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Aula 5 - O texto literário e seu valor para a tradição cultural (1)

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1 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 � Conhecer as funções da literatura, de acordo com a tradição cul-
tural;
 � Formular argumentos para o estudo, o ensino e a leitura literária 
no mundo atual.
O texto literário e seu valor 
para a tradição cultural
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS
INSTITUTO FEDERAL DE
EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
PARAÍBA
UNIDADE 02 AULA 05
2
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS - O texto literário e seu valor para a tradição cultural
2 COMEÇANDO A HISTÓRIA
Na aula 4, fizemos um breve percurso histórico a respeito do conceito de 
literatura. Entendemos, na ocasião, que a noção que hoje temos de arte literária 
nem sempre foi a mesma. Agora, algumas perguntas podem ser colocadas para 
continuarmos nossa inserção nos estudos literários:
 � Para que serve mesmo a literatura? Ela tem alguma utilidade?
 � Por que devo estudar ou ensinar sobre poesia?
 � Como posso convencer meu aluno a gostar de ler um romance, um 
conto ou uma crônica?
Essas perguntas se assemelham aos questionamentos apontados pelo 
crítico literário Antoine Compagnon, por ocasião de sua aula inaugural no 
Collège de France, em 2006:
Por que falar – ainda falar – da “Literatura francesa moderna 
e contemporânea” em nosso início de século XXI? Quais 
valores a literatura pode criar e transmitir ao mundo 
atual? Que lugar deve ser o seu no espaço público? Ela é 
útil para a vida? Por que defender sua presença na escola? 
(COMPAGNON, 2009, p. 20)
Tais questões serão discutidas ao longo da nossa aula. Esperamos que 
as respostas sejam importantes para o seu papel como professor da área de 
Letras, principalmente quando for questionado, em sala de aula, pelos alunos a 
respeito da razão de se estudar literatura.
3 TECENDO CONHECIMENTO
Em primeiro lugar, é bom que se diga que a literatura não serve para nada!
Calma, calma, calma, querido aluno-leitor, você não está estudando algo 
sem qualquer sentido. Por favor, não questione: “o que estou fazendo aqui?”, 
não se levante da cadeira e nem se retire do ambiente de estudo. Estamos 
fazendo uma provocação, e o sentido da expressão “não serve para nada” será 
contextualizado e esclarecido a partir de agora. Para tanto, vejamos as palavras 
do escritor italiano Umberto Eco:
3
Estamos circundados de poderes imateriais que não se 
limitam àqueles que chamamos de valores espirituais, 
como uma doutrina religiosa. [...] E entre esses poderes, 
arrolarei também aquele da tradição literária, ou seja, do 
complexo de textos que a humanidade produziu e produz 
não para fins práticos (como manter registros, anotar leis e 
fórmulas científicas, fazer atas de sessões ou providenciar 
horários ferroviários), mas antes gratia sui, por amor de si 
mesma – e que se lêem por deleite, elevação espiritual, 
ampliação dos próprios conhecimentos, talvez por puro 
passatempo, sem que ninguém nos obrigue a fazê-lo (com 
exceção das obrigações escolares). (ECO, 2003, p. 9)
3.1 A função estética
Quando dissemos que a literatura não serve para nada, falamos no sentido 
de que ela não tem uma função utilitária, tal qual nos informou o texto de 
Umberto Eco.
Em outras palavras, o texto literário, pensando naquela acepção artística 
discutida na aula anterior, não é como um manual de instruções que você lê com 
um propósito definido para montar um equipamento ou saber como funciona 
um eletroeletrônico, por exemplo. Nesse sentido, a literatura existe por si só, 
como construção artística, voltada para a beleza. É o que costumeiramente os 
livros chamam de arte pela arte.
Arte pela arte: “Teoria segundo a qual a Arte visa exclusivamente a proporcionar 
prazer estético, ou seja, desconhece fins utilitários, como a moral, a política, a 
educação, etc. A idéia contida na expressão ‘arte pela arte’ remonta à Antiguidade 
clássica: Aristóteles recusava admitir propósitos didáticos para o fenômeno estético.” 
