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CONTABILIDADE E PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO Professor: Me. Jovi Barboza DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Pró-Reitor de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site shutterstock.com Diretoria de Design Educacional Débora Leite Diretoria de Pós-graduação e Graduação Kátia Coelho Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Head de Pós-graduação e Extensão Fellipe de Assis Zaremba Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Projeto Gráfico Thayla Guimarães Designer Educacional Produção de Materiais Editoração Arthur Murilo Heicheberg Qualidade Textual Produção de Materiais C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; BARBOZA, Jovi. Gerenciamento e Planejamento Tributário. Jovi Barboza. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2018. 69 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Planejamento. 2. Tibutário. 3. EaD. I. Título. CDD - 22 ed. 001 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 04 05 sumário 07| CONTABILIDADE DE CUSTOS E CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA 15| ASPECTOS FISCAIS OPERAÇÕES COM MERCADORIAS E PRODUTOS 26| REGIMES TRIBUTÁRIOS 37| IMPOSTOS CUMULATIVOS E NÃO CUMULATIVOS 48| IMPOSTOS INTRÍNSECOS E EXTRÍNSECOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Entender a importância da Contabilidade de Custos para o Planejamento Tributário. • Estudar os aspectos fiscais das operações com mercadorias e produtos. • Estudar e compreender os Regimes Tributários e seus efeitos para o Planejamento. • Estudar os Impostos cumulativos e os Impostos não cumulativos. • Estudar os Impostos intrínsecos e os Impostos extrínsecos PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Contabilidade de custos e Contabilidade tributária • Aspectos fiscais – operações com mercadorias e produtos • Regimes Tributários • Impostos cumulativos e não cumulativos • Impostos intrínsecos e extrínsecos CONTABILIDADE E PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO INTRODUÇÃO introdução Olá, caro aluno! Esta área é um campo interessante para o conhecimento humano, já que trata da atividade empresarial, sabemos que é a grande maioria das empresas do país que movimenta a Economia como um todo, favorecendo o crescimen- to do país e o crescimento individual de cada um de nós, inclusive eu e você! A finalidade de toda empresa é o lucro. As operações comerciais, industriais e de prestações de serviços são executadas um sem-número de vezes diariamente. Os números são, portanto, muito dinâmicos. Se não houver um grande controle minucioso de todas as operações, no tocante aos valores, quantidades, preços de compras, preços de vendas, impostos das compras e impostos das vendas, além de toda a movimentação de recursos humanos, materiais e financeiros, a empresa pode ter seu patrimônio dilacerado em pouco tempo, sem perceber. É nessa seara que aparece a Contabilidade como uma ferramenta das mais importantes do ponto de vista gerencial. Mas a Contabilidade se apresenta em diversas modalidades, como a Contabilidade de Custos, a Contabilidade Empresarial, a Contabilidade Gerencial e a Contabilidade Intermediária, sendo possível mencionar outras, como a Contabilidade Financeira. Para o Planejamento Tributário, é importante ressaltarmos que a contabilidade de custos é imprescindível. Isso porque, quando fazemos uso da contabilidade de custos, os impostos que não são custos são tratados como investimentos a curto prazo ou como empréstimos recuperáveis em pouco tempo. Você vai ver que é muito importante entender que os impostos gerados pelas compras da empresa são pagos, de imediato ou a prazo, para o Fornecedor da mercadoria, matéria-prima ou serviço adquirido. Já os impostos gerados pelas vendas são “recebidos” pela empresa, pois são pagos pelos clientes. O que a empresa tem obrigação de fazer é pagar os impostos que recebeu do cliente na venda, pois aqueles que se encontram embutidos nas compras já foram pagos por meio do Fornecedor, como veremos agora. Mas há casos em que a empresa “desconta” o valor pago para o fornecedor daquele valor que recebeu do cliente e recolhe diretamente só a diferença. INTRODUÇÃO introdução Nesse momento, nasce a necessidade de se operar a Contabilidade de Custos! É que, se um determinado imposto, pago pela empresa na compra ao Fornecedor, vai ser recuperado, isto é, temos uma operação com crédito, então, ele deve ser descontado do preço da mercadoria ou serviço, pois não se trata de “custo”, mas, sim, de um adiantamento ao Fisco, feito por meio do Fornecedor para, no futuro, bem próximo, assim que se efetuar uma venda, descontar do valor que se deve ao fisco, pela operação recebida do cliente. A Contabilidade Básica dá uma visão introdutória dos principais conceitos do Patrimônio, sua movimentação e sua proteção, por meio dos lançamen- tos, mas é a Contabilidade de Custos que orienta o planejamento tributário. A Contabilidade Intermediária aprofunda-se no cerne das movimentações e apre- senta certo dinamismo na consideração dos lançamentos, abordando como são exigidos os registros de lançamentos de aquisições de mercadorias, com im- postos que geram créditos e outros que não geram créditos, os quais se tornam custo e, por isso mesmo, remete-nos ao uso da contabilidade de custos. Espero que esta disciplina lhe agrade e sirva de preparação para um melhor entendimento da área, já que, nesta, encontra-se o cerne do assunto geral aqui tratado: o planejamento tributário. Pós-Universo 7 CONTABILIDADE DE CUSTOS E CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA Pós-Universo 8 Quero que você saiba que a empresa pode ter diversas atividades: industrial, comer- cial e de prestação de serviços. A empresa industrial é aquela que adquire “produtos” de outras que se tornam, para ela, “matéria-prima” (insumo) para fabricação de seus “produtos”. A fabricação é um processo de transformação, isto é, a matéria-prima é utilizada no processo e se modifica em outra natureza. Devido a esse processo, dá-se um nome: produto (quer dizer que “foi produzido, criado”). Portanto, produto é aquele que “nasce” dentro da empresa, com a combinação das diversas “maté- rias-primas e insumos”. A empresa comercial, no entanto, não “cria”, não “fabrica”. Ela adquire o “produto” de outra e revende da forma como se encontra aquele produto. A esse produto, revendido dessa forma, tal e qual foi recebido pela empresa, costu- ma-se dar o nome de mercadoria. Mas há algumas empresas que são mistas, ou seja, trabalham com dois ou mais setores (produtos, mercadorias e serviços). Os pro- dutos são aqueles “criados” por ela; as mercadorias são os produtos de outros por ela adquiridos e revendidos sem qualquer alteração; e os serviços são atividades do ser humano, comercializado como bem da empresa. Agora, você já tem uma vaga visão do que seja uma empresa industrial, comer- cial, de serviços ou mista. Mas como será que vamos calcular o preço de venda em cada uma delas? E os custos? O que são e como serão considerados nos efeitos do Balanço de Resultados? Como é feita a avaliação dos estoques, que tem, certamente, influência na formação dos custos, conforme a quantidade de produtos/mercado- rias vendidas no mês? Os custos devem ser considerados em relação às vendas, para que se possa precisar o “lucro”, como objetivo principal da empresa (MEGLIORINI, 2012, p. 2). Pós-Universo9 Quando se constitui uma empresa, os sócios se reúnem e integralizam o Capital Social, isto é, aportam ao patrimônio da empresa o dinheiro ou bens destinados à formação do Capital, que será o ponto de partida para que a empresa possa consti- tuir um emaranhado de equipamentos e instalações para suas operações, tais como máquinas, veículos, terrenos, edificações etc. É com esses recursos (dinheiro e outros) que a empresa vai se movimentar. E tem muita gente por aí pensando ser possível montar uma empresa sem capital, ou com “capital de terceiros”, onerando, com juros, a organização. Quando o capital é de terceiro (Bancos e outros), este não tem nenhum interesse direto no negócio, senão na remuneração do seu capital (o empréstimo). Então, o que acontece? Se o negócio da empresa não for tão rentável para cobrir os juros do capital emprestado e para sobrar o “lucro”, tão necessário para o crescimento da empresa, dará prejuízo. O prejuízo é o inverso do lucro, isto é, quando a empresa encerra um período, deve fazer um cálculo do valor de suas vendas, diminuindo os custos daquilo que foi vendido e as despesas outras necessárias a sua atividade e, ao final, obtém-se o “lucro” (em uma explicação bem simplória). A partir das compras, com esses recursos oriundos da formação do Capital Social, é que se vislumbra a presença dos CUSTOS de Vendas dos Produtos ou Mercadorias, conforme a atividade da empresa. Assim, compete-nos verificar os diversos tipos de custos que podem ocorrer na empresa. Para que se faça uma melhor análise dos Custos, é bom que se entenda como fun- cionam os “métodos” de custeio, que Parisi (2011, p. 30) denomina “mensuração”. Há outros métodos de custeio, como Pleno, ABC e, por exemplo, o “método de Custeio Variável”, que agrega aos produtos somente os custos variáveis, mas o mais comu- mente utilizado é o método de Custeio por Absorção. Por esse método, os objetos de custeio devem “absorver” todos os custos incorridos na produção (PARISI, 2011, p. 34). Devemos observar, portanto, que o método classifica como “custos” todos os gastos de produção. Assim, os gastos que são feitos pela empresa fora da produção (setor de vendas ou administração) não são custos, são despesas. Por assim dizer, “despesas” e “custos” são diferentes, pois, enquanto estes são os gastos gerados no processo de