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FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL PROFESSOR (A): COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 2 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 SUMÁRIO 1 CONCEPÇÕES DE CRIANÇA DA EDUCAÇÃO INFANTIL .......................... 03 2 EXPANSÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL .................................. 05 2.1 Breve história da criança ............................................................................... 05 2.2 Legislação para as crianças .......................................................................... 07 3 INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL ................................................... 11 3.1 Educar ............................................................................................................ 11 3.2 Cuidar ............................................................................................................. 12 3.3 Objetivos da Educação Infantil ...................................................................... 13 3.4 Funções e atribuições do professor de Educação Infantil ............................ 16 4 CONTEÚDOS E PROCEDIMENTOS DIDÁTICO-METODOLÓGICOS ......... 20 4.1 Movimento ...................................................................................................... 20 4.2 Música ............................................................................................................ 22 4.3 Artes visuais ................................................................................................... 24 4.4 Linguagem oral e escrita................................................................................ 27 4.5 Natureza e sociedade .................................................................................... 30 4.6 Matemática ..................................................................................................... 31 REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS ............................................ 34 INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 3 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 1 CONCEPÇÃO DE CRIANÇA DA EDUCAÇÃO INFANTIL Segundo João Gomes Pedro (2004) ser criança é uma questão que tem de ser entendida, no nosso milênio e na nossa civilização, como o grande desafio da nossa existência impondo, eticamente, uma responsabilidade de atitude a todos os cidadãos do mundo. A criança é razão de ser do mundo e, mais do que isso, representa o futuro desse mundo, portanto, tomamos as palavras de João Gomes Pedro para iniciar nossos estudos sobre a educação da criança. Pensar em futuro, qualquer que seja a dimensão considerada, tanto em termos científicos como morais, obriga a pensar na criança e, sobretudo, obriga a refletir se o que hoje investimos na criança é suficiente para garantir o melhor do seu porvir que é, por acréscimo, o do seu mundo (PEDRO, 2004). A criança é um sujeito social e histórico que está inserido em uma sociedade na qual partilha de uma determinada cultura. É profundamente marcada pelo meio social em que se desenvolve, mas também o marca. A criança tem na família, biológica ou não, um ponto de referência fundamental, apesar da multiplicidade de interações sociais que estabelece com outras instituições sociais (BRASIL, 1994). No dicionário Aurélio, infância é considerada como período de crescimento no ser humano, que vai do nascimento à puberdade (FERREIRA, 2005). Para o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no seu artigo 1º, criança é a pessoa até 12 anos de idade incompletos e adolescente é aquela entre 12 e 18 anos. Na análise de Kuhlmann (1998), a infância tem um significado genérico e, como qualquer outra fase da vida, esse significado se dá em função das transformações sociais, culturais e econômicas. A concepção de criança é uma noção historicamente construída e consequentemente vem mudando ao longo dos tempos, não se apresentando de forma homogênea nem mesmo no interior de uma mesma sociedade e época. Assim é possível que, por exemplo, em uma mesma cidade existam INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 4 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 diferentes maneiras de se considerar as crianças pequenas dependendo da classe social a qual pertencem, do grupo étnico do qual fazem parte. Boa parte das crianças pequenas brasileiras enfrenta um cotidiano bastante adverso que as conduz desde muito cedo a precárias condições de vida e ao trabalho infantil, ao abuso e exploração por parte de adultos. Outras crianças são protegidas de todas as maneiras, recebendo de suas famílias e da sociedade em geral todos os cuidados necessários ao seu desenvolvimento. Essa dualidade revela a contradição e conflito de uma sociedade que não resolveu ainda as grandes desigualdades sociais presentes no cotidiano (BRASIL, 1998). Olhar a criança como ser que já nasce pronto, ou que nasce vazio e carente dos elementos entendidos como necessários à vida adulta ou, ainda, a criança como sujeito conhecedor, cujo desenvolvimento se dá por sua própria iniciativa e capacidade de ação, foram, durante muito tempo, concepções amplamente aceitas na Educação Infantil até o surgimento das bases epistemológicas que fundamentam, atualmente, uma pedagogia para a infância. Os novos paradigmas englobam e transcendem a história, a antropologia, a sociologia e a própria psicologia resultando em uma perspectiva que define a criança como ser competente para interagir e produzir cultura no meio em que se encontra. Essa perspectiva é hoje um consenso entre estudiosos da Educação Infantil (BONDIOLI e MANTOVANI, 1998; CAMPOS ET AL., 1993; ROSSETTI-FERREIRA, 1993). A interação a que se referem os autores citados não é uma interação genérica, como veremos na apostila sobre as Teorias Pedagógicas. Trata-se de interação social, um processo que se dá a partir e por meio de indivíduos com modos histórica e culturalmente determinados de agir, pensar e sentir, sendo inviável dissociar as dimensões cognitivas e afetivas dessas interações e os planos psíquico e fisiológico do desenvolvimento decorrente (VYGOTSKI, 1986 e 1989). Nessa perspectiva, a interação social torna-se o espaço de constituição e desenvolvimento da consciência do ser humano desde que nasce (VYGOTSKI, 1991). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 5 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 2 EXPANSÃO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NO BRASIL 2.1 Breve história da criança Vamos partir do pressuposto de que criança e infância foram social e historicamente construídas. Pois bem, tomando por base o século XVI, encontramos a partir daí, a evolução dos direitos das crianças e que o estatuto da criança dentro do seu núcleo familiar estava ligado ao poder sem limites dos pais sobre os filhos. Enquanto categoria social, as crianças não estavam separadas dos adultos, não havia diferenciação entre as necessidades dos adultos e das crianças. Foi só a partir do século XVI que se iniciam mudanças com relação à posição e estatuto da criança com relação aos adultos: (...) atitudes associadas à sobrevivência, proteção e educação das crianças, que gradualmente se foram fortalecendo durante os séculos XVII e XVIII, começaram a permitir e delinear um espaço social destinado às crianças, no qual já é possível salvaguardar algumas das suas necessidades e direitos (SOARES, 1997 apud FULLGRAF, 2001). No século XIX, a contribuição de diversas ciências, como a pedagogia, a psicologia, a medicina, marca uma relativa separação das crianças com relação aos adultos, enquanto uma categoria social, principalmente