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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CERÁ (UECE) UNIVERSIDADE ABERTA DO BRASIL (UAB) CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE (CCS) CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA – MODALIDADE EAD (CLEF-EAD) COORDENADOR: Prof. Dr. Heraldo Simões Ferreira DISCIPLINA: Fundamentos Sócio Filosóficos da Educação Física (4Créditos/68 hs) Prof. Me RONNISSON BARBOSA (polo MARANGUAPE) Prof.ª Dr.ª SAMIA CASTRO (polo ARACOIABA) Prof. Esp. MARCÍLIO LIMA (polo JAGUARIBE) Prof.ª Ms JUDENILDES GUEDES BATISTA (polo QUIXERAMOBIM) Prof.º Me LUIZ TORRES RAPOSO NETO (polo ORÓS) PARA QUE FILOSOFIA? Muitos creditam a ela um papel irrelevante visto que a cultura brasileira costuma dar valor apenas àquilo que gera lucro ou um crédito imediato. Nesse sentido, a Filosofia realmente não teria utilidade prática, visto que a mesma não tem, conforme afirma Chauí, visibilidade e utilidade imediatas. POR ISSO, QUANDO PERGUNTAMOS ÀS PESSOAS “PARA QUE SERVE A FILOSOFIA?”, PODEMOS RECEBER A SEGUINTE RESPOSTA: A Filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual.’ Ou seja, a Filosofia não serve para nada. Por isso, se costuma chamar de ‘filósofo’ alguém sempre distraído, com a cabeça no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ninguém entende e que são perfeitamente inúteis. (CHAUÍ, 2001, p. 12) DO MITO À REFLEXÃO – O NASCIMENTO DA FILOSOFIA Inicialmente o homem, para explicar a existência das coisas que ele não compreende, faz uso do mito, fato que permite a ele viver com mais tranqüilidade, visto que o mito, entre outras, tem a função de explicar o inexplicável, o incompreensível. Durante o processo de formação docente, uma pergunta se faz fundamental: qual a importância da reflexão sobre a prática ou sobre o conhecimento profissional no momento inicial do futuro professor? A história do louco gera reflexão e responsabilidade. MAS O QUE É O MITO? Para Chauí (2001, p. 54), o mito é uma intuição compreensiva da realidade, uma forma espontânea de o homem se situar no mundo. Para a autora, as raízes do mito não se encontram nas explicações racionais, mas na experiência vivida sendo uma pré- reflexão, baseada em emoções e sentimentos. É uma representação fantasiosa, espontaneamente delineada pelo mecanismo mental do homem, a fim de dar uma interpretação e uma explicação aos fenômenos da natureza ( dicionário informal) O MITO NO ESPORTE O esporte tornou-se um fenômeno social de massas; a competição esportiva é um espetáculo para as massas e um de seus componentes mais importantes é o ídolo, “fabricado” pelos meios de comunicação. A imprensa usa a estrela para poder vender e, ao mesmo tempo, a “fabrica”. A identificação das massas com os ídolos mascara os verdadeiros problemas. Um campeão, excelente no campo esportivo, torna-se dono de outras virtudes: inteligência, generosidade, coragem etc. Ser campeão, assim, converte-se em sinônimo de ser perfeito. Visto deste ângulo, o esporte assemelha-se a outras formas de espetáculo e fábrica de ídolos, como o cinema e a música (BETTI, 1991, p. 51). Qual intervenção o professor de Educação deve realizar para quebrar esse paradigma (modelo, padrão)? MITO NO ESPORTE Segundo Bracht (2003, p. 25), “o esporte-espetáculo é utilizado como meio para desviar a atenção das massas da luta de classes e como fuga da realidade política”, e é em função disso que se criam os mitos em torno dos atletas para que a população operária possa buscar no esporte a ascensão social tão desejada. O atleta-herói, a partir desse contexto, tudo pode, inclusive desrespeitar leis e regras sociais devidas a todos os outros cidadãos comuns, pois ele é o espelho do desejo desses cidadãos. Chegada no Brasil após a copa de 1994: contextualize A FILOSOFIA A própria palavra filosofia nasce na Grécia. Pitágoras, filósofo grego que viveu no século VI a.C., foi quem usou pela primeira vez a palavra ‘filosofia,’ associando as palavras “philos” (amizade, amor fraterno) e “Sophia” (sabedoria), significando amor à sabedoria. Para Aranha e Martins (2002, p. 72) “é bom observar que a própria etimologia mostra que a filosofia não é puro “logos”, pura razão: ela é a procura amorosa da verdade”. MAS, E A FILOSOFIA? Mas se a Filosofia busca apenas