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UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO- UFOP ESCOLA DE MINAS DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA METALÚRGICA E DE MATERIAIS LUCAS MATHEUS MAGALHÃES SILVA CONFORMAÇÃO DE AÇOS TRIP OURO PRETO – MG 2020 Lucas Matheus Magalhães Silva CONFORMAÇÃO DE AÇOS TRIP Trabalho apresentado ao Curso de Engenharia Metalúrgica da Escola de Minas da Universidade Federal de Ouro Preto como parte dos requisitos para aprovação na disciplina de MET162. Orientador: Prof. Jéssica Dornelas Silva OURO PRETO – MG 2020 LISTA DE FIGURAS Figura 2.1: Desenho esquemático da ideia clássica de deslizamento. ........................................ 6 Figura 2.2: Esquema clássico da maclação. ............................................................................... 7 Figura 2.3: Transformação martensítica. .................................................................................... 9 Figura 2.4: Desvio de linearidade quando a amostra apresenta transformação martensítica. .. 10 Figura 2.5: Variação de Ms em função da Tensão. .................................................................. 10 Figura 2.6: Tensão x deslocamento da formação da martensita. .............................................. 11 Figura 2.7: Energia livre (G) em função da Temperatura para a transformação martensítica (a partir da austenita com e sem deformação). .................................................... 12 Figura 2.8: Esquema da influência da temperatura e da tensão aplicada nos mecanismos da transformação martensítica. ................................................................................ 12 Figura 2.9: Evolução esquemática de transformação martensítica de uma ilha de austenita retida. ................................................................................................................... 14 Figura 2.10: Representação esquemática de duas rotas convencionais utilizadas para a obtenção de aços multifásicos. (a) austenitização plena seguida de resfriamento contínuo ou tratamento isotérmico. (b) austenitização intercrítica seguido de tratamento isotérmico. ....................................................................... 15 Figura 2.11: Relação entre ductilidade e resistência de aços de primeira geração. .................. 15 Figura 2.12: Curva típica de Bauschinger. ............................................................................... 18 Figura 2.13: Deslizamento da chapa através dos cordões esticadores. .................................... 18 Figura 2.14: Perfis fabricados com a mesma matriz. ............................................................... 19 Figura 2.15: Variação do ângulo de retorno elástico para o aço TRIP 800 com folga de 2,50 mm a cada dobra. ................................................................................................ 22 Figura 2.16: Variação do ângulo de retorno elástico para o aço TRIP 800 com folga de 3,00 mm a cada dobra. ................................................................................................ 23 Figura 2.17: Variação do ângulo de retorno elástico para o aço TRIP 800 com folga de 3,50 mm a cada dobra. ................................................................................................ 23 Figura 2.18: Variação do ângulo de retorno elástico para o aço TRIP 800 com raio de 10 mm a cada dobra. ................................................................................................ 24 Figura 2.19: Variação do ângulo de retorno elástico para o aço TRIP 800 com raio de 15 mm a cada dobra. ................................................................................................ 24 Figura 2.20: Variação do ângulo de retorno elástico para o aço TRIP 800 com raio de 20 mm a cada dobra. ................................................................................................ 25 LISTA DE TABELAS Tabela 2.1: Composições químicas de aços de baixa liga assistidos pelo efeito TRIP, %. ..... 16 Tabela 2.2: Composição química do aço TRIP800 (partes de massa em %). .......................... 20 Tabela 2.3: Propriedades Mecânicas do aço TRIP800. ............................................................ 21 Tabela 2.4: Ângulo de retorno elástico (Graus) para folga de 2,5 mm. ................................... 21 Tabela 2.5: Ângulo de retorno elástico (Graus) para folga de 3,0 mm. ................................... 