nos aspectos relacionados à necessidade de proteção. Estas novas tendências, no início do século XX, são marcadas por uma concepção (...)de que as crianças eram as fontes humanas essenciais, de cuja dimensão maturacional iria depender o futuro da humanidade (FULLGRAF, 2001). Neste contexto, a inglesa Eglantine Jebb foi pioneira do movimento de defesa dos direitos da criança no início do século, defendendo que as crianças são vítimas dos custos das guerras, das repressões políticas, das contingências econômicas e sociais, entre outras. A luta encaminhada por Jebb gerou uma onda de solidariedade, iniciando o movimento de defesa dos direitos das crianças. Esse movimento internacional teve como consequência a elaboração da 1ª Declaração dos Direitos da Criança: a “Declaração de INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 6 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Genebra” em 1923. No contexto do pós guerra mundial, as preocupações com os direitos das crianças tornam-se mais relevantes, dadas as graves condições de carência e pobreza em que a Europa se encontrava. Assim, em 1946 é fundado o “Fundo das Nações Unidas para a Infância”, o UNICEF, que segundo Soares (1997) é o organismo que irá desempenhar um papel fundamental na defesa dos direitos das crianças. A partir da aprovação em 1948 da “Declaração Universal dos Direitos do Homem”, os países subscritos expressam a necessidade de um conjunto de direitos adicionais que atendam às necessidades específicas relacionadas às crianças. A “Declaração Universal dos Direitos das Crianças” foi promulgada em 1959 e adotada por unanimidade pela Assembleia Geral das Nações Unidas. A Declaração constitui um conjunto de princípios, que expressam alguns aspectos inovadores, além da proteção das necessidades primárias, como no texto da declaração anterior. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS 1. Direito à igualdade, sem distinção de raça, religião ou nacionalidade; 2. Direito à especial proteção para seu desenvolvimento físico, mental e social; 3. Direito a nome e a uma nacionalidade; 4. Direito à alimentação, moradia e assistência médica adequadas para a criança e para a mãe; 5. Direito à educação e a cuidados especiais para criança física ou mentalmente deficiente; 6. Direito ao amor e à compreensão por parte dos pais e da sociedade; 7. Direito à educação gratuita a ao lazer infantil; 8. Direito a ser socorrido em primeiro lugar, em caso de catástrofes; 9. Direito a ser protegido quanto ao abandono e à exploração no trabalho; 10. Direito a crescer dentro do espírito de solidariedade, compreensão, amizade e justiça entre os povos. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 7 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 No início dos anos 1970, dez anos após a declaração universal, torna-se mais intensa a discussão em torno da necessidade de formular uma Convenção das Nações Unidas para que os direitos das crianças tivessem eco na lei internacional e ultrapassassem as fronteiras de uma declaração. Assim, os Estados comprometer-se-iam com obrigações específicas. Acontece então, em 1989, a “Convenção dos Direitos da Criança” composta de 54 artigos que incorporam (...) uma diversidade de direitos, desde direitos civis, econômicos, sociais e culturais, incluindo os direitos mais básicos como o direito à vida, à saúde, à alimentação, e a educação (...)(SOARES, 1997, p. 81). A “Convenção” teve por objetivo reunir em um único documento as diferentes medidas internacionais de proteção à criança, representando um forte instrumento inovador, internacionalmente reconhecido, dos direitos das crianças, sendo assim um marco fundamental no percurso da construção e definição de um estatuto digno para todas as crianças (FULLGRAF, 2001). 2.2 Legislação para as crianças No decorrer da evolução descrita acima, legislações foram implementadas. No caso do Brasil, a Lei 8.069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente, traduzindo o resultado da crescente valorização que a infância tem assumido e, consequentemente, a necessidade de efetivação de um conjunto de direitos, colocando toda criança brasileira no mesmo patamar de direitos. Entretanto, apesar da luta social por direitos e da declaração desses direitos, as desigualdades contra as crianças vêm aumentando: (...) as desigualdades e a discriminação contra as crianças não apenas não acabaram nestes anos em que a Convenção foi aclamada por muitos países como um novo signo de civilização e de progresso, como estão atualmente em crescimento (SARMENTO E PINTO, 1997). A Constituição Federal de 1988 também trouxe novas definições legais para a educação infantil: creches e pré-escolas passam a desempenhar funções básicas de educar e cuidar de forma complementar à ação da família. Segundo Craidy (2000, p. 65), a Constituição traz também uma nova doutrina com relação às crianças e aponta diretrizes para seu atendimento. Ela INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 8 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 marca o surgimento, na legislação brasileira, de um novo paradigma sobre a infância, em que a criança passa a ser sujeito de direito e não apenas objeto de tutela como era na legislação anterior. É afirmação da cidadania da criança (...) entre os direitos da criança estão o de receber atendimento em creches e pré- escolas caracterizadas na carta constitucional como instituições educacionais enquanto são parte do dever do Estado para com a educação. A Constituição, ao considerar a educação como um direito universal, proclama em seu artigo 205 que a educação é um direito de todos, e, especificamente, no artigo 208, que a educação é um direito das crianças de zero a seis anos. Portanto, com relação à assistência e educação das crianças pequenas, estes artigos tratam a questão sob o signo do direito. Ainda do ponto de vista da Constituição, podemos destacar que ela rompeu com a concepção de que a educação infantil é uma falta que deve ser compensada por ações de amparo e de assistência, de que é um vácuo que precisa ser preenchido, trazendo no seu bojo o dever do Estado em oferecer educação infantil, e o direito da criança a este atendimento (...). A Constituição incorporou a si algo que estava presente no movimento da sociedade e que advinha do esclarecimento e da importância que já se atribuía à educação infantil. Caso isto não estivesse amadurecido entre lideranças e educadores preocupados com a educação infantil, no âmbito dos estados membros da federação, provavelmente não seria traduzido na Constituição de 88. Ela não incorporou esta necessidade sob o signo do Amparo ou da Assistência, mas sob o signo do Direito, e não mais sob o Amparo do cuidado do Estado, mas sob a figura do Dever do Estado. Foi o que fez a Constituição de 88: inaugurou um Direito, impôs ao Estado um Dever, traduzindo algo que a sociedade havia posto (CURY, 1998, p. 11). Nesse sentido, a nova Constituição representa para a educação infantil a conquista de uma legitimidade legal e para as crianças, a conquista de direitos específicos que não sejam aqueles relacionados ao direito da família. Os direitos das crianças reconhecidos no “papel” garantem um avanço jurídico, no entanto os resultados desse avanço necessitam ser traduzidos em ações INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 9 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 concretas no campo das políticas sociais para a infância brasileira (FULLGRAF, 2001). Voltemos ao ECA, criado pela Lei 8.069, de 13 de julho de 1990, passando a sociedade a dividir com o Estado, pelo menos do ponto de vista da legislação, a responsabilidade pela construção de um mundo melhor para a