produção, aquelas representam gastos realizados por outros departa- mentos da empresa. Pós-Universo 10 É por meio da Contabilidade de Custos que a empresa consegue fomen- tar informações e condições de implantação, aprimoramento e gestão do Planejamento Tributário. A Contabilidade Tributária consiste em uma parte da Contabilidade de Custos, quando se considera a contabilização dos tribu- tos envolvidos nas compras e nas vendas realizadas pela empresa, podendo esses tributos serem considerados “custos” ou não, dependendo de sua na- tureza jurídico-tributária, no tocante ao aproveitamento do valor pago na compra (créditos) em relação ao valor do tributo recebido pela empresa na venda (débitos), podendo recolher aos cofres públicos, apenas, a dife- rença. Esse aspecto é denominado “não cumulatividade” e será estudado na aula 4, adiante. Os custos, entretanto, além dos tributos, podem englo- bar outros fatores econômicos, como despesas acessórias (fretes) e outras. Podem ser denominados e classificados segundo a consideração da ava- liação dos estoques pela empresa e têm reflexos diretos sobre a geração de resultados da empresa, circunstâncias que são demonstradas e relata- das para o público-alvo por meio das Demonstrações Financeiras (Balanço e outros), garantidos pela legislação comercial, representada basicamen- te pela Lei das S/As, Lei n° 6.404/1976, com as alterações advindas das Leis n°s. 11.638/2007 e 11.91/2009, além de atenderem, também, aos princípios contábeis geralmente aceitos (Resolução CFC 750/83) e, atualmente, aos CPCs – Comitês de Pronunciamentos Contábeis que levam os profissionais da área a observarem os IFRS – International Financial Reporting Standards, ou Padrões Internacional de Elaboração de Relatórios Financeiros. quadro resumo A importância da Contabilidade de Custos é tamanha que a vertente mais atual da Administração moderna impõe às empresas a implantação de um verdadeiro sistema estratégico de gestão de custos (PARISI, 2011, p. 260). Você, pesquisando alguns dou- trinadores, encontrará diversas denominações de custos: de aquisição, de reposição, insumos, despesas, impostos etc. O que realmente importará é o tratamento contá- bil que você dará para esses custos. Pós-Universo 11 Assim, vamos verificar que a aquisição de mercadorias e insumos de produção gera gastos, chamados de “custos”, quando relacionados com as operações de comer- cialização ou de industrialização (BARBOZA, 2005, p. 37). É devido a essa situação de incidência tributária (na qualidade de impostos sobre as vendas e as compras) que se justifica a criação da Contabilidade Tributária, ou, em outras palavras, do Planejamento Tributário (elisão). Todos os gastos geram saída de dinheiro do caixa da empresa de imediato ou no futuro. À Contabilidade cabe o registro correto desse fluxo financeiro. Ao Contador cabe entender e informar ao público-alvo o correto significado desses “acontecimen- tos” denominados “fatos contábeis”, assim como os “fatos fiscais”, denominados pela lei tributária “fatos geradores”, isto é, fatos que geram tributos. A Contabilidade não pode deixar de lado os conceitos e os princípios tributários, nem as normas básicas desse campo jurídico. É imprescindível, para qualquer empresa que opera em um país cuja carga tributária chega perto dos 40% (quarenta por cento), que a Contabilidade exerça suas principais funções de forma adequada e eficiente, pois, do contrário, o prejuízo poderá ser grande. Você deve estar se perguntando se há diferença entre a Contabilidade de Custos e a Contabilidade Tributária, ou qual a diferença existente e suas aplicabilidades. A verdade é que, qualquer que seja a denominação escolhida, o objetivo primordial será o de se estabelecer o correto critério de apuração dos custos das vendas, assim como da avaliação dos ativos (estoques). A separação conceitual é puramente didáti- ca, porém Contabilidade de Custos engloba todos os aspectos contábeis atinentes à incidência de tributos nas operações comerciais da empresa (BARBOZA, 2014, p. 16). Pós-Universo 12 Quem não já ouviu falar de Al Capone. Um “Mafioso” nascido no Brooklyn, em Nova Iorque, de família imigrante, que marcou presença nos anos 30 na his- tória policial dos Estados Unidos, pois se tornou chefe de uma “Gang”, à qual se filiara como membro em 1920, a convite de um dos líderes, Johnny Torrio. Quando este se tornou o chefe da Gang, Capone tornava-se um membro de destaque e, em 1925, quando Torrio ficou muito doente, Capone assumiu o comando. Apesar de a organização criminosa operar diversas modalida- des, como venda de bebidas alcoólicas (whisky) falsificadas, distribuição e gerenciamento de máquinas “caça-níqueis” e comandos de área ilegais, a Polícia e o FBI sempre levavam desvantagem e não conseguiam prendê-lo, pois sempre escapava com “artimanhas” legais. Contudo, um detalhe lhe passou despercebido: o Departamento do Tesouro Americano (US Treasury Department) investigou e evidenciou “evasão” de impostos federais com a venda de bebidas alcoólicas pelo grupo de Capone, incluindo seu irmão, Raph, e outros membros. A história conta que o Contador facilitou o trabalho dos Investigadores Federais, dando-lhes co- nhecimento de informações confidenciais da contabilidade do grupo. O assunto chegou a ser tema de filmes e de músicas. Capone foi preso por sete anos, seis meses e quinze dias, além de ter pago todas as multas e os impostos devidos. Esse fato mostra o peso da lei tributária para um regime de common law, com os EUA. Mas o interessante é que o registro das informações foi abertoao conhecimento dos Federais. Portanto, uma demonstração da validade do poder de tributação e das transações de registro das operações. Informações adicionais podem ser consultadas no site do FBI (casos famosos), disponível em: <http://www.fbi.gov/about-us/history/famous-cases/ al-capone>. saiba mais Pós-Universo 13 A Contabilidade de Custos refere-se aos estoques de mercadorias, matérias-primas e produtos, levando em consideração, além dos impostos, os gastos com a aquisição de mercadorias e matérias-primas e de produção (frete, por exemplo). Dessa forma, todos os gastos realizados para geração de produtos são “ativados”, isto é, compõem a avaliação dos estoques de matérias-primas, de produtos acabados ou semiacaba- dos, bem como das mercadorias adquiridas para revenda. Portanto, somente serão considerados custo (CPV ou CMV) quando os produtos forem efetivamente vendi- dos. Enquanto não comercializados, são ativos da empresa. Ao se utilizar da Contabilidade Tributária, já está a empresa praticando parte do Planejamento Tributário, pois a avaliação dos estoques (de produtos e de mercado- ria) registrará o custo correto dos produtos, sem que a carga tributária se faça ali um fator influente para a administração financeira na formação do preço de venda, por exemplo. E esses eventos se concretizam ao final no Balanço e na Demonstração de Resultados (demonstrações financeiras). Como você pode notar, para as empresas que estão obrigadas a publicar demons- trações financeiras, é imprescindível que elaborem “notas explicativas”, de maneira que possam abrir informações para os interessados acerca de algumas ocorrências relevantes que envolvam alguns grupos de contas (ou contas) que não sejam expres- sas pelos números. Essas “notas explicativas” são feitas em bom Português, de forma “entendível” ao acionista menos instruído no idioma da Contabilidade, pois o mais im- portante da concepção da informação é fazer com que atinja o público-alvo correto. Pós-Universo 14 • A Contabilidade de Custos é de suma importância para a realização do Planejamento Tributário. • A Contabilidade Tributária é uma facção da Contabilidade de Custos, na parte em que considera a contabilização dos impostos “cumulativos” e “não cumulativos”, que serão estudados na aula 4. • A finalidade principal da empresa é o lucro. E é por meio da escrituração contábil correta e da elaboração dos demonstrativos que a lei determina que a empresa consegue exprimir para os seus interessados os resulta- dos alcançados em determinado período. • Por meio do entendimento das diversas atividades da empresa (indus- trial, comercial e prestação de serviços), com a correta utilização da Contabilidade de Custos como ferramenta imprescindível, é possível realizar um bom Planejamento Tributário. • Os impostos são pagos pela empresa quando adquirem produtos e são recebidos quando ela realiza operações de vendas; a Contabilidade de- monstra o volume de impostos recebidos e pagos e acusa a diferença que falta recolher, quando esses impostos são “não cumulativos”; quando são “cumulativos”, tais encargos se transformam em “custos” dos bens adquiridos. • A gestão de custos de uma empresa não pode deixar de lado a influên- cia dos impostos existentes e incidentes nas referidas operações. • Os custos podem ser: insumos, despesas, impostos e outros (como perda, por exemplo) • A Contabilidade tem diversas funções: Escrituração, Orientação, Assessoria e Planejamento. • O resultado da correta escrituração contábil é demonstrado por meio dos Relatórios e Demonstrações. quadro resumo Pós-Universo 15 ASPECTOS FISCAIS OPERAÇÕES COM MERCADORIAS E PRODUTOS Pós-Universo 16 Olá, aluno(a). Já estamos bem avançados no conteúdo. Vamos falar, agora, sobre alguns aspectos fiscais que envolvem as operações com mercadorias e produtos (compra e venda). Como você sabe, a Contabilidade deve seguir as leis comerciais, basicamente a Lei das Sociedades por Ações, como já dito anteriormente, alterada pelas Leis n°s. 11.638/2007 e 11.649/2009. Contudo, em alguns casos, é possível observar alguns aspectos fiscais na escrituração contábil. É o que ocorre com as operações que estu- daremos aqui, isto é, as operações com mercadorias e produtos. Produto é