21 Tabela 2.6: Ângulo de retorno elástico (Graus) para folga de 3,5 mm. ................................... 22 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 5 2 ASPECTOS TEÓRICOS ................................................................................................. 6 2.1 Mecanismos de deformação plástica ........................................................................... 6 2.2 Transformação martensítica induzida por tensão ........................................................ 8 2.3 Aços TRIP: propriedades e aplicações ...................................................................... 13 2.4 Conformação de aços TRIP ....................................................................................... 17 2.4.1 Excentricidades e parâmetros importantes ......................................................... 17 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 26 5 1 INTRODUÇÃO A conformação de chapas metálicas é um importante processo de fabricação mecânica, principalmente, na indústria automotiva. Nas últimas décadas, devido a crescente demanda por veículos mais leves, de alto desempenho e maior resistência, tendo a indústria automotiva evoluindo significativamente em relação à preservação ambiental (redução da emissão de CO2) e com respeito à segurança veicular as montadoras e a comunidade científica tiveram que se concentrar no desenvolvimento de novos materiais. Como resultado disso, ocorreu um aumento significativo no uso de aços avançados de alta resistência (AHSS) em automóveis. Assim, é necessário compreender melhor a conformabilidade destes materiais, com o objetivo de reduzir custos durante a fabricação de componentes e ganhos ambientais. Assim, é necessário compreender melhor a conformabilidade destes materiais, com o objetivo de reduzir custos durante a fabricação de componentes e entender melhor o processo (HAUS et al., 2012). O efeito TRIP (Transformation Induced Plasticity) é responsável pelo acréscimo significativo do alonga- mento total e consequentemente da ductilidade destes aços. O aumento da ductilidade uniforme é atribuído ao processo de acomodação plástica nas vizinhanças das placas de martensita, ou seja, durante o processo de deformação de um aço multifásico, que contém austenita retida à temperatura ambiente, a transformação da austenita em martensita ocorre progressivamente, resultando em um aumento nos valores de alongamento. Este processo é de- nominado plasticidade induzida por transformação (Transformation Induced Plasticity), ou efeito TRIP. É precisamente esta transformação martensítica por deformação induzida que é responsável pelo excelente equilíbrio de resistência-ductilidade apresentada pelos aços TRIP (ANAZAWA et al., 2008). Neste trabalho, é proposto um estudo sobre a conformação dos aços TRIP, tendo como tópicos de assuntos principais: mecanismos de deformação plástica, transformação martensítica induzida por tensão, aços TRIP – suas propriedades e aplicações e a conformação dos aços TRIP como um todo, fazendo um paralelo à influência do efeito Bauschinger no retorno elástico em um processo de estampagem de um aço TRIP 800. 6 2 ASPECTOS TEÓRICOS 2.1 Mecanismos de deformaçãoplástica Deformação por deslizamento: a deformação plástica ocorre normalmente nos metais através do deslizamento de blocos do cristal, uns sobre os outros, ao longo de planos cristalográficos bem definidos que são chamados planos de deslizamento. Numa aproximação grosseira, o deslizamento, ou escorregamento, de um cristal pode ser considerado análogo à distorção produzida quando se espalha um baralho sobre a mesa, empurrando uma de suas extremidades. A Figura 2.1 ilustra esta visualização clássica do deslizamento. Na Figura 2.1a é aplicada uma tensão cisalhante num cubo de metal com a superfície superior polida; o deslizamento ocorre quando esta tensão atinge um valor crítico. Os átomos movem um número inteiro de distâncias atômicas ao longo do plano de deslizamento, produzindo um degrau na superfície polida (Figura 2.1b). Quando observamos de cima a superfície polida através de um microscópio, o degrau aparece rebatido como uma linha que é chamada Linha de deslizamento. Se a superfície for repolida após ter ocorrido o deslizamento, o degrau será retirado, desaparecendo também a linha de deslizamento (Figura 2.1c).