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Ações e Segurança nas Estruturas 2 3. Ações e Segurança nas Estruturas 3.1.Introdução Neste tópico, chegou a hora de estudarmos a respeito de como as estruturas em concreto estrutural se comportam em relação às ações mecânicas às quais são submetidas ao longo de sua vida útil. Com relação à natureza das ações, tipos e classificações, discutiremos no tópico 5 com mais detalhes. Aqui, trataremos dos métodos de dimensionamento para que a estrutura seja considerada segura. É sempre bom salientar que não existe estrutura totalmente segura. Segurança é a capacidade que uma estrutura possui de suportar as variadas ações, mantendo sempre as condições funcionais para as quais a estrutura foi construída, tanto na estabilidade quanto na confiabilidade. A finalidade do dimensionamento estrutural é garantir esta segurança, assegurando sua utilização durante a vida útil da estrutura. Quando uma estrutura se torna imprópria para seu uso normal, seja por deixar de cumprir suas funções ou por não mais satisfaz as condições para as quais ela foi concebida, dizemos que foi atingido um estado limite, que, como já estudamos no tópico 1, pode ser último, onde a estrutura ou parte dela entra em colapso, ou de utilização, onde há perda de confiabilidade na estrutura pelos usuários. 3.2.Métodos de dimensionamento à segurança Até a metade do século XVIII, as construções eram concebidas intuitivamente, quando se aplicava experiências de situações anteriores. Apesar de um método obsoleto, muitas vezes presenciamos esse tipo de situação ainda nos dias de hoje, onde pessoas simplesmente contratam pedreiros para que construam suas casas, sem projetos ou controle de materiais e terreno, baseando-se apenas na sua experiência, correndo riscos de insucesso, como observamos na Figura 1. Figura 1 - Construção executada irregularmente Fonte: Agência Belém (2016) Ações e Segurança nas Estruturas 3 Este processo de construção de estruturas impedia a evolução dos métodos construtivos e limitava as edificações apenas ao que já havia sido experimentado. Por isso, desenvolveu-se outros dois métodos, que estudaremos agora. 3.2.1. Método das tensões admissíveis Neste método a segurança estrutural é determinada pela utilização de um coeficiente de segurança interno (da resistência) ou externo (da solicitação), na qual as maiores tensões que aparecem na utilização da estrutura não devem ultrapassar as tensões admissíveis dos materiais. Quando falamos em coeficiente de segurança interno, as tensões de ruptura do material divididas por um coeficiente de segurança maior que 1 não devem ser ultrapassadas pelas tensões de solicitação. Este coeficiente leva em conta a variabilidade da resistência dos materiais. Já a segurança externa é aplicada nas tensões solicitantes, desta vez multiplicada por um fator maior que 1, e depende da intensidade das ações, bem como da relevância da estrutura. Estes coeficientes de segurança são determinados empiricamente e o coeficiente não caracteriza a segurança da estrutura (se um mesmo coeficiente for adotado para estruturas de materiais diferentes, determinadas estruturas seriam menos seguras que outras). Além disso, o método não se preocupa com a verificação de condições que poderiam vir a invalidar a utilização da estrutura, como por exemplo os estados limites de utilização. Outra deficiência do método das tensões admissíveis é que a distância entre cargas de utilização e de ruptura é definida pelas tensões correspondentes às situações. Isso funcionaria adequadamente caso estruturas em geral apresentassem resposta linear durante toda sua vida útil, podendo-se inferir um simples multiplicador à tensão resistente ou atuante que permitisse definir um carregamento proporcional que levaria a estrutura à falha. Estruturas em geral não apresentam este tipo de comportamento, pois não são corpos rígidos indeformáveis. Nas figuras 2 e 3 você pode observar o resumo de ambos os processos descritos. Ações e Segurança nas Estruturas 4 Figura 2 - Dimensionamento por fator de segurança interno Figura 3 - Dimensionamento por fator de segurança externo Para corrigir estes problemas, foi desenvolvido o método dos estados limite, que trabalha com abordagem estatística para solicitação e ruptura, que vamos apresentar a seguir. 