tudo aquilo que é “produzido” pela empresa, em uma operação que chamamos, costumeiramente, de operação industrial, que é a ação de transformar um material em produto; esse material envolvido recebe a denominação de maté- ria-prima ou insumo. Quando uma empresa adquire um produto de outra e o vende sem qualquer alteração ou modificação, costuma-se denominar esse bem de mer- cadoria. Em alguns casos, algumas empresas puramente comerciais são, pela lei, equiparadas a industrial. Portanto, quando a empresa contabiliza essas operações com produtos e/ou mer- cadorias, pressupõem-se vários aspectos fiscais, como a geração, a recuperação, o crédito e o débito de tributos, bem como a geração de “custos”, além dos pagamen- tos e recebimentos das dívidas e receitas, respectivamente. Pós-Universo 17 A avaliação de estoques, com base no preço de venda, diminuído da margem de lucro está prevista no artigo 295 do RIR/99 como opção para ser adotada nos casos em que não seja viável a aplicação dos critérios PEPS, custo médio ou custo específico. Esse critério de avaliação de estoques, conforme disciplina o fisco, consiste na obtenção do custo de produção ou aquisição, subtraindo-se a margem de lucro do preço de venda. A expressão “margem de lucro” utilizada pelo fisco, neste caso deve ser in- terpretada como sendo o montante adicionado pela empresa ao custo de fabricação ou de aquisição, para compor o preço de venda. Tecnicamente esse montante é conhecido como “mark-up”, palavra inglesa cujo significado pode ser entendido exatamente como sendo uma dife- rença entre o custo total de produção ou de aquisição e o preço de venda de um bem. As empresas que trabalham com grande variedade de mercadorias, como ocorre por exemplo com os supermercados e com as lojas de departamen- tos, em decorrência do grande número de notas fiscais de entrada bem como da permanência de itens semelhantes em vários pontos de venda, preferem para fins gerenciais, controlar seus estoques com base nos preços de venda” (RIBEIRO, 2009, p. 99). O autor se refere a uma regra que não é muito recomendada para a maioria das empresas, pois, na formação do preço de venda, sempre se embute os percentuais de impostos sobre as vendas. E, se o RIR fala, unicamente, em margem de contribuição, pode-se distorcer o custo do Estoque, ao se fazer a avaliação por esse sistema, simplesmente retirando-se do preço estabe- lecido o valor correspondente, apenas, à margem de contribuição. saiba mais Veja como funciona: os impostos pagos ao Fornecedor, na compra (de mercadorias ou de matérias-primas), podem ser aproveitados (gerando crédito) ou não, depen- dendo da natureza da operação, ou do Regime Tributário, como veremos mais à frente. E, ao ser adquirido o “objeto”, seja mercadoria ou matéria-prima, forma-se o Estoque da empresa. Esse estoque, portanto, é registrado contabilmente, segundo o critério “pré-estabelecido” pela empresa. A essa circunstância se dá a denominação de “avaliação de estoques” Pós-Universo 18 Algumas empresas, que não se utilizam corretamente da Contabilidade de Custos, ajustam os Estoques de Mercadorias e Produtos da forma que melhor lhe convém, alterando, para cima ou para baixo, o lucro bruto apurado, o que consiste prática ilegal. Além disso, em um eventual processo de falên- cia, poderá haver averiguação pelo Juiz, por meio do denominado Inquérito Judicial, e, se for o caso, a constatação de crime falimentar, o que é muito mais prudente evitar! atenção A avaliação de estoques é uma ferramenta por demais importante para o planejamen- to fiscal e tributário. É que os “insumos” e “mercadorias” adquiridos têm um valorque pode corresponder ao “custo histórico” ou não. Por isso, é importante compreender os critérios. Existem vários critérios para a Avaliação de Estoques (RIBEIRO, 2009, p. 93). Mas alguns não são aceitos pela legislação, apesar de não serem proibidos. Quando se escolhe um critério de avaliação dos estoques, não aceito pela legislação fiscal, deve-se fazer o “ajuste” posteriormente, para evitar a chamada “evasão”, ou seja, a sonegação fiscal, que representa o cometimento de um crime fiscal. Há uma determinação legal para que se utilize como critério de avaliação o “Custo” ou o “Valor de Mercado”, o que for menor (MARION, 2009, p. 332). A Lei n° 11.941/2009 estabelece uma nomenclatura diferente para “Valor de Mercado”, ou seja, denomina-o “Valor Justo”. Pós-Universo 19 “O cidadão paga nada menos do que 41 impostos e contribuições, além de inúmeras taxas. São valores cobrados pela União, pelos Estados e municí- pios, alguns em cascata, num número crescente. Quando comparada ao PIB, a carga tributária do Brasil supera a de países como Estados Unidos (29% do PIB), Japão (28%) e Portugal e Espanha (30%). A média brasileira só perde para a da União Europeia, de 35%, mas ultrapas- sa a de todos os países em desenvolvimento – México, Argentina, Uruguai e Paraguai, que apresentam, por exemplo, 22%, 20%, 16% e 11% do PIB respectivamente. A grande maioria dos impostos é sobre as vendas. Significa que todos os impostos sobre vendas acrescem os produtos. Os estoques, então, são sempre acrescidos pelos impostos?” (MARION, 2009, pág. 334). reflita Os principais critérios de avaliação são: PEPS, UEPS e CUSTO MÉDIO. O primeiro emprega uma sistemática de custo, considerando que o primeiro item comprado é o primeiro a ser vendido; o segundo estabelece justamente o contrário, isto é, o último item adquirido é o primeiro a ser vendido; já o sistema de custo médio, o mais comumente utilizado, utiliza uma “média” dos preços dos itens que compõem os es- toques, para determinar o “custo” dos itens que estão sendo vendidos. Veja um quadro exemplo de custo médio ponderado: Tabela 2: Apuração do Custo Médio Ponderado OPERAÇÕES ENTRADAS/SAÍDAS SALDOS DATA OPERAÇÃO +/- Qtde. VALOR C.Unit. Qtde. VALOR C.M.U. 01.01 Compra de mercadorias + 100 2.000,00 20,0000 100 2.000,00 20,0000 07.02 Compra de mercadorias + 325 7.500,00 23,0769 425 9.500,00 22,3529 08.01 Venda de mercadorias - 150 3.352,93 22,3529 275 6.147,07 22,3529 10.01 Compra de mercadorias + 375 8.156,25 21,7500 650 14.303,32 22,0051 12.01 Venda de mercadorias - 475 10.452,42 22,0051 175 3.850,90 22,0051 Fonte: Elaborado pelo Autor. Pós-Universo 20 Como demonstrado, as compras aumentam os estoques e as vendas diminuem. Isso porque, quando compramos, o objeto entra para nossa empresa (entrada). Quando vendemos, o objeto é retirado do nosso estoque e encaminhado para a empresa que comprou (saída). Essas operações são tão importantes que o Fisco tem instituído o “Livro de Registro de Entradas” e o “Livro de Registro de Saídas”, os quais, quando confrontados, geram as obrigações tributárias das empresas. A escolha do critério de avaliação dos estoques não é, assim, tão delibera- da, como nos lembra Ribeiro (2009, p. 98-99): “ “Nos períodos de inflação galopante, por exemplo, a adoção do critério UEPS provocará sérias distorções, tanto na avaliação dos estoques quanto na atribuição dos custos das vendas, resultando em estoques disformes dos preços de mercado e custos elevados, reduzindo consideravel- mente os lucros. ... No Brasil, com o império da economia inflacionária, cujos índices de inflação a década de 1980 estiveram próxi- mos de 90% ao mês, o fisco, por meio da legislação do imposto sobre a renda, não aceita a adoção do critério UEPS, exatamente porque, nos períodos de inflação, dis- torce completamente os resultados, apresentando custo maior, lucro menor e estoque final disforme da realidade”. A questão é muito fácil de entender. Diminuindo-se o lucro (BASE DE CÁLCULO), com o artifício de se atribuir aos custos dos produtos ou merca- dorias vendidos um valor maior do que a realidade (UEPS), provoca-se um valor menor de imposto de renda e de contribuição social sobre lucro líquido, quando, na realidade, o lucro obtido foi maior, pois o custo das vendas é menor, se considerar o critério de “média ponderada”, por exemplo. fatos e dados Pós-Universo 21 No que tange aos impostos, dizemos que as entradas geram crédito, enquanto as saídas geram débito. Equivale dizer que, quando compramos, “pagamos” o imposto para o nosso fornecedor, que irá fazer o repasse para o fisco. De nossa parte, quando vende- mos, o Cliente nos paga o valor do imposto que está na nota. Nós recebemos e ficamos “devendo” para o Fisco, já que o valor do imposto não nos pertence. Por fim, entende- mos que aquilo que já “pagamos” é o Fisco que nos deve, portanto, temos um crédito. Ao confrontarmos os “créditos” com os “débitos”, teremos uma diferença. Essa diferença sendo um débito (DÉBITOS > créditos), pagamos a diferença para o Fisco. Infelizmente, se for o inverso, isto é, se ocorrer um crédito (CRÉDITOS > débitos), não poderemos solicitar o pagamento do Fisco. A regra manda que guardemos o crédito e o aproveitemos no período seguinte e assim por diante. Então, veja, a contabilização dessas operações é de fácil entendimento. Quando a operação de entrada gera crédito, faz-se a contabilização desse no Ativo Circulante, como um crédito, uma aplicação, um investimento de curto prazo. Em contraparti- da, diminui-se o custo dos estoques. Vejamos um exemplo: Pós-Universo 22 Uma empresa adquire matéria prima e vai transformá-la em produto, com as seguintes características de aquisição: Valor Total da Nota.....................................................: R$ 1.100,00 Valor dos impostos (recuperáveis)...............................: R$ 280,00 Contabilização: Débito de Estoque (compra de matérias-primas).........: R$ 1.100,00 Crédito de Fornecedor (compra a prazo)....................: R$ 1.100,00 Débito de Impostos recuperáveis.................................: R$ 280,00 Crédito de Estoques (compra de matérias-primas)......: R$ 280,00 Dessa operação, pode-se