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UNIP – UNIVERSIDADE PAULISTA
Psicologia e Sistema Prisional,
implicações éticas.
BAURU
2018
Introduçao. 
O presente estudo tem por escopo demonstrar os fatores que desencadearam uma crise no atual sistema prisional do Brasil, através da análise do desenvolvimento social, buscando entender os motivos pelo quais há enormes barreiras que impossibilitam a concretização dos procedimentos elencados na Lei de Execução Penal e tendo como foco, o papel do profissional Psicólogo nessa fase de cumprimento de pena de privação de liberdade.
Necessário expor que há tópicos que versam sobre esse papel do Psicólogo: primeiro, qual os ditames legais sobre a sua atuação, segundo, o que de fato acontece nos presídios; qual o real papel que esse profissional tem exercício nas unidades carcerárias e por fim, o que seria ideal para que a participação dessa classe, na qual não se questiona a importância da sua presença, torna-se mais efetivo o afastamento da reincidência do delito e que possibilitasse a chamada reinserção social dos ex- presidiários na sociedade, limitada pela falta de estrutura estatal e pelo preconceito da sociedade, que acaba impedindo que esse individuo seja aceito na comunidade e possa recomeçar sua vida e integrar, ou reintegrar, o mercado de trabalho, por exemplo.
A premissa de todo o trabalho é o reconhecimento de que a intervenção do Psicólogo no âmbito Jurídico é de instrumentalizar os doutrinadores e técnicos do Direito a evidenciar implicações psicológicas nos processos de sentenciamento criminal.
A problemática é que a falta desses profissionais nos presídios acatam no acúmulo de serviços e por isso, sua atuação na prática, acaba se limitando a função de técnicos em diagnósticos, a fim de atender a demanda judicial, composta por profissionais que não tem conhecimento técnico sobre assuntos que versam sobre a saúde mental de uma pessoa.
Os artigos e obras da Ciência Psicológica demonstram um grande anseio dos Psicólogos em querem atuar de maneira mais abrangente na área, uma vez que reconhecem as falhas do sistema carcerário e entendem que muitas soluções poderiam ser propostas com base na essência da função laboral que exercem. Em linhas gerais, esses profissionais não querem apenas serem usados como instrumentos para atender a um ciclo vinculado estritamente ao processo de execução penal e sim, contribuírem com seus estudos e conhecimentos para políticas que melhorem os imensuráveis problemas do sistema prisional, além de trazer a debate diversas questões que são negligenciadas da ordem política e jurídica.
1. ANÁLISE HISTÓRICA
A História se torna uma grande aliada para mapear e compreender os fatores que desencadearam no atual quadro acerca da marginalização de classes sociais, do motivo pelo qual as cadeias no Brasil sofrem com a superlotação da população carcerária e para verificar em qual contexto foi reconhecida a importância da atuação dos profissionais da área da saúde mental a fim de, pelo menos, auxiliarem os operadores do Direito, que não possuem conhecimento técnico para lidar de forma plena com a relação – a gente infrator, motivos do ato e punição.
Contexto histórico: o entendimento sobre agente criminoso, punição e prisão ao decorrer do tempo:
Antes de mapear e atribuir as funções do psicólogo no sistema prisional atual, é necessário entender a construção histórica que desencadeou nos conceitos vinculados à criminalidade e a maneira que o Estado tratou esse quadro social.
As transformações relacionadas à organização da sociedade, juntamente com a ordem político econômica e os interesses do Estado não foram capazes de ceder subsídios que possibilitassem todas as pessoas a se adequarem a esses modelos e os que ficaram à margem dessa padronização foram aos poucos constituindo uma massa marginalizada, principalmente por questões que versavam sobre a potencia no trabalho.
Analisando a História em partes, o sistema feudal, ainda sob forte influencia da Igreja Católica, valorizava a situação de pobreza, porque à época atendia aos interesses dessa entidade. Ocorre que, com o período conhecido como “Baixa Idade Média”, houve o fenômeno das organizações dos “burgos” (cidades) e por isso houve um enorme fluxo de pessoas para esses novos centros, causando um enorme inchaço na relação território-população, resultando na falta de estrutura para que todos os novos moradores tivessem acesso a moradia e trabalho, este que passou a ser valorizado com as novas atividades econômicas e surgimento da burguesia, que resultou na fase histórica conhecida como “mercantilista”.
A massa que compôs esse patamar dos que não haviam moradia e trabalho tiveram dois destinos como resultado dessa condição: a mendicância e o crime. Sem alternativa, essas pessoas passaram a compor a clientela dos dois tipos de dispositivos que se firmarão ao longo de todo o século XIV e dos três seguintes: a assistência, só acessível aos pobres válidos para o trabalho e com residência conhecida, e a internação/reclusão, nesse momento destinado ao enclausuramento dos doentes venéreos, loucos, pobres sem domicilio, mendigos e vagabundos irredutíveis, menores abandonados e moças necessitadas de correção.
Ou seja, até esse momento, qualquer estabelecimento de reclusão e hospitais, servia apenas para “tirar de circulação” as pessoas que não se enquadravam no novo modelo socioeconômico e os submetendo à tríade trabalho forçado/orações/disciplinas.
O grande problema é que as condições de trabalho pioraram com o passar do tempo e ainda não havia a reflexão sobre Direitos Humanos e por isso o Estado, agora centralizado, controlava toda a mão de obra disponível e aumentava a punição dos já citados marginalizados, intensificando a já existente ideologia que valorizava o trabalho, o capital e passou a criminalizar a pobreza e ainda amparado nesse contexto, a mendicância passou a se tornar destinos irreversíveis, na ameaça (na ótica do Estado) dessa nova massa se tornar um “povo”.
Ameaça porque essa “classe social” se desenvolver à margem dos preceitos estatais e aos poucos foram perdendo relação com regras impostas da sociedade, noção de autoridade e religião. Ou seja, seria uma classe totalmente a parte de qualquer limitação existente e aplicada aos demais.
A resposta a essa nova formação social foi a criação do dispositivo da internação, em que esses mendigos eram internados, a fim de se tornarem força de trabalho para essa nova ordem capitalista.