3.2.2. Método dos estados limite Os ensaios de resistência de materiais mostram que, ao contrário do que se aplica ao método das tensões admissíveis, os valores devem ser analisados a partir de uma distribuição de probabilidades – como no caso do concreto, que estudamos no tópico 2. Desta forma, a utilização de coeficientes de segurança discretos (que não são contínuos) podem mascarar a realidade devido à própria variabilidade de constituição dos materiais. Neste método, os coeficientes discretos são substituídos por probabilidades de ruína (risco), que varia entre 1/10000 e 1/1000000 (0,01% e 0,0001% de chance de colapso). Como não se conhece exatamente o comportamento estrutural de qualquer material real e não se tem informações completas de todos os fatores que podem influir na segurança das estruturas, desenvolveu-se então o método dos estados limites, considerado semi probabilístico. A ideia de se majorar cargas e reduzir resistências por meio de coeficientes ainda permanece, mas recorre-se a dados estatísticos e conceitos de probabilidade, como se observa na Figura 4. Resistência do material Coeficiente de segurança interno Dimensionamento pela tensão de serviço Solicitação de serviço Coeficiente de segurança externo Dimensionamento pela tensão de ruptura Ações e Segurança nas Estruturas 5 Figura 4 - Método semi probabilístico de dimensionamento de estruturas Fonte: Couto et al. (2015) Por este método, a resistência dos materiais e as ações sobre as estruturas assumem valores estatísticos, com as densidades de probabilidade determinadas por ensaios de quantidades significativas de corpos de prova, enquanto ações e solicitações são determinadas por estudos específicos (ventos, movimentações de carros, pessoas, etc.) e comportam-se estatisticamente como distribuições normais. Ao representar as resistências e as ações em um mesmo eixo, a região de sobreposição entre as duas curvas corresponderá ao espaço onde há risco de ruína (região onde as ações superam as resistências). Quanto menor a área comum, portanto, maior a segurança. Figura 5 - Região de risco de colapso estrutural Para diminuirmos os riscos e aumentarmos a segurança, devemos alterar a relação entre as curvas estatísticas, e isso pode ser feito das seguintes formas: a. Diminuindo o espraiamento das curvas, através da obtenção de dados com menor desvio padrão possível. Isso vai depender da qualidade do material utilizado e ensaiado, bem como da constância do comportamento das ações sobre a estrutura. b. Aumentando a distância que separa uma curva da outra, através da manipulação COLAPSO Ações e Segurança nas Estruturas 6 dos coeficientes de segurança de resistência (m) e de ações (f), apresentados na figura 4. Dessa forma, na prática, estamos aumentando a intensidade das ações e diminuindo a resistência do material que serão consideradas no cálculo, e consequentemente, aumenta o custo da estrutura. Para se entender o princípio do método dos estados limites e como este método é abordado pelas normas brasileiras, vamos aprofundar bem este conhecimento a partir de agora. 3.3.Segurança e estados limites No Brasil, os critérios de segurança adotados na norma ABNT NBR 6118 (2014) baseiam-se na norma ABNT NBR 8681 (2003), e devem considerar tanto o estado limite último quanto os estados limites de utilização ou serviço. 3.3.1 Estados limites últimos - ELU A segurança das estruturas de concreto deve sempre ser verificada em relação aos seguintesestados-limites últimos: • estado-limite último da perda do equilíbrio da estrutura, admitida como corpo rígido; • estado-limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no seu todo ou em parte, devido às solicitações normais e tangenciais, admitindo- se a redistribuição de esforços internos, desde que seja respeitada a capacidade de adaptação plástica definida na ABNT NBR 6118 e admitindo- se, em geral, as verificações separadas das solicitações normais e tangenciais; todavia, quando a interação entre elas for importante, ela estará explicitamente indicada na ABNT NBR 