concluir que as contas apresentarão os seguintes saldos: 1. Estoque (compra de matérias-primas - custo).............: R$ 820,00 2. Impostos recuperáveis.................................................: R$ 280,00 3. Fornecedores...............................................................: R$ 1.100,00 Como vemos, o resultado da operação é o seguinte: DEVEMOS para nosso Fornecedor R$ 1.100,00, o Estado nos deve R$ 280,00 e o valor do Estoque é de R$ 820,00. Isto é, o custo verdadeiro da matéria-prima adquirida é R$ 820,00, e não de R$ 1.100,00, que é o valor pago ao Fornecedor. Nesse particular, observe que o que denominamos Contabilidade de Custos é a fer- ramenta que nos proporciona saber exatamente quanto custou o “objeto” adquirido. Esse custo será operacionalizado. O imposto que gera crédito não pode ser conside- rado “custo”, ainda que a operação tivesse sido feita “à vista”, com a saída do dinheiro do Caixa, no total de R$ 1.100,00, o custo do bem adquirido seria de R$ 820,00. CONTABILIZAÇÃO RESUMO Pós-Universo 23 “O Custo das Mercadorias Vendidas, comparado com as Receitas, proporciona o montante do Lucro Bruto. Nas publicações de Demonstrações Financeiras de empresas comerciais, os valores desta parte geralmente são bem mais elevados que de outras partes das demonstrações. Outro aspecto interes- sante é que desse grupo podemos calcular qual é a margem unitária de lucro bruto com que a empresa opera. Quanto é o custo das mercadorias vendidas para cada real de venda? Se as vendas forem no montante de $ 200.000 e o CMV, $120.000, isso significa que o custo é 60% e que para cada real de venda ela tem um custo de $ 0,60. Portanto, a empresa obtém um lucro bruto de$ 0,40 para cada real de venda e com esse lucro a empresa deve remunerar suas despesas operacionais no montante de $ 50.000. Estas representam 25% das vendas. Finalmente, com o lucro bruto de 0,40, ele deve pagar 0,25 de despesas operacionais por real de vendas e obterá um lucro líquido de $ 0,15 por real de vendas” (MARION, 2009, p. 321). O autor faz um comentário sobre a influência dos estoques nas demons- trações financeiras, com uma DRE hipotética e, também, hipotéticas as relações de lucro sobre as vendas. Não sendo utilizada a Contabilidade de custos, a avaliação aleatória dos estoques de mercadorias pode deformar a Demonstração e “falsear” a verdade contábil do período em análise. saiba mais Além disso, considere os aspectos fiscais conforme as operações (atividades) da empresa, abrangendo ora operações puramente mercantis e ora industriais, ou, por outro lado, de prestação de serviços. Assim, a Contabilidade de Custo identifica os “insumos”, tratando- -os diferentemente das “mercadorias” e agregando-os no aspecto produtivo para composição do custo do “produto” ou do “serviço”, que será vendido posteriormente. Independentemente das facilidades oriundas da lei ou da tecnologia, importa levar em conta que a Contabilidade se encarrega de dar transparência ao usuário da infor- mação, de modo que o que se tem no Balanço (ou em qualquer outra Demonstração Financeira) pode ser confiável, representando o verdadeiro valor do Patrimônio da empresa, não se levando em conta se as operações são comerciais ou industriais, à vista ou a prazo e se os impostos são cumulativos ou não cumulativos. Quando o sistema é bem montado, a partir de um bom Plano de Contas, o resultado final será a elaboração de Demonstrações Financeiras que atendam à legislação e propiciem satisfação daquele a quem são destinadas (RIBEIRO, 2009, p. 3). Pós-Universo 24 A Contabilidade não é responsável pela apuração fiscal, isto é, todas as ope- rações fiscais são realizadas em seus livros próprios. Mas a Contabilidade de Custos é capaz de demonstrar em seus meandros contábeis todas as nuances que envolvem a geração do produto, bem como a movimenta- ção da mercadoria, as aquisições de matérias-primas e insumos, além de propiciar o entendimento acerca de operações industriais e, também, demonstrar as consequências de operações realizadas por empresas co- merciais equiparadas à industrial. Por meio da escolha de um critério de avaliação de estoques, que normal- mente privilegia o critério do “custo médio ponderado”, as informações geradas pela Contabilidade de Custos ganham peso e se tornam mais fide- dignas quando analisadas as demonstrações financeiras. Além disso, os aspectos fiscais oriundos das operações de compra e venda de mercadorias, matérias-primas e produtos são facilmente demonstrados nos saldos das contas de estoques, porque refletem o real custo das ope- rações realizadas. Com isso, pode-se escolher qualquer sistema de inventário dos Estoques (misto, periódico ou permanente), porque, para a Contabilidade de Custos, o que vale mesmo é entregar ao usuário da informação um relatório con- fiável e eficaz. quadro resumo O autor nos remete à reflexão sobre a incidência dos impostos de maneira exage- rada, em cada compra, que significa que, do outro lado, ocorreu uma venda. Assim, de venda em venda, os impostos vão se acumulando nos estoques das empresas e, sobre esses impostos, mais impostos são cobrados, ou seja, dá-se, aí, o denominado “efeito cascata” de cobrança de impostos. Pós-Universo 25 1. A Contabilidade deve seguir as normas legais estabelecidas para a es- crituração comercial, seguindo, basicamente, a Lei das Sociedades por Ações, alterada pelas Leis de n°s 11.638/2007 e 11.649/2009. 2. Para fins de análise dos aspectos fiscais, a Contabilidade leva em con- sideração alguns conceitos básicos e condições específicas, tais como PRODUTO, MERCADORIA, INSUMO, MATÉRIA-PRIMA (conceitos básicos) e OPERAÇÃO INDUSTRIAL e EQUIPARAÇÃO INDUSTRIAL (condições básicas). 3. Os critérios de avaliação dos estoques são PEPS, UEPS e Custo Médio. O mais empregado e aceito pela legislação fiscal é o critério do “custo médio ponderado”. 4. Nas operações com aquisições e vendas de produtos, mercadorias e matérias-primas (entradas e saídas), podem ser gerados créditos e débitos de impostos, que se compensam ao final do período, devendo a Contabilidade registrar a diferença para fins de pagamento (DÉBITO) e/ou aproveitamento futuro (CRÉDITO). 5. Ao final do período, a empresa deve registrar o seu Inventário, o qual pode estar vinculado a um sistema periódico (feito em cada fim de período) ou permanente (quando é feito o controle a cada operação de compra e de venda). quadro resumo Pós-Universo 26 REGIMES TRIBUTÁRIOS Pós-Universo 27 Seja bem-vindo(a) aos regimes tributários! Agora, você vai constatar que, ao se utili- zar da Contabilidade Tributária, a empresa já estará praticando parte do Planejamento Tributário, pois a avaliação dos estoques (de produtos e de mercadoria) registrará o custo correto dos produtos, sem que a carga tributária se faça ali um fator influente para a administração financeira na formação do preço de venda, por exemplo. Por isso mesmo, o planejamento tributário (elisão) não se confunde com sonegação (evasão) fiscal, pois naquela estará uma operação lícita, isto é, que atende à lei tri- butária, enquanto nesta se tem uma operação ilegal. As empresas, de um modo geral, estão sujeitas a Regimes Tributários, em que se enquadram por escolha (opção) ou compulsoriamente, como veremos a seguir. Veja a solução de consulta apresentada na obra da Profª. Lucia Young, que bem demonstra como a Secretaria da Receita Federal aceita a escolha de um regime tributário. SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL SOLUÇÃO DE CONSULTA 31, DE 26.04.2004. IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA – IRPJ. As sociedades corretoras de seguros, por serem consideradas empresas de intermediação de negócios, podem, em princípio, optar pelo regime de tributação do IRPJ com base no lucro presumido, desde que não estejam legalmente obriga- das, por qualquer outro motivo, à apuração pelo lucro real, visto que não se confundem com as empresas de seguros privados, porquanto estas res- pondem pelo pagamento de indenização ao segurado. Fonte: Receita Federal (apud YOUNG, 2008, p. 17). O fato de termos uma resposta antiga (2004), em termos de estudos tri- butários, não pesa negativamente, pois a legislação atual do Imposto de Renda tem origem no ano de 1995, vigendo até hoje. Portanto, o que se precisa cuidar é com relação às atualizações substanciais. A solução de consulta acima é um bom exemplo. Em termos de estudos tributários, a solução de consulta acima, datada de 2004, não pesa negativamente, tendo em vista que a legislação atual do Imposto de Renda tem origem em 1995, com vigência até os dias de hoje, sem alterações. Faz-se necessário um cuidado apenas em relação às atualizações substanciais. fatos e dados Pós-Universo 28 Os Regimes Tributários regidos pela legislação fiscal são: • SIMPLES NACIONAL. • LUCRO PRESUMIDO. • LUCRO REAL. • LUCRO ARBITRADO. Entenda que os Regimes Tributários são Sistemas legais que enquadram à empresa para fins de recolhimento do Imposto de Renda - IRPJ e da Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido - CSLL. Assim, as empresas que podem optar pelo Regime do Lucro Presumido recolhem esses tributos com base em um lucro “presumido”, como o próprio nome indica, enquanto aquelas que estão enquadradas no Regime do Lucro Real fazem o cálculo daqueles encargos com base em um lucro real, assim reconhecido o lucro que a lei fiscal determina, levando em conta alguns ajustes no lucro contábil. Há, ainda, o Regime do MEI – Micro Empreendedor Individual, que nasce no bojo da legislação do Simples Nacional. Porém, nossa consideração é de que esse regime não se aplica à situação em estudo, poisnão se trata de um regime aplicado às socie- dades, mas, sim, para o empreendedor individual. De qualquer forma, é um regime jurídico-tributário e pode ser contabilizado