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Salterio-Liturgico

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SALTÉRIO
 LITÚRGICO
SALMOS E CÂNTICOS
DA LITURGIA DAS HORAS
SALTÉRIO LITÚRGICO
SALMOS E CÂNTICOS
DA LITURGIA DAS HORAS
COM INTRODUÇÕES,
COMENTÁRIO PATRÍSTICO
E ORAÇÕES CONCLUSIVAS
SECRETARIADO NACIONAL DE LITURGIA
IMPRIMATUR
Porto, 25 de Março de 1999
Solenidade da Anunciação do Senhor
JÚLIO TAVARES REBIMBAS
Arcebispo-Bispo Emérito do Porto
Comissão Episcopal de Liturgia
Reservados todos os direitos
de acordo com a legislação em vigor.
© Secretariado Nacional de Liturgia
Depósito Legal nº ??????????????
ISBN 972-603-??-??
INTRODUÇÕES,
TRADUÇÃO DOS COMENTÁRIOS PATRÍSTICOS
E ORAÇÕES PARA OS CÂNTICOS
DO ANTIGO E DO NOVO TESTAMENTO:
José de Leão Cordeiro
ORAÇÕES SÁLMICAS:
Pedro Lourenço Ferreira
APRESENTAÇÃO
Os salmos e os cânticos do Antigo e do Novo Testa-
mento são hinos que, sob a inspiração do Espírito Santo,
foram compostos pelos autores sagrados. Por sua própria
origem são capazes de elevar para Deus o espírito dos
homens, de fazer nascer nos seus corações santos e pie-
dosos afectos, de os ajudar admiravelmente a dar graças
na prosperidade, ou de os consolar e robustecer na ad-
versidade (cf. IGLH 100).
Com o objectivo de levar os cristãos a utilizá-los na sua
oração quotidiana e a entendê-los sempre melhor, dado
que tais poemas nasceram numa cultura e num tempo lon-
gínquos dos nossos, o Secretariado Nacional de Liturgia
preparou esta segunda edição do Saltério Litúrgico, com
importantes alterações relativamente à primeira, como se
indica a seguir.
1 – Introdução aos salmos. Dado que os salmos e
cânticos têm «um sentido literal que, mesmo em nossos
dias, não podemos menosprezar» (IGLH 107), cada um
deles vai precedido de uma breve introdução, a que demos
o nome de sentido inicial, e que pretende facilitar a com-
preensão histórica e literal do poema. Aí se indicam, entre
parêntesis e em números árabes, os respectivos versículos.
As citações aparecem em itálico.
Segue-se uma outra introdução, que procura ajudar os
que rezam os salmos e os cânticos a captar-lhes o sentido
pleno, «particularmente o sentido messiânico, pois foi
este o que levou a Igreja a adoptar o Saltério» (IGLH 109).
Leva o nome de sentido actual.
2 – Texto do Saltério. O texto propriamente dito dos
Salmos e dos Cânticos do Antigo e do Novo Testamento
aparece distribuído em quatro semanas, tal como na
Liturgia das Horas, e dividido em versículos, estrofes e
partes. Os versículos vão numerados, à semelhança do
6
que sucede na Bíblia, mesmo os que foram omitidos no
Saltério da Liturgia das Horas.1 Estes últimos vêm entre
parêntesis [...], para facilitar o uso litúrgico do salmo. A
numeração romana divide, por vezes, alguns salmos em
partes, segundo as circunstâncias.
3 – Comentário patrístico. A seguir ao texto do sal-
mo ou do cântico vem o comentário de Santo Agostinho,
que explicou «todo o saltério como profecia referente a
Cristo e à Igreja», tal como o fizeram os outros Santos
Padres, «interpretação que, no geral, é legítima», pois nos
salmos eles «ouviram Cristo a clamar ao Pai ou o Pai a
dirigir-Se ao Filho, ou reconheceram neles até a voz da
Igreja, dos Apóstolos e dos Mártires» (IGLH 109). Espe-
ramos que o comentário do grande bispo e catequista de
Hipona ajude os utilizadores do Saltério Litúrgico a sabo-
rear ainda mais a beleza dos poemas inspirados por Deus.
4 – Orações conclusivas. Este Saltério foi ainda en-
riquecido com orações sálmicas, também chamadas colec-
tas salmódicas, que «ajudam a quem recita os salmos a
entendê-los num sentido predominantemente cristão»
(IGLH 112), e com orações para os cânticos do Antigo e
do Novo Testamento. Estas orações «podem-se utilizar li-
vremente, de acordo com a antiga tradição, da seguinte
maneira: terminado o salmo ou o cântico, após uns mo-
mentos de silêncio, reza-se a colecta, como que a resumir
os afectos de quem salmodia e a concluir a oração»
(IGLH 112). Algumas destas orações provêm da tradição
 1 Além dos salmos 57, 82 e 108, foram omitidos da oração da Liturgia
das Horas os versículos e Aleluia cujos números vão impressos em
itálico, pertencentes aos salmos que vão impressos a negro; 20, 9-13;
27, 4-5; 30, 18-19; 34, 3ab.4-8.20-21. 24-26; 39, 15-16; 53, 7; 54, 16;
55, 8; 58, 6-8.12-16; 62, 10-12; 68, 23-29; 78, 6-7.12; 109, 6; 134, 1;
110, 1a; 111, 1a; 112, 1a; 113A, 1a; 114, 1a; 116, 1a.2c; 117, 1a;
134, 1a.21c; 135, 1a; 136, 7-9; 138, 19-22; 139, 10-12; 140, 10; 142,
12; 145, 1a.10c; 146, 1a; 147, 20c; 148, 1a.14d; 149, 1a.9a; 150,
1a.5d.
APRESENTAÇÃO
7
litúrgica romana, africana e hispânica, outras são de
composição moderna, traduzidas e adaptadas do «Le
Psautier de la Bible de Jérusalém», mas a maior parte
foram compostas para esta edição.
5 – Uso litúrgico dos salmos. No fim de cada oração
conclusiva vem indicado o uso litúrgico do salmo ou do cân-
tico, segundo os livros litúrgicos, seguido do número do
versículo que justifica o uso desse salmo ou cântico.
6 – Apêndices. No apêndice I apresentam-se vários
salmos e cânticos, que não fazem parte do Saltério distri-
buído em quatro semanas. Em primeiro lugar o salmo 94,
Invitatório a todo o Ofício Divino; a seguir, os salmos 57,
82 e 108, omitidos na Liturgia das Horas devido ao seu
carácter imprecatório (cf. IGLH 131); depois, vários
cânticos do Antigo Testamento e um do Novo Testamento,
utilizados nas vigílias litúrgicas (cf. IGLH 73) e nalgumas
solenidades especiais; por fim, os três cânticos evangélicos:
Benedictus, Magnificat e Nunc dimittis. Todos estes sal-
mos e cânticos, com excepção dos que são utilizados nas
vigílias, vão acompanhados de suas introduções e comen-
tário patrístico. O apêndice II é a lista dos salmos e dos
cânticos, com a indicação da origem do comentário de
Santo Agostinho e da Hora e dia em que são rezados. O
apêndice III é a lista das obras de Santo Agostinho, das
quais foram tirados os comentários dos salmos e cânticos
da Liturgia das Horas. O apêndice IV é a distribuição dos
Salmos na Liturgia das Horas. O apêndice V é um índice
temático-litúrgico dos salmos. O apêndice VI é um índice
de temas dos comentários de Santo Agostinho.
Advertência muito importante
Para elaborar estas introduções aos salmos e cânticos
da Liturgia das Horas, servimo-nos do trabalho de in-
vestigação intelectual de muitos autores que consultámos
APRESENTAÇÃO
8
e resumimos. Não é fácil organizar saberes diversos e por
vezes opostos, num discurso coerente. Apesar disso,
atrevemo-nos a fazê-lo. O resultado é da nossa respon-
sabilidade exclusiva. A elaboração do texto é nossa; as
ideias, essas pertencem-nos a nós e a vários autores, que
não citámos a cada momento para não dificultar a leitura
da própria introdução
O sentido inicial e o sentido actual de cada salmo e
cântico resumem, em poucas linhas, aquilo que os autores
de duas obras, cujo valor científico é sobejamente conhe-
cido, explicam em mais de duas mil páginas: SALMOS (2
volumes), de Luís Alonso Schökel e Cecília Carniti, edito-
rial Verbo Divino (1992), e LES LOUANGES DU SEIGNEUR, de
Maurice Gilbert, editorial Desclée (1991). Consultámos
ainda outras obras, entre as quais salientamos três, que se
indicam pela ordem decrescente das datas de publicação:
SAINT AUGUSTIN PRIE LES PSAUMES, de A. G. Hamman, edi-
torial Desclée (1980); PSAUTIER CHRÉTIEN (4 volumes), edi-
torial Téqui (1975); LES PSAUMES (4 volumes), de M.
Manatti e E. de Solms, editorial Desclée (1966).
As traduções dos comentários de Santo Agostinho
foram feitas a partir do respectivo texto latino das
Enarrationes in psalmos.
Caberá àqueles que vierem a servir-se destes subsídios,
fazê-lo da maneira que julgarem mais conveniente. Cada
um tem valor por si mesmo. Consoante as situações,
pode alguém servir-se deles, no todo ou em parte, para
compreender melhor o sentido da sua oração pessoal ou
para ajudar uma comunidade a orar. Dar-nos-emos por
satisfeitos se este trabalho vier a ser útil, nem que seja a
um só dos seus utilizadores.
 José de Leão Cordeiro
APRESENTAÇÃO
SEMANA I
DOMINGO I
Vésperas I
Salmo140 (141)
SENTIDO INICIAL
Este salmo é uma súplica, difícil de interpretar.
O salmista, certamente um fiel que vive em ambiente
hostil à fidelidade a Deus, talvez no exílio, pede ao Senhor
que escute a sua voz (1). Ele deseja que a sua oração suba
até Deus como incenso e que as suas mãos se elevem como
oblação da tarde, o que leva a pensar em alguém ligado ao
culto (2). Guardai da maledicência a minha boca e os
meus lábios, para não negar a minha fé, suplica ele com
insistência (3), não me deixeis inclinar para o mal, nem
tomar parte nos banquetes sagrados dos pagãos, nem
seduzir pela vida fútil dos ímpios (4-5), cujos chefes rece-
beram o castigo das iniquidades cometidas (6-7). Para
Vós se voltam os meus olhos, defendei-me do laço e das
ciladas dos malfeitores (8-9).
10
SENTIDO ACTUAL
Toda a tradição cristã considerou este salmo como o
cântico vespertino por excelência, por causa do versículo
suba até Vós, Senhor, a minha oração como incenso, ele-
vem-se as minhas mãos como oblação da tarde, que o
livro do Apocalipse comenta assim: «Das mãos do Anjo
subiu à presença de Deus o fumo do incenso, juntamente
com as orações dos santos» (Ap 8, 4). A Liturgia das
Horas começa, por ele, o ciclo do Saltério distribuído em
quatro semanas.
O gesto do orante que eleva as mãos durante a oração
vespertina, recorda o de Jesus Cristo, de mãos estendidas
na cruz, oferecendo o seu sacrifício pascal pela salvação
de todos os homens.
O salmo, a começar pelo seu título – oração na adver-
sidade e nas fraquezas da vida – é um convite a tomar
consciência das contínuas tentações que, todos os dias,
põem em perigo a nossa fidelidade, a recorrer ao Senhor
para que nos socorra sem demora, a pedir-Lhe que defenda
a porta dos nossos lábios e não deixe o nosso coração in-
clinar-se para o mal, nem praticar a iniquidade com os
malfeitores, e a implorar-Lhe que o óleo dos ímpios nunca
nos perfume a cabeça.