(MOISÉS, 2004, p. 41)
Como forma de ilustração, leiamos o poema Motivo, da poetisa carioca 
Cecília Meireles. Você conhece?
UNIDADE 02 AULA 05 
4
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS - O texto literário e seu valor para a tradição cultural
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
Não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
– não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
– mais nada. 
(MEIRELES, 2004, p. 11)
No poema em questão, o eu-lírico expõe o motivo de seu canto poético, 
afirmando que escreve (“canta”) porque o “instante existe”. Num sentido: se 
expressa poeticamente porque vive, porque existe, de modo que a vida se 
completa com a poesia. Nesse caso, a literatura existe por si só e se impõe ao 
poeta a cada instante, tornando-se razão de viver do sujeito poético.
Observe que o poema, até pelo fato de ser metalinguístico, não tem 
necessariamente uma intenção didática ou social. É uma espécie de exercício 
literário, em que o eu-lírico, consciente da efemeridade da vida e, portanto, da 
própria finitude, exalta a poesia – o canto – como forma de justificar a existência.
Figura 1: Cecília Benevides de 
Carvalho Meireles (1901-1964), uma 
das maiores expressões da poesia 
lírica brasileira, nascida no Rio de 
Janeiro. Além de poetisa, foi pintora, 
professora e jornalista.
5
Eu-lírico: também chamado de eu-poético ou sujeito lírico, é a designação da voz 
poética, ou seja, da voz que fala no poema, geralmente marcada explicitamente 
pela primeira pessoa do singular. Quando lemos um poema, aquela voz interna do 
texto não é a do autor, mas de uma entidade fictícia – o eu-lírico –, como se fosse 
uma personagem narradora dos próprios sentimentos. É por isso que é possível 
ler, nos poemas escritos por homens, vozes femininas ou vice-versa, como ocorre 
no citado poema de Cecília Meireles: a autora é uma mulher, mas o eu-lírico é 
masculino: “irmão das coisas fugidias” e “sei que estarei mudo”.
A noção de que a arte não tem utilidade é uma ideia, talvez, do nosso 
mundo capitalista, que reduz tudo à questão do lucro. De fato, parece que a 
arte (e a literatura é uma manifestação artística) não visa primordialmente a um 
retorno financeiro. Mas quem disse que a vida se resume aos bens materiais? 
Eles são importantes, ninguém pode negar isso, mas também existem outros 
bens igualmente fundamentais: valores culturais, religiosos, espirituais e assim 
por diante.
Outra ideia importante no que diz respeito à função estética é a que se refere 
ao próprio significado da palavra estética. Vejamos esse conceito:
Estética: no grego aisthetikós, significando capaz de perceber pelos sentidos. A 
própria palavra é derivada de aisthesis = sensação, percepção. A partir do século 
XVIII, com a obra intitulada “Estética”, do filósofo alemão Alexander Baumgartem 
(1714-1762), o vocábulo passou a designar, em sentido amplo, o conhecimento 
da beleza na Arte e na Natureza, a teoria ou filosofia do Belo, entendendo-se por 
Belo o conjunto de sensações experimentadas no contato com a obra de arte ou 
manifestação da Natureza. Em sentido estrito, equivale a teoria ou filosofia da Arte. 
(MOISÉS, 2004, p. 166)
Ao falarmos de função estética, portanto, podemos nos referir a duas coisas 
especificamente: 1) a possibilidade de a literatura causar alguma sensação no 
leitor; 2) a própria noção de criação artística subsistente em si mesma, sem 
qualquer intenção utilitária, como mencionada anteriormente.
Cumpre ainda dizer que a função estética está associada à ideia de fruição, 
prazer e entretenimento. Assim como podemos nos divertir com o cinema, com 
a televisão, com o teatro, com o circo, entre outras formas de entretenimento, 
também podemos fazer da leitura um prazer, um passatempo, um hobby.
