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ALEXANDRE MAGNO DE SOUSA - ALIMENTOS TRADICIONAIS DE CAÇA DOS ÍNDIOS KANINDÉ DE ARATUBA-CE-ALDEIA FERNANDES

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Prévia do material em texto

1 
 
 
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ 
CAMPUS DE BATURITÉ 
GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIA EM GASTRONOMIA 
 
 
 
 
ALEXANDRE MAGNO DE SOUSA 
 
 
 
 
ALIMENTOS TRADICIONAIS DE CAÇA DOS ÍNDIOS KANINDÉ DE ARATUBA-
CE: ALDEIA FERNANDES 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BATURITÉ 
2015
 2 
 
ALEXANDRE MAGNO DE SOUSA 
 
 
 
 
 
ALIMENTOS TRADICIONAIS DE CAÇA DOS ÍNDIOS KANINDÉ DE ARATUBA-
CE: ALDEIA FERNANDES 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
como requisito parcial à obtenção do título de 
Tecnólogo em Gastronomia. 
 
Orientadora: Prof. Drª. Anna Erika Ferreira 
Lima. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
BATURITÉ 
2015 
 3 
 
ALEXANDRE MAGNO DE SOUSA 
 
 
 
 
 
ALIMENTOS TRADICIONAIS DE CAÇA DOS ÍNDIOS KANINDÉ DE ARATUBA-
CE: ALDEIA FERNANDES 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado 
como requisito parcial à obtenção do título de 
Tecnólogo em Gastronomia. 
 
 
Aprovada em: ___/___/___. 
 
BANCA EXAMINADORA 
 
________________________________________ 
Prof. Drª. Anna Erika Ferreira Lima (Orientador) 
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) 
 
_________________________________________ 
Prof. Drª. Marcia Maria Leal de Medeiros 
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) 
 
_________________________________________ 
Prof. Esp. Roberto José de Araújo 
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) 
 4 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Às minhas mães, Silvanete de Sousa e Maria 
Goreth Costa de Jesus, aos meus pais Luís 
Rocha de Souza (in memoriam) e Aluísio 
Rocha de Souza. E a toda minha família, pelo 
apoio. 
 5 
 
AGRADECIMENTOS 
A Deus, pela vida, a Òsàgiyán, por me proporcionar força para continuar, a 
Òsóòsì, por me proteger e ofertar tantas caças no meu caminho, e a todos os orixás. 
Ao Seu Cicero Pereira dos Santos e Dona Azenilda, que me hospedaram em sua 
residência em todas as visitas que fiz na Aldeia, oferecendo-me casa e comida. 
Às minhas amigas, e por que não chama-las de mães, Dona Lucia Brito, Dona 
Jucilene e Dona Tereza que me receberam de braços abertos em suas residências e que foram 
de primordial importância na construção do nosso trabalho. 
Aos caçadores, Seu José Maciel, Seu João Maciel, Seu Zé Brito e Cleilson, os 
quais sempre tiveram paciência comigo e que também foram de imensurável importância na 
construção do nosso trabalho. 
Ao Cacique Sotero que também foi de fundamental ajuda na construção do 
trabalho. 
À minha amiga Rildelene dos Santos Silva que me deu apoio e que sempre me 
recebeu tão bem em sua casa. 
Aos índios Kanindé de Aratuba por todo apoio recebido e cujo presente trabalho 
se configura para eles e é deles. 
Aos meus pais, Luís Rocha de Souza (in memoriam) e Silvanete de Sousa pela 
educação, pelo amor, por acreditar em mim e investir de todas as maneiras para minha 
formação. 
Ao meu irmão, Vinícios Rocha de Souza, e minha cunhada, Renata Abreu 
Silvério de Souza, por todo o investimento, apoio, orientação na minha vida acadêmica, 
paciência e companheirismo em todas as horas que precisei. 
 À minha família, por todo amor, apoio e incentivo. 
Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE, 
Campus Baturité, por ter sido minha segunda casa durante o curso. 
À Profª Drª. Anna Erika Ferreira Lima, pela confiança depositada em mim ao me 
oferecer as bolsas de pesquisa e extensão que deram origem ao presente trabalho e tanto 
contribuíram na minha vida acadêmica e, além disso, que oportunizaram meu encontro com a 
comunidade indígena Kanindé de Aratuba. Ademais, sou grato pela orientação e pela 
apresentação do tema deste trabalho - o qual me apaixonou e levo para minha vida com tanto 
carinho - e pela ligação criada entre mim, a professora e a comunidade, intermediada pelo 
NEABI. 
 6 
 
Aos professores e servidores do Instituto Federal de Educação, Ciência e 
Tecnologia do Ceará, Campus Baturité, em especial ao Prof. Roberto José Araújo e à Prof. 
Drª. Marcia Maria Leal de Medeiros, que aceitaram o convite para compor a banca de 
avaliação deste trabalho. 
Ao Prof. Amiltom César de Sousa Marques pela correção do resumé. 
À Pró-reitoria de extensão e ao CNPQ, Conselho Nacional de Desenvolvimento 
Científico e Tecnológico, pelo projeto. 
Às amigas de faculdade, Camila Catunda Maciel, Gabriela Nogueira, Graziela 
Souza Baltazar e Gysseli Franco que sempre me apoiaram e deram-me forças. 
Às amigas de batalha, Fernanda Maria Lobo Josino, minha alma gêmea, e Isabelle 
Costa Valentim. 
À minha amiga Aline Holanda Casciano, a qual sempre me ajudou nos momentos 
que precisei. 
A todas as amizades que fiz durante o meu ciclo de estudos no IFCE e em 
Baturité, que sempre estiveram comigo quando eu precisava, tanto para motivos acadêmicos 
como nos momentos de descontração. 
Aos meus amigos da época de colégio, por me apoiarem, por entenderem minha 
ausência, pela cumplicidade e união depois de tanto tempo. 
À turma de gastronomia 2013.1, pelos anos que passamos juntos, pelos trabalhos 
construídos, pela união. 
Aos terceirizados que trabalham no Instituto Federal de Educação, Ciência e 
Tecnologia do Ceará – IFCE, Campus Baturité, que sempre me trataram bem, em especial 
Amanda Brasil. 
Ao colega de trabalho Ezequiel Andrew Ângelo Barroso Vieira pelas fotografias 
tiradas com tanto esmero e precisão. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 7 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
“rapaz, vai depender... da sorte e do local que 
a gente arma.” 
(José Maciel) 
 8 
 
RESUMO 
 
No final da década de 1970, a questão indígena passou a ser tema de relevância no âmbito da 
sociedade civil. No Ceará, em 1980, inicia-se o processo de mobilização política indígena. 
Nos últimos anos, a questão da preocupação com a segurança alimentar e nutricional em 
sociedades indígenas e os estudos voltados para a antropologia da alimentação em sociedades 
indígenas vêm se destacando como um importante fator de preservação da cultura indígena e 
está diretamente ligado à luta e às resistências por seu território. Buscar interação social com 
povos indígenas e comunidades tradicionais foi o foco de umas das pesquisas do primeiro 
Núcleo de Estudos Afro Brasileiros e Indígenas (NEABI) do Instituto Federal de Educação 
Ciência e Tecnologia, do Ceará - Campus Baturité. Nesse contexto, o presente trabalho teve 
como objetivo geral levantar os alimentos tradicionais de caça da Aldeia indígena Kanindé de 
Aratuba e como objetivo especifico, a pesquisa descreve o exercício da caça Kanindé, o 
ontem e o hoje; o exercício de construção das armadilhas artesanais; a maneira entre o 
passado e o presente do consumo das caças e desenvolve uma descrição densa de tais 
alimentos. A metodologia utilizada contou com uma revisão bibliográfica como forma de 
obtenção de conhecimento prévio e aprofundamento sobre a temática em questão e teve como 
principal fonte as conversas com os habitantes locais que fazem o preparo dos alimentos 
tradicionais e caçam, destacando principalmente as mulheres da comunidade e os principais 
caçadores, em que foram realizadas entrevistas semiestruturadas com os mesmos. Nesse 
contexto, foram identificados vinte alimentos, desde sua caça ao seu modo de pré-preparo e 
preparo. Tendo em vista transmitir os conhecimentos e práticas tradicionais, a fim de 
preservar a cultura culinária tradicional de um povo. 
 
Palavras-chave: Alimento tradicional, Caça, Kanindé de Aratuba. 
 9 
 
RÉSUMÉ 
 
À la fin des années 1970, la question autochtone est devenu un sujet pertinent au sein de la 
société civile. Au Ceará, en 1980 a eu lieu le processus de mobilisation politique indigène. Au 
cours des dernières années, lesujet de préoccupation pour la sécurité alimentaire et la 
nutrition dans les sociétés indigènes et des études axées sur l'anthropologie de l'alimentation 
dans les communautés autochtones sont apparues comme un facteur important de 
conservation de la culture indigène et celle-là est directement reliée à la lutte et la résistance 
pour leur territoire. Cherchez l'interaction sociale avec les peuples indigènes et les 
communautés traditionnelles a été l'objet d'une recherche du premier Centre d’Études Afro 
Brésiliens et des études indigènes (NEABI) de l'Institut Fédéral de l'Éducation Sciences et 
Technologie – Campus de Baturité. Dans ce contexte, cette étude a comme but principal 
présenter les aliments traditionnels de la chasse du village indien Kanindé de Aratuba et 
comme objectif précis, la recherche décrit l'exercice de la chasse Kanindé, hier et 
d'aujourd'hui; l'exercice de construction de pièges artisanaux; la façon de consommation de la 
chasse au passé et au présent et on développe une description dense de ces aliments. La 
méthodologie utilisée comprenait un examen de la littérature afin d'obtenir les connaissances 
antérieures et l'approfondissement sur le thème en question. On a eu comme principales 
sources de cette étude les conversations avec les habitants locaux qui font la préparation des 
aliments traditionnels et qui chassent, en soulignant en particulier les femmes de la 
communauté et les Chasseurs de tête, où on a eu les entrevues semi-structurées avec eux . En 
ce contexte on a identifié vingt types d’aliments dès leur chasse à leur méthode de 
préparation. Afin de transmettre les connaissances et les pratiques traditionnelles et de 
préserver la culture culinaire traditionnelle d'un peuple. 
 