No Evangelho, Jesus recomendou a todos os seus
discípulos: «Vigiai e orai para não cairdes em tentação»
(Mt 26, 41) e no Pai nosso ensinou-nos a pedir: «Não nos
deixeis cair em tentação» (Mt 6, 13). Com palavras
idênticas orava já o autor deste salmo.
DOMINGO I
11
Salmo 140 (141), Oração na adversidade
Das mãos do Anjo
subiu à presença de Deus o fumo do incenso,
juntamente com as orações dos santos (Ap 8, 4).
 1 Senhor, a Vós clamo; socorrei-me sem demora, *
escutai a minha voz quando Vos invoco.
 2 Suba até Vós a minha oração como incenso, *
elevem-se minhas mãos como oblação da tarde.
 3 Guardai, Senhor, a minha boca, *
defendei a porta dos meus lábios.
 4 Não deixeis meu coração inclinar-se para o mal, *
nem praticar a iniquidade com os malfeitores, †
nem tomar parte em seus lautos banquetes.
 5 Castigue-me o justo *
e repreenda-me com misericórdia,
mas o óleo dos ímpios nunca me perfume a cabeça; *
enquanto fazem o mal, não deixarei de rezar.
 6 Os seus chefes foram precipitados contra o rochedo *
e compreenderam como eram suaves as minhas palavras.
 7 Tal como terra cavada e lavrada, *
foram seus ossos dispersos à boca do abismo.
 8 Para Vós, Senhor Deus, se voltam os meus olhos; *
em Vós me refugio, não me desampareis.
 9 Defendei-me do laço que me prepararam, *
defendei-me das ciladas dos malfeitores.
[10 Caiam os ímpios em suas próprias armadilhas,
e eu prossiga livremente o meu caminho.]
Glória ao Pai e ao Filho *
e ao Espírito Santo,
como era no princípio *
agora e sempre. Amen.
VÉSPERAS I
12
COMENTÁRIO DE SANTO AGOSTINHO
«Senhor, a Vós clamo; socorrei-me sem demora. Isto
podemos dizê-lo todos nós. Não o digo eu; é o Cristo total
que o diz. De facto, estas palavras foram ditas especial-
mente em nome do corpo, porque, enquanto o Senhor estava
neste mundo, orou como homem, e orou ao Pai em nome
do corpo; e enquanto orava, caíam de todo o seu corpo
gotas de sangue.
Suba até Vós a minha oração como incenso, elevem-se
minhas mãos como oblação da tarde. Todo o cristão sabe
que esta expressão costuma atribuir-se à própria cabeça da
Igreja. Na verdade, foi ao cair da tarde daquele dia que o
Senhor voluntariamente entregou na cruz a vida que viria a
retomar. Também ali estávamos nós representados. Com
efeito, o que esteve suspenso na cruz foi o que Ele tomou
da nossa natureza. Como seria possível que o Pai
abandonasse algum momento o seu Filho unigénito, sendo
ambos um só Deus? Todavia, ao cravar a nossa frágil
natureza na cruz, clamou com a voz da nossa humanidade.
Eis, portanto, o verdadeiro sacrifício vespertino: a
paixão do Senhor, a cruz do Senhor, a oblação da vítima
salutar, o holocausto agradável a Deus. E na ressurreição,
aquele sacrifício vespertino converteu-se em oferenda
matinal. Assim, a oração que se eleva, com toda a pureza,
de um coração fiel, é como incenso que sobe do altar
santo. Nenhum outro perfume é mais agradável a Deus;
este incenso todos o devem oferecer ao Senhor».
ORAÇÃO SÁLMICA
Senhor, o vosso nome é digno de ser louvado desde o
nascer ao pôr do sol. Suba até Vós a nossa oração como
incenso na vossa presença e elevem-se para Vós as nossas
mãos, como sacrifício da tarde. Por Nosso Senhor.
Vésperas I Domingo I.
DOMINGO I
13
Salmo 141 (142)
SENTIDO INICIAL
O salmista é um homem perseguido que em alta voz
clama ao Senhor (2), pondo diante d’Ele a sua aflição e
pedindo o seu auxílio (3). Ao descrever a perseguição que
os inimigos lhe movem, pois esconderam um laço na
senda que ele vai trilhando (4), e o abandono em que se
vê, a ponto de não encontrar refúgio em ninguém (5),
clama por Deus, sua herança na terra dos vivos (6), o
único que o pode livrar dos seus perseguidores (7), e faz a
promessa de dar graças ao seu nome se o Senhor o tirar da
prisão em que se encontra (8).
SENTIDO ACTUAL
Os Padres da Igreja meditaram este lamento do salmista
à luz do mistério pascal de Cristo. «Tudo o que descreve o
salmo se realizou no Senhor durante a sua paixão», escreve
S. Hilário, Bispo de Poitiers.
A alusão aos laços que os perseguidores armaram a
este homem na senda que ia trilhando, a referência à
sepultura a que o salmista chama prisão e à exaltação na
terra dos vivos, símbolo da ressurreição e ascensão ao céu,
fazem deste poema uma profecia do mistério pascal, muito
próprio para iniciar a celebração do dia do Senhor, como
salmo pascal e dominical.
Cristo, perseguido e crucificado, ora ao Pai, pondo
diante d’Ele a sua aflição e descobrindo-Lhe a sua an-
gústia, e Deus tira-O da prisão do túmulo e dá-Lhe em
herança a terra dos vivos. Ele ora em nós e connosco, os
justos que O aclamam pelo bem que nos fez, e que se
reúnem, à sua volta, cada domingo. Por outro lado, nós
cantamos-Lhe este salmo, dando graças ao seu nome e di-
rigindo-Lhe a nossa súplica, a Ele que é o nosso refúgio e
o nosso abrigo.
VÉSPERAS I
14
Salmo 141 (142) Vós sois o meu refúgio
Tudo o que descreve o salmo se realizou no Senhor
durante a sua paixão (S. Hilário).
 2 Em alta voz clamo ao Senhor, *
em alta voz imploro o Senhor.
 3 Ponho diante d’Ele a minha aflição, *
diante d’Ele descubro a minha angústia.
 4 Quando me desfalece o ânimo, *
Vós conheceis o meu caminho.
Na senda que vou trilhando, *
esconderam um laço.
 5 Olhai à direita e vede: *
não há quem se interesse por mim.
Não encontro refúgio, *
não há quem olhe pela minha vida.
 6 Clamei por Vós, Senhor; *
disse: Sois o meu abrigo, †
a minha herança na terra dos vivos.
 7 Atendei o meu clamor: *
estou reduzido à miséria.
Livrai-me dos meus perseguidores: *
eles são mais fortes do que eu.
 8 Tirai-me desta prisão *
e darei graças ao vosso nome.
Os justos hão-de rodear-me, *
pelo bem que me fizestes.
DOMINGO I
15
COMENTÁRIO DE SANTO AGOSTINHO
«Muitos clamam ao Senhor, não com a voz do seu
espírito, mas com a voz do seu corpo. O homem interior,
no qual Cristo começou a habitar pela fé, clama ao Senhor
em alta voz, isto é, não pelo ruído dos seus lábios, mas
pelo afecto do seu coração. Não é onde o homem ouve que
Deus ouve; se não clamas com a voz dos pulmões, do peito
e dos lábios, o homemnão te ouve, mas o teu pensamento
é clamor para o Senhor. O teu clamor é a tua oração.
Ninguém vê o teu pensamento, mas Deus vê-o. Coloca,
pois, a tua oração diante do Senhor, lá onde apenas vê
Aquele que recompensa. Nosso Senhor Jesus Cristo man-
dou-te orar no quarto mais secreto. Se conheces o teu
quarto mais secreto e o limpas, ali poderás orar ao Senhor.
Está em nosso poder fechar a porta, a porta do coração
entende-se, não a da parede, para não dar espaço algum
ao tentador. Portanto, se acreditaste e abriste a porta a
Cristo, fecha-a ao demónio. Cristo está dentro, estabe-
leceu aí a sua morada. Põe diante d’Ele a tua oração».
ORAÇÃO SÁLMICA
Senhor, nosso refúgio na tribulação, atendei a voz da
nossa súplica e completai em nós o que falta à paixão de
Cristo, a fim de alcançarmos a herança celeste na terra dos
vivos e darmos graças ao vosso nome. Por Nosso Senhor.
Vésperas I Domingo I.
VÉSPERAS I
16
Cântico Filip 2, 6-11
SENTIDO INICIAL
São Paulo utiliza este hino primitivo para dizer aos
Filipenses que Jesus Cristo, de condição divina (6), Se fez
semelhante aos homens (7) e experimentou em Si todo o
sofrimento humano, até à morte de cruz (8). Foi esse o
caminho seguido pelo Servo sofredor (Is 53), que Se tor-
nou o Homem Salvador. Por isso Deus O exaltou, ressus-
citando-O de entre os mortos e dando-Lhe o nome que está
acima de todos os nomes (9-10), a fim de que os anjos, os
homens e os demónios O proclamem Senhor, e desse modo
Deus Pai seja glorificado por toda a criação (11).
SENTIDO ACTUAL
Este cântico de Vésperas é um dos mais belos hinos da
comunidade cristã do tempo dos Apóstolos, em honra de
Cristo e do seu mistério pascal, pelo qual Jesus resta-
beleceu a comunhão da humanidade com Deus, rompida
pelo pecado do primeiro homem.
No começo dos tempos, Adão, que era simples homem,
desejando ser como Deus e não morrer, comeu do fruto
proibido, desobedecendo a Deus; na plenitude dos tempos,
Cristo, que é Deus, tornou-Se semelhante aos homens,
obedecendo até à morte e morte de cruz.
O despojamento de Cristo levou o Pai a manifestar o
seu novo amor pela humanidade, exaltando Jesus que apa-
recera como homem, dando-Lhe o nome que está acima de
todos os nomes, e fazendo com que todas as criaturas se
ajoelhem diante d’Ele, adorando-O, pois é o Senhor.
Pela sua obediência, Cristo realizou o novo amor dos
homens para com Deus e restabeleceu a comunhão inter-
rompida pelo primeiro homem. Por Cristo, com Cristo e
em Cristo, toda a humanidade passou da terra ao céu, da
inimizade à amizade com Deus. É este o mistério pascal,
que celebramos cada domingo, como o estamos a fazer
nesta celebração de Vésperas no dia do Senhor.
DOMINGO I
17
Cântico Filip 2, 6-11 Cristo, o Servo de Deus
 6 Cristo Jesus, que era de condição divina, *
não Se valeu da sua igualdade com Deus, †
 7 mas aniquilou-Se a Si próprio.
Assumindo a condição de servo, *
tornou-Se semelhante aos homens.
 8 Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, *
obedecendo até à morte e morte de cruz.
 9 Por isso Deus O exaltou *
e Lhe deu o nome que está acima de todos os nomes,
10 para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem, *
no céu, na terra e nos abismos,
11 e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, *
para glória de Deus Pai.
COMENTÁRIO DE SANTO AGOSTINHO
«Cristo Jesus, que era de condição divina, aniqui-
lou-Se a Si próprio, assumindo a condição de servo, mas
sem deixar de ser Deus.
Graças a esta condição de servo, o invisível fez-Se
visível ao nascer do Espírito Santo e da Virgem Maria.
Nesta condição de servo, o Todo-poderoso tornou-Se
débil ao padecer sob Pôncio Pilatos.
Nesta condição de servo, o imortal morreu, porque foi
crucificado e sepultado.
Nesta condição de servo, o rei dos séculos ressuscitou
ao terceiro dia.
Nesta condição de servo, o criador das coisas visíveis e
invisíveis subiu ao céu que nunca deixou.
Nesta condição de servo, Ele, que é o braço do Pai, está
sentado à direita do Pai.