infância. O ECA enquanto norma jurídica colocou crianças e adolescentes como prioridade absoluta na ação do Estado e da Comunidade, marcando a expressão dos novos direitos.Acredita-se que, mais do que regulamentar as conquistas em favor das crianças e dos adolescentes na Constituição Federal, esta Lei veio promover um importante conjunto de avanços que extrapola o campo jurídico, desdobrando-se e envolvendo outras áreas da realidade política e social no Brasil. A história da Política Nacional para a Educação Infantil acompanha de certa forma a trajetória histórica das instituições de educação infantil no país, onde as políticas de expansão do atendimento às crianças pequenas têm sofrido a influência de diversos segmentos e diferentes concepções educativas. Para se compreender a história das políticas nacionais de educação infantil, é necessário compreender, mesmo que num breve histórico, a forma como creches e pré-escolas surgiram e se consolidaram no Brasil. Assim, traçando um breve histórico sobre a educação infantil, destaca-se que (...) o que hoje chamamos de educação infantil já foi (chamado e organizado como) asilo, roda dos expostos, jardim de infância, creche, pré- escola, dentro de uma história que remonta ao século XVIII, nos tempo do Brasil Colônia. Naquele tempo, o abandono era fenômeno corrente. Justifica- se, assim, a criação de asilos para as crianças órfãs e abandonadas, mantidos pela “caridade” pública e pela filantropia, pois o poder público não se ocupava de questões desta natureza (OSTETTO, 2000, p. 21 apud FULLGRAF, 2001, p. 49). A história das instituições de educação infantil no Brasil revela uma duplicidade nas propostas de atendimento às crianças pequenas. Foi possível caracterizar nas últimas décadas duas formas de atendimento com funções diferentes: para as creches, era atribuída a função de beneficência, de cuidado, INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 10 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 e aos jardins de infância ou pré-escola, era atribuída uma função educativa. Esta duplicidade foi implementada durante todo o século XX, permanecendo até hoje. Também se fez presente na vinculação administrativa das instituições: as creches vinculadas às Secretarias de Bem-Estar Social, da Família e Assistência e as pré-escolas vinculadas às Secretarias de Educação. Na verdade, todas as instituições têm um caráter educativo: as creches tinham uma proposta de educação assistencial voltada para a educação de crianças pobres ao passo que as pré-escolas tinham uma proposta escolarizante voltada para as crianças menos pobres. Kuhlmann (1998) demonstra que as instituições com foco voltado para a assistência trazem no seu bojo a ideia de “educação assistencialista”, educação para submissão, destacando ainda que o que caracteriza a assistência não é o “caráter não educativo” e nem o trabalho de cuidado das crianças. A principal característica das instituições assistencialistas é a forma ideológica de encaminhá-la: a educação como um favor e não como um direito. Na verdade, toda proposta assistencial traz consigo uma proposta de educação, uma educação de baixa qualidade, de cunho moralista, com o objetivo de formar hábitos e atitudes. Eis que ao longo dessa trajetória, o reconhecimento das instituições de educação infantil como parte do sistema educacional aponta para a possibilidade de superação desses espaços de segregação social, onde políticas compensatórias isolavam as crianças pobres em instituições educacionais vinculadas aos órgãos de assistência social. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 11 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 3 INSTITUIÇÕES DE EDUCAÇÃO INFANTIL Estudos de Füllgraf (2001) nos mostram tanto a nível nacional quanto internacional que as instituições de educação infantil devem caminhar na direção de satisfazer de maneira integrada, as funções de educar e cuidar e com padrões de qualidade. A instituição de educação infantil deve tornar acessível a todas as crianças que a frequentam, indiscriminadamente, elementos da cultura que enriquecem o seu desenvolvimento e inserção social. Cumpre um papel socializador, propiciando o desenvolvimento da identidade das crianças, por meio de aprendizagens diversificadas, realizadas em situações de interação. Na instituição de educação infantil, pode-se oferecer às crianças condições para as aprendizagens que ocorrem nas brincadeiras e aquelas advindas de situações pedagógicas intencionais ou aprendizagens orientadas pelos adultos. É importante ressaltar, porém, que essas aprendizagens, de natureza diversa, ocorrem de maneira integrada no processo de desenvolvimento infantil (BRASIL, 1998). 3.1 Educar Educar significa propiciar situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagens orientadas de forma integrada e que possam contribuir para o desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e estar com os outros em uma atitude básica de aceitação, respeito e confiança, e o acesso, pelas crianças, aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural. Neste processo, a educação poderá auxiliar o desenvolvimento das capacidades de apropriação e conhecimento das potencialidades corporais, afetivas, emocionais, estéticas e éticas, na perspectiva de contribuir para a formação de crianças felizes e saudáveis (BRASIL, 1998). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 12 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 3.2 Cuidar Cuidar de uma criança em um contexto educativo demanda a integração de vários campos de conhecimentos e a cooperação de profissionais de diferentes áreas. A base do cuidado humano é compreender como ajudar o outro a se desenvolver como ser humano. Cuidar significa valorizar e ajudar a desenvolver capacidades. O cuidado é um ato em relação ao outro e a si próprio que possui uma dimensão expressiva e implica em procedimentos específicos (BRASIL, 1998). O desenvolvimento integral depende tanto dos cuidados relacionais, que envolvem a dimensão afetiva e dos cuidados com os aspectos biológicos do corpo, como a qualidade da alimentação e dos cuidados com a saúde, quanto da forma como esses cuidados são oferecidos e das oportunidades de acesso a conhecimentos variados (BRASIL, 1998). As atitudes e procedimentos de cuidado são influenciados por crenças e valores em torno da saúde, da educação e do desenvolvimento infantil. Embora as necessidades humanas básicas sejam comuns, como alimentar-se, proteger-se etc., as formas de identificá-las, valorizá-las e atendê-las são construídas socialmente. As necessidades básicas podem ser modificadas e acrescidas de outras de acordo com o contexto sociocultural. Pode-se dizer que além daquelas que preservam a vida orgânica, as necessidades afetivas são também base para o desenvolvimento infantil (BRASIL, 1998). O cuidado precisa considerar, principalmente, as necessidades das crianças, que quando observadas, ouvidas e respeitadas, podem dar pistas importantes sobre a qualidade do que estão recebendo. Os procedimentos de cuidado também precisam seguir os princípios de promoção à saúde. Para se atingir os objetivos dos cuidados com a preservação da vida e com o desenvolvimento das capacidades humanas, é necessário que as atitudes e procedimentos estejam baseados em conhecimentos específicos sobre o desenvolvimento biológico, emocional e intelectual das crianças, levando em consideração as diferentes realidades socioculturais. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 13 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Para cuidar é preciso antes de tudo estar comprometido com o outro, com sua singularidade, ser solidário com suas necessidades, confiando em suas capacidades. Disso depende a construção de um vínculo entre quem cuida e quem é cuidado (BRASIL, 1998). Além dadimensão afetiva e relacional do cuidado, é preciso que o professor possa ajudar a criança a identificar suas necessidades e priorizá-las, assim como atendê-las de forma adequada. Assim, cuidar da criança é, sobretudo, dar atenção a ela como pessoa que está num contínuo crescimento e desenvolvimento, compreendendo sua singularidade, identificando e respondendo às suas necessidades. Isto inclui interessar-se sobre o que a criança sente, pensa, o que ela sabe sobre si e sobre o mundo, visando à ampliação deste conhecimento e de suas habilidades, que aos poucos a tornarão mais independente e mais autônoma. 3.3 Objetivos da Educação Infantil Segundo o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI), a prática da educação infantil deve se organizar de modo que as crianças desenvolvam as seguintes capacidades: Desenvolver uma imagem positiva de si, atuando de forma cada vez mais independente, com confiança em suas capacidades e percepção de suas limitações; Descobrir e conhecer progressivamente seu próprio corpo, suas potencialidades e seus limites, desenvolvendo e valorizando hábitos de cuidado com a própria saúde e bem-estar; Estabelecer vínculos afetivos e de troca com adultos e crianças, fortalecendo sua autoestima e ampliando gradativamente suas possibilidades de comunicação e interação social; Estabelecer e ampliar cada vez mais as relações sociais, aprendendo aos poucos a articular seus interesses e pontos de vista com os demais, INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 14 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 respeitando a diversidade e desenvolvendo atitudes de ajuda e colaboração; Observar e explorar o ambiente com atitude de curiosidade, percebendo-se cada vez mais como integrante, dependente e agente transformado do meio ambiente e valorizando atitudes que contribuam para sua conservação; Brincar, expressando emoções, sentimentos, pensamentos, desejos e necessidades; Utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita) ajustadas às diferentes intenções e situações de comunicação, de forma a compreender e ser compreendido, expressar suas ideias, sentimentos, necessidades e desejos e avançar no seu processo de construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva; Conhecer algumas manifestações culturais, demonstrando atitudes de interesse, respeito e participação frente a elas e valorizando a diversidade (BRASIL, 1998). No quadro abaixo temos especificados os objetivos para as diversas faixas etárias que compõem a educação infantil: INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 15 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 FAIXA ETÁRIA OBJETIVOS 0 a 3 anos A instituição deve criar um ambiente de acolhimento que dê segurança e confiança às crianças, garantindo oportunidades para que sejam capazes de: • experimentar e utilizar os recursos de que dispõem para a satisfação de suas necessidades essenciais, expressando seus desejos, sentimentos, vontades e desagrados, e agindo com progressiva autonomia; • familiarizar-se com a imagem do próprio corpo, conhecendo progressivamente seus limites, sua unidade e as sensações que ele produz; • interessar-se progressivamente pelo cuidado com o próprio corpo, executando ações simples relacionadas à saúde e higiene; • brincar; • relacionar-se progressivamente com mais crianças, com seus professores e com demais profissionais da instituição, demonstrando suas necessidades e interesses. 4 a 6 anos Os objetivos estabelecidos para a faixa etária de zero a três anos deverão ser aprofundados e ampliados, garantindo-se, ainda, oportunidades para que as • ter uma imagem positiva de si, ampliando sua autoconfiança, identificando cada vez mais suas limitações e possibilidades, e agindo de acordo com elas; • identificar e enfrentar situações de conflitos, utilizando seus recursos pessoais, respeitando as outras crianças e adultos e exigindo reciprocidade; • valorizar ações de cooperação e solidariedade, desenvolvendo atitudes de INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 16 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 crianças sejam capazes de: ajuda e colaboração e compartilhando suas vivências; • brincar; • adotar hábitos de autocuidado, valorizando as atitudes relacionadas com a higiene, alimentação, conforto, segurança, proteção do corpo e cuidados com a aparência; • identificar e compreender a sua pertinência aos diversos grupos dos quais participam, respeitando suas regras básicas de convívio social e a diversidade que os compõe. 3.4 Funções e atribuições do professor da Educação Infantil Desde o início das instituições para a educação de crianças de 0 a 6 anos, existe uma preocupação com a diferenciação dos papéis, atribuições e atuação dos adultos no processo educativo das crianças pequenas ou maiores, porém o que acabou por ocorrer é que, no estabelecimento dessas atribuições, terminava-se, grosso modo, por adaptar o modelo escolar destinado às crianças de 4 a 6 anos aos menores, o modelo de cuidado materno “aperfeiçoado” pelos ditames médicos higienistas (BONETTI, 2004). Dentre as várias funções atribuídas ao professor da educação básica e, por extensão, aos professores da educação infantil, Bonetti selecionou alguns que configuram o campo da educação para as crianças pequena na atualidade e que merecem ser expostos e refletidos. Garantir para a criança o direito de aprender e de se desenvolver deveria ser a principal função do professor e atuando coletivamente, pois o trabalho em equipe ajuda sobremaneira no desenvolvimento de competências. Na perspectiva de garantir a aprendizagem, o professor de educação infantil deve organizar situações de aprendizagem INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 17 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 adequadas à criança de quatro a seis anos a partir da compreensão de que vivem um processo de ampliação de experiências com relação à construção das linguagens e dos objetos de conhecimento, considerando o desenvolvimento, em seus aspectos afetivo, físico, psicossocial, cognitivo e linguístico (MEC/SEMTEC, 2000, p. 73). Trabalhar com a diversidade é um requisito importante, pois requer conhecer e considerar a diversidade das crianças, pois ao professor cabe acionar conhecimentos múltiplos capazes de responder de forma apropriada às diferentes questões que surgem nesse cotidiano; utilizando-se de “[...] conhecimentos aprendidos dentro e fora da escola em diferentes situações da vida; conhecimentos conceituais e procedimentais, capacidades cognitivas, sensibilidade e intuição” (MEC/SEF, 1998. p. 103). O exercício de uma docência que leva em conta a diversidade cultural das crianças pequenas também fez parte dos movimentos na luta por uma educação infantil que respeite a criança, “[...] seus processos de constituição como seres humanos em diferentes contextos sociais, sua cultura, suas capacidades intelectuais, criativas expressivas e emocionais” (ROCHA, 2000, p. 231) sendo a diversidade um fator positivo a ser considerado. Ser articulador entre a creche ou pré-escola e a família e a comunidade quer dizer que a função docente na educação infantil deve ser exercida de forma articulada com a família. Estabelecer essas relações é uma das dimensões, sendo a interação com as famílias das crianças uma característica constitutiva de sua profissão. A relação instituição de educação infantil com a família faz parte do desenvolvimento do trabalho do professor na educação da criança de 0 a 6anos, especialmente na construção de vínculos afetivos, no compartilhar