Constatada essa nova forma de vida em extrema miséria, fora delimitado dois grupos; o primeiro era composto pelas pessoas que estavam nessa condição de forma involuntária, como produto do novo sistema instaurado e que por motivos reais não puderam se adequar a ele. O segundo grupo são dos denominados “vagabundos”, que eram as pessoas que se encontravam nessa condição de miséria de forma voluntária; eram os mendigos que fingiam ter alguma enfermidade, por exemplo, e pessoas que eram marginalizadas por causa da função que exerciam, como o caso de cantores e prostitutas.
Quanto a essa classe de “vagabundos”, houve vasta legislação regulando como deveria ser o tratamento com eles:
“Na Inglaterra de 1547 os que se recusavam a trabalhar são entregues a senhores como escravos por dois anos, se reincidem uma vez, são sentenciados à escravidão pelo resto da vida e se voltam reincidir são condenados a morte”. (GONÇALVES, Hebe Signorini, BRANDÃO, Eduardo Ponte. Psicologia Jurídica no Brasil- Coleção Ensino da Psicologia, pág. 162; 2ªed, 2008, editora NAU).
É possível verificar que a partir do momento em que se taxa uma classe como “vagabundos” e que sua composição é de um rol muito extenso de pessoas, houve uma ruptura no sentido de que não havia mais a relação com possível prática de crime, devido a suas condições financeiras, mas sim a marginalização de pessoas que poderiam ser “ameaça” aos costumes, moralidade, ordem pública, por exercerem função divergente ao padrão de trabalho à época. Em linhas gerais, há um agravamento do preconceito social, através da marginalizaçãode funções, o que é presente até hoje, sob a análise de quem compõe a atual comunidade carcerária.
O século XVIII trouxe outra transformação da sociedade, por causa das mudanças na economia. Os crimes de “sangue” foram diminuindo, em comparação aos crimes contra o patrimônio, diante da presença de novos estabelecimentos de armazenamento de matérias primas para alimentar a nova ordem industrial. Resultado dessa nova conjuntura foi a necessidade em aperfeiçoar a segurança, aparecendo os primeiros rudimentos da Polícia. Além disso, a Justiça passou por transformações, diante do distanciamento com os tribunais arbitrais da idade média, para instituições controladas pelo Estado, mais eficientes para administrar as novas revoltas em massa.
Essa transformação de sistema foi muito bem analisada pelo filósofo francês Foucault, que em seus estudos demonstra que essa nova formação possibilitou a marginalização da plebe não proletarizada, ou seja, da massa que não exercia função de trabalho no modelo do Estado, este que conseguia controlar e administrar essa classe.
Em suma, o Estado, com o apoio da burguesia, conseguiu obter através do que pode ser relacionado com o Poder Judiciário, instrumentos de controle (que posteriormente, ainda à luz dos ensinamentos do filósofo francês Michel Foucault, será chamado de “disciplina”) de considerável massa da população, para que a mesma seja força de trabalho e atenda aos interesses econômicos do Estados e esses instrumentos concretizaram a marginalização dos que não estavam nesse grupo da plebe, evitando revoltas destes, possibilitando a reclusão dos mesmos e garantindo que essa classe não recebesse algum tipo de apoio ou convergia dos proletários.
Com essas mudanças, e constantes transformações de organização social, a punição deixou de ser uma prerrogativa do rei, para se tornar um direito e interesse da sociedade, justificado pelo principio da igualdade jurídica, em que todos deveriam ser submetidos às leis. Desse principio, consagra-se a questão da legalidade, que no âmbito penal incide na necessidade de que determinada conduta seja tipificada como crime para que exista punição.
Da situação em tela, nasceu a noção de “infração”, que está ligada a ruptura, desrespeito às normas, leis e ataque à sociedade; estamos falando do contexto histórico em que a sociedade acolheu o conceito de pacto social e que a liberdade passou a ser um dos maiores bens.
Nesse momento, a prisão deixa de ser apenas um “armazém” de pessoas à margem da ordem socioeconômica e passa a ser local de punição, isolamento, controle e correção, em que a pena é a privação da liberdade e que o tempo dessa privação será ponderado de acordo com o tipo de infração cometida pelo agente.
“O delinquente se distingue do infrator pelo fato de não ser tanto seu ato quanto sua vida o que mais o caracteriza. (...) por trás do infrator a quem o inquérito dos fatos pode atribuir a responsabilidade de um delito, revela-se o caráter delinquente cuja lenta formação transparece na investigação biográfica. A introdução do “biográfico” é importante na história da penalidade. Porque ela se faz existir o “criminoso” antes do crime e, num raciocínio-limite, fora deste”.
“O delinquente se distingue também do infrator pelo fato de não somente ser o autor de seu ato (autor responsável em função de certos critérios da vontade livre e consciente), mas também de estar amarrado a seu delito por um feixe de fios complexos (instintos, pulsões, tendências, temperamento). (FOUCAULT, Michel, Vigiar e punir: história da violência das prisões. Págs. 223,224. 1993. Petrópolis, RJ; Vozes)
Com a passagem do tempo, o enredo e relações eram as mesmas: o Estado queria aquietar qualquer tipo de revolta popular e a relação entre sociedade e trabalho ainda era o fator de seleção da sociedade, entre os que se enquadravam nos padrões e os marginais.
Ocorre que, no século XIX as revoltas foram muito maiores e o desemprego em massa foi uma realidade, diante do processo de mecanização da produção industrial.
“Crescem a indigência e a criminalidade, inflamando as discussões sobre o crime e o tratamento dos criminosos, e a penalidade, antes vista como uma reação penal à infração passa a funcionar como um meio de agir sobre o comportamento e as disposições do infrator. Por sua vez, a reincidência passa a ser cada vez mais debatida nos meios jurídicos e afins: se em um primeiro momento o fenômeno da reincidência permitia ver o fracasso da prisão em seus objetivos de corrigir o criminoso e prevenir novos crimes, logo essa falha será atribuída ao próprio delinquente, visto como um tipo natural”. (GOLÇALVES, BRANDÃO; pág 170).