Mots-clés: aliments traditionnels, la chasse, Kanindé de Aratuba. 
 
 
 
 
 
 
 
 10 
 
LISTA DE ILUSTRAÇÕES 
 
Figura 1 - Mapa das etnias do Ceará.........................................................................................21 
Figura 2 - Aldeia Kanindé de Aratuba Sitio Fernandes ...........................................................31 
Figura 3 - Terra indígena Kanindé no período da seca.............................................................35 
Figura 4 - Terra Indígena Kanindé de Aratuba no período chuvoso .......................................36 
Figura 5 - Artigos de caça (peles, partes de animais e animais inteiros) em exposição do 
museu .......................................................................................................................38 
Figura 6 - Rajado (localidade da Aldeia Fernandes) ................................................................40 
Figura 7 - Tocaia de caça .........................................................................................................41 
Figura 8 - Taiados de pedra ......................................................................................................42 
Figura 9 - Pedra do Gavião (Localidade da Aldeia Fernandes) ...............................................43 
Figura 10 - João Maciel na Terra da Gia com um Mocó na mão ............................................45 
Figura 11- Srª Lucia Brito com um Bornó ...............................................................................46 
Figura 12 - Garrafa de água para a caçada................................................................................46 
Figura 13 - Estrutura do Quixó (fêmea, macho e vaqueta da isca)...........................................48 
Figura 14 - Exemplo de Quixó .................................................................................................48 
Figura 15 - Gaiola de caçar Tatu (Dasypus novemcinctus) ou Tatu Peba (Euphractus 
sexcintus) .................................................................................................................49 
Figura 16 - Forjo para pegar Preá (Galea Spixii) .....................................................................50 
Figura 17 - Sr. José Sousa Brito retirando o Galão do saco .....................................................51 
Figura 18 - Espingarda de caça ................................................................................................53 
Figura 19 - Carne de Preá (Galea Spixii) assada na brasa........................................................58 
Figura 20 - Mocó (Kerodon Rupestris).....................................................................................59 
Figura 21 - Carne de Mocó (Kerodon Rupestris) torrada ........................................................60 
Figura 22 - Carne de Mocó (Kerodon Rupestris) tratada .........................................................61 
Figura 23 - Carne de Mocó (Kerodon Rupestris) escaldada ....................................................62 
Figura 24 - Carne de Mocó (Kerodon Rupestris) temperada....................................................62 
Figura 25 - Preá (Galea Spixii).................................................................................................63 
Figura 26 - Carne de Preá (Galea Spixii) cozida (artesanato não pertencente à cultura 
Kanindé)................................................................................................................65 
Figura 27 - Carnes de caça. Em cima, carrne de Gato Maracajá (Leopardus pardalis mitis). 
Em baixo, carne de Preá (Galea Spixii)...............................................................66 
Figura 28 – Carne de Preá (Galea Spixii) temperada e já cozida .............................................66 
 11 
 
Figura 29 - Punaré (Thrichomys apereoides)............................................................................67 
Figura 30 - Tatu Peba (Euphractus sexcintus)..........................................................................69 
Figura 31 - Carne de Tatu Peba (Euphractus sexcintus), (artesanato não pertencente à cultura 
Kanindé).................................................................................................................70 
Figura 32 - Carne de Tatu Peba (Euphractus sexcintus)...........................................................71 
Figura 33 - Avoante (Zenaida auriculata)................................................................................72 
Figura 34 - Peixe Bodó (Liposarcus pardalis)..........................................................................74 
Figura 35 - Carne de Bodó (Liposarcus pardalis) cozida, (artesanato não pertencente à cultura 
Kanindé).................................................................................................................76 
Figura 36 - Carne de Bodó (Liposarcus pardalis) retirada do sol ...........................................76 
Figura 37 - Carne de Bodó (Liposarcus pardalis) temperada..................................................77 
Figura 38 - Galinha D’água (Gallinula chloropus) .................................................................78 
Figura 39 - Carne de Galinha D’água (Gallinula chloropus), (artesanato não pertencente à 
cultura Kanindé).....................................................................................................79 
Figura 40 - Carne de Galinha D’água (Gallinula chloropus) tratada.......................................79 
Figura 41 - Carne de Galinha D’água (Gallinula chloropus) temperada.................................80 
Figura 42 - Carne de Galinha D’água (Gallinula chloropus) torrada.......................................80 
Figura 43 - Gambá de Orelha Branca (Didelphis albiventris)..................................................81 
Figura 44 - Carne de Cassaco (Didelphis albiventris) torrada com Baião de dois ..................82 
Figura 45 - Carne de Cassaco (Didelphis albiventris) tratada .................................................83 
Figura 46 - Carne de Cassaco (Didelphis albiventris) temperada............................................83 
Figura 47 - Carne de Cassaco(Didelphis albiventris) torrada.................................................84 
Figura 48 - Jacucaca (Penelope jacucaca)...............................................................................84 
Figura 49 - Jacupemba (Penelope superciliaris)......................................................................85 
Figura 50 - Juriti (Leptotila verreauxi).....................................................................................87 
Figura 51 - Carne de Juriti (Leptotila verreauxi) cozida, (artesanato não pertencente a cultura 
Kanindé) ................................................................................................................88 
Figura 52 - Carne de Juriti (Leptotila verreauxi) temperada e cozida .....................................88 
Figura 53 - Quandú (Coendou baturitensis- nova espécie) .....................................................89 
Figura 54 - Teiú (Tupinambis merianae)..................................................................................91 
Figura 55 - Tatu Galinha (Dasypus novemcinctus)...................................................................93 
Figura 56 - Iguana verde (Iguana iguana) ...............................................................................95 
Figura 57 - Gato Maracajá (Leopardus pardalis mitis)............................................................96 
 12 
 
Figura 58 - Carne de Gato Maracajá (Leopardus pardalis mitis) cozida, (artesanato não 
pertencente à cultura Kanindé)...............................................................................98 
Figura 59 - Carnes de caça. Em cima, carde de Gato Maracajá (Leopardus pardalis mitis). Em 
baixo, carne de Preá (Galea Spixii)........................................................................98 
Figura 60 - Carne de Gato Maracajá (Leopardus pardalis mitis) temperada e já cozida ........99 
Figura 61 - Pixuna (Lasiurus Necromys)..................................................................................99 
Figura 62 - Tamanduá-Mirim ou Tamanduá-de-Colete (Tamandua tetradactyla).................101 
Figura 63 - Veado Catingueiro (Mazama gouazoubira).........................................................103 
Figura 64 - Jirita (Conepatus semistriatus).............................................................................104 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 13 
 
LISTA DE MAPAS 
 
Mapa 1 - Localização da Aldeia Kanindé de Aratuba-CE. ......................................................17 
Mapa 2 - Localização da Aldeia Kanindé de Aratuba-CE. ......................................................28 
Quadro 1 - Artigo 231 da Constituição Federal de 1988..........................................................32 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 14 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
AIKA Associação Indígena Kanindé de Aratuba 
CE Ceará 
FISHBASE Catalogo de peixes 
FUNAI Fundação Nacional do Índio 
GM Glutamato Monossódico 
IFCE Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará 
IUCN União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais 
LABOCART Laboratório de Cartografia da UFC 
NEABI Núcleo de estudos afro-brasileiro e indígena 
REPTILE DB Base de Dados de Repteis 
SAN Segurança Alimentar e Nutricional 
UFC Universidade Federal do Ceará 
UNILAB Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 15 
 
SUMÁRIO 
 
1 PROBLEMATIZAÇÃO ..........................................................................................17 
2 A CONSTRUÇÃO DE UMA CAMINHADA – PROCEDIMENTOS 
METODOLÓGICOS ...............................................................................................20 
3 ALIMENTOS TRADICIONAIS.............................................................................23 
3.1 Entre conceitos e diferenciações: Alimentos como pauta, entre cultura e 
tradição .....................................................................................................................24 
3.2 A contribuição dos alimentos tradicionais para a garantia da segurança 
alimentar e nutricional ............................................................................................26 
4 O POVO INDÍGENA KANINDÉ DE ARATUBA, ALDEIA FERNANDES – 
CEARÁ .....................................................................................................................29 
4.1 Sua História e Histórias ...........................................................................................30 
4.2 “Agente nasce, agente vive, agente morre, mas nosso povo sempre viverá nessa 
terra”. (Povo Kanindé): Situação da terra ............................................................33 
4.3 Potencialidades da Terra Kanindé: A fauna em foco ...........................................35 
5 A CAÇA NA ALDEIA: PARA ALÉM DA PRÁTICA A RELAÇÃO COM A 
NATUREZA .............................................................................................................38 
5.1 Para as práticas e o respeito à natureza: O exercício da caça Kanindé ..............39 
5.2 Caçadores e Engenheiros: O exercício de construção das armadilhas ...............47 
6 ALIMENTOS TRADICIONAIS DE CAÇA DA COMUNIDADE ÍNDIGENA 
KANINDÉ DE ARATUBA, ALDEIA FERNANDES ..........................................54 
6.1 O ontem e o hoje: Do que foi consumido ao que hoje se perpetua entre caças e 
elaborações ................................................................................................................55 
6.2 A Caça e a elaboração: Passo a Passo e segredos revelados da Caça Kanindé 
.....................................................................................................................................57 
6.2.1 Alimentos que continuam sendo frequentemente consumidos na Aldeia 
.....................................................................................................................................58 
6.2.1.1 Mocó (Kerodon Rupestris) ........................................................................................59 
6.2.1.2 Preá (Galea Spixii) ....................................................................................................63 
6.2.1.3 Punaré (Thrichomys apereoides) .............................................................................67 
6.2.1.4 Tatu Peba (Euphractus sexcintus) ..........................................................................69 
6.2.2 Alimentos não frequentemente consumidos ..........................................................72 
6.2.2.1 Avoante (Zenaida auriculata) ..................................................................................72 
 16 
 