Agora, a questão da possibilidade de alguma sensação no leitor provocada 
UNIDADE 02 AULA 05 
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INTRODUÇÃO AOSESTUDOS LITERÁRIOS - O texto literário e seu valor para a tradição cultural
pelo texto literário relaciona-se também a um conceito caro na Poética de 
Aristóteles: a catarse. Mais adiante trataremos disso. É hora de exercitarmos.
EXERCITANDO
Observando os dois poemas abaixo, qual deles exemplifica melhor o 
princípio da arte pela arte? Justifique sua resposta, inclusive identificando qual 
o propósito do outro texto.
A rosa de Hiroxima
Vinícius de Moraes
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroxima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A anti-rosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada
 (MORAES, 1998, p. 381)
A um poeta
Olavo Bilac
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Não se mostre na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
(BILAC apud CANDIDO e CASTELLO, 1964, 
p. 256)
Figuras 2-3
7
Para concluirmos este tópico, é bom lembrarmos que você, caro aluno, 
pode se filiar à corrente que afirma que a literatura deve ser entendida, de fato, 
esteticamente e sem qualquer compromisso com a realidade ou, se preferir, 
pode aderir à ideia de que a literatura pode ter várias funções. É mais ou menos 
o que defende o escritor Umberto Eco:
Para que serve este bem imaterial que é a literatura? 
Bastaria responder, como já fiz, que é um bem que se 
consuma gratia sui, e portanto não deve servir para nada. 
Mas uma visão assim desencarnada do prazer literário corre 
o risco de reduzir a literatura ao jogging ou à prática de 
palavras cruzadas – os quais, além do mais, servem ambos 
para alguma coisa, ora à saúde do corpo, ora à educação 
léxica. Pretendo falar, então, de uma série de funções que 
a literatura assume para nossa vida individual e para a vida 
social. (ECO, 2003, p. 10)
A série de funções a que se refere o autor de O nome da rosa será apresentada 
mais adiante.
3.2 A função humanizadora
Não sei se você se lembra da nossa aula anterior, sobre a conceituação da 
literatura.
Algo que deve estar inserido em sua mente é que, nas discussões teóricas 
sobre o texto literário, dificilmente podemos tomar os conceitos e as teorias 
como absolutos, assim como vimos na oscilante trajetória de conceituação do 
fenômeno literário.
Nessa mesma esteira, você verá que a função humanizadora da literatura, 
apesar de bem formulada, não garante a transformação do ser humano. De 
qualquer forma, os estudiosos e amantes da poesia em geral defendem a ideia 
Figuras 4: Umberto Eco
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS - O texto literário e seu valor para a tradição cultural
de que a arte, particularmente a literatura, é capaz de humanizar, ou seja, de 
nos tornar seres humanos melhores.
Veja o que diz Antoine Compagnon:
Lemos, mesmo se ler não é indispensável para viver, porque 
a vida é mais cômoda, mais clara, mais ampla para aqueles 
que leem que aqueles que não leem. Primeiramente, em 
um sentido bastante simples, viver é mais fácil [...] para 
aqueles que sabem ler, não somente as informações, os 
manuais de instrução, as receitas médicas, os jornais e as 
cédulas de voto, mas também a literatura. (COMPAGNON, 
2009, p. 29)
Continuando sua argumentação, o autor cita Francis Bacon:
A leitura torna o homem completo, a conversação torna 
o homem alerta e a escrita torna o homem preciso. Eis 
porque, se o homem escreve pouco, deve ter uma boa 
memória; se fala pouco, deve ter a mente alerta; e se lê 
pouco, deve ter muita malícia para parecer que sabe o que 
não sabe. (BACON apud COMPAGNON, 2009, p. 29)
E complementa que, segundo Bacon, “a leitura evita que tenhamos de 
recorrer à dissimulação, à hipocrisia e à falsidade; ela nos torna, portanto, 
sinceros e verdadeiros, ou simplesmente melhores” (COMPAGNON, 2009, p. 30).