normalmente para fins de registro das operações e das tributações. Porém, não há nenhuma possibilidade de se inferir a mudança de regime, como nos regimes estudados anteriormente (Simples Nacional, Presumido, Real e Arbitrado), pois o MEI é individual e não se enquadra nos conceitos de empresas dos regimes anteriores. Para a empresa reduzir o recolhimento mensal do IRPJ e da CSLL, deve ela- borar mensalmente o Balanço e a Demonstração de Resultados, além de escriturar o LALUR, ainda que, agora, digitalmente, pois, do contrário, deve recolher os tributos com base na estimativa, que se caracteriza pela utiliza- ção da Tabela que serve de cálculo para o Lucro Presumido. atenção Pós-Universo 29 O Regime denominado SIMPLES NACIONAL facilita a apuração e o recolhimento do conjunto de impostos relacionados pela Lei do Simples e o Regime do Lucro Arbitrado não é propriamente um regime que se escolhe, já que é, no mais das vezes, aplica- do como um regime de “punição” para a empresa que se encontra com sua escrituração contábil e fiscal irregulares. Os regimes têm as seguintes características: I - Simples Nacional: instituído pela Lei Complementar n° 123, de 14 de dezembro de 2006, o Regime denominado SIMPLES NACIONAL é legalmente denomina- do Estatuto Nacional da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte e pelo art. 1° da Lei institui “normas gerais relativas ao tratamento diferenciado e favo- recido a ser dispensado às microempresas e empresas de pequeno porte”. Esse regime pode ser utilizado pelas microempresas (que faturam até R$ 360.000,00 por ano) e pelas Empresas de Pequeno Porte (que faturam até R$ 4.800.000,00). II - Acima desse nível de faturamento, as empresas são proibidas de optarem pelo Regime do Simples Nacional. Além disso, algumas atividades empresariais, como a Consultoria, por exemplo, são também proibidas de se enquadrarem no Simples Nacional, devendo optarem por outro regime. III - Lucro Presumido: as empresas que não se enquadram no Regime do SIMPLES NACIONAL e que desejam, ainda, uma opção mais fácil para sua es- crituração, podem optar pelo Regime do LUCRO PRESUMIDO. Nesse Regime, a contabilização dos impostos pode seguir o regime da Contabilidade Comercial e o da Contabilidade de Custos, à opção da empresa. Pelo regime da Contabilidade Comercial, puramente comercial, sem considerar os cri- térios da Contabilidade de Custos, o tratamento dado aos impostos é de “descontrole”, isto é, o empresário, normalmente, não computa o “custo real” dos seus estoques e pode, de certa forma, distorcer os resultados da empresa. Mas há algumas restrições legais quanto à escolha da empresa por esse Regime Tributário. Por exemplo, as empresas que faturam mais de R$ 78.000.000,00 por ano ficam proibidas de optarem por esse regime e passam a ser obrigadas a escolher o Regime do Lucro Real, da mesma forma que as empresas que operam com atividades de Bancos e Financeiras. Pós-Universo 30 IV - Lucro Real: quando a empresa é optante pelo LUCRO REAL, ou é obriga- toriamente vinculada a esse regime tributário, como é o caso dos Bancos e Financeiras e das empresas que faturam mais R$ 78 milhões por ano, o critério de avaliação dos estoques deve obedecer, necessariamente, ao art. 183, da Lei das S/As., ou seja, o Estoque da empresa deve registrar o “custo” real dos produtos e mercadorias. A empresa que opera sob o regime do LUCRO REAL, necessariamente, se creditará dos impostos recuperáveis e os lançará no Ativo Circulante, com mais uma vantagem, pois, por força da Lei n. 10.637/2002, que instituiu a “não cumulatividade” da contribui- ção para o PIS, e da Lei n. 10.833/2003, que instituiu a “não cumulatividade” para a contribuição COFINS, está autorizada a contabilizar em regime de aproveitamento desses tributos (crédito) da mesma forma que se procede com o IPI e o ICMS. V - Lucro Arbitrado: a previsão para que seja adotado o Regime do Lucro Arbitrado está estampada no art. 47, da Lei n°. 8.981, de 20 de janeiro de 1995, mantida pela Lei n. 9.249, de 26 de dezembro de 1995. Caso uma empresa esteja com escrituração fiscal irregular ou tenha escolhido um regime diferente, quando esteja obrigada ao Regime do Lucro Real, o Fisco pode aplicar compulsoriamente o Regime do Lucro Arbitrado, majorando o nível de recolhimento de tributos da empresa. Por isso, costumamos dizer que se trata de um regime de punição, ao invés de um regime de opção. Porém, não há qualquer proibição para que uma empresa opte pelo regime, exceto aquela que determina a obrigatoriedade do regime do lucro real. Pós-Universo 31 O limite anual de faturamento previsto na Tabela de percentuais de apura- ção da “base de cálculo” do lucro presumido (ou do real, por estimativa), para prestação de serviços, estipulado em R$ 120.000,00, foi criado em 1995, pela legislação do Imposto de Renda (Lei n. 9.249/95). Assim, a falta de correção monetária (atualização de valores) com base na inflação acumulada, vem, também, aumentando a arrecadação tributária em muito, pois muitas em- presas que faturam acima de R$ 120.000,00 por ano poderiam ainda estar se beneficiando da redução do percentual de 32% para 16%, caso houves- se correção. Não havendo a atualização dos valores, a empresa paga sobre 32%, desde que seu faturamento anual supere o valor de R$ 120.000,00. reflita Veja você que os três primeiros regimes são possibilidades de opção para as empresas, ressalvadas as restrições. Mas o último é uma espécie de “punição”. A consequência da aplicação do Regime de Tributação pelo Lucro Arbitrado traduz-se em um con- siderável aumento do volume de impostos. De imediato, verifica-se que a base de cálculo será encontrada mediante a aplicação da mesma Tabela utilizada para apu- ração da base de cálculo do Imposto pelo Regime do Lucro Presumido, porém com um acréscimo de 20% (vinte por cento) em cada percentual da tabela, ou seja: • 1,6% (empresas do ramo de combustíveis) passa para 1,92%. • 8% (empresas em geral, comércio, indústria, hospitais, atividade rural, cons- trução e transporte de cargas) passam para 9,6%. • 16% (transportes de passageiros) passam para 19,2%. • 32% (serviços em geral) passam para 38,4%. No caso de empresas do setor financeiro (instituições financeiras, seguradoras e empre- sas que operam com previdência privada), como não se encontra entabulado qualquer percentual na Tabela do Lucro Presumido, pois essas empresas não podem optar pelo Regime, se forem autuadas para tributação pelo Lucro Presumido, o percentual para se encontrar a base de cálculo será de 45% (quarenta e cinco por cento), conforme dispõe o art. 533, do RIR/1999. Esses percentuais serão aplicados sobre o Faturamento (Receita Bruta) da empresa, quando possível a sua apuração (OLIVEIRA, 2009, p. 112). Pós-Universo 32 Com base nos índices médios de inflação, de 1995 a janeiro de 2014, a in- flação brasileira acumulada “beira” a casa dos 355% (trezentos e cinquenta e cinco por cento). Isso significa que a atualização de alguns valores das Tabelas relativas às bases de cálculos do Imposto de Renda, nas diversas mo- dalidades de incidência, assim como nas Tabelas do Simples Nacional, cuja origem vem de 1996, com o Simples Federal (na época), poderia reduzir em muito a carga tributária. O ideal seria haver correção monetária das tabelas, ao menos, anualmente. Adaptado de: <http://informacao.blog.br/2011/03/ indices-de-inflacao-no-brasil-entre-1930-e-2010/>. saiba mais Não sendo possível identificar o faturamento, a base de cálculo será encontrada com a aplicação das seguintes alternativas de cálculo (RIR, 535): I - (1,5) um inteiro e cinco décimos do lucro real referente ao último período em que a pessoa jurídica manteve escrituraçãode acordo com as leis co- merciais e fiscais; II - (0,04) quatro centésimos da soma dos valores do ativo circulante, realizá- vel a longo prazo e permanente, existentes no último balanço patrimonial conhecido; III - (0,07) sete centésimos do valor do capital, inclusive a sua correção mone- tária contabilizada como reserva de capital, constante do último balanço patrimonial conhecido ou registrado nos atos de constituição ou altera- ção da sociedade; IV - (0,05) cinco centésimos do valor do patrimônio líquido constante do último balanço patrimonial conhecido; V - (0,4) quatro décimos do valor das compras de mercadorias efetuadas no mês; VI - (0,4) quatro décimos da soma, em cada mês, dos valores da folha de pa- gamento dos empregados e das compras de matérias-primas, produtos intermediários e materiais de embalagem; http://informacao.blog.br/2011/03/indices-de-inflacao-no-brasil-entre-1930-e-2010/ http://informacao.blog.br/2011/03/indices-de-inflacao-no-brasil-entre-1930-e-2010/ Pós-Universo 33 VII - (0,8) oito décimos da soma dos valores devidos no mês a empregados; VIII - (0,9) nove décimos do valor mensal do aluguel devido. RESULTADO DA EMPRESA TIPO DE LUCRO APURAÇÃO FORMA DE PAGAMENTO Lucro por Regime Tributário SIMPLES NACIONAL MENSAL Pagamento do IRPJ e CSLL em conjunto com diversos tributos, conf. Lei Complementar n. 123/2006 – Base: Faturamento (não inclui o valor do IPI). ARBITRADO ANUAL ou PROPORCIONAL Pagamento definiti- vo com base na receita bruta (faturamento) ou em algum critério se, eventualmente, não for possível conhecer a receita bruta da empresa. PRESUMIDO TRIMESTRAL Pagamento trimestral, definitivo; apurado com base na Receita Bruta (fa- turamento); e pago no trimestre seguinte ao da apuração, podendo ser parcelado em três par- celas, com encargos nas duas últimas parcelas. TRIMESTRAL Pagamento trimestral, de- finitivo; pago no trimestre seguinte ao da apuração, podendo ser parcelado em três parcelas. REAL Pagamento mensal por estimativa ou com base no balanço mensal, que ajusta ao pagamento a si- tuação real da empresa. ANUAL quadro resumo Fonte: o autor Pós-Universo 34 Observe, ainda, que, em qualquer dos regimes, o imposto de renda tem incidência de um “adicional”, a ser calculado da seguinte forma: a. R$ 20.000,00 (vinte mil reais), para apuração mensal. b. R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), para apuração trimestral. c. R$ 240.000,00 (duzentos e quarenta mil reais), para apuração anual. Essa é uma previsão do art. 2°, § 2º, da Lei n°. 