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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ - IFCE - Campus UBAJARA TECNOLOGIA EM GASTRONOMIA BRENDA MARYANNA R. DE CASTRO NASCIMENTO ESPAÇOS TRADICIONAIS: A FEIRA LIVRE DE UBAJARA COMO UM AMBIENTE DE SABERES E SABORES UBAJARA-CE 2018 BRENDA MARYANNA R. DE CASTRO NASCIMENTO ESPAÇOS TRADICIONAIS: A FEIRA LIVRE DE UBAJARA COMO UM AMBIENTE DE SABERES E SABORES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso Tecnologia em Gastronomia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE) ─ Campus Ubajara, como requisito parcial para a obtenção do Título de Tecnólogo em Gastronomia. Orientadora: Profa. Dra. Beatriz Helena Peixoto Brandão UBAJARA-CE 2018 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Instituto Federal do Ceeará - IFCE Sistema de Bibliotecas - SIBI Ficha catalográfica elaborada pelo SIBI/IFCE, com os dados fornecidos pelo(a) autor(a) N244e Nascimento, Brenda Maryanna Rolim de Castro. Espaços Tradicionais : a feira livre de Ubajara como um ambiente de saberes e sabores / Brenda Maryanna Rolim de Castro Nascimento. - 2018. 29 f. : il. color. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) - Instituto Federal do Ceará, Tecnologia em Gastronomia, Campus Ubajara, 2018. Orientação: Profa. Dra. Beatriz Helena Peixoto Brandão. 1. Feira Livre de Ubajara. 2. Espaços Tradicionais. 3. Urbanização. I. Titulo. CDD 641.013 BRENDA MARYANNA R. DE CASTRO NASCIMENTO ESPAÇOS TRADICIONAIS: A FEIRA LIVRE DE UBAJARA COMO UM AMBIENTE DE SABERES E SABORES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso Tecnologia em Gastronomia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFCE) ─ Campus Ubajara, como requisito parcial para a obtenção do Título de Tecnólogo em Gastronomia. Orientadora: Profa. Dra. Beatriz Helena Peixoto Brandão Aprovado em: _____/_____/_____ Banca Examinadora: __________________________________________________________________ Prof.ª Doutora Beatriz Helena Peixoto Brandão Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará- IFCE __________________________________________________________________ Prof.ª Especialista Jéssen Violene de Macedo Santos Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará- IFCE __________________________________________________________________ Pref.º Especialista Marco Henrique de Brito Mudo Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Ceará- IFCE AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente à Deus, acima de tudo, e a todos os santos que guiaram a minha trajetória até o dado momento. Aos meus pais, Gilca Maria Rolim de Castro e José Wilson do Nascimento, que mesmo distantes me abençoaram e acreditaram no meu potencial. A minha namorada, Bruna Lima, que acompanhou toda a minha luta nesses três, quase quatro anos, na busca por conhecimentos e incitação a paixão pela gastronomia, que ao fim foi inspirada a seguir os mesmos passos desta iniciante na arte da cozinha. Aos meus amigos do peito, que hoje se transformaram em uma grande família, a segunda turma de gastronomia do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, da cidade de Ubajara. Amigos que sempre apoiaram uns aos outros, seja em trabalhos individuais ou grupais, que vivenciaram comigo momentos únicos, sem deixar que nada nos abalasse. Agradeço pela paciência, pelos conselhos, pelo acolhimento e pelo carinho, sentirei saudades até mesmo das nossas brigas, que no fim sempre acabavam em boas risadas. Aos meus professores que, desde o início da minha jornada acadêmica, acompanharam cada passo dessa caminhada, nos mostrando o quanto é gratificante fazer parte desse mundo espetacular chamado Gastronomia. Agradeço pelos ensinamentos, as orientações, as lições de vida e as boas risadas, vocês são verdadeiros mestres. Para finalizar, quero agradecer em especial a minha orientadora, Beatriz Helena Peixoto Brandão, uma excelente professora, cozinheira, conselheira e mulher, que me incentivou a desenvolver esta pesquisa. Além disso me motivou a abrir as portas da mente para uma nova perspectiva da realidade. Muito obrigada à todas(os) que fizeram parte desse ciclo maravilhoso da minha vida. RESUMO Esta análise é destinada a retratar os espaços tradicionais do comércio de hortifrútis que são reconhecidos como um dos mais populares da Serra da Ibiapaba. Responsável por grande parcela da atividade comercial local, a feira livre de Ubajara é bastante conhecida por abranger comerciantes de diversas regiões, além disso garante a sobrevivência da maioria das famílias ubajarenses e das populações vizinhas. Com um olhar crítico foram analisados documentos, artigos científicos e livros acadêmicos, contendo assuntos que relatam as causas do desenvolvimento urbano que acarretaram na descentralização das feiras. Tem a finalidade de compreender um sistema econômico que vai muito além de um local onde ocorre a venda de mercadorias, chegando a ser um ponto caracterizado pela relação de transferências de experiências e diversas atividades paralelas de âmbito político, religioso, cultural, dentre outras (SANTOS, 2012). Com a intenção de averiguar o dia-a-dia dos feirantes locais, foram empregados métodos de