(DIETER, 1982). Figura 2.1: Desenho esquemático da ideia clássica de deslizamento. Fonte: (DIETER, 1982). Deformação por maclação: o segundo mecanismo importante através do qual os metais se deformam é o processo conhecido por maclação'. Este mecanismo ocorre quando uma região do cristal tem a sua orientação alterada, estando está relacionada à orientação do restante da rede cristalina de maneira definida e simétrica. A região maclada é uma imagem de espelho da matriz cristalina, sendo o plano de simetria que as separa chamado p/ano de maclação. 7 A Figura 2.2 ilustra o aspecto atômico clássico da maclação. A Figura 2.2a representa uma seção perpendicular à superfície numa rede cúbica com um plano de baixo índice paralelo ao do papel e inclinado em relação ao plano do polimento. O plano da macla é perpendicular ao papel; caso seja aplicada uma tensão cisalhante, o cristal apresentará maclação em torno deste plano (Figura 2.2b). A região à direita do plano de maclação não sofre deformação, enquanto que à esquerda os planos atômicos são cisalhados de tal forma que a rede formada através do plano da macla seja uma imagem de espelho da rede original do cristal. Em uma rede cristalina simples como esta, cada átomo na região maclada se movimenta através de um cisalhamento homogêneo, em uma quantidade proporcional a sua distância do plano da macla. Na Figura 2.2b, os círculos abertos representam os átomos que não se moveram, os círculos pontilhados indicam as posições originais da rede dos átomos que mudaram de posição, sendo suas posições finais na região maclada indicadas pelos círculos cheios. Deve-se notar que a macla é visível na superfície polida em virtude da variação de nível da superfície, produzida pela deformação e também devido à diferença de orientação cristalográfica entre as regiões deformada e não-deformada. Se a superfície fosse polida até a seção AA, a diferença de nível da superfície seria eliminada, no entanto a macia permaneceria visível por possuir uma orientação cristalográfica diferente daquela da região não-maclada. As macias podem ser produzidas por deformação mecânica ou como consequência de um recozimento realizado após deformação plástica (DIETER, 1982). Figura 2.2: Esquema clássico da maclação. Fonte: (DIETER, 1982). 8 Escorregamento de contorno de grão: Modelo de ASHBY (1970): discordâncias estatisticamente estocadas e discordâncias geometricamente necessárias, para resolver a incompatibilidade de deformação e preservar a continuidade da deformação de grão em grão do material (GODEFROID, 2019a). A presença de grãos no material policristalino leva a um endurecimento maior do que o material monocristalino, sendo o fator de Schmid M o parâmetro de correlação entre as duas situações. A presença dos contornos de grãos tem um efeito adicional no comportamento em deformação do material, servindo como uma efetiva barreira ao movimento das discordâncias. Assim, pode-se relacionar os contornos de grãos ou, mais precisamente, o tamanho de grão do material com sua resistência mecânica (GODEFROID, 2019a). Embora a deformação seja contínua através dos contornos pode haver um alto gradiente de deformação nessa região. Conforme o tamanho de grão diminui e a elongação aumenta, a deformação se torna mais homogênea. Devido às restrições impostas pelo contorno de grão, o escorregamento ocorre em vários sistemas, mesmo em baixas deformações, e também em planos não compactos nas regiões próximas ao contorno de grão. Uma vez que mais sistemas de deslizamento operam perto dos contornos de grão, a dureza será geralmente mais alta ali do que no centro do grão. Conforme o diâmetro do grão vai sendo reduzido, mais os efeitos dos contornos vão sendo sentidos no interior do grão. Então, o encruamento de metais com grãos finos será maior do que um agregado cristalino de grãos grosseiros (DIETER, 1982). 2.2 Transformação martensítica induzida por tensão A transformação martensítica ocorre por cisalhamento através do movimento coordenado e cooperativo dos átomos, conforme esquema exibido na Figura 3.4. A nucleação é heterogênea e ocorre de forma preferencial nos contornos de grão e defeitos. A velocidade de crescimento da martensita é extremamente rápida, próxima à velocidade do som nos metais [32]. Planos invariantes constituem sua interface, sendo chamado de plano de hábito, o qual conserva seu módulo e orientação durante a transformação (MARIA, 2019). Os cristais A e B exibem a mesma estrutura, Figura 3.4, no entanto a orientação cristalográfica e sua relação de orientação, são diferentes, sendo chamada variante da martensita. Um dos principais aspectos da transformação martensítica é a formação de defeitos, como deslocações e falhas de empilhamento (MARIA, 2019). 