obrigações, posto que estabelecer uma boa relação com a família está intimamente ligado com a acolhida da criança e a necessidade de um trabalho articulado (MAISTRO, 1999; KISHIMOTO, 1999; MACHADO, 1999; ROCHA, 2000 apud BONETTI, 2004). A criança requer olhar atento e ações comprometidas e articuladas por INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 18 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 parte dos adultos que com ela convivem quer no espaço institucional quer no familiar, exercendo funções distintas. Produzir conhecimento e gerir os processos pedagógicos. A diversidade e a complexidade dos contextos exige que o professor produza conhecimento pedagógico, tenha domínio sobre sua prática e crie formas ou procedimentos adequados ao ensino dos conteúdos indicados nas reformas da educação básica. Educar e cuidar – função específica na educação infantil. O educar é abordado como essencial ao desenvolvimento integral da criança, das “suas múltiplas capacidades” e da construção de uma autoimagem positiva. O cuidar da criança, além de ser tratado junto com o educar, é também enfatizado separadamente como fator de humanização. Enfim, a compreensão da criança como totalidade requer que se repensem os currículos de formação de seus professores, preparando-os para ajudá-las, ouvindo-as e observando-as, levando a sério suas necessidades, ideias e teorias, desafiando-as por meio de questões, informações, materiais e técnicas; funções que têm sido enfatizadas como fundamentais seja para a atuação profissional, seja para a constituição da pedagogia da infância como um campo de conhecimento (BONETTI, 2004). INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 19 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 4 CONTEÚDOS E PROCEDIMENTOS DIDÁTICO-METODOLÓGICOS Seguindo as orientações contidas nos Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação Infantil é pertinente discorrer sobre o movimento, a música, as artes visuais, linguagem oral e escrita, natureza e sociedade e matemática, sugerindo a leitura completa dos RCNEI, os quais encontram-se disponibilizados na internet. 4.1 Movimento O movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana. As crianças se movimentam desde que nascem, adquirindo cada vez maior controle sobre seu próprio corpo e se apropriando cada vez mais das possibilidades de interação com o mundo. Engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm, saltam, brincam sozinhas ou em grupo, com objetos ou brinquedos, experimentando sempre novas maneiras de utilizar seu corpo e seu movimento. Ao movimentar-se, as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais. O movimento humano, portanto, é mais do que simples deslocamento do corpo no espaço: constitui-se em uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico e atuarem sobre o ambiente humano, mobilizando as pessoas por meio de seu teor expressivo (BRASIL, 1998). As maneiras de andar, correr, arremessar, saltar resultam das interações sociais e da relação dos homens com o meio; são movimentos cujos significados têm sido construídos em função das diferentes necessidades, interesses e possibilidades corporais humanas presentes nas diferentes culturas em diversas épocas da história. Esses movimentos incorporam-se aos comportamentos dos homens, constituindo-se assim numa cultura corporal. Dessa forma, diferentes manifestações dessa linguagem foram surgindo, como a dança, o jogo, as brincadeiras, as práticas esportivas etc., nas quais se INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 20 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 faz uso de diferentes gestos, posturas e expressões corporais com intencionalidade. Ao brincar, jogar, imitar e criar ritmos e movimentos, as crianças também se apropriam do repertório da cultura corporal na qual estão inseridas. Nesse sentido, as instituições de educação infantil devem favorecer um ambiente físico e social onde as crianças se sintam protegidas e acolhidas, e ao mesmo tempo seguras para se arriscar e vencer desafios. Quanto mais rico e desafiador for esse ambiente, mais ele lhes possibilitará a ampliação de conhecimentos acerca de si mesmas, dos outros e do meio em que vivem (BRASIL, 1998). O trabalho com movimento contempla a multiplicidade de funções e manifestações do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento de aspectos específicos da motricidade das crianças, abrangendo uma reflexão acerca das posturas corporais implicadas nas atividades cotidianas, bem como atividades voltadas para a ampliação da cultura corporal de cada criança. Para tanto, os conteúdos a serem trabalhados devem contemplar a expressividade do movimento que engloba tanto as expressões e comunicação de ideias, sensações e sentimentos pessoais como as manifestações corporais que estão relacionadas com a cultura, como, por exemplo: A dança que é uma das manifestações da cultura corporal dos diferentes grupos sociais que está intimamente associada ao desenvolvimento das capacidades expressivas das crianças. A aprendizagem da dança pelas crianças, porém, não pode estar determinada pela marcação e definição de coreografias pelos adultos. Atividades como o banho e a massagem são oportunidades privilegiadas de explorar o próprio corpo, assim como de experimentar diferentes sensações, inclusive junto com outras crianças. Brincadeiras que envolvam o canto e o movimento, simultaneamente, possibilitam a percepção rítmica, a identificação de segmentos do corpo e o contato físico. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 21 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 O espelho continua a se fazer necessário para a construção e afirmação da imagem corporal em brincadeiras nas quais meninos e meninas poderão se fantasiar, assumir papéis e se olharem. Nesse sentido, um conjunto de maquiagem, fantasias diversas, roupas velhas de adultos, sapatos, bijuterias e acessórios são ótimos materiais para o faz de conta nessa faixa etária. Com eles, e diante do espelho, a criança consegue perceber que sua imagem muda, sem que modifique a sua pessoa. As ações que compõem as brincadeiras envolvem aspectos ligados à coordenação do movimento e ao equilíbrio. Por exemplo, para saltar um obstáculo, as crianças precisam coordenar habilidades motoras como velocidade, flexibilidade e força, calculando a maneira mais adequada de conseguir seu objetivo (BRASIL, 1998). É importante possibilitar diferentes movimentos que aparecem em atividades como lutar, dançar, subir e descer de árvores ou obstáculos, jogar bola, rodar bambolê, etc. Essas experiências devem ser oferecidas sempre, com o cuidado de evitar enquadrar as crianças em modelos de comportamento estereotipados, associados ao gênero masculino e feminino, como, por exemplo, não deixar que as meninas joguem futebol ou que os meninos rodem bambolê. 