conversação direta com os trabalhadores, através de entrevista não estruturada, caracterizando-se como uma análise qualitativa. Percebe-se, assim, através da experiência de Ubajara/CE, que as feiras são ambientes tradicionais e excepcionais, em meio a tanta modernidade. São espaços que oferecem uma gama diversa de conhecimentos populares, trazendo histórias de pessoas que possuem o mínimo para sobreviver, narrativas que se misturam com o cenário da cidade, tornando-a cada vez mais bela e indispensável. São ambientes, portanto, que necessitam de uma atenção especial, e com isso gerar uma maior valorização do trabalho como feirante e dos espaços abordados por essas pessoas. Palavras- chave: Feira Livre de Ubajara. Espaços Tradicionais. Urbanização. ABSTRACT This analysis is intended to portray the traditional spaces of the hortifrútis trade that are recognized as one of the most popular of the Serra da Ibiapaba. Responsible for a large part of the local commercial activity, Ubajara's free trade fair is well-known for covering merchants from different regions, besides guaranteeing the survival of the majority of the families of Ubajarenses and of the neighboring populations. With a critical eye were analyzed documents, scientific articles and academic books, containing subjects that report the causes of urban development that led to the decentralization of fairs. Its purpose is to understand an economic system that goes far beyond a place where the sale of goods occurs, reaching a point characterized by the relation of transferences of experiences and several parallel activities of political, religious and cultural scope, among others (SANTOS , 2012). With the intention of ascertaining the day-to-day of the local fair, methods of direct conversation with the workers were employed through an unstructured interview, characterizing itself as a qualitative analysis. Thus, through the experience of Ubajara / CE, the fairs are traditional and exceptional environments, amidst so much modernity. They are spaces that offer a diverse range of popular knowledge, bringing stories of people who have the minimum to survive, narratives that blend with the scenery of the city, making it increasingly beautiful and indispensable. They are environments, therefore, that need a special attention,and with that to generate a greater appreciation of the work like fair and of the spaces approached by these people. Keywords: Free Fair of Ubajara. Traditional Spaces. Urbanization. LISTA DE FIGURAS Figura 1 — Feira livre de Ubajara: José Maria Vieira Cunha por trás da sua banca ........................................................................................................................... 19 Figura 2 — Feira livre de Ubajara: hortifrútis nas bancas do Mercado das Verduras............................................................................................................ 21 Figura 3 — Feira livre de Ubajara: produtos disponíveis..................................................... 22 Figura 4 — Feira livre de Ubajara: mercadorias artesanais.................................................. 22 Figura 5 — Feira livre de Ubajara: vista lateral das barracas durante a semana................... 23 Figura 6 — Feira livre de Ubajara: balança utilizada para as pesagens das hortifrútis........ 23 Figura 7 — Feira livre de Ubajara: registro da entrevista com feirantes.............................. 24 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 8 2 OBJETIVOS .................................................................................................................... 11 2.1 Objetivo geral .................................................................................................................. 11 2.2 Objetivos específicos ........................................................................................................ 11 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................. 12 3.1 Os Efeitos do desenvolvimento econômico ................................................................... 12 3.2. A Qualidade da vida urbana ....................................................................................... 134 3.3 Adquirindo saberes e sabores ....................................................................................... 156 4 METODOLOGIA ........................................................................................................... 18 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................ 199 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 25 REFERÊNCIAS ............................................................................................................. 