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Cartas Paulinas 2

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EA
D
Paulo: Apresentação – 1 e 
2 Coríntios
2
1. OBJETIVOS
•	 Reconhecer	Paulo	como	personagem	e	Apóstolo	de	gran-
de	importância	no	Cristianismo	mais	antigo.
•	 Analisar	os	 traços	marcantes	de	 sua	personalidade:	exi-
gente,	intensa	e	dedicada,	mas	também	sensível,	marca-
da	pela	ação	da	graça.	
•	 Compreender	o	período	histórico	de	sua	vida	e	atividades	
e	as	situações	da	Igreja	nascente.
•	 Interpretar	as	circunstâncias	da	Igreja	de	Corinto.
•	 Desenvolver	uma	ideia	geral	de	1	e	2	Coríntios.	
2. CONTEÚDOS
•	 Paulo:	personagem	e	Apóstolo	[2].
•	 A	Igreja	de	Corinto.
•	 As	duas	Cartas	aos	Coríntios.
© Cartas Paulinas58
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3. ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE
Antes	de	 iniciar	o	estudo	desta	unidade,	é	 importante	que	
você	leia	as	orientações	a	seguir:
1)	 Os	conteúdos	aqui	apresentados	não	têm	pretensão	de	
esgotar	um	assunto	tão	complexo;	servem	apenas	de	re-
ferência.	É	importante,	pois,	que	você	amplie	este	con-
teúdo	com	a	leitura	das	obras	indicadas	nas	Bibliografias	
básica	ou	complementar.
2)	 Além	das	leituras	indicadas,	sugerimos	a	você	que	pes-
quise	 e	 compartilhe	 com	 seus	 colegas	 de	 turma	 suas	
descobertas.	Sugerimos	como	fonte	de	pesquisa	o	site	
disponível	 em:	 <http://www.cnbb.org.br/ns/modules/
mastop_publish/?tac=819>.	 Acesso	 em:	 18	mar.	 2012.	
Não	deixe	de	consultar	os	temas	que	mais	se	relacionam	
com	o	tema	estudado.		
3)	 É	imprescindível	que,	agora,	você	leia	as	Cartas	aos	Co-
ríntios.	Essa	leitura	deve	ser	feita	com	atenção,	primei-
ramente,	 ao	 texto	 e,	 depois,	 às	 notas	 explicativas	 das	
diversas	perícopes.	Além	das	 leituras	 indicadas	nas	Bi-
bliografias	básica	e	complementar,	você	pode	pesquisar	
na	internet	sobre	o	tema.	
4)	 É	importante	que	você	faça	uma	leitura	de	cada	uma	das	
introduções	das	Cartas	de	Paulo.	A	percepção	de	cada	
argumento	e	o	modo	de	se	apresentar	são	sinais	do	es-
tado	de	espírito	do	Apóstolo.
5)	 Sugerimos	que	você	compare	a	situação	da	comunidade	
cristã	de	Corinto	com	aquela	das	comunidades	cristãs	de	
hoje.	Em	que	elas	 são	 semelhantes?	Compartilhe	 seus	
comentários	com	os	seus	colegas.	
6)	 Depois	de	ler	o	texto	bíblico	em	questão	e	de	acompa-
nhar	esses	 comentários,	 você	pode	dizer,	do	ponto	de	
vista	teológico,	quais	as	ideias	fundamentais	relaciona-
das	ao	apostolado	e	que	Paulo	expressa	aqui?	
7)	 A	questão	do	lugar	que	a	mulher	ocupa	no	conjunto	do	
pensamento	paulino	pode	ser	mal	interpretada.	Sugeri-
mos,	para	uma	visão	muito	bem	colocada	da	questão,	o	
interessante	estudo	Mulheres em Cristo,	da	obra:	MUR-
59© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
PHY-O’CONNOR,	 J.	 A antropologia pastoral de Paulo. 
Tornar-se	humanos	 juntos.	 São	Paulo:	Paulus,	1994.	p.	
198ss.
8)	 O	 texto	de	1	Coríntios	11,23–26	é	o	 fundamento	para	
a	narrativa	da	 instituição	no	 rito	da	 celebração	da	Eu-
caristia.	 É	 base	 para	 o	 que	 identifica	 os	 cristãos	 como	
discípulos	e	é	uma	das	 raízes	bíblicas	para	 toda	a	Teo-
logia	eucarística.	Sugerimos	que	você	consulte	o	livro	já	
citado:	MURPHY-O’CONNOR,	J.	A antropologia pastoral 
de Paulo.	Tornar-se	humanos	juntos.	São	Paulo:	Paulus,	
1994.	p.	192ss.	O	tema	é	"Isto	é	meu	corpo".	
9)	 A	palavra	"carisma",	que	aparece	neste	texto,	tem	a	ver	
com	 "karis",	 que,	 em	 grego,	 significa	 "graça",	 "dom",	
"oferta".	Assim,	"carisma"	significa	"dom",	"graça".	
10)	Para	mais	informações	a	respeito	da	ideia	de	amor,	su-
gerimos	que	você	consulte:	ABBAGNANO,	N.	Dicionário 
de filosofia.	São	Paulo:	Martins	Fontes,	1998.	p.	38-50.	
Consulte	também:	VAN	DER	BORN,	A.	(Org.).	Dicionário 
enciclopédico da Bíblia.	Petrópolis:	Vozes,	1985.	colunas	
59-64.	E	ainda:	LÉON-DUFOUR,	X.	(Org.).	Vocabulário de 
teologia bíblica. Petrópolis:	Vozes,	1972.	colunas	44-52.
11)	Alguns	estudiosos	opinam	que	o	homem	que	teve	a	ex-
periência	mística	é	o	próprio	Paulo.	Ele	não	se	declara,	
pois	quer	destacar	não	o	dom	interior,	mas,	sim,	o	empe-
nho	da	pregação,	a	superação	das	contradições	e	as	difi-
culdades	na	Evangelização,	situações	às	quais	ele	chama	
de	"fraqueza".	
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Na	unidade	anterior,	mostramos	a	importância	de	Paulo	para	
o	Novo	Testamento	tanto	pelos	seus	escritos	quanto	por	ter	sido	o	
primeiro	teólogo	cristão.	Procuramos,	também,	conhecer	um	pou-
co	de	seu	pensamento,	expresso	em	seus	escritos,	que	formam	o	
corpus paulinum.	De	modo	especial,	 vimos	 como	 se	 estruturam	
duas	de	suas	Cartas,	a	1	e	2	Tessalonicenses.
© Cartas Paulinas60
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Nesta	unidade,	vamos	aprofundar	um	pouco	mais	a	figura	de	
Paulo,	mostrando	como	ele	foi	importante	para	o	Cristianismo	pri-
mitivo.	Veremos	os	traços	marcantes	de	sua	personalidade,	bem	
como	o	período	histórico	em	que	viveu.	É	um	momento	oportuno	
para	você	conhecer	um	pouco	mais	sobre	a	Igreja	nascente,	espe-
cialmente	a	respeito	da	comunidade	de	Corinto.	
5. PAULO: PERSONAGEM E APÓSTOLO 
Paulo: personalidade complexa e apaixonada
Paulo	não	era	alguém	que	se	destacava	por	dotes	físicos.	Ele	
próprio	escreve	o	que	comentam	a	seu	respeito:	"suas	cartas,	di-
zem,	são	 imperativas	e	fortes,	mas,	quando	está	presente,	a	sua	
pessoa	é	fraca	e	a	palavra	desprezível"	(2	Coríntios	10,10).
Muito	já	se	falou	a	respeito	de	uma	suposta	doença,	que	ele	
descreve	como	um	"espinho	na	carne",	"bofetadas	de	Satanás"	(2	
Coríntios	12,7–9).	Seria	uma	doença	física?	Ou	seriam	os	judeus	e	
os	judaizantes?	É	difícil	saber	hoje.	
Pela	leitura	e	análise	do	"corpus paulinum",	Paulo	é	dotado	
de	um	temperamento	inquebrantável	de	um	líder;	é	alguém	que	
sabe	o	que	deseja	e	luta	intensamente	por	isso,	até	as	últimas	con-
sequências.	Tem	espírito	de	iniciativa,	grande	capacidade	de	traba-
lho	e	resistência.	É	tenaz	e	empreendedor.	Um	apaixonado	pelas	
suas	ideias,	ideais	e	planos.	Toda	essa	paixão	e	todos	esses	tons	de	
sua	personalidade	são	aplicados	por	ele	no	anúncio	do	Evangelho.	
Pela	leitura	de	suas	Cartas,	nota-se	que	ele	tinha	grande	sen-
sibilidade,	e,	por	isso,	o	amor	e	a	rejeição,	nele,	manifestam-se	in-
tensamente.	Possui	um	coração	terno,	como	o	de	um	pai	amoroso,	
mas	é,	também,	zeloso,	ciumento	do	que	lhe	pertence.	Quando	os	
judaizantes	se	infiltram	nas	comunidades	por	ele	fundadas,	ele	se	
revolta,	acusa,	alerta,	lamenta,	ameaça.	
61© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
Paulo	não	escreve	de	modo	brilhante.	Suas	Cartas	não	de-
têm	 grande	 pendor	 literário.	 À	 exceção	 de	 Romanos,	 as	 Cartas	
paulinas,	como	já	vimos	na	unidade	anterior,	não	têm	um	projeto	
redacional.	São	escritos	esporádicos.	Assim,	seus	argumentos	po-
dem	parecer,	em	alguns	momentos,	um	tanto	confusos.	Contudo,	
são	os	mais	antigos	testemunhos	da	experiência	cristã	a	partir	de	
Jesus	Cristo,	o	que	de	per	si	já	é	algo	notavelmente	importante.	
Embora	não	tenham	grandes	elaborações	literárias,	as	Car-
tas	de	Paulo	expressam	uma	notável	capacidade	dialética.	Ele	tem	
talento;	é	inegável.	Escreve	com	expressão	e	envolve	seus	ouvintes	
nos	argumentos.	Não	é	um	expositor	frio,	sem	ligação	com	o	que	
apresenta,	 mas	 é,	 como	 dissemos,	 apaixonado	 pela	 mensagem	
que	oferece.	
Paulo	é	um	intuitivo,	capta	as	situações	e	elabora-as,	expon-
do	a	situação	de	modo	a	evidenciar	as	contradições	e	os	proble-
mas	e	a	sugerir	as	soluções	que,	de	antemão,	ele	já	conhece	e	ex-
pôs.	 É	 um	Apóstolo	 decididamente	 cativado	pela	mensagem	do	
Evangelho	e	profundo	conhecedor	da	alma	humana.	Não	admira	
que	 tenha	 sido	o	 primeiro	 a	 sistematizar	 o	 pensamento	 cristão.	
Ele	fez	isso	em	suas	Cartas,	que,	em	todos	os	tempos	e	ainda	hoje,	
continuam	a	ser	a	base	da	Teologia	e	da	catequese.	
Sugerimos que, neste ponto, você leia o livro Atos dos Apóstolos, 
capítulos 21 a 28. Trata-se dos últimos períodos de Paulo livre e 
do início do cativeiro e, posteriormente, da viagem para Roma. 
Vemos, ali, como Paulo se apresenta defendendo suas ideias, em-
bora esteja praticamente abandonado. 
Paulo: o convertido
Vimos,	 na	unidade	 anterior,	 alguns	 aspectos	da	pessoa	de	
Paulo,	em	especial	suaorigem	e	sua	postura	perante	o	Judaísmo	
do	seu	tempo.	Paulo	é	um	convertido	não	do	ponto	de	vista	ético	
e	moral,	mas,	sim,	nos	seus	conceitos	e	consequências.	
© Cartas Paulinas62
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É	difícil	entender	a	postura	de	convertido	de	Paulo.	Ele	mes-
mo	não	evidencia	muito	essa	situação,	senão	quando	apresenta.	
A	 conversão	 de	 Paulo	 inaugura	 um	 tempo	 especial	 para	 a	
Igreja	nascente.	Ocorre	uma	mudança	de	perspectiva	que	ainda	
demorará	ser	compreendida.	Tudo	indica	que	essa	mudança	ainda	
não	estava	clara	no	final	do	primeiro	século,	com	a	redação	dos	
últimos	 escritos	 do	Novo	Testamento.	 Provavelmente,	 ela	 fosse,	
contudo,	intuída.	
O	Judaísmo	rejeitou	Jesus	como	Messias,	o	Cristo.	Ele	viera	
para	anunciar	o	Evangelho	aos	judeus,	descendentes	dos	Profetas	
e	Patriarcas.	Era	a	eles	que	sua	mensagem	se	dirigia,	mas	não	so-
mente.	Não	aconteceu	a	aceitação	maciça	que	se	poderia	esperar,	
mas,	sim,	duas	posturas	fundamentais:	uma	aceitação	no	sentido	
de	complementação,	o	que	se	concretizava	no	Cristianismo	judai-
zante,	e	outra	no	sentido	de	aceitar	um	caminho	novo,	indepen-
dente	do	Judaísmo	e	seus	limites,	mas	sem	negar	a	matriz	judaica.	
Esse	é	um	ponto	importante	em	toda	a	compreensão	do	fe-
nômeno	religioso	e	social	que	tem	Paulo	no	centro:	em	nenhum	
momento	ele	rejeitou	a	matriz	judaica	do	Evangelho.	Entretanto,	
soube	superá-la,	indo	além	do	que	um	judaizante	poderia	pensar.	
Paulo	deslocou	a	 ideia	da	autoridade:	da	Lei,	ou	Torah,	com	sua	
expressão	na	escrita	para	o	Senhor	 Jesus,	morto	e	 ressuscitado.	
O	caminho	para	Deus	deixou	de	ser	a	Torah	escrita	e	os	compor-
tamentos	que	ela	impunha	e	passou	a	ser	o	seguimento	de	Jesus	
Cristo	e	o	modelo	que	ele	propunha.	