9 Figura 2.3: Transformação martensítica. Fonte: (MARIA, 2019). As principais características da transformação martensítica, são (MOTA, 2002): • a fase martensítica pode ser tanto uma solução sólida substitucional como intersticial; • a composição química da fase martensítica é a mesma da fase matriz austenítica; • a transformação é acompanhada por uma variação dimensional ou, sobre superfícies polidas, pelo aparecimento de relevo; • todo cristal de martensita possui um plano de hábito específico; • existe uma relação de orientação cristalográfica particular entre a fase austenítica e a martensítica. Uma placa de martensita introduz deformações macroscópicas ao seu redor. Estas deformações podem ser decompostas em um campo dilatacional e um campo cisalhante. Ambas irão interagir com o campo de tensões externo. Um exemplo é mostrado na um risco original numa amostra apresenta um desvio da linearidade, quando a amostra apresenta transformação martensítica (GODEFROID, 2019b). 10 Figura 2.4: Desvio de linearidade quando a amostra apresenta transformação martensítica. Fonte: (GODEFROID, 2019b). PATEL e COHEN (1953): tensões normais não afetam tensões cisalhantes, e por isto uma grande quantidade de energia é requerida para a transformação, quando atua um campo hidrostático. Por outro lado, tanto a tensão como a compressão uniaxial possuem componentes cisalhantes, daí a menor quantidade de energia requerida (GODEFROID, 2019b). Figura 2.5: Variação de Ms em função da Tensão. Fonte: (GODEFROID, 2019b). 11 A transformação martensítica pode ser induzida pela aplicação de um esforço externo. Se ela ocorre na região elástica, diz-se que a martensita é induzida por tensão; Se ela ocorre na região plástica, diz-se que a martensita é induzida por deformação. Exemplo : liga Fe-Ni-C testada acima de Ms mostrando a formação da martensita na região elástica (GODEFROID, 2019b). Figura 2.6: Tensãox deslocamento da formação da martensita. Apesar da austenita ser termicamente estável acima da temperatura Ms ela ainda pode se transformar em martensita com a aplicação de tensão ou deformação em temperaturas inferiores a uma temperatura crítica, denominada Md. Como mostrado na Figura 2.7, a deformação aplicada em uma temperatura inferior à Md fornece a energia necessária para que a austenita se transforme em martensita mesmo acima da temperatura Ms. Como representado na Figura 2.8, na temperatura Ms a força motriz é suficiente para nuclear a martensita sem aplicação de tensão externa. Em temperaturas entre Ms e Msσ, ocorre nucleação de martensita, mediante a aplicação de tensão elástica (note-se que a aplicação da tensão neste caso não leva a deformação plástica). Neste caso tem-se a transformação assistida por tensão (stress assisted) na qual a tensão requerida para iniciar a trans formação martensítica está na região elástica, mas aumenta com o aumento da temperatura devido à diminuição da força motriz. Na temperatura Msσ a tensão crítica para formar martensita é igual ao limite de escoamento da austenita. Assim, 12 a tensão na qual a transformação é iniciada tende a seguir o limite de escoamento da austenita logo acima de Msσ. Figura 2.7: Energia livre (G) em função da Temperatura para a transformação martensítica (a partir da austenita com e sem deformação). Fonte: (HUALLPA, 2016). Figura 2.8: Esquema da influência da temperatura e da tensão aplicada nos mecanismos da transformação martensítica. Fonte: (HUALLPA, 2016). 13 Em temperaturas intermediárias a Msσ e Md, uma deformação plástica adicional faz com que a tensão para deformar plasticamente a austenita aumente devido ao encruamento. Ao mesmo tempo, os arranjos de discordâncias formados pela deformação auxiliam a nucleação e o disparo de avalanches de martensita. Em certo ponto o trabalho de deformação se torna igual ao necessário para compensar força matriz da transformação martensítica. Devido ao caráter plástico da deformação necessária para assistir a formação de martensita nesta faixa de temperatura, a transformação martensítica é dita induzida por deformação (strain induced) (HUALLPA, 2016). Para temperaturas superiores a Md, o aumento da tensão para deformar plasticamente a austenita não é suficiente para gerar transformação martensítica antes da ruptura do material, tornando impossível a formação de martensita induzida por deformação plástica. Em suma, no intervalo de temperaturas entre Ms e Msσ tem-se martensita assistida por tensão, enquanto que entre Msσ e Md tem-se a transformação induzida por deformação (HUALLPA, 2016). 