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Historia da Igreja Moderna e Contemporanea 3

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EA
D
Séculos 18 e 19: A Era do 
Liberalismo
3
1. OBJETIVOS
•	 Compreender	o	Iluminismo,	suas	características	e	conse-
quências.
•	 Conhecer	as	tendências	da	sociedade	e	da	Igreja	no	perí-
odo	Pós-revolução	Francesa.
•	 Analisar	o	Separatismo	e	o	Liberalismo.
•	 Conhecer	o	pontificado	de	Pio	IX	e	alguns	de	seus	aspectos.
2. CONTEÚDOS
•	 Iluminismo	e	suas	características.
•	 Consequências	da	Revolução	Francesa.
•	 Separatismo.
•	 Igreja	e	Liberalismo.
•	 Pontificado	de	Pio	IX.
© História da Igreja Moderna e Contemporânea78
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 Nesta	unidade,	você	precisa	estar	atento	ao	contexto	do	
surgimento	 e	 expansão	 do	 pensamento	 Iluminista,	 de	
modo	especial,	na	Inglaterra	e	França.	Também	é	impor-
tante	conhecer	a	França	do	período	anterior	à	Revolução	
Francesa,	ocorrida	a	partir	de	1789	e	suas	consequên-
cias	para	o	pensamento	ocidental	e	para	as	estruturas	
políticas	e	econômicas.
2)	 Importante	 é	 aprofundar	 a	 atitude	 da	 Igreja	 frente	 a	
essas	mudanças,	sabendo	que,	 inicialmente,	ela	é	con-
trária	a	todas	as	novidades	e,	só	com	muita	dificuldade,	
iniciará	um	processo	de	abertura	e	de	mudança.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na	 unidade	 anterior,	 você	 obteve	 uma	 explicação	 sobre	 o	
Absolutismo.	
Agora,	nesta	terceira	unidade,	você	conhecerá	novas	ideias	e	
novos	ideais	que	floresceram	na	sociedade	europeia	com	o	Ilumi-
nismo,	tendo	em	vista	que,	como	vez	que	os	princípios	iluministas	
foram	aplicados	na	prática,	surgiu	uma	nova	sociedade	marcada	
pelo	Liberalismo.	Você	poderá	perceber,	ainda,	que	a	Igreja	teve	
dificuldades	para	assimilar	as	novidades	da	sociedade	liberal	du-
rante	o	século	19.
Está	preparado?	Então,	vamos	aos	estudos!
5. ILUMINISMO
O	 Iluminismo	 foi	o	 resultado,	em	grande	parte,	da	difusão	
de	dois	sistemas	filosóficos	no	século	16:	o	empirismo	e	o	racio-
nalismo.	
79© Séculos 18 e 19: A Era do Liberalismo
O	empirismo	negava	toda	diferença	substancial	entre	o	co-
nhecimento	 sensível	 e	 o	 inteligível,	 pondo	 nos	 sentidos	 a	 única	
fonte	do	conhecimento,	colocando	à	parte	as	 ideias	 inatas,	bem	
como	exaltando	e	promovendo	o	método	experimental.	Já	o	racio-
nalismo	atribuiu	um	valor	absoluto	ao	conhecimento	racional,	que	
se	desenvolveu	de	modo	 independente	dos	 sentidos,	admitindo	
como	único	critério	de	verdade	a	razão,	que	possui	em	si	mesma	
os	princípios	de	todo	conhecimento.	
Assim,	 foi	 fácil	 conseguir,	 por	 essas	 posições,	 a	 afirmação	
fundamental	do	 Iluminismo:	a	plena	autossuficiência	do	homem	
ou,	ao	menos,	a	tendência	de	conseguir	esse	ideal.	Com	a	plena	
confiança	nas	suas	próprias	forças,	o	 Iluminismo	estava	decidido	
a	por	fim	ao	Absolutismo	do	passado,	abrindo	novas	estradas	em	
Filosofia,	Política	e	Economia.	Aquilo	que	era	presente	no	Renas-
cimento,	mas	de	modo	confuso	e	contraditório,	alcançou,	com	o	
Iluminismo,	uma	afirmação	clara	e	bem	distinta.
Com	base	nas	ideias	de	Comby	(1994,	p.	81-82),	assim	fala	
das	"luzes"	combatendo	o	Cristianismo.	Sobre	o	triunfo	da	razão:
A	partir	do	final	do	século	XVII	tem	início	uma	"crise	da	consciên-
cia	 europeia".	 Pierre	 Bayle	 (Pensamento	 sobre	 o	 cometa,	 1682,	
Dicionário	Histórico	e	Crítico,	1695-1697)	é	uma	das	primeiras	tes-
temunhas	dessa	crise.	No	século	XVIII,	uma	grande	quantidade	de	
escritores	assume	destaque:	Voltaire,	Diderot,	d´Alembert...	Educa-
dos	no	cristianismo,	freqüentemente	entre	os	jesuítas,	esses	"filó-
sofos"	desejam	julgar	todas	as	coisas	com	as	"luzes"	da	razão,	que	
se	opõem	às	obscuridades	da	revelação.	Guarda-se	dessa	filosofia	
das	Luzes	–em	alemão	Aufklärung	–	seu	aspecto	de	máquina	de	
guerra	anticristã.	Sem	negar	tal	coisa,	é	necessário	dizer	que	esse	
ideal	da	razão	corresponde	também	a	uma	distinção	dos	domínios;	
A	ciência	adquire	sua	própria	linguagem	e	se	afasta	da	metafísica	
Características essenciais do Iluminismo
O	 Iluminismo	 contou	 com	 várias	 características,	 dentre	 as	
quais	podemos	destacar:
1)	 Fé	na	razão:	essa,	sempre	idêntica	em	todos	os	séculos	
e	em	todos	os	povos,	é	a	via	e	a	norma	única	e	absolu-
© História da Igreja Moderna e Contemporânea80
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
ta	da	verdade.	Não	que	ela	recolha	tudo	em	si;	é,	antes	
de	tudo,	o	caminho	a	seguir,	para	que	os	nossos	cami-
nhos	sejam	deduzidos	com	base	na	experiência.	Os	ilu-
ministas	olhavam	com	desconfiança	os	grandes	sistemas	
construídos	pelos	filósofos	do	século	16,	que	os	chamam	
de	"poetas	metafísicos".	
2)	 Fé	e	confiança	na	natureza	humana:	o	homem	em	si	é	
bom,	não	é	corrompido	pelo	pecado	e	não	tem	necessi-
dade	de	uma	redenção	que	venha	do	alto	para	salvá-lo.	
Nessa	concepção,	o	pecado	original	e	a	perda	da	felicida-
de	primitiva	são	negados	ou	passam	completamente	em	
segundo	plano.	Assim,	 deixado	 a	 si	mesmo,	o	homem	
conquista	a	sua	felicidade,	descobre	a	verdade	e	segue	
aquilo	que	é	do	bem.	A	corrupção	é	fruto	somente	das	
leis	más,	derivadas	de	falsos	princípios,	e	o	homem	pode	
encontrar	o	remédio	necessário	sozinho,	sem	ajuda	ex-
terna.	E	assim	nasce	o	mito	do	"bom	selvagem",	ou	seja,	
do	homem	simples	e	bom	que	vive	nos	bosques,	longe	
da	sociedade.
3)	 Desprezo	pelo	passado:	os	iluministas	tratavam	o	passa-
do	como	"idade	das	trevas"	e	exaltavam	o	presente	e	o	
futuro	como	a	"era	das	luzes".	Dessa	forma,	mal	e	bem	
estavam	adequadamente	divididos	e,	a	partir	daí,	impe-
rava	a	idade	das	luzes.
4)	 Otimismo:	os	iluministas	possuíam	um	ardor	que	se	po-
deria	chamar	"profético"	ou	"messiânico";	para	eles,	co-
meçava	a	idade	de	ouro,	a	nova	fase	da	história	humana,	
em	que	toda	colina	seria	abaixada,	todo	obstáculo	seria	
eliminado	pela	razão	e	pela	tolerância,	pelo	fim	de	todo	
enigma;	é	aí	que	nos	encontramos,	mais	uma	vez,	com	
o	entusiasmo	de	alguns	místicos	medievais.	Os	iluminis-
tas,	no	seu	entusiasmo,	anteciparam	a	fé	no	progresso	
humano.
Aplicação concreta dos princípios iluministas
Os	princípios	iluministas	encontraram	sua	aplicação	concre-
ta	em	diversos	campos	de	ação	da	sociedade.	Eis	alguns	deles:
81© Séculos 18 e 19: A Era do Liberalismo
1)	 Na	religião:	toda	religião	positiva,	toda	revelação,	todo	
dogma,	enfim,	toda	instituição	que	se	posicionasse	en-
tre	Deus	 e	o	homem	era	 refutada.	 Salvava-se	uma	 re-
ligião	 natural,	 reduzida	 a	 um	 vago	 deísmo,	 no	 qual	 a	
essência	divina	permanecia	desconhecida	e	era	negada	
toda	 intervenção	divina	no	mundo,	e	no	qual	 se	subli-
nhava	o	aspecto	ético	da	religião.	Essas	grandes	 linhas	
apareciam	 já	 no	 século	 16,	 com	 Herbert	 di	 Cherbury.	