Porém,	não	era	fácil	essa	mudança	para	um	judeu,	acostu-
mado	aos	seus	preceitos	e	normas,	que	davam	segurança	e	iden-
tidade.	Um	dos	momentos	mais	importantes	para	o	judeu	fiel	é	o	
encontro	para	as	refeições.	Não	se	trata	de	simples	almoço	ou	lan-
che,	mas,	sim,	de	um	momento	de	expressar,	juntos,	a	gratidão	ao	
Senhor.	Aqui,	reside	um	grande	problema:	como	sentar-se	à	mesa	
com	um	cristão,	que,	não	vindo	do	Judaísmo,	não	tem	as	práticas	
judaicas	de	pureza	e	purificação?	O	judeu	deveria	romper	com	sua	
63© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
identidade	para	aceitar	os	limites	de	quem	não	tinha	essa	perspec-
tiva	judaica?	Mas	Jesus	não	viera	para	os	judeus?	Então,	por	que	
deixar	de	ser	judeu	em	função	de	outro,	estranho,	que	entrou	no	
grupo	dos	discípulos?	
A	 convivência	 não	 era	 uma	 realidade	 fácil.	 Era	 necessário,	
seguramente	como	alguns	já	tinham	compreendido,	uma	separa-
ção.	O	que	ocorreu	 foi,	 sob	esse	ponto	de	 vista,	 algo	natural:	 a	
separação	entre	cristãos	oriundos	do	Paganismo,	com	as	liberda-
des	rituais,	foi	uma	necessidade.	Paulo,	no	entanto,	reservou	para	
o	mundo	judaico	a	prerrogativa	de	trazer	à	terra	o	Messias.	 Isso	
nunca	poderia	ser	tirado	de	Israel.	Por	isso	é	que	o	vemos,	quando	
chega	a	uma	cidade	nova,	 sempre	anunciar	 entre	os	 judeus	em	
sua	comunidade	local.	Depois	que	estes,	normalmente,	rejeitam	o	
Evangelho,	ele	se	dirige	aos	pagãos.	
Paulo	compreende	essa	situação	complexa	que	se	vai	deline-
ando.	Na	sua	Carta	aos	Romanos, ele	aborda	esse	tema	com	muita	
propriedade,	e	nós	estudaremos	esse	texto	oportunamente.	Aqui,	
é	 necessário	 compreender	 um	pouco	mais	 da	personalidade	do	
Apóstolo.	
A	conversão	de	Paulo	assinala,	enfim,	uma	etapa	importante	
na	história	da	salvação.	Não	é	um	elemento	insignificante,	mero	
acidente.	É,	 sem	dúvida,	um	passo	em	sequência	à	 ressurreição	
e	ao	evento	de	Pentecostes.	A	conversão	de	Paulo	não	é	um	fato	
privado;	antes,	é	um	elemento	teológico,	um	evento,	um	aconteci-
mento	eficaz	que	transforma	os	rumos	da	história	da	salvação.	De	
uma	possível	experiência	tímida,	restrita	aos	ambientes	judaicos	e	
ao	Povo	da	Promessa,	passa	para	uma	rica	e,	especialmente,	plural	
realidade	de	assimilação	e	amplitude.	O	Messias	não	era	mais	uma	
realidade	ou	solução	apenas	para	o	judeu	fiel:	era	uma	proposta	
para	todo	homem,	independentemente	de	sua	raça.	
No	evento	pascal,	lemos	nos	Evangelhos	que	o	Ressuscitado	
aparece	a	Pedro	e	aos	Doze.	Paulo	afirma	que,	depois	disso,	 Je-
sus	ressuscitado	foi	visto,	ainda,	por	mais	de	quinhentos	irmãos	ao	
© Cartas Paulinas64
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mesmo	tempo	(cf.	1	Coríntios	15,6).	E,	finalmente,	apareceu	a	ele,	
o	antes	perseguidor	que,	agora,	devia	ser	Apóstolo.	E	Paulo	perce-
be,	por	raciocínio	ou	por	dom	interior,	que	o	Evangelho	não	pode-
ria	ser	restrito.	Então,	ele	sai,	vai	ao	encontro	de	quem	está	fora	
do	âmbito	restrito	do	Judaísmo.	Ele	busca	os	pagãos,	sem	nunca	
deixar	(insiste	sempre	nisso)	de	anunciar	aos	judeus.	É	nesse	con-
texto,	praticamente	como	consequência	dessa	situação,	que	Paulo	
passa	a	ser	missionário.	
Você consegue reconhecer, na conversão de Paulo, algum outro 
exemplo? Note que a conversão de Paulo não é moral, do pecado 
para a graça, mas, sim, de conceito, de fundamento: do Judaísmo 
baseado na Lei para o Cristianismo oriundo da graça. Há mais 
exemplos de conversões desse tipo? E de outro tipo, do pecado 
para a graça? 
6. AS CARTAS AOS CORÍNTIOS: 1 CORÍNTIOS
A cidade de Corinto
Corinto	era	a	capital	da	região	grega	da	Acaia,	uma	cidade	
senatorial,	isto	é,	com	um	cônsul	que	tinha	poderes	oriundos	do	
senado	romano.	Fundada	centenas	de	anos	antes	da	era	cristã,	Co-
rinto	teve	percalços	e	destruições	em	sua	história,	mas,	com	Júlio	
César,	em	44	a.C.,	pôde	iniciar	um	notável	desenvolvimento.	Nesse	
período,	ela	renasceu	como	que	das	cinzas	e,	com	o	sucessor	de	
Júlio	César,	Otaviano	Augusto,	em	27	a.C.,	 recebeu	a	 identidade	
de	capital	da	província,	governada	por	um	cônsul	e	com	um	afluxo	
incessante	de	migrantes	vindos	de	todos	os	lados	do	Império.	
Em	Corinto,	havia	dois	portos	que,	de	lados	opostos	do	istmo	
que	formava	a	geografia	portuária	favorável	ao	comércio,	ligavam	
a	Ásia	à	Europa.	Era,	portanto,	uma	cidade	de	passagem,	com	to-
das	as	características	de	cosmopolitismo.	Havia,	ali,	os	mais	diver-
sos	costumes	e	línguas,	as	mais	conflitantes	posições	filosóficas	e	
65© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
religiosas.	Certamente,	os	 judeus	constituíam	um,	se	não	impor-
tante	grupo,	pelo	menos	um	grupo	que	se	fazia	notar	pelos	seus	
costumes	e	trabalhos	na	cidade.	
Mas	os	cultos	pagãos	eram	a	expressão	forte	da	cidade.	Lá,	
existiam	os	cultos	egípcios	a	Serápis	e	a	Isis;	o	culto	à	grande	mãe	
Cibele,	da	Frigia;	e	o	culto	aos	deuses	romanos,	como	Vênus,	cha-
mada	entre	os	gregos	de	Afrodite.	Além	disso,	havia	os	cultos	lo-
cais,	dos	deuses	Possêidon,	Esculápio,	Melicerte	e	Palêmon.	Cada	
um	 deles	 com	 templos,	 festas,	 devoções,	 expressões	 cultuais	 e	
costumes	os	mais	variados.	
A	quantia	de	escravos	era	enorme,	superando	a	de	homens	
livres.	Isso	terá	um	notável	reflexo	na	comunidade	cristã	de	Corin-
to.	Em	1,26–31,	temos	uma	noção	do	grupo	que	formava	aquela	
Igreja.	O	comércio	e	os	transportes	exigidos	por	ele	eram	o	forte	
da	cidade,	e	a	oferta	de	diversão,	especialmente	de	cunho	sexual,	
era	um	subproduto	de	grande	impacto.	Corinto	era	uma	cidade	li-
cenciosa,	cheia	de	luxúria	e	prazeres.	Ali,	Paulo	estabelece	um	pos-
to	avançado	em	direção	ao	Ocidente.	Ali,	foi	fundada	uma	Igreja	
que	dará	à	grande	Igreja	dois	dos	mais	preciosos	escritos	do	Novo	
Testamento.	
Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Onde existe uma supervalorização do lucro, criando-se, para tanto, um movimen-
to frenético de mercadorias e pessoas, existe, também, uma resposta de vazio e 
uma consequente busca de prazeres. Corinto apresenta essa realidade. Para lá, 
Paulo dirige-se sabendo que está escolhendo um posto avançado e central, de 
onde poderá dirigir-se para muitos outros lugares. 
––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––
Paulo	chega	a	Corinto	na	sua	segunda	viagem	missionária,	
em	meados	do	ano	49,	fazendo	de	lá	a	última	etapa	da	caminhada.	
Em	Atos	15,36—18,22,	encontramos	os	relatosdessa	viagem.	Pau-
lo	vem	de	uma	experiência	muito	negativa	em	Atenas.	Lemos,	em	
Atos	17,22–31,	que	Paulo	buscou,	no	areópago	da	grande	cidade	
de	Atenas,	apresentar	seus	argumentos	com	elaborados	conceitos	
filosóficos	e	técnicas	retóricas.	Mas	foi	infeliz	nos	resultados	quan-
© Cartas Paulinas66
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do	mencionou	a	ressurreição	como	principal	elemento	do	anúncio	
(Atos	17,32).	A	maioria	desprezou-o	e	não	deu	atenção	ao	Evange-
lho.	Alguns	poucos	aceitaram	receber	a	boa	nova	(Atos	17,34).	Tal-
vez	encontremos	um	eco	dessa	rejeição	da	parte	dos	atenienses	a	
respeito	do	Evangelho	apresentado	por	Paulo	em	1	Coríntios	1,21:	
"Já	que	o	mundo,	com	a	sua	sabedoria,	não	reconheceu	a	Deus	na	
sabedoria	divina,	aprouve	a	Deus	salvar	os	que	creem	pela	loucura	
de	sua	mensagem".	
Contudo,	Paulo	também	percebeu	que	devia	ter	uma	postu-
ra	diferente	no	confronto	com	o	cosmopolitismo	de	Corinto.	Talvez	
seja	esse	estado	de	espírito	que	podemos	ler	em	1	Coríntios	2,1–5:
Também	eu,	quando	fui	ter	convosco,	irmãos,	não	fui	com	o	pres-
tígio	da	eloquência,	nem	da	sabedoria	anunciar-vos	o	testemunho	
de	Deus.	 Julguei	não	dever	 saber	 coisa	 alguma	entre	 vós,	 senão	
Jesus	Cristo,	e	Jesus	Cristo	crucificado.	Eu	me	apresentei	em	vosso	
meio	num	estado	de	fraqueza,	de	desassossego	e	de	temor.	A	mi-
nha	palavra	e	a	minha	pregação	estavam	longe	da	eloquência	per-
suasiva	da	sabedoria;	eram,	antes,	uma	demonstração	do	Espírito	
e	do	poder	divino,	para	que	vossa	fé	não	se	baseasse	na	sabedoria	
dos	homens	mas	no	poder	de	Deus	(1	Coríntios	2,1-5).
Paulo	associa-se	com	Áquila	e	Priscila,	casal	vindo	de	Roma,	
já	 cristãos.	 Provavelmente,	 Paulo	 exercia	 a	mesma	 profissão	 de	
ambos,	fabricante	de	tendas.	Então,	foi	morar	com	eles	(Atos	18,3).	
Assim,	consegue	um	ambiente	mais	seguro	para	a	evangelização	
de	Corinto,	onde	permanece	por	um	ano	e	meio.	 Logo	chegam,	
vindos	da	Macedônia,	Silas	e	Timóteo	(Atos	18,5).
Como	sempre,	a	pregação	de	Paulo	foi	dirigida	primeiro	aos	
judeus.	Mas	eles	 rejeitam-no,	e	o	Apóstolo	deixa	a	sinagoga	de-
clarando	que	fizera	o	possível	para	tornar	o	Evangelho	conhecido.	
Alguns,	porém,	aceitam	a	mensagem,	dentre	os	quais	Tício	Justo,	
prosélito	que	habitava	próximo	da	sinagoga,	e	o	chefe	desta,	Cres-
po.	Vendo	isso,	como	lemos	em	Atos	18,7–8,	muitos	se	converte-
ram	também	à	fé	em	Jesus	Cristo.
Depois	de	ser	abertamente	rejeitado	pelos	judeus	morado-
res	 de	 Corinto,	 Paulo	 dirige-se	 aos	 pagãos.	Mas	 era	 tudo	muito	
67© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
difícil	para	Paulo.	Corinto	era	marcada	pelo	vício,	pela	luxúria,	pela	
idolatria.	Como	apresentar	as	virtudes	cristãs	em	uma	sociedade	
assim,	 tão	 corrompida?	 Como	 transformar	 mentes	 e	 corações?	
Paulo	pode	ter-se	sentido	impotente	diante	desse	estado	de	coi-
sas.	Paulo,	então,	teve	um	sonho	e,	nele,	uma	revelação	e	estímu-
lo:
Numa	noite,	o	Senhor	disse	a	Paulo	em	visão:	Não	temas!	Fala	e	
não	te	cales.	Porque	eu	estou	contigo.	Ninguém	se	aproximará	de	ti	
para	te	fazer	mal,	pois	tenho	um	numeroso	povo	nesta	cidade	(Atos	
dos	Apóstolos	18,9–11).
A	pregação,	a	instrução	e	a	insistência	de	Paulo	não	só	pro-
duziram	 notáveis	 frutos,	mas,	 também,	 exasperaram	 os	 ânimos	
dos	 judeus	da	 cidade.	 Conduzido	por	 eles	 perante	 a	 autoridade	
romana,	 o	 procônsul	 Galião,	 é	 apresentado	 como	 um	 agitador	
interno	do	Judaísmo.	 Isso	não	agrada	a	autoridade	romana,	que	
despreza	os	acusadores	e	não	castiga	Paulo.	Ao	contrário,	em	Atos	
18,17,	 lemos	que	o	procônsul	mandou	espancar	Sóstenes,	chefe	
da	sinagoga,	certamente	um	dos	 instigadores	contra	o	Apóstolo.	