Claro que essa visão pode ser interpretada como romântica, mas, como 
dissemos no começo do tópico, aqui não há absolutos. Existem pontos de vista. 
Ressalte-se, ainda, que o que Compagnon disse tinha a ver com a própria história 
das concepções do poder da literatura. Ele estava fazendo um apanhado de 
como se viam e interpretavam as funções da literatura ao longo do tempo.
Entre nós, aqui no Brasil, a grande formulação da função humanizadora da 
literatura foi feita, sem dúvida, pelo crítico literário Antonio Candido. Em um 
ensaio bastante conhecido nos estudos literários brasileiros, intitulado O direito 
à literatura, o crítico defende que a arte, em geral, e a literatura, em particular, 
são bens indispensáveis ao ser humano. “Trazendo livremente em si o que 
chamamos o bem e o que chamamos o mal, [a literatura] humaniza em sentido 
profundo, porque faz viver” (CANDIDO, 2004, p. 176).
Vejamos outras duas colocações de Antonio Candido a respeito do tema:
9
ela [a literatura] é fator indispensável de humanização 
e, sendo assim, confirma o homem na sua humanidade, 
inclusive porque atua em grande parte no subconsciente 
e no inconsciente. [...] A literatura confirma e nega, propõe 
e denuncia, apóia e combate, fornecendo a possibilidade 
de vivermos dialeticamente os problemas. Por isso é 
indispensável tanto a literatura sancionada quanto a 
literatura proscrita; a que os poderes sugerem e a que 
nasce dos movimentos de negação do estado de coisas 
predominante.
[...] ela tem papel formador da personalidade, mas não 
segundo as convenções; seria antes segundo a força 
indiscriminada e poderosa da própria realidade. (CANDIDO, 
2004, p. 175-6)
Entendo aqui por humanização (já que tenho falado tanto 
nela) o processo que confirma no homem aqueles traços 
que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a 
aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, 
o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos 
problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da 
complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor. 
A literatura desenvolve em nós a quota de humanidade na 
medida em que nos torna mais compreensivos e abertos 
para a natureza, a sociedade, o semelhante. (CANDIDO, 
2004, p. 180)
EXERCITANDO
a) Você já deve ter percebido que, de vez em quando, falamos em “crítico 
literário” e em “ensaio”, referindo-se ao texto de algum estudioso da 
literatura. Pesquise, em dicionários e na internet, os significados das 
palavras “crítica literária” e “ensaio”. Verifique se os sentidos em que os 
termos são empregados aqui são os mesmos do senso comum.
b) Diante destas duas funções da literatura já apresentadas – a estética 
e a humanizadora –, como você argumentaria com seus alunos para 
convencê-los da importância de ler o texto literário?
c) Observe a seguinte passagem da Poética, de Aristóteles:
Duas causas naturais parecem dar origem à poesia. Ao homem 
é natural imitar desde a infância – e nisso difere ele dos outros 
seres, por ser capaz da imitação e por aprender, por meio da 
imitação, os primeiros conhecimentos –; e todos os homens 
sentem prazer em imitar. (ARISTÓTELES, 1999, p. 40)
UNIDADE 02 AULA 05 
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS - O texto literário e seu valor para a tradição cultural
A palavra traduzida como imitar ou imitação, no grego, é mimesis. Ela assume 
mais o sentido de representar ou representação. Há ainda os que preferem, hoje, 
traduzir por ficção. Com base na leitura do fragmento acima, identifique duas 
funções da poesia, segundo Aristóteles.
3.3 A função catártica
O filósofo grego Aristóteles, mais uma vez no seu importantelivro para 
os estudos literários – Poética –, afirmou que a tragédia, tipo de peça por ele 
estudado, era capaz de provocar a catarse.
