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FUNDAMENTOS DA MACROECONOMIA Marcela Gimenes Bera Presidente da Divisão de Ensino Reitor Pró-Reitor de Graduação Coordenação Geral de EAD Coordenação de Metodologia e Tecnologia Autoria Parecer Técnico Supervisão Editorial Projeto Gráfi co e Capa Prof. Paulo Arns da Cunha Prof. José Pio Martins Prof. Carlos Longo Prof. Everton Renaud Profa. Roberta Galon Silva Marcela Gimenes Bera Lucas Dezordi Felipe Guedes Antunes Regiane Rosa © Universidade Positivo 2018 Rua Prof. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5300 – Campo Comprido Curitiba-PR – CEP 81280-330 *Todos os gráficos, tabelas e esquemas são creditados à autoria, salvo quando indicada a referência. Informamos que é de inteira responsabilidade da autoria a emissão de conceitos. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem autorização. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela Lei n.º 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal. Imagens de ícones/capa: © Thinkstock / © 123RF VG EDUCACIONAL Análise de Qualidade, Edição de Texto, Design Instrucional, Edição de Arte, Diagramação, Design Gráfico e Revisão. Caro aluno, A metodologia da Universidade Positivo apresenta materiais e tecnologias apropria- das que permitem o desenvolvimento e a interação entre alunos, docentes e recursos didá- ticos e tem por objetivo a comunização bidirecional entre os atores educacionais. O seu livro, que faz parte dessa metodologia, está inserido em um percurso de apren- dizagem que busca direcionar a construção de seu conhecimento por meio da leitura, da contextualização teórica-prática e das atividades individuais e colaborativas; e fundamen- tado nos seguintes propósitos: valorizar suas experiências; incentivar a construção e a reconstrução do conhecimento; estimular a pesquisa; oportunizar a reflexão teórica e aplicação consciente dos temas abordados. COMPREENDA SEU LIVRO Metodologia Com base nessa metodologia, o livro apresenta a seguinte estrutura: Pergunta norteadora Ao fi nal do Contextualizando o cenário, consta uma pergunta que estimulará sua reflexão sobre o cenário apresentado, com foco no desenvolvimento da sua capacidade de análise crítica. Tópicos que serão estudados Descrição dos conteúdos que serão estudados no capítulo. Boxes São caixas em destaque que podem apresentar uma citação, indicações de leitura, de filme, apresentação de um contexto, dicas, curiosidades etc. Recapitulando É o fechamento do capítulo. Visa sinte- tizar o que foi abordado, reto mando os objetivos do capítulo, a pergunta nortea- dora e fornecendo um direcionamento sobre os questionamentos feitos no decorrer do conteúdo. Pausa para refletir São perguntas que o instigam a refletir sobre algum ponto estudado no capítulo. Contextualizando o cenário Contextualização do tema que será estudado no capítulo, como um cenário que o oriente a respeito do assunto, relacionando teoria e prática. Objetivos do capítulo Indicam o que se espera que você aprenda ao final do estudo do capítulo, baseados nas necessida- des de aprendizagem do seu curso. Proposta de atividade Sugestão de atividade para que você desenvolva sua autonomia e siste- matize o que aprendeu no capítulo. Referências bibliográficas São todas as fontes utilizadas no capítulo, incluindo as fontes mencio- nadas nos boxes, adequadas ao Projeto Pedagógico do curso. COMPREENDA SEU LIVRO Percurso BOXES assista Indicação de filmes, vídeos ou similares que trazem informações complementares ou aprofundadas sobre o conteúdo estudado. Biografia Dados essenciais e pertinentes sobre a vida de uma determinada pessoa relevante para o estudo do conteúdo abordado. Contexto Dados que retratam onde e