9.430/96, que, em seu art. 4°, alterou a Lei n°. 9.249/1995, cujo art. 3° prevê a ocorrência desse adicional (YOUNG, 2004, p. 21). Uma crítica que muito se faz a esse “adicional de imposto de renda” é que sua base de cálculo vem aumentando como massa com fermento, a cada ano, pois o limite estabelecido de vinte mil por mês, sessenta no trimestre e duzentos e quaren- ta no ano, foi instituído pela Lei n° 9.249/95, ou seja, há quase vinte anos e continua sem correção. Assim, empresas que não se enquadravam no adicional no ano de sua criação, logo passaram a fazer parte desse rol, pois, com os índices inflacioná- rios aumentando, o faturamento das empresas e o limite permanecendo no mesmo patamar, a arrecadação tributária tende sempre a aumentar, em consequência. Pós-Universo 35 A partir dos anos 1980, iniciou-se no Brasil uma onda de sociedades coope- rativas de “trabalho”. A consulta que vemos a seguir é a resposta da Secretaria da Receita Federal do Brasil à questão do Imposto sobre a Renda de Pessoa Jurídica, tendo como base os resultados positivos obtidos pela coopera- tiva de trabalho, isto é, os cooperados prestando serviços a terceiros e os resultados positivos advindos à cooperativa. Já quanto aos resultados posi- tivos de atos não cooperativos, estes são tributados. A solução de consulta é uma forma de atendimento da RFB para esclarecimento de dúvidas en- volvendo o caso concreto, como é o objeto do texto a seguir: “SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL SOLUÇÃO DE CONSULTA 553, DE 06.12.2007. IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA – IRPJ. SOCIEDADES COOPERATIVAS. Não são tributados pelo imposto de renda os resultados positivos obtidos pela cooperativa de trabalho, quando decorrentes da oferta de serviços a terceiros, sempre que esses serviços tenham resulta- do do esforço comum dos associados. Trata-se dos atos cooperativos, que são aqueles praticados entre as cooperativas e seus associados, entre estes e aqueles e pelas cooperativas entre si quando associadas, para a consecu- ção dos objetivos sociais. Os resultados positivos obtidos pela prática dos atos não cooperativos são tributados com base no lucro real, presumido ou arbitrado. Não sendo obrigada à tributação do imposto de renda pelo lucro real, a sociedade cooperativa pode optar pela tributação do lucro obtido com a prática dos atos não cooperativos com base no lucro presu- mido, aplicando, sobre a receita bruta dessas atividades, os percentuais de presunção previstos em lei, de acordo com a natureza de suas atividades. A prestação de serviços em geral sujeita-se à tributação de 32% da receita bruta, podendo o percentual ser reduzido a 16% se a receita bruta não for superior a R$ 120.000,00 anuais. O caso acima é apresentado por Young (2008, p. 109.) e encontrado no site da Receita Federal do Brasil no endereço: <http://decisoes.fazenda.gov.br/netacgi/ nph-brs?s10=@DTPE+%3E=+20071201+%3C=+20071231&s9=NAO+DRJ/$. SIGL.&n=-DTPE&d=DECW&p=1&u=/netahtml/decisoes/decw/ pesquisaSOL.htm&r=1&f=G&l=20&s1=&s3=553&s4=Imposto+sobre+a+Ren- da+de+Pessoa+Jur%EDdica+-+IRPJ&s5=&s8=&s7=>. O fato de ser uma solução de consulta oficial demanda legitimidade para apli- cação em qualquer caso concreto envolvendo as cooperativas de trabalho. saiba mais Pós-Universo 36 • Há, basicamente, quatro regimes jurídicos tributários: simples nacional, lucro arbitrado, lucro presumido e lucro real. • O regime do simples nacional foi instituído e vigora atualmente sob a égide da Lei Complementar n. 123/2006, que revogou a lei anterior (LC n. 9.317/96), que instituíra o regime do Simples Federal. A sistemática é basicamente a mesma, mas as condições são bem diferentes e a abran- gência tributária também, envolvendo Estados e Municípios, o que não acontecia no regime revogado. • Pelo regime do Simples Nacional são consideradas “microempresas” aquelas que faturam até R$ 360.000,00 por ano; e as que obtêm receita bruta acima desse valor, até R$ 3.600.000,00, são consideradas “empresas de pequeno porte”. Estando enquadrada no Simples, a empresa passa a recolher um percentual único sobre o faturamento, englobando diver- sos impostos, inclusive o IRPJ e a CSL. • As empresas que se enquadram no Regime do Lucro Presumido reco- lhem o IRPJ e a CSL com base no faturamento, aplicando sobre este um percentual para encontrar a base de cálculo do imposto. • As empresas que optam pelo Regime do Lucro Real, ou que estão obri- gadas a esse regime, devem escriturar o LALUR, Livro de Apuração do Lucro Real, pois é por meio desse livro que se encontra a base de cálculo dos tributos (IRPJ e CSL). • As pessoas jurídicas que, eventualmente, não escolherem um dos regimes acima e, por ventura, não se organizarem do ponto de vista fiscal, difi- cultando a análise do fisco de suas operações, poderão ser enquadradas no quarto regime, denominado lucro arbitrado. Esse regime onera em muito (20%) o valor dos tributos, em relação com o regime do lucro pre- sumido, quando se conhece a receita bruta da empresa. • Além dos tributos apurados, a empresa deve pagar um adicional do IRPJ, com alíquota de 10% sobre o valor que exceder a R$ 20.000,00 no mês de apuração; R$ 60.000,00 no trimestre; e R$ 240.000,00 no ano. quadro resumo Pós-Universo 37 IMPOSTOS CUMULATIVOS E NÃO CUMULATIVOS Pós-Universo 38 A importância dese conhecer os conceitos de impostos “cumulativos” e “não cumula- tivos” está relacionada com a permissão dada à União para criação de novos impostos pelo inciso I, do art. 154, da Constituição Federal. Vejamos: “ Art. 154. A União poderá instituir: I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição; Ora, a própria Carta magna atribui um grau de importância ao imposto “não cumu- lativo”. Por isso mesmo, é preciso termos noção do que seja essa classificação dos impostos (cumulativo e não cumulativo). O grande peso da carga tributária em nosso país está localizado em dois pontos interessantes: (i) criação de tributos em “cascata”, isto é, de nature- za “cumulativa”, e (ii) falta de correção ou atualização dos valores limites das tabelas que influenciam na apuração da base de cálculo dos tributos: tabela do Imposto de Renda Retido na Fonte; tabela do Simples Nacional; limite para incidência do adicional de imposto de renda; e limite de faturamento anual para redução do percentual de 32% para 16% a ser aplicado sobre a receita bruta para apurar a “base de cálculo” do Imposto de Renda das em- presas prestadoras de serviços, pelo Regime de Lucro Presumido. saiba mais Segundo Barboza (2014, p. 16), podemos classificar os impostos como: • Cumulativos – são os impostos que não permitem o crédito nas operações, para aproveitamento nas operações seguintes. Esses impostos são CUSTOS, isto é, passam a integrar o valor do Estoque da empresa na compra. • Não Cumulativos – são os impostos que permitem o crédito do valor pago em uma operação de aquisição, para aproveitamento nas operações se- guintes (vendas): IPI (operações de produção industrial), ICMS (operações comerciais e industriais) e PIS e COFINS (operações realizadas por empre- sas optantes pelo Lucro Real); esses impostos não são CUSTOS, isto é, são contabilizados a DÉBITO do Estado (Ativo). Pós-Universo 39 É importante estarmos atentos à forma de classificação do tributo como cumulativo ou não cumulativo, pois, às vezes, o efeito nasce da operação ou da natureza do próprio tributo, mas o PIS e a COFINS são tributos origi- nariamente “cumulativos”, que, a partir das edições das Leis n° 10.637/2002 e 10.833/2003, respectivamente, passaram a ser “não cumulativos” para as empresas que operam pelo Regime do Lucro Real. Esse é um aspecto pu- ramente “legal” da classificação. atenção Então, conforme define o art. 154, I, da Constituição Federal, a União somente poderá “criar” novos impostos se esses forem “não cumulativos” e, além disso, não incidirem sobre base de cálculo e fato gerador coincidentes com os impostos já incidentes. Já por força do § 2°, do art. 145, da própria Constituição, as taxas não podem ter “base de cálculo” própria de impostos. O que se observa é que o Estado brasileiro encontra uma séria dificuldade de ex- pansão da carga tributária com a criação de novos tributos, pois a Carta se encarregou de instituir entre os seus princípios aquele que acabou por defender o contribuin- te de eventuais “abusos”, por parte do Poder Público. Entre essas dificuldades está a que apontamos acima, isto é, não é tão simples assim para se instituir algum imposto ou taxa. E é por essa razão que o Estado tem se valido da criação de “contribuições”, pois estas acabam por se “esquivar” das proibições constitucionais, que são restritas às taxas e aos impostos. Pós-Universo 40 A seguir, mais uma solução de consulta que se pode encontrar no site da Receita Federal do Brasil. Essa consulta refere-se a dúvidas sobre a BASE DE CÁLCULO da COFINS. Aliás, em comentários nossos alhures, já informamos que o STF demandou bastante tempo para chegar a uma definição de “fa- turamento”. Veja: “Solução de consulta 01, de 06.01.2004 – 8ª. RF – DOU 02.03.2004 Contribuição para Financiamento da Seguridade – Cofins. Ementa: Faturamento. Base de Cálculo. As parcelas integrantes da receita bruta, para fins de recolhimento das contribuições para a Cofins, é o fatura- mento mensal, assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa jurídica, independente de sua denominação em classificação contábil, da qual podem ser excluídos os valores legalmente autorizados. Dispositivos Legais. Lei 9.718/98, arts. 2° e 3°, regulamentado pelo Decreto 4.524, de 17.12.2002; Lei Complementar 70/91, art. 1°; Lei 9.701/98, art. 1°; Lei 9.715/98, art. 2°; Lei 9.716, de 26.11.1998, art. 5°. Sérgio Martins Silva – Chefe”. Veja em: <http://decisoes.fazenda.gov.br/netacgi/nph-brs?s10=@ DTPE+%3E=+20010101+%3C=+20040131&s9=NAO+DRJ/$.SIGL.