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Acidentes com animais peçonhentos

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MANUAL DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DE ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS MS FUNASA FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE 2001
VERONESI 5ª ED
Animal Venenoso x Animal Peçonhento X Animal não peçonhento
Venenosos: são aqueles que produzem veneno, mas não possuem um aparelho inoculador (dentes, ferrões), provocando envenenamento passivo por contato (taturana), por compressão (sapo) ou por ingestão (peixe baiacu).
Peçonhentos: são aqueles que possuem glândulas de veneno que se comunicam com dentes ocos, ou ferrões, ou aguilhões, por onde o veneno passa ativamente. Ex: serpentes, aranhas, escorpiões, abelhas, arraias.
Não peçonhentos: nem todo animal peçonhento é venenoso, porém os venenosos não são peçonhentos. Principais animais não peçonhentos: serpentes (jiboia, sucuri), sapos, taturana, peixe baiacu.
ACIDENTE OFÍDICO
As serpentes são as principais causadoras de acidentes por animais peçonhentos no Brasil.
No Brasil estão catalogadas 256 espécies, sendo 69 venenosas e/ou peçonhentas e 187 não.
Dentre essas 69, 32 são gênero Bothrops, 6 do gênero Crotalus, 2 do gênero Lachesis e 29 do gêneros Micrurus.
A serpente peçonhenta é definida por 3 características fundamentais; presença de fosseta loreal, presença de guizo ou chocalho no final da cauda; presença de anéis coloridos (vermelho, preto, branco ou amarelo).
EPIDEMIOLOGIA
No Brasil ocorrem por ano cerca de 20mil casos de acidentes ofídicos, sendo 2 mil deles no estado de SP.
A maioria dos acidentes ocorre no verão, entre janeiro e abril de cada ano.
Nessa época os lavradores tem mais contato com os animais silvestres, aumentando a possibilidade dos acidentes.
Indivíduos do sexo masculino (74,8%), na faixa etária entre 15 e 49 anos e lavradores são os mais acometidos.
As regiões do corpo mais atingidas são os membros inferiores (62,75%) e membros superiores (12,15%).
A maioria dos acidentes é causada pelas serpentes do gênero Bothrops (87,33%), seguido por Crotalus (7,43%), Lachesis (1,37%), Micrurus (0,41%) e não peçonhentas (3,46%).
CARACTERÍSTICAS DOS GÊNEROS DE SERPENTES PEÇONHENTAS NO BRASIL
1. Fosseta loreal presente
É um orifício situado entre o olho e a narina. Indica com segurança que a serpente é peçonhenta e é encontrada nos gêneros Bothrops, Crotalus e Lachesis.
Todas as serpentes destes gêneros são providas de dentes inoculadores bem desenvolvidos e móveis situados na porção anterior do maxilar.
A identificação entre os gêneros referidos também pode ser feita pelo tipo de cauda.
Cauda lisa: bothrops.
Guizo ou chocalho: crotalus.
Escamas eriçadas: Lachesis.
2. Fosseta loreal ausente
As serpentes Micrurus não apresentam fosseta loreal e possuem dentes inoculadores pouco desenvolvidos e fixos na região anterior da boca.
Todas com fosseta loreal são peçonhentas. Se não tiver fosseta loreal, tem que observar se tem anéis coloridos que vai ser a Micrurus.
GÊNEROS
1. Família Viperidae
a) Gênero Bothrops
Compreende cerca de 30 espécies, distribuída por todo o território nacional.
São popularmente conhecidas como: jararaca, ouricana, jararacuçu, urutu-cruzeira, jararaca-do-rabo-branco, malha-de-sapo, patrona, surucucurana, combóia, caiçara, e outras denominações.
Habitam principalmente zonas rurais e periferias de grandes cidades, preferindo ambientes úmidos como matas e áreas cultivadas e locais onde haja facilidade para proliferação de roedores.
Têm hábitos predominantemente noturno ou crepusculares.
Podem apresentar comportamento agressivo quando se sentem ameaçadas, desferindo botes sem produzir ruídos.
b) Gênero Crotalus
Popularmente conhecidas por cascavel, cascavel-quatro-ventas, boicininga, maracamboia, maracá e outras denominações populares.
São encontradas em campos abertos, áreas seca, arenosas e pedregosas e raramente na faixa litorânea.
Não tem o hábito de atacar, e quando excitadas, denunciam sua presença pelo ruído característico do guizo ou chocalho.
c) Gênero Lachesis
Popularmente conhecidas por: surucucu, surucucu-pico-de-jaca, surucutinga, malha-de-fogo.
É a maior das serpentes peçonhentas das Américas, atingindo até 3,5m.
Habitam áreas florestais, como Amazônia, Mata Atlântica e algumas enclaves de matas úmidas do Nordeste.
2. Família elapidade
a) Gênero Micrurus
Compreende 18 espécies, distribuídas em todo o território nacional.
São animais de pequeno e médio porte, com tamanho em torno de 1m, conhecidas popularmente por coral, coral verdadeira ou boicorá.
Apresentam anéis vermelhos, pretos e brancos, em qualquer tipo de combinação.
Em todo país, existem serpentes não peçonhentas com o mesmo padrão de coloração das corais verdadeiras, porém desprovidas de dentes inoculadores.
Diferem também na configuração dos anéis, que, em alguns casos, não envolvem toda a circunferência do corpo.
São denominadas falsas-corais.
3. Família Colubridae
Algumas espécies do gênero Philodryas e Clelia.
Têm interesse médico, pois há relatos de quadro clínico de envenenamento.
São conhecidas por cobra-cipó ou cobra-verde, e muçurana ou cobra-preta.
Possuem dentes inoculadores na porção posterior da boca e não apresentam fosseta loreal.
Para injetar o veneno, mordem e se prendem ao local.
PATOGENIA
1. Serpentes do gênero Bothrops
Possuem venenos com ações coagulante, proteolítica e vasculotóxica.
a) Ação coagulante
Transformam o fibrinogênio diretamente em fibrina, conhecida por ação coagulante do tipo trombina.
Além disso, a maioria tem capacidade de ativar o fator X e a protrombina da cascata da coagulação sanguínea.
A fração do veneno botrópico que possui ação coagulante atua de maneira diferente da trombina fisiológico, pois não é neutralizada pela heparina.
Ocorre ativação da cascata da coagulação, resultando em consumo de fibrinogênio com incoagubilidade sanguínea, restaurada horas após o tratamento adequado.
Quando ocorre ativação do fator X, há também consumo de fatores V, VII e plaquetas, levando a produção de um quadro de coagulação intravascular disseminada.
Assim há formação e deposição de microtrombos na rede capilar, que pode contribuir para desencadear insuficiência renal aguda.
Pode surgir também plaquetopenia.
b) Ação necrosante
Também denominada proteolítica.
Decorre da ação citotóxica direta nos tecidos por frações proteolíticas do veneno.
Pode haver liponecrose, mionecrose e lise das paredes vasculares.
Tem relação direta com a quantidade de veneno inoculado.
A ação necrosante local do veneno de Bothrops moojeni é a mais intensa.
Lesões locais, como rubor, edema, bolhas e necrose estão presentes, porém é importante lembrar que podem ser potencializadas por eventuais infecções secundárias.
c) Ação vasculotóxica
Pode causar hemorragia local ou sistêmica, no âmbito de pulmões, cérebro e rins.
Manifestações hemorrágicas decorrentes da ação das hemorraginas que provocam lesões na membrana basal dos capilares, associadas à plaquetopenia e alterações da coagulação.