quando aconteceu determinado fato; demonstram a situação histórica, social e cultural do assunto. Curiosidade Informação que revela algo desconhecido e interessante sobre o assunto tratado. Dica Um detalhe específico da informação, um breve conselho, um alerta, uma informação privilegiada sobre o conteúdo trabalhado. Exemplo Informação que retrata de forma obje tiva determinado assunto abordando a relação teoria-prática. afirmação Citações e afirmativas pronunciadas por teóricos de relevância na área de estudo. Esclarecimento Explicação, elucidação sobre uma palavra ou expressão específica da área de conhecimento trabalhada. SUMÁRIO Apresentação 13 a Autora 14 Capítulo 1 Introdução à Macroeconomia 15 Contextualizando o cenário 16 1.1. Macroeconomia: origem e evolução 17 1.1.1 O nascimento da Macroeconomia 17 1.1.2 Evolução da Teoria Econômica 19 1.2. Natureza e causas das flutuações econômicas 23 1.2.1 Desvios do PIB real em relação ao PIB potencial 24 1.2.2 Macroeconomia de curto e longo prazo 29 1.2.3 Desemprego e produto 35 1.2.4 Inflação e desemprego 39 Proposta de atividade 43 Recapitulando 44 Referências 45 Capítulo 2 Medindo a Renda Nacional 47 Contextualizando o cenário 48 2.1. Fluxo circular da atividade econômica: produto e renda 49 2.1.1 Agentes econômicos 49 2.1.2 Fluxo real e monetário 52 2.1.3 Fluxo circular da atividade econômica 54 2.2. Formas de mensuração da atividade econômica 56 2.2.1 O Produto Interno Bruto (PIB) pela ótica do dispêndio e da renda 56 2.2.2 O Produto Interno Bruto (PIB) pela ótica da oferta 61 2.2.3 O problema da dupla contagem 61 2.3. Valores reais e nominais 63 2.3.1 Deflator do Produto Interno Bruto (PIB) 63 2.3.2 Desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) real versus nominal 64 2.4. Contas nacionais 67 2.4.1 Produto Interno Bruto (PIB) e Produto Nacional Bruto (PNB) 67 2.4.2 Produto Interno Bruto (PIB) e Produto Nacional Bruto (PNB) a preço de mercado e a custo de fatores 68 Proposta de atividade 70 Recapitulando 71 Referências 72 Capítulo 3 Flutuações Econômicas 73 Contextualizando o cenário 74 3.1. Componentes da demanda agregada 75 3.1.1 Economia fechada e sem governo 75 3.1.2 Economia fechada e com governo 77 3.2. Consumo, poupança e investimento 81 3.2.1 Função de consumo keynesiana 85 3.2.2 Função poupança 88 3.2.3 Igualdade entre poupança e investimento 91 3.3. Renda e equilíbrio 93 3.3.1 Determinando a renda 94 3.3.2 Componentes da renda de equilíbrio 96 3.3.3 Mudanças no investimento privado e flutuações na renda 97 3.4. Comportamento da renda (produto) de países selecionados 101 3.4.1 Economia brasileira: 2003 a 2017 101 3.4.2 Economia norte-americana: 2006 a 2017 103 3.4.3 Economia chinesa: 2003 a 2017 104 Proposta de atividade 106 Recapitulando 107 Referências 108 Capítulo 4 Política fiscal no modelo keynesiano 109 Contextualizando o cenário 110 4.1. ORÇAMENTO PÚBLICO 111 4.1.1 Funções do governo 112 4.1.2 Orçamento público: instrumentos e objetivos 114 4.1.3 Orçamento público na economia brasileira 115 4.2. Política fiscal como estabilizadora do produto 118 4.2.1 Governo e o nível de renda 118 4.2.2 Estabilizadores automáticos da demanda agregada 119 4.3. Efeitos do multiplicador dos gastos do governo 122 4.3.1 Política fiscal expansionista 125 4.3.2 Política fiscal contracionista 126 4.4. Estudo de caso: crises econômicas e deficits públicos 127 4.4.1 Deficit públicos estabilizando o produto: EUA na crise financeira de 2008 127 4.4.2 Deficit públicos cíclicos nos países europeus: crise financeira de 2008 129 Proposta de atividade 132 Recapitulando 133 Referências 134 Capítulo 5 Moeda 135 Contextualizando o cenário 136 5.1. Moeda: origem, evolução e funções 137 5.1.1 Origem e evolução