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APENDICITE AGUDA Introdução: abdome agudo inflamatório • Lembrar dos conceitos: o Abdome agudo: pensar em doença abdominal, naturalmente aguda, não traumática, que cursa com sintoma-chave de dor abdominal e tem potencial cirúrgico; o Abdome agudo inflamatório é aquele decorrente de um processo inflamatório/infeccioso na cavidade abdominal. • Quadro clínico geral: o Dor abdominal mal caracterizada; o Localização difusa da dor (dor visceral); o Instalação recente (em dias); o Intensificação progressiva da dor; o Normalmente acompanha: náuseas, vômitos, febre e taquicardia; o Agravar da doença: pode levar a uma evolução clínica do caso > para uma dor bem caracterizada e precisamente localizada > PERITONITE (dor domática). • Etiologias: o Lembrar: existem diversas causas e nem sempre será cirúrgico o tratamento; o Etiologias mais importantes: ▪ Apendicite aguda > tratamento cirúrgico; ▪ Diverticulite aguda > tratamento clínico ou cirúrgico; ▪ Colecistite aguda > tratamento cirúrgico; ▪ Pancreatite aguda > tratamento clínico; ▪ Linfadenite mesentérica > tratamento clínico. Apendicite aguda Definições iniciais e epidemiologia • Apêndice vermiforme: estrutura tubular, alongada (comprimento variando de 2 a 20 cm, com tamanho médio de 9 cm nos adultos); • Para localização cirúrgica do apêndice: origem na parede posteromedial do ceco > onde ocorrem as tênias cólicas. Base fixa e ponta encontrada em diversas posições possíveis (pré-ileal, pélvio, retrocecal (mais comum)); • Causa mais comum de abdome agudo não traumático! • Discreto predomínio no sexo masculino e entre os 10 e 30 anos de idade; Fisiopatologia • Obstrução da luz por fezes espessadas (fecalito), neoplasias, hiperplasia linfoide ou matéria vegetal (sementes) > crescimento bacteriano (E. coli e Bacterioides fragilis, principalmente) > secreção da mucosa favorece a pressão da luz > distensão da luz promove a dor visceral (paciente refere como periumbilical ou visceral mal definida) > inflamação ultrapassa a serosa e entra em contato com o peritôneo parietal (estimulação da inervação aferente parietal > dor localizada na fossa ilíaca direita de forte intensidade > pressão luminal pode comprometer o suprimento arterial e resultar em isquemia, necrose e perfuração > omento e intestino podem bloquear a perfuração e formar abcesso localizado > vários abcessos > choque séptico. Clínica • Dor abdominal difusa, mal caracterizada e inespecífica, de caráter visceral, acompanhada de náuseas, vômitos e hiporexia; • Podem aparecer sinais infecciosos, como febre; • Ao laboratório: leucocitose com desvio à esquerda; • Avançar do quadro: dor de caráter parietal, migrada para a fossa ilíaca direita, bem localizada e caracterizada com sinais locais de peritonite ao exame físico; Sinais de peritonite ao exame físico Outros órgãos – sintomas exóticos da apendicite • Peritonite parietal ao exame físico > gera dor peritoneal típica > causada pela periviscerite da ponta do apêndice > inflamação por contiguidade; • Dependendo do local para onde a ponta está orientada: paciente pode ter sintomas atípicos e frequentes, como: o Disúria e urgência miccional (bexiga); o Dor lombar irradiada para a bolsa escrotal (ureter); o Diarreia (intestino delgado); o Urgência evacuatória (reto). Algumas situações específicas de apendicite • Crianças: normalmente apresentam letargia, febre alta, vômitos intensos e diarreia frequente. Diagnóstico geralmente é tardio e a progressão do processo inflamatório é mais rápido que nos adultos > também tem maior taxa de perfuração (omento ainda não está totalmente formado e não auxilia na contenção da perfuração > peritonite generalizada é mais comum > maior morbimortalidade); • Idosos: temperatura menos elevada na febre e dor no abdome é mais insidiosa. Incidência de perfuração é maior que nas crianças > maior mortalidade; • Gestantes: emergência extrauterina mais comum em gestantes. Os sintomas da gestação podem se