Contudo,	muito	mais	fácil	era	a	passagem	do	deísmo	ao	
ateísmo:	o	barão	d'Holbach,	por	exemplo,	 fazia	aberta	
profissão	de	ateísmo,	sendo	muito	aceito	pela	sociedade	
que	o	tornou	um	ídolo,	lido	e	admirado	por	príncipes	e	
senhores.	O	ateu,	e	somente	ele,	era	o	homem	hones-
to,	sincero,	incorrupto,	amante	do	belo	e	de	tudo	o	que	
é	 racional;	 os	 eclesiásticos,	 ao	 contrário,	 sobretudo	os	
mosteiros	masculinos	 e	 femininos,	 eram	 apresentados	
como	 centros	 cobertos	pelo	 regime	de	privilégio,	 pelo	
foro	 eclesiástico	 e	 pela	 ignorância,	 a	 que	 se	 chamava	
"inútil	erudição".	
Falando	 da	 razão	 contra	 a	 revelação,	 Comby	 (1994,	 p.	
82-83)	assim	escreve:
Um	 ateísmo	 explicito	 é	 raro.	 Seria	 perigoso	 expressá-lo	 aberta-
mente.	Vários	podem	prevalecer-se	secretamente	dele:	o	cura	de	
Meslier	(+1729),	d´Holbach,	Helvetius,	Sade	[...].	A	maioria	dos	"fi-
lósofos"	pensa	que	seja	necessária	uma	religião	para	o	povo:	Deus	
é	garantidor	da	ordem.	A	maior	parte	inclina-se	para	o	deísmo,	uma	
religião	natural	em	conformidade	com	a	 razão	e	que	exclui	 toda	
relação:	o	"Grande	Relojoeiro"	de	Voltaire,	"um	aposentado	posto	
de	lado".	Os	dogmas	se	opõem	à	razão	e	à	natureza	[...].	Ao	recusar-
-se	a	seguir	a	natureza,	o	cristianismo	é	um	obstáculo	à	felicidade	
do	homem.	Por	conseguinte,	é	preciso	lutar	pelo	desaparecimen-
to	da	Igrejae	do	cristianismo:	"Esmaguemos	a	 infâmia",	exclama	
Voltaire.	A	primazia	da	razão	não	impede	que	o	século	XVIII	acabe	
por	recuperar	o	gosto	pelo	esoterismo	e	por	um	novo	 irracional.	
Insatisfeito	 com	 o	 empedernido	 racionalismo	 de	 Voltaire,	 Jean-
-Jacques	Rousseau	(1712-1778)	deseja	restabelecer	o	sentimento	
numa	religião	natural.	Desse	modo,	ele	franqueia	à	religião	o	leme	
da	Revolução	e	prepara	o	romantismo	
2)	 Na	moral:	esta	não	se	 fundamentava	mais	em	uma	 lei	
natural,	 apresentada	 como	manifestação	 da	 divina	 lei	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea82
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
eterna,	mas	como	uma	exigência	da	razão	e	da	vontade	
humana.
3)	 Na	pedagogia:	o	adolescente	devia	alcançar	livremente	
a	 verdade,	 sem	 recebê-la	 passivamente	 do	 educador;	
portanto,	seguindo	o	seu	instinto,	ele	devia	adquirir	por	
si	o	controle	das	paixões.	As	ideias	religiosas,	poucas	e	
simples,	seriam	aprendidas	mais	tarde,	gradualmente.
4)	 Na	economia:	essa	ciência	é	regida	por	leis	como	a	Física	
e	a	Astronomia;	basta,	portanto,	descobri-las	e	respeitá-
-las	para	assegurar	a	ordem	econômica.	Toda	interven-
ção	estatal	para	mudar	o	desenvolvimento	natural	dos	
fatos	 econômicos	 dos	 estados	 absolutos	 se	 substitui	
pela	 liberdade	de	comércio	e	de	produção	e	prefere	a	
agricultura	à	indústria.	
5)	 Na	política:	o	soberano	devia	assegurar	a	felicidade	dos	
seus	súditos,	que	não	tinham	nenhuma	liberdade	polí-
tica,	 nenhum	direito	 e	 esperavam	 tudo	 dele.	 Por	 essa	
razão,	o	soberano	procurava	 impor	a	própria	autorida-
de,	não	como	mero	arbítrio,	mas	como	uma	exigência	
da	razão,	necessária	para	o	bem	dos	súditos.	O	despo-
tismo	 iluminado	multiplicava,	por	 isso,	as	 intervenções	
do	Estado,	que	regulava	as	minúcias	da	vida	quotidiana;	
todavia,	punha	um	limite	ao	seu	privilégio	e	procurava	
tornar	todos	os	súditos	iguais	perante	a	lei.
6. CONSEQUÊNCIAS DA REVOLUÇÃO FRANCESA 
A	 Revolução	 Francesa	 cumpriu	 uma	 obra	 histórica,	 e	 suas	
consequências	produziram	frutos,	mas	não	de	um	dia	para	outro;	
entrando,	assim,	em	um	princípio	histórico:	"a	história	não	dá	sal-
tos".	Em	poucas	palavras,	a	Revolução	destruiu,	em	grande	parte,	
as	estruturas	político/sociais/econômicas	do	Antigo	Regime	e	co-
locou	as	bases	para	a	construção	de	uma	nova	sociedade	por	meio	
dos	princípios	e	ideais	que	lentamente	foram	sendo	elaborados	no	
século	18.	Aos	privilégios,	sucederam-se	a	 igualdade;	ao	arbítrio	
ou	à	autoridade	absoluta	do	soberano,	substituiu-se	a	soberanida-
de	popular	e	a	liberdade.	É	a	partir	da	Revolução	e,	portanto,	com	
83© Séculos 18 e 19: A Era do Liberalismo
o	surgimento	do	Estado	Moderno	que	se	desencadeou	o	Liberalis-
mo,	já	em	fase	embrionária	nos	séculos	anteriores.	
Com	a	Revolução	Francesa,	é	uma	parte	do	espírito	das	"Luzes"	que	
é	concretizada:	triunfo	da	razão	na	política	e	luta	contra	o	cristia-
nismo.	Levadas	pelos	exércitos	conquistadores,	as	idéias	revolucio-
nárias	 ganham	a	Europa.	 Se	os	 franceses	distinguem	claramente	
a	Revolução	da	era	napoleônica,	os	europeus	consideram	os	dois	
períodos	como	um	todo.	Napoleão,	"Robespierre	a	cavalo",	propa-
gou	a	ideologia	revolucionária	até	mesmo	nas	estepes	russas	[...]	
(COMBY,	1994,	p.	90).
Pode-se	dizer,	de	modo	simplificado,	que	as	consequências	
positivas	da	Revolução	Francesa	foram	a	igualdade	e	a	liberdade,	
sendo	 esse	 binômio	 o	 núcleo	 dos	 princípios	 emanados	 solene-
mente	em	26	de	agosto	de	1789	e	que	foram	posteriormente	es-
pecificados	em	leis.	
Art.	1º:	os	homens	nascem	e	vivem	livres	e	iguais	nos	direitos;	as	
distinções	sociais	não	podem	ser	fundamentadas	senão	sobre	a	uti-
lidade	comum;	
[...]	Art.	6º:	todos	os	cidadãos	são	igualmente	admitidos	em	todas	
as	 dignidades,	 ofícios	 e	 empregos,	 e	 segundo	 a	 sua	 capacidade,	
e	sem	outra	distinção	senão	aquela	de	sua	virtude	e	capacidade	
(MARTINA,	1996,	p.	34).	
Esse	princípio	de	igualdade	teve	uma	vasta	aplicação.	Na	so-
ciedade,	foram	abolidos	os	privilégios	econômicos	e	as	isenções	de	
classes;	naturalmente,	esse	foi	um	progresso	mais	teórico	do	que	
prático,	tendo	em	vista	que	grandes	injustiças	permaneceram	por	
muito	tempo.	No	entanto,	acabaram	as	discriminações	sociais	nas	
leis	penais	e	na	admissão	aos	ofícios	públicos.	
A	nobreza	não	mais	reconhecida	pela	Revolução	reviveu	com	
a	restauração,	embora	sem	todos	os	privilégios	econômicos	e	so-
ciais	de	um	tempo	passado.	Ela	conservou,	ainda,	o	seu	prestígio,	
o	 qual	 fora	 constituído	 por	 uma	 força	 histórica	 e	 que	 nenhuma	
escrita	podia	destruir	de	um	dia	para	outro;	todavia,	a	sua	sorte	
estava	selada.
A	 igualdade	aplicou-se,	 também,	na	administração:	nascia,	
assim,	o	Estado	Moderno,	centralizante	e	com	um	ordenamento	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea84
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
jurídico	uniforme	em	todo	o	território.	Foram	suprimidas,	então,	
as	antigas	divisões	em	diversos	territórios,	cada	um	dos	quais	do-
tados	de	 leis	diversas	e	substituídos	com	divisões	de	caráter	pu-
ramente	 administrativo	 regido	 por	 prefeitos.	 Foram	 suprimidos,	
também,	antigos	tribunais	 locais	autônomos,	e,	no	seu	lugar,	fo-
ram	instituídos	três	graus	de	instância	rigidamente	subordinados	
ao	poder	central.	
Juntamente	com	a	 igualdade,	a	 liberdade	vem	definida	no	
Art.	4º	como	o	"o	poder	de	fazer	tudo	aquilo	que	não	prejudica	
os	outros".	Esse	princípio	encontrou	as	suas	aplicações	na	políti-
ca,	em	que	o	direito	divino	do	rei	foi	sucedido	pela	soberanidade	
popular.	O	princípio	de	toda	soberanidade	residia	essencialmente	
na	nação,	de	onde	derivavam	os	vários	poderes,	distintos	entre	si,	
para	assegurar	um	estável	equilíbrio	e	evitar	arbítrios.	O	rei	não	fez	
mais	recurso	à	fórmula	"por	graça	de	Deus",	mas	usou	outra	fór-
mula:	"por	vontade	da	nação",	para	indicar	a	fonte	do	seu	poder	e	
o	dever	de	prestar	contas	de	sua	obra	ao	povo,	composto	não	mais	
de	súditos,	mas	de	cidadãos.	