especular, qual seria sua utilidade prática na nossa vida de professor de Educação Física? Aranha e Martins (2002, p. 72) explicam, afirmando que “a filosofia é, sobretudo uma atitude, um pensar permanente. É um conhecimento instituinte, no sentido de que questiona o saber instituído”. Dessa forma, não se trataria de ensinar filosofia a ninguém, mas ajudar as pessoas a desenvolver a capacidade de filosofar, de questionar a realidade, as verdades constituídas e de refletir sobre os fatos e acontecimentos que a rodeiam. A Educação Física tem questionado sobre o seu papel na sociedade? Quando ? como? E o compromisso com o êxito gera a mediocridade? Por quê? MAS, ENFIM, O QUE É FILOSOFIA? Para Chauí (2001, p. 12) Uma primeira resposta à pergunta ‘o que é filosofia’ poderia ser a decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e compreendido. Isso significa dizer que a Filosofia está ligada à nossa vida cotidiana, visto que estamos permanentemente buscando informações, dando opiniões, explicando, tentando compreender, fazendo perguntas e ouvindo respostas sobre tudo que nos rodeia, ou seja, procurando e dando sentido às coisas. E qual seria o papel do professor de Educação Física diante dos aprendizes nesse contexto? FILOSOFIA E CIÊNCIA Inicialmente, ciência e filosofia estavam totalmente entrelaçadas. O filósofo era o “sábio que refletia sobre todos os setores da indagação humana” (ARANHA e MARTINS, 2002, p. 72). Para Santin (1987, p. 10, 11) [...] não havia, ainda, a preocupação de se estabelecer distinções entre matemática, biologia, astronomia, física, botânica etc., como sendo ciências ou ramos autônomos do saber. Essas divisões e classificações só vão ocorrer do século XVII em diante. O saber, portanto, era visualizado dentro de uma ótica única, contínua e homogênea. Fragmentar o conhecimento não seria uma forma de enfraquecê-lo? Por quê? CONCLUINDO A RELAÇÃO ENTRE FILOSOFIA E CIÊNCIA A filosofia duvida e questiona, a ciência busca respostas, encontrando-as se submete a novas dúvidas e questionamentos da filosofia, tentando novamente respondê-los. E assim o mundo gira e o conhecimento e a tecnologia avançam E a Educação Física? o que deve fazer diante dessa dialética? IDEOLOGIA MAS O QUE SERIA IDEOLOGIA? Devido à especificidade desse contexto e a necessidade de maior abrangência do conceito, consideraremos a definição de Chauí (p. 113), para quem: A ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (idéias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade: O que devem pensar e como devem pensar; O que devem valorizar e como devem valorizar; O que devem sentir e como devem sentir; O que devem fazer e como devem fazer. Essa ideologia atinge a Educação Física e o professor? De que forma? QUANDO A IDEOLOGIA É DOMINANTE? Para Betti (1991, p. 50) A sociedade capitalista estrutura-se numa hierarquia cuja ideologia dominante é a promoção social, a possibilidade aparente de escalar a pirâmide até o topo. A hierarquia tende a converter-se numa forma pura, aparentemente aberta a todos pelo critério da capacidade individual, mas na realidade oculta a real desigualdade entre os indivíduos. PODER IDEOLÓGICO Para Freire (1996, p.83), é importante ter sempre claro que faz parte do poder ideológico dominante a inculcação nos dominados da responsabilidade por sua situação. Daí a culpa que sentem eles, em determinado momento de suas relações com o seu contexto e com as classes dominantes por se acharem nesta situação desvantajosa. Para o autor, “enquantose sentirem assim, pensarem assim e agirem assim, reforçam o poder do sistema e se tornam coniventes da ordem desumanizante”. Que nível de consciência devemos ter? IDEOLOGIA NA PROPAGANDA É comum observarmos nos comerciais de televisão, propagandas oferecendo vantagens que os produtos que você irá comprar não podem, na prática, oferecer. Ou seja, oferecem produtos e, para vendê-los, anunciam vantagens que não estão relacionadas ao mesmo. A promessa do corpo perfeito gera uma agressão ao corpo e ao ser humano? Isso não seria uma violência simbólica? Por quê? IDEOLOGIA NA PROPAGANDA POLÍTICA Sempre que os professores de um determinado Município, Estado ou Distrito Federal entram em greve para reivindicar melhores salários e condições de trabalho, observa-se a posição