O edema no local da picada em geral ocorre minutos após o acidente, sendo decorrente de lesão tóxica no endotélio de vasos sanguíneos.
Nos acidentes causados por Bothrops moojeni, pode ocorrer edema maciço em todo membro, 48 a 72h depois, sendo confundido com trombose venosa ou infecção bacteriana.
d) Outras ações
Podem ser acompanhadas de choque, com ou sem causa definida.
Pode ser por hipovolemia por perda de sangue ou plasma no membro edemaciado, a ativação de substância hipotensoras, o edema pulmonar e a coagulação intravascular disseminada.
A insuficiência renal pode-se instalar por ação direta ou secundária a complicações em que o choque está presente.
A formação de microtrombos pelas ações coagulantes e vasculotóxicas é capaz de provocar isquemia renal por obstrução da microcirculação.
Podem estar presentes sintomas inespecíficos, como vômitos, cefaleia, dor abdominal, diarreia ou até mesmo colapso circulatório devido à ativação do sistema das cininas.
QUADRO CLÍNICO
-Manifestações locais
Caracterizadas pela dor e edema endurado no local da picada, de intensidade variável e, em geral, de instalação precoce e caráter progressivo.
Equimoses e sangramentos no ponto da picadasão frequentes.
Infartamento ganglionar e bolhas podem aparecer na evolução, acompanhadas ou não de necrose.
-Manifestações sistêmicas
Além de sangramentos em ferimentos cutâneos preexistentes, podem ser observadas hemorragias à distância, como gengivorragias, epistaxes, hematêmese e hematúria.
Em gestantes, há risco de hemorragia uterina.
Os acidentes botrópicos podem ser classificados em:
Leve – forma mais comum. Caracteriza por dor e edema local pouco intenso e ausente. Manifestações hemorrágicas discretas ou ausentes.
Moderado – Dor e edema que ultrapassa o segmento anatômico picado, acompanhados ou não de alterações hemorrágicas locais ou sistêmicas.
Grave – Edema local endurado intenso e extenso, podendo atingir todo o membro picado, geralmente acompanhado de dor intensa e eventualmente com presença e bolhas. Podem aparecer sinais de isquemia local.
COMPLICAÇÕES
Locais: 
. Síndrome Compartimental: rara, caracteriza casos graves, sendo de difícil manejo.
Decorre da compressão do feixe vásculo-nervoso devido ao grande edema que se desenvolve no membro atingido, produzindo isquemia de extremidades.
A manifestações mais importantes são a dor intensa, parestesia, diminuição da temperatura do segmento distal, cianose e déficit motor.
Haverá plaquetopenia
. Abscesso: ocorrência de 10 a 20%. A ação proteolítica do veneno favorece o aparecimento de infecções locais.
Os germes patogênicos podem provir da boca do animal, da pele do acidentado ou do uso de contaminantes sobre o ferimento.
. Necrose: devido principalmente a ação proteolítica do veneno. Associada à isquemia local decorrente de lesão vascular e de outros fatores, como infecção, trombose arterial, síndrome de compartimento ou uso de torniquetes.
Risco maior nas picadas em extremidades.
Sistêmicas:
. Choque: Raro. Aparece nos casos graves.
Patogênese multifatorial, pode decorrer da liberação de substâncias vasoativas, do sequestro de líquido na área do edema e de perdas por hemorragias.
. Insuficiência Renal Aguda: patogênese multifatorial.
Pode decorrer de ação direta do veneno sobre os rins, isquemia renal secundária a deposição de microtrombos nos capilares, desidratação ou hipotensão arterial e choque.
EXAMES COMPLEMENTARES
Tempo de coagulação: importante para elucidação diagnóstica e acompanhamento dos casos.
Hemograma: geralmente revela leucocitose com neutrofilia e desvio à esquerda, hemossedimentação elevada nas primeiras horas do acidente e plaquetopenia de intensidade variável.
Urina: pode haver proteinúria, hemafúria e leucocitúria.
Podem sem solicitados outros exames laboratoriais, dependendo da evolução clínica do paciente.
TRATAMENTO
Tratamento específico
Administração o mais precocemente possível do soro antibotrópico (SAB) por via intravenosa.
Na falta deste, associações antibotrópico-crotálica (SABC) ou antibotrópicolaquética (SABL).
Se o tempo de coagulação permanecer alteração 24h após a soroterapia, está indicada dose adicional de duas ampolas de antiveneno.
Tratamento geral
Medidas gerais como:
Manter elevado e estendido o segmento picado;
Emprego de analgésico para alívio da dor;
Hidratação: manter o paciente hidratado, com diurese entre 30 a 40ml/hora no adulto e 1 a 2 ml/kg/hora na criança.
Antibioticoterapia: indicado quando houver evidência de infecção.
Tratamento das complicações locais
Firmado o diagnóstico de síndrome de compartimento, a fasciotomia não deve ser retardada, desde que as condições de hemostasia do paciente o permitam.
Debridamento de áreas necrosas delimitadas e a drenagem de abscessos devem ser efetuados.
PROGNÓSTICO
Geralmente é bom. 
A letalidade nos casos tratados é baixa (0,3%).
Há possibilidade de ocorrer sequelas locais anatômicas ou funcionais.
2. Serpentes do gênero Crotalus
Possuem veneno com ações miotóxica, neurotóxica, coagulante e hepatotóxica.
A composição do veneno é complexa e constituída de enzimas, toxinas e peptídeos.
Apresenta efeitos importantes sobre os musculo-esqueléticos, o sistema nervoso, rins e o sangue.
Outros órgãos, como o fígado, também podem ser acometidos.
a) Ação miotóxica
Produz lesões de fibras musculares esqueléticas, com liberação de enzimas e mioglobina para o sangue e urina.
b) Ação neurotóxica
As frações neurotóxicas do veneno crotálico são aquelas que produzem efeitos tanto no SNC quanto no periférico.
A principal fração neurotóxica do veneno de Crotalus durissus terrificus é a crotoxina, que causa paralisia em todas as espécies animais estudadas.
Estudos em animais mostram também a presença de vômitos, salivação intensa, diarreia e albuminúria, além de convulsões.
Outro importante efeito da crotoxina é o bloqueio da transmissão neuromuscular.
c) Ação nefrotóxica
Ação indireta sobre as células renais causada pela miglobinuria, decorrente da rabdomiólise.
d) Ações hematológicas
Estão relacionadas a eritrócitos, leucócitos, plaquetas e fatores de coagulação.
O número de leucócitos é aumentado, em geral acima de 15.000/mm3 e desvio para a esquerda.
As plaquetas podem estar em número normal ou diminuído, havendo diminuição ou ausência de agregação plaquetária nos primeiros 2 dias após o acidente.
e) Ação hepatotóxica
Costuma cursar com aumento da retenção da bromossulfaleína e aumento de AST e ALT.
f) Ação coagulante
Decorre de atividade do tipo trombina que converte o fibrinogênio diretamente em fibrina.
O consumo do fibrinogênio pode levar à incoagulabilidade sanguínea.
Geralmente não há redução do número de plaquetas.
As manifestações hemorrágicas, quando presentes, são discretas.
QUADRO CLÍNICO
-Manifestações locais
Pouco importantes, diferindo dos acidentes botrópico e laquético.
Não há dor, ou pode ser de pequena intensidade.