6118. • estado-limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no seu todo ou em parte, considerando os efeitos de segunda ordem; • estado-limite último provocado por solicitações dinâmicas; • estado-limite último de colapso progressivo; • estado-limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no seu todo ou em parte, considerando exposição ao fogo, conforme ABNT NBR 15200; • estado-limite último de esgotamento da capacidade resistente da estrutura, no seu todo ou em parte, considerando ações sísmicas, de acordo com a ABNT Ações e Segurança nas Estruturas 7 NBR 15421; e • outros estados-limites últimos que eventualmente possam ocorrer em casos especiais. 3.3.2 Estados-limites de serviço - ELS Estados-limites de serviço são aqueles relacionados ao conforto do usuário e à durabilidade, aparência, e boa utilização das estruturas, seja em relação aos usuários, seja em relação às máquinas e aos equipamentos suportados pelas estruturas. Em construções especiais pode ser necessário verificar a segurança em relação a outros estados-limites de serviço não definidos na ABNT NBR 6118. 3.4.Ações isoladas Para iniciarmos as discussões sobre ações em estruturas e combinação de ações, vamos caracterizar os seus tipos. Na análise estrutural, a norma ABNT NBR 8681 (2003) determina que deve ser considerada a influência de todas as ações que possam produzir efeitos significativos para a segurança da estrutura, levando-se em conta os possíveis estados limites. Devem-se, desta forma, considerar as ações permanentes, variáveis e excepcionais. Lembrando que todos os conceitos de ações serão vistos detalhadamente no tópico 5. 3.4.1. Ações permanentes Ações permanentes são as que ocorrem com valores praticamente constantes durante toda a vida da construção. Também são consideradas permanentes as ações que aumentam no tempo, tendendo a um valor-limite constante. Estas ações devem ser consideradas com seus valores representativos mais desfavoráveis para a segurança. As ações permanentes podem ser de origem direta, ou seja, que solicitam a estrutura diretamente, como peso próprio, instalações permanentes, ou empuxos de terra, ou de origem indireta, que solicitam a estrutura a partir do resultado de deformações, como fluência e retração. 3.4.2. Ações variáveis Por sua vez, as ações variáveis são aquelas que possuem algum tipo de variação de módulo ou posição, no tempo ou espaço, de modo que não atinjam valores constantes Ações e Segurança nas Estruturas 8 permanentemente. Da mesma forma que as permanentes, as ações variáveis devem ser consideradas com seus valores representativos mais desfavoráveis para a segurança, e podem ser de origem direta (cargas acidentais, de utilização, frenagens, acelerações, ventos, etc.) ou indireta (variações de temperatura). 3.4.3. Ações excepcionais No projeto de estruturas sujeitas a situações excepcionais de carregamento, cujos efeitos não possam ser controlados por outros meios, devem ser consideradas ações excepcionais com os valores definidos, em cada caso particular, pelo responsável pelo dimensionamento da estrutura de acordo com estudos específicos. 3.4.4. Valores das ações As ações em estruturas podem ser representadas por dois tipos de valores, os característicos, ou representativos e os de dimensionamento. Os valores característicos ou representativos (Fk) das ações são estabelecidos em função da sua variabilidade de intensidade e caracterizam o material. Para as ações permanentes, os valores característicos (Fgk) são os valores médios das respectivas distribuições de probabilidade, e são definidos em sua maioria pela norma ABNT NBR 6120 (1980). Com relação às ações variáveis, seus valores característicos (Fqk) são estabelecidos através de estudos estatísticos e representados na norma ABNT NBR 6120 (1980) como valores que possuem probabilidade de 25% a 35% de serem ultrapassados durante um período de 50 anos, ou seja, possuam tempo de recorrência de 117 a 174 anos – na prática, representa que estas cargas serão ultrapassadas em algum momento entre esse período de recorrência. Por sua vez, os valores de cálculo (Fd) das ações são obtidos a partir dos valores característicos, multiplicando-os pelos respectivos coeficientes de ponderação de ações f., de acordo com a equação abaixo: 𝐹𝑑 =∑𝛾𝑓,𝑖𝐹𝑘,𝑖 𝑛 𝑖=1 Onde: Fd representa o valor de cálculo do conjunto de ações; Ações e Segurança nas Estruturas 9 Fk,i corresponde aos valores representativos (característicos ou excepcionais) do conjunto de ações permanentes e variáveis; f,i é o coeficiente de ponderação das ações. Muito bem, agora você já aprendeu como se constrói o valor das ações de dimensionamento pelo método dos estados limites, vamos aprofundar o entendimento na determinação do coeficiente de segurança das ações. 