&n=- DTPE&d=DECW&p=1&u=/netahtml/decisoes/decw/pesquisaSOL. htm&r=3&f=G&l=20&s1=&s3=%221%22&s4=Contribui%E7%E3o+pa- ra+o+Financiamento+da+Seguridade+Social+-+Cofins&s5=&s8=&s7=>. Fonte: adaptado de Young (2004, p. 17). saiba mais Portanto, uma característica muito importante da Cumulatividade/Não Cumulatividade é que, para o aproveitamento do crédito, o produto ou mercadoria adquirido deve se destinar à revenda, pois, se for destinado ao consumo próprio, não gerará crédito, à exceção dos bens adquiridos para fazer parte do ativo imobilizado, que poderão be- neficiar com o aproveitamento do crédito do ICMS à razão de 1/48 (um, quarenta e oito avos) por mês de uso do bem (inciso I, do § 5°, do art. 20, da Lei Complementar n. 87/1996 – Lei Kandir). A primeira contabilização do crédito, nesse caso, se dá no mês de entrada do bem no estabelecimento comprador. Pós-Universo 41 Houve muita polêmica acerca do conceito de “faturamento”, a base de cálculo do PIS e da COFINS. A legislação atual é um pouco mais clara, até mesmo pelo critério da exclusão, que facilita o entendimento por saber o que não integra a base de cálculo das contribuições. Faturamento é a receita bruta das vendas de mercadorias e serviços de qualquer natureza, não tendo qual- quer relevância a classificação contábil (Lei 9.718/98). Não integram essa “base de cálculo” os seguintes valores: - IPI, imposto extrínseco. - ICMS, substituição tributária. - Vendas canceladas, devoluções e abatimentos. - Reversões de provisões operacionais e recuperações de créditos. - Lucro com avaliação de participações societárias. - Dividendos oriundos de participações societárias. - Receitas de vendas de bens do ativo imobilizado. - Receitas de exportações. - Ingressos de divisas originadas por serviços prestados a residentes no exterior. atenção Os impostos “não cumulativos” por natureza são IPI e ICMS. Mas a legislação foi mo- dificada e acabou por criar nuances creditícias diferentes, em razão de opção por regime tributário para as contribuições PIS e COFINS. Pós-Universo 42 Utilizaremos o caso a seguir para ilustrar um “caso real”, pois se trata de uma consulta realizada junto à Secretaria da Receita Federal, no ano de 2007, visando buscar um entendimento acerca do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica, pelo Regime de Lucro Presumido. O consulente tem duas ativida- des e, daí, surge a dúvida sobre qual percentual deve cair o faturamento da empresa para determinação da “base de cálculo”, como estudamos anterior- mente. A Solução de Consulta indica o percentual de 8% (oito por cento), porque identifica a atividade de serviços hospitalares. Esse caso bem de- monstra quão complexo é o Sistema Tributário brasileiro, já que, além da pesada carga tributária já amplamente estudada, traduz-se também num emaranhado de normas e subnormas que estabelecem responsabilidades acessórias para o contribuinte. Além do dever de informar, há também o “dever de classificar” as atividades para fins de tributação. Vejamos: “SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL SOLUÇÃO DE CONSULTA 197, DE 27.11.2007 IMPOSTO SOBRE A RENDA DE PESSOA JURÍDICA – IRPJ. PRESTAÇÃO DE ATENDIMENTO ELETIVO DE PROMOÇÃO E ASSISTÊNCIA À SAÚDE EM REGIME AMBULATORIAL E DE HOSPITAL-DIA. SERVIÇOS HOSPITALARES. PERCENTUALDE LUCRO PRESUMIDO. Considera-se, no presente caso, prestador de serviços hospitalares, sobre cuja receita caberá a aplicação do percentual de 8% (oito por cento), para fins de determinação da base de cálculo do IRPJ, apurado conforme o regime de tributação do lucro presumido, o estabelecimento assistencial de saúde que atender cumula- tivamente aos seguintes requisitos, previstos no art. 27 da IN SRF 480, de 2004, com a alteração introduzida pelo art. 1° da IN SRF 539, de 2005: a) de- sempenhar todas as atividades-fim relacionadas na atribuição “prestação de Atendimento Eletivo de Promoção e Assistência à Saúde em Regime Ambulatorial e de Hospital-dia”, descritas nos itens 1.1 a 1.12, da Resolução RDC 50, de 21 de fevereiro de 2002, da Anvisa; b) prestar os serviços em ambientes desenvolvidos de acordo com a Parte II – Programação Físico Funcional dos Estabelecimentos de Saúde, item 3 – Dimensionamento, Quantificação e Instalações Prediais dos Ambientes, da RDC 50, de 2002, da Anvisa, cuja comprovação deve ser feita por meio de documento compe- tente expedido pela vigilância sanitária estadual ou municipal; e c) tratar-se de empresário ou de pessoa jurídica constituída sob a forma de sociedade empresária, nos termos do Novo Código Civil. (Pesquisado no Site: <www. receita.fazenda.gov.br>, em 25.04.2008)”. saiba mais Pós-Universo 43 Além da obra indicada, a solução de consulta acima pode ser encontrada no site da Receita Federal, no seguinte endereço: <http://decisoes.fazenda.gov.br/netacgi/nph-brs?s10=@ DTPE+%3E=+20071101+%3C=+20071130&s9=NAO+DRJ/$.SIGL.&n=- DTPE&d=DECW&p=1&u=/netahtml/decisoes/decw/pesquisaSOL. htm&r=1&f=G&l=20&s1=&s3=197&s4=Imposto+sobre+a+Renda+- de+Pessoa+Jur%EDdica+-+IRPJ&s5=&s8=&s7=>. Fonte: adaptado de Young (2004, p. 92). Como vimos, os tributos que mais importam ao Planejamento Tributário são: IPI, ICMS, PIS, COFINS, INSS, IRPJ, CSLL e ISSQN. Considerando que o IRPJ e a CSLL (ou CSL) constituem- -se na essência do Planejamento, já que os Regimes Tributários existem em função desses tributos, o ISSQN incide sobre operações com serviços e o INSS, cuja base de cálculo é o valor da folha de pagamento, restam IPI, ICMS, PIS e COFINS. Assim, podemos visua- lizar a todos em um quadro-resumo segundo a Cumulatividade/Não Cumulatividade: Pós-Universo 44 IMPOSTOS INCIDENTES NAS COMPRAS TRIBUTO REGIME PROCESSO CRÉDITO CLASSE CUM/N-CUM CUSTO TODOS Simples Nacional Qualquer NÃO N/Class. CUMULATIVOS SIM IPI Lucro Presumido Industrial SIM Extrínseco Não-Cumulativo NÃO IPI Lucro Presumido Comercial NÃO Extrínseco Cumulativo SIM IPI Lucro Real Industrial SIM Extrínseco Não-Cumulativo NÃO IPI Lucro Real Comercial NÃO Extrínseco Cumulativo SIM ICMS Lucro Presumido Industrial SIM Intrínseco Não-Cumulativo NÃO ICMS Lucro Presumido Comercial SIM Intrínseco Não-Cumulativo NÃO ICMS Lucro Real Industrial SIM Intrínseco Não-Cumulativo NÃO ICMS Lucro Real Comercial SIM Intrínseco Não-Cumulativo NÃO PIS Lucro Presumido Industrial NÃO Intrínseco Cumulativo SIM PIS Lucro Presumido Comercial NÃO Intrínseco Cumulativo SIM PIS Lucro Real Industrial SIM Intrínseco Não-Cumulativo NÃO PIS Lucro Real Comercial SIM Intrínseco Não-Cumulativo NÃO COFINS Lucro Presumido Industrial NÃO Intrínseco Cumulativo SIM COFINS Lucro Presumido Comercial NÃO Intrínseco Cumulativo SIM COFINS Lucro Real Industrial SIM Intrínseco Não-Cumulativo NÃO COFINS Lucro Real Comercial SIM Intrínseco Não-Cumulativo NÃO Fonte: o autor. Observe você que o IPI muda sua natureza quanto à cumulatividade ou não, con- forme a atividade da empresa, seja ela COMERCIAL ou INDUSTRIAL. Já os tributos PIS e COFINS mudam essa mesma natureza conforme a opção pelo Regime Jurídico Tributário (Presumido ou Real). Já quanto ao Custo, o que importa é saber se o imposto é Cumulativo (que é custo) ou não (que não é custo). Pós-Universo 45 Considere isoladamente cada tributo. Veja: • ICMS O Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços é um imposto de natureza puramente “não cumulativa”, somente não permitindo crédito quando a empresa adquire o bem para consumo próprio. Essa classificação do ICMS como imposto “não- -cumulativo” independe do regime tributário escolhido pela empresa (lucro real ou lucro presumido) (PORTAL TRIBUTÁRIO). • IPI O Imposto Sobre Produtos Industrializados é, também, um imposto por natureza pu- ramente “não cumulativa”, conforme estabelecido pela Constituição Federal e pelo RIPI – Regulamento do IPI (Decreto 7.212/2010). No seu caso, a exemplo do ICMS, in- depende da escolha do regime jurídico-tributário pela empresa (PORTAL TRIBUTÁRIO). • PIS Esse tributo não é um imposto, como já vimos, é, na verdade, uma contribuição. Sua denominação é Programa de Integração Social e foi criado pela Lei Complementar n°. 07/1970. Todas as pessoas jurídicas de direito privado (assim como as equipara- das conforme a legislação do imposto de renda) são contribuintes do PIS. A base de cálculo do tributo é, atualmente, estabelecida pela Lei n°. 9.718/1998 e se traduz na totalidade das receitas (receita bruta, isto é, o faturamento da empresa comercial), não importando qual o tipo de atividade (PORTAL TRIBUTÁRIO). • COFINS A Contribuição Social para Financiamento da Seguridade Social foi instituída pela Lei Complementar n° 70, de 30 de dezembro de 1991. É, portanto, uma “contribuição” e não um imposto, como o próprio nome indica. A exemplo do PIS, no caso da COFINS, também todas as pessoas jurídicas de direito privado (assim como as equiparadas conforme a legislação do imposto de renda) são contribuintes dessa contribuição. A base de cálculo do tributo, como ocorreu também com o PIS, é, atualmente, esta- belecida pela Lei n°. 