27 8 1 INTRODUÇÃO O debate sobre questões que envolvam o progresso da humanidade e a relação que existe com o meio ambiente e o ser humano, em termos práticos, ainda é um assunto considerado de pouca importância em escala mundial, uma vez que o enfoque aparenta ser direcionado apenas para o crescimento de pequenas parcelas da população, afastando o homem da realidade do todo. Em um mundo onde muitos almejam uma vida dentro dos padrões impostos pela sociedade em geral, do lado oposto encontram-se a outra fração da população que consegue autonomia para pensar fora da caixa. A todo instante crescem o número de carros, edifícios, e indústrias gigantescas ao redor do planeta, tornando tudo muito caótico. Em meio a uma sociedade urbanizada, sobra pouco espaço para pensar em como se alimentar de forma adequada, ou até mesmo para analisar os efeitos causados por esta modernidade confusa. Assumindo essa narrativa, esse trabalho busca relatar com destreza os espaços habituais vivenciados pelos moradores da cidade de Ubajara, localizada na Serra da Ibiapaba. Tendo como ponto principal retratar as histórias vivenciadas pelos personagens rebuscados das feiras livres, além de trazer à tona quais as razões que levam uma grande parcela da população a mudar os seus costumes. Ao trazer à tona esse tema, vale ressaltar a importância dos fatos que levaram a construção deste trabalho, caracterizado pela busca incessante pelo saber popular sobre tais questões relacionadas com o tradicional e o contemporâneo. Segundo Santos (2012), as feiras são espaços abertos e públicos, sendo um sistema econômico que vai muito além de um local onde ocorre a venda de mercadorias, chegando a ser um ponto caracterizado pela relação de transferências de experiências e diversas atividades paralelas de âmbito político, religioso, cultural, dentre outras. No mesmo texto o autor descreve os mercados como espaços cobertos e públicos exprimindo ambientes mais seguros no momento da troca das mercadorias. Para Corrêa (2001) as feiras são: [...] aqueles núcleos de povoamento, pequenos, via de regra, que periodicamente se transformam em localidades centrais [...]. Fora dos períodos de intenso movimento comercial, esses núcleos voltam a ser pacatos núcleos rurais, com a maior parte da população engajada em atividades primárias (CORRÊA, 2001, p. 103). As feiras livres tiveram bastante relevância em períodos da história significativos, como por exemplo na época das rotas marítimas, no auge do século XVI, que focavam na procura frenética por temperos e especiarias de difícil acesso dentro dos continentes, mas que 9 não poderiam faltar na mesa de nenhum nobre, dando maior impulso aos populares pontos de trocas, onde aconteciam as transações de especiarias, sejam elas temperos, hortaliças, frutos e até mesmo mercadorias nunca vistas, que surgiram com a intenção de favorecer uma permuta mais simples e sem burocracia para os navegantes (BOECHAT, 2009). Assim, as feiras livres são espaços que compõem a construção da história da economia mercantil do Brasil e do mundo. Segundo Mott (1975) as primeiras referências de feiras no Brasil datam do ano de 1548, onde os colonizadores portugueses que possuíam experiências com feiras buscavam realizar trocas de produtos com a população local, na perspectiva de favorecer a sua própria mercadoria, afim de explorar os produtos oferecidos pelos nativos. Azevedo e Queiroz (2012) relatam em seu trabalho que os primeiros registros oficiais de feiras livres no Brasil datam de 1732, onde a feira localizava-se no Recôncavo Baiano. No Nordeste brasileiro as feiras livres surgiram ligadas à estrutura econômica da região dos séculos XVII e XIX, onde a região na época era composta de plantações de cana de açúcar na Zona da Mata, além da atividade pecuária no Sertão. Os gados eram vendidos e trocados nas feiras semanais, onde os pontos de trocas eram designados nas rotas traçadas entre o Sertão e a Zona da Mata. As feiras, em sua ampla contextualização, são compreendidas como instituições designadas a troca de mercadorias, tendo sido pontuada a sua origem no momento de transição da Idade Média para a Idade Moderna. Dois elementos caracterizam a expansão e transformação das feiras livres: a construção das cidades e o surgimento de atividades ditas civilizadoras (DANTAS, 2008. p. 88). Para Mumford (2004) o elemento essencial para a popularização das feiras foi a formação de um excedente de produtos agrícolas e o crescimento da população, dois fatores que impulsionam o comércio, extremamente necessários para a sua expansão. O município de Ubajara está situado em uma região com excelentes potenciais agrícolas e apresenta três zonas ecológicas distintas: (i) O sertão, que é caracterizado por uma agricultura de subsistência e pecuária razoável de bovinos, caprinos e ovinos; (ii) A zona úmida que possui solo fértil, que contribui para uma agricultura variada sobressaindo-se o café, o maracujá, a cana-de-açúcar e diversas hortaliças; (iii) A zona do carrasco que é marcada porsolos pobres, arenosos, resistindo a vegetação xerófila e agricultura baseada no milho, no feijão e na mandioca. (ASPECTOS..., [1999?]) A agricultura ubajarense é praticada em três estágios: Agricultura de subsistência, Agricultura de Economia Familiar e Agricultura Semi-Mecanizada. Durante todo o ano pratica-se a agricultura em duas regiões ecológicas, a zona úmida e a zona do cerrado. Já na 10 região do sertão, que possui um clima semiárido, a agricultura é desenvolvida em apenas quatro meses ao ano. (ASPECTOS..., [1999?]) Então é delineada na história a amostra de grandes cidades que se desenvolveram a partir do comércio gerado em torno da agricultura, não somente como uma fonte de renda, mas também para garantir a sobrevivência das sociedades. Todos os dias, esse ambiente está projetado para receber qualquer que seja o consumidor, criando relações e interagindo com o mundo. Com clareza vê-se, acima de tudo, que as feiras são pontos onde ocorrem transações de saberes e sabores populares, que somente podem ser acessados ao adentrar no ambiente da feira. 