6.2.2.2 Bodó (Liposarcus pardalis) ......................................................................................74 
6.2.2.3 Galinha D’água (Gallinula chloropus) ...................................................................77 
6.2.2.4 Gambá de orelha branca (Didelphis albiventris) ...................................................81 
6.2.2.5 Jacucaca (Penelope jacucaca) ..................................................................................84 
6.2.2.6 Jacupemba (Penelope superciliaris) ........................................................................85 
6.2.2.7 Juriti (Leptotila verreauxi) .......................................................................................86 
6.2.2.8 Quandú (Coendou baturitensis- nova espécie) .......................................................89 
6.2.2.9 Teju (Tupinambis merianae) ...................................................................................91 
6.2.2.10 Tatu Galinha (Dasypus novemcinctus) ...................................................................936.2.3 Alimentos não mais consumidos .............................................................................94 
6.2.3.1 Camaleão (Iguana) ...................................................................................................95 
6.2.3.2 Gato Maracajá (Leopardus pardalis mitis) .............................................................96 
6.2.3.3 Pixuna (Lasiurus Necromys).....................................................................................99 
6.2.3.4 Tamanduá-de-Colete(Tamandua tetradactyla) ....................................................100 
6.2.3.5 Veado Catingueiro (Mazama gouazoubira) ..........................................................102 
6.2.3.6 Jirita (Conepatus semistriatus) ..............................................................................104 
7 CONSIDERAÇOES FINAIS ................................................................................107 
REFERENCIAS ...................................................................................................................111 
APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS 
APÊNDICE B – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS 
APÊNDICE C – ENTREVISTAS COM OS INDIOS KANINDÉ DE ARATUBA 
ANEXO A – MODELO DE AUTORIZAÇÃO UTILIZADO NA PESQUISA DE 
CAMPO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 17 
 
1 PROBLEMATIZAÇÃO 
 
A presente pesquisa surgiu com o intuito de identificar os alimentos tradicionais da 
Aldeia Indígena Kanindé de Aratuba, e catalogar aqueles provenientes da caça, considerando, 
assim, suas técnicas. Nós nos deparamos com o quanto o alimento representa para um povo, 
no qual não vem apenas para manter a vida, mas – sim - representando sua identidade, 
surgindo nessa perspectiva uma forma de resistência, a qual para os povos indígenas e demais 
comunidades tradicionais tem um significado relevante, já que sua terra representa a 
permanência de suas culturas, tradições e conhecimentos. Por fim, os alimentos também estão 
ligados às nossas memorias mais ingênuas, que retratam os bons momentos da vida. 
“No Brasil são escassas as pesquisas sobre o conhecimento e utilização que grupos 
indígenas e comunidades tradicionais (ribeirinhos, pescadores artesanais, extrativistas, 
quilombolas, etc), fazem da biodiversidade local” (DIEGUES, 1999, p. 35). 
Considerando a Região do Maciço de Baturité, cuja composição perpassa pelo 
quantitativo de quatorze municípios, pode-se identificar uma expressiva sociobiodiversidade, 
uma vez que tal área, além dos elementos faunísticos e florísticos que lhe classificam como 
uma área de exceção no Estado do Ceará, possui, também, uma série de grupos sociais que se 
utilizam da natureza como forma de sobrevivência e complementação de renda. Assim, dentre 
esses grupos, o Campus Baturité têm a dois anos e meio iniciado atividades de pesquisa e 
extensão na Aldeia Kanindé de Aratuba – Ceará e visou efetivar uma identificação dos 
alimentos tradicionais. 
Entretanto, como toda pesquisa, o olhar do pesquisador permite enveredar para outros 
caminhos, quando são descobertos fatos novos. Dessa forma, ao passo que se desenvolvia a 
pesquisa inicial, observou-se que a alimentação com base proteica ainda resistia às mudanças 
da cultura alimentar dos índios Kanindé, sendo que esta, principalmente, aos finais de semana 
e momentos comemorativos, advinha da caça, uma atividade considerada de subsistência 
durante décadas por esse grupo social e hoje tomada como lazer, além de ser vista e defendida 
pelos índios como uma de suas expressões culturais. 
Para se alcançar o objetivo geral da pesquisa, foi necessário estabelecer, no referencial 
teórico, uma discussão dialógica com autores que trabalham com conceitos como: comida, 
alimentos tradicionais e alimentos típicos com o intuito de responder alguns questionamentos, 
os quais: Até onde o alimento se torna tradicional? O que é um alimento tradicional? Um 
alimento tradicional estaria ligado à sua origem geográfica? Ou à sua tradição e resistência? 
Talvez o tipo de matéria prima utilizada? e Como esses alimentos podem contribuir para a 
 18 
 
garantia da segurança alimentar e nutricional, na qual a mesma implica no respeito e na 
preservação da cultura alimentar de cada povo e promove o acesso regular e permanente a 
alimentos de qualidade que consistem na sua saúde? 
Nesse contexto, foi possível descrever o exercício da caça Kanindé; o ofício de 
construção das armadilhas e desenvolver uma descrição densa de tais alimentos; optando 
pelos mais significativos da Aldeia, conforme indicados pelos índios, visando, assim, 
constituir um registro no qual constem os saberes tradicionais que portam, técnicas e artefatos 
utilizados na sua produção, seus significados sociais e culturais, proporcionando um 
conhecimento acerca de dados histórico-culturais relacionados aos alimentos tradicionais da 
Aldeia dos Índios Kanindés de Aratuba – CE. 
 
Mapa 1 – localização da Aldeia Kanindé de Aratuba-CE 
 
Fonte: LABOCART (Laboratório de Cartografia da UFC) 
 
 19 
 
A presente pesquisa propõe registrar a cultura alimentar dos Índios Kanindés, por 
meio de uma catalogação para que a mesma não se perca com o tempo, bem como difundir os 
conhecimentos relacionados aos hábitos alimentares dessa comunidade indígena, além de 
revelar as futuras gerações a importância da identidade cultural por meio da alimentação de 
seu povo, tentando fazer com que esses alimentos sejam reconhecidos como mais um 
importante fator de preservação dentro da cultura da Aldeia dos Índios Kanindés de Aratuba-
CE, (MAPA 1), também conhecida como Aldeia Fernandes, localizada a 130 km da capital, 
Fortaleza, que conta com 210 famílias, totalizando 942 índios residentes na Aldeia, todos 
estes cadastrados na FUNAI (Fundação Nacional do Índio), residindo em terras indígenas e 
em processo de territorialização. 
Ademais a pesquisa é parte integrante do projeto intitulado, - Alimentos tradicionais: 
uma geografia da cultura alimentar do Maciço de Baturité - CE e do primeiro Núcleo de 
Estudos Afro-brasileiro e Indígenas (NEABI)
, do
 Instituto Federal de Educação, Ciência e 
Tecnologia (IFCE - Campus Baturité). 
Para a realização da pesquisa, a metodologia utilizada contou com uma revisão 
bibliográfica como forma de obtenção de conhecimento prévio e aprofundamento sobre a 
temática em questão. Teve como principal fonte as conversas com os habitantes locais que 
fazem o preparo dos alimentos tradicionais e caçam, destacando principalmente as mulheres 
da comunidade e os principais caçadores, em que foram realizadas quatorze entrevistas 
semiestruturadas com os mesmos (APÊNDICE C). Os áudios coletados em entrevistas 
nortearam de forma significativa o presente trabalho, pois a análise dos mesmos foi para a 
comprovação de dados discorridos em roda de conversas. 
Nesse contexto, foram identificadas e acompanhadas a forma de preparação dos 
seguintes pratos: Avoante (Zenaida auriculata), Bodó (Liposarcus pardalis), Gambá de 
orelha branca (Didelphis albiventris), Galinha D’água (Gallinula chloropus), Jacucaca 
(Penelope jacucaca), Jacupemba (Penelope superciliaris), Jirita (Conepatus semistriatus), 
Juriti (Leptotila verreauxi), Mocó (Kerodon Rupestris), Preá (Galea Spixii), Punaré 
(Thrichomys apereoides), Tatu Peba (Euphractus sexcintus), Camaleão (Iguana), Gato 
Maracajá (Leopardus pardalis mitis), Pixuna (Lasiurus Necromys), Quandú (Coendou 
baturitensis- nova espécie), Tamanduá-de-Colete(Tamandua tetradactyla), Tatu Galinha 
(Dasypus novemcinctus), Teju (Tupinambis merianae) e Veado Catingueiro (Mazama 
gouazoubira). 
 20 
 
A construção do estudo aponta para uma pesquisa relacionada diretamente com a 
antropologia alimentar, tendo como foco transmitir os conhecimentos e práticas tradicionais, a 
fim de preservar a cultura culinária tradicional de um povo. 
 