Catarse é um dos termos mais difíceis de ser explicado na teoria literária, 
pois Aristóteles não desenvolveu o significado da expressão, nem deixou 
totalmente clara sua associação com o literário. Temos, portanto, algumas 
possibilidades de sentido, que veremos a seguir.
Primeiro, leiamos as duas passagens da Poética que se referem ao tema; 
depois, vejamos os sentidos que o Dicionário de termos literários, de Massaud 
Moisés, confere ao termo:
A tragédia é a representação de uma ação elevada, de 
alguma extensão e completa, em linguagem adornada, 
distribuídos os adornos por todas as partes, com atores 
atuando e não narrando; e que, despertando a piedade 
e temor, tem por resultado a catarse dessas emoções. 
(ARISTÓTELES, 1999, p. 43) (grifo nosso)
Os sentimentos de terror e pena, às vezes, decorrem do 
espetáculo cênico; em outras ocasiões, porém, vêm do 
ordenamento que se dá as ações, e este é o melhor modo, 
mais próprio do poeta. Pois a fábula deve ser constituída 
de tal maneira que as pessoas que a ouvirem possam, 
mesmo sem nada ver, aterrorizar-se e sentir piedade, 
como acontecerá com quem escutar a história de Édipo. 
(ARISTÓTELES, 1999, p. 52) (grifos nossos)
11
Catarse: “Gr. kátharsis, purgação, purificação. 
[...] Como o texto aristotélico não esclarece nem desenvolve a passagem, 
o vocábulo ‘catarse’ tem dado margem a numerosas interpretações, todas 
insatisfatórias. Sabe-se que o filósofo grego tomou a palavra de empréstimo 
à Medicina: designava a eliminação dos humores corporais maléficos para 
restabelecer o equilíbrio próprio da saúde.
Por outro lado, antes dele o termo ainda se empregava com sentido 
religioso: consistia na purificação ritual, espécie de batismo ou cerimônia 
de iniciação. À primeira vista, Aristóteles apenas transferiu para o universo 
estético a purgação medicinal e religiosa, uma vez que a catarse na tragédia 
se propunha a ‘depurar o fundo emocional da alma, mediante o prazer 
procurado pela expressão artística’ (Reyes 1941: 303).
As várias propostas em torno do vocábulo ‘catarse’ podem ser resumidas 
em duas principais: ora se entende que a purgação constitui a experiência da 
piedade e terror que o espectador sofre perante a tragédia que contempla, 
de modo a ‘viver’ a situação infausta do herói e aprender a distanciá-la de si; 
ora se julga que a visualização do tormento alheio proporciona à platéia o 
alívio das próprias tensões, ao menos enquanto dura o espetáculo” (MOISÉS, 
2004, p. 71).
A despeito das dificuldades em se definir o que é catarse, de forma simplista, 
mas com intenções didáticas, diríamos que tem a ver com as emoções e tensões 
que sentimos diante de um filme, de uma peça, de um romance, de uma 
novela, de uma música... Enfim, a literatura (assim como outras manifestações 
artísticas), por meio da catarse, é capaz de mexer conosco.
3.4 A função transmissora de cultura e conhecimento
Indubitavelmente, o texto literário é capaz de nos transmitir saber, 
conhecimento, cultura, informações. Por mais que a literatura seja ficção, 
existem situações “comentadas” ou “contadas” pelas narrativas, dramas e 
poemas. Sem contar que houve época, como vimos na aula anterior, que 
literatura era sinônimo de conhecimento.
Livros como Os sertões, de Euclides da Cunha, Os miseráveis, de Victor Hugo, 
e Os escravos, de Castro Alves, correm o risco de nos ensinarem mais sobre a 
UNIDADE 02 AULA 05 
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS - O texto literário e seu valor para a tradição cultural
Guerra de Canudos, a situação política da França do século XIX e a escravidão no 
Brasil, respectivamente, que qualquer manual historiográfico, com o acréscimo 
da beleza estética.