11 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Retratar os espaços tradicionais do comércio de hortifrútis, de maneira a retratar as histórias de vida dos personagens cotidianos da feira livre de Ubajara. 2.2 Objetivos específicos Desenvolver um olhar crítico sob os efeitos do desenvolvimento urbano; Conhecer a importância histórica dos Mercados Públicos e das Feiras Livres; Apresentar os cenários das Feiras de Ubajara, locais onde ocorre o comércio de hortifrútis; Descrever o cotidiano dos personagens da feira, na perspectiva de permanência e sustentabilidade da feira. 12 3 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 3.1 Os efeitos do desenvolvimento econômico Segundo Tavares (2009), o modelo de desenvolvimento econômico baseado nas grandes potências, em geral, foi o que deu origem ao capitalismo industrial. Ao analisar o que se almejava nas propostas de desenvolvimento econômico o que se encontra é a justificativa de que tudo foi esquematizado em prol da melhoria da qualidade de vida da população, elaborado de forma apenas para satisfazer as necessidades básicas de cada indivíduo. Visto que esse modelo se adequava aos países desenvolvidos, a ideia seria implementar esse padrão de vida em países subdesenvolvidos, acreditando que tudo se encaixaria perfeitamente. O homem, desde a sua criação, e a premissa de uma sociedade moderna e próspera, se baseava em muitos mitos, um desses presumia que a natureza possuía recursos ilimitados e que o progresso era parte fundamental da evolução da espécie. Acreditava também em uma sociedade igualitária, além, é claro, do mito da superioridade e neutralidade da ciência e da tecnologia (TAVARES, 2009). Esse modo de pensar e agir sobre a lei natural da vida contesta que o ser humano se desenvolveu de maneira imprudente, agindo de forma egoísta, e que somente deleita da sua evolução solitária. Santos (2012) discorre sobre os espaços urbanos como ambientes que possuem profundas relações com o passado e com o presente, mediante o desenvolvimento da sociedade, sendo um cenário que acarreta processos de inclusão e, simultaneamente, exclusão econômica e social. Segundo Azevedo (2012), entre os séculos XVIII e XIX, a vida de qualidade era equivalente a uma vida urbana, uma vez que a indústria moderna estava começando a ganhar espaço e o “ideal de contemporaneidade” era a nova meta de vida, o que gerava uma busca maior pelos grandes centros urbanos. Os centros urbanos são traçados a partir de modelos pré-elaborados, assim como grandes maquetes, que uma vez idealizados, atraem uma multidão de adoradores, onde é fácil observar que para iniciar uma civilização, que pode um dia chegar a ser organizada, primeiro instalam-se, exatamente nos centros das cidades as igrejas, com o único objetivo de coordenar e sistematizar um certo aglomerado de fiéis. Em seguida, é necessário gerar economia para que o capitalismo possa se instalar, então entram as grandes indústrias alimentícias, de vestimentas e todo o restante que resulte em movimento de dinheiro. E, finalmente, mas não menos importante, líderes que possam comandar os grandiosos centros urbanos. 13 Os espaços urbanos são pontos de estudo significativos para a elaboração do presente trabalho, pois retratam exatamente como funcionam os sistemas econômicos em que se enquadram as feiras livres. Na cidade de Ubajara, inscrita na Serra da Ibiapaba, a economia gerada em torno da agricultura é o que garante a sobrevivência da maioria dos ubajarenses, além das populações vizinhas, as feiras livres e o comércio varejista são responsáveis por grande porção da atividade comercial local. A agricultura ubajarense possui diversos elementos que representam o seu progresso, aspectos estes que contribuíram para o desenvolvimento da cidade, gerando lucro para pequenas famílias produtoras, além de contribuir com o trânsito de pessoas na cidade, já que as feiras ocorrem semanalmente. Ubajara é considerada um dos pontos turísticos mais bonitos do Nordeste brasileiro em decorrência de sua natureza/ clima e, além desse contexto, a feira livre é um verdadeiro atrativo para os olhos, cheio de cores, sabores e pessoas simpáticas que lhe convencem quase sempre a comprarem os seus produtos. Afinal, por mais que o alimento que encontramos no supermercado seja algo atrativo e tecnicamente de fácil acesso, ele é enriquecido de substâncias tóxicas, que enganam facilmente qualquer paladar. As sociedades contemporâneas nunca foram realmente educadas para consumir alimentos de qualidade e cada vez mais os espaços urbanos estão limitando o acesso ao que está disponível na natureza, gerando a cada dia leigos quando o assunto se trata da origem dos seus alimentos. Se o objetivo da construção dos centros urbanos é facilitar a vida do cidadão comum, então porque os discursos sobre alimentação adequada estão distantes da realidade de terceiros? Ora, a questão aqui a ser discutida na realidade, é o porquê do auto sabotagem praticado pelo ser humano com relação a conscientização com sua alimentação diária, já que alimentos naturais e de qualidade estão disponíveis a todo instante diante da vista de todos. 