Nesta condição de servo há-de vir julgar os vivos e os
mortos, porque nela quis participar da sorte dos que
morrem, não obstante ser a vida dos vivos.
VÉSPERAS I
18
Não nos envergonhemos do nome de Cristo. Sofreu a
morte de cruz, mas se não tivesse derramado o seu sangue,
ainda continuaria por pagar o documento da nossa dívida.
Sim, é verdade, acredito num homem humilhado até à
morte, mas quem é esse homem? Quem veio e que recebeu?
Naquilo que recebeu de nós, mostrou-te o que tu és e o
que serás quando chegar a hora do prémio. O nascer e o
morrer conhecia-lo bem, mas ignoravas o ressuscitar e o
subir ao céu. Ele tomou o que sabias e mostrou-te o que
ignoravas. A ressurreição do Senhor é a nossa esperança e
a sua exaltação a nossa glória».
ORAÇÃO
Senhor, que na vossa infinita sabedoria exaltastes o
vosso Filho e Lhe destes um nome que está acima de todos
os nomes, fazei-nos proclamar na terra o seu louvor e con-
templar no céu a glória do seu triunfo pascal. Por Nosso
Senhor.
Vésperas I Domingo I, II, III, IV.
DOMINGO I
19
Ofício de Leitura
Salmo 1
SENTIDO INICIAL
O poema de abertura do saltério, que é mais um convite
do que uma oração, começa, tal como o sermão da
montanha, por uma bem-aventurança: Feliz o homem. São
Jerónimo chamava-lhe “pórtico de entrada do grande
palácio do livro dos salmos”. Nele se afirma que existem
dois caminhos que todo o homem e toda a mulher podem
percorrer: o caminho dos justos, palmilhado por aquele
que se compraz na lei do Senhor e nela medita dia e noite,
e que leva a Deus (1-3), e o caminho dos pecadores, aos
quais o salmista chama ímpios, que afasta de Deus e leva à
perdição (4-6). O caminho é a conduta de cada um, o seu
modo de viver.
SENTIDO ACTUAL
Ser feliz é o ideal de toda a vida humana, e o primeiro
poema do saltério começa por uma proposta de felicidade:
Feliz o homem.
Mais do que nenhum outro, Jesus Cristo foi o Homem
que pôs em prática este salmo. Ele não seguiu o conselho
dos ímpios: «O meu alimento é fazer a vontade d’Aquele
que Me enviou» (Jo 4, 34).
Toda a tradição cristã viu, na árvore plantada à beira
das águas, um símbolo da cruz de Cristo, árvore da vida,
da qual recebemos os frutos. Maria, mãe de Jesus, foi a
primeira a recebê-los, antes mesmo da sua Conceição e
por isso é a Imaculada, a «bendita entre as mulheres»
(Lc 1, 42), porque realizou, como ninguém, a palavra do
seu Filho: «Felizes os que escutam a Palavra de Deus e a
põem em prática» (Lc 11, 28).
OFÍCIO DE LEITURA
20
Como mais tarde o viria a fazer o Evangelho, também
os salmos prometem a felicidade a quem escolhe o caminho
dos justos. Para nós, depois da encarnação do Verbo, esse
caminho é Cristo: «Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida»
(Jo 14, 6). Perseverar n’Ele é graça que se pede e se recebe,
e não simples fruto do querer humano.
Os antigos monges rezavam os salmos do Ofício Divino
uns a seguir aos outros, pela ordem em que se encontram
no saltério. A presença do salmo 1, seguido imediatamente
dos salmos 2 e 3 no Ofício de Leitura deste Domingo, é o
caso mais flagrante onde esse princípio se verifica ainda
hoje na Liturgia das Horas.
Salmo 1 Os dois caminhos
Felizes daqueles que,
pondo toda a sua esperança na cruz,
desceram à água do Baptismo (Um autor do séc. II).
 1 Feliz o homem que não segue o conselho dos ímpios, *
não se detém no caminho dos pecadores, †
nem toma parte na reunião dos maldizentes:
 2 mas antes se compraz na lei do Senhor *
e nela medita dia e noite.
 3 É como árvore plantada à beira das águas: †
dá fruto a seu tempo e sua folhagem não murcha. *
Tudo quanto fizer será bem sucedido.
 4 Não assim, não, os ímpios: *
são como palha que o vento leva.
 5 Os ímpios não se aguentarão em julgamento, *
nem os pecadores na assembleia dos justos.
 6 O Senhor vela pelo caminho dos justos, *
mas o caminho dos pecadores leva à perdição.
DOMINGO I
21
COMENTÁRIO DE SANTO AGOSTINHO
«Este salmo refere-se à pessoa de nosso Senhor Jesus
Cristo, cabeça e membros. Ele foi o único que nasceu de
Maria, sofreu, foi sepultado,ressuscitou, subiu ao céu, e
agora está sentado à direita do Pai e intercede por nós. Se
Cristo é nossa cabeça, nós somos seus membros.
A Igreja inteira, espalhada por toda a terra, é o seu
corpo, mas a cabeça do corpo é Ele. Todos os fiéis, não
apenas os que vivem hoje, mas também aqueles que vi-
veram antes de nós e os que viverão depois de nós, até ao
fim dos tempos, fazem parte deste corpo cuja cabeça subiu
ao céu. Nós conhecemos, portanto, a cabeça e o corpo: a
cabeça é Ele, nós somos o corpo.
Quando ouvimos a sua voz, devemos reconhecer nela a
da cabeça e a do corpo, porque tudo o que Ele sofreu,
sofremo-lo nós n’Ele, e o que nós sofremos, sofre-o Ele
em nós. Se a cabeça sofre, pode a mão dizer que não sofre?
Se a mão sofre, pode dizer a cabeça que não sofre?
Quando um dos nossos membros sente qualquer dor, todos
os outros acorrem em sua ajuda.
Se, quando Ele sofreu, também nós sofremos n’Ele,
agora, que está sentado à direita de Deus, tudo o que Igreja
sofre – tribulações deste mundo, tentações e angústias, que
nos purificam como o ouro no fogo – o sofre Ele também.
Cristo, une, portanto, a cabeça e o corpo, pelo que, na
sua voz, nós reconhecemos a nossa, e na nossa Ele reco-
nhece a sua. Escutemos, portanto, o salmo, e nele ou-
viremos falar Cristo».
ORAÇÃO SÁLMICA
Senhor, que no vosso Filho nos indicastes o caminho, a
verdade e a vida, fazei que, meditando dia e noite na vossa
lei, encontremos a luz da vossa verdade, e a força da água
da vida nos faça produzir frutos de vida eterna. Por Nosso
Senhor.
OL Domingo I; Advento; Quaresma; Páscoa 3;
Catecumenado; Comum dos Santos.
OFÍCIO DE LEITURA
22
Salmo 2
SENTIDO INICIAL
Este salmo, que é uma pergunta seguida de várias res-
postas, descreve, em primeiro lugar, o tumulto e a revolta
dos povos contra o Senhor e contra o seu ungido (1-3) e
depois a réplica que lhes é dada por Deus: Fui Eu quem
ungiu o meu Rei (4-6).
É então a vez do ungido do Senhor proclamar que foi
feito herdeiro e rei do universo: Ele disse-me: “Tu és meu
filho, Eu hoje te gerei” (7-9), antes do próprio salmista se
dirigir aos chefes e aos juizes deste mundo e de lhes dizer:
Servi o Senhor, aclamai-O; felizes todos os que n’Ele
confiam (10-12).
Trata-se de um salmo claramente messiânico, por detrás
do qual se adivinha o oráculo de Natã a David: «Eu serei
para ele um pai e ele será para mim um filho» (2 Sam 7, 14).
Sobre cada novo rei de Israel repousava a esperança mes-
siânica suscitada pela profecia que veio a realizar-se, em
plenitude, em Jesus de Nazaré.
SENTIDO ACTUAL
A Igreja apostólica interpretou a revolta dos chefes ju-
daicos e das autoridades romanas contra Jesus e contra os
primeiros responsáveis da comunidade cristã de Jerusa-
lém, como realização da profecia deste salmo: «Realmente,
Herodes e Pôncio Pilatos coligaram-se nesta cidade com
as nações e os povos de Israel contra Jesus, o Santo Servo
de Deus» (Act 4, 27). Agora, este Filho «que Deus res-
suscitou dos mortos para não mais voltar à corrupção»
(Act 13, 34) e «que é o resplendor da glória» de Deus, co-
locado acima dos anjos (Heb 1, 4-5), reinará «sobre todas
as nações» (Ap 12, 5), mas a sua realeza nada tem a ver
com a dos homens que dominam os povos, porque «não é
deste mundo» (Jo 18, 36). As antífonas do Tempo comum
DOMINGO I
23
e do Tempo pascal orientam a nossa oração para Cristo
ressuscitado e glorificado.
O combate contra o Senhor e o seu ungido prossegue
até ao fim dos tempos na pessoa dos mais pobres. Quando
alguém é maltratado, onde quer que seja, é o drama do
Messias rejeitado e morto que se repete. Mas a mensagem
deste poema é muito importante, por afirmar que o resultado
final da luta entre as forças do bem e do mal, terminará
pela vitória de Deus e do seu Cristo.
Salmo 2 O Messias, rei e vencedor
Coligaram-se contra Jesus, vosso Servo, a quem ungistes
(Actos 4, 27).
 1 Porque se agitam em tumulto as nações *
e os povos intentam vãos projectos?
 2 Revoltam-se os reis da terra *
e os príncipes conspiram juntos †
contra o Senhor e contra o seu Ungido:
 3 «Quebremos as suas algemas *
e atiremos para longe o seu jugo».
 4 Aquele que mora nos céus sorri, *
o Senhor escarnece deles.
 5 Então lhes fala com ira *
e com sua cólera os atemoriza:
 6 «Fui Eu quem ungiu o meu Rei, *
sobre Sião, minha montanha sagrada».
 7 Vou proclamar o decreto do Senhor. *
Ele disse-me: «Tu és meu filho, Eu hoje te gerei.
 8 Pede-me e te darei as nações por herança *
e os confins da terra para teu domínio.
 9 Hás-de governá-los com ceptro de ferro, *
quebrá-los como vasos de barro».
OFÍCIO DE LEITURA
24
10 E agora, ó reis, tomai sentido, *
atendei, vós que julgais a terra.
11 Servi ao Senhor com temor, aclamai-O com respeito. *
12 Reverenciai-O para que não Se irrite e fiqueis perdidos;
porque num repente se inflama a sua ira. *
Felizes todos os que confiam no Senhor.
COMENTÁRIO DE SANTO AGOSTINHO
«O letreiro colocado sobre a cruz de Cristo, designava-O
como Rei dos judeus. Deste modo, o Salvador mostrou
que nem sequer causando-Lhe a morte, os judeus podiam
impedir que fosse rei Aquele que há-de vir com poder e
glória, para dar a cada um segundo as suas obras. Está
escrito no salmo: Fui Eu quem ungiu o meu Rei sobre
Sião, minha montanha sagrada.
A inscrição foi escrita em três línguas, em hebraico, em
grego e em latim, para indicar que Ele reinaria não só
sobre os judeus mas sobre os pagãos. Depois de ter dito,
dirigindo-se aos judeus, fui Eu quem ungiu o meu Rei so-
bre Sião, minha montanha sagrada, o salmo acrescenta,
visando os gregos e os latinos: Tu és meu filho, Eu hoje te
gerei. Pede-me e te darei as nações por herança e os
confins da terra para teu domínio.
Os povos pagãos não falam apenas o grego e o latim,
mas essas duas línguas são as que mais se distinguem: a
língua grega, pela sua literatura, a língua latina, pela
habilidade política dos romanos. Essas três línguas signi-
ficavam que o conjunto dos povos viria a reconhecer a
soberania de Cristo.