Mais	tarde,	por	uma	evolução	irreversível,	o	rei	reduziu-se	a	
um	mero	símbolo	da	unidade	nacional,	com	poderes	efetivos	limi-
tados,	seguindo	este	princípio:	"o	rei	reina,	mas	não	governa".	Pas-
sou-se,	 assim,	 gradualmente,	 da	monarquia	 constitucional	 pura,	
na	qual	os	ministros	eram	responsáveis	somente	perante	o	sobe-
rano,	à	monarquia	parlamentar,	em	que	eles	eram	responsáveis	
diante	do	parlamento	e	deveriam	gozar	de	sua	confiança.	
No	âmbito	civil,	os	cidadãos	gozaram	de	garantias	precisas	
que	os	defenderam	dos	eventuais	arbítrios	do	executivo:	"nenhum	
homem	pode	ser	acusado,	preso	ou	detido	se	não	nos	casos	pre-
vistos	pela	lei	e	segundo	as	formas	prescritas	por	ela"	(Art.	7º).	
Não	menos	 importante	 foi	o	 reconhecimento	da	 liberdade	
de	opinião	 e	 de	 imprensa:	 "todo	 cidadão	pode	 falar,	 escrever	 e	
publicar	livremente"	(Art.	10º	e	11º).	Dessa	forma,	toda	a	liberda-
de	foi	reconhecida	no	campo	religioso:	"nenhum	homem	deve	ser	
85© Séculos 18 e 19: A Era do Liberalismo
molestado	por	suas	opiniões,	também	religiosas"	(Art.	10º)	(MAR-
TINA,	1996,	p.	36).
Logo,	 foi	 reconhecido,	 implicitamente,	o	direito	à	prática	e	
à	propaganda	de	toda	religião,	sem	que	alguém	pudesse	suscitar	
uma	coação	sobre	as	consciências.
Sob	o	aspecto	econômico,	com	relação	aos	privilégios	e	mo-
nopólios	das	velhas	corporações,	houve	a	liberdade	de	iniciativa	e	
de	comércio.	Com	a	lei	proposta	pelo	deputado	Le	Chapelier,	em	
1791,	a	qual	foi	passada	à	história	com	o	nome	de	seu	criador,	fo-
ram	suprimidas	todas	as	corporações	medievais,	as	quais	tinham	
desenvolvido,	na	Idade	Média,	um	papel	útil,	limitando	a	concor-
rência	e	vindo	ao	encontro	das	necessidades	dos	 trabalhadores;	
contudo,	na	Idade	Moderna,	elas	eram,	nada	mais	nada	menos,	do	
que	uma	casta	fechada	e	impediam	toda	iniciativa	particular.	
Vale	lembrar	que	quase	todas	essas	leis,	que	traduziam,	em	
prática,	os	princípios	essenciais	da	Revolução	Francesa,	foram	imi-
tadas,	cedo	ou	tarde,	em	todos	os	países	europeus,	mostrando,	de	
forma	bastante	evidente,	que	elas	não	eram	fruto	de	umaideolo-
gia	apriorística,	e	sim	respondiam	às	exigências	objetivas	da	socie-
dade	e	às	aspirações	da	mentalidade	contemporânea.
Revolução,	no	justo	esforço	de	acabar	com	o	regime	de	pri-
vilégio	e	de	arbítrio,	exasperou	os	princípios	de	igualdade	e	de	li-
berdade,	sem	conseguir	ligá-los	com	outros	aspectos	da	realidade	
e	fazendo	deles	um	mito,	com	o	perigo	de	tornar	mais	difícil	a	rea-
lização	desses	ideais.	
Assim,	da	exasperação	pela	igualdade,	desenvolveu-se	o	in-
dividualismo.	Para	melhor	defender	a	igualdade	e	a	liberdade	de	
todos	os	cidadãos,	o	Estado,	como	vimos,	suprimiu	as	associações	
profissionais:	"[...]	não	existem	mais	corporações	no	Estado,	não	
há	senão	o	interesse	individual	de	cada	um	e	o	interesse	geral	de	
todos"	(MARTINA,	1996,	p.	38).
© História da Igreja Moderna e Contemporânea86
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
Todo	contrato	de	trabalho	estipulado	livremente	entre	dois	
indivíduos	era,	então,	justo	e	respeitado.	Portanto,	enquanto	esta-
vam	cumprindo	um	abstrato	igualitarismo,	os	operários	permane-
ceram	abandonados	a	si	mesmos,	sem	a	defesa	de	uma	associação	
profissional.	
O	 resultado	 final	 foi	 o	 acúmulo	 de	 ingentes	 riquezas	 nas	
mãos	 de	 poucos	 e	 o	 pauperismo	das	massas,	 ainda	 que	menos	
aparentes	 do	 que	 em	épocas	 posteriores.	 Renasceram,	 assim,	 a	
servidão	e	as	discriminações	sociais.	Tudo	isso	se	desenvolveu	gra-
dualmente,	é	óbvio,	pode-se	afirmar	que,	já	na	Revolução,	estava	
se	formando	a	questão	social.
O	mito	da	igualdade	e	da	liberdade	não	tornava	danosas	so-
mente	as	classes	menos	favorecidas;	trazia,	 também,	outras	coi-
sas,	como	a	crise	da	autoridade	do	Estado	e	um	novo	incremento	
ao	laicismo	do	século	17.	A	preocupação	em	salvaguardar	a	liber-
dade	assegurou	a	prevalência	do	poder	legislativo	sobre	o	execu-
tivo,	dando	origem	ao	sistema	parlamentar,	que,	posteriormente,	
se	 degenerou	 no	 parlamentarismo:	 intermináveis	 e	 estéreis	 dis-
cussões	nas	câmaras;	crises	de	governos	privados	de	uma	maioria	
estável;	carência	de	uma	autoridade	capaz	de	garantir	a	segurança	
e	promover	o	bem	comum;	e	violação	dos	direitos	essenciais	das	
minorias	por	parte	de	uma	maioria	que	abusava	de	sua	posição.	
Do	parlamentarismo,	renasceu	o	desejo	de	uma	autoridade	
forte:	abriu-se	o	caminho	para	a	ditadura.	Esse	foi	o	drama	da	Eu-
ropa	entre	os	séculos	17	e	19.
Contemporaneamente,	 seja	 por	 uma	 natural	 reação	 à	 es-
pecialíssima	posição	que	a	Igreja	ocupava	no	Antigo	Regime,	seja	
pela	intolerância	típica	de	quantos	negam	uma	verdade	absoluta,	
a	liberdade	de	culto	e	de	opinião	transformou-se,	em	muitos	ca-
sos,	em	aberta	luta	contra	o	catolicismo	e	a	Igreja.	Não	somente	
a	verdade	e	o	erro	foram	postos	no	mesmo	plano	(situação	inevi-
tável	 e	 fundamentalmente	 correspondente	 a	 critérios	 de	 justiça	
numa	sociedade	pluralista),	como	também,	de	fato,	oprimiu-se	a	
87© Séculos 18 e 19: A Era do Liberalismo
religião	católica	de	diversas	maneiras,	enquanto	a	sociedade,	em	
sua	ordem,	prescindia,	cada	vez	mais,	de	toda	inspiração	religiosa.
No	campo	eclesial,	os	revolucionários	passaram	a	dificultar	
as	ações	eclesiásticas	e	clericais,	criando	uma	legislação	anticatóli-
ca	que	levaria,	depois,	à	perseguição	dos	membros	da	Igreja.
No	 dia	 2	 de	 novembro	 de	 1789,	 com	 base	 na	 proposta	 de	 Tal-
leyrand,	bispo	de	Autun,	os	bens	do	clero	são	postos	à	disposição	
da	nação,	tornando-se	assim	bens	nacionais.	O	Estado	se	encarre-
gará	da	subsistência	do	clero	e	dos	serviços	que	este	último	assegu-
rava	(assistência,	ensino...).	Como	a	Igreja	possuía	um	sexto	do	solo	
nacional,	a	venda	dos	bens	da	Igreja	acarreta	uma	transferência	de	
propriedades	sem	precedentes...	No	dia	13	de	fevereiro	de	1790,	
a	Constituinte	proíbe	os	votos	religiosos...	A	geografia	eclesiástica	
é	completamente	modificada:	de	135,	as	dioceses	passam	para	85	
[...]	(COMBY,	1994,	p.	91).
No	início	de	1791,	o	papa	Pio	VI	condena	a	Constituição	civil	
do	clero	e	exige	a	retratação	deste,	que	apoiou	os	revolucionários.	
Houve	um	período	(10	anos)	de	crises	e	perturbação	na	vida	da	
Igreja	francesa,	o	que	provocou	grandes	disputas	internas,	prisões,	
exílios	e	perseguições.	
O	período	mais	difícil	 foram	os	anos	de	terror:	1793-1794,	
com	muitas	 prisões	 e	 execuções	 de	 padres	 e	 religiosos.	 Após	 o	
período	 negro,	 ocorreu	 uma	 tentativa	 de	 reorganização,	 e,	 em	
1801,	 foi	 assinada	a	Concordata	 com	Napoleão	Bonaparte,	que,	
em	1807,	anexou	os	Estados	Pontifícios	ao	seu	império.	Com	a	re-
constituição	do	Estado	Pontifício	no	Congresso	de	Viena,	em	1815,	
é	iniciada	a	restauração	católica,	com	a	assinatura	de	várias	con-
cordatas	com	vários	países,	com	a	reorganização	eclesial	e	com	a	
fundação	de	centenas	de	novas	ordens	e	congregações	religiosas.