3.5.Coeficientes de ponderação das ações Como já discutimos no item 3.2.2, as ações devem ser ponderadas pelo coeficiente f, que vai afastar a curva estatística das ações da curva das resistências. O coeficiente f é composto por três valores estatísticos, que são: 𝛾𝑓 = 𝛾𝑓1 × 𝛾𝑓2 × 𝛾𝑓3 Onde: f1 considera a variabilidade das ações; f2 considera a simultaneidade de atuação das ações; f3 considera os desvios gerados nas construções e as aproximações feitas em projeto do ponto de vista das solicitações. Os coeficientes f1 e f3 possuem característica de majorar os valores de ações, enquando que o f2 diminui o seu valor representativo por levar em consideração que é estatisticamente improvável que duas ações simultâneas aconteçam ao mesmo tempo em sua intensidade máxima. É importante salientar que este coeficiente não pode ser utilizado em cargas permanentes, pois estas estão atuantes em sua intensidade plena durante toda a vida útil da estrutura. Por isso, a norma ABNT NBR 6118 (2014) estabelece coeficientes f de forma separada para f1 e f3 e para f2. Os coeficientes f estão apresentados no Quadro 1 enquanto que os coeficientes f2, chamados a partir de agora de , são apresentados no Quadro 2. Ações e Segurança nas Estruturas 10 Quadro 1 - Coeficientes de ponderação de ações f (f1 x f3) Tipo de ação Ações Permanentes (g) Variáveis (q) Protensão (p) Recalques de apoio e retração D F G T D F D F Normal 1,4 1,0 1,4 1,2 1,2 0,9 1,2 0,0 Especial ou de construção 1,3 1,0 1,2 1,0 1,2 0,9 1,2 0,0 Excepcional 1,2 1,0 1,0 0,0 1,2 0,9 0,0 0,0 Onde D é desfavorável, F é favorável, G representa as cargas variáveis em geral e T é a temperatura. Para as cargas permanentes de pequena variabilidade, como o peso próprio das estruturas, especialmente as pré-moldadas, esse coeficiente pode ser reduzido para 1,3. Fonte: ABNT (2014) Quadro 2 - Coeficientes de ponderação de ações f2 () Ações variáveis atuando simultaneamente f2 0 1 2 Cargas acidentais de edifícios Locais em que não há predominância de pesos de equipamentos que permanecem fixos por longos períodos de tempo, nem de elevadas concentrações de pessoas (edifícios residenciais) 0,5 0,4 0,3 Locais em que há predominância de pesos de equipamentos que permanecemfixos por longos períodos de tempo, ou de elevadas concentrações de pessoas(edifícios comerciais, escritórios e de acesso ao público) 0,7 0,6 0,4 Bibliotecas, arquivos, oficinas e garagens 0,8 0,7 0,6 Vento Pressão dinâmica do vento nas estruturas em geral 0,6 0,3 0,0 Temperatura Variações uniformes de temperatura em relação à média anual local 0,6 0,5 0,3 Fonte: ABNT (2014) Ações e Segurança nas Estruturas 11 O coeficiente 0 deve ser utilizado para dimensionamento em estado limite último, enquanto que 1 e 2 são para verificação de estados limites de serviço, sendo que: f2 = 1,0 para combinações raras; f2 = 1 para combinações frequentes; f2 = 2 para combinações quase permanentes. Agora que falamos em combinações, é hora de entender como funciona o tratamento de ações combinadas, tanto para análise de estado limite último quanto para os estados limites de serviço. 3.6.Ações combinadas Um carregamento é definido pela combinação das ações que têm probabilidades não desprezíveis de atuarem simultaneamente sobre a estrutura, durante um período pré- estabelecido. A combinação das ações deve ser feita de forma que possam ser determinados os efeitos mais desfavoráveis para a estrutura, sendo que a verificação da segurança em relação aos estados limites últimos e aos estados limites de serviço deve ser realizada em função de combinações últimas e combinações de serviço, respectivamente. Dentre as combinações relacionadas ao estado limite último, podem ser classificadas em combinação normal, combinação especial ou de construção e combinação excepcional. 