confundir com os sintomas da apendicite > diagnósticos difíceis, tardios e de maior risco > utiliza-se a videolaparoscopia, se necessário; • AIDS: pacientes com AIDS comumento também apresentam queixas abdominais e riscos maiores de infecções por outros agentes, como o CMV, podendo complicar a apendicite; • Aprendicite recorrente: obstrução parcial > história de mais de 1 mês com ataques recorrentes de dor abdominal em QID. Sensibilidade à palpação de QID. Achados radiológicos e não esvaziamento do apêndice após 72h (contraste). Diagnóstico • No quadro clínico típico: diagnóstico clínico; • Nem sempre o quadro é típico, entretanto > nesse caso, é necessária a avaliação clínica seriada > algumas vezes a apendicite está em um quadro inicial e menos sintomático. o Estratégia indicada: deixar o paciente em observação e reavaliar a cada 4 horas em busca de evolução do quadro clínico > pode ocorrer migração da dor para a fossa ilíaca direita > suspeitar! Escore de Alvarado • Útil principalmente para os pacientes em que existe a dúvida sobre a conduta a ser tomada > considerando os quadros clínicos atípicos, sobretudo; • Pontuação baseada nos dados de uma história típica de apendicite: o Alvarado maior que 7: fala muito a favor de apendicite. ▪ Paciente deve ser operado, sem necessidades de exames complementares; o Alvarado menor que 3: fala muito contra apendicite. ▪ Considerar os diagnósticos diferenciais ou submeter o paciente a uma reavaliação seriada. o Alvarado entre 4 e 6: dúvida! ▪ Solicitar um exame de imagem. Exames de imagem na apendicite • Exame inicial: US > simples e rápido. o Positivo: identifica o apêndice dilatado, espessado, alongado, não compressível, com líquido livre ao redor e com presença de fecalito (ou apendicolito) em seu interior. o Altíssimo valor preditivo positivo se for positivo; o Problema: não visualização do apêndice ou visualização dele em formato normal > não afasta o diagnóstico de apendicite (baixo valor preditivo negativo) > prosseguir com TC de abdome; • TC: exame mais acurado para a detecção da apendicite aguda. o Utilização de contraste endovenoso; o Os achados são os mesmos do US, além de conseguir trazer informações sobre complicações: coleções, abcessos e perfurações. Descrição da imagem: 1. Apêndice inflamado (apendicite). De cima para baixo: a. Pele; b. Tecido subcutâneo; c. Alça que termina em fundo cego (no corte longitudinal) > que é o apêndice, contendo: a parte que brilha é a submucosa, a parte mais escura (hipoecogênica) e mais externa à submucosa é a muscular própria e a mais escura e interna à submucosa é a muscular da mucosa. De forma mais hoipoecogênica, escura e mais interna é a mucosa e o conteúdo luminal do apêndice; d. Abaixo do apêndice, mais hipoecogênico: veia ilíaca; e. Notar a hipoecogenicidade no tecido ao entorno da alça: gordura. É um sinal típico de sinal inflamatório. f. O apêndice tem mais de 6 mm de diâmetro e parede de mais de 3 mm 2. Apêndice normal, sem paredes espessas, camadas muito delicadas e tecido gorduroso ao redor não está hiperecogênico. Descrição da imagem: 1. Corte transversal, com as camadas características como na imagem longitudinal. a. Notar a parede da alça lateral, não hiperecogênica. 2. Apêndice normal; 3. Apêndice normal colabado após a compressão com o transdutor (é o comum de acontecer no exame). Notar que na imagem 1 não ocorre essa compressão devido à inflamação. Descrição da imagem Doppler: hipervascularização na parede inflamada. Classificação da apendicite • É feita de acordo com a sua fase evolutiva: o FASE 1: edematosa; o FASE 2: úlcero-flegmatosa; o FASE 3: gangrenosa; o FASE 4: perfurativa. • Outra classificação: videolaparoscópica: o GRAU 0: apêndice normal; o GRAU 1: hiperemiado e edemaciado; o GRAU 2: exsudato fibrinoso; o GRAU 3: necrose segmentar, apresentandobase íntegra; o GRAU 4: A: presença de abcesso periapendicular; B: peritonite regional; C: necrose da base do apêndice; o GRAU 5: presença de peritonite difusa. Manejo/Tratamento