da moeda 137 5.1.2 Funções e características da moeda 143 5.2. Oferta de moeda 144 5.2.1 Autoridade monetária e a criação de moeda manual 145 5.2.2 Bancos comerciais e as operações de empréstimos 146 5.2.3 Meios de pagamento e sistema financeiro monetário 148 5.3. Banco central e o mercado de reservas 149 5.3.1 A demanda por moeda 149 5.3.2 Equilíbrio no mercado monetário: taxa de juros 154 5.4. Instrumentosclássicos de política monetária 155 5.4.1 Operações de mercado aberto 155 5.4.2 Taxa de compulsório e de redesconto 157 5.4.3 Política monetária e seus efeitos na taxa de juros 158 Proposta de atividade 161 Recapitulando 162 Referências 163 Capítulo 6 política Monetária 165 Contextualizando o cenário 166 6.1. Tipos de inflação 167 6.1.1 Inflação de demanda 167 6.1.2 Inflação de custos 169 6.1.3 Inflação inercial 170 6.2. Efeitos da inflação 170 6.2.1 Imposto inflacionário 171 6.2.2 Bem-estar social: alocação de recursos 173 6.2.3 Distribuição de renda 174 6.2.4 Competitividade externa 176 6.3. Relação entre moeda e inflação 176 6.3.1 A Teoria Quantitativa da Moeda (TQM) 176 6.3.2 Postulados da TQM 178 6.3.3 Oferta de moeda em períodos de hiperinflação 179 6.4. Políticas monetárias de combate à inflação 181 6.4.1 O regime de metas para inflação na economia brasileira 181 6.4.2 Taxa de juros e dinâmica inflacionária 182 Proposta de atividade 185 Recapitulando 186 Referências 187 Capítulo 7 política Cambial 189 Contextualizando o cenário 190 7.1. Taxa de câmbio 191 7.1.1 Conceito de taxa de câmbio nominal 191 7.1.2 Oferta de divisas 193 7.1.3 Demanda por divisas 195 7.1.4 Equilíbrio do mercado de divisas 196 7.2. Regimes cambiais 199 7.2.1 Regime de câmbio fixo 199 7.2.2 Regime de câmbio flexível 202 7.3. Taxa de câmbio real 203 7.3.1 Conceito de câmbio real 203 7.3.2 O câmbio real como indicador de competitividade externa 205 7.4. A lógica fundamental da Paridade do Poder de Compra (PPC) 206 7.4.1 O câmbio real no longo prazo 206 7.4.2 O índice Big Mac 210 Proposta de atividade 211 Recapitulando 212 Referências 213 Capítulo 8 Comércio Internacional 215 Contextualizando o cenário 216 8.1. Balanço de pagamentos 217 8.1.1 Setor externo 217 8.1.2 Contas do balanço de pagamentos 221 8.1.3 Saldos do setor externo 229 8.2. Teorias do comércio internacional 232 8.2.1 Vantagens absolutas de Smith 232 8.2.2 Vantagens comparativas de Ricardo 235 8.3. Aplicações práticas do comércio internacional 236 8.3.1 A especialização entre os países 236 8.3.2 Ganhos da expansão de mercado 238 Proposta de atividade 242 Recapitulando 243 Referências 244 APRESENTAÇÃO Olá, caro(a) aluno(a)! Seja bem-vindo(a) à disciplina Fundamentos de Macroeconomia. Para iniciar este estudo, salienta-se que para você, estudante, a Macroeconomia é, pro- vavelmente, uma das disciplinas mais relevantes e interessantes de se estudar dentro do curso, visto que é uma das maiores conquistas da Ciência Econômica do século XX, ca- racterizando-se por estudar as atividades integrais de uma sociedade. Diferentemente, a Microeconomia trata do modo como os agentes individuais, as famílias e as empresas atuam reciprocamente. Nesse sentido, a economia é formada pela soma desses agentes in- dividuais que representam uma sociedade. Dessa forma, a Macroeconomia visa explicar o comportamento da economia de uma sociedade como um todo, a partir de variáveis agregadas, como: renda, consumo, poupan- ça, investimento, gastos do governo, importação, exportação, nível de emprego, nível ge- ral de preços, salários e taxa de juros. Assim, você passará a compreender o comportamento agregado dos agentes econô - micos e os fatores que determinam o equilíbrio interno e externo das variáveis macroeco- nômicas. Entenderá, também, como