Há parestesia local ou regional, que pode persistir por tempo variável, podendo ser acompanhada de edema discreto ou eritema no ponto da picada.
-Manifestações sistêmicas
a) Gerais: mal-estar, prostração, sudorese, náuseas, vômitos, sonolência ou inquietação e secura da boca.
b) Neurológicas: decorrem da ação neurotóxica do veneno. 
Surgem nas 1hrs horas após a picada, e caracterizam o fácies miastênica evidenciadas por ptose palpebral uni ou bilateral, flacidez da musculatura da face, alteração do diâmetro pupilar, incapacidade de movimentação do globo ocular, podendo existir dificuldade de acomodação (visão turva) e/ou visão dupla (diplopia).
Como manifestações menos frequentes, pode-se encontrar paralisia velopalatina, com dificuldade à deglutição, diminuição do reflexo do vômito, alteração do paladar e olfato.
c)Musculares: ação miotóxica provoca dores musculares generalizadas (mialgias) que podem aparecer precocemente.
A fibra muscular esquelética lesada libera mioglobina, que é excretada pela urina e lhe confere uma cor avermelhada ou de tonalidade mais escura, até o marrom.
A mioglobinúria constitui a manifestação clínica mais evidente da necrose da musculatura esquelética (rabdomiólise).
d)Distúrbios da coagulação: pode haver incoagulabilidade sanguínea ou aumento do tempo de coagulação.
-Manifestação clínicas pouco frequentes
Insuficiência respiratória aguda, fasciculações e paralisia de grupos musculares.
O envenenamento crotálico pode ser classificado em:
Leve: presença de sinais e sintomas neurotóxicos discretos, de aparecimento tardio, sem mialgia ou alteração da cor da urina ou mialgia discreta.
Moderado: caracteriza-se pela presença de sinais e sintomas neurotóxicos discretos, de instalação precoce, mialgia discreta e urina pode apresentar coloração alterada.
Grave: sinais e sintomas neurotóxicos evidentes e intensos (fácies miastênica, fraqueza muscular). Mialgia intensa e generalizada, urina escura, podendo haver oligúria ou anúria.
COMPLICAÇÕES
Locais: raros pacientes evoluem com parestesias locais duradouras, mas reversíveis após algumas semanas.
Sistêmicas: a principal é a insuficiência renal aguda, com necrose tubular geralmente de instalação nas primeiras 48hrs.
EXAMES COMPLEMENTARES
Sangue: pode-se observador valores séricos elevados de creatinoquinase (CK), desidrogenase lática (LDH),aspartase-amino-transferase (AST), aspartase-alanino-transferase (ALT) e aldolase.
Na fase oligúrica da insuficiência renal aguda, são observadas elevação dos níveis de uréia, creatinina, ácido úrico, fósforo, potássio e diminuição da calcemia.
O tempo de coagulação frequentemente está prolongado.
Hemograma pode mostrar leucocitose, com neutrofilia e desvio a esquerda.
Urina: o sedimento urinário geralmente é normal, quando não há IRA. Pode haver proteinúria discreta, com ausência de hematúria. Presença de mioglobina.
TRATAMENTO
Específico:
Soro anticrotálico (SAC), administrado intravenosamente.
A dose varia de acordo com a gravidade do caso. 5 ampolas em caso leve, 10 no moderado e 20 no grave.
A quantidade ministrada na criança é a mesma do adulto.
Pode ser utilizado o soro antibrotrópico-crotálico (SABC).
Geral:
Hidratação adequada. Será satisfatória se o fluxo urinário for de 1ml a 2ml/kg/hora na criança e 30 a 40ml/hora no adulto.
O ph urinário deve ser mantido acima de 6,5, pois a urina ácida potencia a precipitação intratubular de mioglobina.
A alcalinação da urina deve ser feita pela administração parenteral de bicarbonato de sódio.
PROGNÓSTICO
Bom nos acidentes leves e moderados e nos pacientes atendidos nas primeiras 6h após a picada, onde se observa a regressão total de sintomas e sinais após alguns dias.
Nos acidentes graves, o prognóstico está vinculado à existência da insuficiência renal aguda.
3. Serpentes do gênero Micrurus (acidente elapídico)
Veneno com ação neurotóxica.
a) Ação neurotóxica
Podem atuar na pré ou na pós-sinapse.
QUADRO CLÍNICO
Os sintomas podem surgir precocemente, em menos de 1h após a picada.
Recomenda-se a observação clínica do acidentado por 24h, pois há relatos de aparecimento tardio dos sintomas/sinais.
Manifestações locais:
Há discreta dor local, geralmente acompanhada de parestesia com tendência a progressão proximal.
Manifestações sistêmicas:
Inicialmente o paciente pode apresentar vômitos.
Posteriormente, pode surgir um quadro de fraqueza muscular progressiva, ocorrendo ptose palpebral, oftalmoplegia e a presença de fácies miastênica ou neurotóxica.
Associadas a estas manifestações, podem surgir dificuldades para manutenção da posição ereta, mialgia localizada ou generalizada e dificuldade para deglutir em virtude da paralisia do véu palatino.
Paralisia flácida da musculatura respiratória compromete a ventilação, podendo haver evolução para insuficiência respiratória aguda e apnéia.
EXAMES COMPLEMENTARES
Não há.
TRATAMENTO
Específico:
Soro antielapídico deve ser administrado na dose de 10 ampolas, via intravenosa.
Todos os casos de acidente por coral com manifestações clínicas devem ser considerados como potencialmente grave.
Geral:
Nos casos com insuficiência respiratória, fundamental manter o paciente ventilado, seja por máscara e AMBU, intubação traqueal e AMBU ou até mesmo por ventilação mecânica.
Estudos clínicos controlados atestam a eficácia do uso de anticolinesterásicos em acidentes elapídicos humanos. Pode ser usado quando houver envenenamento intenso por corais de espécies não identificadas.
Tratamento medicamentoso da insuficiência respiratória aguda
-Neostigmina: pode ser utilizado como teste na verificação de resposta aos anticolinesterásicos e como terapêutica
Teste da neostigmina: aplicar 0,05 mg/kg em crianças ou 1 ampola no adulto, via IV. A resposta é rápido, com melhora evidente do quadro neurotóxico nos primeiros 10 minutos.
Terapêutica de manutenção: se houver melhora dos fenômenos neuroparalíticos com o teste acima, a neostigmina pode ser utilizada na dose de manutenção de 0,05 a 0,1mg/kg IV, a cada 4h ou em intervalos menores, precedida da administração de atropina.
-Atropina
Antagonista competitivo dos efeitos muscarínicos da Ach, principalmente a bradicardia e a hipersecreção.
Deve ser administrada sempre antes da neostigmina, na dose de 0,05mg/kg IV em crianças e 0,5mg IV em adultos.
PROGNÓSTICO
Favorável, mesmo nos casos graves, desde que haja atendimento adequado quanto à soroterapia e assistência ventilatória.	
 
4. Serpentes do gênero Lachesis
Possui ações coagulante, necrosante e vasculotóxica, a semelhança dos venenos botrópicos.
Admite-se também uma atividade neurotóxica, capaz de ocasionar síndrome de excitação vagal, que se manifesta por bradicardia, diarreia, hipotensão arterial e choque.
QUADRO CLÍNICO
Manifestações locais:
Semelhante aos do acidente botrópico.
Predomina a dor e edema, que podem progredir para todo o membro.
Podem surgir vesículas e bolhas de conteúdo seroso ou sero-hemorrágico nas 1as horas após o acidente.