dos governantes contrários a tais reivindicações, no sentido de desqualificar os movimentos grevistas, mesmo sendo eles legítimos e necessários para a obtenção da qualidade da educação pública no Brasil. Durante uma greve de professores da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal há alguns anos, o Governo se utilizou de propagandas ideológicas nos meios de comunicação de massa para colocar a população contra os professores e tentar desqualificar o movimento deles. IDEOLOGIA NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA É comum vermos nos projetos que oferecem atividades físicas e iniciação esportiva para crianças e adolescentes das periferias das cidades, discursos carregados de ideologia, visando a manutenção da ordem estabelecida e prometendo a salvação dos alunos que neles entram do mundo das drogas, da marginalidade, além da inclusão social por meio do esporte. Não seria frustrante se o papel do esporte fosse apenas este? Por quê? IDEOLOGIA NO ESPORTE Uma das formas de ascensão social mais divulgadas e aclamadas na nossa sociedade é o esporte, pois ele é “a consagração objetiva da hierarquia, o esportista é imediatamente classificado pelo seu valor, estabelecendo o resultado esportivo uma hierarquia visível e indispensável” (BETTI, 1991, P. 50) Por isso, o esporte tornou-se um dos principais meios de afirmação da ideologia dominante sendo usado para mascarar e/ou camuflar os conflitos sociais e os verdadeiros problemas da sociedade. Porcher, citado por Betti (1991, p.56), afirma que “o fenômeno esportivo, alimentado pelos meios de comunicação de massa, tem implicações no plano do nacionalismo, pois a opinião pública costuma confundir o desempenho esportivo com os assuntos do Estado.” E o positivismo? ORDEM E PROGRESSO IDEOLOGIA E ALIENAÇÃO Do lado contrário de tudo que foi dito sobre ideologia, Chauí (2001, p. 113) afirma que sua verdadeira função é: A de apagar as diferenças, como as de classes, e de fornecer aos membros da sociedade o sentimento da identidade social, encontrando certos referenciais identificadores de todos e para todos, como, por exemplo, a Humanidade, a Liberdade, a Igualdade, a Nação, ou o Estado. Para tanto, é necessário sair da alienação, vencer o senso comum e alcançar a capacidade crítica de contestação que permita a reflexão acerca das condições de cada um, fato que levará à consciência crítica. AGIR SEM SABER DAS COISAS. VIVE E FAZ SUA PARTE, MAS NÃO SE IMPORTA E NÃO SABE O QUE ACONTECE A SEU REDOR. Há professores de Educação Física alienados? Justifique. MAS O QUE É ALIENAÇÃO? “Alienação é fazer com as próprias mãos um mundo que não é o seu.” (Rubem Alves) Para Aranha e Martins (2002, p. 12), “etimologicamente a palavra alienação vem do latim alienare, alienus, que significa: ‘que pertence a um outro.’ E outro é alius. Sob determinado aspecto, alienar é tornar alheio, transferir para outrem o que é seu”. Para clarificar o conceito é interessante usar o mesmo exemplo apresentado por Codo (1985) quando se refere ao carro que compramos para pagar em prestações. Nesse caso, no documento do carro vem a observação: alienado à Financeira X. Isso significa que o carro que compramos é nosso, mas ao mesmo tempo ele não é nosso porque ainda não está completamente pago e se deixarmos de quitar as prestações a financeira tem o direito de tomá-lo de volta. Mas o que é alienação na Educação Física? ALIENAÇÃO NO ESPORTE Para Betti (1991, p. 51) a atividade do atleta reproduz o trabalho do operário da fábrica, sendo que os dois casos tornaram-se totalmente abstratos em quatro níveis: da atividade, do corpo, do tempo e do espaço. No nível da atividade, os gestos esportivos são cada vez mais a repetição de si mesmos. As atividades naturais e prazerosas tornaram-se mecanizadas, em situações artificialmente criadas, onde a luta contra o tempo é o fator central. No nível do corpo, este é considerado apenas como um meio para o alto rendimento, existindo independentemente da totalidade do homem. No nível do tempo, a abstração provém da integração ao domínio do cronômetro, o qual detém o tempo e o fixa nos recordes; as referências temporais da vida cotidiana são suprimidas. No nível do espaço, não há relação direta com a natureza, à qual se interpõe o artifício esportivo; a pista substitui o bosque; a piscina, o rio. A natureza é considerada em seu aspecto da rentabilidade para o fato esportivo; ela está ‘coisificada.’ SUPERANDO A ALIENAÇÃO: DO SENSO COMUM AO BOM SENSO. Segundo Aranha e Martins (2002, p. 35), o senso comum é um conhecimento adquirido por tradição, herdado dos antepassados e ao qual são acrescentados os resultados da experiência vivida na coletividade a que o indivíduo pertence. É um conjunto de idéias que permite a interpretação da realidade, bem como de um corpo de valores que ajuda a avaliar, julgar e, portanto, agir. Para as autoras: O senso comum não é refletido e se encontra misturado a crenças e preconceitos. É um conhecimento ingênuo (não crítico), fragmentário (porque difuso, assistemático e muitas vezes sujeito a incoerências) e conservador (resiste a mudanças). CONSEQUÊNCIAS DO SENSO COMUM Em função dessas características, o indivíduo que permanece vivendo sob o foco do senso comum, é um cidadão facilmente explorado pelo poder ideológico das classes dominantes. visto que não reflete nem faz análises aprofundadas da realidade que o cerca. Cabe lembrar que o senso comum está diretamente relacionado à alienação, mas não se trata, apenas, de considerá-lo como um nível de compreensão de mundo inferior ou pequeno diante das relações sociais. Antes disso, é preciso respeitar o senso comum como saber construído a partir das vivências e convivências possíveis ao indivíduo. SUPERANDO O SENSO COMUM Para Freire (1996, p. 29), educar “tanto implica o respeito ao senso comum no processo de sua necessária superação, quanto o respeito e o estímulo à capacidade criadora do educando”. Isso significa que devemos respeito ao senso comum e que temos responsabilidade quanto à sua necessária superação para que o indivíduo possa passar da condição de ingenuidade no pensamento para um processo de reflexão elaborada que permita a ele sair da situação de mero objeto de reprodução de uma realidade alienada, para a de participante e construtor crítico de sua história e da história da sua sociedade. Ele afirma: “Não há [...] na diferença e na ‘distância’ entre a ingenuidade e a criticidade, entre o saber de pura experiência feito e o que resulta dos procedimentos metodicamente rigorosos, uma ruptura, mas uma superação. A superação e não a ruptura se dá na medida em que a curiosidade ingênua, sem deixar de ser curiosidade, pelo contrário, continuando a ser curiosidade, se criticiza”. SOCIOLOGIA Objetivos desse módulo entender o conceito de Sociologia e sua aplicação prática na sua vida cotidiana, na Educação Física e no Esporte; conhecer e entender os conceitos de secularização, racionalização, imaginário social, corpo, narcisismo e individualismo segundo a sociologia e suas aplicações no cotidiano da Educação Física e do esporte. PARA QUE SOCIOLOGIA? [...] Minha presença no mundo não é a de quem aele se adapta, mas a de quem nele se insere. É a posição de quem luta para não ser apenas objeto mas, sujeito também da História.” (FREIRE, 1996, p. 54) Você já deve ter lido ou ouvido falar em Sociologia. Se pedissem a você para conceituar sociologia, provavelmente você diria que o termo deriva de duas palavras: sócio (sociedade) e logia (estudo). Assim, estudo da sociedade. Mas qual a importância do estudo da Sociologia, princi- palmente para a Educação Física? Nesse trabalho, tentaremos traçar um percurso da sua história e entender sua aplicabilidade na nossa vida cotidiana. AFIRMAÇÃO Para tanto, podemos começar afirmando que a Sociologia é o campo do conhecimento que permite compreender cientificamente o que acontece na sociedade. A sua base começou a ser construída em meados do século XIX, tendo como precursores os franceses Auguste Comte (1798 – 1857) e Émile Durkheim (1858 – 1917), além dos alemães Karl Marx (1818 – 1883) e Max Weber (1864 – 1920). As bases lançadas por Augusto Comte surgem com o que ele denominou “Física Social” e, posteriormente, “Sociologia”. Dessa maneira, caberia à nova ciência entender a realidade social do seu tempo para poder interferir, acelerando o desenvolvimento CONTRIBUIÇÕES DE COMTE pode-se destacar que uma das principais contribuições de Comte encontra-se na “Lei dos Três Estados”, pelos quais a evolução da humanidade passou (LAKA- TOS e MARCONI, 1999, p 