as políticas macroeconômicas podem causar impacto no cotidiano das famílias e empresas. De fato, agora que você já conhece o assunto que será estudado, é convidado(a) a em- barcar nessa jornada, que será de grande valia para sua vida, seja pessoal, seja profi ssional. Bons estudos! A AUTORA A Professora Marcela Gimenes Bera possui mestrado em Controladoria pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), especialização em Gestão Contábil e Financeira pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e graduação em Ciências Econômicas e Contábeis, também pela Universidade Estadual de Maringá (UEM). Currículo Lattes: <http://lattes.cnpq.br/7867304750238505> Dedico este livro, pelo apoio e incentivo a escrevê‐lo, a meu esposo, Marcos Minoru Oshita; a meu filho, Enzo Seiji Oshita; e a toda minha família, que não mediu esforços para me ajudar a obter conquistas importantes durante a minha carreira. CAPÍTULO 1 Introdução à Macroeconomia Marcela Gimenes Bera Oshita oBJEtIVoS Do Capítulo • Entender a origem da Macroeconomia e seus principais desafios, reconhecendo sua importância para a estabilidade econômica e social. • Discutir os principais problemas macroeconômicos: recessão, desemprego da força de trabalho e inflação, utilizando os conceitos e analisando suas evoluções. • Diferenciar a Macroeconomia de curto e longo prazo, destacando os movimentos cíclicos do produto e sua tendência ao longo do tempo. tÓpICoS DE EStuDo 1 Macroeconomia: origem e evolução • O nascimento da Macroeconomia. • Evolução da Teoria Econômica. 2 Natureza e causas das flutuações econômicas • Desvios do PIB real em relação ao PIB potencial. • Macroeconomia de curto e longo prazo. • Desemprego e produto. • Inflação e desemprego. Fundamentos da Macroeconomia16 Contextualizando o cenário Este capítulo trará informações sobre a origem e a evolução da Macroeconomia, bem como seus principais desafios enquanto ciência econômica, admitindo sua necessidade a fim de bus- car a adoção de políticas que visem o equilíbrio econômico e social. Para isso, serão traba- lhados os principais problemas macroeconômicos, como recessão, desemprego da força de trabalho e inflação, com a utilização de seus conceitos e a análise de suas evoluções. Nessa perspectiva, existem políticas macroeconômicas de curto e longo prazo. As políticas de curto prazo estão relacionadas a conjunturas e/ou ciclos econômicos, isto é, a flutuações do emprego, desemprego, inflação e deflação. Por outro lado, as políticas de longo prazo são vol- tadas ao crescimento econômico, ou seja: nível de vida, desigualdades, distribuição de renda e riqueza etc. Diante desse cenário, surge o seguinte questionamento: qual é a diferença entre a Macroe- conomia de curto e longo prazo? 17Fundamentos da Macroeconomia 1.1. Macroeconomia: origem e evolução Os estudos iniciam-se, agora, a partir da origem e evolução da Macroeconomia. Para isso, será abordado o seu nascimento, bem como sua evolução enquanto teoria econômica. Assim, serão compreendidos os principais fatores que originaram os estudos sobre o tema, como a gênese da história da Macroeconomia e o contexto de seu surgimento dentro de um fato marcante da história econômica mundial, mudando, assim, a percepção dos agen- tes econômicos e os governos em relação ao funcionamento das economias de mercado. 