É histórica a noção de que a literatura é um dos mais importantes patrimônios 
culturais de uma nação, associada, inclusive, à ideia de civilização, conforme 
atestou Antoine Compagnon:
Do ponto de vista científico, desde o início do século XIX, 
a filologia aventava a hipótese da unidade constitutiva 
formada por uma língua, uma literatura e uma cultura – 
ou antes, uma civilização, como então se dizia –, conjunto 
orgânico identificado ao espírito de uma nação para o qual 
a literatura, entre as raízes lingüísticas e a folhagem cultural, 
fornecia o nobre tronco, donde a prolongada eminência dos 
estudos literários, estrada real em direção à compreensão de 
uma cultura em sua totalidade. (COMPAGNON, 2009, p. 22)
A escritora Ana Maria Machado reforça essa ideia, enaltecendo o poder da 
literatura, que é capaz de dar vida ao nosso espírito e engrandecer-nos como 
seres humanos:
Cada vez que um leitor abre um livro e começa a lê-
lo, despertando-o de seu encantamento silencioso, ou 
cada vez que um usuário pega uma obra literária na 
estante de uma biblioteca e se põe a dialogar com alguns 
dos melhores espíritos da história da humanidade, o 
patrimônio cultural de nós todos está sendo reavivado pela 
escolha dessa companhia. [...] a cultura nos enraíza, celebra 
o espírito e constitui o mais precioso patrimônio humano. 
A literatura é apenas sua manifestação por meio da arte 
das palavras. Uma manifestação poderosíssima, visto que 
se entretece com a preservação, renovação e reinvenção 
do que talvez seja o mais precioso patrimônio humano, a 
língua. [...] Se todos esses conceitos – patrimônio, cultura, 
literatura – se referem a algo que dá vida a nosso espírito 
e nos engrandece enquanto seres humanos e enquanto 
brasileiros, o desprezo a eles nos corrói e nos apequena. 
(MACHADO, 2011, p. 106-7)
13
Para refletir: na qualidade de professor, o que você pode fazer, em termos de 
estratégias de ensino e projetos pedagógicos, para preservar o patrimônio 
cultural do nosso país, região, estado e/ou município? Pense no âmbito dos 
estudos literários.
3.5 A função social e conscientizadora
Outro papel que a literatura pode assumir, segundo alguns autores, é o 
de conscientização da realidade política e social. Nesse sentido, o poeta deve 
escrever algo que provoque reflexão e convide o leitor ao exercício da cidadania. 
A literatura, nesses casos, pode ser um instrumento de denúncia, um manifesto, 
um protesto, uma crítica. 
Dois interessantes exemplos de poemas engajados são: O operário em 
construção, de Vinícius de Moraes, e O analfabeto político, do dramaturgo 
alemão Bertolt Brecht.
Pesquisa: procure na internet os poemas O operário em construção, de 
Vinícius de Moraes, e O analfabeto político, de Bertolt Brecht. Leia-os e 
discuta com os outros estudantes do curso. Aproveite e pesquise também o 
significado da expressão arte engajada ou literatura engajada.
3.6 A função educativa
Parece ser ponto pacífico para vários escritores que a literatura é capaz 
de nos ensinar sobre a vida, sobre os relacionamentos, sobre a morte, enfim, 
sobre a existência humana, seus dilemas, desafios e esperanças. Umberto 
Eco, considerando a distinção entre uma narrativa hipertextual (passível de 
ser modificada na internet pela escrita de várias mãos) e um conto “pronto”, 
“impresso” (imodificável), entende que as histórias literárias podem nos educar 
para a morte e o destino:
UNIDADE 02 AULA 05 
14
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS - O texto literário e seu valor para a tradição cultural
A função dos contos “imodificáveis” é precisamente esta: 
contra qualquer desejo de mudar o destino, eles nos 
fazem tocar com os dedos a impossibilidade de mudá-lo. 