4.2 Música A música é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamentos, por meio da organização e relacionamento expressivo entre o som e o silêncio. A música está presente em todas as culturas, nas mais diversas situações: festas e comemorações, rituais religiosos, manifestações cívicas, políticas etc. Faz parte da educação desde há muito tempo, sendo que, já na Grécia antiga, era considerada como fundamental para a formação dos futuros cidadãos, ao lado da matemática e da filosofia (BRASIL, 1998). A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, estéticos ecognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 22 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 conferem caráter significativo à linguagem musical. É uma das formas importantes de expressão humana, o que por si só justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na educação infantil, particularmente. A música está presente em diversas situações da vida humana. Existe música para adormecer, música para dançar, para chorar os mortos, para conclamar o povo a lutar, o que remonta à sua função ritualística. Presente na vida diária de alguns povos, ainda hoje é tocada e dançada por todos, seguindo costumes que respeitam as festividades e os momentos próprios a cada manifestação musical. Nesses contextos, as crianças entram em contato com a cultura musical desde muito cedo e assim começam a aprender suas tradições musicais (BRASIL, 1998). Compreende-se a música como linguagem e forma de conhecimento. Presente no cotidiano de modo intenso, no rádio, na TV, em gravações, jingles etc., por meio de brincadeiras e manifestações espontâneas ou pela intervenção do professor ou familiares, além de outras situações de convívio social, a linguagem musical tem estrutura e características próprias, devendo ser considerada como: Produção — centrada na experimentação e na imitação, tendo como produtos musicais a interpretação, a improvisação e a composição; Apreciação — percepção tanto dos sons e silêncios quanto das estruturas e organizações musicais, buscando desenvolver, por meio do prazer da escuta, a capacidade de observação, análise e reconhecimento; Reflexão — sobre questões referentes à organização, criação, produtos e produtores musicais (BRASIL, 1998). O trabalho com música deve considerar, portanto, que ela é um meio de expressão e forma de conhecimento acessível aos bebês e crianças, inclusive aquelas que apresentem necessidades especiais. A linguagem musical é excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da autoestima, autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 23 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 A organização dos conteúdos para o trabalho na área de Música nas instituições de educação infantil deverá, acima de tudo, respeitar o nível de percepção e desenvolvimento (musical e global) das crianças em cada fase, bem como as diferenças socioculturais entre os grupos de crianças das muitas regiões do país. Os conteúdos deverão priorizar a possibilidade de desenvolver a comunicação e expressão por meio dessa linguagem. Serão trabalhados como conceitos em construção, organizados num processo contínuo e integrado que deve abranger: A exploração de materiais e a escuta de obras musicais para propiciar o contato e experiências com a matéria-prima da linguagem musical: o som (e suas qualidades) e o silêncio; A vivência da organização dos sons e silêncios em linguagem musical pelo fazer e pelo contato com obras diversas; A reflexão sobre a música como produto cultural do ser humano é importante forma de conhecer e representar o mundo (BRASIL, 1998). 4.3 Artes visuais As Artes Visuais expressam, comunicam e atribuem sentido a sensações, sentimentos, pensamentos e realidade por meio da organização de linhas, formas, pontos, tanto bidimensional como tridimensional, além de volume, espaço, cor e luz na pintura, no desenho, na escultura, na gravura, na arquitetura, nos brinquedos, bordados, entalhes etc. (BRASIL, 1998). O movimento, o equilíbrio, o ritmo, a harmonia, o contraste, a continuidade, a proximidade e a semelhança são atributos da criação artística. A integração entre os aspectos sensíveis, afetivos, intuitivos, estéticos e cognitivos, assim como a promoção de interação e comunicação social, conferem caráter significativo às Artes Visuais. As Artes Visuais estão presentes no cotidiano da vida infantil. Ao rabiscar e desenhar no chão, na areia e nos muros, ao utilizar materiais INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 24 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 encontrados ao acaso (gravetos, pedras, carvão), ao pintar os objetos e até mesmo seu próprio corpo, a criança pode utilizar-se das Artes Visuais para expressar experiências sensíveis. Tal como a música, as Artes Visuais são linguagens e, portanto, uma das formas importantes de expressão e comunicação humanas, o que, por si só, justifica sua presença no contexto da educação, de um modo geral, e na educação infantil, particularmente (BRASIL, 1998). O trabalho com as Artes Visuais na educação infantil requer profunda atenção no que se refere ao respeito das peculiaridades e esquemas de conhecimento próprios à cada faixa etária e nível de desenvolvimento. Isso significa que o pensamento, a sensibilidade, a imaginação, a percepção, a intuição e a cognição da criança devem ser trabalhadas de forma integrada, visando a favorecer o desenvolvimento das capacidades criativas das crianças (BRASIL, 1998). No processo de aprendizagem em Artes Visuais a criança traça um percurso de criação e construção individual que envolve escolhas, experiências pessoais, aprendizagens, relação com a natureza, motivação interna e/ou externa. O percurso individual da criança pode ser significativamente enriquecido pela ação educativa intencional; porém, a criação artística é um ato exclusivo da criança. É no fazer artístico e no contato com os objetos de arte que parte significativa do conhecimento em Artes Visuais acontece. No decorrer desse processo, o prazer e o domínio do gesto e da visualidade evoluem para o prazer e o domínio do próprio fazer artístico, da simbolização e da leitura de imagens (BRASIL, 1998). O ponto de partida para o desenvolvimento estético e artístico é o ato simbólico que permite reconhecer que os objetos persistem, independentes de sua presença física e imediata. Operar no mundo dos símbolos é perceber e interpretar elementos que se referem a alguma coisa que está fora dos próprios objetos. Os símbolos reapresentam o mundo a partir das relações que a criança estabelece consigo mesma, com as outras pessoas, com a imaginação e com a cultura. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 25 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 A instituição deve organizar sua prática em torno da aprendizagem em arte, garantindo oportunidades para que as crianças sejam capazes de: Ampliar o conhecimento de mundo que possuem, manipulando diferentes objetos e materiais, explorando suas características, propriedades e possibilidades de manuseio e entrando em contato com formas diversas de expressão artística; Utilizar diversos materiais gráficos e plásticos sobre diferentes superfícies para ampliar suas possibilidades de expressão e comunicação. Os conteúdos para trabalhar as Artes visuais estão organizados em dois blocos. O primeiro bloco se refere ao fazer artístico e o segundo trata da apreciação em Artes Visuais. A organização por blocos visa a oferecer visibilidade às especificidades da aprendizagem em artes, embora as crianças vivenciem esses conteúdos de maneira integrada. Para as crianças de 0 a 3 anos, o primeiro bloco – fazer artístico, os conteúdos estão assim divididos: Exploração e manipulação de materiais, como lápis e pincéis de diferentes texturas e espessuras, brochas, carvão, carimbo etc.; de meios, como tintas, água, areia, terra, argila etc.; e de variados suportes gráficos, como jornal, papel, papelão, parede, chão, caixas, madeiras etc. Exploração e reconhecimento de diferentes movimentos gestuais, visando a produção de marcas gráficas. Cuidado com o próprio corpo e dos colegas no contato com os suportes e materiais de artes. Cuidado com os materiais e com os trabalhos e objetos produzidos individualmente ou em grupo. Para as crianças de 4 a 6 anos: INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 26 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Criação de desenhos, pinturas, colagens, modelagens a partir de seu próprio repertório e da utilização dos