46). “Teológico” - os fatos eram explicados pelo poder de um ser superior. “Metafísico” – serviu de intermediário entre o primeiro e o terceiro estados. “Positivo” – os fatos passaram a ser explicados por leis gerais de ordem positivista. E MARX? Marx, ao estudar o desenvolvimento do capitalismo, percebeu que a jornada do trabalhador é formada pelo trabalho necessário e pelo trabalho excedente. Na sua compreensão, o trabalho necessário gera o salário do trabalhador e o trabalho excedente é o responsável pelo que denominamos “mais-valia”, de onde é produzido o lucro. Sua acumulação possibilitou o desenvolvimento do capitalismo. Max Weber, em sua análise social, não considerava a sociedade superior ou exterior aos indivíduos, pois ela podia ser compreendida a partir do conjunto das ações individuais. A SOCIOLOGIA E SEU PROCESSO HISTÓRICO Foi na França e na Alemanha que no século XIX surgiram os primeiros esforços para sistematizar e delimitar o seu objeto de estudo, além da definição do método de pesquisa da Sociologia. Já no século XX a Sociologia, além de expandir-se para outros países europeus, entre eles Inglaterra, Itália e Bélgica, avançou para outras regiões do planeta, como Estados Unidos e América Latina. No início do século XX, a Sociologia, na França, debruçava-se sobre grandes temas como moral, religião, direito, educação e morfologia social. Nos anos que antecederam a Segunda Guerra Mundial, começou a mergulhar numa crise que veio à tona com o término da guerra retratando a dura realidade do atraso da Sociologia nos EUA (LAKATOS e MARCONI, 1999). Na década de 1930, na Alemanha, o nazismo causou um vasto declínio na construção do pensamento sociológico, fechando revistas e publicações de Sociologia e provocando uma perseguição aos sociólogos de origem judaica, os quais foram obrigados a emigrar para outros países. SOCIOLOGIA DO ESPORTE É inegável que o esporte, sobretudo o futebol, seja uma das instituições sociais mais sólidas do mundo moderno. Para termos idéia da dimensão e da proporção do que isso representa e de como se concretizam as relações na prática, basta olharmos para a Federation International Football Association (FIFA) que vemos nela uma instituição capaz de reunir um grande número de países afiliados, superando até mesmo a Organização das Nações Unidas (ONU). Por sua influência, o esporte continua despontando como uma das metas importantes dos programas governamentais, e não raras vezes, tanto as vitórias bem como as derrotas servem de metáfora para mensurar os sucessos e os fracassos dos sistemas econômicos e sociais. SECULARIZAÇÃO De acordo com o dicionário das religiões, secularização (ou secularismo) é uma palavra que apareceu no século XIX e que deriva do latim saeculum: “século”. Há por detrás dela uma “ideologia” atéia, fechada à transcendência e aos valores religiosos, que rejeita toda a relação entre Deus e o mundo. Helal (1990) define secularização como um processo pelo qual realidades pertencentes ao domínio religioso, sagrado ou mágico, passaram a pertencer ao domínio profano. A secularização é qualquer explicação racional, científica ou técnica que venha substituir uma representação religiosa ou alguma explicação sagrada ou atribuição divina. E O ESPORTE NO CONTEXTO DE SECULARIZAÇÃO Já o esporte moderno, fruto da Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra, surge emancipado do vínculo religioso. No entanto, Helal (1990, p.37) salienta que o esporte encontra-se “diante de um interessante paradoxo, pois ao se afastar do amadorismo e adentrar o domínio do profissionalismo, reconhecidamente um domínio racional e técnico e, portanto, profano, o esporte tende a se sacralizar”. Pode-se compreender melhor essa dimensão nas frases relacionadas ao futebol: “futebol é que nem uma religião”; “o templo sagrado do futebol brasileiro” (referência feita ao estádio mais conhecido do Brasil: o Maracanã); “manto sagrado” (referência feita à camisa da seleção ou mesmo à do time favorito de um torcedor); “os monstros sagrados do futebol brasileiro” (referência feita aos grandes craques da seleção brasileira de futebol); “os deuses do futebol” (referência feita aos grandes jogadores de futebol do passado). RACIONALIZAÇÃO Para Helal (1990) “racionalizar consiste, antes de tudo, em