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EA D 3 A Eucaristia 1. OBJETIVO • Propiciar uma visão panorâmica da normativa eclesial a respeito do sacramento da Eucaristia. 2. CONTEÚDOS • Analisar os aspectos teológicos e jurídicos fundamentais (cân. 897-898). • A celebração eucarística (cân. 899). • Compreender o ministro da santíssima eucaristia (cânn. 900-911). • Analisar a participação na santíssima eucaristia (cânn. 912-923). • Refletir sobre os ritos e as cerimônias da celebração euca- rística (cânn. 924-930). © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 116 • Compreender o tempo e o lugar da celebração eucarística (cânn. 931-933), como, também, as normas a respeito da conservação e veneração da eucaristia (cânn. 934-944). 3. ORIENTAÇÃO PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Nesta terceira unidade fecharemos o estudo dos sacra- mentos da iniciação cristã, voltando-nos para a norma- tiva sobre a Eucaristia. Saiba que o código vigente nos oferece uma abordagem substancialmente unitária da Eucaristia como sacrifício, comunhão e presença real, superando, assim, o dualismo do CIC de 1917 que tra- tava separadamente do sacrifício da Missa e da comu- nhão e, inclusive, colocava no livro III a disciplina relativa à conservação e ao culto à Eucaristia. 2) Inicialmente se pensou que o código fosse dar uma atenção maior à Eucaristia como realização da iniciação cristã, como sacramento que marca a plena e perfeita incorporação do fiel ao Corpo místico de Cristo. Toda- via, o legislador optou por focar a sua atenção sobre a Eucaristia como sacramento permanente que alimenta e acompanha o fiel ao longo de sua vida neste mundo. 3) Nunca é demais recordar a centralidade da Eucaristia para a vida do fiel e da Igreja. A Eucaristia constitui o culmine e a fonte de toda a vida cristã, e todos os demais sacramentos, os ministérios e as obras de apostolado encontram-se em estreitíssima relação com ela e para ela estão ordenados, como bem nos recorda o cân. 897. 4) Tratando-se de uma normativa bem abrangente, uma vez que se ocupa da Eucaristia em seu triplo aspecto (sa- crifício, comunhão e presença real) sugirimos, como das outras vezes, que não deixe de consultar a bibliografia indicada no final da unidade, pois este material de apoio serve, apenas, para indicar um caminho que caberá a você percorrer. 117© A Eucaristia 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Na unidade 2, você foi convidado a estudar a normativa rela- tiva ao sacramento do batismo e da confirmação. Agora, você terá uma visão panorâmica da normativa eclesial relativa ao sacramen- to da Eucaristia, tendo presente que se trata de um sacramento que é o centro da Igreja, do seu culto e da vida cristã. Ao final desta unidade, você terá uma suficiente compreen- são dos principais aspectos teológicos e, principalmente, jurídicos que envolvem o tema. É importante que você saiba, desde o início, que a Eucaristia, juntamente com o batismo e a confirmação, pertence ao processo inicial de edificação da Igreja e do cristão. A Eucaristia é o sacramento central da Igreja e, contempo- raneamente, o culmine e a fonte do seu culto e da sua vida. En- contramos diversos nomes para designá-la, como, por exemplo, "ceia do Senhor" (I Cor 11,20) e "fração do pão" (At 2,42), ambos de origem bíblica. Temos, ainda, outros nomes derivantes de ou- tras épocas: "missa", "santo sacrifício", "sacrifício eucarístico". To- dos eles evidenciam aspectos diferentes e complementares de um mesmo mistério. O CIC dedica 61 cânones à Eucaristia (897-958), distribuídos em três capítulos: 1) Capítulo I – Trata da celebração eucarística (cânn. 898- 933), com particular atenção ao ministro (cânn. 900- 911), à participação à santíssima Eucaristia (cânn. 912- 923), aos ritos e às cerimônias da celebração Eucarística (cânn. 924-930) e ao lugar da celebração (cânn. 931- 933). 2) Capítulo II – Trata da conservação e veneração da santís- sima Eucaristia (cânn. 934-944). 3) Capítulo III – Aborda o tema da oferta dada para a cele- bração da Missa (cânn. 945-958). © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 118 Em nosso estudo vamos nos deter às questões de maior re- levância relativas ao primeiro e ao segundo capítulos, deixando de lado o capítulo terceiro. Portanto, não trataremos de toda a nor- mativa, pois seria inviável e isso não faz parte de nossa proposta inicial. 5. ASPECTOS TEOLÓGICOS E JURÍDICOS FUNDAMEN- TAIS (CÂNN. 897-898) Vejamos, logo de início, os principais aspectos teológicos e jurídicos da normativa. a) Aspectos teológicos – O mistério eucarístico e, em par- ticular, a celebração da Eucaristia, constituem o centro de toda a vida cristã, tanto para a Igreja universal quan- to para as comunidades locais da própria Igreja. Com efeito, não somente todos os outros sacramentos, mas, também, todos os ministérios eclesiásticos e todas as obras de apostolado possuem uma estreita relação com a Eucaristia e são para ela ordenados. Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– Isto se deve ao fato de que na Eucaristia está contido todo o bem espiritual da Igreja, ou seja, o próprio Cristo, que mediante este sacramento dá a vida aos ho- mens e estes, por sua vez, mediante a Eucaristia, são vivificados e santificados (PO 5). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A celebração eucarística é ao mesmo tempo ação de Cristo e da Igreja. Enquanto ação de Cristo se apresen- ta contemporaneamente e inseparavelmente como sa- crifício, como memorial e como banquete. Nela Cristo, perpetuando o sacrifício realizado na cruz, mediante o ministério dos sacerdotes, se oferece ao Pai para a sal- vação do mundo. Enquanto ação da Igreja, esta, esposa de Cristo, cumprindo com ele a função de sacerdote e vítima, o oferece ao Pai e se oferece com ele. Portanto, podemos afirmar que a Eucaristia faz a Igreja, é símbolo da Igreja e a Igreja faz a Eucaristia (LG 26). 