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A TIPIFICAÇÃO DO RACIOCÍNIO MATEMÁTICO EM PEDAGOGOS: IDEIAS PARA UMA NOVA VISÃO SOBRE A FORMAÇÃO DE PROFESSORES Autor (Antonio Marcelo Araújo Bezerra) Universidade Federal do Ceará, marcelo@multimeios.ufc.br Resumo: No que compete às ações inseridas na formação de professores, a atuação do pedagogo diante das práticas sobre o ensinar matemática envolve a necessária compreensão de como os seus futuros alunos manifestarão suas estratégias diante de variados problemas matemáticos e de como pode utiliza destes conhecimentos na melhoria da sua atuação didática. Mesmo sendo um conhecimento imprescindível ao planejamento e a prática do professor, ainda há situações e estratégias utilizadas na sala de aula que não consideram a contento a manifestação e o tipo dos raciocínios matemático dos alunos. Este trabalho busca compreender como a tipificação do raciocínio matemático realizado por Johannot (1947) pode subsidiar o pedagogo em sua formação diante da reflexão sobre como se manifesta tais raciocínios. Em particular, se busca refletir sobre como o pedagogo poderá desenvolver uma variedade maior de estratégias com fins de levar o aluno a construção de raciocínios algébricos mais gerais e diante do conhecimento sobre a manifestação os raciocínios matemáticos como podem contribuir com a formação do pedagogo. Como resultados, o uso do conhecimento sobre os raciocínios matemáticos na formação do pedagogo além de expor suas dificuldades e percepções diante de problemas relacionados à forma como foram ensinados, passa a oferecer melhores instrumentos de mediação para o ensino, ou seja, o professor de matemática já tendo trabalhado e compreendido estas particularidades muito mais preparado estará quando submeter-se a ensinar uma turma da Educação Básica em que os raciocínios matemáticos serão abordados implicitamente em várias situações matemáticas. Palavras-chave: Raciocínio Matemático; Pedagogos; Formação de Professores Introdução Este artigo trata especificamente da relação entre os tipos de raciocínios matemáticos já classificados por Johannot (1947) e as possíveis mudanças que estes conhecimentos podem trazer a percepção sobre a formação de professores. Tal ação busca destacar as particularidades sobre o raciocínio matemático diante da categorização feita por Johannot (1947) em que se manifestam por quatro tipos, a saber, os raciocínios concreto, gráfico, aritmético e algébrico. De forma resumida, o entendimento sobre estes raciocínios se dão na seguinte forma; em se tratando do raciocínio concreto, este utiliza ou necessita de elementos manipuláveis para operar, já o gráfico há uma forte representação em suas manifestações feita por desenhos e ou gráficos, o aritmético já permite utilizar de números e operações e o algébrico por conseguir associar números a diferentes outras formas de símbolos. Ou seja, o concreto seria o mais elementar dos raciocínios, o gráfico se destaca por ter um forte apelo a questão visual, o aritmético já permite generalizações por meio de um sistema abstrato-numérico e o algébrico permite o uso de simbolismos (BARRETO, 2001). Nas ações voltadas a formação de professores, a visão que o pedagogo assume diante das práticas do professor que ensina matemática envolve a necessária compreensão, na menor das instâncias, da forma como os seus alunos manifestam suas estratégias diante de problemas matemáticos e como utiliza destes conhecimentos na melhoria da sua atuação. Mesmo sendo um conhecimento imprescindível ao planejamento do professor, ainda há situações e estratégias utilizadas na sala de aula que não consideram a contento o tipo e a manifestação destes tipos de raciocínios. Diante do conhecimento destes raciocínios e suas tipificações, seria possível que o professor desenvolvesse uma variedade maior de estratégias levando assim a formação de raciocínios algébricos mais gerais? Bem como, ao compreender como os raciocínios matemáticos se manifestam na resolução de problemas matemáticos, como esse conhecimento pode contribuir com a sua formação como pedagogos? De fato a formação do professor que ensina matemática envolve a compreensão de várias competências que vão além das especificidades da formação e a transposição didática, mas também os conhecimentos em educação e o domínio tecnológico (BORGES e OLIVEIRA, 2002). Desta forma, para a formação do pedagogo os cursos de formação precisam ser melhorados