se conformar às leis da razão”. Assim, esse pro- cesso desconsidera qualquer julgamento ou decisão com base em fatores pessoais, emocionais e/ou afetivos. No esporte moderno há uma relação muito íntima entre secularização e racionalização. Percebe-se esse processo nos avanços da ciência e da técnica, aliados com forte aparato tecnológico que superam a concepção tradicional, mítica, religiosa e mágica. RACIONALIZAÇÃO, ESPORTE E ESPETÁCULO. Verifica-se a racionalização do esporte moderno nas abordagens da quantificação dos feitos atléticos, na crescente busca pela especialização de papéis mais estudados, testados, de maneira formal, rígida e calculista que visam, sobretudo, o melhor desempenho do atleta e das equipes nas diversas competições. O espetáculo esportivo, presenciado na modernidade, passa a ser encarado e construído como momento extraordinário e especial de celebração e de festa que proporciona um intervalo da vida como ela é, ou seja, da vida real. Estabelece-se uma quebra frente ao cotidiano da vida. O esporte moderno passa a configurar-se como espaço de oportunidades de realizar e/ou ampliar negócios, de influenciar na política, de movimentar a economia e de gerar trabalho. IMAGINÁRIO SOCIAL Estudos referentes ao imaginário social vêm oferecendo à Educação Física uma crescente e significativa contribuição. Por outro lado, ainda não há uma clareza na definição, se seria área de estudo ou o surgimento de uma nova ciência social. Talvez devêssemos concordar com a afirmação de Pich (2008), quando diz que o imaginário social estaria mais propenso e inserido em uma articulação interdisciplinar de questões e problemas antropológicos. O fato é que compreender o imaginário social significa abrir espaço para aquilo que os pesquisadores das ciências humanas definem ao afirmarem que: O ser humano não é indivíduo soberano que a modernidade criou, mas é determinado por um conjunto de idéias, sentimentos e normas de ação que condicionam seus pensamentos e ações. (PICH, 2008, p. 232) IMAGINÁRIO SOCIAL E CONDUTAS NO ESPORTE Dessa forma, o sociólogo Durkheim (citado por LAKATOS e MARCONI, 1999), descobre que em situações de emoções co- letivas, os seres humanos são capazes de adotar comportamentos semelhantes,não mediados pela racionalidade. Situações e exemplos como esses, presentes nos eventos esportivos, nos quais as emoções populares suprem, por momentos, os traços da individualidade para envolver o sujeito na emoção coletiva. Assim, na medida em que o ser humano participa de um grupo social, ele assume e incorpora um conjunto de símbolos e significados que caracterizam a cultura daquele grupo, vinculando de maneira objetiva o sujeito ao objeto. Nesse sentido, há uma descaracterização da identidade pessoal para a construção ou, ainda, para a criação de certa identidade social coletiva. Instaura- se, dessa maneira, uma tensão de forças entre o indivíduo e a sociedade. E as torcidas organizadas e a educação das crianças nesse contexto? O CORPO O corpo é uma feira de significados (RODRIGUES, 1979), afetado pela religião, pela ocupação, pelo grupo familiar, pela classe e por outros elementos sociais, políticos, culturais e simbólicos, podendo ser um objeto de beleza, capaz de suscitar uma confusão e uma desordem de emoções (prazer e desejo), de sentimentos (inferioridade ou superioridade, baixa ou alta autoestima) e de paixões. O CORPO Os meios de comunicação de massa tornaram-se o veículo mais acionado para a propagação do culto ao corpo. Atualmente, constroem o padrão de um corpo belo e saudável, o que motiva cada vez mais pessoas a buscarem recursos disponíveis no mercado para atingir esse padrão. No nosso corpo, e nos das pessoas que conosco se relacionam, podem-se reconhecer os diversos indicadores da posição social e, por vezes, manipulá-los em benefício próprio. Constatamos essa exaltação da forma física na sensualidade exposta, divulgada e popularizada na publicidade, na moda e na mídia. PADRÃO CORPORAL E O IMAGINÁRIO SOCIAL O padrão corporal produzido pelos meios de comunicação de massa vem gerando no imaginário social uma busca desenfreada e excessiva por atividades físicas. A construção desse imaginário está em “aceitar que a estetização do cotidiano seja capaz de resgatar a motivação da vida, a felicidade