119© A Eucaristia A respeito da dimensão eclesial da Eucaristia sugerimos que você leia: HORTAL, J. Os sacramentos da Igreja na sua dimensão ca- nônico-pastoral. São Paulo: Loyola 1987, p. 94-95. A Eucaristia é uma estrutura absolutamente necessária na Igreja. Cristo instituiu o sacrifício do seu corpo e do seu sangue para perpetuar nos séculos, até o seu retor- no, o sacrifício da cruz, confiando-o à Igreja, sua esposa (SC 47; LG 26; CD 11). Não é possível que se forme uma comunidade cristã sem que esta tenha como raiz e pon- to cardeal a Eucaristia (PO 6). Por fim, há um vínculo indissolúvel entre o mistério da Igreja e o mistério da Eucaristia, ou entre a comunhão eclesial e a comunhão eucarística. Por si mesma a cele- bração da Eucaristia significa a plenitude da profissão de fé e da comunhão eclesial. Na Eucaristia a unidade da Igreja é significada e produzida. Participar da Eucaristia significa participar ao máximo ato social da Igreja, à sua máxima expressão de plenitude de vida e comunhão. b) Aspectos jurídicos – Inicialmente pode parecer estranho falar de aspectos jurídicos envolvendo a Eucaristia, pois de sua recepção parecem derivar, apenas, efeitos espi- rituais e místicos. A Eucaristia é essencialmente o sacri- fício através do qual a Igreja renova a sua aliança com Deus e dela extrai os frutos de unidade no Cristo para toda a família humana. A celebração eucarística é, também, um fato jurídico, pois ela exprime e realiza, não apenas a união sacramen- tal com Cristo, mas, também, a união dos crentes entre si na comunhão de fé e caridade. Na Eucaristia também o ordenamento canônico encontra o seu vértice, pois emerge de dentro da ação salvífica, nela se coloca e para a comunhão da Igreja existe e atua. Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– Com estas observações é possível compreender melhoro alcance da normativa sobre a excomunhão, pena que exclui o batizado da comunhão dos fiéis e implica © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 120 na privação dos sacramentos, particularmente a Eucaristia (cân. 1331 §1), como, também, a normativa que disciplina a communicatio in sacris com os cristãos e as comunidades cristãs não católicas, sobretudo, em relação à Eucaristia (cânn. 844 §§ 1-4), e, mesmo, as outras normas que dizem respeito à participação, celebração e culto da Eucaristia, bem comum de toda a Igreja e sacramento de sua unidade. Sobre os princípios teológicos e jurídicos relativos a Eucaristia veja os seguintes textos: HORTAL, J. Os sacramentos da Igreja na sua dimensão canônico-pastoral. São Paulo: Loyola, 1987, p. 93-95; MÜLLER, Ivo. Direitos e deveres do Povo de Deus. Petrópolis: Vozes, 2004, p. 154-155. Veja, também, MONTAN, A. Novas perspectivas do direito que disciplina a celebração dos sa- cramentos. In: CAPPELLINI, E. Problemas e perspectivas de direito canônico. São Paulo: Loyola, 1995, p. 162-164. Para se interar do tema da comunhão na vida e na atividade espiritual entre cristãos de diversas confissões, veja: HOR- TAL, J. E haverá um só rebanho: história, doutrina e prática católica do Ecume- nismo. São Paulo: Loyola, 1989, p. 249-273. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 6. A CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA (CÂN. 899) A celebração eucarística é a ação do próprio Cristo e da Igre- ja, na qual, pelo ministério do sacerdote, o Cristo Senhor, subs- tancialmente presente sob as espécies de pão e vinho, se oferece a Deus Pai e se dá como alimento espiritual aos fiéis unidos à sua oblação (cân. 899 §1). Para celebrar o mistério eucarístico a Igreja, seguindo o exemplo da comunidade cristã das origens, se reúne em assem- bleia, expressão simbólica do mistério da Igreja. Considerada na sua totalidade a assembleia é o sujeito da celebração litúrgica. As ações litúrgicas pertencem à celebração litúrgica e devem ser rea- lizadas preferivelmente em forma comunitária (cân. 837). A assembleia, particularmente a eucarística, apresenta-se como um povo reunido e ordenado, como um organismo vivo e operante, em que cada fiel tem o direito e o dever de dela par- ticipar de acordo com a sua condição em uma diversidade de or- dem e função (cân. 899 §2). Há na assembleia uma variedade de ministérios (ordenados, instituídos e de outro gênero) que não se colocam acima da assembleia, mas em seu interior, para edificá-la e servi-la. 121© A Eucaristia A assembleia possui um Presidente, Bispo ou Presbítero, seu colaborador, (cân. 899 §2). Ele preside a assembleia e nela atua exercitando a função de Cristo cabeça. O diácono é o colaborador por excelência do presidente e da assembleia (LG 29). Outros ofí- cios são ocupados por outros ministros (acólito, leitor, salmista). Na assembleia eucarística os fiéis rendem graças a Deus ofere- cendo, pelas mãos do sacerdote, a vítima imolada e a si mesmos. A celebração deve ser ordenada de modo que todos recebam os muitos frutos para cuja obtenção Cristo a instituiu. 7. O MINISTRO DA SANTÍSSIMA EUCARISTIA (CÂNN. 900-911) A confecção do sinal sacramental e a administração dos sacramentos aos fiéis constituem uma única ação realizada pelo ministro. A Eucaristia é o sacramento-sacrifício, sacramento- -comunhão e sacramento presença. Ordinariamente, essas três dimensões essenciais do mistério eucarístico se verificam conjun- tamente dentro de uma mesma celebração eucarística, porém, podem ser objeto de atividades litúrgicas diversas e separadas. É possível, portanto, administrar a comunhão fora da missa, como, também, expor o Santíssimo Sacramento para a adoração dos fi- éis. Mesmo dentro da missa é distinta a ação sacrifical e a adminis- tração da comunhão aos fiéis. Por isso é necessário levar em conta esta tríplice dimensão na hora de considerar a disciplina sobre o ministro da Eucaristia, como justamente o faz o CIC atual. O legislador ao tratar do ministro da santíssima Eucaristia a considera nos seguintes aspectos: a celebração eucarística em si (missa); a sagrada comunhão; o viático; a exposição do Santíssimo Sacramento e bênção eucarística. Vejamos cada aspecto separa- damente! © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 122 O ministro da celebração eucarística (missa) Somente o sacerdote validamente ordenado é o ministro que, fazendo as vezes de Cristo, é capaz de realizar o sacramento da Eucaristia (cân. 900 §1). Trata-se de uma afirmação constan- te do Magistério da Igreja. Portanto, a ordenação recebida vali- damente é um requisito essencial para a validade da celebração eucarística. Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– A Igreja sempre ensinou e definiu como de fé, que apenas o sacerdote e cada sa- cerdote é o ministro da celebração eucarística (missa). O Concílio de Arles (314 dC) e o Concílio de Nicéia (325 dC) expressamente afirmaram que o diácono não tinha o poder de celebrar a missa. O Concílio Lateranense IV (1215 dC) afir- mou expressamente e claramente a doutrina segundo a qual nenhuma pessoa pode celebrar este sacramento a não ser um sacerdote validamente ordenado. Portanto, quando o Concílio Vaticano II ensinou que o sacerdócio ministerial ou hierárquico difere essencialmente, e não somente em grau, do sacerdócio co- mum dos fiéis (LG 10), expressou a certeza de fé de que somente os Bispos e os presbíteros podem celebrar a Eucaristia. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Contra aquele que, não sendo sacerdote, atentar a ação litúrgica do sacrifício eucarístico é prevista a pena latae sententiae de inter- dito e, se for clérigo, a suspensão (cân. 1378 §2, 1). Para a celebração lícita da Eucaristia exige-se, ainda, que o sacerdote não esteja impedido por lei canônica (cân. 900 §2). Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Está impedido o sacerdote que incorreu na excomunhão, interdito ou suspensão (1331-1333), ou, então, nas irregularidades ou impedimentos indicados pelo cân. 1044. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– a) Admissão a celebrar - Todo sacerdote deve ser admiti- do a celebrar a Eucaristia, mesmo se desconhecido do reitor da Igreja, desde que apresente um documento de recomendação de seu Ordinário ou Superior (dado há menos de um ano) ou, então, se possa julgar que não esteja impedido de celebrar (cân. 903). 123© A Eucaristia b) Intenção da missa - Todo sacerdote tem, ainda, o direito de aplicar a missa por quaisquer pessoas, vivas ou de- funtas, à norma do cân. 901. Diferente é a questão da celebração como fato público. Esta, por motivo de escândalo, ou por outra razão, pode ser proibida. c) A concelebração – Na disciplina antiga eram raras as cir- cunstâncias em que se permitia a concelebração. O cân. 902, recolhendo o espírito da reforma conciliar, autoriza que os sacerdotes concelebrem a Eucaristia sem que seja necessária uma particular licença por parte do Ordinário, desde que a utilidade dos fiéis não requeira outra coisa. Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– A opção do legislador pela concelebração deriva da convicção de que nela se manifesta a unidade do sacrifício, a unidade do sacerdócio e, quando este par- ticipa, a unidade do povo de Deus. A Instrução Geral sobre o Missal Romano (IGMR) nos números 153-160 especifica os casos nos quais a concelebração é prescrita e as ocasiões para quais é recomendada. Veja, ainda, HORTAL, J. Os sacramentos da Igreja na sua dimensão canônico-pastoral. São Paulo: Loyola, 1987, p.100. Permanece, porém, intacta a liberdade de poder celebrar indivi- dualmente, mas não durante uma concelebração realizada na mesma igreja ou oratório. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– d) Número de missas por dia - Não é lícito ao sacerdote celebrar mais de uma vez ao dia, exceto noscasos em que, de acordo com o direito, é permitido celebrar ou concelebrar a Eucaristia mais vezes no mesmo dia (cân. 905 §1). Trata-se de uma norma muito antiga. Contudo, o próprio legislador prevê exceções, pois estabelece que se houver falta de sacerdotes, o Ordinário local pode permitir que, por justa causa, os sacerdotes celebrem duas vezes ao dia (durante a semana) e até mesmo três vezes nos domingos e festas de preceito, se as necessi- dades pastorais o exigirem (cân. 905 §2). Se a situação de necessidade pastoral se mantiver e for necessá- rio conceder permanentemente que um mesmo sacerdote celebre mais de três vezes ao dia será preciso recorrer à Santa Sé. Nunca é demais recordar que em vários lugares, inclusive no Brasil, a © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 124 escassez de sacerdotes impede muitas comunidades de terem a celebração da Eucaristia e, não raramente, nos deparamos com sacerdotes que acabam tendo que celebrar mais vezes do que o permitido. e) Frequência da celebração – A disciplina atual, em claro contraste com a antiga, exorta o sacerdote a celebrar a eucaristia com frequência e recomenda que o faça dia- riamente (cân. 904). A norma deve ser compreendida à luz da razão teológica explicitada pelo próprio cânon e que se fundamenta no decreto conciliar Presbyterorum Ordinis nº 13. Afirma o texto conciliar: No mistério do sacrifício Eucarístico, em que os sacerdotes cum- prem sua função principal, realiza-se de modo contínuo a obra de nossa redenção. Por isso é que se recomenda com muita insistência sua celebração diária, pois, mesmo que não se possa contar com a presença de fiéis, é ela um ato de Cristo e da Igreja. Não está proibido que o sacerdote celebre a Eucaristia sozinho, mas isto somente poderá ocorrer por uma cau- sa justa e razoável (cân. 906), pois é importante a parti- cipação de pelo menos um fiel. Obviamente que a forma celebrativa a ser prestigiada é sempre aquela com a pre- sença da comunidade (cân. 837 §1). Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– O modo como o cân. 906 está formulado favorece, também, a celebração diária da missa. No CIC anterior (cf. cân. 813 §1) era proibido ao sacerdote celebrar a Eucaristia sem um ajudante que pudesse assisti-lo e responder a missa. Apenas um indulto pontifício podia autorizar uma celebração sem a participação de, ao menos, um fiel. Todavia, na concessão de tal indulto devia constar a seguinte cláusula: "desde que assista algum fiel". Atualmente, o sacerdote não deve celebrar a missa sem a participação de pelo menos um fiel. Contudo, basta uma causa justa e razoável para que seja lícito fazê-lo. É uma causa justa e razoável o desejo de celebrar diariamente, desde que se tenha feito uma suficiente diligência para celebrar com a assistência de algum fiel. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O ministro da sagrada comunhão O legislador faz uma distinção entre ministro ordinário e ex- traordinário. 125© A Eucaristia O ministro ordinário da sagrada comunhão é o Bispo, o pres- bítero e o diácono (cân. 910 §1). É importante destacar que a ele- vação do diácono a ministro ordinário da comunhão foi realizada pelo Concílio Vaticano II ao confiar a ele, como ofício próprio, con- servar a Eucaristia (LG 29). O ministro extraordinário da sagrada comunhão é o acólito ou outro fiel (homem ou mulher) encarregado deste serviço (cân. 910 §2), de acordo com a norma do cân. 230 §3. Informação complementar ––––––––––––––––––––––––––––– De um ponto de vista institucional o ministro extraordinário da comunhão é o acó- lito, isto é, o leigo que recebeu tal ministério estável, mediante um rito litúrgico, à norma do cân. 230 §1. Portanto, o acólito não necessita de uma designação especial para ser ministro extraordinário da comunhão, pois o é em virtude do seu ministério. Todavia, é sempre um ministro extraordinário, ou seja, deve atuar sempre em regime de suplência, na falta ou impedimento do ministro ordinário. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Convém observar que o ministro extraordinário da sagrada comunhão possui sempre uma função supletiva. Informação complementar ––––––––––––––––––––––––––––– A condição para se confiar tal encargo é a existência de uma necessidade e a falta de ministros ordenados. Esta falta deve ser entendida, seja como ausência do lugar em que se celebra a Eucaristia, seja no sentido de impedimento, seja, ainda, no sentido de insuficiência de ministros em relação ao número de pessoas que comungam. Curioso observar que alguns sacerdotes, movidos pela intenção de "promover" os leigos, acabando abdicando de uma função que ordinariamen- te lhes compete (ser o ministro ordinário da sagrada comunhão), agindo, portan- to, contra a norma e introduzindo uma prática ilegítima. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O ministro do viático Têm o dever e direito de levar a santíssima Eucaristia como viático aos doentes (moribundos) o pároco e os vigários paro- quiais, os capelães, como, também, o Superior da comunidade nos institutos religiosos clericais ou nas sociedades clericais de vida apostólica, em relação a todos os que se encontram na casa (cân. 911 §1). Em caso de necessidade ou com a licença ao menos © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 126 presumida do pároco, do capelão ou do Superior, a quem se deve depois informar, deve fazê-lo qualquer sacerdote ou outro minis- tro da sagrada comunhão (cân. 911 §2). O ministro da exposição do Santíssimo Sacramento e da bênção eucarística O ministro da exposição do Santíssimo Sacramento e da bên- ção eucarística é o sacerdote ou diácono; em circunstâncias espe- ciais, apenas da exposição e reposição, mas não da bênção, é o acólito, um ministro extraordinário da comunhão ou outra pessoa delegada pelo Ordinário local, observando-se as prescrições do Bispo diocesano (cân. 943). Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Nas Igrejas e oratórios onde é permitido conservar a santíssima Eucaristia, po- dem-se fazer exposições com a píxide ou com o ostensório, observando-se as normas prescritas nos livros litúrgicos. Durante a celebração da missa não é permitido expor o Santíssimo Sacramento no mesmo recinto da igreja ou oratório (cân. 941). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 8. A PARTICIPAÇÃO NA SANTÍSSIMA EUCARISTIA (CÂNN. 912-923) Os cânones 912-923 regulam o direito e a obrigação de rece- ber a Eucaristia, ocupando-se de uma série de aspectos de parti- cular relevância. Faremos, aqui, um breve apanhado da normativa. Vamos lá? Direito dos fiéis à comunhão Em relação ao direito à comunhão, o princípio geral é o se- guinte: "Qualquer batizado, não proibido pelo direito, pode e deve ser admitido à sagrada comunhão" (cân. 912). Este direito encon- tra o seu fundamento dentro do assim chamado "direito aos sacra- mentos", previsto pelos cânn. 213 e 843 §2. O legislador apenas 127© A Eucaristia fixa aqui os requisitos externos para se gozar do direito de receber a Eucaristia, pois outra coisa são os requisitos ou disposições inte- riores dos quais se ocupam o cân. 916. O fiel não deve provar que é digno de receber os sacramen- tos. Por ser batizado é admitido à mesa do Senhor. Assim, os mi- nistros não podem negar a comunhão ao fiel que a pede oportu- namente e que esteja bem disposto, a não ser que conste, no foro externo, a existência de alguma proibição. O direito aos sacramentos é disciplinado por normas que re- gulam o seu exercício para o bem de toda a Igreja. Vejamos aque- las relativas ao exercício do direito dos fiéis à comunhão. Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– Afirma o cân. 213 contém a seguinte disposição: "Os fiéis têm o direito de rece- ber dos Pastores sagrados, dentre os bens espirituais da Igreja, principalmente os auxílios da Palavra de Deus e dos sacramentos".Este direito fundamental dos fiéis se encontra regulado em seu exercício pelo cân. 843 §1, que assim estabe- lece: "Os ministros sagrados não podem negar os sacramentos àqueles que o pedirem oportunamente, que estiverem devidamente dispostos e que pelo direito não forem proibidos de os receber". –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Para aprofundar este estudo veja, também, os seguintes textos: HORTAL, J. Os sacramentos da Igreja na sua dimensão canônico- -pastoral. São Paulo: Loyola, 1987, pp. 103-108; MÜLLER, Ivo. Direitos e deveres do Povo de Deus. Petrópolis: Vozes, 2004, pp. 159-169. a) As crianças – Os cânones 913-914 regulam o direito das crianças de receberem a Eucaristia. Em circunstâncias normais, para que as crianças possam receber a