2.3 Aços TRIP: propriedades e aplicações Em 1967, Zackay e outros mostraram que é possível obter altos valores de alongamento num aço austenítico se, durante o processo de deformação sob temperatura ambiente, ocorrer transformação contínua da austenita para martensita. Esse fenômeno foi atribuído à dilatação que ocorre durante a transformação da austenita CFC para a ferrita CCC, e foi designado pela sigla TRIP: transformation- induced-plasticity, ou plasticidade induzida por transformação (GORNI, 2008). O efeito TRIP resulta da transformação da martensita induzida por deformação a partir da austenita metaestável. Esta transformação constitui um mecanismo de endurecimento por deformação que evita a ocorrência de deformações localizadas, aumentando dessa forma o alongamento uniforme e a taxa de encruamento. Simultaneamente tais efeitos resultam em uma maior absorção de energia no ensaio de impacto (GORNI, 2008). Vários aspectos das transformações de fase por resfriamento contínuo e da transformação martensítica resultante do efeito TRIP, ainda precisam ser elucidados. Muitos estudos vêm sendo desenvolvidos com o objetivo de otimizar os esquemas de tratamentos termomecânicos para a obtenção desses aços, prestando especial atenção à estratégia do resfriamento controlado para obter a microestrutura e as propriedades mecânicas desejadas (GORNI, 2008). 14 Os aços multifásicos com efeito TRIP apresentam a particularidade da austenita se transformar em martensita no decorrer da deformação plástica. Essa transformação proporciona, simultaneamente, uma ductilidade crescente, associada a uma elevada resistência mecânica. A importância dessa transformação é dupla: primeiramente provoca um efeito de endurecimento estático causado pelo surgimento de uma fase dura, a martensita e, simultaneamente, provoca um amaciamento dinâmico graças à própria transformação e ao fato de que ela mesma provoca uma deformação suplementar (PEREIRA; BUSTAMANTE; FERREIRA, 2018). Para a obtenção do efeito TRIP os aços devem ter uma fração volumétrica suficiente de austenita retida, que é obtida no resfriamento contínuo após um ciclo de tratamento termomecânico ou como parte do recozimento após a laminação a frio, de modo a obter uma microestrutura final multiconstituída. A transformação plástica induz a transformação da parte macia (austenita) para fase dura (martensita), conforme Figura 2.9(MARTINS, 2015). Figura 2.9: Evolução esquemática de transformação martensítica de uma ilha de austenita retida. Fonte: (MARTINS, 2015). Na Figura 2.10, temos as diferenças nas microestruturas causadas pela temperatura de austenitização. Apesar dos desafios inerentes ao controle dos parâmetros de processamento, os aços de baixa liga assistidos pelo efeito TRIP oferecem combinações de resistência à tração e ductilidade mais altas que os aços DP (ferrita e martensita). Por possuir microestrutura é multifásica, não se observa a presença de austenita retida, o que leva a maiores valores de resistência mecânica com menor ductilidade (MARTINS, 2015). 15 Figura 2.10: Representação esquemática de duas rotas convencionais utilizadas para a obtenção de aços multifásicos. (a) austenitização plena seguida de resfriamento contínuo ou tratamento isotérmico. (b) austenitização intercrítica seguido de tratamento isotérmico. Fonte: (MARTINS, 2015). A figura 2.5 representa a tensão de resistência à tração e alongamento total de aços o produto desses é quantificado como conformabilidade. Um aumento da relação austenita/ martensita (aproximadamente 5%) e, em seguida, permanece constante para os aços Dual Phase. Com aumento além dos 5%, citado acima, o limite de resistência aumenta a o alongamento total diminui. Notadamente, a interpretação mais moderna dos aços TRIP informa que toda a austenita residual se transforma em martensita já nos primeiros estágios de deformação antes da região de estricção (MARTINS, 2007). Figura 2.11: Relação entre ductilidade e resistência de aços de primeira geração. Fonte: (MARTINS, 2015). 