1.1.1 O nascimento da Macroeconomia A Macroeconomia surgiu em 1933 e foi introduzida pelo economista norueguês Ragnar Frisch (1895-1973), também criador da Econometria e ganhador do Prêmio Nobel em Ciências, no ano de 1969. O marco do surgimento da Macroeconomia ocorreu a partir da publicação, em 1936, da obra A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda, de autoria do economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946) (PASSOS; NOGAMI, 2016). Cabe salientar que o contexto do surgimento da Macroeconomia é o meio da maior crise mundial do capitalismo, conhecida como a grande depressão, que se iniciou no ano 1929 e perdurou até 1941. Nesse cenário, os economistas confiavam que as econo- mias de mercado tinham a capacidade de autorregular-se, por meio de uma mão invisível. Acreditava-se que a oferta cria sua própria demanda, isto é, tudo que era produzido era vendido (Lei de Say), e que os preços e salários eram capazes de se ajustarem no mercado, garantindo o equilíbrio econômico e o pleno emprego. © D an iil P es hk ov / / 1 23 R F. Fundamentos da Macroeconomia18 Entretanto, em 1929, o mercado não foi capaz de se autorregular, pois havia um excesso de oferta e um desemprego alarmante.Nesse contexto, surge o pensamento Keynesiano, destacando que, às vezes, a mão invisível falha e, quando isso acontece, em um cenário de desemprego, falta de recursos, os governos podem intervir, por meio de políticas fiscais e monetárias, a fim de melhorar os resultados do mercado. Para que se entenda como Keynes foi importante para a evolução da teoria macroe- conômica, serão apresentados os números assustadores que levaram a grandes discussões sobre o porquê de a mão invisível não funcionar. Conhecida como o maior choque da eco- nomia moderna, a grande depressão provocou queda na produção industrial, entre 1930 e 1932, de 50% nos Estados Unidos, de aproximadamente 30% na França, de quase 10% na Inglaterra e de cerca de 40% na Alemanha (PASSOS; NOGAMI, 2016). Ademais, a deflação, nunca vista antes, atingiu as economias industrializadas, com preços caindo mais de 30% nos Estados Unidos e na Alemanha, mais de 40% na França e quase 25% no Reino Unido. Isso tudo sem falar no desemprego, que alcançou patamares superiores a 24% nos Estados Unidos e Europa (PASSOS; NOGAMI, 2016). Nesse panorama, a principal contribuição de Keynes foi a fantástica forma de olhar para a Macroeconomia e para a política macroeconômica. Antes de Keynes, os economis- tas e as autoridades econômicas aceitavam os altos e baixos dos ciclos econômicos como algo inevitável (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Pausa para refletir Os altos e baixos na economia são conhecidos como ciclos econômicos. Nesse sentido, como é possível entender a política keynesiana em relação à temporalidade? Todavia, com sua obra, Keynes deu um enorme salto intelectual ao apresentar dois argumentos: “é possível a persistência de desemprego alto e de capacidade subutilizada nas economias de mercado; e as políticas fiscais e monetárias do governo podem influen- ciar a produção e, assim, reduzir o desemprego e encurtar as recessões econômicas” (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012, p. 328). 19Fundamentos da Macroeconomia Houve impacto das ideias de Keynes, ao serem apresentadas pela primeira vez em um cenário de plena depressão. Notadamente, em um primeiro momento, essas ideias ori- ginaram muita controvérsia e discussão. Entretanto, após “a Segunda Guerra Mundial, a economia keynesiana passou a dominar a Macroeconomia e a política governamental” (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012, p. 328). Desde aquela época, “novos desenvolvimentos incorporando condicionantes da oferta, expectativas e visões alternativas sobre a dinâmica dos preços e dos salários cor- roem o anterior consenso keynesiano” (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012, p. 328). Apesar de um pequeno número de economistas da contemporaneidade acreditar que a ação do governo possa eliminar os ciclos econômicos (como a economia de Keynes), “nem a ciên- cia econômica nem a política econômica foram as mesmas desde a grande descoberta de Keynes” (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012, p. 328). 