Manifestações hemorrágicas se limitam ao local da picada na maioria dos casos.
Manifestações sistêmicas
Hipotensão arterial, tonturas, escurecimento da visão, bradicardia, cólicas abdominais e diarreia (síndrome vagal).
Acidentes laquéticos são classificados como moderados e graves.
Como são serpentes de grande porte, considera-se que a quantidade de veneno por elas injetada é potencialmente muito grande.
COMPLICAÇÕES
As mesmas do acidente botrópico.
Síndrome compartimental, necrose, infecção secundária, abscesso, déficit funcional.
EXAMES COMPLEMENTARES
A determinação do Tempo de Coagulação é importante para auxiliar no diagnóstico do envenenamento e acompanhamento dos casos.
Também podem estar indicados hemograma, dosagens de ureia, creatinina e eletrólitos.
DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL
Do ponto de vista clínico, os acidentes botrópico e laquético são muito semelhantes.
As manifestações da síndrome vagal poderiam auxiliar na distinção entre o acidente laquético e o botrópico.
TRATAMENTO
Pode-se considerar todo acidente laquético como acidente grave.
Tratamento específico:
O soro antilaquético (SAL) ou antibotrópico-laquético (SABL) deve ser utilizado por via intravenosa. De 10 a 20 ampolas.
No caso de acidente laquético comprovado e na falta dos soros específicos, o tratamento deve ser realizado com soro antibotrópico, apesar deste não neutralizar de maneira eficaz a ação coagulante do veneno laquético.
Tratamento geral:
Mesmas medidas do acidente botrópico.
ACIDENTES COM ARANHAS
Denominado araneísmo.
Das 30mil espécies conhecidas, poucas possuem veneno ativo quando inoculado no homem.
No Brasil, existem 3 gêneros de aranha de importância médica: Phoneutria (armadeira), Loxosceles (marrom) e latrodectus (viúva negra).
ETIOLOGIA
a) Loxosceles
Aranha de dimensões reduzida.
Atinge 1cm de corpo e 3cm de distância entre as patas.
Apresenta coloração marrom. Nome popular de “aranha-marrom”.
Animal de hábitos noturnos e sedentários.
Não é considerada agressiva. Picam apenas quando comprimidas contra o corpo.
Vive sob cascas desprendidas de troncos, entre raízes e folhagens caídas e em outros ambientes sombreados.
Refugia-se sob telhas, tijolos, madeiras e no interior de domicílios, em porões, atrás de móveis e em cantos escuros.
Pode-se refugiar em vestimentas, o que acaba provocando acidentes.
b) Phoneutria
Aranha-armadeira ou aranha-da-banana.
Coberto por pequenos pelos acinzentados ou marrons.
O corpo chega a 3cm de comprimento e a largura entre as patas pode atingir até 15cm.
A fêmea costuma ser mais agressiva. Quando ameaçada, assume posição característica de “defesa armada”.
Não constrói teia e vive próximo aos domicílios, onde encontra proteção e alimento (baratas, grilos, outros insetos, aranhas).
Tem hábitos noturnos, sendo encontrado em cachos de banana, palmeiras, debaixo de troncos caídos, pilhas de madeira, entulho.
Os acidentes acontecem principalmente ao manusearem material de construção, entulhos, lenha ou calçando sapatos.
c) Latrodectus
Viúva negra ou flamenguinha.
Caracteriza-se pelo abdome globoso, de coloração negra, com manchas vermelhas/alaranjadas.
A fêmea adulta atinge de 8 a 13mm de corpo, enquanto o macho tem apenas 3mm.
Sedentária e constrói teia irregular, não sendo considerada agressiva.
Habita campos de cultura de trigo, linho, amendoim, etc.
Em casas, se instala em frestas de muros e janelas, entre tijolos e em outros ambientes escuros.
Acidentesocorrem normalmente quando são comprimidas contra o corpo.
EPIDEMIOLOGIA
No Brasil, são registrado cerca de 23mil acidentes aracneídicos por ano.
Ainda assim, verifica-se ainda um grau de subnotificação importante em algumas regiões o país.
O Loxocelismo (aranha-marrom) é o mais comum, principalmente no Sul.
Em 2º lugar, o Foneutrismo (armadeira), principalmente no Sul também.
Em 3º lugar, o latrodectismo (viúva-negra), com números bem menores.
a) Loxocelismo
Aranha marrom.
O primeiro caso descrito no Brasil foi em 1954.
Encontrada no interior dos domicílios e comumente se refugia dentro de vestuário ou roupas de cama, provocando acidentes no ato de vestir ou de dormir.
b) Foneutrimso
Aranha-armadeira.
Desde o século XIX, é bem descrito o quadro doloroso decorrente do ato de calçar sapatos, causada pela picada de Phoneutria.
Na época de acasalamento (início da estação fria), os animais refugiam no interior de residências, alojando-se dentro de calçados, roupas e atrás de móveis.
Vãos de caules de bananeira ou cachos de banana frequentemente provocam acidentes entre os trabalhadores que manipulam essa fruta.
c) Latrodectismo
Viúva negra.
Ocorrem em áreas de colheita de trigo.
Tem sido registrado principalmente na Bahia, Rio Grande do Norte e no Ceará.
ACIDENTES POR PHONEUTRIA
Armadeiras.
Embora provoquem acidentes com frequência, raramente levam a um quadro grave.
Representa 42,2% dos casos de araneísmo notificados no Brasil. 
Predomina nos estados do Sul e Sudeste.
Ocorrem em áreas urbanas, no intra e peridomicílo, atingindo principalmente adultos.
Picadas preferencialmente em mãos e pés.
-Ações do veneno
Atua sobre os canais de sódio, levando à despolarização de fibras musculares esqueléticas e de terminação nervosas sensitivas, motoras e do sistema nervoso autônomo.
Ocorre liberação de neurotransmissores, principalmente catecolaminas e acetilcolina.
A Phoneutriatoxina 2 (PhTx2) é a principal fração tóxica do veneno.
-Quadro clínico
Predomina ações locais, sendo a dor imediata encontrada quase em todos os casos.
De intensidade variável, pode irradir até a raiz do membro afetado.
Pode ocorrer edema, eritema, sudorese e discreta fasciculação (pequena contração muscular) no local da picada.
Cessada a dor, os pacientes referem paresestesia na região.
Manifestações sistêmicas, como sudorese e vômitos, são sinais de maior gravidade.
Pode haver priapismo (ereção persistente e dolorosa), bradicardia, hipotensão arterial, arritmias, convulsões, coma e/ou edema aguda de pulmão, mais frequente em crianças.
Classificação:
Leves – os mais frequentes. Cerca de 91% dos casos. Pacientes apresentam predominantemente sintomatologia local.
Taquicardia e agitação são eventualmente presentes, sendo secundárias a dor.
Moderados: aproximadamente 7,5% dos casos. Junto as manifestações locais, aparecem as sistêmicas, como taquicardia, hipertensão arterial, sudorese discreta, agitação psicomotora, visão turva e vômitos ocasionais.
Graves: são raros, em torno de 0,5%. Praticamente restrito às crianças. 
Além das alterações das leves e moderadas, há presença de um ou mais dos seguintes sintomas: sudorese profunda, sialorreia, vômitos frequentes, diarreia, priapismo, hipertonia muscular, hipotensão arterial, choque e edema pulmonar aguda.