O último contexto narrado é o que se assemelha aos conceitos ainda vigentes quanto à criminalidade e penas; a punição ainda é vista como forma de prevenir novos crimes e evitar a reincidência. Paralelamente, no mesmo século XIX houve um processo de repartição quanto ao o que deveria ser competência da justiça e o que deveria ser competência da medicina, dando origem: “[...] a perícia-, um novo saber- a medicina mental-, um novo tipo de estabelecimento- o hospício, e um novo personagem- o louco”.
A perícia permitiu a distinção entre loucos e infratores, sendo que a preocupação maior passou a não versar só sobre a conduta infratora e o que levou à sua consumação, mas sim entender o que esse agente é capaz de fazer.
No campo prisional, essas novas matérias vão possibilitar a observação da conduta do recluso, para entender se ele está progredindo de alguma forma, além de dar base para novas análises e avaliações desse individuo. Afinal, a postura do infrator na prisão demonstra preciosas informações quanto ao seu caráter, noção da infração que cometeu e o seu grau de periculosidade.
A constatação de que o aperfeiçoamento de técnicas punitivas não estava barrando a expansão do crime abriu precedente para a discussão sobre esses conceitos já expostos, a fim de compreender a criminalidade e sua reincidência.
A Escola Clássica, que tinha vínculo com os ideais do Iluminismo passou a ser superada com as idéias positivistas. O delito parou de ser o foco dos estudos, dando espaço para a discussão e reflexões acerca do agente infrator, no anseio de entender o que o difere dos demais.
As técnicas vinculadas à vertente positivista são a de individualização dos fatores que condicionam o comportamento do criminoso, com apoio nos pressupostos deterministas e noção de hereditariedade, que resultaram no questionamento da noção sobre livre arbítrio e responsabilidade dos criminosos.
Em linhas gerais, o comportamento humano estaria predeterminado por causas inatas, o que tira a relevância da livre escolha de agir criminosamente ou não. Com isso, a sanção aplicada a um delinquente nato deveria ser diferenciada, buscando sua neutralização e sem tirar o direito de defesa da sociedade.
Diante dessa percepção, a periculosidade do agente infrator passou a ser observada e os loucos passaram a ser internados, diante da ameaça que poderiam apresentar por estarem vulneráveis à prática de delitos. O problema é que isso desencadeou uma verdadeira “caça” aos loucos, sendo a loucura por si só criminalizada e alienistas passaram a ser chamados aos tribunais para “diagnosticarem” os infratores que cometeram algum ilícito sem justificativa aparentemente racional.
Com essas novas idéias, o criminoso passou a ser objeto de investigação cientifica e portador de uma tendência ao crime, sendo que a sociedade deveria se defender dele.
Essa vertente psicológica deu base às teses de Lombroso, que proferiu o entendimento de que o criminoso já nascia com essa característica, não podendo optar pela escolha de ser honesto; o crime fazia parte da essência do criminoso.
As idéias positivistas foram superadas com o surgimento do sistema vicariente, que superou o duplo-binário e passou a tratar penas e medidas de segurança como sanções de natureza diversas, sendo que as medidas de segurança não seriam aplicadas em conjunto com as penas e sim, apenas destinadas aos inimputáveis.
Apesar damudança de entendimento, até hoje temos em nosso sistema penal heranças da Escola Positivista, a saber: individualização da pena, exames de personalidade, a fim de mensurar a periculosidade e verificar a possibilidade de reincidência e a medida de segurança sendo aplicada por tempo indeterminado.
O agente do crime antecedente pode ser o mesmo da lavagem, desde que sua conduta posterior ao crime-base se amolde a um dos núcleos do tipo penal de lavagem.
O crime é de ação múltipla ou conteúdo variado, ou seja, se o agente realiza mais de uma das condutas incriminadas, responderá por um único crime.
Quanto à consumação, a doutrina majoritária entende que não é requisito que se confirme a aparente licitude do lucro sujo, sendo o suficiente a conduta de ocultar e dissimular o patrimônio sujo. Ou seja, a punição versa sobre a conduta em si e não eventual usufruto dos ativos ilícitos.
O Século XX e a construção do atual cenário carcerário do Brasil:
O século XX foi cenário de duas Guerras Mundiais, que incidiram na criação da ONU (Organização das Nações Unidas – 1948), que desenvolveu instrumentos legais para a proteção dos Direitos Humanos, que já tinha considerável espaço e já havia sido foco de debates, mas apenas com a criação da ONU e profunda crise do sistema liberal, tornou-se mais evidente e fora reconhecida a necessidade do aperfeiçoamento desse ramo jurídico.
Transcendendo a passagem do tempo, a fim de configurar um contexto mais empático com o Brasil, as reformas neoliberais resultaram em um aumento alarmante da taxa de desemprego, tornando as manifestações e luta dos trabalhadores sem efeitos, dando à prisão uma nova função, que é de neutralizar uma parcela considerável da população que não é necessária à produção- o Estado não precisa mais de toda a força de trabalho possível para garantir o desenvolvimento econômico- e para qual não há trabalho ao qual se reintegrar.
Todo o contexto histórico narrado possibilitou o entendimento de que cada fase da História a prisão foi usada como ferramenta para dar algum tratamento a algum problema que o Estado não pôde lidar. Essa realidade atravessou os séculos, mas no século XXI passou a usar de pretextos mais indignantes e que vinculava um número maior de marginalizados; a década de 60, marcada pela instituição de ditaduras pela América Latina, demonstra que a Segurança Nacional era o pretexto para prender e torturar os marginalizados. Com o fim dessas ditaduras, passou a se falar na Segurança Urbana, que corresponde ao já citado momento pós reformas liberais.
A população desempregada, que não teve algum tipo de amparo do Estado, estacionando em um patamar sem perspectivas de vida, passou a ser atraída; não todos logicamente, para a criminalidade, mas não se fala mais na criminalidade pós Idade Média, em que há os crimes contra o patrimônio, ou atos meramente de subsistência. A realidade criminosa é outra e em países periféricos, como o Brasil, trata-se do tráfico de entorpecentes.
O ingresso de jovens nesse tipo de criminalidade, como saída da estagnação econômica que se encontravam e também por diversos fatores de cunho social, aumentou consideravelmente a população carcerária.