3.6.1. Combinações últimas normais Em cada combinação devem estar incluídas as ações permanentes e a ação variável principal, com seus valores característicos e as demais ações variáveis, consideradas secundárias, com seus valores reduzidos de combinação, conforme ABNT NBR 8681 (2003). De modo geral, as combinações últimas usuais de ações deverão considerar o esgotamento da capacidade resistente para elementos estruturais de concreto armado ou a perda do equilíbrio como corpo rígido. A equação para o cálculo de solicitações considerando o possível esgotamento da Ações e Segurança nas Estruturas 12 capacidade resistente de elementos estruturais de concreto armado pode ser representada por: 𝐹𝑑 = 𝛾𝑔𝐹𝑔𝑘 + 𝛾𝜀𝑔𝐹𝜀𝑔𝑘 + 𝛾𝑞 (𝐹𝑞1𝑘 +∑𝜓0𝑗𝐹𝑞𝑗𝑘) + 𝛾𝜀𝑞𝜓0𝜀𝐹𝜀𝑞𝑘 onde: Fd representa o valor de cálculo das ações para combinação última; Fgk representa as ações permanentes diretas; Fgk representa as ações permanentes indiretas; Fq1k representa a ação variável direta considerada como principal; Fqjk representa as ações variáveis diretas das quais Fq1k é escolhida principal; Fqk representa as ações variáveis indiretas; g representa o coeficiente de ponderação para ações permanentes diretas; g representa o coeficiente de ponderação para ações permanentes indiretas; q representa o coeficiente de ponderação para ações variáveis diretas; q representa o coeficiente de ponderação para ações variáveis indiretas; 0j representa o fator de redução de combinação para ações variáveis diretas; 0 representa o fator de redução de combinação para ações variáveis indiretas; Quando se trata de combinações de ações, os valores de f (g, g, q e q) devem ser adotados conforme o Quadro 3. Já os coeficientes são os mesmos já apresentados no Quadro 2. Quadro 3 - Coeficientes de ponderação de ações para ações em combinação última normal Permanentes Variáveis Diretas g Indiretas g Diretas g Indiretas g D F D F D F D F 1,4 1,0 1,2 0,0 1,4 0,0 1,2 0,0 Onde D é desfavorável e F é favorável. Para as cargas permanentes de pequena variabilidade, como o peso próprio das estruturas, especialmente as pré-moldadas, esse coeficiente pode ser reduzido para 1,3. Fonte: ABNT (2014) Ações e Segurança nas Estruturas 13 3.6.2. Combinações últimas especiais ou de construção Em cada combinação devem estar presentes as ações permanentes e a ação variável especial, quando existir, com seus valores característicos e as demais ações variáveis com probabilidade não desprezível de ocorrência simultânea, com seus valores reduzidos de combinação, conforme ABNT NBR 8681 (2003). A equação para o cálculo de solicitações decorrentes de combinações últimas especiais ou de construção é a mesma equação usada para o cálculo de solicitações considerando o possível esgotamento da capacidade resistente de elementos estruturais de concreto armado, e os valores de f (g, g, q e q) estão apresentados no Quadro 4. Quadro 4 - Coeficientes de ponderação de ações para ações em combinação última especial ou de construção Permanentes Variáveis Diretas g Indiretas g Diretas g Indiretas g D F D F D F D F 1,3 1,0 1,2 0,0 1,2 0,0 1,2 0,0 onde D é desfavorável e F é favorável. Fonte: ABNT (2014) 3.6.3. Combinações últimas excepcionais Em cada combinação devem figurar as ações permanentes e a ação variável excepcional (Fq1excep), quando existir, com seus valores representativos e as demais ações variáveis com probabilidade não desprezível de ocorrência simultânea, com seus valores reduzidos de combinação, conforme ABNT NBR 8681 (2003). Nesse caso se enquadram, entre outras, sismo e incêndio. A equação para o cálculo de solicitações decorrentes de combinações últimas excepcionais pode ser representada por: 𝐹𝑑 = 𝛾𝑔𝐹𝑔𝑘 + 𝛾𝜀𝑔𝐹𝜀𝑔𝑘 + 𝑭𝒒𝟏,𝒆𝒙𝒄𝒆𝒑 + 𝛾𝑞 (𝐹𝑞1𝑘 +∑𝜓0𝑗𝐹𝑞𝑗𝑘) + 𝛾𝜀𝑞𝜓0𝜀𝐹𝜀𝑞𝑘 Os valores de f (g, g, q e q) estão apresentados no Quadro 5. Ações e Segurança nas Estruturas 14 Quadro 5 - Coeficientes de ponderação de ações para ações em combinação última excepcional Permanentes Variáveis Diretas g Indiretas g Diretas g Indiretas g D F D F D F D F 1,2 1,0 0,0 0,0 1,0 0,0 0,0 0,0 onde D é desfavorável e F é favorável. Fonte: ABNT (2014) Quando Fq1,excep atuar em tempo muito pequeno ou tiver probabilidade de ocorrência muito baixa, 0j pode ser substituído por 2j. Este pode ser o caso para ações sísmicas e situação de incêndio. Estas são as combinações de ações para estados limites últimos. Agora, vamos apresentar as combinações para estados limite de serviço. 