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Dissídio coletivo e greve

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Dissídio coletivo e greve
Poder normativo da Justiça do Trabalho 
 
Montesquieu: Funções estatais de cada um dos três poderes:
 
Legislativo: poder de legislar
Executivo: chefia do governo e prática de atos de administração
Judiciário: atuação no caso concreto: julgar
 
A Constituição Federal, para que cada poder possa de fato funcionar, destinou a eles funções atípicas, cabendo a cada um deles também poderes de poderes de legislar, administrar e julgar. 
Poder Normativo da Justiça do Trabalho: consiste na competência legislativa conferida constitucionalmente para a solução dos conflitos coletivos de trabalho. 
 
A primeira Carta Política que conferiu esse poder à Justiça do Trabalho foi a de 1946, a qual no seu art. 123, § 2º estabelecia que: 
 
A lei especificará os casos em que as decisões, nos dissídios coletivos, poderão estabelecer normas e condições de trabalho. 
A mesma redação se manteve nas Constituições de 1967 e de 1969 (Emenda à Constituição). 
 
Corporativismo de origem italiana: fundamento na colaboração e não na luta de classes para o desenvolvimento do Estado. Assim, também na Itália, nas relações trabalhistas, a solução do conflito coletivo se dava através do Poder Judiciário, o qual passou a ser fundamental para harmonizar capital e trabalho, de forma que o trabalhador pudesse ser inserido como fator essencial ao desenvolvimento da empresa. 
 
O Brasil se inspirou na Carta del Lavoro (italiana 1927). 
 
A Constituição Federal de 1988 manteve o Poder Normativo da Justiça do Trabalho: 
 
Art. 114, § 2ª: Recusando-se qualquer das partes à negociação ou à arbitragem, é facultado aos respectivos sindicatos ajuizar dissídio coletivo, podendo a Justiça do Trabalho estabelecer normas e condições, respeitadas as disposições convencionais e legais mínimas de proteção do trabalho. (grifo nosso). (ANTIGA REDAÇÃO)
 
Os Tribunais confirmaram a manutenção desse poder, mas limitou às questões não julgadas inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal – A Sumula 190 do TST dispõe: 
190 - Poder normativo do TST. Condições de trabalho. Inconstitucionalidade. Decisões contrárias ao STF (Res. 12/1983, DJ 09.11.1983)
Ao julgar ou homologar ação coletiva ou acordo nela havido, o Tribunal Superior do Trabalho exerce o poder normativo constitucional, não podendo criar ou homologar condições de trabalho que o Supremo Tribunal Federal julgue iterativamente inconstitucionais.
 
Através do RE 19.799911.9 de 24/09/1996, o Supremo Tribunal Federal reduziu a amplitude do poder normativo da Justiça do Trabalho ao decidir que a Justiça do Trabalho 
 “(...) pode criar obrigações para as partes envolvidas no dissídio desde que atue no vazio deixado pelo legislador e não se sobreponha ou contrarie a legislação em vigor, sendo-lhe vedado estabelecer normas e condições vedadas pela Constituição ou dispor sobre matéria cuja disciplina seja reservada pela Constituição ao domínio da lei formal.”
Segundo Vólia Bomfim Cassar, “Da forma como foi concebido até a EC nº 45/2004 o poder normativo era a forma que o Judiciário dispunha de fazer, através dos julgamentos por equidade feitos nos dissídios coletivos de natureza econômica, o preenchimento da lacunas normativas, pacificando o conflito coletivo. 
 
Com o poder normativo, a Justiça do Trabalho pode completar ou suplementar o ordenamento jurídico, permitindo a adaptação das normas cogentes a peculiaridades regionais, empresariais ou profissionais, para adaptá-las aos métodos de trabalho.
 