principalmente no que compete a composição do currículo Curi (2005), pois muitas das ideias conceituais sobre o saber permanecem equivocadas pelos pedagogos (SANTOS, 2015). Ou seja, o pedagogo precisa estar constantemente modificando e criando uma nova concepção epistemológica quanto à sua prática não descuidando do olhar sobre a percepção que os alunos possuem ao responderem determinado problema por meio de raciocínios que se bem observados possuem uma rede comum de particularidades. Desta forma, mesmo que a ação do professor seja alicerçada nestas competências e saberes, o entendimento sobre a manifestação dos raciocínios matemáticos poderiam ser mais bem aproveitados quando o professor passasse a buscar entendê-los. Com isto, tanto haveria uma contribuição para um melhor ensino, bem como uma formação do professor com maior qualidade. Resultado e Discussão Numa definição mais generalista, a compreensão do raciocínio matemático, inicialmente colocado por Russel (1999), expõe que nós o usamos para pensar sobre as propriedades de um determinado objeto matemático, desenvolvendo generalizações que se aplique a toda classe de objetos. Enquanto que Johannot, de forma mais superficial, define-o por “o raciocínio que intervêm durante a resolução de problemas matemáticos que faz chamada a um simbolismo aritmético e algébrico” (JOHANNOT, 1947, p. 25, tradução nossa). Johannot ao realizar uma pesquisa sobre o raciocínio matemático em adolescentes toma como referência o estágio operatório formal de Piaget na intenção de classificar o nível de desenvolvimento do raciocínio matemático em quatro tipos: o concreto, o gráfico, o aritmético e o algébrico, de forma mais detalhada o autor os classifica sendo as: [...] classes de respostas corretas em quatro estágios fundamentais correspondentes aos quatro estágios do raciocínio matemático. Estes estágios variando assim; Etapa I: Respostas corretas a um nível concreto único, até os 13 anos. Etapa II: Respostas corretas a um plano de representação gráfica, de 12 a 14 anos. Etapa III: Respostas corretas a um plano intuitivo ou formal aritmético, de 13 a 17 anos. Etapa IV: Respostas corretas a um plano algébrico de 17 anos apenas. (JOHANNOT, 1947, p. 51). O raciocínio concreto é o primeiro e mais elementar dos raciocínios classificados por Johannot (1947). Sua operacionalidade básica repousa no uso de elementos concretos, ou seja, ”o raciocínio concreto só pode ser efetuado em suas quantidades concretas, isto é, perceptíveis e manipuláveis” (JOHANNOT, 1947, p. 32). No raciocínio gráfico “o desenho constitui o ponto de vista psicológico e intermediário entre o corpo material e a palavra, é um dos primeiros signos da realidade” (JOHANNOT, 1947, p. 34). Para o autor, o desenho é um dos elementos de transição entre o concreto e o simbólico, ou seja, como no concreto o sujeito apenas compreende o significado dos valores iniciais e finais, no raciocínio gráfico este intensifica a abstração levando o sujeito a um patamar mais próximo da representação por símbolos. No terceiro tipo de raciocínio abordado por Johannot (1947), quando o sujeito passa a usar um modelo numérico abstrato em substituição à necessidade de manipular ou ver as quantidades que ele opera toma forma um pensamento mais elaborado que os anteriores (concreto e o gráfico), surgindo, então, o do tipo aritmético. Para Johannot (1947) esse tipo de raciocínio pode ser dividido em dois tipos: o primeiro, em quea solução do problema é apresentada por um exemplo numérico e o outro, uma generalização a partir do raciocínio lógico, mas sem recorrer ao dispositivo algébrico. Quanto ao raciocínio algébrico o aluno se desassociará totalmente da realidade, pois será mais contundente o uso de elementos abstratos “no momento onde os sujeitos percebem que uma expressão algébrica é apenas a tradução em uma linguagem simbólica de operações do dia a dia” (JOHANNOT, 1947, p. 51). Não diferente dos raciocínios anteriores, há vantagens e desvantagens na execução do raciocínio algébrico, pois os aspectos positivos residem no fato de se seguirem as transformações consecutivas dos dados na ordem lógica, permitindo com que se alcance a resposta correta. Já nas desvantagens, uma parte dos cálculos operados mentalmente “necessita de uma grande concentração e muitas vezes impedem de discernir as semelhanças entre problemas do mesmo tipo”, bem como “as obrigações de ter em conta as transformações