3.6.4. Combinações de serviço As combinações de serviço são classificadas de acordo com sua permanência na estrutura, podendo ser quase permanentes, frequentes ou raras. As combinações quase permanentes são referentes a ações que podem atuar durante a maior parte do período de vida da estrutura, e sua consideração pode ser necessária na verificação do estado-limite de deformações excessivas. Nas combinações quase permanentes de serviço, todas as ações variáveis são consideradas com seus valores quase permanentes 2 Fqk. A equação para o cálculo de solicitações pode ser representada por: 𝐹𝑑,𝑠𝑒𝑟 =∑𝐹𝑔𝑖𝑘 +∑𝜓2𝑗𝐹𝑞𝑗𝑘 onde: Fd,ser é o valor de cálculo das ações para combinações de serviço. Fgik representa as ações permanentes diretas, como o peso próprio da estrutura, dos elementos construtivos fixos das instalações permanentes, entre outros; Fqjk representa as ações variáveis diretas; 2j representa o fator de redução de combinação quase permanente para ELS. Ações e Segurança nas Estruturas 15 As combinações frequentes são aquelas que se repetem muitas vezes durante o período de vida da estrutura, e sua consideração pode ser necessária na verificação dos estados- limites de formação de fissuras, de abertura de fissuras e de vibrações excessivas. Podem também ser consideradas para verificações de estados imites de deformações excessivas decorrentes de vento ou temperatura que podem comprometer as vedações. Nas combinações freqüentes de serviço, a ação variável principal Fq1 é tomada comseu valor freqüente 1 Fq1k e todas as demais ações variáveis são tomadas com seus valores quase permanentes 2 Fqk. A equação para o cálculo de solicitações pode ser representada por: 𝐹𝑑,𝑠𝑒𝑟 =∑𝐹𝑔𝑖𝑘 + 𝜓1𝐹𝑞1𝑘 +∑𝜓2𝑗𝐹𝑞𝑗𝑘 onde: Fd,ser é o valor de cálculo das ações para combinações de serviço. Fgik representa as ações permanentes diretas: Fq1k é o valor característico da ação variável principal direta. Fqjk representa as ações variáveis diretas: 1 é o fator de redução de combinação freqüente para ELS. 2j representa o fator de redução de combinação quase permanente para ELS. Por sua vez, as combinações raras são as que ocorrem algumas vezes durante o período de vida da estrutura, e sua consideração pode ser necessária na verificação do estado- limite de formação de fissuras. Nas combinações raras de serviço, a ação variável principal Fq1 é tomada com seu valor característico Fq1k e todas as demais ações são tomadas com seus valores freqüentes 1 Fqk. A equação para o cálculo de solicitações pode ser representada por: 𝐹𝑑,𝑠𝑒𝑟 =∑𝐹𝑔𝑖𝑘 + 𝐹𝑞1𝑘 +∑𝜓1𝑗𝐹𝑞𝑗𝑘 onde: Fd,ser é o valor de cálculo das ações para combinações de serviço. Fgik representa as ações permanentes diretas; Ações e Segurança nas Estruturas 16 Fq1k é o valor característico da ação variável principal direta. Fqjk representa as ações variáveis diretas: 1j representa o fator de redução de combinação freqüente para ELS. Legal, aqui neste ponto você já conhece todos os valores normatizados para a majoração de ações (f), que afastam a distribuição normal de solicitações da distribuição de resistências, e dessa forma aumentam a segurança das estruturas, além de coinhecer os coeficientes que permitem a redução de módulos de ações variáveis que ocorrem simultaneamente e, ainda mais além, já compreende como se monta uma combinação de esforços. No próximo item, iremos estudar o outro coeficiente de segurança, que está relacionado com a resistência do material (m). 