e o engajamento social” (NOVAES citado por BIM, 2002, p. 104). O surgimento de academias de ginástica tem exercido papel importante na descoberta do corpo, principalmente reforçando os valores estéticos e desenvolvendo um acentuado individualis- mo e narcisismo entre as pessoas. Nessa concepção, o corpo passa a ser constantemente aprimorado, sendo tratado como objeto de conhecimento e dominação. No mundo pós-moderno, a estética corporal passou a ocupar lugar de destaque, criando uma espécie de transcendentalismo. Dessa maneira, o prazer, o sonho, as fantasias, os símbolos, as representações, os desejos estéticos, os adornos e os enfeites passam a ser concebidos como verdadeiros constructos do saber humano (NOVAES, 2001) NARCISISMO O termo narcisismo encontra-se associado ao mito de Nar- ciso que se afoga num lago ao tentar abraçar sua própria imagem refletida na água. Conforme o vocabulário da psicanálise de Lapanche e Pontalis (1970), o termo narcisismo aparece pela primeira vez na obra de Freud em 1910. Para ele, o narcisismo já não surge como uma fase evolutiva, mas com o êxtase da libido. A sociedade pós-industrial consolida-se pela fascinação em ver sua própria imagem refletida nos mais variados meios de comunicação de massa, compensando, dessa maneira, sua auto- imagem e reforçando o próprio ego. INDIVIDUALISMO Individualismo é um termo técnico amplamente utilizado na Educação Física e que tem raízes fortemente fundamentadas pelas ciências biológicas, para referir-se ao princípio da individualidade do ser em responder a cada estímulo físico definido pelas teorias do treinamento desportivo. Nessa perspectiva, cada indivíduo teria a medida certa para melhorar o desempenho do esforço físico aplicado a partir do volume e da intensidade do estímulo, sem comprometer o seu desenvolvimento físico e mental (RODRIGUES, 2008). O fato é que esse princípio da individualidade biológica é um conceito reconhecido, aceito e de fundamental importância para o desenvolvimento da prática científica da Educação Física. DA EDUCAÇÃO FÍSICA DO SENSO COMUM PARA O BOM SENSO DA EDUCAÇÃO FÍSICA São vários os olhares que o senso comum lança sobre a Educação Física. Tais olhares são visões equivocadas que não correspondem ao seu verdadeiro papel, à sua realidade, pelo menos àquela desejada, apesar de que alguns professores insistem em ratificar o que é dito. O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA SÓ TEM MÚSCULOS Um primeiro olhar do senso comum para a Educação Física é aquele que diz que quem escolhe o curso são aquelas pessoas que não querem muito compromisso com o estudo, que gostam de passar o tempo “malhando” ou praticando esporte. Dentro dessa categoria estão aqueles que passam muito tempo em frente aos aparelhos de musculação para adquirir um corpo “sarado” e em frente ao espelho para admirar suas conquistas corporais, se conformado com os ditames das modas e conceitos estipulados pela indústria da “malhação”. É comum ouvirmos falar que os professores de musculação e ginástica “têm um corpo bonito, musculoso, mas que não tem cérebro”. Como superar esse preconceito disseminado na sociedade? A EDUCAÇÃO FÍSICA É IGUAL A ESPORTE É importante esclarecer que a Educação Física tem algumas áreas de atuação. O profissional pode optar por trabalhar com desporto, em academias, com lazer e na escola, com a Educação Física Escolar. Porém, nenhuma dessas áreas resume a Educação Física, ou seja, para citar apenas uma vertente, o desporto é uma das áreas de atuação da Educação Física, mas não é a Educação Física. EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E EXCLUSÃO PELO ESPORTE Tudo isso significa que a Educação Física Escolar, quando se adéqua ao modelo esportivo, mais discrimina e exclui que promove a participação e a educação, visto que o esporte proposto na escola, e mesmo as aulas de Educação Física Escolar, quase sempre, estão afastados de uma educação integral e integradora, buscando a descoberta e o desenvolvimento de talentos esportivos que possam ser treinados para participar de competições onde, a cada vez mais, “o individualismo, a rivalidade, o antagonismo, a tensão, a contração, a clausura, a pressão psicológica dão o tom e a forma do cenário e das relações entre os participantes” (BARBIERI, 1999, p. 