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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE BRUSQUE(SC) PAULO, brasileiro, viúvo, militar da reserva, residente e domiciliado sito a Rua Bauru, n.º 371, Brusque(SC), por sua advogada devidamente constituída neste ato, de endereço profissional sito a Rua, vem a este juízo, propor: AÇÃO DE ANULAÇÃO DE VENDA DE IMÓVEL, pelo procedimento comum, em face de: JUDITE, brasileira, solteira, advogada, residente e domiciliada sito a Rua dos Diamantes, n.º 123, Brusque(SC); JONATAS, espanhol, casado, comerciante, residente sito a Rua Jirau, n.º 366, Florianópolis(SC); JULIANA, brasileira, casada, também residente sito a Rua Jirau, n.º 366, Florianópolis(SC), pelos fatos e fundamentos jurídicos que passa a expor. I – TRAMITAÇÃO PRIORITÁRIA Conforme documentos pessoais do Autor anexados aos autos, este conta hoje com 65 anos de idade, fazendo, por isso, jus ao benefício da prioridade na tramitação de procedimentos judiciais, nos termos do art. 1.048 do Código de Processo Civil e art. 71 do Estatuto do Idoso. II – GRATUIDADE DE JUSTIÇA O autor é aposentado e faz uso de diversos medicamentos de uso contínuo, de alto custo, conforme comprovado pelas receitas e comprovantes acostados aos autos, não possuindo, portanto, condições financeiras para arcar com as custas processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo do seu sustento. Nesse sentido, pleiteia os benefícios da JUSTIÇA GRATUITA, assegurados pela Lei nº 1060/50 e consoante o art. 98, caput, do CPC e junta aos autos declaração de hipossu ficiência, cópia do comprovante de rendimento de aposentadoria e declaração de imposto de renda de pessoa física. III – DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO O Autor manifesta interesse na audiência de conciliação, nos termos do art. 319, VII, do CPC. IV - DOS FATOS O autor juntamente com a Ré JUDITE, era proprietário de um imóvel situado na Rua Rubi, n.º 350 na cidade de Balneário Camboriú(SC), conforme escritura pública de fls. XXX. Com a intenção de venderem o referido imóvel, o Autor outorgou a Ré JUDITE, em novembro de 2011, procuração com poderes especiais e expressos para realizar a alienação, como demonstra o documento de fls. XXX. Tal procuração foi revogada pelo Autor no dia 16 (dezesseis) de novembro de 2016 junto ao Cartório do 1º Ofício de Notas, mesmo cartório onde a procuração foi emitida e a Ré JUDITE foi devidamente notificada da revogação no dia 05 (cinco) de dezembro de 2016, conforme documentos de fls. XXX e XXX. Ocorre Excelência, que a Ré JUDITE, ciente da revogação dos poderes conferidos pelo Autor, em flagrante má-fé, em data de 15 (quinze) de dezembro de 2016, alienou o imóvel supracitado aos Réus JONATAS e JULIANA, pelo valor de R$ 150.000,00 (Cento e cinquenta mil Reais), conforme contrato de compra e venda anexado aos autos nas fls. XXX O Autor só teve ciência da referida alienação no dia 01 de fevereiro de 2017, ocasião em que esteve no imóvel e o encontrou ocupado pelos Réus JONATAS e JULIANA, que lhe informaram do negócio feito com a Ré JUDITE. Por todo o acima exposto, não resta alternativa ao Autor, senão a propositura da presente ação para anular a venda do imóvel, com base nos fundamentos a seguir: V - DOS FUNDAMENTOS Sendo a vontade um dos requisitos essenciais para a validade dos negócios, o não preenchimento de tal acarreta a invalidade do negócio. A resilição unilateral dos contratos é permitida pelo diploma civil brasileiro, estando prevista no Caput do artigo 473: “Art. 473. A resilição unilateral, nos casos em que a lei expressa ou implicitamente o permita, opera mediante denúncia notificada à outra parte.” A revogação é uma forma de resilição unilateral do negocio jurídico mandato e consiste na expressão da vontade do mandante no sentido de não mais conferir determinados poderes, antes concedidos, ao mandatário. Fábio Ulhôa Coelho trata do conceito específico da revogação do mandato: “Revogação. Trata-se da declaração unilateral do mandante no sentido de cassar os poderes outorgados ao mandatário. Admite-se a revogação como regra. Lembre o pressuposto da lei: os sujeitos de direito