Contudo, a inscrição não dizia rei das nações, mas rei
dos judeus, para lembrar desse modo a origem dos cristãos.
Está escrito: A lei virá de Sião, e de Jerusalém a palavra
do Senhor.
Embora os filhos do reino, que não quiseram que o
Filho de Deus fosse seu rei, se tenham lançado por um
DOMINGO I
25
tempo nas trevas, muitos de entre eles virão do Oriente e
do Ocidente para tomar parte no banquete, não com Platão
e com Cícero, mas com Abraão, Isaac e Jacob, no reino
dos céus».
ORAÇÃO SÁLMICA
Senhor Deus, que gerastes o vosso Filho Jesus Cristo e
O consagrastes Rei de Sião, a vossa Igreja, e lhe destes a
vitória sobre os seus inimigos, concedei que O reco-
nheçamos e O sirvamos para podermos escapar da sua ira
e tomar parte no seu reino. Ele que é Deus convosco, na
unidade do Espírito Santo.
OL Domingo I; Natal 7; Epifania 10; Paixão 2; Páscoa 7.12;
Cristo Rei 6.7; Cristãos perseguidos 13.
Salmo 3
SENTIDO INICIAL
Este salmo é a expressão da confiança em Deus, para o
presente, alicerçada na experiência do passado.
Certo dia, um homem, ao ver-se rodeado de inimigos
que diziam a seu respeito: “Deus não o vai salvar”, pede
ao Senhor que venha em seu auxílio e Deus responde-lhe
da sua montanha sagrada (2-5). Daí por diante, ao deitar-se
e ao levantar-se, ele acredita na presença do Senhor a seu
lado (6-7) pelo que Lhe implora, continuamente, a salva-
ção para si próprio e a bênção para o povo a que pertence
(8-9).
OFÍCIO DE LEITURA
26
SENTIDO ACTUAL
Os Padres da Igreja referiram este salmo, de conteúdo
pascal, à morte e ressurreição de Cristo, por causa do ver-
sículo que diz: deito-me e adormeço, e me levanto, e
sempre o Senhor me ampara, comentado deste modo por
Santo Ireneu: “Jesus adormeceu e ergueu-Se do sono da
morte, porque Deus era o seu protector”.
Ao longo da história, muitas foram as ocasiões em que
os cristãos utilizaram este salmo, particularmente em
tempos de perseguição. Na boca dos discípulos de Cristo
dos nossos dias, ele continua a ter pleno sentido como
profissão de fé e comooração de confiança, pois foi assim
que Jesus o rezou.
As antífonas do Tempo comum e do Tempo pascal
recordam que o Senhor ressuscitado na manhã do primeiro
Domingo é a alegria e a glória dos que n’Ele se refugiam e
esperam.
Salmo 3 O Senhor é o meu protector
Jesus adormeceu e ergueu-Se do sono da morte,
porque Deus era o seu protector (S. Ireneu).
 2 Senhor, são tantos os meus inimigos, *
tão numerosos os que se levantam contra mim!
 3 Muitos são os que dizem a meu respeito: *
«Deus não o vai salvar».
 4 Vós, porém, Senhor, sois o meu protector, *
a minha glória e Aquele que me sustenta.
 5 Em altos brados clamei ao Senhor, *
Ele respondeu-me da sua montanha sagrada.
 6 Deito-me e adormeço e me levanto: *
sempre o Senhor me ampara.
 7 Não temo a multidão, *
que de todos os lados me cerca.
DOMINGO I
27
8 Levantai-Vos, Senhor, *
salvai-me, ó meu Deus.
Vós batestes no rosto de todos os meus inimigos, *
quebrastes os dentes dos ímpios.
 9 A salvação vem do Senhor. *
Desça sobre o povo a vossa bênção.
COMENTÁRIO DE SANTO AGOSTINHO
«Em altos brados clamei ao Senhor, não com a voz da
boca, mas com a voz do coração que o homem não ouve,
mas que, para Deus, se eleva como um clamor. Foi com
esta voz que Susana se fez ouvir, e com a mesma voz o
Senhor nos mandou rezar sem ruído, com as portas fe-
chadas, no segredo do coração.
Ninguém diga que se reza menos intensamente, quando
nenhuma palavra nos sai da boca. Nós bem desejamos
orar silenciosamente no nosso coração, mas há pensa-
mentos estranhos que vêm perturbar a nossa prece e nos
impedem de dizer: Com a minha voz clamei ao Senhor. Só
podemos dizer isto com verdade, quando a nossa alma não
mistura à oração nenhum cuidado humano, e fala ao Senhor,
onde só Ele ouve. A esta oração se chama clamor, pela
força da própria intenção».
ORAÇÃO SÁLMICA
Senhor, salvação dos que em Vós esperam, atendei a
prece da vossa Igreja em oração e reconhecei nela a oração
do vosso Filho que em nós prolonga os sofrimentos da sua
paixão, para que também nós possamos ressuscitar com
Ele, que é Deus convosco na unidade do Espírito Santo.
OL Domingo I; Páscoa 6; Bênção 9; Súplica 8.
OFÍCIO DE LEITURA
28
Laudes
Salmo 62 (63), 2-9
SENTIDO INICIAL
Este salmo, que a tradição bíblica diz ser de David,
quando se encontrava no deserto de Judá, tanto pode ser o
cântico de um sacerdote, como de um membro do coro ou
de um rei. Com efeito, ele ultrapassa a alegria de estar
junto de Deus, no seu santuário, dia e noite. Ele é sobretudo
o grito de alma de alguém que desde a aurora procura o
Senhor e tem sede de Deus como terra sequiosa, sem água
(2), que deseja contemplá-l’O no santuário e sentir a sua
graça que vale mais que vida (3-4), que quer bendizê-l’O
e levantar as mãos em seu louvor (5-6). Deus é todo o seu
bem e, por isso, o salmista recorda-O dia e noite e a Ele se
encontra sempre unido (7-9).
SENTIDO ACTUAL
Pelo tom de louvor de muitos dos seus versículos, a
Igreja considera este cântico como o mais fundamental
dos salmos da manhã: Desde a aurora Vos procuro, a
minha alma tem sede de Vós..., assim Vos bendirei toda a
minha vida e em vosso louvor levantarei as mãos..., os
meus lábios hão-de cantar-Vos louvores..., com vozes de
júbilo Vos louvarei.
Jesus, que vivia sempre unido ao Pai e com quem o Pai
estava sempre (Jo 8, 29), muitas vezes, ao romper da
manhã, procurou a solidão para orar (Mc 1, 35) e outras
vezes passou mesmo toda a noite em oração (Lc 6, 12).
A Igreja, Esposa de Cristo, continuamente impelida
pelo Espírito «que sopra onde quer» (Jo 3, 8) e a exemplo
dos seus santos e santas, faz a mesma experiência de oração.
Por isso, logo na primeira hora da manhã, o cristão é
DOMINGO I
29
convidado a rejeitar as obras das trevas e a revestir as armas
da luz, a procurar Deus para contemplar o seu poder e a
sua glória, e a dessedentar-se na água da vida.
Feliz daquele que anseia por Deus como a terra seca
deseja receber a chuva. Um dia será saciado no reino dos
céus, para o qual foi criado. Feliz daquele que tem sede
ardente de Deus desde a hora em que, na manhã do primeiro
dia da semana, Cristo ressuscitou dos mortos.
Salmo 62 (63), Sede de Deus
Criastes-nos para Vós, Senhor,
e o nosso coração não descansa
enquanto não repousar em Vós (S. Agostinho).
 2 Senhor, sois o meu Deus: desde a aurora Vos procuro. *
A minha alma tem sede de Vós.
Por Vós suspiro, *
como terra árida, sequiosa, sem água.
 3 Quero contemplar-Vos no santuário, *
para ver o vosso poder e a vossa glória.
 4 A vossa graça vale mais que a vida: *
por isso os meus lábios hão-de cantar-Vos louvores.
 5 Assim Vos bendirei toda a minha vida *
e em vosso louvor levantarei as mãos.
 6 Serei saciado com saborosos manjares *
e com vozes de júbilo Vos louvarei.
 7 Quando no leito Vos recordo, *
passo a noite a pensar em Vós.
 8 Porque Vos tornastes o meu refúgio, *
exulto à sombra das vossas asas.
 9 Unido a Vós estou, Senhor, *
a vossa mão me serve de amparo.
LAUDES
30
[10 Os que procuram tirar-me a vida
baixarão às profundezas da terra;
11 Serão passados à espada,
feitos presa de chacais.
12 E o rei há-de alegrar-se em Deus,
hão-de congratular-se os que Lhe são fiéis †
quando se fechar a boca aos ímpios.]
COMENTÁRIO DE SANTO AGOSTINHO
«Os salmos que cantamos foram ditados pelo Espírito
Santo e escritos antes de nosso Senhor Jesus Cristo ter
nascido da Virgem Maria, mas profetizam-no a Ele, que
havia de vir muitos anos depois. Na voz de Cristo nós re-
conhecemos a nossa, e na nossa voz Ele reconhece a sua.
Escutemos, portanto, o salmo, e nele ouviremos falar Cristo.
A minha alma tem sede Vós. Eis-nos no deserto. Vede
a sede que tortura o salmista, mas observai como é bom
sentir sede de Deus. Há alguns que têm sede, mas não de
Deus. Aquele que procura possuir alguma coisa, arde de
desejo. O desejo é a sede do coração. Vede quantos de-
sejos atormentam o coração dos homens: o ouro, a prata,
as terras, as honras. Todos esses desejos estão nos nossos
corações de carne. Todos os homens ardem em desejos, e
quase não se encontra um que diga: A minha alma tem
sede de Vós.
A sede devora os homens neste mundo, e eles não com-
preendem que se encontram num deserto onde é de Deus
que a sua alma tem sede. Digamos então nós: A minha
alma tem sede de Vós. Seja este o grito de nós todos,
porque unidos a Cristo fazemos apenas uma alma. Sinta a
nossa alma sede de Deus.
DOMINGO I
31
Não somos cristãos para pedir a felicidade terrena, mas
para possuir outra felicidade, que receberemos quando
tiver desaparecido toda esta vida do mundo. Não vos
pareça inacreditável nada disso. Se Deus nos fez quando
não existíamos, não Lhe será difícil voltar a dar-nos o que
éramos.
Não há estabilidade nas idades da vida. Por toda a
parte há fadiga, em todo o tempo, cansaço, em todo o
lugar, corrupção. Com os olhos fixados na esperança da
ressurreição que Deus nos promete, em meio de todas as
carências que sentimos, cresce em nós a sede da vida in-
corruptível. Assim, de muitas maneiras, a nossa alma tem
sede de Deus.
Neste deserto, quanto mais sofremos mais sede temos,
quanto mais nos fatigamos mais sede temos duma
incorruptibilidade, para além de toda a fadiga».
ORAÇÃO SÁLMICA
Senhor, que nos criastes para Vós, fazei que o nosso
coração passe a noite desta vida a pensar em Vós, e desde
a aurora Vos procure para Vos contemplar no vosso santuário
e ser saciado com saborosos manjares entre cânticos de
louvor da multidão em festa. Por Nosso Senhor.
Laudes Domingo I; Mártires 4; Iniciação Cristã 2; Profissão Religiosa
2; Comunhão 6; Defuntos 2.
LAUDES
32
Cântico Dan 3, 57-88.56
SENTIDO INICIAL
Os três jovens Ananias, Azarias e Misael, por causa da
sua fidelidade a Deus, são metidos num forno em chamas e
miraculosamente guardados incólumes. Cheios de alegria
e «numa só voz louvam e glorificam a Deus» (Dan 3, 51)
com este cântico.