Paralelamente, o Estado, sem meios para lidar com essa massa desempregada e com os que não tiveram outra opção que não fosse o crime, instaurou e intensificou o que hoje é conhecida como “Guerra contra as drogas”, como pretexto para marginalizar esses pobres. Não é uma afirmação de que os que praticam o crime de tráfico de entorpecentes não deva ser punido, mas sim que o Estado usou essa realidade para não ter que assumir a responsabilidade oriunda da enorme crise existente, sendo que, se antes havia a criminalização da loucura, ou do “vagabundo”, agora o núcleo escolhido tem muito mais ligação com o preconceito social.
O desenvolvimento da Psicologia Jurídica no país:
O século XX foi marcado pela criação de laboratórios que se ocupavam principalmente com exames em doentes mentais e da denominada Psicologia Experimental, como exemplo tem-se a criação do Laboratório de Psicologia no Hospital de Alienados do Rio de Janeiro (1906).
Quanto a relação do profissional com a área jurídica e o sistema prisional, tem-se como marco a década de 60, no Rio Janeiro, logo após a regulamentação da profissão no país (1962), em que os psicólogos passaram a fazer suas residências no Manicômio Judiciário Heitor Carrilho, que era composto pelos denominados “loucos infratores” que ali cumpriam suas medidas de segurança (já aplicáveis apenas aos inimputáveis):
Especificamente na prisão, o marco está no final da década de 70, em que a classe passou a atuar em projetos que visavam à individualização do cumprimento das penas pela classificação dos apenados e acompanhamento de seu tratamento penitenciário.
A Lei de Execução Penal foi promulgada em 1984 e sob o fundamento do principio da individualização da pena, o Exame Criminológico foi efetivamente implementado, sendo por fim, constituída as Comissões de Técnica de Classificação.
O Exame Criminológico não se limita apenas ao psicólogo, tendo a participação do assistente social e também do psiquiatra e tinha por objetivo identificar, no início do cumprimento da pena, as múltiplas causas que, na história dos indivíduos, constituíram fatores geradores da conduta delituosa, traçando, assim, um perfil psicológico com vistas ao tratamento penitenciário, e por ocasião de alteração do regime ou até livramento condicional, permitir a avaliação das mudanças ocorridas ao longo da pena no sentido de sua superação, apontando o juiz responsável pela execução, um "prognóstico psicológico" quanto a um possível retorno ou não à delinquência.
Quanto ao livramento condicional, tem-se no Código Penal:
“Art. 83 - O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em crime doloso e tiver bons antecedentes; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
II - cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
III - comprovado comportamento satisfatório durante a execução da pena, bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído e aptidão para prover à própria subsistência mediante trabalho honesto; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
IV - tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela infração; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
V - cumprido mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime hediondo, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes dessa natureza. (Incluído pela Lei nº 8.072, de 25.7.1990)
Parágrafo único - Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinqüir. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)”.
A presença do psicólogo em uma unidade carcerária é de extrema importância, uma vez que a atuação desse profissional deve ser presente não só na formulação de laudos, que são solicitados pelas autoridades do Judiciário, mas também para otimizar e prestar assistência ao detento e sua família. Além disso, é um campo de pesquisa muito importante para a área da Psicologia, que permite estudos sobre o comportamento humano e a compreensão da polêmica que versa sobre o motivo pelo qual alguém comete um ilícito; seja pelo seu passado ou por questões genéticas, inatas.
Ocorre que, quando esse entendimento é direcionado a uma realidade, no caso o sistema penitenciário do Brasil, diversas são as barreiras que impedem uma atuação efetiva desse profissional, a começar pela super lotação das cadeias, a falta de estrutura e interesse dos que compõe esse sistema, que não sóbarram, mas criam uma necessidade ainda maior da presença dos mesmos.
Os artigos e demais materiais que versam sobre a matéria demonstram que a maior preocupação da classe de psicólogos está no fato de que a cadeia é um reflexo de diversos problemas e preconceitos existentes na sociedade brasileira, uma vez que a maioria dos que compõem a população carcerária são negros, jovens e pobres. Ou seja, a cadeia de fato não representa um local em que infratores são levados para cumprir devidamente a pena presente em uma sentença transitada em julgado e sim demonstra o descaso estatal com determinada parcela da população, que é marginalizada e fica reclusa muitas vezes sem ter uma pena definitiva ou permanecem após cumprirem sua pena, por não haver um defensor para tirá-lo de lá.
Em suma, o Direito por si só não é capaz de entender os problemas existentes no tocante ao sistema prisional, porque as normas e seus operadores se limitam a relacionar a prática de um crime com o infrator e sua pena, deixando de lado questões humanitárias e deixando de observar realidades sociais e políticas de delimitado território; o Direito, representado por seus operadores e técnicos não tem dado a devida importância a debates e práticas de políticas sociais e esse interesse acabou sendo delegado a outros profissionais que exercem, de alguma forma, vinculo com o sistema carcerário. Os psicólogos representam um desses interessados.
A realidade da população carcerária é legitimada pela própria sociedade, que ainda vê a pena como uma “vingança” (referencia a Cesare de Beccaria com sua obra Dos Delitos e das Penas, 1764) e acredita no castigo, não se importando com ressocialização ou recuperação do individuo. E por isso, são grandes os números de abusos e desrespeitos cometidos por parte de autoridades no tocante à dignidade da pessoa humana e demais direitos humanos e direitos fundamentais do individuo.
A “legitimidade” da sociedade também ocorre de maneira tácita, por motivo diverso, a saber:
“A sociedade, ao tomar conhecimento de crimes, dos mais simples aos mais graves, quer segregar estes indivíduos, deixando a cargo do Estado as medidas necessárias para isso. É uma forma de negar o problema, pois se esquece de que, dentro de alguns anos, este mesmo indivíduo retornará a esta sociedade provavelmente mais revoltado do que antes. Para que isso possa ser mudado, deve-se proporcionar um tratamento penal no qual, além do Estado, possam participar as iniciativas da sociedade” (ZIMERMAN, David; COLTRO, Antônio Carlos Mathias. Aspectos Psicológicos na Prática Jurídica, pág. 397, 3ª edição, 2010. Editora Millennium).