tendem a praticar os atos diretamente; a representação convencional tem, por isso, pertinência temporária e excepcional. Em outros termos, ninguém pode ser privado de retomar a direta administração de seus interesses quando lhe aprouver. A revogação do mandato, em conseqüência, é sempre cabível.” (Fábio Ulhôa Coelho, Curso de Direito Civil, Ed. Saraiva, 2005) O artigo 107 do Código Civil reza que “a validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a lei expressamente a exigir”. No que se refere ao mandato, a autorização para sua revogação é expressa, conforme se depreende do artigo 682, inciso I: “Art. 682. Cessa o mandato: I - pela revogação ou pela renúncia;” Sendo a revogação a expressão da vontade do Autor, o qual por meio desta mostrou não querer mais a venda do imóvel, a Ré JUDITE ao utilizar-se do instrumento de procuração revogado, estando comprovadamente ciente de tal revogação, agiu não somente em desacordo com a vontade do autor, mas também com evidente dolo, tornando o negócio celebrado defeituoso. Concernente ao dolo, a legislação preceitua: “Art. 145: São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.” “Art. 171: Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o negócio jurídico: II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.” Ademais, em consonância com as invalidades, esclarecem os artigos do Código Civil: “Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: V - for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade.” “Art. 662. Os atos praticados por quem não tenha mandato, ou o tenha sem poderes suficientes, são ineficazes em relação àquele em cujo nome foram praticados, salvo se este os ratificar.” Assim segue o entendimento jurisprudencial: APELAÇAO CÍVEL MEDIDA CAUTELAR INOMINADA - VENDA DESAUTORIZADA DE IMÓVEL A SER OBJETO DE PARTILHA EM AÇAO PRÓPRIA - PROCURAÇAO AUTORIZADORA DE VENDA REVOGADA - ATO DE DISPOSIÇAO LEVADO A EFEITO POR PROCURADORA DESTITUÍDA DE PODERES - VENDA DO IMÓVEL EFETIVADA - RECEBIMENTO DO PAGAMENTO EM ANDAMENTO - PRESENÇA DOFUMUS BONI JURISE DOPERICULUM IN MORA- RECURSO CONHECIDO MAS IMPROVIDO. A venda de imóvel por procuradora destituída de poderes para tal contamina o ato, sendo passível de nulidade. Estando revogado o mandato que autoriza a disposição de determinado bem imóvel, mostra-se presente o fumus boni juris, a ensejar a liminar deferida pelo juízo de piso. O periculum in mora reside no fato do imóvel ter sido vendido pela agravante, sem ter poderes para tal, estando prestes a receber a totalidade do pagamento do preço, verba esta passível de rápida dissipação, sem que o agravado receba a parte que afirma ter direito. (TJ-ES - AI: 24039012984 ES 024039012984, Relator: ARNALDO SANTOS SOUZA, Data de Julgamento: 24/08/2004, PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 07/10/2004) Diante da má-fé da Ré JUDITE, restam comprovados os requisitos necessários à anulação da venda do imóvel, devendo o mesmo retornar ao status quo anterior, qual seja, de ser propriedade do Autor. VI - DO PEDIDO Diante do exposto, o autor requer a esse juízo: A – A concessão de tramitação prioritária em face da idade do Autor; B – A concessão do benefício da justiça gratuita; C – A designação da audiência de conciliação ou mediação e a citação dos réus para seu comparecimento; D – Em não ocorrendo a audiência de conciliação ou mediação, requer-se a intimação dos réus para contestar a presente; E – Que seja julgado procedente o pedido de anulação do negócio jurídico em questãocom a devida notificação ao Cartório de Registro de Imóveis competente para que tome as providências cabíveis; F – Que seja julgado procedente o pedido para condenar os réus nas custas processuais e honorários advocatícios. VII - DAS PROVAS Requer a produção de todas as provas em direito admitidas, na amplitude dos artigos 369 e seguintes do CPC, em especial a prova documental, a prova pericial, a testemunhal e o depoimento pessoal do Réu. VIII - DO VALOR DA CAUSA Dá-se à causa o valor de R$ 150.000,00 (Cento e cinquenta mil Reais). Nestes termos, pede deferimento. Brusque(SC), 06 de Abril de 2018.
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