Nele, todas as obras de Deus são convidadas a louvar o
Senhor: as criaturas celestes (57-63), as forças do ar e as
variações dos tempos (64-73), as criaturasterrestres sem
inteligência (74-81), todos os homens, de modo particular
o povo de Israel (82-87) e, por último, os próprios três
jovens Ananias, Azarias e Misael (88).
A parte final do cântico foi organizada pela Igreja, que
lhe acrescentou o versículo: Bendigamos o Pai, o Filho e o
Espírito Santo, e o fez terminar por um dos bendito do
princípio: Bendito sejais, Senhor... a Vós, o louvor e a
glória para sempre (56).
SENTIDO ACTUAL
A cena dos três jovens no forno de Babilónia é uma das
páginas mais célebres do Antigo Testamento. A Igreja
primitiva utilizou-a muito na catequese. Prova disso é a
sua aparição frequente nas pinturas das catacumbas.
A razão há-de procurar-se na identidade de situações
vividas pelos três jovens, que se recusaram a adorar a
estátua do rei de Babilónia, e pelos cristãos que, em tempo
de perseguição, não dobravam o joelho, não queimavam
incenso nem faziam libações à estátua do imperador roma-
no. Num e noutro caso, o desfecho tinha sido e continuava
a ser a condenação à morte.
A catequese que a Igreja queria e quer ensinar é sim-
ples: tal como os jovens israelitas tinham sido protegidos
por Deus, no meio das chamas, assim o vão ser também os
DOMINGO I
33
cristãos, sejam quais forem os tormentos a que possam ser
submetidos. Os três jovens, no meio das chamas, cantavam
numa só voz: Bendito seja Deus; a Igreja, perseguida e
submetida aos sofrimentos do martírio, sentirá a brisa suave
da protecção do Senhor. A garantia disso é a própria vida
de Jesus que, embora perseguido e levado à morte, venceu
a morte, ressuscitou e subiu ao Céu.
Continuamos a precisar da força que nos vem da suges-
tiva cena do livro de Daniel. A memória da ressurreição de
Jesus, que cada manhã de domingo traz até nós, é a melhor
garantia de que nada nem ninguém nos fará mal, pois
estamos nas mãos de Deus, e por isso Lhe cantamos um
hino de louvor com a voz, com a vida e com as obras.
Cântico Dan 3, 57-88.56 O louvor das criaturas
Louvai o Senhor, todos os seus servos (Ap 19, 5).
57 Obras do Senhor, bendizei o Senhor, *
louvai-O e exaltai-O para sempre.
58 Céus, bendizei o Senhor, *
59 Anjos do Senhor, bendizei o Senhor.
60 Águas que estais sobre os céus, bendizei o Senhor, *
61 poderes do Senhor, bendizei o Senhor.
62 Sol e lua, bendizei o Senhor, *
63 estrelas do céu, bendizei o Senhor.
64 Chuvas e orvalhos, bendizei o Senhor, *
65 todos os ventos, bendizei o Senhor.
66 Fogo e calor, bendizei o Senhor, *
67 frio e geada, bendizei o Senhor.
68 Orvalhos e gelos, bendizei o Senhor, *
69 frios e aragens, bendizei o Senhor.
70 Gelos e neves, bendizei o Senhor, *
71 noites e dias, bendizei o Senhor.
72 Luz e trevas, bendizei o Senhor, *
73 relâmpagos e nuvens, bendizei o Senhor.
LAUDES
34
74 Bendiga a terra o Senhor, *
louve-O e exalte-O para sempre.
75 Montes e colinas, bendizei o Senhor, *
76 tudo o que germina na terra bendiga o Senhor.
77 Fontes, bendizei o Senhor, *
78 mares e rios, bendizei o Senhor.
79 Monstros e animais marinhos, bendizei o Senhor, *
80 aves do céu, bendizei o Senhor.
81 Animais e rebanhos, bendizei o Senhor, *
82 homens, bendizei o Senhor.
83 Bendiga Israel o Senhor, *
louve-O e exalte-O para sempre.
84 Sacerdotes do Senhor, bendizei o Senhor, *
85 servos do Senhor, bendizei o Senhor.
86 Espíritos e almas dos justos, bendizei o Senhor, *
87 santos e humildes de coração, bendizei o Senhor.
88 Ananias, Azarias. Misael, bendizei o Senhor, *
louvai-O e exaltai-O para sempre.
Bendigamos o Pai, o Filho e o Espírito Santo; *
louvemo-l’O e exaltemo-l’O para sempre.
56 Bendito sejais, Senhor, no firmamento dos céus, *
a Vós o louvor e a glória para sempre.
COMENTÁRIO DE SANTO AGOSTINHO
«Louvem-Vos, Senhor, todas as vossas obras. Mas
como hão-de louvar-Vos se não têm voz para o fazer? Os
três jovens que caminhavam entre as chamas sem se
queimarem, e que tiveram tempo para louvar a Deus,
enumeraram todos os seres da criação, desde os do céu até
aos da terra, e a todos disseram: Bendizei o Senhor, lou-
vai-O e exaltai-O para sempre. Vede como cantam hinos
de louvor.
Deus criou e organizou todas as coisas. Este ordena-
mento formosíssimo, subindo do mais pequeno ao maior e
baixando do mais elevado ao mais inferior, nunca inter-
rompido, mas adaptado a seres tão diversos, todo ele louva
DOMINGO I
35
o Senhor. Porque louva o Senhor? Porque quando vês e
contemplas a beleza das suas obras, por elas louvas ao teu
Deus.
A terra muda tem um certa voz, tem rosto. Tu olhas e
vês a sua face, a sua superfície, vês a sua fecundidade e a
sua força, vês como a semente aí germina e como até,
muitas vezes, faz brotar o que nela não foi semeado. Vês
isto, e com a tua inteligência interrogas a terra, uma vez
que a tua forma de investigar é uma interrogação.
Pois bem: quando, admirado, tiveres investigado, apro-
fundado e encontrado o vigor imenso, a grande beleza, o
excelso poder, que não pode provir das coisas criadas nem
da sua força, no mesmo instante lembrar-te-ás que a terra
só pode mostrá-lo por tê-lo recebido do próprio Criador.
O que nela encontraste é a voz do seu louvor para que
louves tu ao Criador. Por ventura, ao veres toda a beleza
desta terra, não te responde ela a uma só voz: “Não fui eu
que me fiz, mas Deus”?
Examinem os vossos santos a criatura que Vos louva,
para que no louvor das vossas obras Vos bendigam. Ouvi a
sua voz que louva. Que dizem os vossos santos quando
Vos louvam? Como é poderoso o Senhor que fez a terra e
a encheu de bens, que lhe entregou as sementes diversas
para que produzissem tão grande variedade de frutos.
Como Deus é poderoso, como Deus é grande. Pergunta e a
criatura responder-te-á. E pela sua resposta, que é o seu
louvor, tu, o santo de Deus, bendirás ao Senhor e pro-
clamarás o seu poder».
ORAÇÃO
Deus eterno e omnipotente, aceitai o louvor das
criaturas que pelos nossos lábios chega até Vós, e assim
como livrastes os três jovens dos tormentos das chamas,
fazei que o vosso povo seja defendido de todos os perigos
e não cesse de cantar a vossa glória. Por Nosso Senhor.
Laudes Domingo I e III.
LAUDES
36
Salmo 149
SENTIDO INICIAL
O motivo do louvor deste hino é a vitória que o Senhor
concede aos oprimidos.
O salmo começa por um convite, dirigido pelo salmista
a Israel, para que cante ao Senhor um cântico novo (1) e se
alegre em Deus que o criou e o governa como seu rei (2), o
ama e lhe dá a vitória (3-4). Não se trata, porém, de os
fiéis se limitarem a cantar hinos jubilosos em suas casas
mas também de se prepararem para a luta (5-6), na qual o
próprio Senhor Se quer servir deles para castigar as na-
ções e os povos, os reis e os nobres que cometem in-
justiças contra os humildes (7-9).
SENTIDO ACTUAL
O povo da nova aliança canta ao Senhor um cântico
novo, com este poema que a Igreja antiga cantava diaria-
mente e ao qual chamava laudes, ou seja louvores.
Nele se exprime a alegria dos santos, dos “filhos da
Igreja, novo povo de Deus, que se alegram em seu Rei,
Cristo Jesus» (Hesíquio). Eles sentem-se solidários dos
oprimidos, face aos povos e nações, aos reis e aos nobres,
e reconhecem o Senhor como seu Criador e seu Rei.
Entretanto, a sua espiritualidade combativa já ultra-
passou aquela que este salmo lhes apresenta, porque
aprenderam de Cristo que Ele recusa tanto as legiões de
anjos como a espada de Pedro, não aceita uma violência
justa contra uma injusta, nem quer responder à espada com
a espada. A sua vitória é diferente.
Ressuscitados com Cristo, revestidos da sua vitória,
vencedores com Ele do mal e da morte pela espada de dois
gumes que é a Palavra de Deus, nós, os seus fiéis,
exultamos de alegria pela vitória pascal do domingo, e re-
cebemos a sua glória de povo de reis, assembleia santa,
povo sacerdotal.
DOMINGO I
37
Salmo 149 A alegria dos santos
Os filhos da Igreja, novo povo de Deus,
alegrem-se em seu Rei, Cristo Jesus (Hesíquio).
 1 [Aleluia]
Cantai ao Senhor um cântico novo, *
cantai ao Senhor na assembleia dos santos.
 2 Alegre-se Israel em seu Criador, *
rejubilem os filhosde Sião em seu rei.
 3 Louvem o seu nome com danças, *
cantem ao som do tímpano e da cítara,
 4 porque o Senhor ama o seu povo, *
coroa os humildes com a vitória.
 5 Exultem de alegria os fiéis, *
cantem jubilosos em suas casas;
 6 em sua boca os louvores de Deus, *
em sua mão a espada de dois gumes:
 7 para tirar vingança das nações *
e aplicar o castigo aos povos,
 8 para ligar os seus reis com cadeias *
e os nobres com algemas,
 9 para executar neles a sentença escrita. *
Esta é a glória de todos os seus fiéis.
[Aleluia]
COMENTÁRIO DE SANTO AGOSTINHO
«Louvemos o Senhor com a palavra, com o pensamento
e com as boas obras, e cantemos-Lhe, como nos exorta
este salmo, um cântico novo, pois assim começa: Cantai
ao Senhor um cântico novo. O homem velho canta um cân-
tico velho; o novo, um cântico novo. O Antigo Testamento
canta um cântico velho; o Novo Testamento, um cântico
novo. Todo o que ama as coisas terrenas canta o cântico
LAUDES
38
velho. Quem quiser cantar o cântico novo, ame os bens
eternos. O próprio amor é novo e eterno; é sempre novo,
porque não envelhece. Cristo é a vida eterna. Ele é eterno
com o Pai. Nós, quando caímos no pecado, tornamo-nos
velhos. O homem tornou-se velho pelo pecado, mas foi
renovado pela graça. Todos os que se renovam em Cristo
para começarem a pertencer à vida eterna, cantam o cântico
novo.
Este cântico é também o cântico da paz, o cântico do
amor. Todo o que se afasta da união dos santos, não canta
o cântico novo. Seguiu os velhos rancores, e não a caridade
que é nova. Que contém esta caridade? A paz, o vínculo
duma sociedade santa, a harmonia espiritual, o edifício de
pedra vivas. E onde está tudo isto? Não está num lugar
determinado, mas por toda a terra. Diz assim outro salmo:
Cantai ao Senhor um cântico novo, cantai ao Senhor, terra
inteira.