elementos da linguagem das Artes Visuais: ponto, linha, forma, cor, volume, espaço, textura etc. Exploração e utilização de alguns procedimentos necessários para desenhar, pintar, modelar, etc. Exploração e aprofundamento das possibilidades oferecidas pelos diversos materiais, instrumentos e suportes necessários para o fazer artístico. Para que as crianças possam criar suas produções, é preciso que o professor ofereça oportunidades diversas para que elas se familiarizem com alguns procedimentos ligados aos materiais utilizados, aos diversos tipos de suporte e para que possam refletir sobre os resultados obtidos. É aconselhável, portanto, que o trabalho seja organizado de forma a oferecer às crianças a possibilidade de contato, uso e exploração de materiais, como caixas, latinhas, diferentes papéis, papelões, copos plásticos, embalagens de produtos, pedaços de pano etc. É indicada a inclusão de materiais típicos das diferentes regiões brasileiras, pois além de serem mais acessíveis, possibilitam a exploração de referenciais regionais. O segundo eixo – apreciação em Artes Visuais contempla a observação e identificação de imagens diversas. No que diz respeito às leituras das imagens, deve-se eleger materiais que contemplem a maior diversidade possível e que sejam significativos para as crianças. É aconselhável que, por meio da apreciação, as crianças reconheçam e estabeleçam relações com o seu universo, podendo conter pessoas, animais, objetos específicos às culturas regionais, cenas familiares, cores, formas, linhas etc. Entretanto, imagens abstratas ou renascentistas, por exemplo, também podem ser mostradas para as crianças. Nesses casos, há que se observar o sentido narrativo que elas atribuem a essas imagens e considerá-lo como parte do processo de construção da leitura de imagens. É aconselhável que as crianças realizem uma observação livre das imagens e que possam tecer os comentários que quiserem, de tal forma que todo o grupo participe. O professor pode atuar como um provocador da apreciação e leitura INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 27 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 da imagem. Nesses casos o professor deve acolher e socializar as falas das crianças (BRASIL, 1998). 4.4 Linguagem oral e escrita A aprendizagem da linguagem oral e escrita é um dos elementos mais importantes para as crianças ampliarem suas possibilidades de inserção e de participação nas diversas práticas sociais. O trabalho com a linguagem se constitui um dos eixos básicos na educação infantil, dada sua importância para: a) A formação do sujeito; b) Para a interação com as outras pessoas; c) Na orientação das ações das crianças; d) Na construção de muitos conhecimentos e, e) No desenvolvimento do pensamento. Aprender uma língua não é somente aprender as palavras, mas também os seus significados culturais, e, com eles, os modos pelos quais as pessoas do seu meio sociocultural entendem, interpretam e representam a realidade (BRASIL, 1998). A educação infantil, ao promover experiências significativas de aprendizagem da língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita, se constitui em um dos espaços de ampliação das capacidades de comunicação e expressão e de acesso ao mundo letrado pelas crianças. Essa ampliação está relacionada ao desenvolvimento gradativo das capacidades associadas às quatro competências linguísticas básicas: falar, escutar, ler e escrever. As instituições e profissionais de educação infantil deverão organizar sua prática de forma a promover as seguintes capacidades nas crianças: INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 28 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Participar de variadas situações de comunicação oral, para interagir e expressar desejos, necessidades e sentimentos por meio da linguagem oral, contando suas vivências; Interessar-se pela leitura de histórias; Familiarizar-se aos poucos com a escrita por meio da participação em situações nas quais ela se faz necessária e do contato cotidiano com livros, revistas, histórias em quadrinhos etc. Os objetivos estabelecidos para a faixa etária de zero a três anos deverão ser aprofundados e ampliados, promovendo-se, ainda, as seguintes capacidades nas crianças de quatro a seis anos: Ampliar gradativamente suas possibilidades de comunicação e expressão, interessando-se por conhecer vários gêneros orais e escritos e participando de diversas situações de intercâmbio social nas quais possa contar suas vivências, ouvir as de outras pessoas, elaborar e responder perguntas; Familiarizar-se com a escrita por meio do manuseio de livros, revistas e outros portadores de texto e da vivência de diversas situações nas quais seu uso se faça necessário; Escutar textos lidos, apreciando a leitura feita pelo professor; Interessar-se por escrever palavras e textos ainda que não de forma convencional; Reconhecer seu nome escrito, sabendo identificá-lo nas diversas situações do cotidiano; Escolher os livros para ler e apreciar. A oralidade, a leitura e a escrita devem ser trabalhadas de forma integrada e complementar, potencializando-se os diferentes aspectos que cada uma dessas linguagens solicita das crianças (BRASIL, 1998). É importante que o professor converse com bebês e crianças, ajudando- os a se expressarem, apresentando-lhes diversas formas de comunicar o que desejam, sentem, necessitam, etc. Nessas interações, é importante que o INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 29 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 adulto utilize a sua fala de forma clara, sem infantilizações e sem imitar o jeito de a criança falar. A ampliação da capacidade das crianças de utilizar a fala de forma cada vez mais competente em diferentes contextos se dá na medida em que elas vivenciam experiências diversificadas e ricas envolvendo os diversos usos possíveis da linguagem oral. Portanto, eleger a linguagem oral como conteúdo exige o planejamento da ação pedagógica de forma a criar situações de fala, escuta e compreensão da linguagem (BRASIL, 1998). Cabe ao professor, atento e interessado, auxiliar na construção conjunta das falas das crianças para torná-las mais completas e complexas. Ouvir atentamente o que a criança diz para ter certeza de que entendeu o que ela falou, podendo checar com ela, por meio de perguntas ou repetições, se entendeu mesmo o que ela quis dizer, ajudará a continuidade da conversa. Para as crianças muito pequenas uma palavra, como “água”, pode ser significada pelo adulto, dependendo da situação, como: “Ah! Você quer água?”, ou “Você derrubou água no chão”. Os professores podem funcionar como apoio ao desenvolvimento verbal das crianças, sempre buscando trabalhar com a interlocução e a comunicação efetiva entre os participantes da conversa (BRASIL, 1998). Na instituição de educação infantil, as crianças podem aprender a escrever produzindo oralmente textos com destino escrito. Nessas situações o professor é o escriba. A criança também aprende a escrever, fazendo-o da forma como sabe, escrevendo de próprio punho. Em ambos os casos, é necessário ter acesso à diversidade de textos escritos, testemunhar a utilização que se faz da escrita em diferentes circunstâncias, considerandoas condições nas quais é produzida: para que, para quem, onde e como (BRASIL, 1998). O trabalho com produção de textos deve se constituir em uma prática continuada, na qual se reproduz contextos cotidianos em que escrever tem sentido. Deve-se buscar a maior similaridade possível com as práticas de uso social, como escrever para não esquecer alguma informação, escrever para enviar uma mensagem a um destinatário ausente, escrever para que a INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 30 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 mensagem atinja um grande número de pessoas, escrever para identificar um objeto ou uma produção, etc. O tratamento que se dá à escrita na instituição de educação infantil pode ter como base a oralidade para ensinar a linguagem que se usa para escrever. Ditar um texto para o professor, para outra criança ou para ser gravado em fita cassete é uma forma de viabilizar a produção de textos antes de as crianças saberem grafa-los. É em atividades desse tipo que elas começam a participar de um processo de produção de texto escrito, construindo conhecimento sobre essa linguagem, antes mesmo que saibam escrever autonomamente (BRASIL, 1998). 