16 A concepção de novas ligas está sempre associada às exigências e aos contínuos desafios do mercado do aço. Quando se combina um bom projeto de liga com um processamento termomecânico adequado, conseguem-se inúmeras combinações de propriedades, tais como: alta resistência associada à ductilidade, tenacidade e conformabilidade, em decorrência da coexistência de diferentes constituintes microestruturais (HURTADO FERRER, 2003). Em relação aos aços assistidos pelo efeito TRIP, numerosas composições químicas foram desenvolvidas e vêm sendo avaliadas nos últimos anos, com a finalidade de ajustar sua microestrutura e obter as combinações de propriedades mecânicas desejadas. Algumas dessas composições estão resumidas na Tabela 2.1 (HURTADO FERRER, 2003). Tabela 2.1: Composições químicas de aços de baixa liga assistidos pelo efeito TRIP, %. Fonte: (HURTADO FERRER, 2003). Dois tipos de aplicações têm sido observados para o aço TRIP. A primeira delas está relacionada à maior capacidade de conformação desse aço em relação a outros aços de resistência mecânica similar. Nessas aplicações, quase sempre uma forma mais complicadaé requerida, além da alta resistência. O segundo tipo está relacionado à absorção de energia que esse aço é capaz de proporcionar em um evento de impacto. Nesse caso, ele é aplicado em peças do veículo cuja função é se deformar e absorver a energia de impacto. Não raro, no entanto, o aço TRIP é aplicado em partes onde ambas as características são requeridas (PEREIRA; BUSTAMANTE; FERREIRA, 2018). Aplicações potenciais incluem indústrias automobilísticas, carenagem de foguetes, prendedores inoxidáveis de alta resistência mecânica, agulhas cirúrgicas, blindagem inoxidável e cabos e fios de alta resistência mecânica. 17 2.4 Conformação de aços TRIP 2.4.1 Excentricidades e parâmetros importantes O retorno elástico é uma preocupação importante no projeto de ferramentas para conformação de chapas. Exigências ambientais e de mercado levaram a um aumento no uso de aços avançados de alta resistência (AHSS - Advanced High Strength Steel) como material de trabalho. Um aumento da tensão de escoamento do material diminui sua conformabilidade e aumenta o comportamento elástico. O efeito do retorno elástico é um dos principais fatores que determinam a forma final do produto e, se não for corretamente controlado, afeta adversamente a precisão do produto e, consequentemente, a sua qualidade. O controle do retorno elástico ou a correção dos materiais estampados é uma tarefa difícil e complexa que normalmente é resolvida por métodos de tentativa e erro. Estes métodos são demorados e implicam em custos elevados (HAUS et al., 2012). Nos processos de dobra de chapas, o material tem uma recuperação elástica considerável durante a remoção da carga o que leva a um retorno elástico elevado. Considerando aspectos de qualidade e dimensões finais do produto, o projeto de ferramentas para conformação de chapas deve ser capaz de prever a recuperação elástica, que é influenciada por uma combinação de parâmetros de processo, tais como formas e dimensão da ferramenta, condições de atrito e de contato, as propriedades dos materiais, espessura, principalmente (HAUS et al., 2012). O grau de dificuldade aumenta no caso de conformação de formas muito complexas, como, por exemplo, peças com superfícies irregulares. A tarefa de atingir a exigida precisão dimensional nesses casos é ainda mais difícil. Como o retorno elástico afeta a qualidade dos componentes conformados, uma intensa pesquisa no desenvolvimento de novos métodos permitiram aos projetistas minimizar os erros provenientes dele. Contudo, qualquer que seja a técnica utilizada para aperfeiçoar a operação de dobra, esta é normalmente incapaz de lidar com a complexa interação dos diversos fatores que influenciam a operação. A otimização da forma final de uma conformação complexa é então um procedimento delicado que frequentemente conduz a atrasos no projeto e custos elevados (HAUS et al., 2012). O estudo da influência do efeito Bauschinger no retorno elástico nos fornece dados que serão utilizados na predição do retorno elástico, facilitando assim o trabalho dos projetistas de matrizes. O efeito Bauschinger é o fenômeno no qual ocorre a redução da tensão de escoamento 18 à tração (compressão) quando o material é descarregado e recarregado à compressão (tração) no regime plástico