7. SEPARATISMO 
Após	a	Revolução	Francesa,	sendo	os	princípios	desta	assimi-
lados	pelos	demais	países	europeus,	a	questão	da	separação	entre	
Igreja	e	Estado	ganhou	terreno.	Vale	dizer	que	a	polêmica	ideoló-
gica	sobre	o	Separatismo	também	teve	um	amplo	espaço	tanto	no	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea88
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campo	leigo	quanto	no	campo	eclesiástico	(entre	intransigentes	e	
católicos	liberais).	Tratou-se,	de	qualquer	modo,	da	primeira	fase	
histórica	do	processo	de	secularização,	ou	seja,	do	primeiro	passo	
em	direção	à	cidade	leiga,	em	contraposição	à	cidade	sacra.	
É	um	processo	que	diz	 respeito	às	estruturas,	mas	que	 in-
cide,	 também,	na	 vida	 concreta.	Deve-se	mencionar,	 assim,	que	
o	 Separatismo	 (ou	 Separação)	 representa	uma	 reação	à	estreita	
união	trono/altar,	 típica	do	Antigo	Regime;	que	"separação"	não	
significa	 "distinção	 das	 competências",	 "autonomia",	 que,	 como	
sempre	acontece	na	história,	nos	encontramos	diante	de	sistemas	
diversos,	e	não	diante	de	apenas	um	sistema.	
Nesse	 sentido,	 é	 importante	dizer	que	a	 separação	 Igreja/
Estado	aconteceu	de	três	formas:
•	 Separatismo puro:	a	separação	pura	não	excluiu	uma	au-
toridade	transcendente.	Essa	separação	não	foi	sinônimo	
de	indiferentismo	e	muito	menos	de	ateísmo	do	Estado,	
mas	somente	de	respeito	das	respectivas	competências.	
O	Estado	não	professava	nenhuma	particular	religião,	não	
reconhecia	nenhuma	sociedade	religiosa	no	seu	território	
como	 dotada	 de	 plena	 soberanidade	 e	 independência;	
atribuía,	porém,	aos	cidadãos	uma	plena	e	efetiva	liber-
dade	de	culto	e	atividade	religiosa.	Todos	os	cultos	goza-
vam	de	igual	tratamento	jurídico	diante	da	lei,	segundo	os	
princípios	do	direito	comum.	A	 Igreja	não	recebia	ajuda	
alguma	por	parte	do	Estado,	nem	para	a	manutenção	das	
escolas,	mas	tinha	plena	liberdade	na	nomeação	dos	bis-
pos	e	de	todos	os	ofícios	eclesiásticos.	Contudo,	o	Estado	
exonerava	os	eclesiásticos	do	 serviço	militar	e	 reconhe-
cia	os	efeitos	civis	do	matrimônio	religioso,	mantendo-se,	
nesse	ponto,	 longe	do	 laicismo	europeu.	As	consequên-
cias,	portanto,	são	estas:	nenhuma	religião	é	oficialmente	
reconhecida;	 igualdade	 de	 direitos	 civis	 e	 políticos;	 ne-
nhuma	ajuda	do	Estado	para	a	Igreja;	reconhecimento	do	
casamento	celebrado	segundo	os	vários	ritos.	
89© Séculos 18 e 19: A Era do Liberalismo
•	 Separação mista: o	 Estado	 declarava-se	 incompetente	
nas	questões	religiosas,	considerando	a	Igreja	como	uma	
sociedade	privada,	ainda	que	reconhecesse	alguns	privi-
légios	que	a	lei	concedia	a	algumas	pessoas	em	vista	do	
bem	 comum.	 Substancialmente,	 concedia	 liberdade	 à	
Igreja,	mas	continuava	o	estipêndio	para	o	clero;	havia,	
também,	a	obrigatoriedade	do	casamento	civil.
•	 Separação hostil:	desenvolveu-se	em	todas	as	nações	la-
tinas,	bem	como	na	França,	Espanha,	Portugal,	Itália	e	em	
vários	estados	da	América	Latina,	por	uma	natural	reação	
à	união	muito	estreita	entre	Estado	e	 Igreja,	própria	do	
Antigo	Regime.	Pode-se	discutir	se	o	nome	correto	é	"se-
paração"	ou	se	é	possível	usar	outra	expressão,	como	"ju-
risdicionalismo	aconfessional",	que	seria	mais	apropriado	
nos	países	 latinos	da	Europa	e	da	América.	Na	época,o	
Estado	não	 reconhecia	e	não	protegia	a	 Igreja,	mas	de-
fendia-se	dela,	não	a	reconhecendo	como	sociedade	de	
direito	público,	impedindo-lhe	todo	apoio	e	conservando	
severo	controle	sobre	ela.	Em	alguns	lugares,	a	separação	
constituiu	uma	autêntica	ofensiva	contra	a	Igreja	e	a	re-
ligião.	As	 iniciativas	aconteceram	no	decorrer	do	século	
19	com	certa	continuidade,	ao	menos	em	 linhas	gerais,	
podendo	ser	resumidas	assim:	encarceramento	dos	bens	
eclesiásticos;	supressão	das	ordens	religiosas	com	casos	
bens	 diversos	 (simples	 negação	 do	 reconhecimento	 da	
personalidade	jurídica	dos	institutos,	como	na	Itália,	com	
a	lei	de	7	de	julho	de	1866,	com	a	consequente	expulsão	
dos	 religiosos	de	 suas	antigas	 casas	e	a	 constituição	de	
"pequenas	comunidades"	em	diversos	 locais);	proibição	
de	vida	comum	(lei	de	8	de	outubro	de	1910	em	Portu-
gal);	proibição	dos	votos	religiosos;	proibição	de	receber	
novos	noviços;	e	necessidade	de	uma	especial	autoriza-
ção	para	receber	novos	noviços,	que	era	dificilmente	con-
cedida	(lei	de	1º	de	julho	de	1901,	na	França).	A	resistên-
© História da Igreja Moderna e Contemporânea90
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
cia	 silenciosa	dos	 religiosos	 e,	 sobretudo,	 das	 religiosas	
acabou	vencendo	a	força	estatal.	Em	poucos	casos	como	
esse,	 vê-se	a	esterilidade	histórica	de	batalhas	 contra	a	
força	da	vida	consagrada.	
8. IGREJA E LIBERALISMO 
O	século	19	trouxe	para	o	mundo	ocidental	um	novo	modo	
de	encarar	a	política,	a	economia,	a	religião,	a	sociedade	etc.	Após	
a	Revolução	Francesa,	na	questão	política	e	na	relação	entre	Esta-
do	e	Igreja,	foi	forte	a	questão	do	Liberalismo.	Segundo	Zagheni	(	
1999,	p.	87-88):	
Relação	entre	Igreja	e	Estado,	no	século	XIX,	deve	ser	posta	no	con-
texto	do	 liberalismo,	que,	partindo	da	visão	da	pessoa	como	ser	
individual	capaz	de	alcançar	a	felicidade	com	a	ajuda	da	razão,	vê	o	
Estado	como	uma	entidade	composta	de	indivíduos	e	não	de	gru-
pos.	Conseqüentemente,	a	autoridade	não	é	concebida	segundo	a	
forma	patriarcal	da	família	(em	que	a	dignidade	do	homem	é	garan-
tida	pela	inserção	orgânica	no	conjunto);	antes,	baseia-se	num	con-
trato.	Esse	contrato	existe	para	que	o	indivíduo,	desenvolvendo	ao	
máximo	os	próprios	interesses	econômicos,	promova	lucro	maior.	
Essa	 concepção	 requer	 que	 a	 economia	 de	 desenvolva	 segundo	
suas	próprias	leis	e	que	seja	excluída	qualquer	forma	de	interven-
ção	ou	planificação	estatal.	Esse	Estado	não	precisa	de	Deus	para	
alicerçar	a	própria	 autoridade	e	nem	do	 "instrumento"	da	 Igreja	
para	levar	a	população	à	obediência	à	autoridade	constituída:	ele	
se	considera	incompetente	em	matéria	religiosa	e	interpreta	a	reli-
gião	como	uma	questão	individual,	privada.	O	Estado	não	reconhe-
ce	que	uma	religião	determinada	deva	ser	protegida	e	financiada:	
portanto	(em	linha	de	princípio),	há	a	separação	entre	Igreja	e	Esta-
do,	embora	essa	separação	não	precise	ser	introduzida	de	repente,	
em	todos	os	lugares	e	da	mesma	maneira	[...].	Assim,	diante	da	re-
ligião,	o	Estado	liberal	constrói	para	si	uma	ideologia	que	podemos	
chamar	de	 "laicismo".	 É	 contra	essa	especial	 configuração	que	a	
Igreja	do	século	passado	(século	XIX)	se	posiciona,	afirmando	o	pró-
prio	direito	de	existir	como	realidade	pública	e	também	para	defen-
der	os	valores	individuais	e	sociais	que	eram	ignorados	ou	violados.
Diante	do	mundo	novo	surgido	com	a	Revolução	Francesa,	
enquanto	a	 luta	entre	o	antigo	modo	de	viver	e	o	novo	 já	 tinha	
acabado	 e	 o	 Absolutismo	 parecia	 ressurgir	 vitorioso	 das	 cinzas,	
91© Séculos 18 e 19: A Era do Liberalismo
que	 posicionamento	 deveriam	 ter	 os	 católicos?	 Interpretando	 a	
herança	revolucionária	e	as	mudanças	irreversíveis,	Comby	afirma	
(1994,	p.	102):	
O	catolicismo	francês	e	europeu	saiu	profundamente	transformado	
da	Revolução	e	do	Império.	Em	sua	maioria,	os	bens	da	Igreja	ha-
viam	passado	para	mãos	leigas.	Não	se	retomará	a	primeira	grande	
secularização	da	sociedade	francesa.	Único	príncipe	eclesiástico,	o	
papa	ainda	conserva	um	poder	temporal.	A	liberdade	de	cultos	é	
integrada	à	legislação.	Os	franceses	podem	afirma-se	não-católicos	
ou	não-cristãos.	Pela	criação	do	registro	civil,	as	etapas	da	existên-
cia	humana	escapam	ao	controle	da	Igreja,	que	perde	igualmente	
o	domínio	do	ensino.	