1.1.2 Evolução da Teoria Econômica Antes dessa depressão, os economistas clássicos dominavam o pensamento eco- nômico, dando ênfase à autorregulação do mercado, isto é, sem a necessidade de inter- ferência do governo, as economias conseguiam utilizar, de forma eficiente, os recursos e promover o pleno emprego (PASSOS; NOGAMI, 2016). Assim, os economistas clássicos acreditavam na plena flexibilidade de preços e salá- rios, que sempre iriam ajustar-se ao mercado, atestando o equilíbrio no mercado de tra- balho e o pleno emprego (PASSOS; NOGAMI, 2016). Ainda, os clássicos admitiam, que a demanda ou procura agregada de bens e serviços, constituída por despesas com bens de consumos e gastos em investimentos, não era um fator decisivo do nível de produto (PASSOS; NOGAMI, 2016). Fundamentos da Macroeconomia20 © L ig ht w is e / / 1 23 R F. Não obstante, segundo a Lei de Say, de fato, se as economias se comportassem de acordo com esses pressupostos, os níveis de produto e emprego já estariam determi- nados e a competição ajudaria a manter ou direcionar a economia para o pleno emprego (PASSOS; NOGAMI, 2016). Por exemplo, se a quantidade ofertada superasse a deman- dada, a competição forçaria os preços para baixo, até garantir que todos os bens fossem comprados pelos consumidores. Nesse sentido, por algum motivo, se os trabalhadores estivessem desempregados, eles iriam competir por trabalho, oferecendo-se para a função por um salário mais baixo (PASSOS; NOGAMI, 2016). Contexto Com o aumento da competição por trabalho, os salários tenderiam a cair, elevando a lucratividade das firmas, que passariam a contratar mais trabalhadores. Dessa for- ma, os clássicos acreditavam que a economia sempre operava no pleno emprego. Ainda, conforme os economistas clássicos, a renda das pessoas era direcionada para a aquisição de bens e serviços. Caso parte dessa renda fosse poupada, a poupança seria canalizada para se adquirir títulos. O volume de poupança, então, correspondia ao volume de fundos financeiros, que seriam emprestados a outros agentes econômicos para se adquirir bens de capital. Assim, as flutuações na taxa de juros asseguravam que toda 21Fundamentos da Macroeconomia poupança planejada fosse emprestada. Nesse sentido, os clássicos acreditavam que a pro- dução criava a oferta e, então, a demanda equivalente (PASSOS; NOGAMI, 2016). Tal pensamento foi aceito até 1930, porém, com a grande depressão, surgiram as insatisfações em relação à teoria clássica, principalmente a de que a economia operava no pleno emprego e que não haveria capacidade ociosa nas empresas. Na verdade, a teoria clássica não podia explicar, e muito menos oferecer, alternativas para a economia sair do desemprego (PASSOS; NOGAMI, 2016). Nesse contexto, surge uma alternativa à visão clássica: a obra de Keynes. Tal obra sustentava a ideia de que a economia poderia atingir o equilíbrio por meio da intervenção do governo, para direcionar a economia para o pleno emprego. Keynes buscou mostrar que não há perfeita flexibilidade de preços e salários e que o pleno emprego de recursos não estaria garantido (PASSOS; NOGAMI, 2016). Além disso, Keynes tratou da rigidez salarial, chamando a atenção dos sindicatos. A rigidez salarial levaria ao desemprego involuntário, ou seja, quando os trabalhadores pro- curam empregos, e não encontram. Nessa perspectiva, a economia operaria abaixo do pleno emprego (PASSOS; NOGAMI, 2016). Keynes enfatiza, ainda, que os níveis de produto e emprego são determinados pela demanda agregada. Diferentemente, os