e aplicada uma tração (compressão) na mesma direção Figura 2.12. Figura 2.12: Curva típica de Bauschinger. Fonte:(HAUS et al., 2012; WEINMANN; ROSENBERGER; SANCHEZ, 1988). Segundo (WEINMANN; ROSENBERGER; SANCHEZ, 1988), em chapas, o efeito Bauschinger aparece principalmente devido ao escoamento da chapa pelo draw bead, no qual ocorre um processo de três dobras e desdobras além de mais uma dobra e desdobra da chapa durante do movimento de entrada da chapa na cavidade da matriz (figura 2). Com esses processos de dobra, desdobra e redobra, o aparecimento do efeito Bauschinger em chapas é esperado e não pode ser desprezado, principalmente na predição do retorno elástico (HAUS et al., 2012). Figura 2.13: Deslizamento da chapa através dos cordões esticadores. Fonte:(HAUS et al., 2012; WEINMANN; ROSENBERGER; SANCHEZ, 1988). 19 Segundo CARDEN et al. (2002) a preocupação com retorno elástico e controle de qualidade aumentou entre os fabricantes de automóveis com a crescente utilização de aços de alta resistência. Peças de AHSS demonstram mais retorno elástico do que as peças feitas de aço carbono. Ainda, a experiência com a conformação de AHSS é limitada em relação ao uso dos demais aços. Além disso, o propósito de aplicar AHSS é para redução de peso, o que implica em uso de chapas mais finas que tem menor capacidade de manter o formato depois da conformação. Daí, isso leva a variações dimensionais e problemas durante a montagem dos componentes, e por sua vez, resulta em problemas de qualidade. Assim, a compreensão, caracterização exata, previsão, controle e redução do retorno elástico e suas variações tornaram- se muito importantes em termos de diminuir o tempo de desenvolvimento e reduzir a taxa de sucata na produção para atingir a fabricação rentável de peças com AHSS (HAUS et al., 2012). Muitos estudos comprovam que o retorno elástico tem um comportamento diferente nos AHSS se comparados com os aços HSS tradicionais, como os aços HSLA. Um exemplo é mostrado na Figura 2.14. Figura 2.14: Perfis fabricados com a mesma matriz. Fonte: (HAUS et al., 2012). ZHANG e LIN (1997) investigaram o retorno elástico em dobramento em V com punções deformáveis e matrizes rígidas independentemente de atrito durante os experimentos. A zona de contato foi estudada por meio de filmes pré- escala Fuji. Eles descobriram que a interação da interface induzida pelo punção deformável diminuía o retorno elástico (HAUS et al., 2012). 20 BORDONARO e LEE (1996) estipularam que o cálculo exato da distribuição do momento de flexão desempenha um papel importante na análise do retorno elástico. MORESTIN e BOIVIN (1996) apresentou um modelo de endurecimento cinemático para os estudos de retorno elástico em chapas conformadas. CHAKHARI e JALINIER (1984) estudou o retorno elástico das peças dobradas em V e peças dobradas U empregando modelo de anisotrópico elasto-plástico. WANG (1984) apresentou uma análise analítica para a previsão dos efeitos da folga na matriz no retorno elástico (HAUS et al., 2012). BAHLOUL et al. (2006) e SONG et al. (2007) utilizaram a metodologia de resposta para aperfeiçoar os parâmetros dos processos da conformação. CHEN et al. (2008) investigaram o efeito de diversos materiais e parâmetros de processo sobre a variação elástica de uma forma de canal aberto da peça de aço DP. Para prever o retorno elástico, o efeito Bauschinger tem sido considerado por YOSHIDA e UEMORI (2003), GAU e KINZEL (2005). DONGJUAN et al. (2007) propõe um modelo analítico para a previsão de retorno elástico no dobramento em U com base em critérios deformação de Hill-48. LEE e WANG (2005) realizou embutimento de uma tira com uma ferramenta elíptica para avaliar o retorno elástico bidirecional. O retorno elástico foi previsto no dobramento V livre por THIPPRAKMAS e ROJANANAN (2008). SINGH et al. (2004) estudaram o efeito da geometria da ferramenta do dobramento livre na qualidade do produto (HAUS et al., 2012). Assim, em um estudo feito por (HAUS et al., 2012), foi determinado a influência do efeito Bauschinger no comportamento elástico de um aço TRIP 800 em operação de dobramento em matriz de deslizamento. Também foram analisadas as influências do raio de curvatura da matriz e da folga entre matriz e punção no retorno elástico (HAUS et al., 2012). A composição química e propriedades mecânicas do aço TRIP800 podem ser observadas nas Tabela 2.2 eTabela 2.3. Tabela 2.2: Composição química do aço TRIP800 (partes de massa em %). Fonte: (HAUS et al., 2012). 