Um exemplo dessa aceitação e arbitrariedade nas ações das autoridades está na prática de internar menores envolvidos em tráfico de drogas, sendo que para aplicar o artigo 33 da Lei n. 11.343/2006 para menor, o ato deve ter ocorrido mediante violência ou grave ameaça:
“Súmula n. 492 STJ: o ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só, não conduz obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de internação do adolescente”. – Súmula 492, TERCEIRA SEÇÃO- julgado em 08/08/2012, DJe 13/08/2012”.
 PREVISÕES NORMATIVAS RELACIONADAS À ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO SISTEMA PRISIONAL:
A Lei n. 4119/1962 foi responsável pela regulamentação da profissão no Brasil, o que incumbiu caráter de bem social da categoria, fazendo com que a mesma assumisse compromissos com a sociedade.
Em 1971, a Lei n. 5766 criou o Conselho Federal de Psicologia (CFP), que tem como objetivo fiscalizar, regular e estabelecer limites ao exercício da profissão.
O CFP pública resoluções para cumprir essas funções, sempre em observância ao Código de Ética Profissional, ordenamento jurídico vigente e principalmente, aos Direitos Humanos.
A Lei de Execução Penal de 1984 trouxe a junção entre o Direito e a Psicologia, formalizando a atuação do psicólogo no âmbito penal em dois momentos: elaboração de pareceres na Comissão Técnica de Classificação e manifestação do Centro de Observação Criminal.
O psicólogo realiza Exame Diagnóstico com o objetivo de elaboração do projeto de individualização e Exame Prognóstico voltado à instituição dos incidentes no processo de execução penal.
A LEP sofreu alterações com a Lei n. 10.792/2003 e quanto a relação com os CTC´s ressalta-se:
“Art. 6º A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que elaborará o programa individualizador e acompanhará a execução das penas privativas de liberdade e restritivas de direitos, devendo propor, à autoridade competente, as progressões e regressões dos regimes, bem como as conversões. (REVOGADO).
Art. 6o A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que elaborará o programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao condenado ou preso provisório. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 2003)”.
Vale destacar que em nenhum outro trecho da LEP há referência ao psicólogo, nem na assistência, portanto, a prática psicológica como prevista na LEPvincula-se a elaboração dos exames, além do programa individualizador e do acompanhamento individualizado da pena. Entretanto, no cotidiano das prisões a prática psicológica se restringiu à elaboração do exame criminológico que geralmente era realizado durante o cumprimento da pena.
Essa limitação da atuação do profissional psicólogo possui relação com o histórico da Psicologia nas prisões que foi atrelada ao modelo médico, ao positivismo científico, assim como nos referimos anteriormente. O conhecimento psicológico a respeito dos reclusos produziu elementos para melhor controlá-los e, assim, contribuir para ratificação da disciplina social.
Cabe ressaltar que o conteúdo das perícias psicológicas, por vezes, se referia aos aspectos negativos da personalidade do examinando, geralmente, não se mencionavam capacidades e potencialidades, ao contrário, constatava-se a patologização do indivíduo. O estudo também desconsiderava a intersecção entre os aspectos subjetivos do preso e o ambiente prisional. Outro fator importante que contribuiu para a ratificação da ação laudatória dos psicólogos se refere à própria finalidade social da prisão, bem como às relações estabelecidas entre os atores dessa instituição. Se ao psicólogo cabia, juntamente com os outros membros da CTC, elaborar o programa individualizador a ser desenvolvido no decorrer da pena, sendo a finalidade última a reinserção social do indivíduo recluso, a prisão deveria ser um ambiente que propiciasse esse trabalho, entretanto, sua origem histórica nega essa possibilidade.
O psicólogo tem que elaborar o programa individualizador sendo necessário o acompanhamento do detento e por isso, tem que haver um vínculo de confiança. Cabe ao psicólogo proporcionar o fortalecimento de lações sociais, o resgate da cidadania e a conhecida inserção na sociedade.
Deve o psicólogo atuar prestando assistência psicológica sendo inclusive, garantida a confidencialidade de informações:
“art. 9º: O Psicólogo, em função do espírito de solidariedade, não será conivente com erros, faltas éticas, crimes ou contravenções penais praticados por outros na prestação de serviços profissionais.” (Código de Ética Profissional do Psicólogo).
INSTRUMENTOS PARA A INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA E A ATUAÇAO DO PSICOLOGO 
O artigo 5º da Lei de Execução Penal visa regularizá o princípio constitucional da individualização da pena. Esse principio tem o objetivo de reconhecer que cada ser humano tem suas particularidades e que a relação entre agente infrator, infração e pena deve ser ponderada de maneira singular, sendo que é dever do Estado garantir que nenhuma pessoa terá ferida sua dignidade ou receberá pena desproporcional, não sendo o ato de infração justificativa pra qualquer aplicação de medida que não esteja em conformidade com os Direitos Humanos. A saber:
“Art. 5º, inc. XLVI CF: A lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
a – privação ou restrição da liberdade;
b- perda de bens;
c-multa;
d- prestação social alternativa;
e- suspensão ou interdiçãode direitos”
Sendo esse princípio regularizado:
“Art. 5º, LEP: Os condenados serão classificados, segundo os seus antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal.”
Logo, sobre a questão da “individualização da pena”, são 3 (três) os planos que incidem em sua concretude: Legislativo, através dos dispositivos legais, Judiciário, pelo poder discricionário do juiz e por fim, Administrativo/Executivo, que está vinculado ao cumprimento da pena, sendo o momento da participação do Psicólogo.
O Plano Administrativo, no qual engloba a atuação do Psicólogo, possui três instrumentos para que o princípio da individualização possa ser real, sendo que a atuação desse profissional ocorre sozinha; há o trabalho conjunto com a Vara da Execução Penal e o Sistema Penitenciário. Trata-se do Exame Criminológico, o Exame de Personalidade e os Pareceres das Comissões Técnicas; são procedimentos que compõem um ciclo e serão expostos de maneira sistemática no tópico a seguir.
Exame Criminológico
É o Exame que tem como objetivo classificar o preso, entendendo que a classificação é a maneira de atender a finalidade da individualização.
Os Psicólogos entendem que a execução desse exame deve ser realizado pelo Centro de Observação Criminológica (COC), sendo que o estudo se limita a relação entre o infrator e a conduta ilegal cometida. Por isso, para ter um resultado mais efetivo, deve ser realizado o quanto antes, para que sejam recentes as lembranças, impactos, resquícios da relação do individuo com o delito, não havendo ruptura desse elo, causada pela incidência de fatores adversos ao ato em si.