Este	permanece	ainda	alguns	dias	na	cidade	e,	depois,	com	Priscila	
e	Áquila,	vai	para	as	costas	da	Síria.	
Primeira Carta aos Coríntios 
Agora	que	você	já	fez	uma	leitura	atenta	de	1	Coríntios,	pas-
semos	ao	estudo	dessa	Carta,	de	sua	estrutura	e	do	contexto	em	
que	foi	escrita.
Circunstâncias 
Durante	a	 terceira	viagem	missionária	 (entre	os	anos	53	e	
57),	enquanto	se	encontrava	em	Éfeso,	Paulo	preocupou-se	com	a	
Igreja	de	Corinto.	Ele	tinha	para	com	ela	sentimentos	de	pai,	como	
lemos	em	1	Coríntios	4,15,	e	soube	que	haviam	muitos	problemas	
por	lá,	certamente	de	ordem	moral.	Manda,	então,	para	lá,	uma	
Carta,	que,	 lamentavelmente,	não	chegou	até	nós.	Em	5,9ss,	 le-
mos	algo	a	respeito.	
Na	minha	carta	vos	escrevi	que	não	tivésseis	familiaridade	com	os	
© Cartas Paulinas68
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impudicos.	Porém,	não	me	referia	de	um	modo	absoluto	a	todos	os	
impudicos	deste	mundo,	os	avarentos,	os	ladrões	ou	os	idólatras,	
pois	neste	caso	deveríeis	sair	deste	mundo.	Mas	eu	simplesmente	
quis	dizer-vos	que	não	tenhais	comunicação	com	aquele	que,	cha-
mando-se	 irmão,	é	 impuro,	avarento,	 idólatra,	difamador,	beber-
rão,	ladrão.	Com	tais	indivíduos	nem	sequer	deveis	comer	(5,9–11).	
Essa	primeira	Carta	aos	Coríntios,	agora	perdida,	não	obteve	
êxito.	Então,	Paulo	escreve	a	que	chamamos	de	1	Coríntios,	que	
deveria	 ser	 a	 segunda	 se	 aquela	 não	 fosse	 perdida.	O	Apóstolo	
recebeu	notícias	 alarmantes,	 vindas	 de	 cristãos	 conhecidos:	 por	
intermédio	de	representantes	da	casa	de	Cloé	 (1	Coríntios	1,11)	
e	de	Apolo	(Atos	18,27	e	1	Coríntios	16,12).	Essas	notícias	traziam	
o	retrato	de	divisões,	partidos	que	armavam	uns	contra	os	outros	
usando	o	nome	de	Paulo,	de	Apolo	e	de	Cefas	(Pedro).	Havia	um	
caso	de	 incesto	público	(1	Coríntios	5,1–13)	e	um	frequente	uso	
dos	 tribunais	pagãos	para	 solucionar	problemas	entre	membros	
da	 comunidade	 (1	Coríntios	6,1–11).	Alguns	até	 criavam	raciocí-
nios	ambíguos	a	respeito	da	liberdade	em	Cristo	(1	Coríntios	6,12–
20;	10,23).	
Além	disso,	chegam	alguns	representantes	de	Corinto:	Esté-
fanas,	Fortunato	e	Acaico	 (1	Coríntios	16,17),	que	apresentam	a	
Paulo	situações	diversas	que	esperam	soluções.	São	como	pergun-
tas	ou	questões	relativas	à	vida	que	alguns	filhos	apresentam	ao	
pai.	Esse	é	o	contexto	em	que	nasce	a	1	Coríntios:	a	necessidade	
de	responder	a	problemas	concretos,	sem	muita	ordem	lógica.	
1	Coríntios	deve	ter	sido	escrita	por	volta	do	ano	55	ou	56;	
alguns	insistem	até	em	57,	mas	essa	é	uma	data	muito	tardia.	Pare-
ce	que	foi	escrita	próxima	da	Páscoa,	pois	utiliza	imagens	pascais,	
como	em	5,7s	e	16,5–9.	Não	é	uma	Carta	sistemática,	como	aca-
bamos	de	dizer,	com	exposições	claras	sobre	pontos	importantes	
da	doutrina	cristã.	Antes,	é	um	escrito	do	momento,	motivado	por	
situações	concretas.	1	Coríntios,	junto	à	segunda,	pode	ser	identi-
ficada	como	ótima	representante	do	gênero	de	cartas	e	do	pensa-
mento	mais	original	de	Paulo.	
69© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
Estrutura e comentário de 1 Coríntios
A	primeira	e	a	segunda	Carta	de	São	Paulo	aos	Coríntios	não	
contêm	um	esquema	lógico,	uma	estrutura	bem	pensada	ou	arti-
culada.	Como	já	dissemos,	são	frutos	de	ocasião,	escritas	a	partir	
de	situações	concretas	e	de	perguntas	não	acadêmicas,	mas,	sim,	
experimentadas.	Assim,	um	esquema	teórico	pode	apresentar	li-
mites	e	imperfeições,	mas	é	possível	montar	uma	visão	geral.	
Pode-se	dividir	1	Coríntios	em	duas	grandes	partes,	além	de	
uma	introdução	e	uma	conclusão.	Vejamos	sua	estrutura	no	Qua-
dro	1.
Quadro 1	Primeira	Carta	de	Paulo	aos	Coríntios.
PRIMEIRA CARTA DE PAULO AOS CORÍNTIOS
1,1–9
1,10—6,20
1,10–16
1,17–31
2,1–5
2,6–16
3,1–8	
3,9–17
3,18–23
4,1–21	
5,1–13	
6,1–11	
6,12–20
7,1—15,58
7,1–9	
7,10–16
Endereço	e	introdução.
Primeira parte:	Desordens	e	sua	condenação.
Divisão	interna.
A	cruz:	loucura,	escândalo	e	sabedoria.
Apresentação	da	pregação	de	Paulo:	sua	fragilidade.
Sabedoria	de	Paulo.
As	divisões	e	suas	causas.
O	fundamento	de	tudo:	Cristo.
Sabedoria	e	loucura.
Os	apóstolos	e	o	mundo.
O	caso	do	incesto.
Os	tribunais	pagãos.
A	impureza.
Segunda parte:	questões	e	situações.
Celibato	e	virgindade.
Os	cônjuges	e	seus	direitos	e	deveres.
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PRIMEIRA CARTA DE PAULO AOS CORÍNTIOS
7,17–24
7,25–40
8,1–13	
9,1–14	
9,15–2710,1–13
10,14—11
11,2–16
11,17–34
12,1–11
12,12–30
14,1–25
14,26–40
15,1–11
15,12–20
15,21–58
16,1–9	
16,10–18
16,16–25
O	chamado	de	Deus.
Celibato.	
A	idolatria	e	as	carnes	aos	ídolos.
Os	missionários.
As	renúncias	do	Apóstolo.	
Exemplos	de	Israel.
O	escândalo.
O	traje	das	mulheres.
A	celebração	da	ceia.
Os	carismas.
Analogia	entre	o	corpo	e	os	membros	da	Igreja.
Esboço	de	uma	hierarquia	de	dons.
Os	dons	na	assembleia.
A	ressurreição:	o	anúncio	fundamental	do	Ressuscitado.
Jesus	Cristo	ressuscitado:	esperança	e	vida.
A	ressurreição	do	fiel.
Conclusão.	Coleta.
Notícias	diversas.
Saudação	final.
Endereço e introdução (1,1–9)
Paulo	faz	a	introdução	costumeira,	 identificando-se	e	asso-
ciando	o	"irmão	Sóstenes"	a	si.	Dirige-se	à	Igreja	de	Corinto,	afir-
mando	que	 eles	 são	 santificados	 em	 Jesus	 Cristo	 e	 chamados	 à	
santidade.	Esse	chamado	não	é	 limitado	a	eles,	mas	é	dirigido	a	
todos	o	que	invocam	o	nome	de	Jesus.	
Aqui,	está	contido	o	motivo	fundamental	da	Carta:	a	santida-
de	como	participação	na	vida	divina.	Paulo	dirige-se	aos	coríntios	
lembrando-os	dessa	vocação.	Eles	vivem	em	meio	a	uma	socieda-
71© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
de	absurdamente	corrompida	pelos	vícios.	No	início	de	sua	Carta,	
ele	propõe	esse	princípio	e	desenvolve-o	amplamente.	
Primeira parte: desordens e condenação (1,10–6,20)
Nessa	primeira	parte	da	1	Coríntios,	Paulo	apresenta	argu-
mentos,	exortações	e	até	ameaças	a	partir	do	que	ele	ouviu	nos	
relatórios	de	seus	colaboradores.	São	situações	que	pedem	uma	
palavra,	geralmente,	uma	palavra	firme,	para	conduzir	à	mudan-
ça	de	comportamento.	O	que	chama	a	atenção	nisso	é	que,	mes-
mo	em	meio	às	palavras	duras	e	ameaças,	Paulo	apresenta	sua	fé,	
declara-se	fiel	em	Cristo,	insiste	na	necessidade	do	seguimento	de	
Jesus	e	exorta	à	fidelidade.	
Divisão interna (1,10–16)
Paulo	abomina	essa	divisão,	pois	ela	não	expressa	a	harmo-
nia	nem	a	vontade	de	Deus.	
A cruz: loucura, escândalo e sabedoria (1,17–31)
Em	poucos	versículos,	Paulo	apresenta	um	dos	textos	mais	
conhecidos	que	identifica	o	Cristianismo.	Partindo	da	busca	de	si	e	
da	sabedoria,	ele	apresenta	a	cruz,	a	loucura	e	o	escândalo,	mas,	
sobretudo,	a	salvação.	Aqui,	ele	chega	ao	ponto	alto	dessa	reflexão	
com	esse	longo	axioma:
Os	judeus	pedem	milagres,	os	gregos	reclamam	a	sabedoria;	mas	
nós	pregamos	Cristo	crucificado,	escândalo	para	os	judeus	e	loucu-
ra	para	os	pagãos;	mas,	para	os	eleitos	—	quer	judeus	quer	gregos	
—,	força	de	Deus	e	sabedoria	de	Deus.	Pois	a	 loucura	de	Deus	é	
mais	sábia	do	que	os	homens,	e	a	fraqueza	de	Deus	é	mais	forte	do	
que	os	homens	(1,22–25).	
A	verdadeira	pregação	cristã	nada	tem	a	ver	com	a	sabedoria	
humana,	mas	vem	da	adesão	ao	Cristo	crucificado.	Aos	coríntios,	
Paulo	recorda	que	eles	não	são	sábios	ou	poderosos,	mas	simples	
e	humildes;	por	isso,	devem	dar	graças	a	Deus	pelo	chamado	que	
receberam.	
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Apresentação da pregação de Paulo: sua fragilidade (2,1–5)
Paulo	declara	que	veio	aos	coríntios	com	toda	a	fragilidade	
que	lhe	é	própria,	sem	as	seguranças	que	seriam	de	se	esperar	de	
um	pregador	destemido.	Certamente,	está	aqui,	de	modo	sublimi-
nar,	a	experiência	de	Tessalônica,	quando	ele	precisou	fugir	de	lá	
pela	perseguição	dos	judeus.	
Sabedoria de Paulo (2,6–16)
Paulo	declara	que	 tem	uma	sabedoria	que	não	é	marcada	
pelas	vaidades	humanas.	A	sabedoria	de	Deus,	pregada	por	Paulo,	
é	misteriosa	e	secreta,	mas	dada	a	conhecer	para	quem	a	aceitar	
pela	ação	do	Espírito	Santo.	Temos,	nesse	passo,	outro	axioma	im-
portante:
Mas	o	homem	natural	não	aceita	as	coisas	do	Espírito	de	Deus,	pois	
para	ele	são	loucuras.	Nem	as	pode	compreender,	porque	é	pelo	
Espírito	que	se	devem	ponderar.	O	homem	espiritual,	ao	contrário,	
julga	todas	as	coisas	e	não	é	julgado	por	ninguém	(2,14–15). 
As divisões e suas causas (3,1–8)
Paulo	põe	em	evidência	o	motivo	das	divisões	em	Corinto.	
Ele	inicia	com	uma	palavra	dura,	lembrando	que	os	coríntios	são	
homens	carnais,	 incapazes	de	ouvir	a	 verdade	e	aceitá-la.	Paulo	
acusa-os	de	ciúmes	tolos,	nascidos	dessa	situação.	Uns	declaram-
-se	de	Apolo,	 outros	de	Paulo…	Mas	esses	dois	 são	 apenas	 ser-
vos	de	Deus,	que	faz	tudo	crescer.	É	a	ele	que	os	coríntios	devem	
voltar-se.	
O fundamento de tudo: Cristo (3,9–17)
Em	uma	série	de	argumentos	incisivos,	Paulo	afirma	o	que	
fundamento	de	tudo	é	Cristo,	não	um	pregador	cristão.	Ele	usa	da	
imagem	da	construção,	usa	do	argumento	do	 julgamento	e	con-
clui	com	uma	frase	que	pode	ser,	também,	considerada	um	axioma	
cristão:	"Não	sabeis	que	sois	o	templo	de	Deus,	e	que	o	Espírito	de	
Deus	habita	em	vós?"	(3,17).