intermediárias” (JOHANNOT, 1947, p.50). Podemos então tomar como exemplo um pedagogo que pretenda ensinar um determinado conteúdo matemático e se depara com um ou um grupo de alunos expondo em suas estratégias um dos tipos de raciocínios já detalhados, é perfeitamente possível que de imediato suas reflexões girem em torno de quais estratégias poderiam ser desenvolvidas na certeza que novas situações atendessem a estas formas de raciocínio levando à mudança para raciocínios mais elaborados (BEZERRA, 2017). Embora sendo uma ação inerente a sua prática, ou seja, o ato de refletir sobre o que de melhor pode planejar e executar, isto perfeitamente aperfeiçoará sua prática de formação, pois não se trata de apenas mais segurança no processo de mediação com os alunos, mas um grande passo e sua melhoria como profissional. No processo de compreensão destes estágios, as aquisições anteriores ocupam a posição de um patamar necessário para as aquisições subsequentes que ocorrem na forma de equilibrações sucessivas entre os mecanismos adaptativos do indivíduo expressados pela assimilação e acomodação (JOHANNOT apud BORGES, 1999). Esta definição sustenta o argumento que o sujeito reelabora suas ideias tendo como referências conceitos anteriormente já elaborados, ideias estas que futuramente passarão por um novo processo de melhoria. Como resultado da categorização destes raciocínios é possível que o pedagogo de posse desse conhecimento passe a compreender as múltiplas formas sobre como planejar e mediar suas ações frente aos alunos. Essa posição toma maior importância quando se trata de pedagogos, pois já tomam como condição importante o conhecimento sobre esses raciocínios em seu processo de formação. Convém destacar que o sujeito, quando não consegue dominar ou compreender um estágio complexo para si, suas estruturas de raciocínio atuais buscam nas estruturas anteriormente já assimiladas um ponto de equilibração e uma resposta (JOHANNOT, 1947). Somente com novas e mais adequadas desequilibrações ele poderá construir e acomodar novos conhecimentos. Ou seja, a capacidade de raciocínio matemático não se desenvolve por memorização de conceitos e procedimentos apenas, mas na imersão que se dá diante de variados problemas em que o pedagogo reconstrói conceitos já compreendidos. Desta forma a elaboração de estratégias por parte dos pedagogos remete ao professor formador a tarefa de constantemente estar submetendo-os a problemas imersos em várias situações tendo em vista a construção de novos conhecimentos matemáticos Bezerra (2017), pois a maneira como o pedagogo irá tratar com seus alunos envolve saber se “os alunos serão capazes de recorrer a várias representações, para que as conversões entre elas se tornem mais simples, desenvolvendo uma maior compreensão dos objetos e conceitos matemáticos, e uma maior riqueza de significações” (PONTE, MATA-PEREIRA e HENRIQUES, 2012, p. 375). É exatamente num espaço de melhores significações ao aluno que o professor necessita compreender antecipadamente como o raciocínio matemático pode se manifestar, para que assim sua capacidade na elaboração e aplicação de situações mais significativas seja exitosa, pois na condição de professores é preciso que: [...] conheçam os processos de raciocínio dos seus alunos e reflitam sobre eles. Se esta análise revelar lacunas, mesmo de aqueles que mostram bom desempenho, será necessário modificá-las para que os alunos sejam mais críticos e desenvolvam a Matemática com compreensão. Tudo isto requer, certamente, um trabalho específico no âmbito do desenvolvimento curricular e das práticas profissionais na sala de aula (PONTE, MATA- PEREIRA e HENRIQUES, 2012, p. 375). Aliado ao entendimento sobre os diferentes raciocínios matemáticos, a compreensão do professor “diante da necessidade de reorganizar suas ações, o faz por meios de apropriações coletivas” Moretti (2007, p. 177), isto revela que o professor modifica suas percepções e ideias diante do desafio de melhor ‘transpor’ didaticamente os conteúdos matemáticos. Este importante elemento adquire maior relevância quando aliado a uma metodologia que agregue; o conhecimento sobre como os alunos expõem suas ideias, a mediação correta do professor e um bom planejamento, ambas sempre direcionadas a aprendizagens mais significativas dos alunos (BEZERRA, 2017). Desta forma, isto remete a outros trabalhos que enfatizem o fazer didático do professor agregando constantemente ao