Em suma, o exame visa avaliar se o apenado tem ou não condições de progredir de regime e ganhar liberdade. São requisitos objetivos que se atendidos pelo preso, ele poderá receber algum benefício quanto ao regime em que cumpre a pena. É uma perícia, no qual vai caber diagnóstico e prognóstico sob a finalidade maior de verificar a possibilidade de reincidência.
“Art. 8º O condenado ao cumprimento de pena privativa de liberdade, em regime fechado, será submetido a exame criminológico para a obtenção dos elementos necessários a uma adequada classificação e com vistas à individualização da execução.”
Parágrafo único. Ao exame de que trata este artigo poderá ser submetido o condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em regime semi-aberto.”
Outra crítica cabível ao Exame Criminológico é que ele tem concepção positivista e do determinismo biológico, ambos marcados pela essência maniqueísta ou seja, de considerar “bom” ou “mau”, o que afasta fatores sociais e entra em confronto direto com a visão do sistema prisional Brasileiro, que tem como base dos seus diversos problemas exatamente questões sociais.
 Exame de Personalidade
Esse exame tem a finalidade de estudar, analisar e colher dados sobre o psiquismo do delinquente, sendo que aqui, o campo de pesquisa não se limita a relação entre agente infrator e conduta ilegal, ele transcende o delito, buscando informações sobre o histórico desse individuo, delimitando suas aptidões, afinidades, eventuais passagens traumáticas... É o estudo do homem em si.
Parecer das Comissões Técnicas de Classificação (CTCs)
Realizado o Exame Criminológico, principalmente, cabe a elaboração de programas de individualização das penas. Esses programas vão servir como parâmetro para verificar se o detento está progredindo, demonstrando melhoras em seu melhoramento, que será positivo se estiver de acordo com as estipulações do programa.
A Psicologia no que diz respeito aos atos antissociais necessita investigar todos os fenômenos ligados ao comportamento do indivíduo que transgride a lei. É importante a verificação do que levou o indivíduo cometer o ato, quais as circunstâncias em que ele cometeu e seu histórico, como já mencionado, para que se possa fazer uma elaboração de planos de intervenção, sendo assim, o processo de reabilitação fica mais fácil de ser atingido e trabalhos preventivos podem ser realizados de forma mais positiva.
De forma objetiva e prática, o psicólogo no sistema prisional acaba exercendo duas funções: a primeira é a de compor a Comissão Técnica de Classificação, que também é composta por agentes penitenciários e funciona como um microtribunal em que o preso é ouvido e julgado por faltas disciplinares e outros atos.
Sua existência está prevista na Lei de Execução Penal (artigo 5º e seguintes), devido a sua importância na classificação do preso e elaboração do programa individualizador da pena adequada ao condenado ou preso provisório.
“Art. 6o A classificação será feita por Comissão Técnica de Classificação que elaborará o programa individualizador da pena privativa de liberdade adequada ao condenado ou preso provisório. (Redação dada pela Lei nº 10.792, de 2003)“,
A grande crítica da categoria é que ela nunca foi consultada para dar seu parecer sobre essa atuação. A ciência de como funcionam os presídios no Brasil é o suficiente para entender que a atuação dessas CTCs no território nacional não são eficazes e efetivas.
“A CTC nos coloca como profissionais de controle ou no lugar de juízes, pois temos que apurar e emitir pareceres sobre infrações disciplinares, opinando quanto à culpabilidade do apenado e propondo punições, que vão desde advertência verbal até a restrição de direitos e isolamento, podendo este chegar a 30 dias sem sair da cela.
Quanto ao EC exigido do psicólogo, pretende inferir sobre a periculosidade do sujeito, tendendo a naturalizar as determinações do crime, ocultando os processos de produção social da criminalidade
Desnaturalizar, ouvir, incluir, respeitar as diferenças, promover a liberdade são missões do psicólogo. Classificar, disciplinar, julgar, punir são missões impossíveis para o psicólogo” (Patrícia Schaefer- Psicanalista, analista institucional, psicóloga da penitenciária Pedrolino Werling de Oliveira/Bangu 8/RJ- 2ª. Edição do Seminário Nacional sobre a Atuação do Psicólogo no Sistema Prisional).
O curioso é que houve uma tendência do Conselho Federal de Psicologia de condenar a prática do psicólogo enquanto produtor de avaliações que embasem decisões judiciais. Isto pode ser verificado pela alteração da resolução que “regulamenta a atuação do psicólogo no sistema prisional”. A maior alteração se deu no Art. 4º que regulamenta a produção de documentos escritos que subsidie tais decisões onde uma publicação cita:
“a) Conforme indicado nos Art. 6º e 112º da Lei nº 10.792/2003 (que alterou a Lei nº 7.210/1984), é vedado ao psicólogo que atua nos estabelecimento prisionais realizar exame criminológico e participar de ações e/ou decisões que envolvam práticas de caráter punitivo e disciplinar, bem como documento escrito oriundo de avaliação psicológica com fins de subsidiar decisão judicial durante a execução da pena do sentenciado; (CFP, 009/2010)”.
Muitas são as críticas que alegam o atrito entre o que a Lei de Execução Penal estipula como papel do psicólogo e o Código de Ética da categoria. A resolução publicada posteriormente revoga a anterior, reformula este Art. 4º permitindo o fazer de tais documentos salvos os não produzidos pelo profissional que acompanhará o sentenciado durante a pena, desde observados os princípios éticos da profissão, o solicitado pelo demandante e ainda veda “elaboração de prognósticos de reincidência, aferição de periculosidade e o estabelecimento de nexo causal a partir do binômio delito-delinquente”. (CFP, 012/2011)
A Comissão que formula esse parecer deve ser composto por 2 (dois) chefes de serviço, 1 (um) Psiquiatra, 1 (um) Psicólogo e 1 (um) assistente social.
A necessidade dessa composição multidisciplinar se justifica no fato de que não se trata mais da fase de mapeamento e classificação do detento e sim do estudo desse mesmo individuo, já no cumprimento da pena.