Em	um	período	de	transformações	radicais,	às	vezes,	não	é	
fácil	distinguir	o	erro	da	verdade,	os	aspectos	contingentes	dos	va-
lores	permanentes.	
A	herança	revolucionária	dividiu	os	franceses	e	essa	divisão	perdu-
rou	até	um	período	recente.	Enquanto	os	'liberais'	se	prevaleciam	
dos	princípios	revolucionários	de	liberdade	e	de	igualdade,	os	ca-
tólicos,	em	sua	maioria,	viram	na	Revolução	a	obra	de	Satã.	Essa	
é	a	razão	por	que,	no	século	XIX,	os	católicos	que	desejavam	uma	
restauração	social	e	religiosa	com	base	no	modelo	do	Antigo	Regi-
me	se	opções	aos	liberais,	que	se	empenham	em	defender	as	aqui-
sições	revolucionárias.	O	conflito	se	desenrola	no	interior	da	Igreja	
quanto	alguns	católicos	consideram	que	os	princípios	de	1789	não	
são	incompatíveis	com	o	Evangelho	e	que	é	inútil	desejar	ressusci-
tar	um	passado	já	cumprido	(COMBY,	1994,	p.	102).
Desenvolveu-se,	portanto,	dentro	da	Igreja	e	entre	os	cató-
licos,	uma	dupla	tendência:	de	um	lado,	encontramos	os	católicos	
intransigentes	e,	de	outro,	os	católicos	liberais.	
Católicos intransigentes 
A	obra O Liberalismo é pecado,	publicada	em	1884,	pelo	sa-
cerdote	espanhol	Sarda	y	Salvany,	é	o	símbolo	do	posicionamento	
geral	dos	católicos	intransigentes	diante	das	suas	liberdades mo-
dernas.	A	imprensa	católica	do	século	19	foi	largamente	invadida	
pelos	seguintes	juízos:	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea92
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1)	 a	liberdade	é	a	amiga	mais	fiel	e	cara	do	demônio,	por-
que	abre	 caminhos	para	 inumeráveis	 e	quase	 infinitos	
pecados;	
2)	 toda	partícula	de	liberdade	tem	de	ser	condenada;	
3)	 a	liberdade	de	consciência	é	uma	loucura	e	a	liberdade	
de	imprensa	é	um	mal	que	jamais	se	deplorará	suficien-
temente;	
4)	 uma	vez	que	o	Liberalismo	é	intrinsecamente	perverso,	
não	resta	outra	coisa	a	fazer	senão	rechaçar	em	bloco	as	
doutrinas.	
Essa	mentalidade	estava	muito	presente	no	início	do	sécu-
lo	quando	da	constatação	dos	males	 imediatos	que	a	Revolução	
tinha	 causado	 em	 todos	 os	 campos.	Mais	 ainda:	 desconfiava-se	
de	tudo	aquilo	que	se	apresentava	como	novo;	por	exemplo:	toda	
novidade	na	Política	era	uma	revolução;	na	Filosofia,	um	erro;	na	
Teologia,	uma	heresia.	O	Absolutismo,	com	a	estreita	união	entre	
trono/altar,	aparecia	como	o	melhor	regime	político	para	os	católi-
cos	que	tinham	uma	mentalidade	intransigente.	O	ideal,	para	eles	
era	a	volta	ao	antigo	regime.	
O	movimento	intransigentismo,	pode	ser	assim	definido:	
Movimento	 católico	 italiano,	 criado	no	 século	XIX,	 em	defesa	da	
religião	e	da	Igreja	na	sociedade	face	ao	Estado	liberal.	Desvincu-
lando-se	 do	 saudosismo	 legitimista	 dos	 velhos	 regimes,	 estabe-
leceram-se,	 os	 seus	 adeptos,	 num	 plano	 nitidamente	 religioso.	
Defendiam	a	questão	romana	não	como	exigência	de	legitimismo	
dinástico,	mas	como	uma	necessidade	religiosa	para	a	liberdade	da	
Igreja.	Preocupavam-se	com	o	novo	Estado	italiano	e	as	suas	rela-
ções	com	a	Igreja	(SCHLESINGER,	1995,	n.p).
É	 importante	ressaltar,	contudo,	que	a	oposição	ao	Libera-
lismo	 nascia	 por	 motivos	 mais	 elevados.	 Os	 intransigentes,	 por	
exemplo,	moviam	uma	crítica	 cerrada	às	 lacunas	e	aos	erros	do	
sistema,	opondo-se	às	tentativas	de	laicização	dos	liberais.	Nesse	
sentido,	o	 Liberalismo,	 ao	menos	em	 suas	 formas	mais	 radicais,	
fazia	da	razão	humana	o	único	critério	da	verdade,	negando	a	ela	
a	possibilidade	de	submeter-se	à	Revelação;	proclamava	um	indi-
ferentismo	sistemático	que	colocava	o	ateísmo	e	todas	as	religiões	
93© Séculos 18 e 19: A Era do Liberalismo
sob	o	mesmo	plano;	separava	a	Economia	da	Moral;	fazia	do	Esta-
do	um	Estado	absoluto;	reduzia	a	função	social	da	religião	(quando	
não	anegava);	recusava	dar	à	Igreja	o	direito	de	intervir	com	auto-
ridade,	além	das	questões	estritamente	dogmáticas,	especialmen-
te	no	campo	social.	Esses	erros	acabavam	por	minar	as	bases	da	fé.
Os	intransigentes	preocupavam-se	com	a	defesa	das	estrutu-
ras	cristãs	da	sociedade	que	facilitassem	aos	fiéis	o	cumprimento	
dos	seus	deveres	religiosos.	Temos	de	levar	em	consideração,	nes-
se	contexto,	que	a	Igreja	não	é	composta	por	apenas	um	pequeno	
grupo,	e	sim	por	um	povo	imenso,	do	qual	fazem	parte,	também,	
os	fracos,	incapazes	de	se	manterem	coerentes	com	o	próprio	ide-
al	 somente	 com	 suas	 próprias	 forças,	 de	 resistir	 às	 pressões	 do	
ambiente	circunstante.	
Na	época,	o	apoio	estatal	era	defendido	abertamente	pelos	
católicos	 intransigentes,	tática	essa	que	pode	historicamente	ser	
considerada	 "errada",	 uma	vez	que	eles	não	puderam	conceber	
outra	forma	de	sociedade	cristã	além	daquela	do	Antigo	Regime.	
Mesmo	assim,	continuaram	a	defender	uma	sociedade	organizada	
hierarquicamente	e	fundada	sobre	o	privilégio,	bem	como	religio-
samente	unida,	na	qual	a	fé	católica	era	considerada	como	o	úni-
co	fundamento	do	Estado,	e,	portanto,	os	direitos	políticos	e	civis	
eram	subordinados	à	fé	e	à	prática	religiosa.	
•	 Católicos	liberais
Enquanto	os	intransigentes	se	endureciam	em	suas	posições	
radicais	aos	ideais	modernos,	os	católicos	liberais	iniciavam	e	pros-
seguiam	o	seu	difícil	e	cansativo	trabalho	de	explicação	e	de	acei-
tação	dos	princípios	de	1789.	
Vários	 elementos	 contribuíram	 para	 a	 mentalidade	 mais	
aberta	desses	católicos,	mas	pode-se	dizer	que	foi	o	encontro	da	
fé	tradicional	com	o	novo	clima	surgido	com	a	Revolução	Francesa	
que	 se	 revelou	 fecundo	e	estimulante.	De	um	 lado,	os	 católicos	
eram	levados	a	conceber,	de	uma	maneira	nova,	as	relações	en-
tre	sociedade	religiosa	e	sociedade	civil;	de	outro,	colocavam-se	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea94
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em	maior	evidência	alguns	aspectos	da	Igreja	mesma,	os	quais,	na	
época	pós-tridentina,	permaneceram	em	segundo	plano.
O	grande	esforço	dos	católicos	liberais	era	fazer	a	Igreja	en-
tender	que	o	Antigo	Regime	 já	estava	morto;	demonstrar	que	o	
acordo	entre	religião	e	liberdade	seria	algo	bom	e	positivo;	dissi-
par	os	juízos	contra	a	religião	e	evitar	que	o	progresso	em	curso	se	
concretizasse	sem	inspiração	cristã:	"Se	a	Igreja	não	caminhar	com	
o	povo",	observa	o	Pe.	Joaquim	Ventura	no	prefácio	do	Discurso 
pelos mortos de Viena,	 feito	em	Roma	em	novembro	de	1848	e	
colocado	no	 índice	no	ano	seguinte,	"não	é	por	 isso	que	o	povo	
deixará	de	caminhar,	mas	caminhará	sem	a	Igreja,	fora	da	Igreja	e	
contra	a	Igreja"	(MARTINA,	1996,	p.	185).
