto aos riscos e benefícios, podendo op- tar por realiza-lo. Sociedade Brasileira de Urologia • Screening com PSA + toque retal. • Deve ser feito em todos os homens entre 50-75 anos, desde que a expectativa de vida seja > 10 anos. • Se alto risco (negros, história familiar), começar aos 45 anos. TR positivo indica biópsia, independente do PSA. PSA > 10 ng/mL: biópsia direto. PSA entre 4-10 ng/mL: • Biópsia direto ou • Dosar relação PSA livre/PSA total ➜ biópsia se relação < 25%. • Se biópsia negativa, PSA livre/PSA total após 6- 12 meses. PSA < 4 ng/mL: avaliar velocidade de aumento do PSA. • Se > 0,75 ng/mL = biópsia. • Se < 0,75 ng/mL = acompanhamento anual. DIAGNÓSTICO Toque retal alterado + PSA elevado = biópsia trans- retal guiada por USG. Toque retal Só detecta lesões mais periféricas, localizadas nas faces lateral e/ou posterior da glândula (70% das lesões). TR positivo: modularidade, enduração ou assimetria lobar acentuada. Antígeno Prostático Específico (PSA) É próstata-específico, não câncer-específico. Está aumentado em condições não neoplásicas tam- bém. Esse antígeno faz a liquefação do esperma. • Nunca deve ser feito logo após uma biópsia. Elevam o PSA HPB, câncer, prostatite, manipula- ção da próstata, retenção urinária, ejaculação, trauma pélvico, biópsia e raça negra. Diminuem o PSA Alívio de retenção urinária e inibi- dores da 5-alfa-redutase* *A relação PSA livre/PSA total não é alterada pelos i5-AR. Nas patologias benignas da próstata, o PSA costuma ficar entre 4-10 ng/mL. UTILIDADE: detecção precoce do câncer, estadia- mento, seguimento sem tratamento dos tumores menores agressivos: watchfull waiting, após trata- mento (Cx, Rt ou hormonioterapia). DENSIDADE DO PSA PSAD = PSA (ng)/peso da próstata(g) < 0,12: provavelmente HPB. > 0,12: risco de câncer. VELOCIDADE DO PSA • Se o PSA aumenta 0,75 ng/mL ou 20% ao ano, o risco de câncer é maior (importante se PSA entre 4-10 ng/mL). • 0,35 ng/mL/ano se PSA ≤ 2.5 ng/mL PSA livre: somente deve ser feito se PSA ou TR esti- verem alterados. • Quanto menos PSA livre, maior o risco de câncer. • Relação PSA livre/PSA total < 25% indica biópsia. Parâmetro Valor normal Densidade do PSA < 0,12 Velocidade do PSA < 0, 75 ng/mL ou < 20% PSA livre/total > 25%Biópsia transretal da próstata guiada por USG Confirmação histopatológica do diagnóstico de Ca. Na USG, o câncer de próstata é hipoecoico em 60% das vezes, isoecoico em 39% e hiperecoico em 1%. • Área hipoecogênica na ZP é a característica típica do câncer de próstata na USG. ESCORE DE GLEASON (2-10) 2-4: baixo grau/bem diferenciado. 5-7: intermediário. 8-10: alto grau/indiferenciado. ESTADIAMENTO Sistema TNM T1: toque retal negativo. T1a: ≤ 5% do tecido ressecado. Provavelmente não necessitará de prostatectomia. T1b: > 5% do tecido ressecado (como uma RTU). T1c: só PSA elevado. T2: doença restrita à próstata, nódulo palpável. T2a: tumor acomete menos da metade de 1 lobo. T2b: tumor acomete mais da metade de 1 lobo. T2c: tumor acomete os dois lobos. T3: invasão local. T3a: infiltração de 1 lado. T3b: infiltração de 2 lados. T3c: invasão da vesícula seminal. T4: extensão para órgãos adjacentes. No toque retal, encontramos uma próstata pétrea. T4a: colo vesical. T4b: estruturas pélvicas. N: linfonodos da cadeia ilíaca-obturatória. A tomo- grafia com contraste é utilizada, ou então a RNM multiparamétrica. Nx: não avaliados. N0: sem metástases. N1: 1 linfonodo < 2 cm. N2: vários < 5 cm. N3: > 5 cm M: metástases. Tem que fazer cintilografia óssea. Mx: não avaliado. M0: sem metástases. M1: metástases presentes. M1a: esqueleto axial. M2a: demais ossos. USG Não tem sensibilidade e especificidade boa, mas pode auxiliar no mapeamento. Não é a melhor esco- lha para avaliar comprometimento extra-prostático. TC de abdome e pelve Pouco sensível