2 METODOLOGIA 
 
Segundo Tozoni-Reis (2007), a metodologia qualitativa temsido utilizada para 
conceituar investigações cientificas que levam em considerações a importâncias dos aspectos 
qualitativos da realidade que se utilizam de instrumentos próprios que buscam revelar, 
compreender, analisar e interpretar; em que se busca responder não somente o questionamento 
“o que é isso?, mas, sim, o “porque é isso”. 
A pesquisa também se caracteriza etnográfica, afinal segundo Bogdan e Taylor (1975 
apud FINO 2003): “definiram a observação participante como uma investigação que se 
caracteriza por um período de interações sociais intensas entre o investigador e os sujeitos, no 
meio destes, durante o qual os dados são recolhidos de forma sistemática”. 
Nesse contexto, a presente pesquisa se configurou como qualitativa e etnográfica, cuja 
base é entendida como capaz de incorporar aos atos, as relações e as estruturas sociais, a 
questão do significado e da intencionalidade, decorrentes de construções, humanas 
significativas. Estudos qualitativos possibilitam o conhecimento de hábitos alimentares, a 
partir de cuidadosas observações e relatos dos sujeitos sobre a significação desse objeto da 
cultura. Em cada contexto específico, códigos da cultura podem ser decifrados e 
representações sociais podem justificar condutas, hábitos e valores. (MINAYO, 2008; 
FREITAS; MINAYO, 2009; apud PAIVA, 2011). 
As pesquisas de campo foram realizadas durante doze meses, entre Junho de 2014 e 
Junho de 2015, período em que foi estabelecido residência na Aldeia Fernandes (pontos 09 e 
10), e uma caçada realizada durante o mês de Junho de 2015 na localidade da Terra da Gia, 
dos índios Kanindé de Aratuba-CE, um dos quatorze povos indígenas organizados no estado 
do Ceará (FIGURA 1), em mobilização constante por reconhecimento étnico e delimitação 
territorial. 
 A presente pesquisa foi desenvolvida a partir de etapas dentre as quais constam: 1) 
levantamento de dados, dos quais se seguiram a organização e análise do material (entrevistas, 
bibliografias, fotos, vídeos, sites e jornais); 2) a segunda etapa foi realizada com as mulheres 
que preparam a caça e outro para os caçadores, em que constam perguntas que tratam: da 
forma de preparo, a utilização de ingredientes, como se deu o aprendizado, se é repassado, 
 21 
 
como se dá a elaboração das armadilhas, como é a caça de cada animal, ou seja, foram 
realizadas quatorze entrevistas com os moradores da região dentre os quais, líderes da 
 
Figura 1 – Mapa das Etnias do Ceará. 
 
Fonte: PALITOT, Estevão Martins (org.). Na Mata do Sabiá: contribuições sobre a presença indígena no Ceará. 
Fortaleza: Museu do Ceará/ Imopec,2009, p.35 
 
 comunidade, caçadores e mulheres, no qual tais sujeitos sociais possuíam vínculos 
diretos com esses alimentos, tendo em consideração a perspectiva da história oral. 
 22 
 
(THOMPSON, 1998) e 3) Levantamento bibliográfico referente a povos indígenas, 
comunidades e povos tradicionais, cultura, etnográfia a exemplo de autores como Gomes 
(2012), Castro (1999); Diegues (1999), a Relação entre a biodiversidade e as comunidades 
tradicionais; Cascudo (2011), História da alimentação no Brasil; Cultura alimentar, Braga 
(2004) e Sagan (1998) Bilhões e Bilhões - Reflexões Sobre Vida e Morte na Virada do 
Milênio. 
 Dentre os conceitos, abordaremos a discursão sobre alimentos com autores como 
Zuin; Zuin (2007), os quais tratam de alimentos tradicionais e da produção dos mesmos; 
Soeiro (2000), que indica a disponibilidade dos produtos tradicionais e os quais não eram 
percebidos pela sua importância nutricional; Mariot (2002), que defende a predisposição do 
consumidor em comprar um produto tradicional a fim de evitar os industrializados; Pollan 
(2008), que discute o que seria a comida de verdade e Gimenes (2011), que caracteriza o 
alimento típico. 
 Nesse sentido, será debatida a compreensão entre alimento e comida, por meio dos 
conceitos de autores como Santos (2007), o qual fala as concepções de alimento e comida na 
perspectiva das ciências humanas, em que explora o aspecto nutricional; Da Matta (1997), que 
concebe a comida como importante “código de expressão da sociedade brasileira”; Maluf 
(2007), que discute Segurança alimentar e nutricional e Salgado (2007), que discute a 
segurança alimentar e nutricional em terras indígenas. 
 Ainda foram utilizados autores que falam da fauna brasileira assim como: Machado 
et al (2008) O Livro Vermelho da Fauna Brasileira; Bonvincino et al (2008) com Guia dos 
roedores do Brasil; Cáceres (2012) Os Marsupiais do Brasil; Carvalho et al (2008) Pegadas e 
Soares (2008) que fala da fauna em lagos e Bastos (2011), que descreve as características da 
geografia da serra de Baturité. 
 Ademais, foi utilizada a Constituição da República Federativa do Brasil (1988), Lei 
6001 do Estatuto do Índio. 
Os áudios coletados em entrevistas foram transcritos na íntegra em programa de 
software: Microsoft Word 2010 e nortearam de forma significativa o presente trabalho, pois a 
análise dos mesmos foi de expressiva importância para a comprovação de dados discorridos 
em rodas de conversas. Respeitando os conceitos éticos, foi firmado, com todos os 
entrevistados, um acordo de forma a receberem e assinarem uma declaração de uso de 
imagem, nomes citações e falas (ANEXO A). 
 O registro aconteceu na forma escrita, em diário de campo, através de imagens 
obtidas com filmagens e fotografias dos pratos tradicionais, das armadilhas artesanais, da 
 23 
 
arma de fogo e dos locais da caça na Aldeia. Esse acervo possibilitou que os objetos de estudo 
fossem recuperados e recriados por intermédio da memória dos informantes, com vistas a 
constituir um quadro configurativo de referência para o desencadeamento da etapa 
etnográfica, com suas técnicas de coletas de dados, observação participante e registros orais, 
visando uma descrição densa (GEERTZ, 1989), de parte dos alimentos identificados como 
tradicionais. 
Por fim, foram realizadas análises de dados secundários através de informações em 
revistas, jornais e sites como: o site da FUNAI, site do Museu de Zoologia João Moojen da 
Universidade Federal de Viçosa, site do Instituto Chico Mendes de Conservação da 
Biodiversidade e no blog da comunidade Kanindé - que auxiliaram na análise populacional e 
histórica da Aldeia e na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN (International 
Union for Conservation of Nature). Além disso, esse percurso de investigação foi importante 
para a construção do conhecimento acerca da taxonomia e o nível de extinção das espécies. 
 
3 ALIMENTOS TRADICIONAIS 
 
É uma carne sadia que não tem gordura. As caça se alimenta só com folha de mato, é 
semente, é batata do mato né! É uma carne mais seca também né! Não é que nem a 
carne de gado, de porco essa coisas que é com mais com ração. As daqui são mais 
gostosa elas, elas não tem tanta gordura e ela não faz mal a ninguém por que ela não 
tem gordura a gordura dela é toda uma gordura sadia que não faz mal a ninguém. 
(Entrevista com Cícero Pereira dos Santos realizada em 09 de Dezembro de 214). 
 
 Conforme Zuin; Zuin (2007, p. 111), a massificação dos produtos industrializados 
denominados fast food– atualmente - contrapõem-se com a crescente procura pelos alimentos 
diferenciados. Segundo o autor, no mundo atual, as pessoas procuram alimentos de fácil 
acesso, elaboração e consumo, enfraquecendo a tradição de se ter o prazer de se alimentar, 
utilizando produtos artesanais de qualidade especial, de forma que se respeite tanto o meio 
ambiente, quanto as pessoas responsáveis pela produção. Ou seja, os produtores e sua cultura. 
 Torna-se necessário ainda compreender a concepção de alimento e comida com o 
intuito de buscar uma precisão conceitual considera-se que as concepções desses dois 
alimentos, na perspectiva das ciências humanas, exploram o aspecto nutricional. De acordo 
com Santos (2007, p. 12), 
 
O alimento constitui uma categoriahistórica, pois os padrões de permanência e 
mudança dos hábitos e práticas alimentares têm referência na própria dinâmica 
social. Os alimentos não são somente alimentos. Alimentar-se é um ato nutricional, 
 24 
 
comer é um ato social, pois constitui atitudes ligadas aos usos, costumes protocolos, 
condutas e situações. Nenhum alimento que entra em nossa boca é neutro. 
 
 Da Matta (1997), concebe comida como um importante “código de expressão da 
sociedade brasileira”, tanto quanto a política, a economia, a família, o espaço e o tempo. 
Diferencia comida de alimento, acentuando que o alimento é uma categoria mais ampla, que 
abrange o universo daquilo que pode ser ingerido para manter a vida biológica. E comida está 
relacionada às escolhas feitas dentro desse universo, guiados pelo prazer e por normas de 
comunhão e comensalidade. 
 Nesse contexto expressa-se a necessidade de pensar outro paradigma para a 
alimentação com o intuito de buscar uma alimentação, saudável, natural, que traga lembranças 
afetivas, pois também por meio dos alimentos as pessoas lembram situações, pessoas e 
eventos e que se saiba a origem desse alimento, essa seria a comida de verdade. 
 Compreendendo um pouco melhor o modelo de comida de verdade, que vai de 
encontro ao modelo capitalista voltado para a alimentação imposto à sociedade, segundo 
Pollan (2008, p. 22), “quem come agora tem opções reais, e essas opções tem consequências 
reais para a nossa saúde, para a saúde da terra e para a saúde da nossa cultura alimentar”. 
 
A redescoberta dos produtos tradicionais deve-se, em muito, a busca do consumidor 
por um alimento mais saudável, natural, saboroso e de origem conhecida, 
identificando nos alimentos tradicionais esse tipo de atributo. Alguns estudos 
indicam que o consumidor se dispõe a pagar mais caro, caso seja necessário, por 
esse tipo de produto em relação a um similar industrializado (MARIOT, 2002, p. 
114). 
 