Aprofundando	o	significado	do	Liberalismo	Católico:	
Movimento	de	emancipação	do	pensamento	 católico	 surgido	no	
século	XIX.	Resultou	principalmente	em	duas	vertentes:	a	político-
-religiosa	e	a	científica.	A	primeira	estendeu-se	pela	zona	francófo-
na,	donde	surgiram	grupos	liberais	ativos	em	torno	dos	periódicos	
L´Avenir	 com	 Lamennais	 à	 frente	 e	 Le	 Correspondent	 sob	Mon-
tlambert.	 Na	 Alemanha,	 o	 liberalismo	 católico	 colocou	 o	 centro	
de	suas	preocupações	no	âmbito	da	ciência.	O	professor	bávaro	J.	
Froschammer	encarregou-se	de	exaltar	a	liberdade	científica.	Ou-
tros	partilharam	das	mesmas	idéias.	Roma	intervém,	porém,	com	
quase	nenhum	sucesso.	O	movimento	propaga-se	pelas	minorias	
cultas	e	não	tarda	a	aparecer	um	grave	conflito	entre	a	cúria	roma-
na	e	a	teologia	universitária	alemã	(SCHLESINGER,	1995,	n.p).
Assim,	o	maior	mérito	de	todos	os	liberais	católicos	foi	o	de	
ter	reforçado	a	absoluta	necessidade	de	a	Igreja	alcançar	um	acor-
do	entre	ela	e	o	mundo	moderno.	Justamente	eles	falaram	sobre	
os	perigos	da	união	muito	estreita	entre	 trono	e	altar	e	sobre	a	
necessidade	de	pôr	fim	a	esse	sistema;	insistiram,	ainda,	sobre	a	
mais	nítida	distinção	entre	as	duas	sociedades,	sobre	a	liberdade	
da	Igreja	sem	sofrer	ingerência	estatal	e	sobre	a	purificação	de	to-
dos	os	compromissos	temporais.	
Os	liberais	católicos	ainda	viram	bem	os	aspectos	positivos	
do	Liberalismo,	entre	os	quais	estão	o	respeito	à	consciência	e	a	
concepção	da	verdade	como	uma	conquista	pessoal,	livre	e	cons-
95© Séculos 18 e 19: A Era do Liberalismo
ciente.	Dessa	forma,	a	liberdade	poderia	ter	sido	útil	à	Igreja	se	os	
católicos	tivessem	sabido	aproveitar	essa	nova	mentalidade.
E	 o	 Liberalismo?	 E	 os	 católicos	 liberais?	 Não	 somente	 no	
campo	político,	mas	em	todos	os	assuntos	então	discutidos,	os	ca-
tólicos	liberais	tinham	sua	posição	bastante	clara,	como	na	ques-
tão	da	liberdade	de	imprensa,	de	consciência,	da	reforma	da	Igre-
ja,	em	que	tentavam	colocar	a	Igreja	em	seu	tempo.	
Um	 grande	 golpe	 para	 os	 católicos	 liberais,	 contudo,	 veio	
com	o	papa	Gregório	XVI.	O	papa	condenou	 todos	os	princípios	
do	Liberalismo	religioso	e	político	com	a	encíclica	Mirari vos.	Nela,	
condenou-se	 não	 somente	 o	 indiferentismo,	 mas	 também	 "[...]	
aquela	 absurda	e	 errônea	opinião	ou	 antes	delírio,	 que	 se	deva	
sustentar	 e	 garantir	 a	 todos	 a	 liberdade	 de	 consciência"	 (Mirari 
vos, Gregorio	XVI,	de	12	de	agosto	de	1832).	Foi	condenada,	tam-
bém,	a	liberdade	de	imprensa,	pela	qual	se	difundiram,	no	povo,	
os	escritos	de	todo	gênero.	Finalmente,	recusou-se	a	tese	daqueles	
que	queriam	separar	a	Igreja	do	Estado.	Com	essa	encíclica,	a	cúria	
romana	deixou	clara	a	sua	preferência	pelo	Absolutismo,	uma	vez	
que	condenava	a	liberdade	de	consciência	e	o	indiferentismo.	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Gregório XVI: antes de ser eleito papa, Gregório XVI foi um monge camaldu-
lense. Nos 16 anos do seu pontificado (1830-1846), assumiu atitudes reacioná-
rias e extremamente hostis a qualquer renovação ou concessão ao "espírito da 
época", ou seja, contrariamente ao que muitos esperavam para uma reforma na 
Igreja. Em sintonia com as tendências restauradoras daqueles anos, reforçadas 
no Congresso de Viena (1815), ele promoveu, no seu pontificado, a institucio-
nalização da unidade entre trono e altar, vinculando, assim, a Igreja às antigas 
estruturas da sociedade que a Revolução Francesa tinha abalado. Gregório XVI 
considerava, de fato, o papado como uma instituição imutável, que nunca podia 
transigir com os "caducos e transitórios" valores temporais. Além disso, ele via 
nas aspirações dos fautores da unificação italiana uma "tremenda ameaça" para 
o poder temporal dos papas, base indispensável para o exercício da sua função 
espiritual como chefe da Igreja.
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
© História da Igreja Moderna e Contemporânea96
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
9. PONTIFICADO DE PIO IX (1846-1878)
Quando	Gregório	XVI	morreu,	os	problemas	políticos	 rela-
cionados	com	os	Estados	Pontifícios	e	a	crescente	campanha	dos	
patriotas	italianos	tiveram	uma	influência	significativa	na	escolha	
do	 seu	 sucessor.	A	preferência	 caiu	 sobre	o	Cardeal	Mastai,	 em	
virtude	de	ser	"aberto"	e	de	ter	ideias	"avançadas".	
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Giovanni Maria Mastai-Ferretti nasceu em 13 de maio de 1792, na cidade de 
Senigallia (perto de Ancona, Itália), sendo o último de nove filhos. Desde os seus 
15 anos até cerca de 30 anos, sofreu ataques epilépticos. Estudou como semi-
narista no Colégio Romano de 1816 a 1819. Sua formação teológica, entretanto, 
foi apressada e sumária, como a de muitos eclesiásticos do seu tempo. Em 1827, 
foi nomeado bispo de Spoleto, de onde foi transferido para Ímola em 1832. Nas 
duas dioceses, teve uma atuação pastoral notável, sabendo superar situações 
difíceis decorrentes de agitações revolucionárias naquelas regiões. Conseguiu 
ganhar simpatia e benevolência de seus diocesanos por causa de sua mode-
ração. Nos meios reacionários romanos, temia-se muito o seu espírito "liberal".
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Assumindo	o	pontificado	no	mesmo	dia	de	sua	eleição	(16	de	
junho	de	1846)	e	adotandoo	nome	de	Pio	IX,	ele	governou	a	Igre-
ja	durante	um	período	de	32	anos,	o	mais	longo	da	história.	Sua	
fase	"liberal"	durou	dois	anos:	de	1846	a	1848.	Realizou	algumas	
reformas	nos	Estados	Pontifícios,	mas,	no	fundo,	estas	apareceram	
mais	como	"concessões"	para	apaziguar	os	espíritos	inquietos.	Às	
suas	tendências	liberais,	Pio	IX	pôs	um	fim	bruscamente	em	uma	
alocução	em	29	de	abril	de	1848,	quando	rejeitou	a	luta	contra	a	
Áustria,	que	ocupava	parte	do	norte	da	Itália,	declarando-se	"neu-
tro"	em	relação	ao	movimento	de	unificação	italiana.
Os	acontecimentos	de	1848	tiveram	como	efeito	uma	rup-
tura	radical	de	Pio	 IX	com	os	revolucionários	 identificados	como	
"liberais",	sob	o	ponto	de	vista	psicológico.	A	reação	transformou-
-se,	no	decorrer	dos	anos,	em	uma	espécie	de	"declaração	de	prin-
cípios":	todo	regime	constitucional,	de	inspiração	liberal-democrá-
tica,	é,	por	si	 só,	perverso	e	contrário	à	 religião;	daí	as	posições	
de	intransigência	diante	do	"espírito	da	época",	em	um	gesto	de	
97© Séculos 18 e 19: A Era do Liberalismo
rejeição	e	oposição	incondicionais.	A	institucionalização	dessa	ani-
mosidade,	 por	 parte	 da	 Igreja	 hierárquica,	 fez	 que	 o	 papado	 se	
tornasse	incapaz	de	influenciar,	de	forma	positiva	e	construtiva,	na	
nova	 configuração	 sociocultural	 e	 econômico-política	 da	 Europa	
do	século	19.	
Pio	 IX	marcou	profundamente	a	orientação	do	catolicismo	
na	segunda	metade	do	século	19,	embora	fosse	acentuadamente	
emotivo,	o	que	o	tornava	cordial	e	simpático.	Sua	preparação	inte-
lectual	foi	superficial	e,	por	isso,	faltava-lhe,	às	vezes,	um	discerni-
mento	mais	objetivo	sobre	os	acontecimentos;	por	exemplo,	para	
ele,	as	convulsões	políticas	em	que	a	Igreja	estava	envolvida	eram	
vistas	apenas	como	um	episódio	da	grande	luta	entre	Deus	e	Sa-
tanás,	não	realizando,	assim,	uma	análise	mais	realista	dos	fatos.
Naturalmente,	 esses	 limites	 não	 nos	 impedem	 de	 citar	 as	
suas	qualidades:	simplicidade,	bondade,	operosidade,	talento	ora-
tório,	profundidade	de	sentimentos	religiosos,	acentuada	devoção	
marial,	consciência	do	dever	pastoral	e	defesa	dos	valores	cristãos	
em	uma	sociedade	cada	vez	mais	laicizada.	