4.5 Natureza e sociedade O eixo de trabalho denominado Natureza e Sociedade reúne temas pertinentes ao mundo social e natural. A intenção é que o trabalho ocorra de forma integrada, ao mesmo tempo em que são respeitadas as especificidades das fontes, abordagens e enfoques advindos dos diferentes campos das Ciências Humanas e Naturais (BRASIL, 1998). Dada a grande diversidade de temas que este eixo oferece, é preciso estruturar o trabalho de forma a escolher os assuntos mais relevantes para as crianças e o seu grupo social. As crianças devem, desde pequenas, ser instigadas a: Observar fenômenos; Relatar acontecimentos; Formular hipóteses; Prever resultados para experimentos; Conhecer diferentes contextos históricos e sociais; Tentar localizá-los no espaço e no tempo. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 31 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 Podem também trocar ideias e informações, debatê-las, confrontá-las, distingui-las e representá-las, aprendendo, aos poucos, como se produz um conhecimento novo ou por que as ideias mudam ou permanecem. Contudo, o professor precisa ter claro que esses domínios e conhecimentos não se consolidam nesta etapa educacional. São construídos, gradativamente, na medida em que as crianças desenvolvem atitudes de curiosidade, de crítica, de refutação e de reformulação de explicações para a pluralidade e diversidade de fenômenos e acontecimentos do mundo social e natural (BRASIL, 1998). Os conteúdos deverão ser selecionados em função dos seguintes critérios: Relevância social e vínculo com as práticas sociais significativas; Grau de significado para a criança; Possibilidade que oferecem de construção de uma visão de mundo integrada e relacional; Possibilidade de ampliação do repertório de conhecimentos a respeito do mundo social e natural. Propõe-se que os conteúdos sejam trabalhados junto às crianças, prioritariamente, na forma de projetos que integrem diversas dimensões do mundo social e natural, em função da diversidade de escolhas possibilitada por este eixo de trabalho (BRASIL, 1998). Como orientação didática, a observação e a exploração do meio constituem-se duas das principais possibilidades de aprendizagem das crianças desta faixa etária. É dessa forma que poderão, gradualmente, construir as primeiras noções a respeito das pessoas, do seu grupo social e das relações humanas. A interação com adultos e crianças de diferentes idades, as brincadeiras nas suas mais diferentes formas, a exploração do espaço, o contato com a natureza, se constituem em experiências necessárias para o desenvolvimento e aprendizagem infantis. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 32 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 4.6 Matemática As crianças, desde o nascimento, estão imersas em um universo do qual os conhecimentos matemáticos são parte integrante. As crianças participam de uma série de situações envolvendo números, relações entre quantidades, noções sobre espaço. Utilizando recursos próprios e pouco convencionais, elas recorrem a contagem e operações para resolver problemas cotidianos, como conferir figurinhas, marcar e controlar os pontos de um jogo, repartir as balas entre os amigos, mostrar com os dedos a idade, manipular o dinheiro e operar com ele etc. Também observam e atuam no espaço ao seu redor e, aos poucos, vão organizando seus deslocamentos, descobrindo caminhos, estabelecendo sistemas de referência, identificando posições e comparando distâncias. Essa vivência inicial favorece a elaboração de conhecimentos matemáticos. Fazer matemática é expor ideias próprias, escutar as dos outros, formular e comunicar procedimentos de resolução de problemas, confrontar, argumentar e procurar validar seu ponto de vista, antecipar resultados de experiências não realizadas, aceitar erros, buscar dados que faltam para resolver problemas, entre outras coisas. Dessa forma as crianças poderão tomar decisões, agindo como produtoras de conhecimento e não apenas executoras de instruções. Portanto, o trabalho com a Matemática pode contribuir para a formação de cidadãos autônomos, capazes de pensar por conta própria, sabendo resolver problemas (BRASIL, 1998). Nessa perspectiva, a instituição de educação infantil pode ajudar as crianças a organizarem melhor as suas informações e estratégias, bem como proporcionar condições para a aquisição de novos conhecimentos matemáticos. O trabalho com noções matemáticas na educação infantil atende, por um lado, às necessidades das próprias crianças de construírem conhecimentos que incidam nos mais variados domínios do pensamento; por outro, corresponde a uma necessidade social de instrumentalizá-las melhor para viver, participar e compreender um mundo que exige diferentes conhecimentos e habilidades. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 33 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 A abordagem da Matemática na educação infantil tem como finalidade proporcionar oportunidades para que as crianças desenvolvam a capacidade de estabelecer aproximações a algumas noções matemáticas presentes no seu cotidiano, como contagem, relações espaciais etc. Para as crianças de quatro a seis anos o objetivo é aprofundar e ampliar o trabalho para a faixa etária de zero a três, garantindo, ainda, oportunidades para que sejam capazes de: Reconhecer e valorizar os números, as operações numéricas, as contagens orais e as noções espaciais como ferramentas necessárias no seu cotidiano; Comunicar ideias matemáticas, hipóteses, processos utilizados e resultados encontrados em situações-problema relativas a quantidades, espaço físico e medida, utilizando a linguagem oral e a linguagem matemática; Ter confiança em suas próprias estratégias e na sua capacidade para lidar com situações matemáticas novas, utilizando seus conhecimentos prévios (BRASIL, 1998). Às noções matemáticas abordadas na educação infantil correspondem uma variedade de brincadeiras e jogos, principalmente aqueles classificados como de construção e de regras (disponibilizamos uma apostila especifica para discorrer sobre os jogos e brincadeiras) Pelo seu caráter coletivo, os jogos e as brincadeiras permitem que o grupo se estruture, que as crianças estabeleçam relações ricas de troca, aprendam a esperar sua vez, acostumem-se a lidar com regras, conscientizando-se que podem ganhar ou perder. INE EAD – INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO FUNDAMENTOS PEDAGÓGICOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL34 WWW.INEEAD.COM.BR – (31) 3272-9521 REFERÊNCIAS CONSULTADAS E UTILIZADAS BONDIOLI, A.; MANTOVANI, S. Manual de educação infantil - de 0 a 3 anos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. BONETTI, Nilva. A especificidade da docência na educação infantil no âmbito de documentos oficiais após a LDB 9394/1996. Florianópolis: UFSC, 2004 (Dissertação de Mestrado em Educação). BRASIL, Plano Nacional de Educação. 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