-Exames complementares
Em acidentes graves envolvendo crianças, verificaram-se leucocitose com neutrofilia, hiperglicemia, acidose metabólica e taquicardia sinusal.
É aconselhável a monitorização das condições cardiorrespiratórias nos acidentes graves.
-Tratamento
a) Sintomático: 
A dor local deve ser tratada com anestésica local ou troncular à base de lidocaína a 2% sem vasoconstritor (3ml a 4ml em adultos e 1 a 2ml em crianças).
Havendo recorrência da dor, pode ser necessário aplicar nova infiltração, em intervalos de 60 a 90 minutos.
Se for preciso mais de 2 infiltrações, e não existam sintomas de depressão do SNC, recomenda-se o uso de meperidina (Dolantina o nome do remédio) nas doses: 1 mg/kg via intramuscular em crianças e 50 a 100mg via intramuscular em adultos).
A dor local também pode ser tratada com um analgésico sistêmico, tipo dipirona.
Outro procedimento útil no controle da dor, é a imersão do local em água morno ou o uso de compressas quentes.
b) Específico
A soroterapia é indicada em casos com manifestações sistêmicas em crianças e em todos os acidentes graves.
Nessas situações, o paciente deve ser internado para melhor controle dos dados vitais, parâmetros hemodinâmicos e tratamento de suporte das complicações associadas.
Casos leves: observação até 6h.
Em casos moderados, internação do adulto e 2 a 4 ampolas IV do soro antiaracnídico (SAAr) em crianças
Casos graves: 5 a 10 ampolas de SAAr IV.
-Prognóstico
É bom.
Lactentes e pré-escolares, assim como idosos, devem ser mantidos em observação por pelo menos 6 horas.
Óbitos muito raros, havendo relatos de 14 mortes de 1926 a 1996 no Brasil.
ACIDENTES POR LOXOSCELES
Forma mais grave de araneísmo no Brasil.
A maioria dos acidentes se concentra nos estados do Sul, particularmente no Paraná e Santa Catarina.
Atinge mais comumente adulto, com discreto predomínio em mulheres, no intradomicílio.
As picadas acontecem mais nas coxas, tronco ou braço.
-Ação do veneno
Ativa o sistema complemento, células endotelial, epitelial e plaquetas, resultando em obstrução de pequenos vasos e liberação de mediadores inflamatórios, levando a infiltração de polimorfonucleares no local da inoculação do veneno.
Induz a expressão de metaloprotenases de matriz (MMP-2 e MMP-9) em associação a morte celular por apoptose.
Contém ainda enzimas hidrolíticas que degradam moléculas constituintes da membrana basal.
Assim, pode evoluir com lesão cutâneo-necrótica na região da picada.
Atua sobre metaloproteinases endógenas que quando ativadas, agem sobre proteínas da membrana de hemácias (Glicoforinas), tornando-as suscetíveis a ação do complemento, levando a hemólise.
-Quadro clínico
A picada é quase sempre imperceptível e o quadro clínico se apresenta sobre duas formas
Forma cutânea: de 87 a 98% dos casos. 
De instalação lenta e progressiva, caracterizada por dor, edema endurado e eritema no local da picada, que são pouco valorizados pelo paciente.
Os sintomas locais se acentuam nas primeiras 24 a 72h, podendo variar a apresentação, sendo:
Lesão incaracterística – bolha de conteúdo seroso, edema, calor e rubor, com ou sem dor em queimação;
Lesão sugestiva – enduração, bolha, equimoses e dor em queimação até;
Lesão característica - dor em queimação, lesões hemorrágicas focais, mescladas com áreas pálidas de isquemia (placa marmórea) e necrose.
A lesão cutânea pode evoluir para necrose seca em cerca de 7 a 12 dias, que, ao se destacar em 3 a 4 semanas, deixa uma úlcera de difícil cicatrização.
Acompanhando o quadro local, alterações do estado geral têm sido descritas, sendo as mais comuns: astenia, febre alta nas 1as 24h, cefaleia, exantema morbiliforme, prurido generalizado, petéquias, mialgia, náusea, vômito, visão turva, diarreia, sonolência, obnubilação, irritabilidade, coma.
Forma cutâneo-visceral (hemolítica): além do comprometimento cutâneo, observação manifestações clínicas em virtude de hemólise intravascular, como anemia, icterícia e hemoglobinúria, que se instalam geralmente nas 1as 24h.
Pode ser acompanhado de petéquias e equimoses, relacionadas à coagulação intravascular disseminada.
Tem frequência de 1 a 13% dos casos.
Os casos graves podem evoluir para insuficiência renal aguda (diminuição da perfusão renal, hemoglobinúria e CIVD), principal causa de óbito no loxoscelismo.
As classificações são:
Leve: lesão incaracterística, sem alterações clínicas ou laboratoriais e com a identificação da aranha causadora do acidente. Acompanhar o paciente durante pelo menos 72h.
Moderado: presença de lesão sugestiva ou característica, mesmo sem identificar a aranha, podendo haver alterações sistêmicas como exantema cutâneo, cefaleia e mal estar.
Grave: presença de lesão característica e alterações de hemólise intravascular.
-Complicações
Locais:infecção secundária, perda tecidual, cicatrizes desfigurantes.
Sistêmicas: a principal é insuficiência renal aguda.
-Exames complementares
Sem exame diagnóstico específico.
Alterações laboratoriais pouco expressiva e inespecíficas
Na forma cutânea: hemograma com leucocitose e neutrofilia.
Na forma cutâneo-visceral: anemia aguda, plaquetopenia, reticulocitose, hiperbilirrubinemia indireta, queda dos níveis séricos de haptoglobina, elevação dos níveis séricos de potássio, creatinina e ureia e coagulograma alterado.
-Tratamento
Para a forma cutânea, se recomenda o uso de corticosteroides (prednisona 1mgkg/dia até 40mg/dia VO durante 5 a 7 dias), sendo facultado o uso de soro atiloxoscélico ou antiaracnídico.
Esse soro, deve ser usado na fase inicial do envenenamento, usualmente no 3 primeiros dias após o acidente.
Quanto maior o tempo decorrido, menor a eficácia na redução da necrose.
Dados revelam que a eficácia da soroterapia é reduzida após 36h do acidente.
Para a forma cutânea-hemolítica, indicado a soroterapia específica + corticoesteroide.
Não se recomenda a remoção precoce da lesão cutânea.
A debridamento cirúrgico deve ser realizado quando houver delimitação do tecido necrótico, que ocorre em geral após a 1ª semana da picada.
Eventualmente pode ser necessária cirurgia plástica reparadora.
Na presença de hemólise, importante manter hidratação adequada, bem como avaliar a necessidade de instituir diálise e reposição de concentrado de hemácias.
-Prognóstico
Na maioria dos casos é bom.
Nos casos de ulceração cutânea, de difícil cicatrização, podem ocorrer complicações no retorno do paciente às atividades rotineiras. Comprometimento estético ou até funcional.
A hemólise intravascular, quando presente, pode levar a quadros graves, e neste grupo estão os raros óbitos.
ACIDENTES POR LATRODECTUS
Tem sido relatados na região Nordeste (Bahia, Ceará, Rio Grande do Norte, Sergipe).
Principalmente em pacientes do sexo masculino entre 10 e 30 anos.
-Ações do veneno
O principal componente é a alfa-latrotoxina.
É uma neurotoxina com atividade pré-sináptica.
Ao se ligar a seu receptor pré-sinaptico, forma poros na membrana celular, permitindo influxo de Ca2+.