3.2. A qualidade da vida urbana Analisando o processo de urbanização no Brasil, constata-se que, se por um lado, este fator provocou algumas transformações que podem ser consideradas como avanços, porque são típicas deste processo em várias partes do mundo; por outro lado, destaca-se que, em grande parte, que viver mais significa “sofrer as agruras de uma sociedade injusta e uma vida sem qualidade, submetidas a pressões e violências de todo tipo” (PÁDUA, 2003, p. 47-69). 14 Do ponto de vista apenas de observadora, ao analisar a sociedade atual em que todos estão inseridos, pode-se notar que os indivíduos ao longo de seus dias, meses e anos caóticos em meio aos centros urbanos, trabalham apenas para adquirir o “pão nosso de cada dia”, buscando por melhores condições de vida. Essa alegação de melhorar a qualidade de vida das pessoas, imposta por países desenvolvidos e industrializados, vem disfarçada de uma pretensão de perpetuar a sobrevivência da raça humana. Averiguando-se os fatos e situações que mudaram por completo a vida do ser humano, onde diversas circunstâncias alteraram a prática de caçador/coletor adentrando no costume onde tudo, inclusive o alimento, já encontra-se pronto para uso, cessou iludido de que este é o estilo de vida que mais condiz com a vida humana. Na prática a conjuntura dos fatos dessa realidade inserida nas sociedades é outra, em que o desenvolvimento acaba sendo o caminho mais rápido para a destruição totaldos homens e do planeta. Uma das razões para que esse modelo não desse certo é que desenvolvimento não é o mesmo que crescimento e que o segundo não leva necessariamente ao primeiro. Na verdade, muitas vezes, o crescimento de algumas nações se deu à custa do empobrecimento e, consequentemente, subdesenvolvimento de outra. (TAVARES, 2009, p. 29). A coletividade acaba por ser guiada por princípios básicos que regem o todo, a maior parte dessa massa segue algum tipo de doutrina religiosa, que acompanha os conceitos políticos e filosóficos regidos por qualquer que seja a família, desse modo formando cidadãos civilizados. Em situações extremas quando o assunto é alimentação a procura pelo o que é mais funcional está cada vez mais em ascensão, afinal, muitos pensam que pode ser mais satisfatório avistar algo que esteja consumado e apenas praticar a ação de engolir, seguindo em direção oposta ao hábito de sair a procura de um alimento fresco, levá-lo para casa e, possivelmente, preparar uma belíssima refeição rica em construção de sabores. A sensação de ir à feira selecionar o alimento, limpar, cortar e cozinhar para que, em seguida, se possa oferecer para alguém que está em seu meio social, com a certeza de que isso irá garantir uma melhor absorção dos sabores e dos nutrientes dos alimentos é considerado altamente prazeroso. Isso não possui comparação com o ato de apresentar um alimento que aparece em uma embalagem muito bem idealizada e sem nenhum tipo de bom senso com relação ao consumidor (PETRINI, 2009). 15 Muitas vezes, os clientes preferem o comodismo dos supermercados, onde os clientes destinam-se as prateleiras, dispõem os produtos dentro da cesta e seguem em direção ao caixa, ao invés de fazer as compras na feira. Sem perceber que nas feiras livres existem incomparáveis facilidades na hora da compra, como por exemplo preços mais baixos, hortifrútis frescas e o pagamento descomplicado. Na feira, existe uma relação de amizade e fidelidade com o cliente, o que já não é visto em supermercados, desde o momento em que você entra até o instante do pagamento. É válido ressaltar a importância dos princípios da alimentação básica e de qualidade, onde todos possuem o direito a uma alimentação digna, mas que seja levado em conta também as linhas de produção e as formas de distribuição, além da proteção ao meio ambiente. Todas as vias para se obter qualquer tipo de alimento precisam manter uma espécie de equilíbrio com o meio ambiente, cuidando e respeitando do todo. 3.3. Adquirindo saberes e sabores Harvey (1996) interpreta a questão de tempo e espaço com relação a interação social, onde cada sociedade é composta por características distintas, formada por costumes que estão interligados com o meio em que vivem, produzindo e se relacionando de diferentes formas, criando espaços individualizados. Ao adentrar nos espaços tradicionais vivenciados pelos moradores ubajarenses, é fácil perceber a relação íntima que todos possuem. Na cidade, muitos se conhecem, mesmo que seja somente “por vista” e, além disso, são pessoas bastante humildes e acolhedoras. Ubajara é uma cidade pequena, mas que possui muita beleza e riquezas naturais, apesar de ter pouco zelo com os patrimônios públicos, de fato. A cidade atualmente está sentindo um leve toque de evolução aos arredores, graças a implementação de uma instituição de ensino superior e tecnológico, o Instituto Federal de Educação e Tecnologia – IFCE, além de grandes supermercados e uma fábrica de agroindústria na região. Apesar deste crescimento repentino, Ubajara continua sendo uma cidade conservadora e naturalmente bela, onde os personagens que nela habitam aproveitam ao máximo o que a cidade tem a oferecer. Afortunados por uma terra extremamente fértil e clima agradável, sobrevivem, em sua maioria, da agricultura familiar que se faz presente todos os dias da semana no cenário reconhecido como feira livre. 