Sabedoria e loucura (3,18–23)
73© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
Concluindo	 essa	 série	 de	 argumentos,	 Paulo	 praticamente	
exalta-se	e	declara	que,	somente	fazendo-se	louco,	aos	olhos	do	
mundo,	poderá	 ser	 realmente	 sábio.	Declara	que	os	valores	 são	
invertidos:	a	 sabedoria	do	mundo	é	 loucura	para	Deus;	e	o	que	
pode	ser	loucura	nesse	mundo	é	a	sabedoria	de	Deus.	Portanto,	os	
pregadores,	Paulo,	Apolo,	Cefas	e	tudo	o	que	existe	são	de	Cristo,	
e	Cristo	é	de	Deus.
Os apóstolos e o mundo (4,1–21)
Em	 uma	 longa	 sequência,	 Paulo	 apresenta	 a	 identidade	
apostólica	e	a	realidade	da	missão	do	apóstolo.	Ele	recorda	que	o	
Senhor	coloca	tudo	às	claras,	até	o	que	está	escondido	por	medo	
ou	pela	maldade.	Depois,	ele	inicia	uma	diatribe:	um	debate	com	
um	interlocutor	fictício.	Nesse	debate,	ele	defende	a	fraqueza	dos	
apóstolos	como	sinal	da	presença	de	Deus.	O	tom	sugere	uma	exal-
tação	e	uma	severa	acusação	aos	coríntios	e	aos	que	se	declaram,	
também,	apóstolos.	Ele	não	mede	palavras	para	demonstrar	suas	
ideias.	No	final,	retoma	a	calma	e	declara	que	ele	próprio	é	o	que	
gerou	a	fé	dos	coríntios	e	é	o	seu	pai.	Eles	não	devem	ceder	aos	
falsos	líderes,	que	desejam	o	controle	para	obter	o	poder.	Sugere,	
depois,	que	irá	a	Corinto	para	encontrar-se	com	a	Igreja	e	conti-
nuar	a	ensinar-lhe.	É	curiosa	a	última	palavra	desse	capítulo,	que	
expressa	toda	a	intensidade	dos	argumentos	do	Apóstolo	e	de	seu	
amor	por	aquela	Igreja.	Ele	diz,	em	uma	pergunta	retórica:	"Que	
preferis?	Que	eu	vá	visitar-vos	com	a	vara,	ou	com	caridade	e	espí-
rito	de	mansidão?"	(4,21).	Não	podemos	deixar	de	assinalar	outro	
versículo,	que	pode	 ser,	 também,	um	axioma	cristão:	 "Porque	o	
Reino	de	Deus	não	consiste	em	palavras,	mas	em	atos"	(4,20).
O caso do incesto (5,1–13)
Paulo	 segue	 argumentando	 sobre	 o	 problema	 do	 incesto	
que	existe	dentro	da	Igreja	de	Corinto	e	que	é	um	escândalo.	Aqui,	
temos	uma	situação	concreta	e	a	ação	de	Paulo	 sobre	os	que	a	
realizam.	Partindo	do	problema	concreto,	que	ele	sugere	ser	até	
motivo	de	orgulho	da	parte	dos	 coríntios,	ele	 lembra	que	o	 fer-
© Cartas Paulinas74
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mento	leveda	a	massa,	em	uma	alusão	metafórica	aos	maus	exem-
plos	que	podem	corromper	o	conjunto.	Lembra	que,	na	sua	outra	
carta,	que,	infelizmente,	não	chegou	até	nós,	ele	ordenou	que	os	
fiéis	coríntios	não	tivessem	familiaridade	com	os	impudicos.	E	faz	
uma	lista	de	indivíduos	que	não	merecem	a	amizade,	nem	sequer	
a	companhia	das	refeições.	Os	versículos	10	e	11	apresentam	essa	
lista.	Aqui,	ele	também	é	direto:	Deus	julgará	quem	está	fora	da	
Igreja,	mas	quem	está	 dentro	dela	 deve	 comportar-se	 de	modo	
diverso.	
Os tribunais pagãos (6,1–11)
Trata-se	de	uma	situação	igualmente	escandalosa	para	Paulo	
e	que,	por	nada,	poderia	contribuir	para	o	Evangelho.	Os	cristãos,	
quando	tinham	suas	diferenças,	apresentavam-se	para	ser	 julga-
dos	em	tribunais	pagãos.	Para	o	Apóstolo,	isso	é	um	absurdo!	Pau-
lo	entende	que	os	coríntios	foram	lavados,	purificados,	justificados	
pelo	Senhor	(versículo	11).	Ele	faz	outra	relação	de	indivíduos	que	
não	possuirão	o	Reino	de	Deus:	impuros,	idólatras,	adúlteros,	efe-
minados,	 devassos,	 ladrões,	 avarentos,	 bêbados,	 difamadores	 e	
assaltantes	(versículo	10).	
A impureza (6,12–20)
Nesse	passo,Paulo	aborda	a	questão	da	sexualidade,	inician-
do	com	um	versículo	que	será,	também,	um	axioma:	"Tudo	me	é	
permitido,	mas	nem	tudo	convém.	Tudo	me	é	permitido,	mas	eu	
não	me	deixarei	dominar	por	coisa	alguma"	(6,12).	
A	sociedade	coríntia	era	marcada	pelo	sexualismo	e	pela	li-
cenciosidade.	Paulo	sabe	disso	e	lembra	aos	seus	filhos	coríntios	
dessa	situação	e	da	nova	vida	em	Cristo	Jesus.	Ele	declara:	"Não	
sabeis	que	vossos	corpos	são	membros	de	Cristo?"	(6,15).	Então,	
eles	devem	estar	em	Cristo,	fugindo	da	fornicação.	O	corpo	é	tem-
plo	do	Espírito	Santo	(versículo	19)	e,	por	isso,	deve	ser	mantido	da	
pureza	de	sua	natureza.	
75© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
Segunda parte: questões e situações (7,1—15,58)
Nessa	segunda	parte,	Paulo	 responde	às	questões	que	 lhe	
chegaram	como	perguntas.	Os	 coríntios	desejam	saber	 como	se	
comportar	 em	 determinadas	 questões.	 Então,	 Paulo	 responde-
-lhes	com	aplicação	e,	até	mesmo,	usando	de	sua	experiência	pes-
soal.
Celibato e virgindade (7,1–9)
Em	uma	sociedade	marcada	pelo	sexo,	os	coríntios	pergun-
tam-se	qual	deve	ser	a	conduta	a	ser	seguida:	o	casamento	ou	a	
virgindade.	Paulo	preza	a	virgindade	como	um	modo	de	estar	livre	
para	o	serviço	ao	Senhor.	Contudo,	nem	todos	são	chamados	para	
a	obra	missionária;	 assim,	é	melhor	o	matrimônio.	O	que	Paulo	
propõe	pode	ser	entendido	em	um	ambiente	onde	o	sexo	faz	parte	
do	todo,	não	é	o	todo.	Em	outras	palavras,	ele	compõe,	com	tantos	
outros	elementos,	a	expressão	da	vida	cristã.	Quando	o	sexo	toma	
o	lugar	de	tudo,	então,	já	não	se	fala	mais	de	comunidade	cristã!	
Aqui,	Paulo	desce	a	considerações	bem	práticas,	para	os	casais	e	
para	os	solteiros.	
Os cônjuges e seus direitos e deveres (7,10–16)
Paulo	lembra	a	necessidade	da	fidelidade.	Havia,	em	Corinto,	
a	situação	de	casamentos	entre	cristãos	e	pagãos.	Era	uma	ques-
tão	a	ser	analisada	pelo	Apóstolo,	que	a	soluciona	mandando	que	
o	casamento	seja	mantido	se	for	do	desejo	dos	dois.	O	argumento	
é	que	a	parte	cristã	santifica	a	outra,	e	os	filhos	são,	também,	san-
tos.	Mas,	se	houver	uma	separação,	então,	que	ela	se	dê,	e	a	parte	
cristã	está	livre.	
O chamado de Deus (7,17–24)
Paulo	inicia	falando	da	realidade	da	circuncisão:	alguns	cris-
tãos	são	circuncisos,	pois	estavam,	anteriormente,	no	Judaísmo	ou	
foram	 influenciados	por	 ele.	 Paulo	 simplesmente	diz	 que	os	 cir-
cuncisos	 fiquem	como	estão;	os	que	não	 são	circuncisos	não	 se	
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façam	circuncidar,	pois	nada	disso	vale	em	função	de	Jesus	Cristo.	
Depois,	fala	para	aqueles	de	seu	tempo,	abordando	a	situação	da	
servidão	(os	escravos).	Para	o	Apóstolo,	o	chamado	do	Senhor	é	a	
superação	de	toda	escravidão.	
Celibato (7,25–40)
Inicialmente,	 Paulo	 lembra	que	não	 tem	um	mandamento	
do	Senhor	a	respeito	do	celibato,	mas	que	usa	o	bom	senso	e	a	sua	
própria	experiência.	Então,	ele	discorre	sobre	a	situação	dos	que	
entram	a	fazer	parte	da	Igreja:	os	que	estão	casados	fiquem	assim;	
os	que	não	estão	fiquem,	também,	como	estão.	O	casamento	não	
é	um	mal	ou	um	pecado,	mas	impõe	muitas	preocupações.	Aqui,	
é	difícil	compreender	os	argumentos,	visto	que	a	compreensão	do	
matrimônio	no	tempo	de	Paulo	é	uma,	e	a	moderna,	outra.	Não	
há,	para	os	contemporâneos	de	Paulo,	a	possibilidade	de	escolha	
de	um	marido	ou	uma	esposa.	Essa	escolha,	na	época,	era	 feita	
pelos	pais	dos	jovens.	Já	parte	daí	a	grande	diferença!	Paulo	não	
insiste	na	necessidade	do	celibato,	mas,	sim,	na	aceitação	dos	limi-
tes	da	escolha,	o	que	se	traduz	por	fidelidade	e	atenção.	
A idolatria e as carnes aos ídolos (8,1–13)
Essa	é	uma	questão	prática	bem	distante	de	nosso	tempo.	
Como	que	prevendo	alguma	reação	posterior,	Paulo	inicia	dizendo	
que	a	ciência	(os	argumentos	insistentes	e	racionais)	incha,	mas	a	
caridade	(o	amor	cristão)	constrói.	Em	seguida,	ele	aborda	a	ques-
tão:	os	animais	que,	em	sacrifícios	públicos,	eram	oferecidos	aos	
ídolos.	As	carnes	daí	resultantes	eram	levadas	para	o	consumo	da	
população.	Alguns	 podem	 se	 escandalizar	 com	 isso:	 cristãos	 co-
mendo	carnes	oferecidas	aos	ídolos!	Paulo	indica	que	é	livre,	o	que	
sugere	que	isso	pode	muito	bem	acontecer,	mas	que	não	convém.	
Para	os	fiéis,	há	um	único	Deus,	e	isso	basta.	Mas	quem	não	en-
tende	isso	pode	se	escandalizar.	Recorda,	então,	que	não	é	a	carne	
que	cria	o	problema,	mas	o	modo	de	pensar	de	quem	a	come	e	de	
quem	vê	o	fato.	Ele	recorda	que	é	melhor	deixar	o	que	pode	causar	
escândalo	em	benefício	de	quem	é	mais	fraco	na	fé.	
77© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
Os missionários (9,1–14)
Paulo	inicia	essa	passagem	com	uma	defesa,	ao	que	parece,	
nascida	de	alguma	dúvida	a	respeito	de	sua	identidade	de	apósto-
lo.	Alguns	o	acusavam	de	não	ter	visto	Jesus	–	este	deveria	ser	o	
critério	para	a	 identidade	apostólica:	ver	o	Senhor.	Paulo,	então,	
declara	que	viu	o	Senhor,	e	nós	sabemos	como:	ressuscitado.	Em	
seguida,	 lembra	direitos	naturais	e	adquiridos	pela	própria	 iden-
tidade	apostólica.	Mas	ele	renuncia	a	muitos	desses	direitos	para	
estar	livre	na	sua	palavra	e	para	não	ser	peso	a	ninguém.	
As renúncias do Apóstolo (9,15–27)
Paulo	declara	que	sua	glória	é	o	anúncio	do	Evangelho	(ver-
sículo	16).	Ele	 renunciou	a	muitos	direitos	em	função	do	direito	
maior	que	ele	declara	ser	o	próprio	anúncio	do	Evangelho.	Decla-
ra-se	disposto	a	deixar-se	de	lado	para	ganhar	todos	para	Cristo.	
Para	os	judeus	fiz-me	judeu,	a	fim	de	ganhar	os	judeus.	Para	os	que	
estão	debaixo	da	 lei,	 fiz-me	como	se	eu	estivesse	debaixo	da	 lei,	
embora	o	não	esteja,	a	fim	de	ganhar	aqueles	que	estão	debaixo	da	
lei.	Para	os	que	não	têm	lei,	fiz-me	como	se	eu	não	tivesse	lei,	ainda	
que	eu	não	esteja	isento	da	lei	de	Deus	—	porquanto	estou	sob	a	
lei	de	Cristo	—,	a	fim	de	ganhar	os	que	não	têm	lei.	Fiz-me	fraco	
com	os	fracos,	a	fim	de	ganhar	os	fracos.	Fiz-me	tudo	para	todos,	a	
fim	de	salvar	a	todos.	E	tudo	isso	faço	por	causa	do	Evangelho,	para	
dele	me	fazer	participante.	
Exemplos de Israel (10,1–13)
Paulo	 faz	uma	digressão	olhando	para	 a	história	de	 Israel.	
Cita	momentos	da	história	em	que,	mesmo	sabendo	cometer	er-
ros,	os	israelitas	foram	em	frente.	Segundo	ele,	 isso	pode	ser	de	
ajuda	e	estímulo	para	não	pecar,	não	errar.	
O escândalo (10,14—11,1)
Temos,	aqui,	um	longo	passo,	em	que	Paulo	faz	considera-
ções	sérias	a	respeito	da	conduta	da	Igreja.	No	fundo,	o	que	está	
em	evidência	é	a	coerência	com	a	vocação,	o	chamado	à	fé	cristã.	