O aumento de Ca2+ intracelular promove a liberação maciça de neurotransmissores adrenérgicos, colinérgicos e ácido gama-aminobutírico (GABA).
-Quadro clínico
Manifestações locais: geralmente se inicia com dor local, em cerca de 60% dos casos.
Dor de pequena intensidade, evoluindo para sensação de queimadura de 15 a 60 minutos após a picada.
Pápula eritematosa e sudorese localizada são observadas em 20% dos pacientes.
Podem ser visualizadas lesões puntiformes, distando de 1mm a 2mm entre si.
Na área a picada, há referência de hiperestesia.
Manifestações sistêmicas: 
Gerais – aparecem nas primeiras horas após o acidente, sendo: tremores (26%), ansiedade (12%), excitabilidade (11%), insônia, cefaleia, prurido, eritema de face e pescoço.
Há relatos de distúrbios de comportamento e choque em casos graves.
Motoras – dor irradiada para os membros inferiores em 35%, acompanhada de contraturas musculares periódicas (26%), movimentação incessante, atitude de flexão no leito; hiperrreflexia ósteo-músculo-tendinosa constante.
Frequente o aparecimento de tremores e contrações espasmódicas dos membros (26%).
Dor abdominal intensa (18%), acompanhada de rigidez e desaparecimento do reflexo cutâneo abdominal, que pode simular um quadro de abdome agudo.
Cardiovasculares - opressão precordial, com sensação de morte iminente, taquicardia inicial e hipertensão seguidas de bradicardia.
Digestivas – náuseas e vômitos, sialorreia, anorexia e constipação.
Geniturinárias – retenção urinária, dor testicular, priapismo e ejaculação.
Oculares – ptose e edema bipalpebral, hiperemia conjuntival, midríase.
-Complicações
As complicações graves como edema pulmonar agudo e choque relatadas na literatura internacional não têm sido observadas.
-Exames complementares
Alterações laboratoriais inespecíficas, como alterações hematológicas (leucocitose, linfopenia, eosinopenia), bioquímicas (hiperglicemia, hiperfosfatemia), do sedimento urinário (albuminúria, hematúria, leucocitúria e cilindrúria) e eletrocardiográgicas (arrítmicas cardíacas como fibrilação atrial e bloqueios, diminuição de amplitude do QRS e da onda T, inversão da onda T, alterações do segmento ST e prolongamento do intervalo QT).
Essas alterações podem durar por até 10 dias.
-Tratamento
Específico: O soro antilatrodectus é indicado nos casos graves, na dos de 1 a 2 ampolas via IM.
A melhora do paciente ocorre de 30 minutos a 3h após a soroterapia.
Esse soro não está disponível no Brasil, mas eventualmente é utilizado importado da Argentina, com boa resposta.
Sintomático: inclui analgésicos.
Benzodiazepínicos do tipo Diazepam (5 a 10mg em adultos, 1 a 2mg/kg/dose em crianças, IV, a cada 4h) e clorpromazina (25 a 50mg em adultos, 0,55mg/kg/dose em crianças, IM, a cada 8h) até a reversão dos sintomas do envenenamento.
Deve-se garantir suporte cardiorrespiratório e os pacientes devem permanecer hospitalizados por no mínimo 24h.
-Prognóstico
Os poucos casos descritos no Brasil não têm apresentado maior gravidade.
Não há registro de óbito.
ESCORPIONISMO
Acidentes com escorpiões são comuns no Brasil.
São o de maior ocorrência, em número superior aos acidentes ofídicos.
Apesar da evolução benigna na maioria dos acidentes, a precocidade no início dos sintomas e o potencial de gravidade em crianças tornam o acidente de especial importância.
ETIOLOGIA
Os escorpiões constituem uma ordem de artrópodes pertencentes à classe dos aracnídeos, com cerca de 1.500 espécies descritas.
Habitam regiões quentes e temperadas, dando preferência aos ambientes terrestres com baixa umidade relativa.
Nas áreas urbanas, são comumente encontrados em esconderijos em habitações humanas, construções, dormentes de linhas de trens, cemitérios e outros locais com lixo doméstico e entulho.
Tem hábitos noturnos, escondendo durante o dia em lugares escuros.
São mais ativos durante os meses mais quentes do ano e em particular no período de chuvas.
Seus principais predadores são: camundongos, lagartos, corujas, sapos, seriemas, galinhas, algumas aranhas, lacraias, entre outros.
No Brasil, existem cerca de 160 espécies responsáveis por acidentes.
Todos os escorpiões de importância médica pertencem ao gênero Tityus.
EPIDEMIOLOGIA
Tem problema de saúde pública historicamente referida em Minas Gerais, em especial no município de BH.
Ao longo dos anos, verificou-se uma dispersão na distribuição geográfica do chamado escorpião-amarelo e aumento proporcional no número de acidentes.
Dados do Ministério da Saúde indicam a ocorrência de cerca de 8.000 acidentes/ano.
O maior número de notificações é proveniente dos estados de Minas Gerais e São Paulo, responsáveis por 50% do total.
As picadas atingem predominantemente os membros superiores, 65% das quais acometendo mão e antebraço.
A maioria dos casos tem curso benigno, situando-se a letalidade em 0,58%.
Os óbitos são mais associados a acidentes causados por T. serrulatus (escorpião-amarelo), em crianças menores de 14 anos.
PATOGENIA
Age sobre canais de sódio voltagem-dependente, levando à despolarização de membranas de músculos e nervos (sensitivos, motores e do sistema nervoso autônomo).
A liberação maciça de neurotransmissores (adrenalina e acetilcolina) determina o quadro clínico sistêmica, observado principalmente nos casos graves por T. serrulatus.
A gravidade dos acidentes associada a miocardiopatia e edema agudo pulmonar tem sido atribuída a pelo menos 3 mecanismos: 
Hiperestimulação simpática, pelos efeitos tóxicos diretos sobre a musculatura cardíaca ou alterações hemodinâmicas;
Ação local do veneno sobre o miocárdio;
E Ação de citocinas que poderiam exercer um efeito depressor sobre o miocárdio.
QUADRO CLÍNICO
Alterações locais:
A dor no local da picada está presente em quase todos os casos, com intensidade variável, referida como sensação de ardor, queimação ou agulhada.
Frequentemente há irradiaçãopara o raiz do membro acometido, podendo permanecer por horas após o acidente.
Outras manifestações locais que podem aparecer: hiperestesia, parestesia, hiperemia, edema, sudorese e piloereção (arrepios).
Alterações sistêmicas:
Mais comum em crianças picadas por T. serrulatus, ocorre após intervalo de minutos até as 1as horas após o acidente.
Geral – mal-estar, sudorese, alteração de temperatura.
Gastrointestinais -náuseas e vômitos, sialorreia, e, mais raramente, dor abdominal e diarreia.
Cardiovasculares – arritmias cardíacas, hipertensão ou hipotensão arterial, insuficiência cardíaca congestiva e choque.
Respiratórias – taquipneia, dispneia e edema pulmonar agudo.
Neurológicas – agitação sonolência, confusão mental, hipertonia e tremores.
A gravidade depende de fatores como, espécie e tamanho do escorpião, quantidade de veneno inoculado, a massa corporal do acidentado e sensibilidade do paciente ao veneno.
Classificações:
Leve – apenas dor no local da picada e às vezes parestesias.
Moderados - dor intensa no local da picada e manifestações sistêmicas do tipo sudorese discreta, náuseas, vômitos ocasionais, taquicardia, taquipneia e hipertensão leve.