16 Para respostas mais satisfatórias sobre como o cenário da feira livre de Ubajara se apresenta, foi realizada uma pesquisa de cunho apenas qualitativo, buscando entendimento a respeito do assunto por meio de conversas com alguns feirantes. Ao analisar este grupo observa- se primeiramente que uma grande parcela das barracas é composta por mulheres de diferentes localidades, integrantes desse espaço há tantos anos que chegam a possuir clientes aos quais fielmente visitam suas bancas toda semana. Ao adentrar o cenário da feira foram percebidos alguns olhares meio distorcidos, procurando entender o que uma estudante de gastronomia buscava com um celular em uma mão e o gravador na outra. As primeiras conversas, de fato foram as mais assustadoras, afinal, em meio a uma sociedade modernizada onde tudo é resolvido através das telas dos computadores e dos celulares, trocar ideias com pessoas desconhecidas chega a ser um pouco intimidador. Mas ao se notar a simpatia e a simplicidade dos feirantes, em instantes todo esse temor vai desaparecendo. A relação coexistente entre uma sociedade e o meio em que ela está inserida pode nos mostrar, com um pouco de clareza, como o homem se comporta diante do que está disponível para ele. Segundo Contreras e Garcia (2011), a alimentação humana constitui uma necessidade básica para todas as sociedades, e a complexidade do caráter cotidiano a ela inerente nos permite abordar esse tema analisando uma ação fisiológica que é definida através da sua projeção sociocultural. De acordo com Santos (2012) a sociedade nordestina ainda sobrevive através de atividades que rementem ao passado, como as tradicionais feiras livres, que atualmente são designados como espaços rudimentares, em meio a super e hipermercados, lojas e indústrias. São espaços que vão de encontro com a evolução, uma vez que a população se tornou mais exigente com relação a qualidade dos alimentos, buscando por lugares que concentram uma maior variedade e disponibilidade desses produtos. Em um espaço como a feira, a disponibilidade dos produtos depende muito da estação, do tipo de solo da região e do clima. Em contrapartida, os supermercados possuem safras selecionadas de hortaliças e frutas o ano inteiro, mas com preços que oscilam dependendo da época. Mas nas feiras pode-se encontrar uma variedade ainda maior de alimentos frescos que decorrem das temporadas, respeitando o tempo de cada produto. Além disso as compras vêm acompanhadas de recomendações sobre diversas formas de consumo para cada tipo de alimento. Para Boechat (2009), os centros urbanos foram constituídos não somente por dimensões geográficas, mas sim pelas relações de interação e de poder. Isso mostra que as feiras 17 livres foram sendo constituídas com o tempo, adquirindo características da região, criando um espaço próprio, nessa perspectiva as feiras foram modificando os espaços urbanos tornando tudo mais vivo e mudando a rotina da cidade, desse modo ela faz parte do contexto histórico da região. Esta é a visão de Santos (2012) sobre o papel das feiras nos espaços urbanizados: A relevância das feiras para a dinâmica de organização da sociedade e do espaço está ainda a merecer uma investigação mais acurada que busque a identificação das formas e dos processos pelos quais se dá a sua participação no contexto geral da comercialização econômica urbana e regional da reprodução da sociedade (SANTOS, 2012). 18 4 METODOLOGIA O referente trabalho buscou como principal objetivo analisar e compreender o contexto histórico e cultural das feiras livres, além de averiguar como funciona o dia-a-dia de feirantes. A pesquisa foi realizada nas feiras que ocorrem de domingo a domingo na cidade de Ubajara, localizada na Serra da Ibiapaba, no Estado do Ceará. Para examinar os dados históricos referentes às feiras livres espalhadas pelo Brasile no Estado do Ceará, foram utilizados como fontes de pesquisa artigos científicos, documentos e livros do acervo do IFCE campus Ubajara e da Biblioteca da Secretária de Cultura de Ubajara, aos quais contribuíram na construção deste texto. Com a intenção de averiguar o dia-a-dia de feirantes locais, foram empregados métodos de conversação direta com as(os) trabalhadoras(es). Classifica-se, assim, como uma pesquisa qualitativa. De acordo com Minayo (2001): A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis (MINAYO, 2001, p. 21-22). O instrumento utilizado na elaboração da pesquisa foi a entrevista não-estruturada, com o objetivo de abordar livremente o tema proposto (MINAYO, 2001), juntamente com o auxílio de um gravador portátil e uma câmera de celular. A conversa foi direcionada para cerca de oito vendedores, entre esses feirantes cinco eram do gênero feminino e três do gênero masculino. Além disso, surgiram conversas com demais feirantes em outros momentos de convívio. Foram tratadas questões como: (i) tempo de permanência na feira; (ii) origem dos produtos vendidos na banca; (iii) qual a visão dos feirantes com respeito a credibilidade dada a feira livre; dentre outros assuntos que surgiram no momento da entrevista. 