Ele	insiste	que	"[…]	não	podeis	beber	ao	mesmo	tempo	o	cálice	do	
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Senhor	e	o	cálice	dos	demônios"	(10,21).	Em	10,23,	encontramos	
mais	um	versículo	que	se	tornou	axioma:	"Tudo	é	permitido,	mas	
nem	tudo	é	oportuno.	Tudo	é	permitido,	mas	nem	tudo	edifica".	E,	
em	10,31–33,	declara	suas	motivações:	
Portanto,	quer	comais	quer	bebais	ou	façais	qualquer	outra	coisa,	
fazei	tudo	para	a	glória	de	Deus.	Não	vos	torneis	causa	de	escânda-
lo,	nem	para	os	judeus,	nem	para	os	gentios,	nem	para	a	Igreja	de	
Deus.	Fazei	como	eu:	em	todas	as	circunstâncias	procuro	agradar	
a	todos.	Não	busco	os	meus	interesses	próprios,	mas	os	interesses	
dos	outros,	para	que	todos	sejam	salvos	(10,31–33).
O traje das mulheres (11,2–16)
Aqui,	temos	uma	passagem	curiosa	e	que	levanta	muitas	dú-
vidas.	Ela	parece	ser	uma	inserção	dentro	do	texto	de	1	Coríntios.	
Em	11,1,	encontramos:	"Tornai-vos	os	meus	imitadores,	como	eu	
o	sou	de	Cristo".	Paulo	faz	essa	afirmação	depois	de	uma	série	de	
advertências	e	explicações	a	partir	dos	desvios	e	das	dúvidas	dos	
coríntios.	Subitamente,	em	11,2,	ele	declara:	"Eu	vos	felicito	por-
que	em	tudo	vos	lembrais	de	mim	e	guardais	as	minhas	instruções	
[…]",	o	que	soa	contraditório!	Em	contrapartida,	em	11,7,	o	texto	
afirma:	"Fazendo-vos	essas	advertências,	não	vos	posso	 louvar	a	
respeito	de	vossas	assembleias	que	causam	mais	prejuízo	que	pro-
veito". 
Uma	afirmação	contraditória?!	Esse	texto	de	11,2–16,	emi-
nentemente	comportamental,	parece	ser	uma	interpolação	em1	
Coríntios.	Ele	foge	subitamente	do	tom	dominante	até	o	momen-
to.	Contudo,	não	se	podem	descartar	as	afirmações	aqui	apresen-
tadas	sem	uma	análise	de	seu	conteúdo	e	do	seu	contexto.	
Em	primeiro	lugar,	é	necessário	lembrar	a	licenciosidade	se-
xual	que	existia	em	Corinto	e	os	costumes	derivados	dessa	situa-
ção.	Além	disso,	os	cultos	orgiásticos,	no	qual	estavam	presentes	
as	hieródulas,	eram	muito	marcantes	na	cidade.	Assim,	os	corín-
tios	 viviam	em	um	mundo	 imerso	 na	 luxúria	 programada,	 culti-
vada	religiosamente.	Ora,	o	que	Paulo	propõe	é	uma	atitude	de	
resistência	quando	impõe	à	mulher	uma	situação	de	resguardo.	É	
79© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
verdade	que	afirmações	que	imprimem	à	mulher	uma	situação	de	
submissão	soam	antipáticas	em	nossos	dias.	
Não	se	trata	de	avaliar	a	palavra	do	Apóstolo,	nem	de	negá-
-la	ou	aprová-la	conforme	nosso	sistema	de	valores	e	conceitos.	
Trata-se	de	compreendê-la	devidamente	inserida	em	seu	contexto	
social	e	cultural.	Na	realidade,	uma	leitura	mais	atenta	de	toda	a	
passagem	deixa	claro	que	os	limites	impostos	às	mulheres	não	são	
o	 tema	geral	da	perícope.	Em	11,11–12,	encontramos	uma	bela	
reflexão	sobre	a	relação	de	gênero	a	partir	da	experiência	cristã.	
Com	tudo	isso,	aos	olhos	do	Senhor,	nem	o	homem	existe	sem	a	
mulher,	nem	a	mulher	sem	o	homem.	Pois	a	mulher	foi	tirada	do	
homem,	porém	o	homem	nasce	da	mulher,	e	ambos	vêm	de	Deus	
(1	Coríntios	11,11–12).
A celebração da ceia (11,17–34)
O	tema	da	ceia	é	fundamental	na	Teologia	da	1	Coríntios.	Ele	
surge,	como	todos	os	temas	de	1	Coríntios,	de	uma	situação	con-
creta	que	pede	uma	solução.	O	texto	de	11,17ss	apresenta	a	ques-
tão	como	um	abuso	do	comer	e	beber.	A	ceia	eucarística,	ainda	
não	desenvolvida	como	o	será	em	breve,	realizava-se	durante	uma	
refeição	fraterna.	Contudo,	essa	fraternidade	está	sendo	rompida:	
os	partidos	estão	impedindo	a	comunhão	fraterna	(versículos	18	e	
19),	e	a	ceia	deixou	de	ser	fraterna	para	ser	de	exageros	(versículo	
20).	Para	demonstrar	o	quanto	isso	é	condenável,	o	Apóstolo	rela-
ta	sua	experiência	da	ceia	do	Senhor:	
Eu	recebi	do	Senhor	o	que	vos	transmiti:	que	o	Senhor	Jesus,	na	
noite	em	que	foi	traído,	tomou	o	pão	e,	depois	de	ter	dado	graças,	
partiu-o	e	disse:	Isto	é	o	meu	corpo,	que	é	entregue	por	vós;	fazei	
isto	em	memória	de	mim.	Do	mesmo	modo,	depois	de	haver	cea-
do,	tomou	também	o	cálice,	dizendo:	Este	cálice	é	a	Nova	Aliança	
no	meu	sangue;	todas	as	vezes	que	o	beberdes,	fazei-o	em	memó-
ria	de	mim.	Assim,	todas	as	vezes	que	comeis	desse	pão	e	bebeis	
desse	cálice	lembrais	a	morte	do	Senhor,	até	que	venha	(11,23–26).
Paulo	segue	afirmando	que	a	ceia	pode	ser	um	motivo	de	
condenação	 se	não	 for	 expressão	da	 vivência	do	Evangelho.	 Se-
gundo	ele,	esta	é	a	razão	que,	em	Corinto,	muitos	não	se	sentem	
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fracos	em	sua	vida	cristã:	não	estão	em	comunhão	com	Cristo.	Em	
seguida,	Paulo	indica	que	dará	outras	orientações	quando	for	visi-
tar	os	coríntios.	
Os carismas (12,1–11)
Paulo	inicia	a	resposta	à	questão	dos	dons	espirituais,	ou	ca-
rismas.	É	provável	que	houvesse,	em	Corinto,	algumas	tendências	
ao	misticismo	pagão.	Assim,	o	Apóstolo	insiste	na	realidade	nova	
dos	coríntios:	eles	são,	agora,	iluminados	pelo	Espírito	Santo.	Por	
isso,	no	versículo	4,	argumenta	que,	embora	os	dons	sejam	diver-
sos,	o	Espírito	que	os	concede	é	o	mesmo.	Os	dons	são	dados	de	
vários	modos	e	intensidades,	mas	é	o	mesmo	Espírito	que	realiza	
a	unidade	entre	todos.	
Analogia entre o corpo e os membros da Igreja (12,12–30)
Paulo	faz	uma	comparação	que	se	tornou	célebre:	a	do	cor-
po	e	seus	membros	com	a	graça	que	os	indivíduos	recebem	na	co-
munidade	de	fé.	"Há	muitos	membros,	mas	um	só	corpo"	(12,20),	
ele	afirma.	São	nesses	membros	que	o	Senhor	encontra	a	possi-
bilidade	de	tornar	o	Evangelho	conhecido.	É	necessário,	contudo,	
colocar	os	dons,	ou,	conforme	a	analogia,	os	membros	do	corpo,	
a	serviço	de	todo	o	corpo	e	em	comunhão	com	ele.	A	teologia	dos	
carismas,	ou	dons,	encontra,	aqui,	um	ponto	alto.	
A caridade	 (12,31—13,13):	 a	 questão	 da	 caridade,	 ou	 do	
amor,	 é	 bem	difícil	 de	 ser	 abordada.	O	 caso	 é	 que	 essa	 virtude	
nem	sempre	é	bem	encarada.	Pode-se	usar	essa	perícope	de	Paulo	
para	exaltar	o	erotismo	ou	a	paixão	 individualista.	Pode-se	 ler	o	
termo	"caridade"	no	sentido	de	amor	erótico	ou	amor	"platônico".	
Contudo,	"caridade"	significa	o	amor	dado	a	Deus	em	primeiro	lu-
gar.	A	 capacidade	de	amar	a	Deus	determina	a	possibilidade	de	
amar	aos	outros.	Então,	o	foco	de	atenção	está	em	Deus	e,	a	partir	
daí,	ela,	a	caridade,	gera	a	possibilidade	de	superar	os	limites	e	as	
situações	humanas	mais	complexas.	No	final,	Paulo	expõe,	em	três	
versículos,	alguns	pontos	e	raciocínios	que	serão	outros	axiomas	
que	acompanharão	o	Cristianismo	como	chave	interpretativa.	
81© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
Quando	eu	era	criança,	falava	como	criança,	pensava	como	criança,	
raciocinava	como	criança.	Desde	que	me	tornei	homem,	eliminei	
as	coisas	de	criança.	Hoje	vemos	como	por	um	espelho,	confusa-
mente;	mas	então	veremos	 face	a	 face.	Hoje	conheço	em	parte;	
mas	então	conhecerei	totalmente,	como	eu	sou	conhecido.	Por	ora	
subsistem	a	fé,	a	esperança	e	a	caridade	-	as	três.	Porém,	a	maior	
delas	é	a	caridade	(13,11–13).	
Na	cultura	grega,	estabeleceu-se	a	existência	de	três	tipos	de	
amor:	Ágape,	Filia	e	Eros.	
•	 Amor "Ágape":	é	o	amor	"caridade",	ou	entrega,	doação	
total,	sem	limites	ou	condições.	
•	 Amor "Filia":	é	o	amor	de	amizade,	de	entrega	a	alguém	
e	busca	de	alguém	para	a	fidelidade.	
•	 Amor "Eros":	é	a	busca	de	outro	para	a	complementação,	
para	a	satisfação	de	si	e	do	outro.	
Esboço de uma hierarquia de dons (14,1–25)
Voltando	ao	assunto	dos	 carismas,	ou	dons,	Paulo	estabe-
lece	uma	comparação	entre	a	profecia	e	a	glossolalia.	Há	indícios	
de	 que	 os	 coríntios	 estavam	bem	 ligados	 a	 esse	 tipo	 de	 prática	
carismática.	Paulo	orienta-os	a	preferir	a	profecia	à	glossolalia.	Em	
um	modo	comparativo,	o	Apóstolo	vai	citando	situações	de	quem	
"fala	em	línguas"	e	de	quem	profetiza,	declarando	que	essa	situ-
ação	é	melhor	em	 relação	àquela.	A	 situação	apresenta-se	bem	
complexa	na	Igreja	de	Corinto,	pois	o	Apóstolo	usa	25	versículos	
para	o	assunto,	demonstrando,	ensinando,	exortando	a	 respeito	
da	situação.	E	sobressai	sempre	a	ideia	da	profecia,	que	é,	por	sua	
vez,	a	comunicação	de	Deus.	
Os dons na assembleia (14,26–40)
Se	é	importante	zelar	pela	realidade	da	glossolalia,	ou	dom	
das	línguas,	é	igualmente	necessário	estar	atento	para	o	da	profe-
cia.	A	profecia	dita	em	benefício	próprio	ou	de	modo	misterioso,	
sem	edificação	da	comunidade;	não	produz	efeito	nem	é	sinal	de	
Deus.	O	desejo	de	Paulo	é	que	haja	um	saudável	equilíbrio	entre	
esses	dois	dons,	que	são	do	agrado	dos	coríntios.	
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A ressurreição: o anúncio fundamental do Ressuscitado (15,1–11)
Depois	 de	 responder	 às	 questões	 levantadas	 pelos	 corín-
tios,	Paulo	aborda	o	fundamento	da	experiência	cristã	fazendo	um	
querigma,	um	anúncio	solene.	Estabelece	a	ideia	da	tradição,	da	
transmissão	que	gera	a	vida	com	Cristo:	"Eu	vos	lembro,	irmãos,	o	
Evangelho	que	vos	preguei,	e	que	tendes	acolhido,	no	qual	estais	
firmes"	(15,1).	Ele	declara	que	Jesus	Cristo	ressuscitou,	cumprindo	
as	Escrituras.	Foi	visto	por	muitos	e,	finalmente,	por	ele	próprio,	
Paulo.	Certamente,	podem	ter	aparecidos	os	que	declaravam	que	
Paulo	não	era	do	 grupo	histórico	dos	Doze	e	que,	 por	 isso,	 não	
tinha	autoridade	de	 transmitir	e	ensinar.	Entretanto,	ele	declara	
que	 transmite	 porque	 recebeu.	 E	 recebeu-o	 do	 próprio	 Senhor	
ressuscitado,	 do	qual	 ele	 é	 testemunha.	 Por	 fim,	 reconhece	 sua	
humildade	e	declara	que,	nela,	Deus	fez	muita	coisa,	até	mais	do	
que	em	outros.