economistas clássicos enfatizavam que a oferta cria sua própria demanda. Para Keynes, a demanda agregada é constituída pela demanda dos consumidores, das firmas, do governo e das exportações líquidas. De fato, para Keynes, o valor do produto total é decorrente do valor total da renda e do nível de emprego, que são determinados pela demanda agregada. Aqui, Keynes refuta a Lei de Say, pois, para ele, a crise ocorre pela insuficiência de demanda. Se não há for- ças que promovam o pleno emprego de forma automática, é necessária a intervenção do governo, a fim de melhorar os resultados do mercado (PASSOS; NOGAMI, 2016). A intervenção do governo, para Keynes, seria por meio de política fiscal e monetá- ria expansionista. Esse argumento leva ao fim o não intervencionismo da economia na Era Clássica, que se iniciou em 1776 com Adam Smith e a publicação de seu trabalho A Riqueza das Nações. Assim, o discurso de que o governo poderia intervir na economia para pre- venir ou enfrentar as recessões econômicas foi tão bem aceito que tal conjunto de ideias foi denominado Revolução Keynesiana, sendo adotado por inúmeros países (PASSOS; NOGAMI, 2016). Nesse sentido, passou-se a acreditar que o combate a recessões poderia ser reali- zado por meio de políticas fiscais e monetárias. Com isso, a maioria das economias cresceu Fundamentos da Macroeconomia22 rapidamente, sem grandes problemas macroeconômicos, como recessão e inflação,até os anos de 1970 (PASSOS; NOGAMI, 2016). De fato, a partir de 1970, muitos países passaram por um fenômeno chamado estag- flação, isto é, uma combinação de estagnação econômica (crescimento baixo ou negativo e elevado desemprego) com alta inflação. Nesse momento, houve uma contrarrevolução, na qual surgiram os monetaristas (PASSOS; NOGAMI, 2016). Os monetaristas, em oposição ao pensamento keynesiano, passaram a argumen- tar que a economia de mercado é autorreguladora, isto é, se não houver intervenção do governo, tende a voltar ao pleno emprego (PASSOS; NOGAMI, 2016). Por outro lado, os keynesianos acreditavam que os desequilíbrios exigiam intervenções governamentais. Cabe ressaltar que, para os monetaristas, a inflação é um fenômeno essencialmente monetário e a moeda é a variável mais importante na determinação da demanda agregada da economia (PASSOS; NOGAMI, 2016). Nessa perspectiva, para combater a inflação, é necessário um controle efetivo do estoque de moeda. Ademais, as mudanças na política monetária, como aumentos na oferta de moeda, podem estimular a demanda agregada e ter um impacto na economia no curto prazo. Por outro lado, no longo prazo, ocorreria o processo inflacionário (PASSOS; NOGAMI, 2016). Dessa forma, para os monetaristas, a moeda seria perniciosa, pois eles defendiam que as flutuações econômicas podem ser resultado de alterações na oferta de moeda. Notadamente, para os monetaristas, uma oferta de moeda estável seria o verdadeiro segredo da estabilidade econômica. Já entre as décadas de 1970 e 1980, surgem as escolas das expectativas racionais, lideradas por Robert Lucas e Robert Barro. Tais escolas ficaram conhecidas como os novos clássicos, sustentando que a economia é autorreguladora e que as políticas governamen- tais não são eficazes para estabilizá-la (PASSOS; NOGAMI, 2016). Afirmação Tanto os novos clássicos como os monetaristas acreditam que o crescimento da oferta de moeda deve ser controlado e que políticas de expansão da base monetária não terão efeito sobre a demanda agregada, podendo levar a economia a uma situação inflacionária no longo prazo (PASSOS; NOGAMI, 2016). 