E assim fazendo, qualquer que seja a história que estejam 
contando, contam também a nossa, e por isso nós os 
lemos e os amamos. Temos necessidade de sua severa lição 
“repressiva”. A narrativa hipertextual pode nos educar para 
a liberdade e para a criatividade. É bom, mas não é tudo. Os 
contos “já feitos” nos ensinam também a morrer.
Creio que esta educação ao Fado e à morte é uma das 
funções principais da literatura. (ECO, 2003, p. 21)
Mario Vargas Llosa, porsua vez, chama-nos à atenção para o fato de que a 
literatura é capaz de, com suas mentiras, expressar grandes verdades humanas:
De fato, os romances mentem – não podem fazer outra 
coisa –, porém essa é só uma parte da história. A outra 
é que, mentindo, expressam uma curiosa verdade, que 
somente pode se expressar escondida, disfarçada do que 
não é.
[...]
Porque as fraudes, os enganos e exageros da literatura 
narrativa servem para expressar verdades profundas e 
inquietantes, que somente dessa maneira enviesada vêm à 
luz. (LLOSA, 2004, p. 12 e 20)
E para concluir este tópico, fiquemos com as palavras de Compagnon (2009, 
p. 26):
Exercício de reflexão e experiência de escrita, a literatura 
responde a um projeto de conhecimento do homem e do 
mundo. Um ensaio de Montaigne, uma tragédia de Racine, 
um poema de Baudelaire, o romance de Proust nos ensinam 
mais sobre a vida do que longos tratados científicos.
3.7 Outras funções
Caro aluno, poderíamos enumerar ainda mais uma infinidade de poderes do 
texto literário. Exemplos e argumentos não faltariam. Porém, acreditamos que 
já demos razões suficientes para o estudo e o ensino da literatura.
Por outro lado, para não dizer que não falamos das flores (parafraseando 
Geraldo Vandré), apenas citaremos outras funções possíveis, apresentadas por 
Umberto Eco (2003), Compagnon (2009) e Todorov (2009):
15
a) manter a língua como patrimônio coletivo (proporcionando unidade 
nacional);
b) criar identidade e comunidade;
c) manter em exercício a língua individual;
d) transmitir um mundo de valores;
e) oferecer um modelo de verdade;
f) possibilitar aprendizado por meio da nossa própria identificação com 
personagens e situações;
g) instruir e deleitar (concepção clássica);
h) libertar o indivíduo de sua sujeição, garantindo-lhe autonomia 
(concepção iluminista);
i) tornar-nos mais inteligentes e senhores da própria linguagem;
j) representar a existência humana;
k) sensibilizar o indivíduo...
 
Ufa, haja poder, hein!?
UNIDADE 02 AULA 05 
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS - O texto literário e seu valor para a tradição cultural
4 APROFUNDANDO SEU CONHECIMENTO
Quer aprofundar seu conhecimento sobre o assunto tratado nesta aula? 
Assista aos seguintes filmes:
Filme: Sociedade dos poetas 
mortos
Direção: Peter Weir
Você já deve ter assistido a 
este filme várias vezes, estrelado 
brilhantemente por Robin Williams, 
pois todo professor de literatura 
gosta de apresentá-lo aos alunos. 
Mas, agora, nosso convite é para 
que você assista tentando associá-
lo a todo o aprendizado das funções 
da literatura, identificando quais 
funções podem ser exemplificadas 
no filme.
Filme: O nome da rosa
Direção: Jean-Jacques Annaud
Outro filme recorrente nas 
aulas de literatura. Trata-se de uma 
adaptação do romance de mesmo 
nome do escritor italiano, tão 
recorrentemente citado em nossa 
aula, Umberto Eco. Com uma 
trama envolvente e uma atuação 
impecável de Sean Conery, no 
estilo Sherlock Holmes, vale a pena 
conferir por que um livro pode ser 
tão temido e censurado.