19 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES A feira é constituída por três ambientes distintos, onde o primeiro cenário é assentado aos fundos do Mercado da Carne, localizada na rua Padre Moacir Melo, que por sua vez constitui uma estrutura esquematizada para fazer parte da arquitetura do mercado. Já o segundo cenário, foi delineado nas laterais do mercado, denominado de Mercado das Verduras, composto por barracas mais simples, elaboradas com estruturas de ferro e madeira além de utilizarem lonas de plástico encerado. Estes materiais facilitam o transporte e a montagem das barracas que mudam o aspecto do ambiente ao final de cada dia. A pesquisa no Mercado das Verduras foi efetivada no decorrer da semana, por se tratar de um período com pouco fluxo de consumidores e apresentar um ambiente mais calmo para dialogar com os feirantes. José Maria, 61 anos, retrata a economia da feira como “[...] o bicho mais complicado que tem! Tem hora que tá lá embaixo e tem hora que tá lá em cima! É assim ... a gente depende muitas vezes do inverno, aqui tudo é assim [...] é razoável” (JOSÉ MARIA, 2018). FIGURA 1 – José Maria Vieira Cunha por trás da sua banca, na feira livre de Ubajara, 2018. Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora. O senhor José iniciou a sua vida como feirante na infância, na época ele e sua mãe se deslocavam do sitio para o centro da cidade destinados a vender hortaliças de porta em porta, anteriormente ao período da construção do Mercado Público. Descreve que neste período poucos trabalhavam como feirantes, mas com o passar dos anos a feira ubajarense foi ganhando 20 proporção e gradualmente foram crescendo o número de vendedores e barracas, que já ultrapassam mais de cem barracas. Em um segundo momento, a entrevista foi efetivada com um casal de feirantes que iniciaram a sua jornada no mercado há cerca de oito anos. A senhora Alice Sousa, 49 anos, e o senhor Raimundo Afonso, 67 anos, trabalham diariamente com produtos comprados na Ceasa de Tianguá, local que promove a comercialização de produtos da hortifruticultura a nível de atacado da região da Ibiapaba. Já outra parcela das hortifrútis do senhor Raimundo, deriva da cidade de Ipu e uma terceira parte é comprada de fornecedores locais. O terceiro cenário da feira, e não menos importante, é localizado na rua José Rufino Pereira, próximo a igreja Matriz, onde ainda funciona o Mercado Central da cidade, datado de 1944. Neste ambiente as barracas também são modestas, de fácil transporte e de rápida montagem, uma vez que essa feira ocorre somente aos domingos e é composta em sua maioria por vendedores que moram em localidades vizinhas. No decorrer da semana, os três Mercados funcionam normalmente com poucos feirantes durante a manhã, já que o dia para os vendedores começa antes mesmo do galo cantar, e segue emendando um pouco com a tarde. No Mercado Central, localizado na rua José Rufino Pereira, estão situados diversos vendedores de feijão, arroz, farinha de mandioca e goma. No espaço, também funcionam pequenos estabelecimentos que servem comidas caseiras e vendem bebidas alcoólicas, caracterizando o mercado como um ambiente intenso e dinâmico. As feiras que ocorrem aos arredores do Mercado Central, que acontecem somente aos domingos pela parte da manhã, trazem feirantes de diversas localidades, como Tianguá, Quatiguaba, Viçosa do Ceará e sítios próximos a Ubajara. Por possuir um maior fluxo de vendedores, os produtos oferecidos vão desde as tradicionais hortifrútis, os folhosos, as especiarias e os jarros de plantas. Passando por vendedoras de gomas para tapiocas, petas, rapaduras e doces típicos, até chegar nos comerciantes de calçados, roupas e bijuterias. 21 FIGURA 2 – Hortifrútis das bancas do Mercado das Verduras, na feira livre de Ubajara, 2018. Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora. A senhora Raimunda Rodrigues, 54 anos, trabalha como feirante há cerca de dez anos. No decorrer da semana ocupa-se em seu comércio na cidade de Tianguá destinada na venda de temperos secos, assim derivado por ela, como alhos de diversos tamanhos, cebolas, orégano, pimenta do reino, urucum, dentre outros. Em um estágio da entrevista, dona Raimunda expressa um pouco da sua religiosidade, motivação diária para iniciar os trabalhos: [...] eu sempre costumo falar para Nossa Senhora! Quando vou sair cedo, sempre rezo de manhã “esse é o meu sustento, por isso abençoa a minha viagem, a minha ida e volta, me envia freguês e abençoa cada freguês que for na minha banca, porque é lá de onde eu tiro o meu sustento e a minha sobrevivência”. (DONA RAIMUNDA, 2018) Em um dado momento de correria na feira, a senhora Analice Maria, 40 anos, reservou um pouco do seu tempo para falar sobre as mercadorias da sua banca. A vendedora conta que fornece para a população preparações caseiras feitas a partir da goma fresca extraída da mandioca, tubérculo bastante apreciado na região. 