25) Qual a verdadeira função da Educação Física na escola? A EDUCAÇÃO FÍSICA É IGUAL A CULTO NARCÍSICO AO CORPO Para alguns a Educação Física é a expressão do culto ao corpo “sarado”, musculoso e definido, o que, na sua essência, en- contra vários indicadores de verdade. Podemos buscar na história da Educação Física no Brasil alguns fatores que determinam a definição desse papel. Para Soares (1994, p. 85): A Educação Física no Brasil se confunde em muitos momentos de sua história com as instituições médicas e militares. Em diferentes momentos, estas instituições definem o caminho da Educação Física, delineiam o seu espaço e delimitam o seu campo de conhecimento, tornando-a um valioso instrumento de ação e de intervenção na realidade educacional e social. A EDUCAÇÃO FÍSICA NÃO TEM PAPEL PEDAGÓGICO NA ESCOLA Esta visão equivocada da Educação Física Escolar, entre outros motivos, pode ser creditada ao fato de que, segundo Bracht (1989), “os conteúdos da Educação Física Escolar, foram, e têm sido determinados por instituições não vinculadas à escola, tais como a instituição médica, a militar e a desportiva”. Até meados das décadas de 1970 e 1980 a Educação Física Escolar apenas repetia tais modelos, sem uma preocupação fundamentalmente pedagógica. MAS O QUE É PRÓPRIO DA EDUCAÇÃO FÍSICA? Para Santin “é o humano que sustenta e alicerça a Educação Física. É no homem diretamente que a Educação Física encontra sua razão de ser”. Mas o autor não se refere ao homem alienado ou condicionado. Ele aponta para um homem global, que pensa, reflete, se expressa, vivencia, opina, participa, convive, cria e recria seu mundo, seu espaço, sua condiçãode homem. Dessa forma, Santin (op. Cit. p. 26) propõe que: Os movimentos da Educação Física devem ser gestos artísticos, isto é, criativos. E cada um tem seu gesto original, próprio, pessoal. Cada um tem seu timbre de voz, seu sotaque, seu modo de falar. Assim também tem sua originalidade de movimento, de caminhar e de expressão gestual. Tem-se, portanto, na Educação Física, realmente educação, educação humana e não apenas treinamento físico. REFLEXÃO FILOSÓFICA REFLEXÕES FILOSÓFICAS PARA O PROFESSOR DE EDUCAÇÃO FÍSICA: Que educação física se deve oferecer na escola? Que objetivos se quer alcançar a partir do oferecimento dessa Educação Física escolhida? Que informações e conteúdos serão apresentados aos alunos para que haja a efetiva ruptura com os caminhos equivocados e a busca de novas perspectivas? REFLETINDO SOBRE A EDUCAÇÃO FÍSICA. O PAPEL DA ÉTICA Não é possível pensar os seres humanos longe, sequer, da ética, quanto mais fora dela. Estar longe, ou pior, fora da ética, entre nós, mulheres e homens, é uma transgressão. É por isso que transformar a experiência educativa em puro treinamento técnico é amesquinhar o que há de fundamentalmente humano no exercício educativo: o seu caráter formador. REFLETINDO SOBRE A EDUCAÇÃO FÍSICA. O PAPEL DA ÉTICA Sendo assim, pensar a Educação Física apenas como reprodutora de modelos instituídos pela indústria esportiva e da beleza a qualquer preço, trabalhando de forma alienada e alienante sem permitir que o aluno reflita a respeito de sua condição, é pensar uma Educação Física desvinculada de conceitos éticos. PARA REFLETIR O PAPEL DE PROFESSOR A Educação Física poderá desenvolver a idéia de corporeidade como instrumento a ser exaurido em função de idéias de outra ordem, ou compreender o corpo como elemento básico humano que deve ser desenvolvido, construído e respeitado ao mesmo nível de todas as dimensões humanas. A Educação Física pode adotar uma filosofia que tenha como princípios o rendimento, a competição e o confronto, onde a meta única é vencer para proclamar sua superioridade; ou, então, desenvolver uma filosofia através da qual as atividades corporais são vividas como lazer, gesto, harmonia, arte e espetáculo. Observa-se, com isso, que as linhas filosóficas e pedagógicas da Educação Física, como todas as atividades educativas, podem estar não só limitadas pela rigidez dos determinismos mecânicos dos sistemas produtivos, mas também podem desenvolver-se na imensidão da liberdade, da imaginação e da criatividade humanas (SANTIN, 1987). PREZADOS É HORA DO JULGAMENTO (JÚRI SIMULADO)
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