 Segundo Zuin; Zuin (2007, p. 117), “o resgate ou a redescoberta das tradições 
gastronômicas, da nossa região, da nossa família é, com certeza, o espaço do encontro e da 
partilha dos saberes entre gerações, e conservá-las, é uma forma de valorizar a cultura, o 
produtor, a agricultura e o turismo”. 
 Portanto, alimento é cultura, identidade, símbolo e está ligado à história e às 
tradições culturais de toda uma comunidade cujo consumo remete à cultura do local, uma vez 
que a gastronomia de um lugar traduz toda uma herança cultural, o clima, a situação 
geográfica, o solo, a história, entre outros. 
 
3.1 Entre conceitos e diferenciações: Alimentos como pauta, entre cultura, tradição e 
identidades. 
 
 25 
 
Eu acho uma coisa muito alegre, é muito alegre você chegar nesse fogão a lenha ai 
eu tenho o meu fogão a gás mas eu uso mais é prum café, prum mingal do menino 
alguma coisa de rápido. Mas eu todo dia faço o meu fogo por que eu acho bom é 
bota a minha panela ali e aquele fogo subir ali é muito gostoso isso é muito animado 
pra gente. (Entrevista com Dona Lucia Brito realizada em 12 de Dezembro de 2014). 
 
Afinal, o que é tradicional? De acordo com Aurélio (1988, p. 643), “tradicional é: adj. 
2 g. 1. Relativo ou pertencente à tradição. 2. Conservado na tradição”. “Tradição: S. f. 1. Ato 
de transmitir ou entregar. 2. Transmissão oral de idade em idade, geração em geração”. 
Um alimento tradicional estaria ligado à sua origem geográfica? Ou à sua tradição e 
permanência? Seria ao processo de manufatura? Talvez o tipo de matéria prima utilizada? Ou 
a tudo isso? Para Tibério (1998), falar em alimentos tradicionais não é pensar em produtos 
massificados, produzidos de forma intensiva ou industrial sem qualquer tipo de diferenciação. 
Por essa razão também estão ligados ao fazer tradicional do agricultor, isto é, a forma com a 
qual ele processa (saber fazer) o alimento. 
 
Os produtos tradicionais, também são denominados produtos com história, pois se 
constituem e fazem parte da história social de uma determinada cultura. Vindos de um 
longo tempo, através de gerações que os foram produzindo e recriando, esses produtos 
marcam um processo que reúne relações sociais e familiares, num encontro entre o 
saber e a experiência; portanto, a produção desses alimentos é, ainda, uma arte 
construída ao longo do tempo através da tradição familiar (RIBEIRO; MARTINS, 
1995, p.01apud ZUIN; ZUIN, 2007, p. 111). 
 
 Para Zuin; Zuin (2007, p. 111), a produção de alimentos tradicionais também 
propicia o trabalho em família, pois envolve os saberes e fazeres das mulheres, visto que são 
elas as principais produtoras desses alimentos. É uma tarefa difícil avaliar a importância 
socioeconômica dos alimentos tradicionais para a contribuição da sobrevivência das 
propriedades rurais uma vez que não se avalia o saber fazer tradicional. 
 Isto posto, os alimentos tradicionais podem ser definidos como sendo “um produto 
único pelo emprego de matérias primas e pelos conhecimentos aplicados, assim como os usos 
de produção, de consumo e de distribuição e que atualmente recebem, entre outras, as 
denominações de local, artesanal ou regional” (RIBEIRO; MARTINS, 1995, p.01 apud 
ZUIN; ZUIN 2007, p. 113). Conforme Soeiro (2000, p. 113), os alimentos tradicionais 
sempre estiveram disponíveis para o consumidor final, entretanto, não era percebida a sua 
importância tanto nutricional como histórico-nutricional. Mesmo que fossem considerados 
tradicionais no sentido de que eram manufaturados em um determinado lugar, com técnicas e 
saberes transmitidos de geração em geração, não eram esses atributos, na maioria dos casos, 
percebidos e valorizados pelo mercado consumidor. 
 26 
 
 Nesse contexto pode-se dizer que um alimento tradicional também poderia ser 
chamado de típico? Uma vez que o mesmo está relacionado com a cultura, os aspectos físicos 
e ambientais de um determinado local, com a história entre outros. Para Gimenes (2011, p. 
23), “os alimentos típicos são marcados pela manutenção de determinadas especificidades 
(combinação de ingredientes, técnicas de preparo ou serviço), sobrevivem ao tempo, sendo 
readaptadas e ressignificadas, mas ainda mantendo uma essência identitária passível de ser 
reconhecida”. 
 
Os pratos típicos se ligam à história e ao contexto cultural de um determinado grupo, 
constituindo uma tradição que se torna símbolo de sua identidade. Os pratos típicos 
(ou comidas típicas) são entendidos, portanto, como elementos integrantes da 
cozinha regional que emergem deste conjunto mais amplo por inúmeras razões 
(praticidade, associação com outra prática cultural, associação a determinadas 
celebrações) e passam a ser reproduzidos com finalidade simbólica e podem ser 
degustados como tal, desde que o comensal possua conteúdos capazes de permitir tal 
experiência. (GIMENES, 2008, p. 48). 
 
 Portanto o alimento tradicional é aquele que é produzido com a matéria prima local e 
a mesma deve ser adquirida a partir de práticas artesanais utilizando saberes tradicionais e 
mantendo, na sua elaboração, os mesmos ingredientes originais, não fazendo uso de outros 
ingredientes. Eles estão ligados ao modo como é preparado em que se relaciona ao “saber-
fazer” tradicional que é passado de geração para geração, caracterizando uma identidade 
cultural regional e ou local. 
 “Por último, quanto mais globalizadas as pessoas ficam, mais regionais elas se 
tornam, por isso, pode se dizer que o consumo do alimento tradicional passa por uma 
afirmação da identidade do indivíduo” (ZUIN; ZUIN, 2007, p. 114). 
 
3.2 A contribuição dos alimentos tradicionais para a garantia da segurança alimentar e 
nutricional. 
 
Tendo uma alimentação saudável, boa, ela é muito gostosa ela... depois ela vem 
muito assim saborosa limpa, principalmente essa que agente assa, torra, porque ela 
mata todos aqueles micróbios se ainda tive nas carne, e hoje o que nois tinha fé era a 
caça do mato não ter“hormônio” esses veneno essas coisa que pulveriza né? Já hoje 
a caça do mato tem porque eles pulverizam o mato, o milho, o feijão, ai os bicho 
come e já passa pra eles. O boi! Que era o mais difícil, hoje é só o que tem, o porco 
é inchado que nem a galinha da granja, e no mato era mais difícil e hoje tem! Hoje 
pega sem toma mesmo porque come a pastagem o pasto... (Entrevista com Cacique 
Sotero realizada em 14 de Dezembro de 2014). 
 
 27 
 
O acesso à alimentação é um dos direitos fundamentais consignados na Declaração 
Universal dos Direitos Humanos, devendo o poder público adotar as políticas e ações que se 
façam necessárias para promover e garantir a segurança alimentar e nutricional da população. 
Segundo Salgado (2007, p. 8), as preocupações com a segurança alimentar e 
nutricional em sociedades indígenas são recentes. A IV Conferência Nacional de Saúde 
Indígena, realizada em Outubro de 2005, deliberou, como um dos principais desafios para o 
governo brasileiro, em parceria com as organizações indígenas e indigenistas, garantir a 
segurança alimentar e nutricional através de uma implementação política específica voltada 
para o desenvolvimento sustentável de povos indígenas. 
 
Há poucas e dispersas informações sobre a segurança alimentar e nutricional em 
sociedades indígenas. Nessas sociedades não só as crises de abastecimento alimentar 
e o uso inadequado dos alimentos disponíveis devem ser considerados, mas também 
outros fatores, mais profundos, que merecem uma análise criteriosa sobre suas 
nefastas consequências para a saúde. (SALGADO, 2007, p. 1). 
 
Para assegurar os direitos indígenas foi criada na década de 70 a Lei nº 6.001, de 19 de 
dezembro de 1973 que dispõe sobre o Estatuto do Índio, cujo Art. 1º fala que esta lei regula a 
situação jurídica dos índios ou silvícolas e das comunidades indígenas, com o propósito de 
preservar a sua cultura e integrá-los, progressiva e harmoniosamente, à comunhão nacional e 
Art. 2° Cumpre à União, aos Estados e aos Municípios, bem como aos órgãos das respectivas 
administrações indiretas, nos limites de sua competência, para a proteção das comunidades 
indígenas e a preservação dos seus direitos: VI - respeitar, no processo de integração do 
índio à comunhão nacional, a coesão das comunidades indígenas, os seus valores culturais, 
tradições, usos e costumes. 
 
Esse povo de hoje que só come rechiado, chilito, sorvete, eu acho que esse povo não 
tem muita força nas perna não, por que eu digo isso por que eu tenho experiência, 
por que uma pequena caminhada com esse pessoal, uma menina que veio outro dia 
lá dos tapeba a gente fez uma pequena caminhada ali e antes da gente chegar no 
local que eu queria chegar comela foi preciso a gente voltar. (Entrevista com José 
Maciel realizada em 14 do Outubro de 2014) 
 
 Conforme Corrêa (2009), foi a partir do final da Segunda Guerra Mundial, a questão 
de Segurança Alimentar e Nutricional (S.A.N) das sociedades entendida, basicamente, como 
uma disponibilidade de poucos alimentos e uma ameaça as nações, especialmente as 
europeias que se encontravam, imediatamente após esse conflito, sem estrutura de produção 
de alimentos em quantidade suficiente para sua população. 
 28 
 
 Atualmente, a segurança alimentar surge com outra definição que, de acordo com 
Maluf (2007, p.17) é, 
 
A realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de 
qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras 
necessidades essenciais, tendo como base praticas alimentares promotoras de saúde, 
que respeitem a diversidade cultural e que sejam social, econômica e 
ambientalmente sustentável. 
 