Eu	vos	transmiti	primeiramente	o	que	eu	mesmo	havia	recebido:	
que	Cristo	morreu	por	nossos	pecados,	segundo	as	Escrituras;	foi	
sepultado,	e	ressurgiu	ao	terceirodia,	segundo	as	Escrituras;	5	apa-
receu	a	Cefas,	e	em	seguida	aos	Doze.	Depois	apareceu	a	mais	de	
quinhentos	irmãos	de	uma	vez,	dos	quais	a	maior	parte	ainda	vive	
(e	alguns	já	são	mortos);	depois	apareceu	a	Tiago,	em	seguida	a	to-
dos	os	apóstolos.	E,	por	último	de	todos,	apareceu	também	a	mim,	
como	a	um	abortivo	(15,3–8).	
Jesus Cristo ressuscitado: esperança e vida (15,12–20)
Paulo	eleva	seu	espírito	e	declara	a	necessidade	absoluta	da	
fé	na	 ressurreição.	 Podemos	entender	 isso	 em	 relação,	 como	 já	
falamos	em	outra	passagem,	à	sociedade	da	época,	marcada	pela	
morte	e	pelos	limites	da	vida.	Paulo,	então,	insiste	nessa	afirmação	
da	ressurreição	de	Jesus	como	condição	absoluta	para	a	felicidade.	
Se	Cristo	não	ressuscitou,	é	vã	a	nossa	pregação,	e	também	é	vã	a	
vossa	fé.	Além	disso,	seríamos	convencidos	de	ser	falsas	testemu-
nhas	de	Deus,	por	termos	dado	testemunho	contra	Deus,	afirman-
do	que	ele	ressuscitou	a	Cristo,	ao	qual	não	ressuscitou	(se	os	mor-
tos	não	ressuscitam).	Pois,	se	os	mortos	não	ressuscitam,	também	
Cristo	não	ressuscitou.	E	se	Cristo	não	ressuscitou,	é	inútil	a	vossa	
fé,	e	ainda	estais	em	vossos	pecados.	Também	estão	perdidos	os	
que	morreram	em	Cristo.	Se	é	só	para	esta	vida	que	temos	colo-
83© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
cado	a	nossa	esperança	em	Cristo,	somos,	de	todos	os	homens,	os	
mais	dignos	de	lástima.	Mas	não!	Cristo	ressuscitou	dentre	os	mor-
tos,	como	primícias	dos	que	morreram!	(15,14–20).	
A ressurreição do fiel (15,21–58)
Paulo	liga	a	verdade	da	ressurreição	do	Senhor	à	necessidade	
da	ressurreição	do	fiel.	Ele	usa	imagens	bíblicas	como	a	de	Adão,	
contrapondo-o	ao	Cristo.	Se	aquele	morreu,	este	vive,	e,	vivendo,	
ele	 resgata	a	 todos.	Então,	 falando	do	 final	de	 tudo,	o	Apóstolo	
serve-se	de	imagens	apocalípticas.	Paulo	também	cita	um	comba-
te	"com	as	feras	em	Éfeso"	(versículo	32),	recordando	algum	de-
bate	ocorrido	naquela	 cidade	do	qual,	 infelizmente,	não	 se	 tem	
qualquer	notícia,	senão	essa	palavra.	Com	esse	passo,	encerra-se	
a	série	de	respostas	de	Paulo	à	Igreja	de	Corinto.
Conclusão. Coleta (16,1–9)
Paulo	cita	a	coleta	que	está	fazendo	em	benefício	dos	santos.	
Ele	refere-se	aos	cristãos	de	Jerusalém,	que	passam	penúria.	Indi-
ca	aos	coríntios	a	mesma	regra	que	indicou	aos	gálatas.	Informa,	
depois,	que	irá	visitar	Corinto	e	ficar	na	comunidade	algum	tempo.	
Nos	versículos	8	e	9,	ele	declara	que	ficará	em	Éfeso,	onde	se	abriu	
uma	"porta",	seguramente,	possibilidades	novas	de	evangelização.	
Não	sem	dificuldades!
Notícias diversas (16,10–18)
Em	poucos	versículos,	ele	faz	referência	a	diversas	situações	
e	pessoas.	Destaca	Timóteo	e	uma	possível	visita	dele	aos	corín-
tios.	Ele	deve	ser	atendido	e	ouvido,	pois	está	em	plena	comunhão	
com	o	Apóstolo.	Exorta,	também,	a	Igreja:	"Vigiai!	Sede	firmes	na	
fé!	 Sede	homens!	 Sede	 fortes!	 Tudo	o	que	 fazeis,	 fazei-o	na	 ca-
ridade"	 (16,13–14).	No	 final,	 indica	a	 família	de	Estéfanas	 como	
as	primícias	da	Acaia,	isto	é,	os	primeiros	convertidos	a	Cristo	na	
região	de	Corinto.	Eles	merecem	consideração	e	respeito.	Estéfa-
nas,	juntamente	com	Fortunato	e	Acaico,	foram	os	representantes	
coríntios	que	vieram	até	Paulo	dar-lhe	notícias	da	 Igreja,	 a	que,	
agora,	devem	retornar.	
© Cartas Paulinas84
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Saudação final (16,19–25)
Paulo	 transmite	 saudações	 dos	 cristãos	 da	 Ásia.	 Lembra	
Prisca	(Priscila)	e	Áquila,	seus	colaboradores	fieis.	Indica	que	está	
escrevendo,	nesse	ponto,	a	 saudação.	E,	no	 final,	 como	que	en-
contrando	dificuldades	para	despedir-se	e	deixar	de	argumentar	e	
ensinar,	indica	o	amor	ao	Senhor	como	sinal	de	bênção,	pois	sua	
ausência	é	maldição.	Usa	a	expressão	aramaica	"Maran athá",	que	
significa	"vem,	Senhor!",	e,	ainda,	declara	seu	amor	por	todos	em	
Cristo	Jesus.	
7. AS CARTAS AOS CORÍNTIOS: 2 CORÍNTIOS
Unidade e circunstâncias 
A	2	Coríntios	nasce	de	circunstâncias	históricas	que	nos	fo-
gem	ao	controle.	Óbvias	para	os	coríntios,	sem	dúvida,	mas	obscu-
ras	para	nós.	Por	isso,	é	necessário	adentrar	no	momento	em	que	
essa	Carta	foi	redigida	e	tentar	entrever	suas	motivações.	
No	fim	da	permanência	de	Paulo	em	Éfeso,	ele	enviou	Tito	a	
Corinto	para	resolver	situações	lá	existentes.	Este	deveria	encon-
trar	o	Apóstolo	em	Trôade,	mas	Paulo,	em	função	da	revolta	dos	
ourives,	lembrada	em	Atos	19,23ss,	teve	de	deixar	Éfeso	antes	do	
tempo.	Ao	 chegar	 a	 Trôade,	 não	 encontrou	 Tito,	 que	 ainda	 não	
chegara.	Foi,	então,	em	direção	à	Macedônia,	pois	estava	intensa-
mente	angustiado	com	tudo	o	que	ocorria	em	Corinto.	
A	Igreja	havia	sido	fundada	pelo	Apóstolo,	mas	as	relações	
entre	 eles	 sofreram	 tremenda	 perturbação.	O	 livro	 de	 Atos	 dos	
Apóstolos	não	informa	o	que	pôde	ter	acontecido	em	Corinto.	Pau-
lo	encontra-se,	finalmente,	com	Tito	na	Macedônia,	provavelmen-
te	em	Filipos,	e	recebe	notícias	favoráveis	a	respeito	de	fundação	
coríntia.	Escreve,	então,	essa	Carta,	intensa	de	emoções,	polêmi-
cas,	ironias	e	defesas,	pelo	ano	57	ou	início	de	58.	
85© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
A	última	visita	de	Paulo	a	Corinto	foi	algo	doloroso,	como	se	
pode	intuir	de	algumas	passagens,	como	2	Coríntios	12,14;	13,1–2:	
Eis	que	estou	pronto	a	 ir	 ter	convosco	pela	terceira	vez.	Não	vos	
serei	oneroso,	porque	não	busco	os	 vossos	bens,	mas	 sim	a	 vós	
mesmos.	Com	efeito,	não	são	os	filhos	que	devem	entesourar	para	
os	pais,	mas	os	pais	para	os	filhos	(2	Coríntios	2,14).
É	esta	a	terceira	vez	que	vou	visitar-vos.	Pelo	depoimento	de	duas	
ou	três	testemunhas	se	resolve	toda	a	questão.	Quando	de	minha	
segunda	visita,	já	adverti	àqueles	que	pecaram,	e	hoje,	que	estou	
ausente,	torno	a	repeti-lo	a	eles	e	aos	demais:	se	eu	for	outra	vez,	
não	usarei	de	perdão!	(2	Coríntios	13,1–2).	
Paulo	cita,	em	2,4,	certa	Carta	de	 lágrimas,	anterior	a	essa	
2	Coríntios,	mas	que	não	podemos	identificar	como	a	1	Coríntios.	
Foi	numa	grande	aflição,	com	o	coração	despedaçado	e	 lágrimas	
nos	olhos,	que	vos	escrevi,	não	com	o	propósito	de	vos	contristar,	
mas	para	vos	fazer	conhecer	o	amor	todo	particular	que	vos	tenho	
(2	Coríntios	2,4).	
Da	leitura	de	2,5–8	e	de	7,12,	há	indício	de	que	houve	uma	
ofensa	feita	a	Paulo	que	muito	o	machucou.	
Se	alguém	causou	tristeza,	não	me	contristou	a	mim,	mas	de	certo	
modo	—	para	não	exagerar	—	a	todos	vós.	Basta	a	esse	homem	
o	castigo	que	a	maioria	dentre	vós	lhe	infligiu.	Assim	deveis	ago-
ra	perdoar-lhe	e	consolá-lo	para	que	não	sucumba	por	demasiada	
tristeza.	Peço-vos	que	tenhais	caridade	para	com	ele	[…]	(2	Corín-
tios	2,5–8).
Portanto,	se	vos	escrevi,	não	o	fiz	por	causa	daquele	que	cometeu	a	
ofensa,	nem	por	causa	do	ofendido;	foi	para	que	se	manifestasse	a	
vossa	dedicação	por	mim	diante	de	Deus	(2	Coríntios	7,12).	
Houve,	pois,	uma	visita	do	Apóstolo	a	Corinto	entre	a	pri-
meira	e	a	segunda	Carta.	Uma	visita	dramática,	que	deixou	marcas	
e	sofrimentos.	Houve,	também,	uma	Carta,	a	das	"lágrimas",	que	
não	nos	é	conhecida.	Contudo,	em	Atos	dos	Apóstolos,	não	temos	
alusão	a	problemas	dessa	grandeza	em	Corinto!	Isso	dificulta	ainda	
mais	uma	avaliação	do	problema.	Nesse	desencontro	de	informa-
ções,	temos	o	pano	de	fundo	para	os	argumentos	de	2	Coríntios.	
O	que	houve	foi,	certamente,	o	seguinte:	a	1	Coríntios	e	o	
envio	de	Timóteo	a	Corinto	não	obtiveram	sucesso.	Paulo,	então,	
© Cartas Paulinas86
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deve	ter	decidido	ir	a	Corinto	para	solucionar	a	situação.	Entretan-
to,	essa	visita	foi	um	desastre,	com	alguma	ofensa	pública	sobre	o	
Apóstolo.	Ele	retornou	a	Éfeso	e	escreveu	outra	Carta,	a	dita	das	
"lágrimas",	em	que	exigia	a	punição	de	quem	lhe	havia	ofendido	(2	
Coríntios	7,8–13),	confiando-a	a	Tito.	Combinou	com	este	o	encon-
tro	em	Trôade	em	determinado	tempo.	Veio	a	revolta	dos	ourives	
em	Éfeso,	e	Paulo	precisou	deixar	essa	cidade	antes	do	tempo;	foi	
à	Trôade,	mas	não	encontrou	Tito.	Partiu	de	lá	para	a	Macedônia,	
onde	foi,	finalmente,	alcançado	por	Tito,	que	lhe	trouxe	boas	no-
tícias	de	Corinto.	Paulo,	então,escreveu,	finalmente,	a	Carta	que	
temos	como	2	Coríntios,	que	veremos	no	Quadro	2.	
Quadro 2	Estrutura	e	comentários	à	Carta	2	Coríntios.	
ESTRUTURA E COMENTÁRIO DE 2 CORÍNTIOS
1,1–11
1,12—7,16
1,12—2,17
3,1—4,6
4,7—5,13
5,14—7,16
Endereço	e	saudação.
Primeira parte:	apologia	de	Paulo.
Defesa	de	acusações.	
Ministros	do	Evangelho.
A	vida	do	Apóstolo.
Ministério	da	reconciliação.
8,1—9,15
8,1–14	
9,1–15	
Segunda parte:	exortação.
Exortação.
Generosidade.
10,1—13,10
10,1–18
11,1—12,10
12,11—13,10
13,11–13
Terceira parte:	polêmicas.
Ameaças	e	ironias.
Censuras	aos	coríntios.
A	conduta	de	um	pai.
Conclusão.	
87© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
Endereço e saudação (1,1–11)
Paulo	inicia	com	a	saudação	costumeira.	Associa	Timóteo	a	
si,	indicando-o	como	irmão.	Dirige-se	à	Igreja	de	Corinto	e	a	todos	
os	que	se	encontram	na	Acaia.	
Passa	a	fazer	uma	ação	de	graças	pelas	consolações.	Certa-
mente,	tem	em	mente	as	notícias	satisfatórias	que	lhe	foram	trazi-
das	por	Tito	depois	da	visita	deste	a	Corinto.	Declara	sua	esperança	
a	respeito	da	Igreja	daquela	cidade:	o	mesmo	afeto	deve	uni-los.	
Em	seguida,	cita	a	tribulação	passada	na	Ásia.	Trata-se,	cer-
tamente,	do	problema	com	os	ourives	em	Éfeso.	Contudo,	sabe-
mos	que	Paulo	sempre	encontra	dificuldades	e	oposições,	espe-
cialmente	da	parte	dos	judeus	e	dos	judaizantes.	O	Apóstolo	confia	
na	presença	do	Senhor,	que	ele	tem	como	o	ressuscitado	que	rea-
liza	a	liberdade.	