Eucaris- tia, é necessário que tenham suficiente conhecimento e cuidadosa preparação, de modo que, de acordo com sua capacidade, o façam com fé e devoção (cân. 913 §1). Em perigo de morte, a Eucaristia pode ser administrada às crianças se puderem discernir o Corpo de Cristo do ali- mento comum, recebendo-o com reverência (cân. 913 §2). © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 128 Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O cân. 914 trata da preparação das crianças para a comunhão, indicando qual é a responsabilidade de cada um. Primariamente o dever de preparação das crian- ças cabe aos pais ou a quem faz as suas vezes; subsidiariamente tal dever recai sobre o pároco o qual, por sua vez, conta com a colaboração de catequistas para auxiliá-lo em tal preparação. Curioso observar que o catequista não substitui os pais, como muitas vezes acontece... –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– b) Os excomungados e os interditados – Os excomungados e os interditados, depois da imposição ou declaração da pena, não podem ser admitidos à sagrada comunhão, como, também, os que obstinadamente persistem em pecado grave manifesto (cân. 915). Deve-se tratar sem- pre de situações públicas e manifestas e, portanto, co- nhecidas externamente. É preciso, além disso, a cons- ciência da gravidade da situação e nela persistir. Não estamos, portanto, diante de algo banal e, portanto, é preciso muita prudência para se lidar com tais situações. Ivo Müller faz uma breve reflexão pastoral a respeito de algumas situações bem específicas e seria interessante tê-la presente. Cf. Müller, I. Op. cit., p.162-167. c) Os que estão em pecado grave – Segundo o cân. 916, quem está consciente de pecado grave não deve cele- brar a missa e nem comungar o Corpo do Senhor, sem fazer antes a confissão sacramental, a não ser que exista causa grave e não haja oportunidade para se confessar; nesse caso, porém, é preciso um ato de contrição perfei- ta e o propósito de se confessar o quanto antes. Informação complementar ––––––––––––––––––––––––––––– Aqui é preciso esclarecer alguns pontos: - a necessidade da confissão se impõe apenas àquele que está consciente de pecado grave. Fora disso a confissão não é uma condição prévia para se aproximar da comunhão e para poder celebrar como alguns acreditam; - a razão grave de dever celebrar ou receber a comunhão sem a prévia confissão pode encontrar muitas aplicações: perigo de morte, perigo próximo de profana- ção das espécies eucarísticas, perigo de escândalo ou de difamação caso não se celebre ou comungue naquela ocasião, necessidade de celebrar em razão do ofício ou da cura pastoral, etc.; 129© A Eucaristia - deve faltar a oportunidade de se confessar: isto pode ocorrer quando não está presente algum confessor, quando não se pode ir ao confessor, a não ser com grande dificuldade, quando o confessor presente não conhece a lín- gua do penitente, quando existe uma especial relação entre o confessor e o penitente que da confissão poderia derivar um grave dano, para si ou para os outros, extrínseco à confissão mesma (o confessor é um parente do penitente ou o superior do penitente). Resumindo: falta a oportunidade de se confessar quando subsiste para o penitente uma grave dificuldade moral extrínseca à confissão de acusar os seus pecados ao confessor presente; - o penitente deve colocar um ato de contrição perfeita: a dor perfeita implica a vontade de receber o sacramento. Trata-se de uma espécie de confissão de desejo; - o penitente na situação prevista pelo cân. 916 deve se confessar o quanto antes. O preceito de recuperar a graça necessariamente por meio do sacra- mento da penitência antes de celebrar ou comungar, é de direito eclesiástico, porém possui grande valor pastoral. O CIC não fixa um tempo para se cumprir tal obrigação, diz, apenas, que se faça o quanto antes. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– d) Os que já receberam a Eucaristia – quem já recebeu a Eucaristia pode recebê-la somente uma segunda vez no mesmo dia e dentro da celebração eucarística da qual participa (cân. 917), salva a prescrição do cân. 921 §2. Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O texto do cân. 917 não é claro e se prestou a várias interpretações quando o có- digo foi promulgado. Gramaticalmente o advérbio iterum, utilizado no cânon pode ser interpretado de modo limitativo. De fato, vários autores latinos o utilizam para significar somente uma segunda vez. Para indicar mais de uma vez os autores se servem de outras expressões (iterum atque iterum, iterum iterumque, iterum ac tertium, iterum et saepius, etc.). Outros autores, porém, usam o termo com o significado de novamente, sem qualquer limitação. Todavia, a Pontifícia Comis- são para a interpretação autêntica do CIC aos 11 de abril de 1984 entendeu que o advérbio latino "iterum" (novamente) deve ser aqui interpretado como "segunda vez", resolvendo, assim, as dúvidas surgidas na interpretação do texto logo após a promulgação do código atual. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– e) Contexto da comunhão – a natureza da Eucaristia exi- ge que a comunhão seja recebida durante a celebração eucarística. Todavia, a comunhão pode ser dada fora da missa, quando a pedem por justa causa (cân. 918). Há uma justa causa quando se trata de uma pessoa enferma ou anciã que não pode ir ao local da celebração, quan- do o fiel está realmente impossibilitado de se fazer pre- sente na celebração (por causa do horário de trabalho), quando no lugar não há a celebração eucarística, mas o © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 130 Santíssimo Sacramento foi conservado para ser distribu- ído, etc. f) O jejum eucarístico – O cân. 919 estabelece quem vai receber a Eucaristia, deve se abster de qualquer comida ou bebida, excetuando-se somente água e remédio, no espaço de ao menos uma hora antes da sagrada comu- nhão. O sacerdote que no mesmo dia celebra duas ou três vezes a santíssima Eucaristia pode tomar alguma coisa antes da segunda ou terceira celebração, mesmo que não haja o espaço de uma hora (cf. cân. 919 §2). Pessoas idosas e enfermas, bem como as que cuidam delas, podem receber a Eucaristia mesmo que tenham tomado alguma coisa na hora que a antecede (cân. 919 §3). Isto não significa afir- mar que o jejum foi abolido de tudo, mas, apenas, que determi- nadas categorias de pessoas a ele não estão vinculadas da mesma forma que os sadios. Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O uso de receber a Eucaristia antes de qualquer outro alimento no mesmo dia quer significar a excelência do sacramento. Santo Agostinho, mesmo reconhe- cendo que o jejum não foi ordenado por Jesus e nem pelos Apóstolos, defende este costume, como, também, Nicolau I e Martinho V. A questão do jejum foi amplamente tratada pelo Papa Bento XIV na epístola Quadam de 22 de março de 1756. O Papa Paulo VI, aos 21 de novembro de 1964, durante a assembléia conciliar, encarregou o Secretário geral do Concílio de anunciar que o jejum eu- caristico havia sido reduzido para uma hora antes da comunhão.–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O dever de receber a Eucaristia O CIC estabelece que todo fiel, depois que recebeu a san- tíssima Eucaristia pela primeira vez, tem o dever de receber a sa- grada comunhão ao menos uma vez por ano. Tal preceito deve ser cumprido no tempo pascal, a não ser que, por justa causa, se cumpra em outro tempo dentro do ano (cân. 920). A expressão "tempo pascal" deve ser entendida em um sentido estrito, isto é, do período de tempo que decorre da Quinta-feira Santa (início do 131© A Eucaristia Tríduo Pascal), ao dia de Pentecostes. Não é mais necessário que o Ordinário do lugar prolongue ou antecipe este tempo, pois a pró- pria lei confere ao fiel a faculdade de cumprir esta obrigação em outro período do ano sempre que houver justa causa. Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O significado da comunhão frequente ou cotidiana é explicado eficazmente na instrução Eucharisticum Mysterium no nº. 37. Todavia, a escassa consideração de muitos cristãos pela comunhão levou a autoridade da Igreja a impor, já no Concílio Lateranense IV (1215), o preceito da comunhão pascal. O CIC atual, portanto, continua esta tradição, deixando, porém, aberta a possibilidade de se comungar em outra época do ano quando houver uma justa causa. A este pro- pósito, veja, também: HORTAL, J. Os sacramentos da Igreja na sua dimensão canônico-pastoral. São Paulo: Loyola, 1987, p. 108-110. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 9. RITOS E CERIMÔNIAS DA CELEBRAÇÃO EUCARÍS- TICA (CÂNN. 924-930) Matéria do Sacrifício eucarístico (cân. 924) O sinal externo da Eucaristia considerada como sacramento da comunhão são as espécies do pão e do vinho. Trata-se de uma doutrina unânime, tanto no Oriente quanto no Ocidente, e que en- contra o seu fundamento na narrativa da última ceia de Jesus (cf. Mt 26, 26-29; Mc 14, 22-25; Lc 22,15-20; I Cor 11, 23-26). Desde o princípio a Igreja agiu em conformidade com o exemplo de Jesus e sempre tomou posição contra todos os desvios. O legislador, mantendo-se fiel à tradição, estabelece que o sacrossanto Sacrifício Eucarístico deve ser oferecido com pão e vi- nho, e a este se deve misturar um pouco de água (cân. 924 §1). Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Desde São Cipriano a Igreja sempre se colocou contrária aos que queriam que a matéria fosse água ou uma bebida não alcoólica. Portanto, para a validade, a Eucaristia é celebrada com pão e vinho. Discutida é a questão se a competente autoridade da Igreja (cân. 841) possa admitir o uso de outro tipo de pão e de outro tipo de bebida. As propostas de mu- © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 132 dança, com motivações diversas e nem sempre convergentes, encontram duas dificuldades fundamentais: o exemplo de Jesus, ao qual é necessário se manter fiel, e a tradição antiga e compacta da Igreja (católica, ortodoxa, anglicana e re- formadas) da qual não se pode afastar. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O pão deve ser só de trigo. Trata-se de matéria para a valida- de do sacramento. Para uma celebração lícita se exige, ainda, que o pão deve ser feito recentemente, de modo que não haja perigo de deterioração (cân. 924 §2), e, ainda, que seja ázimo (cân. 926). Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– É importante ter presente que o pão deve ser exclusivamente de trigo e é preciso manter intactas todas as suas propriedades naturais. Um pão corrompido deixa- ria de ser matéria válida do sacramento. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– ATENÇÃO! A utilização de pão ázimo (sem fermento) pertence à tradição da Igreja Latina e remonta ao século 8º. Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A Congregação para a Doutrina da Fé deu respostas muito claras a determina- dos problemas relativos à participação na Mesa eucarística, como é o caso, por exemplo, do alcoolismo e da enfermidade celíaca. Para se interar do assunto consulte o seguinte texto: Congregação para a Doutrina da Fé. Responsa ad dubia, 29.X.1982, In AAS 74, 1982, 1298. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O vinho, para a validade, deve ser natural (do fruto da vi- deira), e não deteriorado (cân. 924 §§ 2 e 3). O acréscimo de um pouco de água no Oriente é obrigatório e no Ocidente é necessário apenas para a liceidade. A forma do sacramento A forma da santíssima Eucaristia é constituída pelas palavras de sua instituição pronunciadas durante a celebração Eucarística no momento da consagração. Em continuidade com o ensinamen- to do Concílio de Trento, o cân. 927 estabelece que o pão e o vinho 133© A Eucaristia sempre devem ser consagrados juntos e na celebração eucarística. É tese teológica certa que o sacrifício eucarístico se realiza essen- cialmente com a dupla consagração. Na falta de uma consagração, falta o sacrifício. Por isso, o legislador proíbe que se consagre uma matéria sem a outra ou, então, que sejam consagradas fora da ce- lebração eucarística, mesmo urgindo extrema necessidade. Trata- -se de uma proibição absoluta. Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– É proibido, portanto, consagrar somente hóstias quando em uma celebração com grande participação dos fiéis venha a faltar aquelas consagradas; é proibido con- sagrar o pão fora da missa para poder administrar o viático a um enfermo em perigo de morte. O IGMR estabelece que se após a consagração o sacerdote cair na conta de que utilizou água e não vinho, deve colocar a água em um recipiente à parte e versar no cálice o vinho com um pouco de água, repetindo a parte da consagração do vinho, sem precisar consagrar novamente o pão. A consagração do pão e do vinho fora da estrutura da celebração eucarística, embora proibida e, portanto, ilícita, é válida, desde que sejam utilizadas as pala- vras próprias da consagração e com a intenção de fazer o que a Igreja faz. Na prática tal modalidade é sempre ilegítima. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Outras questões O Concílio Vaticano II permitiu que em determinados casos, seja distribuída a comunhão sob as duas espécies, mantendo-se fir- mes os princípios dogmáticos declarados pelo Concílio de Trento (SC 55). Segundo estes princípios dogmáticos aos quais se refere a cons- tituição conciliar, na comunhão sob qualquer uma das duas espécies se recebe a Cristo total e íntegro e um verdadeiro sacramento. Por conseguinte, não há uma maior plenitude de participação quando se recebe o Corpo de Cristo sob as duas espécies. Tal participação é permitida apenas por uma questão de valorização do sinal. O legislador, atendo-se às orientações do Concílio, estabele- ceu que, de regra, a comunhão deve ser distribuída somente sob a espécie de pão, e, nos casos previstos pelo direito litúrgico, sob as duas espécies (IGMR 240-243). Em caso de necessidade pode ser dada somente sob a espécie do vinho, como ocorre, por exemplo, com aqueles que não podem ingerir glúten (cân. 925). © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 134 Os sacerdotes e diáconos, para celebrar ou administrar a Eu- caristia, devem utilizar os paramentos prescritos pelos livros litúr- gicos (cân. 929). Portanto, a celebração eucarística não pode ser celebrada em qualquer língua. Deve ser utilizada a língua latina, ou, então, a língua viva da comunidade que a celebra. Todavia, é obrigação do ministro utilizar os textos litúrgicos que tenham sido legitimamen- te aprovados (cân. 928) e não qualquer texto. 10. TEMPO E LUGAR DA CELEBRAÇÃO EUCARÍSTICA (CÂNN. 931-933) Em relação ao tempo, o cân. 931 nos oferece uma norma geral bem ampla: "A celebração e a distribuição da Eucaristia pode realizar-se em qualquer dia e hora, exceto aqueles excluídos pelas leis litúrgicas" (cân. 931). Isso vale tanto para a celebração da mis- sa, quanto para a administração da sagrada comunhão. Informação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––As exceções a esta norma geral se encontram nas normas litúrgicas. Na Quinta- -feira Santa a Missa do crisma em muitos lugares é celebrada pela manhã na catedral, embora possa ser celebrada antes por razões pastorais. Já na parte da tarde celebra-se, apenas, a Missa da Ceia do Senhor, podendo o Ordinário do lugar permitir que se celebre outra Missa vespertina, tanto em Igrejas, quanto em oratórios, para aquelas pessoas que não possam participar da Missa da Ceia do Senhor. A comunhão somente pode ser administrada dentro dessas missas, salvo o caso dos enfermos aos quais poderá ser administrada a qualquer hora. Na Sexta-feira Santa a Eucaristia não pode ser celebrada. A comunhão somente pode ser dada dentro da celebração vespertina, com exceção, é claro, dos en- fermos. No Sábado Santo tampouco está permitido celebrar a Eucaristia até a Vigília Pascal, geralmente realizada à noite, embora por razões pastorais seja permitido celebrá-la ao entardecer. Antes desta celebração só é possível receber a comu- nhão na forma de viático. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Quanto ao lugar o princípio geral é que a celebração deve ser realizada em lugar sagrado, a não ser que, em caso particular, a ne- cessidade exija outra coisa; neste caso, deve-se fazer a celebração em lugar decente (cân. 932). 135© A Eucaristia Por lugares sagrados entendem-se aqueles destinados ao culto divino (as igrejas, os oratórios, as capelas privadas, as cape- las privadas dos bispos e os santuários) mediante dedicação ou benção, para isso prescritas pelos livros litúrgicos (cân. 1205). Excepcionalmente, quando em um caso particular a neces- sidade o exigir, pode-se celebrar em outro lugar desde que seja decente. A autorização para celebrar fora do lugar sagrado é dada pelo próprio direito e, portanto, não é necessário recorrer ao Ordi- nário do lugar. Dessa maneira, deve se tratar de um caso particular, e não de algo habitual, pois, se assim o for, será preciso a licença do Ordinário local. Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Isso não impede que o direito particular crie normas a esse respeito, fixando cri- térios para determinar a necessidade, como, também, as condições de decoro e dignidade que o lugar escolhido deve ter. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O Sacrifício eucarístico deve realizar-se sobre altar dedicado ou benzido; fora do lugar sagrado, pode ser utilizada uma mesa conveniente, mas sempre com toalha e corporal, à norma do cân. 932 §2. A normativa canônica relativa aos altares encontra-se nos cânn. 1235-1239. É possível celebrar a Eucaristia no templo de alguma Igre- ja ou comunidade eclesial que não tenha plena comunhão com a Igreja católica, desde que haja uma justa causa, seja removido o escândalo e se obtenha uma licença expressa do Ordinário local (cân. 933). Não se trata da administração da Eucaristia para cris- tãos não católicos (deste tema se ocupa o cân. 844), mas, sim, da celebração da eucaristia para católicos em templos não católicos. Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O CIC não contempla a situação inversa, ou seja, que os irmãos separados cele- brem seus cultos em lugares sagrados católicos. O Diretório ecumênico de 1993, nos números 137-142, estende a todos os irmãos separados a comunicação nos lugares sagrados. Para se interar melhor disso, veja os números indicados. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 136 11. CONSERVAÇÃO E VENERAÇÃO DA EUCARISTIA (CÂNN. 934-944) O povo cristão não considera somente a celebração da Euca- ristia como o centro e o coração do culto e da sua vida, mas, tam- bém, crê na presença real de Cristo nas espécies consagradas, ado- rando-o fora do contexto da celebração eucarística. Assim, nunca é demais lembrar que a Eucaristia tem o seu vértice na celebração da missa, pois esta se encontra na origem de todo o culto que se rende à Eucaristia fora da missa. O objetivo primário e originário da conservação das espécies eucarísticas é o viático. O objetivo se- cundário é a distribuição da comunhão fora da missa e a adoração. A consciência da presença do Senhor na Eucaristia (sacra- mento permanente) conduziu os fiéis a manifestações externas e públicas de devoção eucarística que a competente autoridade da Igreja a regulou e regula de diversas formas. O CIC se ocupa so- mente da conservação da Eucaristia (cânn. 934-940) e de algumas manifestações de culto da presença eucarística (cânn. 941-944). Lugar da conservação da Eucaristia O cân. 934 §1 indica quais são os locais nos quais a Eucaristia deve ser conservada. À norma do cân. 935, a ninguém é lícito con- servar a Eucaristia na própria casa ou levá-la consigo em viagens, a não ser em circunstâncias extraordinárias (incêndio, perigo de pro- fanação, inundação etc.), ou urgindo uma necessidade pastoral. Informação –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A conservação da Eucaristia é prescrita nas igrejas catedrais ou equiparadas, nas igrejas paroquiais, nas igrejas ou oratórios anexos às casas de um instituto religioso ou de uma sociedade de vida apostólica; é permitida na capela privada do Bispo e nas outras igrejas, oratórios ou capelas privadas, mas com a licença do Ordinário do lugar (cân. 934 §1). Nestes lugares deve haver alguém que cuide dela e, se possível, um sacerdote deve celebrar missa aí, pelo menos duas vezes por mês (cân. 934 §2). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– ......................................... 137© A Eucaristia O tabernáculo (cânn. 938-940) O tabernáculo é o lugar onde as espécies eucarísticas são conservadas. Para se evitar o perigo de profanação, a chave do tabernáculo deve ser guardada com a máxima diligência e duran- te a noite a Eucaristia pode ser conservada em outro lugar segu- ro e digno. (cân. 938 §§ 4-5). Diante do tabernáculo deve brilhar continuamente uma lâmpada especial, com a qual se indique e se reverencie a presença de Cristo (cân. 940). O tabernáculo deve ter os seguintes requisitos: inamovível; construído com material sólido e não transparente; situado em uma parte da igreja que seja distinta, visível, ornada com dignidade e própria para a oração. A Eucaristia deve ser conservada em apenas um tabernáculo. Exposição e veneração (cân. 941-942) O Santíssimo Sacramento pode ser exposto com a píxide ou com o ostensório, observando-se as normas prescritas nos livros litúrgicos. Recomenda-se que nas Igrejas e oratórios em que se conserva a Santíssima Eucaristia se faça todos os anos a exposi- ção solene do Santíssimo Sacramento, prolongada por tempo con- veniente, mesmo não contínuo, a fim de que a comunidade local medite mais profundamente e adore o mistério eucarístico; essa exposição, porém, somente deve ser feita caso se preveja razoável concurso de fiéis e observando-se as normas estabelecidas. Procissão eucarística (cân. 944) Onde for possível, a juízo do Bispo diocesano, a procissão do Corpo do Senhor pelas vias públicas é sempre aconselhada como testemunho público de veneração para com a santíssima Eucaris- tia, principalmente na solenidade de Corpus Christi. Entretanto Compete, ainda, ao Bispo diocesano estabelecer normas sobre as procissões, assegurando a participação e dignidade delas (cân. 944 §2). © Direito Canônico II Centro Universitário Claretiano 138 12. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS Confira, na sequência, as questões propostas para verificar seu desempenho no estudo desta unidade: 1) A normativa canônica sobre o sacramento da Eucaristia possui uma forte acentuação cristológica e eclesiológica. Apresente um cânon onde isso apa- rece. 2) O mistério eucarístico possui três dimensões essenciais, pois a Eucaristia pode ser entendida como sacramento-sacrifício, sacramento-comunhão e sacramento-presença. Explicitecada uma destas dimensões. 3) Tendo presente as três dimensões essenciais do mistério eucarístico, como, também, a questão do viático, desenvolva o seguinte tema: "o ministro da Santíssima Eucaristia". 4) É preciso se confessar para receber a comunhão? Justifique. 5) É possível negar a comunhão a alguém? Explique. 13. CONSIDERAÇÕES Nesta unidade você refletiu sobre o sacramento da Eucaris- tia. Sugerimos a você que faça uma leitura atenta da normativa contida no CIC atual (cânn. 897-958) sobre este sacramento. Na próxima unidade, você será convidado a compreender os sacramentos de cura: a penitência e a unção dos enfermos. Até lá! 14. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GHIRLANDA, G. O direito na Igreja, mistério de comunhão. Compêndio de Direito Eclesial. Aparecida: Santuário, 2003. GRINGS, D. A ortopráxis da Igreja. O Direito Canônico a serviço da pastoral. Aparecida: Santuário, 1996. HORTAL, J. E haverá um só rebanho: história, doutrina e prática católica do Ecumenismo. São Paulo: Loyola, 1989. ______. O código de direito canônico e o ecumenismo. Implicações ecumênicas da atual legislação canônica. São Paulo: Loyola, 1990. 139© A Eucaristia ______. Os sacramentos da Igreja na sua dimensão canônico-pastoral. São Paulo: Loyola, 1987. MÜLLER, I. Direitos e deveres do Povo de Deus. Petrópolis: Vozes, 2004. Centro Universitário Claretiano – Anotações
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