 A essa definição somam-se outros aspectos, dentre esses aspectos cabe citar a 
soberania alimentar, a qual é definida como o direito dos países definirem suas próprias 
políticas e estratégias de produção, distribuição e produção de alimentos. 
Em âmbito internacional, a segurança alimentar fora associada à segurança nacional, 
ou seja, à capacidade dos países em produzir o seu próprio alimento e formação de estoques. 
Para Maluf (2011), a Primeira Guerra Mundial fora uma experiência traumática, em especial 
na Europa, tornou-se claro que um país poderia dominar o outro controlando seu 
fornecimento de alimentos. 
 
A alimentação seria, assim, uma arma poderosa, principalmente se aplicada por uma 
potência em um país que não tivesse a capacidade de produzir por conta própria e 
suficientemente seus alimentos. Portanto, esta questão adquiria um significado de 
segurança nacional para cada país, apontando para a necessidade de formação de 
estoques "estratégicos" de alimentos e fortalecendo a ideia de que a soberania de um 
país dependia de sua capacidade de auto suprimento de alimentos (MALUF et 
all,2011, p.01). 
 
Para Braga (2004, p. 41), entre os diversos aspectos que compõem a S.A.N., está 
relacionada à preocupação com o respeito e à preservação da cultura alimentar de cada povo e 
como cada país deve ter condições de assegurar sua alimentação, sem que lhe seja imposto 
um padrão alimentar estranho às suas características e tradições, levando-se em conta o atual 
mundo em que as práticas alimentares tradicionais estão ameaçadas pelos efeitos da 
globalização. No âmbito da Segurança Alimentar e Nutricional, ressalta-se a relevância dos 
estudos das estruturas alimentares para a compreensão dos riscos ligados à adoção de práticas 
alimentares novas e distintas das tradicionais. Cabe destacar a importância de estudos de 
antropologia da alimentação, que possibilitam a compreensão de nossos padrões alimentares, 
suas origens, seus valores simbólicos e vários aspectos que retratam o que somos através do 
que comemos. 
 
Além disso, é possível resgatar alimentos que faziam parte do cardápio dos 
antepassados e que, hoje, se encontram em segundo plano. Modos de preparo, 
 29 
 
ingredientes e uma série de elementos tradicionais da culinária de grupos 
determinados podem ser recuperados a partir desses estudos. As pesquisas sobre 
alimentação contribuem, ainda, para a valorização da diversidade alimentar, 
reforçando aspectos referentes a saúde e a nutrição. (BRAGA, 2004, p. 41). 
 
Pensar em estratégias de soberania alimentar é refletir sobre a importância de serem 
estabelecidos mecanismos de controle social, condição necessária para se atingir, plenamente, 
os objetivos de uma política pública de Segurança Alimentar e Nutricional (S.A.N.). É por 
meio da mobilização social que se constituirá a construção de um modelo de sociedade mais 
equitativo, ambientalmente sustentável e que tenha a Educação e a Segurança Alimentar e 
Nutricional, o Direito Humano à Alimentação Adequada e a Soberania Alimentar, como eixos 
estratégicos de desenvolvimento social. Tal debate está diretamente vinculado a segurança 
alimentar e a questão da cultura alimentar, considerando ainda o fato dos pequenos produtores 
de alimentos tradicionais correrem o risco de abandonarem suas produções e mesmo das 
comunidades perderem o hábito de se alimentarem com determinados produtos. 
Um fator que implica literalmente nessa discursão é questão da terra, em que a mesma 
representa e está ligada as lutas dos indígenas pelo Brasil e relacionada a sua alimentação 
(caça, pesca e agricultura), histórias que são passadas de geração para geração, identidade 
pela importância dos mitos associados a caça, segredos que estão guardados na fauna e na 
flora do local, e pela religião. 
 
4 O POVO INDÍGENA KANINDÉ DE ARATUBA, ALDEIA FERNANDES - CEARÁ. 
 
Conforme Gomes (2012, p. 14), Aratuba (abundância de pássaros, em tupi) é um 
pequeno município do maciço de Baturité. A zona urbana de Aratuba possui povoados que 
formam os sítios e distritos rurais, onde se desenvolve a maior parte da população. Uma 
dessas povoações é o Sítio Fernandes, onde habitam, há pelo menos 138 anos, a maior parte 
dosgrupos familiares que formam o povo indígena Kanindé. 
A comunidade Kanindé pertencente ao município de Aratuba (MAPA 2), localizada a 
130 km da capital, Fortaleza, apresenta uma população de aproximadamente 641 pessoas, 
distribuídas em 185 famílias e 148 residências (Ministério da Justiça, 2011, p. 1 apud 
GOMES, 2012, p. 14). Muitas famílias vivem exclusivamente da agricultura, outras alternam 
esta atividade com ocupações diversas, destacando os pequenos comércios. Outra atividade 
significativa na comunidade diz respeito confecção de bijuterias, feita pelas mulheres que 
contribuem para o sustento familiar. 
 30 
 
 
Mapa 2 – Localização da Aldeia Kanindé de Aratuba-CE. 
 
Fonte: LABOCART (Laboratório de Cartografia da UFC). 
 
A Aldeia é dividida em duas partes: os Fernandes e a Balança. Os Fernandes são 
divididos em dezesseis localidades: Fernandes, Quebra Faca, Régio, Jucazeiro, Chapada do 
Vento, Trapiá, João Murim, Arame, Rajado, Terra da Gia, Camas de Vara, Saco da Onça, 
Mapinguim, Catolé e Zalvos. Localidades que se localizam entre o bioma da serra de Baturité 
e o do Sertão de Canindé. 
 
4.1 Sua História e Histórias 
 
De acordo com Gomes (2012, p.80), os Kanindé, Jenipapo e Paiacú são representados 
em relatos e estudos históricos como parentes, parte do grande tronco dos Tarairiú. No século 
XVII são retratados combatendo no sertão, unidos ou em lados contrários e, 
 31 
 
consecutivamente, sendo aldeados em Monte-Mor (Baturité) e Pacajus. Durante esse tempo 
estabeleceram muitas migrações de itinerários pouco resolvidos. 
 
Figura 2 – Aldeia Kanindé de Aratuba Sitio Fernandes. 
 
Foto: Ezequiel Andrew (2014) 
 
Conforme Gomes (2012), os Kanindé (ou Canindé, como é mais comum em fontes e 
estudos) já se encontravam presentes nas primeiras obras sobre a história do Ceará, como um 
dos povos étnicos do Sertão, indicados em constante circulação, mas povoando áreas 
próximas à Bacia Hidrográfica dos rios Choró, Quixeramobim e Banabuiú. 
Segundo Gomes (2012), vieram da região do atual município de Mombaça, passando 
por Quixadá, pelas margens do Rio Curu, entre os rios Quixeramobim e Banabuiú, junto aos 
seus parentes Jenipapo, antes de alcançar os seus locais de morada atuais. Chegaram ao Sítio 
Fernandes vindos da serra da Gameleira. 
Ainda segundo Gomes (2012, p.161), até 1994, os Kanindés não se reconheciam 
índios, foi a partir de 1995, que o seu José Maria Pereira dos Santos, com 52 anos e o Sr. 
Cícero Pereira, de 44 anos, irmãos, casados, agricultores e moradores do Sítio Fernandes, na 
época, receberam uma carta convite da II Assembleia dos Povos Indígenas do Estado do 
Ceará, através da missionária Maria Amélia Leite, que já trabalhava com os Tremembé e 
conhecia os Kanindé de longa data. A participação na II Assembleia dos Povos Indígenas do 
 32 
 
Estado do Ceará constitui uma importante referência simbólica e temporal para o início do 
processo de identificação como povo Kanindé. 
Como indicado anteriormente a etnia Kanindé está dividida entre os Kanindé da 
Aldeia Gameleira, localizados à quinze quilômetros da sede do município de Canindé e os 
Kanindé de Aratuba, localizados a cinco quilômetros do município de Aratuba. A Aldeia 
Kanindé de Aratuba é subdividida entre a Aldeia Fernandes, localizada na serra e a Aldeia 
Balança. 
Os dois principais núcleos familiares que formaram os Kanindé de Aratuba, segundo 
suas narrativas, são os Francisco e os Bernardo. Ademais, Gomes (2012, p. 14), afirma que, 
os Francisco são identificados como habitantes da serra de longa data, estando ali desde 1874. 
Os Bernados são provenientes da Gameleira, localidade próxima à Serra do Pindá (sertão de 
Canindé). Chegando ao Sitio Fernandes (FIGURA 2), em épocas de grandes secas, como a de 
1915. Entretanto, existem vários outros núcleos familiares importantes para que compõem os 
Kanindé, com distintas trajetórias históricas que se incorporaram nas duas principais famílias, 
principalmente através de alianças matrimoniais. 
 Os Kanindé dispõe de instrumentos que contribuem para o reconhecimento de 
legitimação da terra exemplo, o Museu Kanindé o segundo museu indígena do Brasil e o 
primeiro museu indígena do Ceará fundado em 1995, mas só aberto para visitação em 1996, 
constituído primeiramente pelo líder da Aldeia José Maria Pereira dos Santos mais conhecido 
como Cacique Sotero, 70 anos. A E.D.E.F.M. Manuel Francisco dos Santos, construída com a 
ajuda dos líderes e a Associação Indígena Kanindé de Aratuba (AIKA), no qual o presidente 
da associação se chama José Maciel (Vice-Pajé), com 48 anos. 
 Hoje, para os Índios Kanindé de Aratuba, a escola E.D.E.F.M. Manuel Francisco dos 
Santos, fundada em 1999, é o seu principal instrumento de mobilização social, que promove 
ações de intercâmbios entre as comunidades (Fernandes e Balança), mobiliza a comunidade 
através dos alunos disseminando a cultura e as tradições dos índios Kanindé de Aratuba e 
criando parcerias a exemplo do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, 
Campus de Baturité; a Universidade Federal do Ceará (UFC) e a Universidade de Lusofonia 
Afro Brasileira (UNILAB). Como resultado dessa parceria entre a Comunidade Indígena 
Kanindé de Aratuba e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, 
Campus de Baturité, surgiu o “Proeja-Fic, Segurança e Soberania Alimentar para 
Comunidades Tradicionais do Maciço de Baturité – CE”, um curso realizado na comunidade 
entre os anos de 2013 e 2014. 
 33 
 
 O Curso-Fic era constituído por uma matriz curricular composta por módulos como: 
Segurança Alimentar, Higiene e Segurança de Alimentos, Soberania Alimentar, Boas Práticas 
de Fabricação, Agroecologia, Estrutura Física de Unidades de Alimentação, Aproveitamento 
Integral de Alimentos e Construção de Projetos Sociais, distribuídas em 160h/a, tendo sido 
aceitas principalmente pelo diretor da escola indígena. 
 O objetivo foi capacitar os Kanindé em Segurança alimentar, beneficiando jovens e 
adultos entre quatorze e cinquenta e cinco anos totalizando oitenta alunos com conceitos bases 
e aplicações de Segurança e soberania alimentar, melhorando a qualidade de vida de jovens e 
adultos. 
 