Primeira parte: apologia de Paulo (1,12—7,16)
Nessa	 primeira	 parte,	 Paulo	 inicia	 com	 sua	 defesa,	 passa	
para	sua	identidade	de	apóstolo	e	o	que	isso	implica	e	afirma	a	re-
conciliação	como	fruto	da	experiência	do	Espírito.	Isso	tudo	ocorre	
em	Corinto,	e	ele,	Paulo,	junto	a	Tito,	pode	sentir	a	alegria	da	co-
munhão	e	da	paz	com	eles.	
Defesa de acusações (1,12—2,17)
Paulo	está	consciente	da	 importância	que	 tem	para	os	co-
ríntios.	Declara	que	sua	orientação,	sua	força,	está	no	alto,	na	gra-
ça	de	Deus.	Em	seguida,	traça,	em	poucas	linhas,	seus	planos	de	
viagem.	 Esses	planos	 foram	abalados	pelas	 novas	 situações	que	
haviam	surgido.	Nesse	ponto,	faz	uma	inflexão,	questionando,	em	
forma	de	discurso	retórico,	sua	situação.	Ele	não	está	na	dúvida	ou	
movido	pelas	situações.	Seu	modelo	é	Cristo,	que	é	ou	sim	ou	não.
Em	 função	das	 situações,	 Paulo	 não	 foi	 a	 Corinto.	Declara	
que	foi	para	poupar	os	coríntios.	Mandou	para	a	Igreja	uma	Carta,	
escrita	"em	meio	a	muitas	lágrimas",	não	para	entristecer	os	co-
© Cartas Paulinas88
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ríntios,	mas	para	deixá-los	a	par	de	seus	sentimentos.	Se	tal	Carta	
causou	 tristeza	 a	 alguém	da	 comunidade,	 ele	 compreende,	pois	
foi,	também,	uma	censura	feita	em	favor	da	graça	de	Cristo.	
Paulo	passa,	em	seguida,	a	recordar	sua	passagem	por	Trôa-
de,	o	encontro	com	Tito	e	as	notícias	dele	recebidas.	Dá	graças	a	
Deus	pela	ação	que	Ele	realiza.	Paulo	tem	em	mente,	certamente,	
a	situação	de	arrependimento	que	deve	dominar	a	Igreja	de	Co-
rinto.	
Ministros do Evangelho (3,1—4,6)
Aqui,	começa	a	argumentação	mais	intensa.	Para	Paulo,	não	
há	necessidade	de	"cartas	de	apresentação"	de	uma	ou	outra	Igre-
ja.	 Provavelmente,	 alguns	 pregadores	 cristãos	 portavam	 cartas	
do	gênero	para	poder	entrar	nas	comunidades	que	iam	surgindo	
e,	nelas,	realizar	seu	ministério.	Paulo	declara	que	a	carta	de	sua	
apresentação	é	a	própria	 Igreja	de	Corinto.	É	o	Espírito	de	Deus	
que	escreveu	tal	Carta	e	é	essa	a	certeza	do	Apóstolo.	Esse	Espírito	
tornou	Paulo	um	homem	apto	para	a	realização	da	obra	que	lhe	
foi	confiada.	
Paulo	não	prega	a	si	mesmo,	mas	ao	Senhor.	Se	alguém	não	
entende	a	pregação,	o	Evangelho	de	Paulo,	é	porque	não	está	na	
perdição.	Sente-se	servo	dos	coríntios	por	causa	de	Jesus	Cristo.	
No	final	dessa	longa	passagem,	declara:
Porque	Deus	que	disse:	"Das	trevas	brilhe	a	luz",	é	também	aquele	
que	fez	brilhar	a	sua	luz	em	nossos	corações,	para	que	irradiásse-
mos	o	conhecimento	do	esplendor	de	Deus,	que	se	reflete	na	face	
de	Cristo	(2	Coríntios	4,6).
A vida do Apóstolo (4,7—5,13)
Paulo	inicia	uma	descrição	poética,	emocional	e,	sobretudo,	
teológica	de	sua	ação	como	apóstolo.	Não	tem	ilusões	a	respeito	
de	sua	realidade:	"[…]	temos	este	tesouro	em	vasos	de	barro,	para	
que	 transpareça	 claramente	 que	 este	 poder	 extraordinário	 pro-
vém	de	Deus	e	não	de	nós"	(2	Coríntios	2,7).	Continua	com	uma	
lista	impressionante	de	"qualidades",	que,	muitas	vezes,	são	"anti-
89© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
qualidades"	que	os	apóstolos	apresentam.	Na	verdade,	ele	está	se	
referindo,	especialmente,	a	si	mesmo.	
O	retrato	parece,	em	alguns	momentos,	muito	amargo.	Mas	
a	ideia	é	esta:	transmitir	a	realidade	do	apóstolo	diante	dos	valo-
res	do	mundo	e	das	 seguranças	que	ele	 impõe.	 Já	o	 verdadeiro	
apóstolo	 sofre	 tudo	para	poder	 conduzir	para	Cristo.	Não	busca	
nunca	vantagens,	mas	sabe	que	todas	as	tribulações	terão	sentido	
ou	serão	a	certeza	da	glória	em	Cristo	Jesus.	
Paulo	indica	que	a	vida	é	passageira,	a	"tenda",	ou	"morada	
terrestre"	(5,1).	Aguarda	a	morada	celeste	e	tem	desejo	dela.	Mas	
sabe	que	deve	estar	dignamente	preparado.	Exorta,	pois,	para	a	
atenção,	como	dom	do	Espírito.	
Contudo,	enquanto	o	homem	fiel	está	neste	mundo,	deverá	
caminhar	pela	fé.	Ele	ainda	não	vê,	mas	sabe	que	há	mais	do	que	
a	vista	alcança.	Todos	irão	comparecer	perante	o	tribunal	de	Cristo	
e	receber	a	retribuição.	
Ministério da reconciliação (5,14—7,16)
"A	caridade	de	Cristo	nos	compele"	(2	Coríntios	5,14).	Assim	
Paulo	inicia	esse	período,	no	qual	aborda	o	serviço	da	reconcilia-
ção	que	se	opera	em	sua	pessoa,	no	seu	ministério.	Ele	não	tem	
interesses	humanos,	mas	apenas	os	interesses	de	levar	todos	para	
Cristo.	"Todo	aquele	que	está	em	Cristo	é	uma	nova	criatura.	Pas-
sou	o	que	era	velho;	eis	que	tudo	se	fez	novo!"	(2	Coríntios	5,17).	
A	intensidade	da	argumentação	de	Paulo	dá	a	entender	uma	
intensa	unidade	com	o	Senhor.	Ele	se	sente	realmente	um	dos	seus	
"colaboradores".	É	o	tempo	favorável	para	a	conversão,	para	a	sal-
vação.	Por	isso,	todos	devem	ter	um	espírito	tocado	pela	graça	de	
Cristo.	
Paulo	elenca	uma	série	de	situações	próprias	dos	que	estão	
em	Cristo.	Em	5,4–10,	ele	apresenta,	por	contrastes,	virtudes	e	si-
tuações	que	julga	fundamental	ao	discípulo.	
© Cartas Paulinas90
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Subitamente,	 Paulo	 declara	 seu	 amor,	 seu	 carinho	 e	 sua	
atenção	para	com	os	coríntios.	Pede	que	sejam	diferentes,	que	se-
jam	tomados	pela	comunhão	com	Deus	em	Cristo,	pois,	afinal,	a	
luz	brilha	para	eles	(6,16–18).	Ele	pede	que	todos	os	seus	ouvintes,	
os	membros	da	Igreja	de	Corinto,	tenham	a	atenção	voltada	para	
o	Espírito	e	aceitem	essa	chamada	de	atenção.	Chega	a	ponto	de	
declarar:	
Não	vos	digo	isto	por	vos	condenar,	pois	já	vos	declaramos	que	es-
tais	em	nosso	coração,	conosco	unidos	na	morte	e	unidos	na	vida.	
Tenho	grande	confiança	em	vós.	Grande	é	o	motivo	de	me	gloriar	
de	vós.	Estou	cheio	de	consolação,	transbordo	de	gozo	em	todas	as	
nossas	tribulações.	De	fato,	à	nossa	chegada	em	Macedônia,	ne-
nhum	repouso	teve	o	nosso	corpo.	Eram	aflições	de	todos	os	lados,	
combates	por	fora,	temores	por	dentro.	Deus,	porém,	que	consola	
os	humildes,	confortou-nos	com	a	chegada	de	Tito;	e	não	somen-
te	com	a	sua	chegada,	mas	também	com	a	consolação	que	ele	re-
cebeu	de	vós.	Ele	nos	contou	o	vosso	ardor,	as	vossas	lágrimas,	a	
vossa	solicitude	por	mim,	de	modo	que	ainda	mais	me	regozijei	(2	
Coríntios	7,3–7).	
Em	outros	lugares,	Paulo	também	se	exalta	e	declara	toda	a	
sua	ligação	com	essa	Igreja	que	o	fez	sofrer,	mas	que	ele	tem	como	
sua	obra	em	Cristo	Jesus	no	Espírito	Santo.	E	faz	isso	para	deixar	
clara	a	importância	que	essa	comunidade	tem	para	o	próprio	Cris-
to	Jesus.	Por	isso,	nas	notícias	felizes	de	Tito,	Paulo	pode	exultar	
no	Senhor.	
Segunda parte: exortação (8,1—9,15)
A	segunda	parte	centra-se	na	ideia	da	coleta	para	a	Igreja-
-Mãe	de	 Jerusalém.	Paulo	elogia	a	generosidade	dos	 coríntios	e	
exorta-osà	doação,	tendo	como	base	o	exemplo	do	próprio	Jesus.	
No	final,	ele	dá	a	entender	que	essa	ação	é	para	que	a	Igreja	de	
Jerusalém	entenda	e	conheça	a	generosidade	que	existe	da	parte	
das	igrejas	formadas	por	pagãos.	
Exortação (8,1–24)
Aqui,	está	o	tema	da	coleta	em	favor	dos	irmãos	da	Judeia.	
Paulo	não	descuida	dessa	situação,	pois	sabe	que	eles	precisam.	A	
91© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
Igreja-Mãe	de	Jerusalém	espera,	da	abundância	da	Igreja	de	Corin-
to,	uma	oferta	generosa.	
Para	motivar	os	coríntios,	ele	usa	o	exemplo	do	próprio	Je-
sus:	"Vós	conheceis	a	bondade	de	nosso	Senhor	Jesus	Cristo.	Sen-
do	rico,	se	fez	pobre	por	vós,	a	fim	de	vos	enriquecer	por	sua	po-
breza"	(2	Coríntios	8,9).	
Paulo	indica	Tito	como	representante	para	a	coleta,	junto	a	
outro	que	ele	não	cita	o	nome,	mas	que	é	conhecido	deles.	Ele	o	
faz	para	estar	seguro	de	que	a	ação	que	realiza	é	segura	e	tem	a	
confiança	das	igrejas.	
Generosidade (9,1–15)
Paulo	 declara	 os	 coríntios	 generosos.	 Ele	 teme,	 contudo,	
que	eles	não	estejam	preparados.	Por	isso,	envia-lhes	quem	pode	
exortá-los	à	preparação.	É	o	apóstolo	experiente	que	está	falando,	
atento	às	suas	palavras,	mas	sincero	no	que	expressa.	
A	coleta	para	os	 irmãos	da	 Judeia	 será	de	maior	benefício	
para	os	próprios	 coríntios,	pois	 será	 causa	de	graça	da	parte	de	
Deus.	Afinal,	a	referida	coleta	não	tem	apenas	uma	função	prática,	
de	 socorro	dos	que	 têm	necessidade.	 Ela	 é	 para	 testemunhar	 a	
comunhão	entre	as	igrejas	da	gentilidade	e	a	Igreja-Mãe	de	Jeru-
salém.
Terceira parte: polêmicas (10,1—13,10)
A	terceira	parte	é	um	misto	de	ironias	bem	elaboradas,	base-
adas	nos	argumentos	de	seus	adversários,	e	de	observações	acer-
ca	da	missão	apostólica,	da	identidade	de	evangelizador	que	Paulo	
carrega	e	de	sua	postura	pessoal	diante	das	situações	da	Igreja	de	
Corinto.	
Ameaças e ironias (10,1–18)
Paulo	inicia	um	discurso	difícil	e	exigente,	bem	como	irôni-
co.	A	primeira	afirmação	já	se	apresenta	de	modo	a	fazer	eco	so-
bre	o	que	dizem	a	 seu	 respeito.	Afirmam	que	ele	 é	humilde	na	
© Cartas Paulinas92
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presença	dos	seus	ouvintes	e	arrogante	por	Carta	dirigida	a	eles.	
Então,	 ele	 assume	essa	postura,	declarando-se	manso	e	ousado	
(10,1).	Afirma	que	não	age	por	interesse	carnal	(humano).	Alguns	
agem	e	causam	confusão.	Ele	está	disposto	e	preparado	a	intervir	
na	comunidade	se	for	o	caso,	para	que	retornem	ao	bom	caminho	
da	obediência	a	Cristo.	O	Apóstolo	insiste	na	observância	de	suas	
palavras,	pois	também	será	enérgico	em	pessoa	se	os	coríntios	não	
se	convencerem	disso.	Paulo	não	se	gloria	de	feitos	humanos,	mas,	
sim,	de	agir	pelo	Senhor.	Não	se	apoia	em	trabalhos	alheios,	mas	
na	sua	própria	atividade,	feita	em	comunhão	com	o	Senhor.	
Censuras aos coríntios (11,1—12,10)
Em	seguida,	Paulo	apresenta	suas	realizações	e	disposições.	