22 FIGURA 3 – Produtos como o mel e o urucum também estão disponíveis em algumas barracas da feira livre de Ubajara, 2018. Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora. Os produtos dispostos na sua barraca são artesanalmente produzidos à base de óleo de coco. A banca é composta por petas tradicionais e coloridas, palmas, sequilhos, biscoitos de polvilho, dentre outros, todos feitos pelas mãos da dona Analice. A feirante é moradora da cidade de Tianguá e se encontra no ramo das feiras há cerca de 20 anos, mulher solteira e mãe de duas filhas menores de idade, relata que “[...] eu mesmo sustento minhas filhas e a gente vive uma vida em estágio normal, acredito que dá para suprir as necessidades”. (ANALICE MARIA, 2018) FIGURA 4 – Mercadorias artesanais dispostas na barraca da dona Analice Maria, feira livre de Ubajara, 2018. Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora. 23 Para alguns feirantes, o desenvolvimento da cidade não afetou muito os negócios, afinal os períodos do comércio de hortifrútis sempre têm seus altos e baixos, e afirmam possuir clientes fixos. Já para outros vendedores o que afeta o comércio, na verdade, é a concorrência entre as barracas, uma vez que cresceo número de bancas dispostas nas feiras principalmente aos domingos. Vale ressaltar que para estes feirantes o comércio de hortifrútis é a única fonte de renda, dentre esses muitos desconhecem outras formas de sobreviver dentro da sociedade. FIGURA 5 – Vista lateral da feira livre de Ubajara durante a semana, 2018. Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora. FIGURA 6 – Balança utilizada para pesar as hortifrútis, feira livre de Ubajara, 2018. Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora. 24 FIGURA 7 – Registros da entrevista realizada com a feirante Maria de Fátima, feira livre de Ubajara, 2018. Fonte: Arquivo pessoal da pesquisadora. 25 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao se aprofundar no ambiente da feira livre de Ubajara, são notáveis a simplicidade e a fraternidade dos feirantes, sempre dispostos a ensinar e aprender um pouco mais com cada pessoa que passa pela sua banca. As histórias, por mais modestas que sejam, expõem o quanto aquele trabalho é significativo para elas ou eles, e que representam a composição do passado da cidade. Nesse contexto, pode-se observar que atualmente os ideais de comercialização de produtos, sejam de gêneros alimentícios ou não, continuam sendo praticados erroneamente. Basicamente são grandes potências controlando e explorando certas parcelas da população, além de insistir em abusar dos recursos oferecidos pela natureza. As feiras são ambientes tradicionais e excepcionais, em meio a tanta modernidade. São espaços que oferecem uma gama diversa de conhecimentos populares, trazendo histórias de pessoas que possuem o mínimo para sobreviver, narrativas que se misturam com o cenário da cidade tornando-a cada vez mais bela. Ambientes que necessitam de uma atenção especial, e com isso gerar uma maior valorização do trabalho como feirante e dos espaços abordados por elas ou eles. O papel da gastronomia nesse conjunto de narrativas é trazer para dentro da realidade da sociedade o conceito da “comida de verdade”, ou seja, expor as raízes da alimentação cotidiana. Os ancestrais desfrutavam de utensílios rústicos e insumos de qualidade para preparar suas refeições, que com o passar dos séculos, juntamente com a evolução, sofreu significativas transformações, modificando quase totalmente o espaço da cozinha. Hoje em dia a gastronomia, que também possui papel significativo na história, vem buscando realizar o resgate dos costumes alimentares baseado em riqueza de sabores e texturas. A alimentação, se bem explorada, é capaz de transformar as estruturas da sociedade, da cultura e da economia. As feiras são lugares que proporcionam uma enorme variedade e disponibilidade de produtos alimentícios, que enriquecem os olhos e o paladar de qualquer cozinheiro. São locais que carregam muita história, que contêm pessoas de verdade dispostas a acordar cedo para sair em busca do desconhecido, procurando sempre oferecer aquilo de melhor que a natureza disponibiliza. Assim, a pesquisa conseguiu atingir todos os pontos descritos nos objetivos, tanto no geral, como nos específicos, caracterizando um trabalho que traz à tona os discursos sobre o 26 desenvolvimento dos centros urbanos relacionados com a trajetória dos espaços tradicionais destes. Desse modo, a pesquisadora pôde adquirir maiores saberes a respeitos das feiras e sabores quantos aos alimentos que são oferecidos por lá. 27 REFERÊNCIAS ASPECTOS gerais do munícipio de Ubajara. Ubajara: [s.n.], [1999?]. AZEVEDO, F. F.; QUEIROZ, T. A. N. As feiras livres e suas (contra)racionalidades: periodização e tendências a partir de Natal-RN-Brasil. Revista Bibliográfica De Geografia Y Ciências Sociales, Barcelona, 2012. BOECHAT, P. T. V.; SANTOS, J. 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