O Brasil é um país desigualmente desenvolvido convivendo com regiões desenvolvidas. 
A Emenda Constitucional n. 45/2004
 
Alterou a redação do § 2º e acrescentou o § 3º ao art. 114 que passou a ter a seguinte redação: 
 
§ 2º - Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. (Inciso alterado pela Emenda Constitucional nº 45, de 08/12/2004)
§ 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito. (Parágrafo incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 15/12/98 e alterado pela Emenda Constitucional nº 45, de 08/12/2004)
 
A expressão “estabelecer normas e condições” foi retirada da relação.
A intenção do projeto foi o de restringir o poder normativo da Justiça do Trabalho. 
 
Através da Emenda Constitucional 45/2004 foi incluída a exigência “de comum acordo” para o ajuizamento de dissídio de natureza econômica e foi e incluída a expressão “decidir o conflito”, no lugar de “estabelecer normas” de trabalho. 
 
Assim, criou um requisito de procedibilidade para o ajuizamento do dissídio de natureza econômica: concordância da parte dissidente. 
 
Com essa medida a ação coletiva de natureza econômica passou a ser bilateral, isto é, interposta de comum acordo. Esta exigência equiparou o procedimento a uma arbitragem judicial voluntária. 
Muitos entendem que a alteração foi salutar por eliminar o viés normativo-legislativo atípico do Judiciário e diminuir a intervenção estatal nas relações de trabalho, incentivando os agentes sociais à composição fora do judiciário. Alegam que partes se mostravam pouco dispostas à negociação, porque se acomodavam na solução paternalista da Justiça do Trabalho, enfraquecendo os sindicatos. 
 
Há quem entenda ainda pela total extinção do poder normativo em face da expressão “decidir”, ao invés da anterior, “estabelecer normas e condições” de trabalho. 
 
Há argumento de que o consentimento não precisa ser prévio, e sim posterior à propositura da ação. Nesse sentido têm entendido os Tribunais. Desta forma, a parte insatisfeita com a recursa nas negociações coletivas ajuizaria o Dissídio Coletivo, facultando-se à outra, em contestação concordar ou não com a via acolhida para a solução do conflito coletivo. 
Há quem entenda ainda que o poder normativo foi extinto nos dissídios de natureza econômica bilaterais, mas continua nos casos de greve de serviços essenciais, quando uma das partes poderá, independentemente da vontade da outra, interpor a ação coletiva. A interpretação decorre do art. 114, § 3º.
 
A última tese seria que a exigência de acordo para o ajuizamento de ação coletiva seria inconstitucional por ferir o art. 5º, XXXV da Constituição Federal. Pendente de ADIn.
 
GREVE
 
Greve: é a cessação coletiva e voluntária do trabalho, decidida por sindicatos de trabalhadores assalariados de modo a obter ou manter benefícios ou para protestar contra algo. 
 
 
A palavra “greve” vem do francês “grève”, com o mesmo sentido de que provem a “Place de Grève”, em París, na margem do rio Sena, lugar de embarque e desembarque de navios onde vários gravetos eram trazidos pelo rio Sena. O termo “grève” significa “terreno plano composto de cascalho ou areia a margem do mar ou do rio”. 
 
Na “Place de Grève” os trabalhadores se encontravam debatiam e deliberavam sobre os interesses do grupo. Alguns empregadores também compareciam quando queriam contratar trabalhadores. 
Histórico
 
Nas civilizações antigas já se viam rebeliões de escravos e na idade média dos servos. 
 
A Revolução Francesa e Industrial propiciaram o nascimento das greves em face das revoltas originadas pelas condições desumanas em que eram executados os trabalhos. 
 
Lei Chapelier (1791) proibia qualquer forma de agrupamento profissional para defesa de interesses coletivos. 
 
Código Penal de Napoleão (1810) punia com prisão e multa greve dos trabalhadores. 
A Encíclica Rerum Novarum afirma o sindicalismo como forma de defesa contra a opressão do patrão. Entretanto se manifestou contra o direito de greve, eis que segundo o Papa Leão XIII, os grevistas eram elementos perniciosos que poderiam corromper os bons trabalhadores e ameaçar os patrões na perdade sua propriedade privada. 
 
O Tratado de Versailles, através da OIT pregava que o trabalho não e mercadoria e buscavam a valorização humana da pessoa do trabalhador. 
Brasil
 
O Código Penal de 1890 proibia a greve. 
 