RESSOCIALIZAÇÃO PSICOSOCIAL 
A prisão nunca teve a função de recuperar ou transformar o criminoso em pessoa honesta. Se alguma vez essa alegação foi usada como justificativa, foi por mero pretexto, uma vez que a evoluçãohistórica social demonstra o processo de marginalização de classes e o motivo das construções de casas de reclusão.
A reinserção social não é uma realidade nacional, porém a Lei de Execução Penal em seus artigos 80 e 81 dispõe sobre a consciência social de toda comunidade em assistir àquele que transgrediu a lei, merecendo adaptações adequadas à sua reinserção social e cultural.
Não se trata apenas de um direito do preso, mas também uma maneira de evitar a reincidência do crime, tendo em vista que muitos voltam a praticar delitos devido ao desamparo da sociedade e impossibilidade de integração ou reintegração ao mercado legalizado.
“No papel da Psicologia Jurídica, os aspectos políticos e institucionais que envolvem a reinserção social de egressos do sistema prisional invarialmente estão associados às dimensões do poder da coerção e a necessidade de impor regras de condutas dificilmente se traduzem em mudanças positivas em termos de comportamento do egresso do sistema prisional”. (CRUZ, Roberto Moraes, MACIEL, Saidy Karolin e RAMIREZ, Dario Cunha, pág. 239. O Trabalho do Psicólogo no Campo Jurídico- 2005, Casa do Psicólogo”.
A pena no Brasil tem função retributiva e preventiva: pune-se o mal do crime com o mal da pena (retributiva). Entretanto, pretende-se prevenir a ocorrência do crime. O que se discute é a afirmação de que a pena é preventiva; se uma pena é aplicada e posteriormente outra pessoa é mandada para a prisão, a tal prevenção falhou e isso é incompatível com o argumento da ressocialização.
O que é tido como ressocialização é uma utopia porque não há como impor características aceitas pela sociedade para um individuo que nunca se enquadrou às mesmas. O sujeito tem o direito e age sob o instinto de ser quem ele quiser.
A pena é limitada pelo principio da dignidade humana, que está no artigo 1, inc. III da Constituição Federal de 1988.
O conceito de Humanização está presente em tratados internacionais no qual o Brasil é país signatário, além da própria Constituição Federal e outras normas infraconstitucionais e acaba sendo fator limitador da pena.
Essa discussão não quer dizer que o agente não deve responder pelos seus atos perante a sociedade; acredita-se em regra, que todo o histórico de vida desse individuo assim como a prática delituosa em si, teve presente a sua racionalidade e poder de escolha. O que se questiona é a forma de encarceramento, que deve de maneira concreta se dar dentro dos limites humanizadores.
Diversos profissionais da área da saúde mental, como a psiquiatra Tania Kolker, trouxeram no século XXI relevantes críticas e estudos sobre a questão da ressocialização; termo usado em diversas legislações para justificar a instituição “cadeia”. O que se questiona é: como por em prática a ressocialização dentro de um cativeiro?
Ressocialização é um procedimento complexo e que exige o contato do individuo com o mundo exterior, com a família, a fim de que esse individuo possa estar presente na sociedade sem apresentar perigo, mas é contraditório querer por em prática esses procedimentos em um “laboratório” que não tem contato algum com o mundo externo, que não tem estrutura para ensinar sobre liberdade e instiga reações contrárias ao opressor, causando segregação e deixando no individuo marcas da perversidade inerente ao dia a dia em uma cadeia. Não há como se falar em construção, transformação, inclusão de um ser humano em um ambiente que traz fatores contrários a isso.
Resumidamente, na impossibilidade de aplicar medidas que possam garantir a ressocialização do sujeito, que não ocorre por não haver estrutura no sistema prisional e pela resistência da sociedade, sendo que para a ressocialização ocorrer é necessário tempo e a atuação de uma equipe multidisciplinar, não se restringindo à vida dentro dos muros, mas havendo continuidade no mundo exterior, o mínimo que deveria ser feito é criar um ambiente humanizado nas cadeiras, para que pelo menos não exista contribuição negativa, que ocasione na piora do infrator, por questões do ambiente e da falta de preparo dos agentes que lidam com essa massa carcerária todos os dias.
Posição do Conselho Federal de Psicologia (CFP): 
A lógica atual de funcionamento do sistema prisional no Brasil e suas implicações para a Psicologia, como ciência e profissão, é uma preocupação da gestão do XVII Plenário do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Nesta semana, os conselheiros Pedro Paulo Bicalho e Márcia Badaró Bandeira participaram de eventos que discutiram o tema em Campo Grande/MS e em Porto Alegre/RS, respectivamente.
No dia 8, Bicalho participou, durante o “Colóquio Internacional de Segurança Pública: debates sobre o encarceramento”, da discussão sobre “Justiça e Crime no Brasil: aberturas interdisciplinares entre o cárcere e a academia”. Ele apresentou dados atuais que apontam violações existentes nas práticas de execução penal no país e disse que o CFP, “buscando qualificar o exercício da profissão, problematiza a centralidade do exame criminológico na prática interdisciplinar da equipe técnica para questionar uma atividade que se constrói como classificatória e pericial, atentando para o cumprimento dos princípios ético-políticos da responsabilidade social da profissão”.
A professora de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mariana Assis Brasil, o defensor público Cahue Urdialles e o juiz da 1ª Vara Criminal da Comarca de Campo Grande Roberto Ferreira Filho participaram do mesmo debate. Assis Brasil falou sobre a reforma psiquiátrica e os manicômios judiciários, Urdialles explicou o exame criminológico e a perpetuação da prisão e o magistrado abordou o tema da prisão provisória no Brasil e a responsabilidade do julgador. 
Audiência pública 
Márcia Badaró participou, no dia 10, de audiência pública promovida pela Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul (Alergs), em Porto Alegre, sobre “A importância do tratamento penal”. O Projeto de Lei Complementar (PLC) 245/2016, que tramita na instituição, pretende alterar a Lei Complementar nº 13259/2009, que dispõe sobre o quadro especial de servidores penitenciários do Estado do Rio Grande do Sul e nomear legalmente todas as categorias profissionais da área do tratamento penal como “guardas prisionais”, descaracterizando assim as especificidades das profissões e suas atribuições no sistema prisional. Márcia foi convidada pelo Conselho Regional de Psicologia do Rio Grande do Sul (CRP-07) e pela Associação dos Profissionais Penitenciários de Nível Superior do Rio Grande do Sul (Apropens/RS) para discutir a questão.