estudo sobre os raciocínios matemáticos outros elementos que também necessitam de destaque, no caso, o planejamento, a mediação e diferentes instrumentos de avaliação. Conclusões Ao saber das características que envolvem o raciocínio matemático, qualquer iniciativa didática a ser tomada pelo professor, caso não tenha um bom instrumento didático-metodológico, não atuará a contento em seu planejamento e, possivelmente, aprendizagens não ocorrerão. Contudo, a compreensão sobre estes conhecimentos por parte do professor já remetem a uma nova visão quanto à forma de abordar um determinado conteúdo matemático. O uso do conhecimento sobre os raciocínios matemáticos na formação do pedagogo para o ensino de matemática além de expor suas dificuldades e percepções diante de problemas matemáticos relacionados à forma como foram ensinados, passa a oferecer melhores instrumentos de mediação para o ensino a posteriore, ou seja, o professor de matemática já tendo trabalhado estas particularidades muito mais preparado estará quando submeter-se a ensinar uma turma da Educação Básica em que sem dúvida os raciocínios matemáticos serão abordados implicitamente em várias situações matemáticas. Desta forma é perfeitamente possível que um trabalho pioneiro seja desenvolvido quanto ao entendimento destes raciocínios matemáticos à luz das práticas usuais do fazer pedagógico, seja no planejamento, no uso de metodologias de ensino ou nos processos de avaliação. Contudo, saber unicamente como se apresenta esses raciocínios não necessariamente garanta bons resultados ao professor, pois concomitante a esta ação “a reflexão sobre o trabalho e o exercício da avaliação são elementos centrais para o aperfeiçoamento e a inovação” (NOVOA, 2009, p. 30). Isto revela que há ainda muito a ser discutido e aprimorado no campo das práticas do ser professor, mas um primeiro e significante passo é dado pelo pedagogo ao está ciente sobre as diferentes formas que o raciocínio matemático pode assumir diante de um problema matemático. Referências Bibliográficas BARRETO, Marcília Chagas. O Desenvolvimento do Raciocínio Matemático: algumas questões acerca do telensino cearense. 2001. 168f. Tese (Doutorado em Educação Brasileira) – Programa de Doutorado em Educação Brasileira, Universidade Federal do Ceará, 2001. Disponível em: <http://www.multimeios.ufc.br/arquivos/pc/teses-dissertacoes/dissertacao_marcilia.pdf>.Acesso em: 13 set. 2017. BEZERRA, Antonio Marcelo Araújo. A Formação matemática do Pedagogo: a relação entre o ensino o raciocínio matemático e as estratégias na resolução de problemas matemáticos. 2017. Dissertação (Mestrado em Educação Brasileira) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação. Fortaleza, 2017. BORGES, Hermínio; CAMPOS, Márcia. O ensino de matemática: analisando o raciocínio matemático do mediador. In: Encontro de Pesquisa Educacional do Norte Nordeste, 14, 1999. BORGES, Hermínio; OLIVEIRA, S. S. Experiências de Formação de Professores em Informática Educativa no NTE do Município de Fortaleza. In: II Encontro de Pós Graduação e Pesquisa da UNIFOR. Anais. Fortaleza: Ed. Unifor. 2002. PONTE, João Pedro da; MATA-PEREIRA, Joana; HENRIQUES, Ana. O raciocínio matemático nos alunos do Ensino Básico e do Ensino Superior. Práxis Educativa, Ponta Grossa, v. 7, n. 2, p. 355-377, jul./dez. 2012. Disponível em: <http://www.revistas2.uepg.br/index.php/praxiseducativa/article/view/4698/3212>. Acesso em: 29 out. 2017. CURI, Edda. A formação matemática de professores dos anos iniciais do ensino fundamental face às novas demandas brasileiras. Revista Iberoamericana de Educación, v. 37, n. 5, p. 1-10, jan./abr. 2005. Disponível em: <http://rieoei.org/1117.htm>. Acesso em: 30 out. 2017. JOHANNOT, Louis. JOHANNOT, Louis. Recherchessur Le raisonnement mathématique de l'adolescent. Geneva: Delachaux: Niestlé, 1947. MORETTI, Vanessa. Professores de Matemática em atividade de ensino. Uma perspectiva, 2007. NÓVOA, António. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa: Educa, p. 25-47, 2009. RUSSEL, S. Mathematical reasoning in the elementary grades. In: STIFF, L. V.; CURCIO, F. R. (Eds.). Developing mathematical reasoning in grades K-12. Reston: NCTM, 1999. p. 1-12. SANTOS, Maria José Costa dos. A formação do pedagogo para o ensino de matemática nos anos iniciais do ensino fundamental: reflexões dedutivas e epistemológicas. IN: CIAEM, 14, 2015.
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