para avaliar extensão extra- prostática e envolvimento das vesículas seminais, mas boa para avaliar comprometimento linfático. Quando solicitar? • Pacientes com maior risco de disseminação lin- fática, como Gleason alto (≥ 8), PSA elevado (> 20 ng/mL) e que apresentam tumores T3/T4. RNM multiparamétrica Método de escolha para avaliar extensão extra- prostática e o envolvimento das vesículas seminais pelo tumor. Também para definir necessidade de biópsia, estadiamento, acompanhamento com ou sem trata- mento. Na RNM, o tecido neoplásico fica hipointenso, em contraste com o tecido glandular, que é hiperin- tenso. Cintilografia óssea Método mais sensível para detecção de metás- tases esqueléticas do câncer de próstata (o RX só al- tera em fases tardias). Em quem fazer? • PSA > 20 ng/mL. • Gleason ≥ 8. • Tumor T3/T4. • Sintomas de metástase óssea. PROGNÓSTICO • Estadiamento. • Grau histológico. • Volume tumoral. • PSA. • Ploidia. • Fosfatase ácida no sangue. Indica que a doença está extra-prostática (invasão local ou metás- tase). • Pacientes com CA de baixo risco têm pouca pro- babilidade da apresentar doença metastática. • Considerar imagem óssea e TC se PSA > 20, Gleason ≥ 8, T3/T4. • TC não parece ser benéfica em pacientes com aumento de PSA isolado. TRATAMENTO Conduta expectante/observação vigilante Ideal para pacientes que possuem curta expec- tativa de vida (< 10 anos), mais de 75 anos, particu- larmente na vigência de níveis não tão altos de PSA, Gleason baixo (2-4) e lesão de pequeno volume. • TR e dosagem de PSA a cada 6 meses. • Repetição da biópsia se aumento do PSA. Prostatectomia radical Remoção completa da próstata e das vesículas seminais. Pode ser feita por via retropúbica aberta (mais comum), videolaparoscópica ou robótica (me- nor perda de sangue e recuperação pós-OP mais rá- pida). Faz-se junto a linfadenectomia da cadeia ilí- aco-obturatória. Deve-se tentar preservar o feixe neurovascular posterolateral da próstata, que é por onde passam os nervos cavernosos responsáveis pela ereção pe- niana. A ressecção tem chance de tornar o paciente impotente. Também se deve evitar lesar o esfíncter uriná- rio externo para preservar a continência urinária. Pode ser feita Rt adjuvante após 6 semanas do pós-OP. Indicações: T1b/c, T2 e alguns casos de T3. Complicações: disfunção erétil, incontinência uri- nária, sangramento, estenose. Radioterapia Indicada para pacientes de alto risco cirúrgico. • Doença clinicamente localizada. • T3, T4. • Expectativa de vida compatível. • Ausência de alterações no trato urinário e colo- retal. • Complicações: cistite e retite actínica. Braquiterapia: implante de sementes radioativas (bem caro). Casos de melhor indicação são de paci- entes com idade avançada e neoplasias de baixo risco. Tratamento hormonal Na vigência de metástases, a cura pela cirur- gia/radioterapia não é mais possível. Para esses pa- cientes, é importante a terapia hormonal de forma a diminuir o crescimento do tumor. ORQUIECTOMIA BILATERAL: padrão ouro. ESTRÓGENOS: dietiletilbestrol 1-5 mg/dia. • Efeitos adversos: ginecomastia, retenção hídrica, tromboembolismo, AVC. ANÁLOGOS DO LH-RH: leuprolide, nafarelin, tripto- relin. Diminui a secreção de FSH e LH, que induzem a produção de testosterona pelos testículos. ANTIANDRÓGENOS: flutamida, bicalutamida, nilu- tamida VO diariamente. São bloqueadores do recep- tor de androgênio. Possuem menos chance de de- privação androgênica que os análogos do GnRH. Localizado ou restrito à próstata (T1 e T2): Cx ou Rt. Localmente avançado (T3 e T4): Cx, Rt, hormonal. Metastática: paliativa, hormonal, Qt, bisfosfonados. Sobrevida no CA de próstata 5 anos (doença localizada) 99% 10 anos (doença localizada) 98% 5 anos (doença metastática) 30%
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