Daqui se conclui que aquele que não canta com a terra
inteira, canta o cântico velho, sejam quais forem as pala-
vras que os seus lábios profiram. Porque hei-de prestar
atenção ao que ele canta, se vejo o que ele pensa? E tu
perguntas-me: vês o que ele pensa? Os factos o indicam,
pois os olhos não penetram na consciência. Presto atenção
ao que ele faz, e assim percebo o que ele pensa. Há certas
coisas que ficam escondidas no interior; mas muitas são as
que aparecem nas obras e se tornam manifestas mesmo aos
homens. Daí a palavra: Pelos seus frutos os conhecereis.
Quem não canta com a terra inteira o cântico novo,
diga o que disser, ressoe embora em sua boca o Aleluia,
todo o dia e toda a noite, não me preocuparei muito com o
que canta o cantor, mas interrogarei os seus costumes e a
sua vida. Perguntar-lhe-ei: que cantas tu? Ele respon-
der-me-á: o Aleluia. O que é o Aleluia? Louvai ao Senhor.
Vem até aqui, louvemos juntos ao Senhor. Se tu louvas ao
Senhor e eu também O louvo, porque estamos em dis-
córdia? Só a caridade louva o Senhor».
DOMINGO I
39
ORAÇÃO SÁLMICA
Bendito sejais, Senhor, pela alegria dos filhos da
Igreja, que celebram com um cântico novo, na assembleia
dos santos, a obra da criação e a vitória da ressurreição.
Por Nosso Senhor.
Laudes Domingo I; Natal e Páscoa 4;
Igreja 2.4; Santos 5.
Hora Intermédia
Salmo 117 (118)
SENTIDO INICIAL
O salmo 117, o último do Hallel, é a evocação de uma
vitória. Essa evocação tem lugar numa solene liturgia de
acção de graças, na qual intervêm três figuras centrais: o
rei, a multidão e os cantores.
I O salmista, que é o próprio rei, começa por
dirigir um convite a Israel a dar graças ao Senhor porque
Ele é bom (1-4) e por dizer como, no meio da tribulação,
ele invocou a Deus com toda a confiança e foi salvo, pelo
que mais vale refugiar-se no Senhor do que fiar-se nos
homens (5-9).
II A seguir descreve pormenorizadamente os ata-
ques que os adversários lhe dirigiram de todos os lados,
cercando-o como vespas e empurrando-o para cair, e
como o Senhor o amparou, por ser a sua fortaleza e o seu
Salvador (10-14), e o livrou, não o deixando morrer (15-18).
HORA INTERMÉDIA
40
III Por fim, pede aos sacerdotes que lhe abram as
portas do templo para aí dar graças ao Senhor (19-20),
diz a Deus os motivos do seu cântico (21-24) e, já no inte-
rior da casa de Deus, pede-Lhe que salve os seus servos e
lhes dê a vitória (25-27), repetindo o versículo inicial
(28-29).
SENTIDO ACTUAL
Para os cristãos, a luta que se descreve neste salmo
evoca o mistério pascal de Jesus, desde a paixão dolorosa
até ao triunfo da ressurreição. Somos convidados a fazer
dele, neste domingo, uma oração contemplativa do triunfo
pascal e a dar graças ao Senhor porque é eterna a sua
misericórdia, na Hora em que Cristo foi levantado na cruz
para realizar a sua obra redentora.
Abandonado, sozinho, rodeado de inimigos no dia da
sua paixão, Jesus teve a seu lado o Pai, cuja mão fez pro-
dígios em favor do seu Filho, ressuscitando-O e fazendo
d’Ele a pedra angular da Igreja.
Do mesmo modo que o salmista convida Israel a dar
graças ao Senhor, porque Ele é bom, assim a Igreja, res-
suscitada com Cristo, O aclama como seu Senhor e Lhe
canta a sua acção de graças no dia da ressurreição.
Salmo 117 (118) Cântico de triunfo
Cristo é a pedra rejeitada pelos construtores,
que veio a tornar-se pedra angular (Actos 4, 11).
I
 1 [Aleluia]
Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, *
porque é eterna a sua misericórdia.
DOMINGO I
41
 2 Diga a casa de Israel: *
é eterna a sua misericórdia.
 3 Diga a casa de Aarão: *
é eterna a sua misericórdia.
 4 Digam os que temem o Senhor: *
é eterna a sua misericórdia.
 5 Na tribulação invoquei o Senhor: *
Ele ouviu-me e pôs-me a salvo.
 6 O Senhor é por mim, nada temo: *
que poderão fazer-me os homens?
 7 O Senhor está comigo e ajuda-me: *
não olharei aos meus inimigos.
 8 Mais vale refugiar-se no Senhor *
do que fiar-se nos homens,
 9 Mais vale refugiar-se no Senhor *
do que fiar-se nos poderosos.
II
10 Cercaram-me todos os povos *
e aniquilei-os em nome do Senhor.
11 Rodearam-me e cercaram-me *
e em nome do Senhor os aniquilei.
12 Cercaram-me como vespas, †
crepitavam como fogo em silvas *
e aniquilei-os em nome do Senhor.
13 Empurraram-me para cair, *
mas o Senhor me amparou.
14 O Senhor é a minha fortaleza e a minha glória, *
foi Ele o meu Salvador.
15 Gritos de júbilo e de vitória *
nas tendas dos justos:
16 A mão do Senhor fez prodígios, *
a mão do Senhor foi magnífica, †
a mão do Senhor fez prodígios.
HORA INTERMÉDIA
42
17 Não morrerei, mas hei-de viver, *
para anunciar as obras do Senhor.
18 Com dureza me castigou o Senhor, *
mas não me deixou morrer.
III
19 Abri-me as portas da justiça: *
entrarei para dar graças ao Senhor.
20 Esta é a porta do Senhor: *
os justos entrarão por ela.
21 Eu Vos darei graças porque me ouvistes *
e fostes o meu Salvador.
22 A pedra que os construtores rejeitaram *
tornou-se pedra angular.
23 Tudo isto veio do Senhor: *
é admirável aos nossos olhos.
24 Este é o dia que o Senhor fez: *
exultemos e cantemos de alegria.
25 Senhor, salvai os vossos servos, *
Senhor, dai-nos a vitória.
26 Bendito o que vem em nome do Senhor, *
da casa do Senhor nós vos bendizemos.
27 O Senhor é Deus *
e fez brilhar sobre nós a sua luz.
Ordenai o cortejo solene com ramagens frondosas, *
até ao ângulo do altar.
28 Vós sois o meu Deus: eu Vos darei graças. *
Vós sois o meu Deus: eu Vos exaltarei.
29 Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, *
porque é eterna a sua misericórdia.
DOMINGO I
43
COMENTÁRIO DE SANTO AGOSTINHO
«Ouvimos, irmãos, como o Espírito Santo nos convida
e exorta a oferecer a Deus um sacrifício de louvor. Não se
pode exprimir com mais brevidade o louvor de Deus do
que dizendo porque Ele é bom. Nada há melhor do que
esse louvor. Digamos que o Senhor é bom, não apenas
com o som das palavras, mas pelo amor que nos une a Ele.
O nosso amor seja a nossa voz.
O salmo começa e termina com as palavras dai graças
ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterna a sua
misericórdia, por não haver nada mais agradável do que o
louvor de Deus e o Aleluia eterno.
Cantámos a Deus:Este é o dia que o Senhor fez. Di-
gamos acerca dele o que o Senhor nos der a conhecer. A
Escritura profética quis ensinar-nos aqui alguma coisa.
Não se trata de um dia vulgar, perceptível aos olhos do
corpo, nem do dia que tem nascimento e ocaso, mas
daquele dia que pode ter conhecido o seu princípio, mas
desconhece o seu fim.
O salmista já dissera antes: A pedra que os constru-
tores rejeitaram tornou-se pedra angular. Tudo isto veio
do Senhor: é admirável aos nossos olhos. E continua:
Este é o dia que o Senhor fez. Associemos o começo deste
dia à pedra angular.
Quem é a pedra angular que os construtores rejeitaram
senão Cristo o Senhor, que os doutores dos judeus rejei-
taram? Como se tornou pedra angular? Porque se chama a
Cristo pedra angular? Porque todo o ângulo une em si
duas paredes de direcção contrária. Os apóstolos vieram
do povo judeu, e desse mesmo povo veio também aquela
multidão que ia adiante e atrás do jumento, acompanhando
Jesus, e dizendo as palavras que aparecem neste salmo:
Bendito o que vem em nome do Senhor.
Desse povo vieram muitas igrejas das quais diz o Após-
tolo: Eu não era pessoalmente conhecido das igrejas de
Cristo que estão na Judeia. Apenas tinha ouvido dizer:
‘Aquele que nos perseguia outrora, anuncia agora o
HORA INTERMÉDIA
44
Evangelho, a fé que então devastava’. E por causa de
mim, glorificavam a Deus. Eram judeus, mas tinham
aderido a Cristo como os apóstolos. Tendo-se aproximado
e acreditado em Cristo, formavam uma parede.
Faltava outra parede: a Igreja procedente dos gentios.
Já se encontraram: paz em Cristo, unidade em Cristo, que
fez das duas uma só realidade. Este é o dia que o Senhor
fez. Considera o dia na sua totalidade: cabeça e corpo. A
cabeça é Cristo, o corpo é a Igreja. Este é o dia que o
Senhor fez».
ORAÇÃO SÁLMICA
Deus eterno e misericordioso, que atendestes a súplica
do vosso Filho e fostes o seu Salvador, fazei brilhar sobre
nós a luz da sua ressurreição, para exultarmos e cantarmos
de alegria neste dia que o Senhor fez. Por Nosso Senhor.
Laudes Domingo II, IV; HI Domingos I, III;
Advento; Epifania; Ramos 26; Vigília Pascal;
Páscoa 1. 17. 21. 22. 24; Santa Cruz 1; Eucaristia 26.
DOMINGO I
45
Vésperas II
Salmo 109 (110), 1-5.7
SENTIDO INICIAL
Sem nunca o nomear, este salmo dirige-se provavel-
mente ao rei David, quando, por volta do ano mil, ele se
apoderou da cidade de Jerusalém e dela fez a capital do
seu reino. As tradições judaica e cristã viram, no herói que
nele aparece, a figura do Messias, rei e sacerdote.
O salmista prediz a dignidade do ungido do Senhor e a
sua origem divina: Disse o Senhor ao meu Senhor: Senta-te
à minha direita, porque antes da aurora, como orvalho,
Eu te gerei (1-3); a seguir descreve o seu sacerdócio eterno
- Tu és sacerdote para sempre (4) - e a vitória que Ele
alcançou sobre todos os inimigos (5-7).
SENTIDO ACTUAL
Jesus disse que este salmo falava de Si próprio, e rea-
lizou tudo o que nele se anuncia. Ele é o descendente de
David, gerado por Deus como orvalho antes da aurora.
Rei desde o dia em que nasceu, o Pai deu-Lhe um sacer-
dócio eterno e revestiu-O de todo o poder até à vitória
total sobre o príncipe deste mundo. Tornado Senhor pela
ressurreição, ouviu o Pai dizer-Lhe: Senta-te à minha
direita. Ele bebeu da torrente do sofrimento, mas ergueu
a sua fronte, levantou-Se do túmulo e, pelo abaixamento a
que Se submeteu, foi elevado ao mais alto dos céus, na
ascensão, e tornou-Se, para todos os que n’Ele acreditam,
fonte de água viva a jorrar para a eternidade.