Badaró destacou sua participação nos encontros da Secretaria Nacional de Direitos Humanos com autoridades e movimentos sociais do Amazonas sobre o massacre de presos do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus/AM. Falou, ainda, sobre o relato dos peritos do Mecanismo Nacional de Combate à Tortura (MNPCT) durante visita à Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Natal/RN, também alvo de massacres. “Em ambas as unidades, a situação foi de barbárie e omissão do Estado. A grande maioria das vítimas era formada por presos provisórios capturados por causa de pequenos furtos”. Disse que, no Relatório do MNPCT sobre ambas as unidades foi identificada “a precária oferta de serviços psicossociais configurando-se condições
CONCLUSÃO:
Através deste estudo, foi possível concluir, que assim como os demais problemas que versam sobre o ordenamento jurídico, a atuação do Psicólogo no sistema prisional não é exercida de forma plena por falta de legislação, normas ou previsão de procedimentos, mas sim pela falta de estrutura que traz como fatores a falta de profissionais da área para atuarem nas prisões do Brasil, assim como a superlotação dos presídios.
Ocorre que o poder Judiciário visa no cumprimento de metas quanto a julgamentos de processos e na fase da execução penal, precisa da atuação do Psicólogo para a formulação de laudos e eventuais perícias. A demanda é muito grande e esses profissionais acabam se limitandoa classificar e diagnosticar os detentos, sendo que a categoria já deixou claro, em forma de palestras e artigos, o almejo comum em participar de maneira mais efetiva nessas questões, por interesses nos estudos e pelo dever pela observância dos Direitos Humanos, através da aplicação de políticas.
Ou seja, a classe entende bem quais os problemas existentes no sistema carcerário; o sistema atual é muito mais “predador” e punitivo, encarcerando classes sociais marginalizadas e tendo sua população composta por pessoas que não deveriam estar presas, por terem já cumprido suas penas, ou por pessoas que ao menos possuem uma decisão judicial transita em julgado.
A indignação versa também sobre quem é essa classe que de forma majoritária compõe a população carcerária: a maioria são negros, pobres e jovens e muitas vezes não cometeram delito de alta periculosidade, demonstrando que é real o preconceito e perseguição aos mesmos, demonstrando o ensejo do Estado em isolar essas pessoas, porque o Estado não tem meios de estabelecer estrutura, educação, políticas públicas para que essas pessoas mudem de condição, sendo de seu interesse isolar essas pessoas.
O fenômeno de isolamento de determinada classe, da marginalização de uma parcela social não é algo novo, análise das eras históricas demonstram que as alegorias sempre foram as mesmas: o sistema capitalista fortaleceu o poder do Estado e este não teve capacidade ou interesse em garantir que toda a população pudesse se enquadrar nos padrões pré estabelecidos com essa nova ordem econômica e por isso o isolamento em casas de reclusões, justificadas pela marginalização desses, foi o procedimento aplicado.
A História e estudos filosóficos demonstram também que o estabelecimento “prisão” não foi criado com o intuito de servir de laboratório para recuperar pessoas, o que torna questionável toda a questão de ressocialização: ela está prevista em lei, mas indícios da mesma não são palpáveis, ainda mais quando se entende que ressocialização abrange o contato com familiares, com a sociedade e isso é impossível em um ambiente fechado como uma cadeia.
Os profissionais da Psicologia demonstram análises muito avançadas, comparadas aos parecer jurídicos, quanto a essa questão de ressocialização, tratamento com os presos e os envolvidos nessas unidades carcerárias, além do questionamento da necessidade em manter esse tipo de sistema, que já demonstrou ser falho, estar em profunda decadência e não demonstrar nenhum tipo de avanço e por isso, conseguem propor o debate sobre a necessidade e interesse em se manter as cadeias nos paradigmas existentes.
Atualmente, o papel do Psicólogo no sistema carcerário se limita a emissão de laudos e alguns estudos limitados, a fim de verificar a possibilidade de reincidência, atendendo a uma questão vinculada ao interesse de “segurança” do Estado e se distanciando do dever social em prestar assistência.
O que se espera é ao menos o início desse debate diante da sociedade e junto com os operadores do Direito, que se demonstram bem conservadores a qualquer tipo de mudança e negligenciando o importante papel dos profissionais da saúde mental o âmbito da execução penal.
Proposto o debate e reconhecendo a enorme falha do sistema e rejeitado a ação agressiva do Estado com as classes marginalizadas, poderá ser mapeado um novo plano de atuação dos Psicólogos, hoje limitado ao Exame Criminológico e aos CTCs para que eles contribuam de forma instrumentalizada, englobando não só o tratamento com o agente infrator, mas também com a família, com os agentes penitenciários e a formulação de projetos de cunho educacional e profissionalizantes tão falados e discutidos em programas de governo, mas pouco constatado de fato
 BIBLIOGRAFIA
BRANDÃO, Eduardo Ponte; GONÇALVES, Hebe Signorini. Psicologia Jurídica no Brasil; Coleção Ensino da Psicologia, 2. Ed. Nau editora, 2008.
COLTRO, Antônio Carlos Mathias; ZIMERMAN, David. Aspectos Psicológicos na Prática Jurídica. 3ed. Millennium editora, 2010.
CRUZ, Roberto Moraes; MACIEL, Saidy Karolin; RAMIREZ, Dario Cunha. O Trabalho do Psicólogo no Campo Jurídico. Casa do Psicólogo, 2010.
LOPEZ, E. Mira. Manual de Psicologia Jurídica. 2ed. Editora LZN, 2005.
Sites visitados:
Lei de Execução Penal: disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm; 
Diretrizes para atuação e formação dos psicólogos do sistema prisional brasileiro: disponível em
http://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/depen_cartilha.pdf
Código de Ética Profissional do Psicólogo: disponível em http://site.cfp.org.br/legislacao/código-de-ética/ 
https://site.cfp.org.br/publicacoes/relatorios-e-cartilhas/