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Filme: O livro de Eli
Direção: The Hughes Brothers
Protagonizado por Denzel 
Washington, o filme mostra, em 
um cenário pós-apocalíptico, 
o quanto um livro pode ser 
sinônimo de poder. Nesse caso 
específico, a última cópia da 
Bíblia, bem como a mensagem 
das Escrituras, exemplificam que, 
quem detém o conhecimento, 
não só é livre, como também é 
autônomo e não se sujeita a forças 
autoritárias e manipuladoras.
5 TROCANDO EM MIÚDOS
A literatura é um meio muito poderoso de instrução e uma forma muito rica 
de entretenimento. O prazer da leitura, para os amantes do texto poético (num 
sentido amplo), é indescritível. Muitos entendem que o fenômeno literário deve 
ser visto apenas esteticamente, com um propósito voltado para si mesmo, sem 
qualquer vinculação utilitária. Outros defendem que encarar a literatura apenas 
sob esse viés é desperdiçar o poder imaterial dessa arte, capaz de humanizar e 
promover saber, sensibilizando o indivíduo.
6 AUTOAVALIANDO
Ao concluir esta aula, faça uma reflexão, como forma de autoavaliação, a 
partir das seguintes perguntas: 
a) Tenho condições de responder satisfatoriamente quando alguém me 
perguntar por que estudar literatura?
b) Que argumentos eu já tenho formulado para convencer meu aluno da 
importância da leitura literária?
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INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS - O texto literário e seu valor para a tradição cultural
c) Que exemplos de textos literários, que li e me impactaram, eu posso 
indicar para meus alunos?
Lembrete: de nada vai adiantar saber todos os argumentos favoráveis ao 
estudo da literatura, se você mesmo não estiver convencido dessa importância 
e se você, como professor, não for, antes de tudo, um grande leitor.
INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS LITERÁRIOS - O texto literário e seu valor para a tradição cultural
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Poética. In: Aristóteles: vida e obra. São Paulo: Nova Cultural, 1999 
(Os Pensadores).
BILAC, Olavo. A um poeta. In: CANDIDO, Antonio; CASTELLO, José Aderaldo. 
Presença da literatura brasileira. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1964. V. 
2, p. 256.
CANDIDO, Antonio. O direito à literatura. In: Vários escritos. 4. ed. São Paulo; Rio de 
Janeiro: Duas Cidades; Ouro sobre Azul, 2004, p. 169-191.
COMPAGNON, Antoine. Literatura para quê? Belo Horizonte: UFMG, 2009.
ECO, Umberto. Sobre algumas funções da literatura. In: Sobre a literatura: ensaios. 
2. ed. Rio de Janeiro: Record, 2003, p. 9-21.
LAJOLO, Marisa. O que é literatura. 17. ed. São Paulo: Brasiliense, 1995 (Coleção 
Primeiros Passos).
LLOSA, Mario Vargas. A verdade das mentiras. 3. ed. São Paulo: Arx, 2004.
MACHADO, Ana Maria. Silenciosa algazarra: reflexões sobre livros e práticas de 
leitura. São Paulo: Companhia das Letras, 2011.
MEIRELES, Cecília. Motivo. In: Os melhores poemas de Cecília Meireles. Seleção 
de Maria Fernanda. 15. ed. São Paulo: Global, 2004, p. 11.
MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. 12. ed. São Paulo: Cultrix, 2004.
MORAES, Vinícius. Rosa de Hiroxima. In: Vinícius de Moraes: poesia completa e 
prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1998, p. 381.
TODOROV, Tzvetan. A literatura em perigo. 2. ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009.
	O texto literário e seu valor para a tradição cultural
	1  OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
	2  Começando a história
	3  Tecendo conhecimento
	3.1  A função estética
	3.2  A função humanizadora
	3.3  A função catártica
	3.4  A função transmissora de cultura e conhecimento
	3.5  A função social e conscientizadora
	3.6  A função educativa
	3.7  Outras funções
	4  Aprofundando seu conhecimento
	5  Trocando em miúdos
	6  Autoavaliando
	REFERÊNCIAS

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