4.2 Situação da terra 
 
“A gente nasce, a gente vive, a gente morre, mas nosso povo sempre viverá nessa 
terra”. (POVO KANINDÉ): Em 1995 os índios Kanindé deram início a sua mobilização 
étnica participando da 2ª Assembleia Indígena Estadual a partir dessa, os índios começaram a 
se organizar como uma aldeia indígena onde o Sitio Fernandes, até então como se chamava, 
passa a ser conhecido com Aldeia Fernandes. Depois da assembleia, houve uma série de 
eventos relacionados com a questão da terra. 
 Depois da 2ª Assembleia, os Kanindé começaram a lutar por sua terra e pelo 
reconhecimento de sua etnia. 
 
Muito mais marcante para a coletividade da Aldeia Fernandes que a participação de 
Cícero e Sotero na assembleia indígena de 1995 para o início da mobilização étnica, 
foi a série de eventos relacionados ao conflito com os trabalhadores da fazenda 
Alegre, a partir de 1996. Tratou-se de uma querela na divisão da Gia entre os 
moradores do projeto de assentamento Alegre, do Incra (Aratuba-Canindé) e o povo 
Kanindé, após a conquista da desapropriação da terra fruto de uma mobilização 
conjunta. De ambos os lados em conflito, foram acionadas instâncias diferentes a 
partir das identificações sociais e étnicas operadas pelos sujeitos em disputa. Foram 
envolvidos diretamente, além das duas populações, o Incra, Funai, Ibama, STR de 
Aratuba e Canindé, Amit e igreja católica (GOMES, 2012, p. 225). 
 
A terra se trata de um berço, no qual os indígenas obtém um extenso conhecimento 
sobre seu meio ambiente e, graças às suas maneiras tradicionais de manuseio dos recursos 
naturais, em que essas são passadas de geração para geração e garante a preservação das 
nascentes de rios,da flora e da fauna, que representam patrimônio inestimável. (FUNAI..., 
2013) 
 34 
 
 Segundo Silva (1975, p. 104), os índios são constituídos a partir da vivencia da terra 
que é responsável por alimentar seus vínculos tradicionais com a localidade e com a terra em 
que o grupo indígena vive desde seus ancestrais. 
 De acordo com o inciso XI do Artigo 20 da Constituição Federal 1988, essas terras 
"são bens da União" e o Artigo 231 trata de forma destacada este tema, apresentando 
(QUADRO 1): 
 
Quadro 1 - Artigo 231 da Constituição Federal de 1988. 
 
Fonte: Constituição da República Federativa do Brasil 35ª edição. 
 
Segundo Viveiros de Castro (1999, p. 24), “Os índios parecem ter escolhido a haste do 
compasso cósmico correspondente ao que chamamos ‘cultura’, sub- metendo assim a nossa 
‘natureza’ a uma inflexão e variação contínuas” 
 Outro aspecto importante a ser citado, e que está em relevância na atualidade, é o fato 
de que a defesa do território indígena assegura a preservação de um gigantesco patrimônio 
biológico e do conhecimento centenário obtido pela população Kanindé a respeito deste 
patrimônio. 
Bem como Gomes (2012, p. 25), no início de agosto de 2012 estiveram técnicos da 
FUNAI, dessa forma iniciando formalmente o processo de regularização das terras dos 
Kanindé de Aratuba-CE, chamado de “Qualificação da reivindicação de demarcação 
territorial” uma atividade “técnica” visando qualificar e justificar a demanda, iniciada em 
1996. 
 Art. 231. São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças 
e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à 
união demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens. 
 § 1º São terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter 
permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos 
recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e 
cultural, segundo seus usos, costumes e tradições. 
 § 2º As terras tradicionalmente ocupadas pelos índios destinam-se a sua posse per- 
manente, cabendo-lhes o usufruto exclusivo das riquezas do solo, dos rios e dos lagos nelas 
existentes. 
 § 3º O aproveitamento dos recursos hídricos, incluídos os potenciais energéticos, a 
pesquisa e a lavra das riquezas minerais em terras indígenas só podem ser efetivados com 
autorização do Congresso Nacional, ouvidas as comunidades afetadas, ficando-lhes assegurada 
participação nos resultados da lavra, na forma da lei. 
 § 4º As terras de que trata este artigo são inalienáveis e indisponíveis, e os direitos sobre 
elas, imprescritíveis. 
 
 35 
 
De acordo com José Maria Pereira dos Santos (Cacique Sotero), atualmente a Aldeia 
Kanindé de Aratuba-CE já foi identificada como Aldeia indígena. Os próximos passos serão a 
delimitação, a demarcação e futuramente a homologação da Aldeia, no qual os habitantes que 
não se identificam indígenas serão retirados da terra e indenizados pelo Governo Federal. 
Assim a terra, além de atuar como principal fator de geração de renda, no caso dos 
Kanindé eles utilizam a terra para a agricultura e a pecuária, em pequena escala. A terra atua 
também na representação e expressão cultural, exemplo, o Museu Kanindé e o Centro de 
Artesanato, os quais contribuem para a construção da sua identidade física e ambiental, como, 
na preservação da fauna e da flora. 
 
4.3 Potencialidades da Terra Kanindé: A fauna em foco. 
 
Figura 3 – Terra indígena Kanindé no período da seca. 
 
Fonte: arquivo pessoal do autor 
 
De acordo com Bastos (2011, p. 19), a Serra de Baturité constitui um dos mais 
importantes enclaves de mata úmida do Ceará. Representa um ambiente de exceção do bioma 
da caatinga. A sua proximidade de Fortaleza é cerca de 80 km, aliada aos atrativos culturais e 
naturais, clima ameno e com médias de temperatura de 20º C, paisagens serranas que alternam 
vales fechados e aclives do relevo, vegetação demasiada e sempre verde, águas corrente ou 
pequenas represas, pomares com variedade de lavouras, constitui-se em uma região serrana, 
 36 
 
cujos totais pluviométricos a enquadram como uma área de clima úmido. Já as áreas que o 
circundam, apresentam características tipicamente semiáridas, as quais são mais castigadas 
pela seca que a área enfrenta (FIGURA 3). As temperaturas são amenizadas pela altitude 
contribuindo para um maior conforto térmico humano, principalmente na quadra chuvosa que 
vai de Janeiro a Junho (FIGURA 4). 
 
Figura 4 – Terra Indígena Kanindé de Aratuba no período chuvoso. 
 
Fonte: Arquivo pessoal do autor 
 
Ainda conforme Bastos (2011, p.81), o solo do Maciço de Baturité está classificado 
em: solo neossolos litólicos eutróficos, que são identificados em áreas de caatinga arbórea e 
mata seca, os quais apresentam domínio argissolo, situando-se com maior frequência em 
posições de encostas com ribanceiras muito acentuadas e desgastadas pela erosão, 
principalmente na vertente ocidental; solo argiloso vermelho amarelo eutrófico que ocorre em 
todo o Maciço, encontrando-se nos pontos mais altos da serra. Este tipo de solo passa a 
prevalecer nos níveis considerados mais inferiores em altitudes de 600 a 900 metros e o 
argiloso vermelho amarelo característico de mata úmida que é a maior classe de solos com 
maior representatividade no conjunto do Maciço de Baturité. São solos moderadamente e 
acentuadamente drenados, comumente profundos e até rasos variando em função da posição 
do relevo. 
 37 
 
Ademais Bastos (2011, p.19), dentre os principais problemas ambientais encontrados 
no Maciço de Baturité, destacam-se: desmatamentos irregulares e sem obediência a legislação 
pertinente; degradação a biodiversidade; turismo predatório; erosão dos solos; degradação de 
nascentes fluviais com ressecamento de fontes e olhos d’água; represamentos irregulares e 
desvio dos corpos hídricos superficiais; poluição dos solos e recursos hídricos; degradação do 
patrimônio cultural; desequilíbrio ecológico e proliferação de doenças; queimadas; caças 
predatória dentre outros. 
 Além disso Bastos (2011, p. 105), afirma que se encontra na Serra de Baturité 
anfíbios serranos que vem sendo estudados desde a década de 1980. Atualmente foram 
registrados 30 espécies, sendo 28 anuros (pererecas, rãs e sapos) e 2 gimnofiona (cobras 
cegas); os lagartos residentes na Serra totalizando 23 espécies; 33 espécies de serpentes das 
quais seis são serpentes venenosas, como: Coral verdadeira (Micrurus Ibiboboca) e Jararaca 
(Bothrops erythromelas); A Serra ainda abriga 230 espécies de aves raríssimas das quais 31, 
ou seja, 5% estão consideradas ameaçadas de extinção. 
A caça na comunidade é um símbolo de identificação étnica como indígenas Kanindé 
de Aratuba. Ou seja, a tradição da caça na Aldeia é passada de geração para geração. A 
tradição é uma símbolo da identidade uma vez que a mesma é transmitida pela oralidade 
através dos grupos familiares. A maneira como se caça na comunidade tradicional indígena 
Kanindé de Aratuba, no qual usam desde técnicas apreendidas com os antepassados, 
armadilhas artesanais como o Quixó, e também armas de fogo, como espingardas. 
 