Cenários Manejo habitual Principal cenário: apendicite aguda diagnosticada clinicamente ou por imagem. Tratamento padrão: apendicectomia de urgência (laparoscópica, se possível). Apendicite com mais de 7 dias de curso da doença, sem diagnóstico adequado previamente, paciente mais grave e debilitado, ao exame físico apresentou plastrão (formato de gravata) inflamatório e imagem já complicada com abcesso > apendicite complicada, porém, com complicação local e de evolução arrastada Nesses casos, há a alternativa da apendicectomia cirúrgica. Faz-se então um tratamento não operatório inicial, com drenagem percutânea (ou transvaginal) do abcesso, com apendicectomia posterior (após 6 a 8 semanas). Realizar a colonoscopia nesse período para se afastar um câncer de apêndice associado. Esse procedimento é conhecido como apendicectomia de intervalo. Cenário catastrófico: apendicite perfurada com peritonite difusa fecal/purulenta. O paciente chega com abdome agudo perfurativo, então precisamos agir como um. Administra-se também antibióticos para a cobertura de gram-negativos e anaeróbios (prevenção de infecção do sítio cirúrgico). História atípica, mas, com sinais de peritonite localizada em fossa ilíaca direito. Não há dúvida de que precisa de cirurgia, mas, antes precisa-se da confirmação com exames de imagem e o mais adequado é uma exploração cirúrgica por videolaparoscopia. A abordagem é minimamente invasiva e permite estabelecer com precisão o diagnóstico. Atentar para os casos de diagnósticos diferenciais nesse caso. • A cirurgia pode ser aberta ou por videolaparoscopia; • Laparoscopia: preferível em obesos e perfurados com bloqueio > diminui o tempo de internação, dor pós-operatória e reduz chances de infecções; • Abertas: incisão transversa do quadrante inferior direito (ponto de McBurney) > chamada de Davis-Rockey (mais utilizada pelos cirurgiões). Ou incisão oblíqua > chamada de McArthur-Rockey. Utiliza-se fio de sutura absorvível. • Em casos de perfuração e peritonite difusa: laparotomia > lavagem intensa da cavidade somada à antibioticoterapia sistêmica. • Pacientes que se apresentam à sala de emergência de forma tardia provavelmente já possuirão perfuração e abscesso. Nesse caso, a conduta é internação hospitalar e realização de US ou TC para confirmação da suspeita. Diagnósticos diferenciais Qualquer quadro de dor na fossa ilíaca direita é um diagnóstico diferencial potencial; • Ginecológicos: atenção para outros sintomas ginecológicos associados: o Amenorreia (gestação ectópica); o Amenorreia + queda de hemoglobina (gestação ectópica rota); o Corrimento vaginal + relação sexual desprotegida (DIP). • Adenite mesentérica: é a inflamação e infarto de um linfonodo abdominal > corre cerca de 2 semanas após um quadro gripal (procurar por IVAS recentes, principalmente em crianças e adolescentes) > não demanda tratamento cirúrgico, apenas medidas de suporte e controle sintomático; • Apendangite epiploica: inflamação e infarto de apêndice epiploico dos colons (são pequenos sacos preenchidos com gordura ao longo da superfície do cólon e reto superior) > pode mimetizar uma apendicite, principalmente se ocorrem no lado direito do abdome > diagnóstico feito com exame de imagem. Tem curso benigno e auto limitado > tratamento com suporte e sintomático > cirurgia reservada para paciente com refratariedade ou complicações (obstrução e abcessos, principalmente); • Ileíte infecciosa: é causada por infecções bacterianas ou virais (CMV) do íleo distal em pacientes imunossuprimidos > tratamento com antibióticos e antivirais e a cirurgia é reservada para complicações (como perfurações); • Ileíte na Doença de Crohn: paciente normalmente é mais jovem, com quadro de surte e remissão de crises de dor em fossa ilíaca direita e diarreia > tratamento clínico e cirúrgico: controle clínico da doença com imunossupressores e biológicos e cirurgia para complicações (estenoses e fístulas);
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