A Constituição Federal de 1934 proibiu a greve.
 
A Constituição Federal de 1937, em seu art. 139, considerava a greve e o lockout como recursos antissociais, nocivos ao trabalho e ao capital e incompatível com os superiores interesses de produção nacional. 
 
O art. 723 da CLT (REVOGADO) previa sanções aos trabalhadores que abandonassem o serviço coletivamente sem prévia autorização do Tribunal. 
 
A Constituição Federal de 1946 reconheceu o direito de greve, conforme lei, mudando radicalmente o paradigma. 
 
A Constituição Federal 1967 previa o direito a greve aos trabalhadores, salvo nos serviços públicos e em atividades esseciais e a Emenda Constitucional 1969 manteve a mesma orientação. 
 A Constituição Federal de 1988 assegura o direito à greve.
 Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender. 
 1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
§ 2º - Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.
Lei 7.783/89
Art. 1º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
Parágrafo único. O direito de greve será exercido na forma estabelecida nesta Lei.
Natureza jurídica
Para Alice Monteiro de Barros trata-se de direito potestativo coletivo.
Para Mauricio Godinho Delgado: greve “é um direito fundamental de caráter coletivo, resultante da autonomia privada coletiva inerente às sociedades democráticas”. Assim sua natureza jurídica seria de direito fundamental.
Para Vólia Bomfim Cassar “é direito potestativo, porque exercido de acordo com a oportunidade e conveniência do grupo. Coletivo, pois, é no grupo que o exercício do direito de greve alcançará seu objetivo final. E um superdireito porque reconhecido constitucionalmente como direito fundamental. Portanto, greve é um direito potestativo fundamental coletivo.”
Finalidade
Instrumento de autotutela, demonstração de força, por instrumento de pressão e barganha para se obter um acordo favorável aos próprios interesses. 
Segundo Segadas Viana é uma demonstração de força e união da classe trabalhadora, de natureza violenta, mas controlada, “compreendida e consentida”. 
Justifica-se pela necessidade social de se balancear a questão da hipossuficiência tanto financeira quanto política dos trabalhadores em face do poder econômico do patrão (Vólia). 
Suspensão do contrato de trabalho 
Durante o período de greve os contratos de trabalho permanecem suspensos, isto é, seus efeitos ficam absolutamente paralisados.
 