No dia de Pentecostes, Pedro proclama que, ao ressus-
citar Jesus, Deus O fez Senhor, realizando, assim, o pri-
meiro versículo deste salmo: Disse o Senhor ao meu Senhor:
“Senta-te à minha direita” (Act 2, 34-36), e o mesmo diz
VÉSPERAS II
46
Paulo na Carta aos Efésios: «Deus ressuscitou Cristo dos
mortos e sentou-O à sua direita nos altos Céus» (Ef 1, 20),
para depois tirar a conclusão relativamente a todos os bap-
tizados: «Portanto, já que fostes ressuscitados com Cristo,
procurai as coisas do alto, onde está Cristo, sentado à
direita de Deus» (Col 3, 1).
Na nossa boca, este salmo é um hino de vitória e de
acção de graças a Jesus Cristo, na tarde de cada domingo.
Ao fazer-nos contemplar o triunfo do Ressuscitado, ele
torna mais firme a esperança que temos de participar nessa
mesma glória. Como Cristo, também a Igreja tem inimigos
poderosos. Mas ela escuta a voz do Senhor que lhe diz:
farei de teus inimigos escabelo de teus pés. Esses inimigos
são o pecado e a morte, dos quais Deus nos fez triunfar
«pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, para
uma esperança viva» (1 Pe 1, 3).
Salmo 109 (110) O Messias, rei e sacerdote
É necessário que Ele reine,
até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés
(1 Cor 15, 25).
 1 Disse o Senhor ao meu Senhor: «Senta-te à minha direita, *
até que Eu faça de teus inimigos escabelo de teus pés».
 2 O Senhor estenderá de Sião o ceptro do teu poder *
e tu dominarás no meio dos teus inimigos.
 3 «A ti pertence a realeza desde o dia em que nasceste †
nos esplendores da santidade: *
antes da aurora, como orvalho, Eu te gerei».
 4 O Senhor jurou e não Se arrependerá: *
«Tu és sacerdote para sempre, †
segundo a ordem de Melquisedec».
 5 O Senhor, à tua direita, *
esmagará os reis no dia da sua ira,
DOMINGO I
47
[6 Julgará as nações, amontoará cadáveres,
esmagará cabeças pela vastidão da terra.]
 7 A caminho beberá da torrente; *
por isso, erguerá a sua fronte.
COMENTÁRIO DE SANTO AGOSTINHO
«O Senhor, que nos fez ministros da sua palavra e do
sacramento, nos ajude na exposição deste salmo que
acabamos de cantar, que é breve quanto ao número de pa-
lavras, mas grande pela profundidade das afirmações.
Nele se anuncia a Cristo, porque, quando nosso Senhor e
Salvador perguntou aos judeus de quem era Filho o
Messias, tendo-lhes eles respondido: De David, logo lhes
replicou: Então como é que David lhe chama Senhor, ao
dizer: Disse o Senhor ao meu Senhor?
Não nos envergonhemos do Filho de David, para que o
Senhor de David não se envergonhe de nós. Com este
nome o chamaram os cegos e mereceram recuperar a vista.
Reconheçamos e confessemos nós também o Filho de
David, para merecermos ser iluminados. Lembra-te, ó
cristão, que Jesus Cristo, descendente de David, res-
suscitou de entre os mortos e está à direita do Pai.
Vamos ver quem bebe da torrente no caminho. E em
primeiro lugar, que significa esta torrente? É a imagem da
vida humana que corre. Assim como a torrente se forma
das águas e da chuva abundante, e inunda, faz barulho,
corre e correndo desliza até completar o seu curso, assim
acontece com esta torrente de tudo o que é mortal.
O homem nasce, vive e morre. Quando uns morrem,
nascem outros, e ao desaparecerem estes surgem outros
ainda: seguem-nos, aparecem, vão-se embora, ninguém
permanece. O que é que resiste? O que é que não corre
como as águas da chuva, em direcção ao abismo?
VÉSPERAS II
48
Como um rio, formado por uma chuva inesperada e pelas
gotas do orvalho, se lança no mar e não aparece mais – e
não existia antes da tempestade – o homem forma-se no
segredo de Deus, depois esgota-se e entra no mistério da
morte. Entre dois silêncios, um murmúrio, e ele passa.
Cristo veio beber nesta torrente, não recusou beber
desta água. Beber nesta torrente era, para Ele, nascer e
morrer. Nascimento e morte, eis a torrente. Cristo su-
portou-a: nasceu, morreu. No caminho bebeu da torrente.
E porque Ele bebeu da água da torrente, ergueu a sua
fronte. Por outras palavras, na sua humildade obedeceu
até à morte e morte de cruz. Por isso, Deus O exaltou e
Lhe deu o nome que está acima de todos os nomes, para
que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra e
nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é
o Senhor para glória de Deus Pai».
ORAÇÃO SÁLMICA
Deus eterno e omnipotente, que fizestes sentar o vosso
Filho à vossa direita e Lhe submetestes todas as coisas
para glória do vosso Reino, concedei-nos a graça de Vosoferecer o sacrifício imaculado do vosso Filho e nosso
Sumo Sacerdote para sempre. Ele que é Deus convosco, na
unidade do Espírito Santo.
Vésperas II Domingo I, II, III, IV; Natal 3;
Ressurreição 2; Corpo de Cristo 4;
Comum dos Pastores 4; Ministério Acólitos;
Sagradas Ordens; Sacerdócio de Cristo 4.
DOMINGO I
49
Salmo 113 A (114)
SENTIDO INICIAL
Em poucos versículos, mas de maneira viva, este hino
pascal descreve, num estilo festivo, como Israel se tornou
o povo de Deus ao sair do Egipto (1-2), como o mar e o
Jordão se abriram para o deixar passar, e os montes e as
colinas exultaram de alegria (3-4), o que leva o salmista,
admirado, a interrogar a natureza, isto é, o Mar Vermelho,
o rio Jordão, os montes e as colinas, perguntando-lhes a
razão do seu proceder (5-6), e a recordar outros prodígios
do Senhor no deserto ao transformar, em Meribá, o
rochedo em lago e a pedra em fonte de água (7-8).
Na liturgia judaica, este salmo é cantado na oitava da
Páscoa, justamente por causa do tema da água e da pas-
sagem do cativeiro para a liberdade.
SENTIDO ACTUAL
Salmo da passagem de Deus pela história dos homens,
foi cantado por Jesus durante a última Ceia, na qual fez do
seu corpo ressuscitado o novo santuário do Senhor e de
nós um povo que tem sede da água viva do Espírito.
A saída de Israel do Egipto, que este salmo canta, foi
sempre interpretada, pela tradição cristã, como profecia
da nossa passagem do paganismo para a fé, a terra da liber-
dade, através da água do novo nascimento. O novo Israel
que saiu do Egipto e se afastou do povo estrangeiro é a
Igreja, que vai atravessando o deserto deste mundo, sus-
tentada pela força do mistério pascal de Cristo que, pouco
a pouco, a vai tornando santuário do Senhor e seu domínio.
Ao rezá-lo neste dia e nesta hora, a liturgia convida-nos
a cantar o dom inestimável de Deus que é o baptismo. Ao
mesmo tempo, leva-nos a tomar consciência da nossa pe-
regrinação para a liberdade definitiva, e a reconhecer que
é muito maior prodígio fazer jorrar o rio de água viva que
VÉSPERAS II
50
corre para a vida eterna, do que abrir em dois o Mar
Vermelho ou fazer o Jordão voltar atrás.
Cantar este salmo ao cair da tarde de Domingo é evocar
a libertação do cativeiro do pecado e a peregrinação, no
seguimento de Cristo, a caminho da pátria celeste.
Salmo 113 A (114) Israel liberta-se do Egipto:
as maravilhas do êxodo
Sabei que também vós, que renunciastes a este mundo,
saístes do Egipto (S. Agostinho).
 1 [Aleluia]
Quando Israel saiu do Egipto, *
quando a casa de Jacob se afastou do povo estrangeiro,
 2 Judá tornou-se o santuário do Senhor *
e Israel o seu domínio.
 3 O mar viu e recuou, *
o Jordão voltou atrás,
 4 os montes saltaram como carneiros, *
como cordeiros as colinas.
 5 Que tens, ó mar, para assim fugires, *
e tu, Jordão, para voltares atrás?
 6 Montes, porque saltais como carneiros, *
e vós, colinas, como cordeiros?
 7 Treme, ó terra, diante do Senhor, *
diante do Deus de Jacob,
 8 que transformou o rochedo em lago *
e a pedra em fonte de água.
COMENTÁRIO DE SANTO AGOSTINHO
«Nós lemos e sabemos muito bem, caríssimos irmãos,
o que conta o livro do Êxodo: o povo de Israel foi libertado
por Deus da iníqua dominação egípcia, atravessou o mar a
DOMINGO I
51
pé enxuto, e as águas do Jordão, por sua vez, retiraram-se,
para deixar passar os sacerdotes, que levavam a arca do
Senhor.
O Espírito Santo lembra-nos o passado, a fim de nos
transportar ao futuro. E assim, ao ouvirmos cantar quando
Israel saiu do Egipto, não é tanto o passado mas o futuro
que o salmista canta. Os milagres que se realizavam no
presente tinham uma significação profética para o futuro.
Vejamos, pois, qual a lição a tirar destes acontecimentos.
Estes factos são figuras proféticas, estas palavras ensi-
nam-nos a reconhecermo-nos nelas. Se soubermos guardar
firmemente a graça que nos foi dada, somos o verdadeiro
Israel, a posteridade de Abraão. É a nós que o Apóstolo
diz: Sois descendência de Abraão. Nós estamos unidos, na
pedra angular, àqueles filhos de Israel que abraçaram a fé
em primeiro lugar, os apóstolos.
Pois bem, caríssimos, vós sabeis que sois os verda-
deiros filhos de Abraão, a casa de Jacob, os herdeiros da
promessa. Vós sabeis que deixastes o Egipto ao renunciar
a este mundo, e que não é na vossa língua bárbara, que não
sabe louvar a Deus, que cantais Aleluia.
Interrogai, pois, o vosso coração, e vede se a fé o cir-
cuncidou, se a confissão o purificou. Em vós, o povo judeu
foi consagrado a Deus, em vós reside o seu poder sobre
Israel, porque Ele vos deu o poder de vos tornardes filhos
de Deus».
ORAÇÃO SÁLMICA
Senhor, que nos libertastes do pecado mediante as
águas do Baptismo, e em Cristo nos tornastes o vosso
santuário, fazei que renunciemos a este mundo, para al-
cançarmos a pátria celeste no mundo novo que há-de vir.
Por Nosso Senhor.
Vésperas II Domingo I;
Páscoa e Baptismo 7.
VÉSPERAS II
52
Nos domingos da Quaresma:
Cântico 1 Pedro 2, 21-24
SENTIDO INICIAL
Ao inserir este hino na sua Carta, São Pedro, que aca-
bava de exortar os cristãos a viver como peregrinos neste
mundo e a ter «entre os gentios um comportamento digno»
(1 Pe 2, 11-12), tinha em vista levantar a coragem dos es-
cravos cristãos, algumas vezes tratados com justiça por
senhores bons e compreensivos, outras, porém, vítimas de
grandes injustiças de senhores muito severos e até cruéis.
É nesse contexto que o apóstolo lembra o exemplo de
Cristo, para que sigamos os seus passos (21), pois não
tendo Ele cometido pecado algum, não insultava quando
O acusavam de ser pecador, nem respondia com ameaças
quando era maltratado, mas entregava-Se nas mãos do
Pai, o único que julga com justiça (22-23), indo até ao
ponto de suportar os nossos pecados no seu corpo, e cu-
rando-nos pelas suas chagas (24).
SENTIDO ACTUAL
«Se alguém quer vir após Mim, negue-se a si mesmo,
tome a sua cruz, dia após dia, e siga-Me» (Lc 9, 23).
O cristão diz, com realismo, que a cruz não é um bem.