Além	disso,	Pio	IX	empenhou-se,	seriamente,	em	melhorar	
a	 qualidade	 da	 vida	 católica:	 estimulou	 as	 devoções	 populares,	
promoveu	a	espiritualidade	sacerdotal	e	empreendeu	reformas	na	
vida	 religiosa,	 tendo	 três	 objetivos,	 quais	 sejam,	 a	 retomada	da	
vida	comunitária,	a	seleção	acurada	de	religiosos	e	o	apoio	às	no-
vas	fundações	que	melhor	correspondessem	às	urgências	da	épo-
ca.	Durante	os	32	anos	do	pontificado	de	Pio	IX,	o	movimento	mis-
sionário	cresceu	notavelmente;	na	América	Latina,	por	exemplo,	
206	novas	dioceses	e	vicariatos	foram	erigidos	entre	1849	e	1878.
Pio	IX,	contudo,	não	soube	adaptar-se	à	profunda	evolução	
política	e	social	que	caracterizou	o	século	19.	Foi	 incapaz	de	dis-
cernir	o	que	foi	positivo	na	Revolução	Francesa	e	deixou-se	condi-
cionar	pela	situação	concreta	da	Península	Italiana.	Todos	os	seus	
esforços	como	pontífice	visaram	à	reafirmação	do	transcendente	
e	do	sobrenatural	contra	as	tendências	racionalistas	e	laicizadoras	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea98
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
daqueles	anos.	Somente	nessa	perspectiva,	entende-se	um	docu-
mento	como	o	Sílabo,	por	exemplo.	
SÍLABO ou SYLLABUS: é um documento que elenca os chama-
dos "erros modernos". A ideia de condenar esses erros já aparecia 
em 1849, em um sínodo provincial em Spoleto, sendo amadureci-
do aos poucos, e, em 1864, o documento foi apresentado, conde-
nando 80 erros do mundo moderno. 
As	80	proposições	que	condenam	os	erros modernos	conti-
das	no	Sílabo	abraçam	dez	capítulos,	os	quais	podem	ser	reunidos	
em	quatro	pontos	fundamentais:
1)	 O	primeiro	grupo	de	erros	diz	respeito	ao	panteísmo,	ao	
naturalismo,	 ao	 racionalismo	absoluto,	 ao	 indiferentis-
mo	e	à	incompatibilidade	entre	razão	e	fé.	Também	fala	
sobre	os	autores	católicos	que	não	queriam	obedecer	a	
um	magistério	infalível.
2)	 O	 segundo	 grupo	 recolhe	 os	 erros	 da	 ética	 natural	 e	
sobrenatural	 com	 especial	 interesse	 pelo	 matrimônio.	
Nele,	é	condenada	a	moral	leiga	que	pretende	salvar	a	
distinção	entre	o	bem	e	o	mal,	a	separação	entre	casa-
mento	e	contrato	de	matrimônio.	
3)	 A	terceira	série	fala	dos	erros	sobre	a	natureza	da	Igreja,	
a	natureza	do	Estado	e	sobre	a	relação	entre	os	dois	po-
deres.	A	Igreja,	por	sua	própria	natureza,	é	independen-
te,	e	o	Estado	é	subordinado	à	lei	moral;	menciona,	tam-
bém,	os	direitos	naturais	anteriores	e	independentes	do	
Estado.	Além	disso,	são	recusadas	todas	as	teorias	juris-
dicionalistas	que	falavam	da	subordinação	da	 Igreja	ao	
Estado,	enumeram-se	os	abusos	dos	governos,	e	não	se	
aceita	o	princípio	fundamental	do	Liberalismo,	ou	seja,	a	
separação	entre	Igreja	e	Estado.
4)	 Mais	grave	foi	o	quarto	grupo	de	proposições,	pelo	me-
nos	enquanto	se	referia	às	reações	provocadas.	Diz	que	
a	religião	católica	ainda	deveria,	naqueles	dias,	ser	con-
siderada	religião	de	Estado,	com	a	exclusão	dos	outros	
cultos;	assim,	são	condenadas	a	liberdade	de	culto,	a	li-
berdade	de	pensamento	e	a	de	 imprensa.	Em	resumo,	
99© Séculos 18 e 19: A Era do Liberalismo
não	 aceitam	 as	 teses	 fundamentais	 da	 sociedade	mo-
derna,	os	 imortais	princípios	da	Revolução	Francesa.	E	
como	se	 isso	não	bastasse,	a	última	proposição	afirma	
ser	categoricamente	falsa	a	afirmação	pela	qual	o	roma-
no	pontífice	pode	e	deve	reconciliar-se	com	o	progresso,	
com	o	Liberalismo	e	com	a	civilização	moderna	(o	Sílabo	
e	todos	os	documentos	da	Igreja	podem	ser	lidos	no	site	
disponível	 em:	 <www.documentacatholicaomnia.eu>.	
Acesso	em:	06	jun.	2012).	
Reações ao Sílabo 
Nenhum	documento	emanado	pela	Santa	Sé	provocou	tan-
tas	discussões	como	o	Sílabo.	Intransigentes	e	liberais	entusiasma-
ram-se	por	motivos	opostos:	os	primeiros,	porque	a	Santa	Sé	teria	
condenado,	também,	os	católicos	liberais;	os	segundos,	porque	a	
Santa	Sé	teria	entrado	definitivamente	no	obscurantismo.	
Todavia,	 o	 Sílabo	 ainda	é	 visto	hoje	 como	um	exemplo	de	
coragem,	de	fidelidade	aos	princípios,	de	intuito	político	que	pôs	
luz	em	alguns	perigos	presentes	no	Liberalismo	que	poderiam	jus-
tificar	o	Estado	totalitário.	Essa	visão	foi	compartilhada	pelos	cató-
licos	(ainda	que	não	tenha	sido	pela	maioria).
A	opinião	clássica	da	maioria,	porém,	foi	bem	diversa:	o	Sí-
labo	 permaneceu	 como	 um	 exemplo	 clássico	 do	 obscurantismo	
católico,	 senão	 o	 único,	 ou,	 pelo	menos,	 o	mais	 significativo.	 O	
elenco	de	dezembro	de	1864	foi	considerado	como	um	novo	anel	
de	uma	longa	cadeia	de	intervenções	com	as	quais	a	Igreja	se	colo-
cava	contra	o	mundo	moderno.	Muitos	dos	que	partilharam	dessa	
opinião	afirmaram	que	a	 Igreja,	ao	menos	até	o	Vaticano	 II,	não	
renunciou	nunca	ao	seu	obscurantismo	e	que,	de	Pio	IX	a	Pio	XII,	
não	cessou	de	excomungar	os	ideais	do	mundo	contemporâneo.
Concílio Vaticano I
A	primeira	ideia	da	realização	de	um	Concílio	Ecumênico	foi	
exposta	em	1864,	na	eminência	do	Sílabo,	com	a	finalidade	de	res-
© História da Igreja Moderna e Contemporânea100
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
taurar	 a	 fé	 cristã	 no	 século	 19,	 como	o	 foi	 o	 Concílio	 de	 Trento	
no	século	16.	O	anúncio	público	foi	feito	por	ocasião	da	comemo-
ração	do	martírio	de	São	Pedro,	em	1867.	A	convocação	ocorreu	
por	meio	da	bula	Aeternus Patris,	em	28	de	junho	de	1868,	sendo	
realizada	a	abertura	em	8	de	dezembro	de	1869,	mesma	data	da	
definição	do	dogma	da	Imaculada	Conceição	e	do	Sílabo.
Foram	 preparados	 quase	 cinquenta	 esquemas	 para	 serem	
estudados	durante	o	Concílio;	entretanto,	somente	seis	foram	dis-
cutidos	e	dois	chegaram	a	uma	conclusão	(destes,	um	discorria	so-
bre	um	catecismo	único,	que	foi	aprovado,	mas	não	promulgado).	
A	questão	que	polarizava	a	realização	desse	Concílio	se	referia	à	
infalibilidade	do	papa	e	a	muitas	discussões	anteriores,	as	quais	
tomavam	conta	do	cenário	eclesiástico.	
Em	fevereiro	de	1869,a	revista	Civilização Católica	publicou	
um	artigo	propondo	uma	definição	por	aclamação	(sobre	o	dogma	
da	 infalibilidade).	Houve,	porém,	uma	réplica	com	Döllinger,	bis-
po	alemão,	que	escreveu:	"[...]	o	papado	no	seu	desenvolvimento	
atual	se	assemelha	a	uma	apêndice	parasita	mal	sã	e	sofredora,	
unindo-se	ao	organismo	da	Igreja	que	corta	e	paralisa	as	melhores	
forças	da	Igreja"	(MARTINA,	1996,	p.	241).	
Nesse	sentido,	Dupanloup,	bispo	 francês,	disse	que	a	 Igre-
ja	viveu	18	séculos	sem	esse	dogma,	enquanto	a	infalibilidade	da	
Igreja	universal	é	admitida	por	todos	e	é	suficiente	para	a	plena	
segurança	da	fé.	Para	que	serviria,	então,	uma	nova	definição?	
Assembleia
Cerca	de	setecentos	padres	conciliares	participaram	do	Vati-
cano	I;	a	maior	parte	era	composta	por	europeus	e	por	favoráveis	
à	definição	do	dogma	da	infalibilidade.	
O	primeiro	documento	aprovado	foi	o	Deus Filius,	que	con-
tém	 quatro	 capítulos:	 Deus pessoal,	 livre,	 criador	 e	 providente.	
Esse	documento	trata	sobre	os	valores	e	limites	da	razão	que	po-
dem	conhecer	Deus,	mas	tem	a	necessidade	absoluta	de	Revela-
101© Séculos 18 e 19: A Era do Liberalismo
ção	para	as	verdades	sobrenaturais,	uma	necessidade	moral	para	
conhecer	algumas	formas	de	erros	e	algumas	verdades	naturais;	
ele	explica	sobre	a	natureza	da	fé,	virtude	sobrenatural,	mas	com	
consentimento	 cego,	 porque	 foi	 fundado	 sobre	provas	da	Reve-
lação,	milagres	 e	 profecias;	 e	 ainda	 afirma	que	 não	 há	 nenhum	
contraste	entre	fé	e	razão.