Lei 7.783/89
Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em greve suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o período, ser regidas pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho.
Parágrafo único. É vedada a rescisão de contrato de trabalho durante a greve, bem como a contratação de trabalhadores substitutos, exceto na ocorrência das hipóteses previstas nos arts. 9º e 14.
Requisitos 
insatisfação
provocação do sindicato
convocação de assembleia 
deliberação (quórum)
pauta de reivindicações
tentativa de negociação diretamente com o patrão
negociação frustrada
nova assembleia
deliberação pela greve
comunicação no prazo legal ao sindicato da categoria econômica, ao empregador e à comunidade se for o caso
greve. 
OJ 11 (SDC – TST) - Greve. Imprescindibilidade de tentativa direta e pacífica da solução do conflito. Etapa negocial prévia. (Inserida em 27.03.1998)
É abusiva a greve levada a efeito sem que as partes hajam tentado, direta e pacificamente, solucionar o conflito que lhe constitui o objeto.
Lei 7.783/89 
Art. 3º Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral, é facultada a cessação coletiva do trabalho.
Parágrafo único. A entidade patronal correspondente ou os empregadores diretamente interessados serão notificados, com antecedência mínima de 48 (quarenta e oito) horas, da paralisação.
Art. 13 Na greve, em serviços ou atividades essenciais, ficam as entidades sindicais ou os trabalhadores, conforme o caso, obrigados a comunicar a decisão aos empregadores e aos usuários com antecedência mínima de 72 (setenta e duas) horas da paralisação.
Legitimidade
O trabalhador é o titular do direito à greve. Ao trabalhador compete decidir sobre a oportunidade e conveniência e os interesses que, por meio da greve devem ser defendidos. 
O trabalhador não pode deflagrar greve diretamente, mas apenas através do sindicato, federação ou confederação.
(CF) Art. 8º (...)
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;
Na falta de dessas entidades os trabalhadores poderão constituir comissão de negociação para prosseguimento do procedimento de negociação e greve se for o caso. 
Quanto as entidades representantes dos trabalhadores se recusam a assumir as negociações, entende-se que também é caso de comissão de trabalhadores negociarem.
Lei 7.783/89 
Art. 4º Caberá à entidade sindical correspondente convocar, na forma do seu estatuto, assembléia geral que definirá as reivindicações da categoria e deliberará sobre a paralisação coletiva da prestação de serviços.
§ 1º O estatuto da entidade sindical deverá prever as formalidades de convocação e o quorum para a deliberação, tanto da deflagração quanto da cessação da greve.
§ 2º Na falta de entidade sindical, a assembleia geral dos trabalhadores interessados deliberará para os fins previstos no "caput", constituindo comissão de negociação.
Art. 617 (CLT) Os empregados de uma ou mais empresas que decidirem celebrar Acordo Coletivo de Trabalho com as respectivas empresas darão ciência de sua resolução, por escrito, ao Sindicato representativo da categoria profissional, que terá o prazo de 8 (oito) dias para assumir a direção dos entendimentos entre os interessados, devendo igual procedimento ser observado pelas empresas interessadas com relação ao Sindicato da respectiva categoria econômica. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 229, de 28-02-67, DOU 28-02-67)
§ 1º - Expirado o prazo de 8 (oito) dias sem que o Sindicato tenha-se desincumbido do encargo recebido, poderão os interessados dar conhecimento do fato à Federação a que estiver vinculado o Sindicato e, em falta dessa, à correspondente Confederação, para que, no mesmo prazo, assuma a direção dos entendimentos. Esgotado esse prazo, poderão os interessados prosseguir diretamente na negociação coletiva até final. (Redação dada pelo Decreto-lei nº 229, de 28-02-67, DOU 28-02-67)
Restrições ao direito de greve
A greve não é um direito ilimitado. 
As restrições encontram-se na Constituição Federal e na própria Lei 7.783/89. 
(CF) Art. 9 (...)
1º - A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
Lei 7.783/89
Art 10 São considerados serviços ou atividades essenciais:
I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis;
II - assistência médica e hospitalar;
III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos;
IV - funerários;
V - transporte coletivo;
VI - captação e tratamento de esgoto e lixo;
VII - telecomunicações;
VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares;
IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais;
X - controle de tráfego aéreo;
XI compensação bancária.
Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dosserviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população.
Art. 12. No caso de inobservância do disposto no artigo anterior, o Poder Público assegurará a prestação dos serviços indispensáveis.
Art. 13 Na greve, em serviços ou atividades essenciais, ficam as entidades sindicais ou os trabalhadores, conforme o caso, obrigados a comunicar a decisão aos empregadores e aos usuários com antecedência mínima de 72 (setenta e duas) horas da paralisação.
Greve abusiva ou ilícita
Greve a expressão ato ilegal e abusivo foram equiparados pelo art. 187 do Código Civil
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Considera-se ato abusivo a ocupação ameaçadora de estabelecimentos, setores ou da empresa; sabotagem ou boicote aos serviços da empresa e associados; piquete obstativo ou depredatório do patrimônio do empregador, permanecer em greve depois do acordo, agressão contra colegas de trabalho ou superior hierárquico, desrespeitar prazos condições e regras determinadas pela Lei 7.783/89
Lei 7.783/89
Art. 14 Constitui abuso do direito de greve a inobservância das normas contidas na presente Lei, bem como a manutenção da paralisação após a celebração de acordo, convenção ou decisão da Justiça do Trabalho.
Parágrafo único. Na vigência de acordo, convenção ou sentença normativa não constitui abuso do exercício do direito de greve a paralisação que:
I - tenha por objetivo exigir o cumprimento de cláusula ou condição;
II - seja motivada pela superveniência de fatos novo ou acontecimento imprevisto que modifique substancialmente a relação de trabalho
1 -  Acordo coletivo. Descumprimento. Existência de ação própria. Abusividade da greve deflagrada para substituí-la. (Inserida em 27.03.1998. Cancelada - DJ 22.06.2004)
O ordenamento legal vigente assegura a via da ação de cumprimento para as hipóteses de inobservância de norma coletiva em vigor, razão pela qual é abusivo o movimento grevista deflagrado em substituição ao meio pacífico próprio para a solução do conflito.
  