3.7.Coeficientes de ponderação das resistências Como já estudamos no tópico 2, a resistência característica do concreto é obtida através do tratamento estatístico de uma série de rupturas de corpos de prova, onde se adota o valor de resistência aos 28 dias de hidratração (fck) aquele onde apenas 5% dos corpos ensaiados possuam resistência inferior a esta. Já o aço de concreto armado possui a resistência característica ao escoamento determinada da mesma forma, porém com a conveniência de ser comercializado devidamente caracterizado, sem a necessidade de controle tecnológico. Assim como as ações, as resistências também possuem o seu coeficiente de segurança (m) e, da mesma forma, ele é construído a partir de três valores estatísticos: 𝛾𝑚 = 𝛾𝑚1 × 𝛾𝑚2 × 𝛾𝑚3 Onde: m1 considera a variabilidade da resistência dos materiais envolvidos; m2 considera a diferença entre a resistência do material no corpo de prova e na estrutura; m3 considera os desvios gerados na construção e as aproximações feitas em projeto. Entre os materiais resistentes utilizados no concreto armado, chamaremos o coeficiente de ponderação de resistência do concreto de c (m,conc = c) e chamaremos de s o Ações e Segurança nas Estruturas 17 coeficiente de ponderação da resistência do aço (m,aço = s). Para o concreto estrutural e o aço para concreto armado, a norma ABNT NBR 6118 (2014) determina que o valor de para sua resistência seja adotado em função do tipo de combinação de esforços em estado limite último, conforme Quadro 6. Quadro 6 - Coeficientes de ponderação de resistência do concreto estrutural Combinações c s Normais 1,4 1,15 Especiais ou de construção 1,2 1,15 Excepcionais 1,2 1,00 Fonte: ABNT (2014) Perfeito. Conhecidos os valores de coeficientes de ponderação, vamos estudar, por fim, como se determinam os valores de resistência de dimensionamento de concreto e aço. 3.7.1. Resistência de dimensionamento Para determinar a resistência de dimensionamento do concreto e do aço estruturais, aplica-se a seguinte equação: 𝑓𝑑 = 𝑓𝑘 𝛾𝑚 Desta forma, particularizando para os dois materiais, temos: 𝑓𝑐𝑑 = 𝑓𝑐𝑘 𝛾𝑐 𝑓𝑦𝑑 = 𝑓𝑦𝑘 𝛾𝑠 Onde: fcd representa a resistência de cálculo do concreto aos 28 dias; fck representa a resistência característica do concreto aos 28 dias; c é o coeficiente de ponderação da resistência do concreto; fyd representa a resistência ao escoamento de dimensionamento do aço; fyk representa a resistência característica ao escoamento do aço; Ações e Segurança nas Estruturas 18 s é o coeficiente de ponderação da resistência do aço. Para o caso do concreto, o controle da resistência à compressão do concreto deve ser feito aos 28 dias, de forma a confirmar o valor de fck adotado no projeto. Caso seja necessária verificação em idades anteriores, deve-se multiplicar a resistência fcd por um fator 1, que depende do tipo de cimento empregado no concreto – lembrando que, como vimos no tópico 1, o tipo de cimento influencia na resistência do concreto nas primeiras idades: 𝛽1 = 𝛼(1 − √ 28 𝑡 ) Onde: representa o tipo de cimento (0,25 para CP I ou CP II; 0,38 para CP III ou CP IV; 0,20 para CP V); t representa a idade de hidratação do concreto em dias. Muito bem, estes são os valores de resistência de dimensionamento de concreto e aço para estado limite último. Mas e com relação aos estados limite de serviço? Pois bem, em ELS, como utilizamos estes valores para verificação do seu comportamento, as resistências não devem ser minoradas (assim como as ações não são majoradas!). Desta forma, como para resistências não há coeficientes y de combinação de esforços simultâneos, os valores de resistência de dimensionamento são os mesmos da resistência característica. 3.8.Encerramento Ótimo, você concluiu o terceiro tópico da disciplina. Após a avaliação do que você aprendeu nesta etapa, vamos estudar os conceitos de durabilidade e resistência à intempéries relacionados à estruturas de concreto. Referências AGÊNCIA BELÉM. Ser alerta para riscos de obras sem acompanhamento técnico. Disponível em: <http://www.agenciabelem.com.br/Noticia/121037/seurb-alerta-para- Ações e Segurança nas Estruturas 19 riscos-de-obras-sem-acompanhamento-tecnico>. 2016. Acesso em 22 de junho de 2020. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2014. ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 8681: Ações e segurança nas estruturas - Procedimento. Rio de Janeiro, 2003. COUTO, D.; CARVALHO, M. CINTRA, A.; HELENE, P. Estruturas de concreto. Contribuição à análise da segurança em estruturas existentes. Revista IBRACON de Estruturas e Materiais. v.8, n.3, p. 365-389, jun. 2015, ISSN 1983-4195.