21 Tabela 2.3: Propriedades Mecânicas do aço TRIP800.Fonte: (HAUS et al., 2012). O ângulo de retorno elástico em graus para 1ª dobra (D), 2ª dobra (DR), 3ª dobra (DRD) e 4ª dobra (DRDR) para as folgas de 2,5, 3,0 e 3,5 mm estão nas Tabela 2.4Tabela 2.5Tabela 2.6. Tabela 2.4: Ângulo de retorno elástico (Graus) para folga de 2,5 mm. 22 Tabela 2.5: Ângulo de retorno elástico (Graus) para folga de 3,0 mm. Tabela 2.6: Ângulo de retorno elástico (Graus) para folga de 3,5 mm. Fonte: (HAUS et al., 2012). As Figura 2.15Figura 2.16Figura 2.17 mostram a comparação dos ângulos de retorno elástico para os raios de 10, 15 e 20 mm para o aço TRIP 800. 23 Figura 2.15: Variação do ângulo de retorno elástico para o aço TRIP 800 com folga de 2,50 mm a cada dobra. Fonte: (HAUS et al., 2012). Figura 2.16: Variação do ângulo de retorno elástico para o aço TRIP 800 com folga de 3,00 mm a cada dobra. 24 Figura 2.17: Variação do ângulo de retorno elástico para o aço TRIP 800 com folga de 3,50 mm a cada dobra. Fonte: (HAUS et al., 2012). Em todos os casos ficou claro um aumento do retorno elástico a cada dobra. Esse aumento chegou próximo a 50% da primeira para a última, como no dobramento com raio 10 mm e folga de 3,5 mm. Nessas figuras também se pôde notar que apesar do raio de 20 mm ser aquele que tem maior retorno elástico na primeira dobra, o de raio de 15 mm possui um aumento maior nesse ângulo para as dobras subsequentes (HAUS et al., 2012). As figuras 10, 11 e 12 apresentam a comparação dos ângulos de retorno elástico para as folgas de 2,5, 3,0 e 3,5 mm para o aço TRIP 800 (HAUS et al., 2012). 25 Figura 2.18: Variação do ângulo de retorno elástico para o aço TRIP 800 com raio de 10 mm a cada dobra. Figura 2.19: Variação do ângulo de retorno elástico para o aço TRIP 800 com raio de 15 mm a cada dobra. Figura 2.20: Variação do ângulo de retorno elástico para o aço TRIP 800 com raio de 20 mm a cada dobra. Fonte: (HAUS et al., 2012). Pôde-se notar pouca influência nos ângulos de retorno elástico a cada dobra. Para as duas folgas menores, os valores dos ângulos de retorno elástico foram praticamente iguais para todas as dobras e os três raios testados. Para a folga de 3,5 mm e os raios de 15 e 20 mm houve uma ligeira mudança nos valores (HAUS et al., 2012). 26 Em todos os casos ficou claro um aumento do retorno elástico a cada dobra. Esse aumento chegou próximo a 50% da primeira para a última, como no dobramento com raio 10 mm e folga de 3,5 mm. Nessas figuras também se pôde notar que apesar do raio de 20 mm ser aquele que tem maior retorno elástico na primeira dobra, o de raio de 10 mm possui um aumento maior nesse ângulo para as dobras subsequentes. Pôde-se notar pouca influência nos ângulos de retorno elástico a cada dobra. Para as duas folgas menores, os valores dos ângulos de retorno elástico foram praticamente iguais para todas as dobras e os três raios testados. Para a folga de 3,5 mm e os raios de 15 e 20 mm houve uma ligeira mudança nos valores (HAUS et al., 2012). Quando avaliados os ensaios de dobramento verificou-se que realmente há influência do efeito Bauschinger no retorno elástico para o aço TRIP 800. Para todos os raios de curvatura e folgas entre matriz e punção houve a variação significativa do retorno elástico. Em alguns casos o aumento do retorno elástico entre a primeira e a última dobra chegou próxima a 50% (HAUS et al., 2012). 27 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANAZAWA, R. M. et al. Aumento Do Limite De Escoamento De Um Aço Multifásico Devido Ao. Revista Brasileira de Aplicações de Vácuo, v. 27, p. 19–23, 2008. DIETER, G. E. Metalurgia Mecânica. Metalurgia Mecânica, p. 653, 1982. GODEFROID, L. B. Metalurgia mecânica - Endurecimento por tamanho de grão.Ouro Preto - MG, 2019a. GODEFROID, L. B. Metalurgia Mecânica - Endurecimento por transformação de fasesOuro Preto - MG, 2019b. GORNI, A. A. Aços avançados de alta resistência: microestrutura e propriedades mecânicas. [s.l: s.n.]. Disponível em: <https://www.gorni.eng.br/Gorni_CCM_Dez2008.pdf>. HAUS, S. A. et al. A influência do efeito Bauschinger no retorno elástico em aços TRIP 800. Curitiba: [s.n.]. HUALLPA, E. A. EMISSÃO MAGNÉTICA ESPONTÂNEA (SME) NA TRANSFORMAÇÃO MARTENSÍTICA. [s.l.] Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, 2016. 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