Graves – além dos sinais/sintomas já citados, apresentam 1 ou mais dos seguintes:
Sudorese profusa, vômitos incoercíveis, salivação excessiva, alternância de agitação com prostração, bradicardia, insuficiência cardíaca, edema pulmonar, choque, convulsões e coma.
Óbitos estão relacionados a complicações como edema pulmonar agudo e choque.
EXAMES COMPLEMENTARES
O ECG é de grande utilidade no acompanhamento dos pacientes.
Pode mostrar taquicardia, bradicardia sinusal, extra-sístoles ventriculares, distúrbios da repolarização ventricular como inversão da onda T em várias derivações, presença de ondas U proeminentes, alterações semelhantes as vistas no infarto agudo do miocárdio e bloqueio da condução atrioventricular ou intraventricular do estímulo.
Essas alterações desaparecem em 3 dias na grande maioria dos casos, mas pode persistir por 7 ou mais dias.
Radiografia de tórax pode evidenciar aumento da área cardíaca e sinais de edema pulmonar agudo, eventualmente unilateral.
Glicemia geralmente apresenta-se elevada nas formas moderadas e graves nas 1as horas após a picada.
TRATAMENTO
Sintomático:
Consiste no alívio da dor por infiltração de lidocaína a 2% sem vasoconstritor (1 a 2 ml para crianças; 3 a 4ml para adultos) no local da picada ou uso de dipirona na dose de 10mg/kg a cada 6h.
Os distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-básicos devem ser tratados de acordo com as medidas apropriadas a cada caso.
Compressas quentes no local podem ser úteis.
Específico:
Administração de soro antiescorpiônico (SAEEs) ou antiaracnídico (SAAr) aos pacientes nas formas moderadas e graves.
Mais frequentes em crianças picadas pelo escorpião amarelo (Tityus serrulatus), que são 8 a 10% dos casos.
Deve ser realizada o mais precocemente possível, via IV. 2 a 3 ampolas nos casos moderado e 4 a 6 nos graves (na maioria dos casos 4 ampolas é o suficiente).
Dor local e vômitos melhoram rapidamente após a administração do soro.
A sintomatologia cardiovascular demora mais para regredir.
A administração de SAEEs é segura, sendo pequena a frequência e a gravidade das reações de hipersensibilidade precoce.
Suporte:
Os casos graves devem ser acompanhados em UTI, com monitoramento contínuo da pressão arterial, FC e FR, oxigenação e hidaração.
PROGNÓSTICO
Acidentes por T. serrulatus são mais graves.
Tempo decorrido entre o acidente e o atendimento também influencia.
Acidentes em crianças apresentam mais gravidade.
ACIDENTES COM LACRAIAS
Lacraias ou centopeias, geralmente encontrados em solo úmido, sob cascas de árvores, rochas, dentre outros, em regiões tropicais e temperadas.
De hábitos noturnos, alimentam-se principalmente de pequeno artrópodes, minhoces e vermes.
O veneno das centopeias ainda é pouco estudando.
Sabe que tem proteínas, lipídios, lipoproteínas, histamina, hialuronidase, polipeptídeos e proteínas.
Edemas acompanhados de dor instantânea e intensa, e em alguns casos, acompanhados de febre intensa, náuseas e vômitos; fazem parte da sintomatologia.
O veneno das lacraiais é pouco tóxico para o homem.
Não há no Brasil, relatos comprovados de morte nem de envenenamentos graves em acidentes com lacraiais.
Sintomas de: dor forte e inchaço (edema) no local da picada.
Em acidentes com lacraias grandes também podem ocorrer febre, calafrios, tremores e suor, além de uma pequena ferida.
Em caso de acidente, não beber álcool. Manter o local da picada o mais limpo possível.
Não existe antídoto. Aplicar compressas quentes no local.
Pode-se fazer uso de analgésicos e anestésicos sem adrenalina no local.
Águas-vivas (celenterados)
Cnidários compreendem 3 classes.
Classe anthozoa: anêmona e corais.
Classe Hydrozoa: são as hidras e caravelas.
Classe Scyphozoa: medusas, águas-vivas.
Os acidentes mais importantes ocorrem devido às caravelas e águas-vivas.
A caravela do Oceano Atlântico é a Physalia physalis, que atinge 30cm de comprimento do corpo e pode ter tentáculos de 30m.
A frequência dos acidentes é maior no verão, quando podem atingir a praia em grande número.
A caravela (Physalia) é sem dúvida a responsável pelo maior número e pela maior gravidade dos acidentes desse gênero no Brasil.
As medusas também provocam acidentes. 
As mais perigosas são capazes de matar um homem em minutos, são as do gênero Chironex (box jellifish), encontradas na Austrália.
No Brasil, os acidentes mais graves são causados por Chiropsalmus quadrumanus.
As medusas preferem águas de fundo arenoso e estuários de rios, recolhendo-se em águas profundas nas horas mais quentes do dia.
AÇÕES DO VENENO
É uma mistura de vários polipeptídeos que tem ações tóxicas e enzimáticas na pele humana, provocando desde inflamação extensa até necrose.
Outra ação importante é a neurotoxicidade que provoca efeitos sistêmicos, desorganiza a atividade conduta cardíaca levando a arritmias sérias, altera o tônus vascular e pode levar a insuficiência respiratória por congestão pulmonar.
Atividade hemolítica foi descrita para o veneno de Physalia.
QUADRO CLÍNICO
Manifestações locais:
São as mesmas para todos os celenterados.
Ocorre ardência e dor intensa no local, que podem durar de 30 minutos a 24h.
Placas e pápulas urticariformes lineares aparecem precocemente, podendo dar lugar a bolhas e necrose importante em cerca de 24h.
Neste ponto, as lesões urticarifomes nos acidentes leves regridem e deixam lesões eritematosas lineares, que podem persistir no local por meses.
Manifestações sistêmicas:
Nos casos mais graves, há relatos de: cefaleia, mal-estar, náuseas, vômitos, espasmos musculares, febre, arritmias cardíacas.
A gravidade depende da extensão da área acometida.
O óbito pode ocorrer por efeito do envenenamento (insuficiência respiratória e choque) ou por anafilaxia.
DIAGNÓSTICO
É clínico.
O padrão linear edematoso é muito sugestivo, se acompanhado de dor aguda e intensa.
TRATAMENTO
Fase 1: repouso do segmento afetado.
Fase 2: retirada de tentáculos aderidos. O local deve ser lavado com água do mar.
Fase 3: inativação do veneno. Uso de ácido acético a 5% (vinagre comum), aplicado no local, por no mínimo 30 minutos, inativa o veneno local.
Fase 4: retirada de nematocistos remanescentes. Deve-se aplicar uma pasta de bicarbonato de sódio, talco e água do mar no local, esperar secar e retirar.
Fase 5: bolsa de gelo ou compressas de água do mar fria por 5 a 10 minutos e corticoides tópicos 2x ao dia aliviam os sintomas locais. Tratar a dor com analgésicos.
LAGARTAS (lepidópteros: mariposas, lagartas e taturanas)
ACIDENTES POR MARIPOSAS:
As mariposas de importância médica são as fêmeas de hylesia.
Trauma mecânico e presença de fatores tóxicos.
Lesões papulopruriginosas acometendo áreas expostas da pele em poucas horas após o contato.
Acompanhadas de intenso prurido, as lesões involuem em períodos de 7 a 14 dias após o início dos sintomas.