Os métodos tradicionais de caça e pesca (uso de arco e flecha, lança, arpão e 
emprego de armadilhas) deram espaço, quase que totalmente, à utilização de 
métodos não-tradicionais. Na caça são empregadas armas de fogo e cães 
domesticados para esse fim e nas atividades de pesca têm-se a utilização de 
instrumentos e apetrechos industrializados em substituição àqueles manufaturados 
com recursos naturais (SALERA JUNIOR et al., 2002, p.87). 
 
Segundo Sr. Cicero Pereira dos Santos, 62 anos, nos menciona que “desde menino, 
com seis ano eu já andava no mato caçando mais o vovô né! E me criei, depois fiquei grande, 
depois eu fiquei ... meus irmão foi crescendoe continuei no mato mais eles” (Entrevista com 
Cicero Pereira dos Santos realizada em 09 de Dezembro de 2014). 
No Museu Indígena Kanindé de Aratuba é comum, peças de categoria zoológica. 
Demais Gomes (2012, p. 113), “são partes de bichos, alguns empalhados por técnica caseira 
do próprio Sotero. Animais que se relacionam com a prática da caça (Teju (Tupinambis 
 38 
 
merianae), Tatu Peba (Euphractus sexcintus), Tatu (Dasypus novemcinctus). São couros, 
pelos, penas, garras, cabeças, patas, rabos etc” (FIGURA 5). 
 
Figura 5 – Artigos de caça (peles, partes de animais e animais inteiros) em exposição do 
museu. 
 
Fonte: Arquivo pessoal do autor 
 
[...] tradição é um produto do passado que continua a ser aceito e atuante no 
presente. É um conjunto de práticas e valores enraizado nos costumes de uma 
sociedade. Esse conceito tem profundas ligações com outro como cultura e folclore. 
E, em geral, é matéria de estudo das ciências sociais, sendo objeto de pensadores 
clássicos da Sociologia como Max Weber. (SILVA; SILVA. 2006 p. 01) 
 
Antes dos Índios Kanindé participarem da 2ª Assembleia dos Povos indígenas do 
Ceará eles já caçavam nas terras indígenas utilizando de armadilhas artesanais como o Quixó 
e o uso do cachorro, que são técnicas tradicionais de caça, e do costume de se alimentar do 
mato durante as caçadas. A prática da caça para os Kanindé é um dos principais atributos que 
faz parte da construção da representação sobre a condição de indígena. 
 
5 A CAÇA NA ALDEIA: PARA ALÉM DA PRÁTICA A RELAÇÃO COM A 
NATUREZA. 
 
 39 
 
A atividade de caça é um fator de preservação da cultura e implica na segurança 
alimentar e nutricional de um povo. Essa expressão cultural, cujo objetivo é se alimentar, 
promove a cultura alimentar local. “Pertencem ainda a uma sociedade, cujo fim último é a 
reprodução dessa solidariedade e não a acumulação de bens e lucro, preservando os recursos 
naturais dos quais dependem para sobreviver”. (BRAGA, 2004 p.19). 
 
O instinto da caça tem [uma] [...] origem remota na evolução da raça. Os instintos e 
caça e pesca se combinam em muitas manifestações [...]. A sede de sangue humana 
faz parte do nosso lado primitivo, e é justamente por isso que é tão difícil de ser 
erradicada, especialmente quando uma luta ou uma caçada é prometida como parte 
do divertimento. (WILLIAM JAMES, 1890. Apud CARL SAGAN,1998, p.14). 
 
Atualmente com o surgimento de leis que preservam o meio ambiente, as mesmas se 
aplicariam aos índios? Segundo o Estatuto do Índio Lei nª 6001, Art. 24 – O usufruto 
assegurado aos índios ou silvícolas compreende o direito à posse, uso e percepção das 
riquezas naturais e de todas as utilidades existentes nas terras ocupadas, bem assim ao produto 
da exploração econômica de tais riquezas e utilidades: § 1º – “Incluem‐se no usufruto, que se 
estende aos acessórios e seus acrescidos, o uso dos mananciais e das águas dos trechos das 
vias fluviais compreendidos nas terras ocupadas” e o § 2º – “É garantido ao índio o exclusivo 
exercício da caça e pesca nas áreas por ele ocupadas, devendo ser executadas por forma 
suasória as medidas de polícia que em relação a ele eventualmente tiverem de ser aplicadas”. 
É importante enfatizar que os índios Kanindé de Aratuba possuem uma consciência 
ambiental de preservação das espécies que caçam na Aldeia, não matando a caça quando ela 
está “prenha” ou quando se é observado que o animal está escasso na área. Como relata o Sr. 
Cicero Pereira dos Santos: “o veado também tem ainda, mas a gente não tá matando mais 
muito não porque é escasso e a gente tá deixando mais de perseguir ele, mas essas caças que 
eu tô dizendo todas elas a gente vai buscar no mato” (entrevista com Cicero Pereira dos 
Santos realizada em 09 de Dezembro de 2014). 
Aos índios está resguardado o seu direito de caça e pesca para sua própria 
subsistência, sem qualquer restrição ou condição à autorização do Poder Público. Mas, se 
destinadas à comercialização estão sujeitas ao cumprimento das exigências legais específicas, 
inclusive das normas ambientais aplicáveis. 
 
5.1 Para as práticas e o respeito à natureza: o exercício da caça Kanindé de Aratuba. 
 
 40 
 
Durante milhões e milhões de anos, nossos ancestrais masculinos andaram correndo 
por toda parte, atirando pedras em pombos, perseguindo filhotes de antílopes e 
agarrando-lhes em luta corpo a corpo, formando uma única linha da caçadores a 
correr e a gritar contra o vento para aterrorizar um bando de javalis perplexos. 
(SAGAN, 1998, p.18) 
 
Figura 6 - Rajado (localidade da Aldeia Fernandes) 
 
Fonte: Arquivo pessoal do autor 
 
A prática do exercício de caça dos Kanindé consiste na modalidade de caça voluntária 
(caracteriza-se por um planejamento antecedente com definição de itinerário, data e horário e 
pode contar com até duas pessoas). Segundo Salera Jr. (2002, p. 86), a caça voluntária pode 
ser dividida em dois grupos: caça de espera e caça de busca. A caça de busca consiste no 
encontro de animais por ocaso, que pode se dar por caminhadas ao longo de trilhas. Assim 
como nos relata o Sr. João Maciel, de 45 anos: “Sempre quando a gente anda atrás de outra 
caça agente topa com um. Ai agente mata”. Já a caça de espera se dá com a permanência do 
caçador em uma localidade onde se tenha detectado anteriormente a presença de animais, 
como por exemplo, através da observação de rastros, pegadas e fezes, isso se dá usualmente 
nas proximidades de árvores em frutificação na época do período de chuvas (“matar na 
comida”); na época da estiagem os Kanindés costumam caçar em localidades próximas aos 
olhos d’água (“matar na bebida”). Como nos relata o Sr. José Sousa Brito, “o sujeito vai e 
coloca o milho lá na Porta de Vara, aí se soca lá dentro da tucaia pra pastorar ... ai quando 
 41 
 
chega o rebanho de jacus. Ai eles entram tudo de uma vez, de baixo, e o caba lá dentro da 
tucaia puxa a corda”. 
 
Figura 7 – Tocaia de caça. 
 
Fonte: Arquivo pessoal do autor 
 
Geralmente os Kanindés caçam na localidade da Terra da Gia, onde se concentram as 
espécies de roedores como o Mocó (Kerodon Rupestris) e o Punaré (Thrichomys apereoides). 
 É na Terra da Gia que se encontram as áreas estratégicas de caça, no qual estão 
localizados poucos olhos d’água da Aldeia, propiciando o surgimento de aves como a 
Avoante (Zenaida auriculata), o Jacucaca (Penelope jacucaca), a Jacupemba (Penelope 
superciliaris) e mamíferos como o Gato Maracajá (Leopardus pardalis mitis), são locais 
estratégicos onde se se encontram as Tocaias (FIGURA 7), grandes estruturas engenhosas, 
que comportam até duas pessoas, feitas de galhos, varetas compondo o esqueleto da estrutura 
 42 
 
e coberta com folhas para dar acabamento, possui uma pequena abertura para os caçadores 
entrarem, dessa forma a Tocaia surge como ponto de observação, espera e facilitando a 
camuflagem, para que a caça na sinta a presença do caçador 
 
Figura 8 – Taiados de pedra 
 
Fonte: Ezequiel Andrew (2014) 
 
Outros locais de caçam são o Rajado (FIGURA 6), local que se concentra a maior 
quantidade de áreas de plantio da Aldeia, os Taiados (FIGURA 8) e nos arredores da Pedra do 
Gavião (FIGURA 9). 
Em entrevista o caçador, Sr. Cicero Pereira dos Santos, que faz uso da caça artesanal, 
nos explica como se dá o processo da atividade de caça: 
 
Sempre a gente planeja o dia de caçar por que a gente nois... nois indígena a gente 
que vive com a natureza ninguém gosta de caçar dia de segunda nem de sexta, gosta 
 43 
 
de caçar mais dia de terça, dia de quarta, dia de quinta e dia de sábado né! É os dias 
que a gente caça porque no mato tem os incantado. Tem a caipora que ainda existe 
muito aqui ainda que ela também é quem cuida das caça, ela é a dona das caça e a 
gente tem muita fé nela e ela a gente quando vai pro mato a gente tem um momento 
que a gente conversa com ela pra ela também botar as

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