Por isso não a procura. Ao contrário, unido a Cristo, até
pede ao Pai que, se é possível, a afaste dele. Mas também
não foge dela quando se lhe apresenta. Abraça-a com de-
cisão e serenidade, leva-a com coragem, e confia na miste-
riosa fecundidade da sua atitude, sabendo que a cruz não é
um fracasso. Se assim fosse, Jesus não a teria aceite nem
nos diria para O seguirmos por esse caminho. Para quem
põe a sua confiança em Deus e espera os bens celestes, a
DOMINGO I
53
cruz não é a última palavra da vida. Essa palavra é a do
amor com que a levamos.
O homem de fé aceita-se como pessoa pobre e limitada.
Confia-se totalmente a Deus. Imita Jesus Cristo e sente-O
perto de si. Ao abraçar a cruz, sabe que abraça o Cru-
cificado. Unido a Ele, torna-se sinal da sua presença e ins-
trumento de salvação para os outros: «Alegro-me nos
sofrimentos que suporto por vós e completo na minha
carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu corpo,
que é a Igreja» (Col 1, 24).
Ninguém aprende estas coisas apenas por si mesmo.
Temos de ser ensinados pelo Espírito Santo. Ele diz-nos
que a resposta ao escândalo da cruz, é a paciência cheia de
esperança. Quando o Espírito leva alguém a descobrir o
mistério da cruz, esse homem ou essa mulher aprendem a
estar «sempre alegres» mesmo no sofrimento que ela traz
consigo (2 Cor 6, 10).
Cântico 1 Pedro 2, 21-24 Paixão voluntária de Cristo,
Servo de Deus
21 Cristo sofreu por nós, *
deixando-nos o exemplo †
para que sigamos os seus passos.
22 Ele não cometeu pecado algum *
e na sua boca não se encontrou mentira.
23 Insultado, não pagava com injúrias, †
maltratado, não respondia com ameaças. *
Mas entregava-Se Àquele que julga com justiça.
24 Suportou os nossos pecados no seu Corpo *
sobre o madeiro da Cruz,
a fim de que mortos para o pecado, †
vivamos para a justiça. *
Pelas suas chagas fomos curados.
VÉSPERAS II
54
COMENTÁRIO DE SANTO AGOSTINHO
«Irmãos, se amamos a verdade imitemos a Cristo. A
melhor prova que podemos dar do nosso amor é imitar o
seu exemplo.Na verdade, Cristo sofreu por nós, dei-
xando-nos o exemplo para que sigamos os seus passos.
Estas palavras do apóstolo São Pedro parecem dar a
entender que Cristo só sofreu por aqueles que seguem os
seus passos, e que a paixão de Cristo de nada aproveita
senão àqueles que O seguem. Seguiram-n’O os santos
mártires até ao derramamento do sangue, à semelhança da
sua paixão. Seguiram-n’O os mártires, mas não só eles.
Não foi cortada a ponte depois de eles terem passado; não
secou a fonte depois de eles terem bebido.
Qual é a esperança daqueles que seguiram a Cristo,
como nós, mas não derramaram por Ele o sangue? Há-de
perder a Igreja, nossa Mãe, os filhos que gerou quando go-
zava de mais perfeita paz? Ninguém, irmãos caríssimos,
deve menosprezar a sua vocação. Cristo sofreu por todos.
Com toda a verdade está escrito a este propósito: Deus
quer que todos os homens se salvem e cheguem ao conhe-
cimento da verdade».
ORAÇÃO
Senhor nosso Deus, fazei-nos seguir os passos do vosso
Filho e imitar os exemplos da sua paixão, a fim de que,
fugindo agora de todo o mal e de toda a mentira e amando
os nossos inimigos como Ele amou, possamos um dia en-
tregar o nosso espírito em vossas mãos como Ele entregou.
Por Nosso Senhor.
Vésperas II Domingos da Quaresma.
DOMINGO I
55
Cântico cf. Ap 19, 1-2. 5-7
SENTIDO INICIAL
O cântico com que terminamos a Hora de Vésperas, é
uma aclamação a Deus, Senhor vitorioso e justo nos seus
julgamentos (1), a quem todos os seus servos, pequenos e
grandes devem louvar (5), e a Cristo, Cordeiro de Deus,
para quem chegou o tempo das núpcias com a Igreja,
Esposa que já está preparada (7).
Estas aclamações, tiradas do Apocalipse, fazem parte
da contemplação profética da destruição de Roma, a nova
Babilónia, perseguidora dos mártires e figura do mal,
vencido por Cristo.
SENTIDO ACTUAL
Os membros do novo povo de Deus, a caminho do
reino, cantam na terra, ao Senhor que os libertou, o hino de
louvor e exaltação que hão-de cantar eternamente na pátria
celeste. Eles antecipam o seu cântico futuro porque não
estão só à espera desse dia. Já vivem nele, porque a sua
vitória e a de toda a comunidade foi inaugurada pela res-
surreição de Jesus Cristo.
O nosso cântico desta tarde, não é só por causa das coi-
sas que hão-de vir, mas também por aquilo que já se reali-
zou. Com ele, cantamos a salvação que nos foi trazida
pelo Cordeiro, e que a sua Esposa, a Igreja, torna presente
no mundo de cada tempo. Com ele participamos também
da adoração em espírito e verdade que será a nossa
ocupação eterna, quando cantarmos, na pátria definitiva:
O Senhor Deus omnipotente reina em toda a terra.
Exultemos de alegria e dêmos glória ao seu nome.
VÉSPERAS II
56
Cântico Cf. Ap 19, 1-2.5-7 As núpcias do Cordeiro
 1 Aleluia.
A salvação, a glória e o poder ao nosso Deus, *
(R.Aleluia.)
 2 porque são verdadeiros e justos os seus julgamentos.
R. Aleluia (Aleluia).
Aleluia.
 5 Louvai o Senhor nosso Deus, todos os seus servos, *
(R.Aleluia.)
e vós todos os que O temeis, pequenos e grandes.
R. Aleluia (Aleluia).
Aleluia.
 6 O Senhor Deus omnipotente reina em toda a terra: *
(R.Aleluia.)
 7 Exultemos de alegria e dêmos glória ao seu nome.
R. Aleluia (Aleluia).
Aleluia.
Chegaram as núpcias do Cordeiro *
(R.Aleluia.)
e a sua Esposa está preparada.
R. Aleluia (Aleluia).
Aleluia.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, *
(R.Aleluia.)
como era no princípio, agora e sempre. Amen.
R. Aleluia (Aleluia).
COMENTÁRIO DE SANTO AGOSTINHO
«O tempo da alegria, do descanso, da felicidade, da
vida eterna e do reino sem fim que ainda não chegou,
simbolizamo-lo pelo Aleluia. Mas ainda não possuímos
esses louvores, ainda suspiramos pelo Aleluia.
Que significa Aleluia? Louvai ao Senhor. Nos dias a
seguir à ressurreição, repetem-se na Igreja os louvores de
Deus, porque depois da nossa ressurreição também será
perpétuo o nosso louvor.
DOMINGO I
57
Louvemos, caríssimos irmãos, louvemos o Senhor que
está nos céus. Louvemos a Deus. Digamos Aleluia. Façamos
destes dias um símbolo do dia sem fim. Façamos do lugar
da mortalidade um símbolo do tempo da imortalidade. Ca-
minhemos depressa para a morada eterna: Felizes os que
moram em vossa casa: podem louvar-Vos continuamente.
Assim o diz a lei, o diz a Escritura, o diz a Verdade. Um
dia chegaremos à casa de Deus, que está nos céus. Aí
louvaremos o Senhor, não cinquenta dias, mas, como está
escrito, pelos séculos dos séculos. Havemos de O ver, de
O amar, de O louvar.
Não acabará o que havemos de ver, não morrerá o que
havemos de amar, não se calará o que havemos de louvar.
Tudo será eterno, tudo será sem fim.
Louvemos, louvemos, não apenas com a voz; louvemos
também com o modo de viver. Louvem os lábios, louve a
vida. Não andem zangadas a língua e a vida, mas animadas
por uma caridade infinita.
Voltemo-nos para o Senhor Deus, Pai todo-poderoso,
com um coração tão puro quanto o permita a nossa fra-
queza, e dêmos-Lhe grandes e sinceras acções de graças.
Com toda a nossa alma, supliquemos à bondade infinita
que se digne escutar favoravelmente as nossas preces e
afastar, pelo seu poder, o nosso inimigo, tanto das nossas
acções como dos nossos pensamentos.
O Senhor aumente a nossa fé, dirija o nosso espírito,
nos dê a graça de pensar espiritualmente, e nos conduza
até à felicidade que é Ele mesmo, por Jesus Cristo, nosso
Senhor, que vive e reina como Deus, na unidade do Espírito
Santo, por todos os séculos dos séculos. Amen».
ORAÇÃO
Senhor Jesus Cristo, Cordeiro imolado e ressuscitado,
que enchestes de beleza a Igreja, vossa Esposa, fazei-nos
encontrar uma santa alegria no vosso triunfo pascal e
cantar eternamente a vossa glória. Vós que sois Deus.
Vésperas II Domingo I, II, III, IV.
VÉSPERAS II
SEGUNDA-FEIRA I
Ofício de Leitura
Salmo 6
SENTIDO INICIAL
Este salmo é a súplica de um enfermo grave, que fala
do seu sofrimento, do perigo em que se encontra e da con-
fiança que tem em Deus.
Muito doente e com a alma perturbada pelo silêncio do
Senhor, o salmista pede-Lhe que tenha compaixão e o
cure, em vez de o castigar na sua indignação, como se a
doença fosse castigo (2-4), que salve a sua vida da morte
restituindo-lhe a saúde (5-6).
Descreve, em seguida, o estado de abatimento e de tris-
teza a que chegou: estou exausto de tanto gemer, envelheci
no meio de tantos inimigos (7-8); por fim, ao pressentir
que Deus já acolheu a sua súplica, diz aos seus adversários
que se afastem dele, cheios de confusão e cobertos de
vergonha pelo mal que lhe fizeram (9-11).
SENTIDO ACTUAL
Jesus, que não cometeu pecado, orou na agonia com
sentimentos semelhantes aos deste salmo ao dizer: «Agora
a minha alma está perturbada... Pai, livra-me desta hora»
(Jo 12, 27). Mas quando chegou o momento da paixão,
entregou-Se à morte de cruz, num gesto de total abandono
nas mãos do Pai, tornando-Se o grande modelo da nossa
confiança.
O pecado é uma doença e o maior dos nossos inimigos.
Ele turva-nos os olhos e obscurece-nos a consciência. Mas
o Senhor ouve a súplica e acolhe a prece daqueles que Lhe
rezam este salmo com os sentimentos que ele desperta, que
59
se reconhecem pecadores mas simultaneamente Lhe pedem
que os livre das ocasiões de pecar.
Pelo seu carácter penitencial e meditativo, este salmo
tem o seu complemento litúrgico de acção de graças, já
aflorado nos versículos finais, no salmo 9 A, que iremos
rezar depois dele.
Salmo 6 Oração do homem aflito que pede clemência
Agora a minha alma está perturbada...
Pai, livrai-me desta hora (Jo 12, 27).
 2 Senhor, não me repreendais na vossa ira, *
nem me castigueis na vossa indignação.
 3 Tende compaixão de mim, Senhor, porque estou doente,*
curai-me, pois se desconjuntam os meus ossos.
 4 A minha alma está muito perturbada, *
e Vós, Senhor, até quando...?
 5 Voltai, Senhor, salvai a minha vida, *
curai-me pela vossa bondade.
 6 No seio da morte ninguém se lembra de Vós. *
Quem Vos poderá louvar na mansão dos mortos?
 7 Estou exausto de tanto gemer: *
passo a noite a chorar, †
inundo de lágrimas o

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