Uso de anti-histamínicos, VO, está indicado para o controle do prurido, além de tratamentotópico com compressas frias, banhos de amido e eventualmente, cremes a base de corticoesteroides.
ACIDENTES COM LAGARTAS
Acidentes extremamente comuns em todo o Brasil.
Resultantes do contato da pele com secreções existentes em espículas de lagartas urticantes, sendo em geral de evolução benigna.
Geralmente, ocorrem após contato com plantas.
QUADRO CLÍNICO
Local:
Predominantemente do tipo dermatológico.
Inicialmente há dor local intensa, que progride para regiões proximais do membro atingido e pode durar de 1 a 2 dias.
A seguir pode haver edema, eritema e eventualmente, prurido local.
Enfartamento ganglionar doloroso é característico.
Após 24h, a lesão pode evoluir com vesiculação, bolhas, equimose e, muito mais raramente, necrose na área de contato.
Sistêmico:
Decorrente do contato com saturnídeos do gênero Lonomia sp.
Além do quadro local descrito, podem surgir: mal-estar, cefaleia, mialgia, dor abdominal, náuseas e vômitos.
Mais tardiamente, 24 a 72h após o acidente, podem surgir sangramentos diversos, como equimoses, petéquias, gengivorragia, epistaxe, sangramento pós-traumático, hematúria, hematêmese, melena, etc.
Insuficiência renal aguda pode estar presente nos casos graves e contribuir para o óbito, havendo relato de instalação rápida dessa complicação, associada a hemólise e plaquetopenia.
TRATAMENTO
Na remissão da dor, o tratamento consiste na lavagem da região com água fria e analgésicos orais, como dipirona e paracetamol.
Em situação de dor mais intensa, pode-se usar anestésico lidocaína a 2% sem vasoconstritor.
Em quadros sistêmicos, deve-se manter o paciente em repouso.
O soro antilonômico (SALon) está indicado para pacientes moderados e graves. Via IV. (quando há alteração da coagulação).
FATORES PROGNÓSTICOS
Depende da quantidade de lagartas e profundidade de contato.
Tempo decorrido entre o acidente e o tratamento específico (soro antilonômico).
Idade do paciente e patologias prévias existentes, em especial hipertensão arterial e nefropatia.
ACIDENTES COM ABELHAS
AÇÕES DO VENENO
É uma mistura complexa de substâncias químicas com atividades tóxicas.
O principal alérgeno é a fosfolipase A2.
Podem provocar paralisia respiratória, possuem poderosa ação destrutiva sobre membranas biológicas, como por exemplo hemácias, produzindo hemólise.
QUADRO CLÍNICO
São variáveis de acordo com o local e o número de ferroadas, as características e o passado alérgico do indivíduo atingido.
As manifestações podem ser alérgicas (mesmo com uma só picada) e tóxicas (múltiplas picadas).
Manifestações:
Locais – Dor aguda local, que tende a desaparecer espontaneamente em pouco minutos, deixando vermelhidão, prurido e edema por várias horas ou dias.
Regionais – São de início lento. 
Além do eritema e prurido, o edema flogístico evolui para enduração local que aumenta de tamanho nas primeiras 24-48hs, diminuindo gradativamente nos dias seguintes.
Sistêmicas – manifestações clássicas de anafilaxia, com sintomas de início rápido, 2 a 3minutos após a picada.
Tegumentares: prurido generalizado, eritema, urticária e angioedema.R
Respiratórias: rinite, edema de laringe e árvore respiratória, trazendo dispneia, rouquidão, estridor e respiração asmatiforme (asma). Pode haver bronco-espasmo.
Digestivas: prurido no palato ou na faringe, edema dos lábios, língua, úvula e epiglote, disfagia, náuseas, cólicas abdominais ou pélvicas, vômitos e diarreia.
Cardiocirculatórias: hipotensão é o sinal maior, manifestando-se por tontura ou insuficiência postural até colapso vascular total. Podem ocorrer palpitações e arritmias cardíacas.
Manifestações tóxicas
Nos acidentes provocados por ataque múltiplo de abelhas (enxames).
Denominado de síndrome de envenenamento.
Além das manifestações descritas, há dados indicativos de hemólise intravascular e rabdomiólise.
Alterações neurológicas como torpor e coma, hipotensão arterial, oligúria/anúria e insuficiência renal aguda podem ocorrer.
TRATAMENTO
1. Remoção dos ferrões
2. Dor
Quando necessária, pode ser feita analgesia pela dipirona, via parenteral (1 ampola de 500mg em adultos e até 10 mg/kg em crianças).
3. Reações alérgicas
Administração subcutânea de solução aquosa de adrenalina 1:1000, iniciando-se com a dose de 0,5ml, repetida 2x em intervalos de 10 minutos para adultos, se necessário.
Na criança, usa-se inicialmente 0,01 ml/kg/dose, podendo ser repetida 2 a 3x, com intervalos de 30 minutos, desde que não haja aumento exagerado da FC.
Glicocorticoides e anti-histamínicos não controlam as reações graves, mas podem reduzir a duração e intensidade das manifestações.
Para alívio de reações alérgicas tegumentares, indica-se uso tópico de corticoides e uso de anti-histamínicos.
Manifestações respiratórias podem ser controladas com oxigênio nasal, inalações e broncodilatadores tipo beta adrenérgico.
4. Medidas gerais de suporte
Manutenção das condições do equilíbrio ácido-básico e assistência respiratória, se necessário.
Vigiar o balanço hidroeletrolítico e a diurese.
5. Complicações
Pacientes vítimas de enxames devem ser mantidos em UTI em razão da alta mortalidade observada.
Ainda não está disponível o soro antiveneno de abelha.
ACIDENTES COM COLEÓPTEROS (BESOURO)
Os coleópteros de importância médica são os besouros do gênero Paederus, na região Norte, Nordeste e Centro-Oeste e pelo gênero Epicauta, no estado de São Paulo.
O gênero Paederus (potó, trepa-moleque, péla-égua, fogo-selvagem).
5 espécies de Paederus são associadas a acidentes humanos no Brasil.
O gênero Epicauta (potó-grande, potó-pimenta, papa-pimenta, caga-fogo e caga-pimenta).
AÇÕES DO VENENO
A hemolinfa e a secreção glandular do potó contêm uma potente toxina de contato, denominada pederina, de propriedades cáusticas e vesicantes.
A dermatite produzida pelas fêmeas é mais grave.
QUADRO CLÍNICO
Leve: discreto eritema, de início cerca de 24h após o contato e persiste por aproximadamente 48h.
Moderado: eritema, ardor e prurido. As lesões se alargam gradualmente até atingirem o máximo de desenvolvimento em 48h. 
Depois as vesículas se tornam umbilicadas, vão secando durante uns 8 dias e esfoliam, deixando manchas pigmentadas que persistem por 1 mês ou mais.
Grave: em geral mais extensões devido ao contato com vários espécimes. Contam com sintomas adicionais, como febre, dor local, artralgia e vômitos. Eritema pode persistir por meses.
TRATAMENTO
Lavar imediatamente as áreas atingidas, com água corrente e sabão.
Não lesões instaladas, utilizar banhos antisépticos com permanganato e antimicrobianos.
Em caso de contato com os olhos, deve-se lavar o local com água limpa e abundante, instilar antibióticos para prevenir a purulência, e corticóides. A atropina deve ser aplicada nos casos de irite (inflamação da íris).

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