10 - Greve abusiva não gera efeitos.  (Inserida em 27.03.1998)
É incompatível com a declaração de abusividade de movimento grevista o estabelecimento de quaisquer vantagens ou garantias a seus partícipes, que assumiram os riscos inerentes à utilização do instrumento de pressão máximo.
 
11 - Greve. Imprescindibilidade de tentativa direta e pacífica da solução do conflito. Etapa negocial prévia. (Inserida em 27.03.1998)
É abusiva a greve levada a efeito sem que as partes hajam tentado, direta e pacificamente, solucionar o conflito que lhe constitui o objeto.
38 - Greve. Serviços essenciais. Garantia das necessidades inadiáveis da população usuária. Fator determinante da qualificação jurídica do movimento.  (Inserida em 07.12.1998)
É abusiva a greve que se realiza em setores que a lei define como sendo essenciais à comunidade, se não é assegurado o atendimento básico das necessidades inadiáveis dos usuários do serviço, na forma prevista na Lei nº 7.783/89. 
Greve dos servidores públicos
 
Há restrição constitucional ao direito de greve do servidor público, eis que o art. 37, VI e VII da Constituição Federal determina que o direito de greve do servidor será exercido nos termos e definidos por lei específica (Emenda Constitucional 19/98). Essa norma é de eficácia limitada, então para o exercício de greve, havia dependência da existência da referida lei específica. 
 
Nos julgamentos de Mandado de Injunção nº 670/ES e nº 712/PA, o Supremo Tribunal Federal reconheceu expressamente o direito de greve do servidor público, sob o argumento de que a omissão legislativa (mais de 19 anos) não poderia impedir o exercício de um direito assegurado constitucionalmente. 
Assim, passou-se a aplicar ao servidor público a Lei 7.783/89, com as devidas adaptações.
CONSTITUCIONAL. GARANTIA DA SEGURANÇA INTERNA, ORDEM PÚBLICA E PAZ SOCIAL. INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA DOS ART. 9º, § 1º, ART. 37, VII, E ART. 144, DA CF. VEDAÇÃO ABSOLUTA AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE AOS SERVIDORES PÚBLICOS INTEGRANTES DAS CARREIRAS DE SEGURANÇA PÚBLICA. 1.A atividade policial é carreira de Estado imprescindível a manutenção da normalidade democrática, sendo impossível sua complementação ou substituição pela atividade privada. A carreira policial é o braço armado do Estado, responsável pela garantia da segurança interna, ordem pública e paz social. E o Estado não faz greve. O Estado em greve é anárquico. A Constituição Federal não permite. 2.Aparente colisão de direitos. Prevalência do interesse público e social na manutenção da segurança interna, da ordem pública e da paz social sobre o interesse individual de determinada categoria de servidores públicos. Impossibilidade absoluta do exercício do direito de greve às carreiras policiais. Interpretação teleológica do texto constitucional, em especial dos artigos 9º, § 1º, 37, VII e 144. 3.Recurso provido, com afirmação de tese de repercussão geral: �1 - O exercício do direito de greve, sob qualquer forma ou modalidade, é vedado aos policiais civis e a todos os servidores públicos que atuem diretamente na área de segurança pública. 2 - É obrigatória a participação do Poder Público em mediação instaurada pelos órgãos classistas das carreiras de segurança pública, nos termos do art. 165 do Código de Processo Civil, para vocalização dos interesses da categoria.
(STF - ARE: 654432 GO - GOIÁS, Relator: Min. EDSON FACHIN, Data de Julgamento: 05/04/2017, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-114 11-06-2018)
 
Fim 
Obrigada!

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