Em	primeiro	lugar,	apresenta	sua	relação	com	a	Igreja	de	Corinto	
nos	moldes	de	um	noivo	com	uma	noiva.	Teme	que	sua	noiva	seja	
seduzida	pela	 serpente,	 como	o	 foi	Eva	no	episódio	do	Gênesis.	
Quem	prega	um	Jesus	diferente	do	que	ele	prega	é	possível	que	
seja	aceito	pela	comunidade!	Isso	o	assombra!
Tratam-se	 dos	 "eminentes	 apóstolos"	 (11,6),	 seguramente	
judaizantes	que	desviam	a	mensagem	original	de	Paulo,	o	Evan-
gelho	que	ele	apresenta	de	modo	gratuito.	Ele	se	sacrificou	pelos	
coríntios	e	não	nega	o	fato.	E	foi	por	amor.	Continuará	a	fazê-lo.	
Essa	é	sua	glória.
O	Apóstolo	acusa	seus	detratores,	certamente,	os	"eminen-
tes	apóstolos"	já	citados,	de	disfarce	e	sedução	sobre	os	coríntios.	
Nesse	ponto,	inicia	uma	série	de	versículos	interessantes,	em	que	
apresenta	 as	 qualidades	 de	 tais	 apóstolos	 e	 as	 suas	 (11,22–23).	
Depois,	 traça	um	perfil	 de	 suas	 atividades	e	 tribulações	 (11,24–
29),	muitas	das	quais	não	se	têm	conhecimento	nem	pelo	"corpus 
paulinum",	nem	pelo	livro	de	Atos.	E,	brilhantemente,	coroa	seu	
discurso	declarando	que	sua	glória	está	na	fraqueza,	não	no	poder.	
É	magnífica	essa	passagem,	pois	apresenta	o	Apóstolo	na	força	de	
sua	eloquência	e	expressão	de	fé	em	Jesus	Cristo.	A	 ideia	é	que	
Paulo	é	forte	quando	assume	a	fraqueza,	como	Cristo	na	cruz.	
93© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
São	hebreus?	Também	eu.	São	israelitas?	Também	eu.	São	minis-
tros	de	Cristo?	Falo	como	menos	sábio:	eu,	ainda	mais.	Muito	mais	
pelos	trabalhos,	muito	mais	pelos	cárceres,	pelos	açoites	sem	me-
dida.	Muitas	vezes	vi	a	morte	de	perto.	Cinco	vezes	recebi	dos	ju-
deus	os	quarenta	açoites	menos	um.	Três	vezes	fui	flagelado	com	
varas.	Uma	vez	apedrejado.	Três	vezes	naufraguei,	uma	noite	e	um	
dia	passei	no	abismo.	Viagens	 sem	conta,	exposto	a	perigos	nos	
rios,	perigos	de	salteadores,	perigos	da	parte	de	meus	concidadãos,	
perigos	da	parte	dos	pagãos,	perigos	na	cidade,	perigos	no	deserto,	
perigos	no	mar,	perigos	entre	 falsos	 irmãos!	Trabalhos	e	 fadigas,	
repetidas	vigílias,	com	fome	e	sede,	frequentes	jejuns,	frio	e	nudez!	
Além	de	outras	coisas,	a	minha	preocupação	cotidiana,	a	solicitude	
por	todas	as	igrejas!	Quem	é	fraco,	que	eu	não	seja	fraco?	Quem	
sofre	escândalo,	que	eu	não	me	consuma	de	dor?	
Se	for	preciso	que	a	gente	se	glorie,	eu	me	gloriarei	na	minha	fra-
queza.	Deus,	Pai	de	nosso	Senhor	Jesus	Cristo,	que	é	bendito	pe-
los	 séculos,	 sabe	que	não	minto.	Em	Damasco,	o	governador	do	
rei	 Aretas	 mandou	 guardar	 a	 cidade	 dos	 damascenos	 para	 me	
prender.	Mas,	dentro	de	um	cesto,	desceram-me	por	uma	janela	
ao	longo	da	muralha,	e	assim	escapei	das	suas	mãos	(2	Coríntios	
11,22–33).
Continua	 sua	 defesa	 apresentando	 experiências	 místicas.	
Cita	um	exemplo	de	arrebatamento	interior	e,	em	seguida,	decla-
ra,	mais	uma	vez,	sua	glória	na	fraqueza.
Para	concluir	essa	argumentação,	Paulo	diz	que,	apesar	de	
ter	revelações,	que	propriamente	não	informa,	tem	um	"aguilhão	
na	carne"	(12,7),	identificado,	depois,	como	"anjo	de	Satanás",	que	
impede	que	ele	se	encha	de	soberba.	O	que	será	esse	"aguilhão"	
e	"anjo	de	Satanás"?	A	esse	respeito	muito	já	se	escreveu	e	falou.	
Assim,	alguns	dizem	ser	uma	doença	crônica,	algo	como	a	epilep-
sia.	Outros	afirmam	que	é	um	problema	de	ordem	comportamen-
tal.	Há,	ainda,	a	questão	dos	judeus	revoltados	e	dos	judaizantes	
que	o	perseguem	insistentemente.	O	que	pode	ser	é	difícil	de	de-
terminar.	Mas	é	algo	que	incomoda	tremendamente	o	Apóstolo,	
mas	que	ele	aceita	como	caminho	da	graça.	Segundo	o	texto,	em	
12,8-9,	ele	pediu,	em	oração,	a	libertação	desse	problema.	Porém,	
foi-lhe	revelado	que	basta	a	graça	de	Cristo	para	a	vida.	Ele	aceita	
seus	limites	e	conclui	esse	argumento	afirmando	que	se	compraz	
em	tudo	o	que,	para	outros,	pode	ser	incômodo	e	humildade,	mas,	
© Cartas Paulinas94
 Claretiano - REDE DE EDUCAÇÃO
para	ele,	é	vantagem.	Em	12,10,	declara	uma	frase	que	se	tornou	
também	axioma:	"Quando	sou	fraco,	então	é	que	sou	forte".	
A conduta de um pai (12,11—13,10) 
Paulo	 afirma	 sua	qualidade	de	apóstolo	pela	 sua	 conduta.	
Recorda	que	é	o	pai	quem	deve	prover	seus	filhos,	e	ele	o	faz,	em	
relação	 aos	 coríntios,	 como	um	pai	 faria.	 Ele	 lhes	 confia	 bens	 e	
força,	não	os	rouba	ou	frauda.	Declara	sua	retidão	e	comunhão	de	
intenções.	
Intuímos	que	a	situação	que	serviu	de	pano	de	fundo	para	
essa	Carta	e	as	reações	de	Paulo	deve	ter	sido	realmente	grave,	
pois	os	argumentos	são	constantes	e	enérgicos.	Parece	que	os	ini-
migos	de	Paulo,	 presentes	na	 Igreja	e	detendo	 liderança,	 inven-
taram	coisas	 sobre	ele,	 lançando	dúvidas	 sobre	seu	ministério	e	
conduta.	E,	ainda	por	cima,	obtêm	vantagens	da	Igreja.	Paulo	re-
volta-se	contra	isso,	pois,	na	realidade,	quem	está	sendo	enganado	
são	os	próprios	coríntios.	
Começando	a	conclusão	da	Carta,	Paulo	anuncia	que	irá	vi-
sitar	a	Igreja	de	Corinto	em	breve,	pela	terceira	vez.	A	primeira	foi	
na	 fundação	da	 Igreja;	 a	 segunda	 foi	marcada	por	 divergências;	
a	 terceira	será	depois	dessa	Carta	de	comunhão.	Ele	afirma	que	
haverá	testemunhas	para	decidir	a	situação.	Os	que	erraram	se-
rão	repreendidospor	ele,	que,	conforme	diz	(3,2),	não	usará	meias	
medidas.	
Todos	 devem	examinar-se	 a	 si	mesmos	 e	 ver	 como	está	 a	
própria	consciência.	Paulo	mantém	o	tom	aparentemente	irônico,	
com	a	argumentação	da	fraqueza	de	sua	parte.	Mas	é	para	pôr	em	
evidência	que	é	a	força	de	Cristo	que	deve	prevalecer.	
Conclusão (13,11–13)
Finalmente,	deseja	a	alegria	a	todos,	a	perfeição,	o	encora-
jamento.	Os	coríntios	devem	viver	em	paz.	A	saudação	final	é	uma	
fórmula	litúrgica.	
95© Paulo: Apresentação – 1 e 2 Coríntios
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Confira,	a	seguir,	as	questões	propostas	para	verificar	o	seu	
desempenho	no	estudo	desta	unidade:
1)	 Não	existem	outras	fontes	de	informações	a	respeito	de	Paulo	além	do	cor-
pus	paulinum	e	do	livro	de	Atos	dos	Apóstolos.	Tendo	em	vista	que	se	faz	
grande	uso	das	Cartas	por	parte	da	Igreja	(especialmente	na	sua	Liturgia),	
pode-se	ter	uma	ideia	de	sua	personalidade	e	características	por	meio	do	
conjunto	de	sua	obra?	Sendo	positiva	a	resposta,	como	se	pode	caracterizar	
Paulo?	
2)	 Como	se	pode	entender	a	"conversão"	de	Paulo?	O	que	essa	conversão	de-
terminou	na	caminhada	da	Igreja	primitiva?
3)	 A	conversão	de	Paulo	marca	uma	virada	importante.	Embora	ele	seja	judeu	
fiel	 e	 convicto,	 percebe	 que	 a	 mensagem	 cristã,	 o	 Evangelho,	 não	 pode	
estar	limitada	ao	mundo	judaico.	Mesmo	sendo	judeu,	Jesus	não	pode	ficar	
assim.	O	que	isso	significou	para	a	Igreja	primitiva?	Qual	a	importância	de	
Paulo	nesse	processo?	Do	conjunto	de	informações	que	se	tem	no	corpus 
paulinum e	em	Atos,	ele	é	o	único	que	deu	esse	passo?
4)	 Com	base	no	estudo	desta	unidade	e	com	o	estudo	das	obras	aqui	referen-
dadas,	como	se	podem	caracterizar	a	cidade	de	Corinto	e	a	Igreja	que	lá	é	
fundada?
5)	 Como	se	deu	a	evangelização	nessa	cidade	de	Corinto	e	como	foi	fundada	
essa	importante	Igreja?
6)	 Quais	os	pontos	fundamentais	apresentados	por	Paulo	na	1	Coríntios?	
7)	 Sabedoria	humana	e	pregação	do	Evangelho:	duas	questões	 interessantes	
de	serem	analisadas	em	paralelo.	Paulo	faz	isso	em	1	Coríntios.	Como	é	seu	
pensamento	a	respeito?
8)	 A	1	Coríntios	é	uma	Carta	tensa,	evidenciando	problemas	sérios	que	Paulo	
indica	e	até	acusa.	Quais	são	os	principais	problemas	ali	apresentados?
9)	 Embora	com	muitos	problemas,	a	1	Coríntios	também	apresenta	elementos	
de	grande	 importância	e	decisão	para	a	Teologia	cristã	nascente.	Elenque	
dois	ou	três	pontos	que	são	anotados	em	1	Coríntios.	
10)	Faça	um	paralelo	entre	a	1	Coríntios	e	a	2	Coríntios,	evidenciando	os	pontos	
de	semelhança	e	as	diferenças,	as	propostas	específicas	de	uma	Carta	e	de	
outra. 
© Cartas Paulinas96
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9. CONSIDERAÇÕES
As	Cartas	aos	Coríntios	representam	a	intensidade	e	o	ardor	
do	Apóstolo.	Ele	não	esconde	o	envolvimento	emocional	e	deixa,	
com	isso,	a	certeza,	para	seus	leitores	de	todos	os	tempos,	de	que	
a	evangelização	é,	também,	um	processo	que	envolve	a	paixão,	o	
desejo	de	o	outro	ser	feliz	e	estar	na	luz	da	verdade.	
A	personalidade	do	Apóstolo	é	claramente	destacada:	Paulo	
acredita	no	que	faz	e	vive	a	mensagem	que	apresenta.	Para	ele,	
o	que,	hoje,	podemos	chamar	de	Teologia	não	é	um	conjunto	de	
ideias	abstratas,	mas,	sim,	um	mundo	de	certezas	que	envolvem	
a	vida.	Paulo	é	um	homem	prático	que	vive	o	que	anuncia	com	a	
intensidade	de	uma	descoberta	recente.	
A	Teologia	deve	a	Paulo	categorias	de	pensamento	e	de	dis-
tinção	que	são	importantes	para	a	convivência	e	o	progresso	hu-
mano.	
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
ABBAGNANO,	N.	Dicionário de filosofia.	São	Paulo:	Martins	Fontes,	1998.
BARBAGLIO,	G.	As cartas de Paulo (I).	Tradução	de	José	Maria	de	Almeida.	São	Paulo:	
Loyola,	1989.
HAWTHORNE,	G.	F.;	MARTIN,	R.	P.;	REID,	D.	G.	Dicionário de Paulo e suas cartas.	Tradução	
de	Bárbara	Theoto	Lambert.	São	Paulo:	Paulus,	Vida	Nova,	Loyola,	2008.
LÉON-DUFOUR,	 X.	 (Org.).	 Vocabulário de teologia bíblica.	 Petrópolis:	 Vozes,	 1972.	
colunas	44-52.
MURPHY-O’CONNOR,	 J.	A antropologia pastoral de Paulo.	 Tornar-se	 humanos	 juntos.	
Tradução	de	João	Rezende	Costa.	São	Paulo:	Paulus,	1994.	198ss.
VAN	DER	BORN,	A.	 (Org.).	Dicionário enciclopédico da Bíblia.	 Petrópolis:	Vozes,	 1985.	
colunas	59-64.

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