9.718/1998, e se traduz na totalidade das receitas (receita bruta, isto é, o faturamento da empresa comercial), não importando qual o tipo de ativida- de (PORTAL TRIBUTÁRIO). Pós-Universo 46 Uma vez que há diversos aspectos acerca da classificação e da importância dos tributos para o Planejamento Tributário, resumimos esses aspectos no quadro a seguir, separando por Regime Tributário, Atividade empresarial, processo produtivo/comercial, cumulativi- dade/não cumulatividade e considerando, também, as circunstâncias em que os tributos se transformam em custo. Vejamos: CUMULATIVIDADE - IMPOSTOS INCIDENTES NAS COMPRAS TRIBUTO REGIME PROCESSO CRÉDITO CLASSE CUM/N-CUM CUSTO TODOS Simples Nacional Qualquer NÃO N/C CUMULATIVOS SIM IPI Lucro Presumido Industrial SIM Extrínseco Não- Cumulativo NÃO IPI Lucro Presumido Comercial NÃO Extrínseco Cumulativo SIM IPI Lucro Real Industrial SIM Extrínseco Não- Cumulativo NÃO IPI Lucro Real Comercial NÃO Extrínseco Cumulativo SIM ICMS Lucro Presumido Industrial SIM Intrínseco Não- Cumulativo NÃO ICMS Lucro Presumido Comercial SIM Intrínseco Não- Cumulativo NÃO ICMS Lucro Real Industrial SIM Intrínseco Não- Cumulativo NÃO ICMS Lucro Real Comercial SIM Intrínseco Não- Cumulativo NÃO PIS Lucro Presumido Industrial NÃO Intrínseco Cumulativo SIM PIS Lucro Presumido Comercial NÃO Intrínseco Cumulativo SIM PIS Lucro Real Industrial SIM Intrínseco Não- Cumulativo NÃO PIS Lucro Real Comercial SIM Intrínseco Não- Cumulativo NÃO COFINS Lucro Presumido Industrial NÃO Intrínseco Cumulativo SIM COFINS Lucro Presumido Comercial NÃO Intrínseco Cumulativo SIM COFINS Lucro Real Industrial SIM Intrínseco Não- Cumulativo NÃO COFINS Lucro Real Comercial SIM Intrínseco Não- Cumulativo NÃO Fonte: Quadro elaborado pelo Autor. quadro resumo Pós-Universo 47 As operações com a COFINS “não cumulativa” são tão complexas ou mais ainda do que aquelas que envolvem o PIS “não cumulativo”. Por esse motivo, é necessário um aprofundamento de conhecimento da legislação, bem como consultas ao portal da Receita Federal e portais especializados na matéria, principalmente para aqueles que já estão atuando no setor ou que pretendam atuar. • Os tributos podem ser classificadospelas naturezas “cumulativa” e “não cumulativa”. • “Cumulativos” são os tributos que “não geram crédito” nas operações de compras. • Ao contrário, “Não Cumulativos” são os tributos que “geram crédito” pelas compras. • A escolha do Regime Jurídico-Tributário pode influenciar uma mudança de natureza, no caso de alguns tributos, como o PIS e a COFINS. quadro resumo Pós-Universo 48 IMPOSTOS INTRÍNSECOS E EXTRÍNSECOS Pós-Universo 49 Olá! Mais uma vez, quero saudá-lo(a) pela dedicação e estudo. Estudamos os aspec- tos ficais do Planejamento Tributário, desde a utilização das Contabilidades de Custo e outras denominações, para se ter uma ideia do que é Contabilidade Tributária, suas operações, os regimes tributários e a natureza “creditícia” do tributo, denominando- -o “cumulativo” e “não cumulativo”. Quero convidá-lo(a) a finalizarmos este conteúdo com o estudo de uma carac- terística importante do tributo. Trata-se da classificação dele segundo o critério de adoção do seu cálculo, conforme faça parte ou não da sua própria “base de cálculo”. Vamos definir, portanto, os tributos como intrínsecos ou extrínsecos. O país reclama de uma carga tributária muito elevada. Mas o pior ainda é a criação de “tributos não cumulativos” e “intrínsecos”. Se o tributo for não cumulativo, o seu peso em cada ope- ração subsequente estará atrelado, apenas, à diferença, isto é, ao valor agregado da operação. Sendo cumulativo, além de se agregar o tributo sobre cada valor adicio- nal da operação, ainda se tem o peso da incidência dos tributos sobre eles mesmos. Você deve ter consciência de que estamos aqui fazendo algumas simula- ções de possibilidades e análises do peso dos tributos sobre os preços de venda dos diversos produtos que compramos no dia a dia. Porém, impor- tante ter a consciência de que uma mudança da situação atual para uma situação ideal depende de muita força de vontade dos políticos em geral e do próprio Governo, pois a redução da Carga Tributária resulta, enfim, em uma imediata redução da arrecadação tributária, o que significa menos di- nheiro para execução de todos os projetos do Governo. atenção Tributos Intrínsecos Quando o tributo é intrínseco, dizemos que ele faz parte da própria base de cálculo, ou seja, o preço de venda. É como se diz comercialmente: “por dento” ou “por fora”. Assim, chamamos intrínsecos porque o valor do imposto está incluído no preço da mercadoria, do produto ou do serviço, isto é, a base de cálculo do imposto inclui o próprio “valor” do imposto. O percentual do imposto incide sobre o seu próprio valor. Pós-Universo 50 Explicando melhor, se um determinado produto tem alíquota de 18% de ICMS e o seu preço é de $ 100, o valor do ICMS é $ 18. Se o seu preço é $ 200, o valor do ICMS é $36. Mas o preço que o comprador pagará pelo produto é, respectivamen- te, $ 100 ou $ 200, isto é, o ICMS já faz parte do preço estipulado para a venda do produto. Se não fosse assim, seu valor seria menor! E não é só o ICMS que está incluído no preço. A COFINS, o PIS, todos os tributos que devem compor o preço de venda estão no mesmo barco, fazendo parte da base de cálculos uns dos outros, o que representa uma grande injustiça para o consumidor. Quando tratamos de empresas que trabalham com sistema de comissões de vendas, a comissão a ser paga ao vendedor também faz parte do preço. Por isso, as empresas devem considerar, também, a comissão na formação do preço de venda, como veremos mais à frente. Entender esse mecanismo é circunstância imprescindível para quem pretende fazer o Planejamento Tributário. Faremos algumas considerações sobre os tributos extrínsecos, a seguir, e, mais à frente, apresentaremos alguns exemplos, com cálcu- los para justificar o estudo. Tributos Extrínsecos Diferentemente dos tributos intrínsecos, os extrínsecos são aqueles que “não fazem parte da base de cálculo”, isto é, a alíquota é aplicada sobre o preço de venda, que é a “base de cálculo”, mas o valor encontrado é somado ao preço e o compra- dor pagará a soma encontrada. Um exemplo fácil desse tipo de imposto é o IPI. A alíquota do IPI é determina- da pela legislação fiscal (Tabela TIPI), mas o sistema de arrecadação é diferente do ICMS. Peguemos o exemplo acima, ou seja, um produto que tenha o preço de $ 100 ou $ 200. Suponhamos que a alíquota do IPI seja de 20%. Então, no primeiro caso, o valor do IPI é de $ 20 e, no segundo, $40. O preço total para o cliente será, então, de $120 ou $240, respectivamente. Observe que, enquanto no caso do ICMS o valor é gerado ($18 e $36, respectivamente), mas o preço final é mantido ($100 e $200), no tocante ao IPI, o valor gerado é adicionado ao preço do produto. Pós-Universo 51 Você já deve se considerar, agora, um “craque” nesta questão tributária. Portanto, não é mais novidade a importância desse conhecimento quanto ao peso dos tributos em cada compra que o consumidor faz. Por isso, tra- balhamos a ideia de impostos intrínsecos e extrínsecos, que tem cunho acadêmico, por assim dizer, já que, no âmbito empírico, o Consumidor nem toma conhecimento desse fato. Mas, neste livro, podemos entender que o peso dos impostos, segundo sua natureza (intrínseco ou extrínseco), é maior ou menor à medida em que eles fazem parte da “base de cálculo” uns dos outros. Ou seja, resumindo: não deveríamos pagar “imposto sobre imposto”, como nosso sistema pro- porciona. E esse nosso estudo leva ao conhecimento necessário à geração dessa crítica, que ainda é incipiente no Brasil. quadro resumo Essa classificação é importante, pois, quando o tributo é intrínseco (ICMS, PIS, COFINS), para muitos estudiosos do assunto, o Estado está cobrando “tributo sobre tributo”. Assim, o ICMS, o PIS e a COFINS incidem sobre si mesmos e, também, sobre os outros, pois todos fazem parte da “mesma” base de cálculo. E o que é pior, o IPI é também cobrado sobre todos os outros tributos. Mas, para contentamento do consumidor final, o tributo extrínseco não gera essa “bi-tributação”, pois não integra a base de cálculo dos outros tributos. Já se discutiu muito no país a respeito de uma possível reforma tributária. Mas a grande dificuldade de se tornar possível uma tributação mais modesta em nosso país é a estrutura do Estado. Englobando-se os três Poderes (Legislativo, Judiciário e Executivo) da República, gera-se uma necessidade de arrecadação tributária cada vez maior. É por esse motivo, por exemplo, que o Estado, como um todo, não se preo- cupa com a atualização das tabelas que geram “bases de cálculos”, pois, assim, vai, gradativamente, aumentando a arrecadação, sem que o maior contribuinte possa tomar uma providência mais contundente, além do que, às vezes, nem percebe que está sendo onerado no seu custo com a carga tributária, por esse motivo. Pós-Universo 52 A situação pode ser esclarecida com uma análise comparativa das incidências dos tributos sobre uma venda, simulando-se a incidência de tributos sobre tributos, em uma coluna, e, em outra, a não incidência, isto é, se os tributos fossem todos extrínsecos, não fazendo parte da “base de cálculo”. Adotaremos “todos” os tributos com e sem incidência de uns sobre os outros, nos exemplos a seguir, para ambos os Regimes lucro real e lucro presumido. O propósito é analisar o peso da “carga tributária”, comparando-se o excesso de cobrança de tributos pela incidência cumulativa “uns sobre os outros”. Observe o re- sultado a seguir: Lucro Presumido a. – Forma de incidência atual (somente IPI extrínseco): VALOR TOTAL DA NOTA R$784,03 Venda de Produto R$700,03-Preço IPI – 12% (já é extrínseco atualmente) R$84,00-E ICMS – 18% R$126,00-I PIS – 0,65% R$4,55-I COFINS – 3,0% R$21,00-I IRPJ (1,20%) R$8,40-I CSLL (1,08%) R$7,56-I Lucro Bruto (margem estipulada pela empresa- 42,5%) R$297,51-I Custo Contábil do Produto R$235,00-I b. – Forma de incidência (somente ICMS intrínseco): VALOR TOTAL DA NOTA R$701,60 Venda de
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