O	documento	Deus Filius	condenava	o	Racionalismo	e	o	Tra-
dicionalismo,	que	negavam	à	razão	a	capacidade	de	conhecer	as	
supremas	verdades	religiosas	e	morais,	alcançáveis	somente	por	
meio	 de	 uma	 revelação	 primitiva	 transmitida	 pela	 sociedade,	 e	
que	foi	uma	tentação	difundida	na	primeira	metade	do	século	18	
como	reação	do	século	17	à	Revolução	Francesa.
Constituição "Pastor Aeternus"
Com	o	documento	Pastor	Aeternus,	ficou	aprovado	o	dogma	
da	infalibilidade	papal,	depois	de	muitas	discussões	entre	os	mem-
bros	que	participaram	da	assembleia.	O	âmbito	das	definições	in-
falíveis	 foi	 limitado	às	declarações	ex cathedra,	 ou	 seja,	quando	
o	papa	falava	na	sua	condição	de	"papa",	sendo	esclarecido	que	
precisava	haver	uma	união	entre	o	ele	e	a	Igreja.	A	infalibilidade	
resultou	desta	forma:	
•	 Absoluta:	não	no	sentido	de	ilimitada,	que	seria	uma	prer-
rogativa	divina,	mas	no	sentido	de	que	excluía	o	apelo	a	
uma	instância	superior,	que	era	o	próprio	Concílio.
•	 Pessoal:	não	porque	era	estendida	a	todos	os	atos,	mas	
para	excluir	a	distinção	entre	a	"sede"	e	"aquele	que	está	
na	sede"	(um	papa	poderia	errar,	mas	seu	erro	seria	corri-
gido	pelo	sucessor	e	pela	série	coletiva	dos	papas;	assim,	
o	papado,	no	seu	conjunto,	seria	infalível).	
•	 Separada:	porque	excluía,	como	condição	jurídica	vincu-
lante,	o	consentimento	dos	bispos,	ainda	que	fosse	admi-
tida	uma	união	entre	o	papa	e	a	Igreja,	entre	a	cabeça	e	o	
corpo.	De	fato,	o	papa	não	podia	definir	o	que	fazia	parte	
© História da Igreja Moderna e Contemporânea102
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
da	Revelação	e	da	tradição.	Também	não	se	excluía	que,	
em	linha	geral,	se	informasse,	por	meio	do	episcopado,	se	
a	doutrina	que	pretendia	definir	fazia	parte	da	Revelação.	
Exatamente	por	isso,	não	poderia	faltar	a	ele	o	consenso	
do	episcopado	e	dos	fiéis.
Significado do Vaticano I 
No	dia	20	de	setembro	de	1870,	Roma	foi	tomada;	e,	no	dia	
20	de	outubro,	o	Concílio	foi	prorrogado	em	virtude	das	agitações	
políticas,	não	sendo	mais	possível	dar	continuidade	a	ele.	
Pode-se	dizer	que	o	Concílio	teve	pouca	incidência	sobre	a	
vida	da	Igreja.	É	frequentemente	lembrado	apenas	como	o	Concí-
lio	que	definiu	a	doutrina	sobre	a	infalibilidade	papal,	e,	para	essa	
informação,	há	três	observações	a	serem	feitas:
•	 A	 definição	 foi	 moderada,	 uma	 vez	 que	 se	 reforçou	 a	
identidade	entre	infalibilidade	do	papa	e	da	Igreja,	escla-
recendo	os	 limites,	bem	como	explicando	a	conexão	do	
"cabeça"	da	Igreja	com	"seu	corpo".	Em	outras	palavras,	
o	papa	devia	estar	sempre	em	união	com	toda	a	Igreja	e	
com	os	bispos.
•	 O	 feito	histórico	 foi	mais	amplo	do	que	o	 jurídico.	 Se	a	
definição	foi	moderada,	a	autoridade	pontifícia	foi	refor-
çada.	Dois	acontecimentos	são	quase	simultâneos:	em	18	
de	julho	e	em	20	de	setembro:	o	dogma	da	infalibilidade	
e	a	perda	do	resto	de	poder	temporal.	Não	era	a	punição	
de	uma	desenfreada	ambição,	a	perda	do	poder	já	ana-
cronístico,	mas	 era	 a	 compensação,	 uma	 renovação	 de	
prestígio	e	de	maior	autoridade	espiritual.
•	 Relações	entre	o	Vaticano	I	e	II	–	o	Vaticano	I	é	um	termo	
final	de	um	longo	processo	histórico,	depois	do	conciliaris-
mo,	a	estéril	definição	de	Florença,	sem	efeitos	práticos,	o	
compromisso	tridentino	que	evitou	discutir	o	assunto.	So-
mente	no	Vaticano	II,	com	o	documento	conciliar	Lumen	
103© Séculos 18 e 19: A Era do Liberalismo
gentium,	 é	 que	 se	 esclareceu	 como	o	 papa	 exercia	 seu	
papel	de	autoridade	máxima	dentro	da	Igreja:	
[...]	assim	como	por	disposição	do	Senhor	São	Pedro	e	os	outros	
Apóstolos	 constituem	 um	 Colégio	 Apostólico,	 paralelamente	 o	
Romano	Pontífice,	Sucessor	de	Pedro,	e	os	Bispos,	Sucessores	dos	
Apóstolos,	estão	unidos	entre	si	(LUMEN	GENTIUM,	1966).
Concluindo	o	tema	do	Concílio	Vaticano	I,	Comby	(1994,	p.	124)	
assim	escreve:	
O	Vaticano	 I	 deixa	 uma	 impressão	 de	 desequilíbrio.	 Por	 falta	 de	
tempo,	o	Concílio	 falou	do	papa	e	não	dos	bispos,	mas,	sem	dú-
vida,	uma	 teologia	do	episcopado	não	estava	madura.	 Essa	 falta	
de	tempo	talvez	 tenha	sido	providencial.	Finalmente,	a	definição	
da	infalibilidade	teve	menos	consequências	que	a	da	primazia.	No	
sentido	estrito,	o	papa	não	exerceu	a	infalibilidade	senão	quando	
da	definição	da	Assunção,	em	1950.	Em	compensação,	ao	afirmar	
a	primazia,	o	Concílio	reconhece	ao	'papa	´uma	jurisdição	ordiná-
ria,	imediata,	episcopal	sobre	toda	a	Igreja´.	A	primazia	favorece	a	
centralização	romana,	aumenta	o	prestígio	e	o	poder	do	papado	no	
momento	em	que	este	perde	seu	poder	temporal.	Restava	conciliar	
essa	primazia	com	o	poder	dos	bispos.	A	afirmação	da	colegialida-
de	virá	no	Vaticano	II.	As	definições	do	Vaticano	I	por	vezes	aumen-
taram	a	tensão	entre	a	sociedade	política	e	a	Igreja.	Isso	serviu	de	
pretexto	para	a	implantação	de	medidas	anticlericais	em	diversos	
países	
10. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira,	na	sequência,	as	questões	propostas	para	verificar	
seu	desempenho	no	estudo	desta	unidade:
1)	 Ficou	claro	para	você	o	processo	de	construção	do	pensamento	Iluminista	e	
sua	abrangência?
2)	 Que	avaliação	você	faz	da	Revolução	Francesa?
3)	 Quais	as	consequências	do	pensamento	Iluminista	e	da	Revolução	Francesa	
para	o	Cristianismo?
4)	 O	que	você	pensa	da	Intransigência	Católica	do	século	19?
© História da Igreja Moderna e Contemporânea104
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
11. CONSIDERAÇÕES
Nesta	unidade,	conhecemos	o	Iluminismo	e	suas	caracterís-
ticas,	bem	como	o	Separatismo	e	o	Liberalismo.	Conhecemos,	ain-
da,	o	pontificado	de	Pio	IX	e	as	tendências	da	sociedade	e	da	Igreja	
no	período	após	a	Revolução	Francesa.
Já	na	próxima	unidade,	trataremos	sobre	a	era	do	Totalita-
rismo.	
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
ACTA	GREGORI	XVI.	I	Roma.	Encíclica Mirari Vos,	1901.	
ALBERIGO,	 G.	 (Org.).	 História dos concílios ecumênicos.	 Tradução	 de	 José	 Maria	 de	
Almeida.	São	Paulo:	Paulus,	1995.	
CARLYLE,	T.	História da Revolução Francesa.	3.	ed.	São	Paulo:	Melhoramentos,	1962.
CECHINATO,	L.	Os 20 séculos de caminhada da Igreja.	Petrópolis:	Vozes,	2000.
CHATELET,	 F.	História da filosofia:	 o	 Iluminismo	o	 século	 XVIII.	 Tradução	de	Guido	 de	
Almeida.	Rio	de	Janeiro:	Zahar,	1982.
FALCON,	F.	J.	C.	Iluminismo.	São	Paulo:	Ática,	1986.
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LUMEN	GENTIUM,número	22.	In:	Documentos	do	Vaticano	II.	Petrópolis:	Vozes,	1966.
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Loyola,	1996.	v.	3.
MATOS,	O.	C.	F.	A escola de Frankfurt:	luzes	e	sombras	do	Iluminismo.	3.	ed.	São	Paulo:	
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PIERINI,	F.	A Idade Média:	curso	de	História	da	Igreja	II.	São	Paulo:	Paulus,	1997.
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1999.
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SCHLESINGER,	 H.-PORTO,	 H.	Dicionário Enciclopédico das Religiões.	 Petrópolis:	 Vozes,	
1995.	v.1.

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