23Fundamentos da Macroeconomia A ideia das expectativas racionais dos novos clássicos consiste em afirmar que as pessoas e empresas obtêm suas expectativas com relação ao futuro de forma racional. Por isso, as políticas econômicas não têm tanto efeito como o previsto, visto que as pes- soas constroem suas expectativas com base no passado e no futuro, por causa do acesso à grande quantidade de informação. Sendo assim, conforme o caminhar da economia, os agentes econômicos são capazes de prever as ações do governo. Consequentemente, tais ações tornam-se ineficazes (PASSOS; NOGAMI, 2016). Considerando uma economia que esteja indo em direção a uma recessão, os preços e salários tendem a cair, porém, se houver uma política expansionista, os preços não se redu- zirão, visto que os agentes econômicos, ao identificarem a política expansionista, acredi- tam que haverá um aumento da demanda. Com isso, os preços permanecerão altos e um aumento na oferta monetária irá pressiona-los, gerando inflação (PASSOS; NOGAMI, 2016). Num período mais recente, nasceu outra escola de pensamento: os defensores do ciclo real de negócios, argumentando que os choques da economia são tecnológicos e, sendo assim, não são os choques de demanda ou choques políticos que explicam as flutua- ções econômicas (PASSOS; NOGAMI, 2016). Surgiram, também, os neokeynesianos, ten- tando colocar as ideias fundamentais de Keynes em um esquema teórico mais sólido. Por fim, nasceram os defensores do papel das instituições e da tecnologia, denomina- dos institucionalistas. Fazem parte dessa corrente de pensamento John Kenneth Galbraith, Thorstein Veblen, dentre outros, que centravam sua análise no papel desempenhado pelas instituições no processo de formação de preços e de alocação de recursos (PASSOS; NOGAMI, 2016). 1.2. Natureza e causas das flutuações econômicas Agora, serão trazidos alguns aspectos do Produto Interno Bruto (PIB) real e potencial, com ênfase nos principais problemas macroeconômicos, como: recessão, desemprego da força de trabalho e inflação. Notadamente, será trabalhada em conjunto a Macroeconomia de curto prazo, e também serão compreendidos os aspectos dessa política em longo prazo. Para isso, será abordada a relação entre desemprego e produto, inflação e desemprego. Fundamentos da Macroeconomia24 1.2.1 Desvios do PIB real em relação ao PIB potencial Tendo em vista o nascimento e a evolução da teoria em questão, você, provavel- mente, já percebeu ao menos alguns dos principais objetivos e instrumentos das políticas macroeconômicas. Os principais objetivos são: crescimento do nível de produção, eleva- ção do nível de emprego e níveis de preços estáveis, ou seja, uma economia livre da reces- são, desemprego e sem significativas variações de preços. Para isso, existem instrumentos, como a política fiscal e a política monetária. Políticas fiscal e monetária Nessa perspectiva, o sucesso econômico depende da condução do nível de produção de bens e serviços numa economia. Como medida para esse nível de produção, existe o Produto Interno Bruto (PIB). O PIB é a quantificação do valor de mercado de todos os bens produzidos num país durante um ano, como habitação, educação, alimentos, cerveja, auto- móveis, concertos, passeios, dentre outros (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Existem duas formas de medição do PIB: o pIB real e o pIB nominal. O PIB real é cal- culado a preços constantes ou invariáveis, levando em consideração a quantidade produ- zida e eliminando os efeitos da inflação. Já o PIB nominal é medido a preços correntes de mercado, isto é, no ano em que o produto foi produzido e comercializado (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). 25Fundamentos da Macroeconomia Dessa forma, o processo de crescimento econômico ocorre a partir de um cresci- mento contínuo no longo prazo do PIB real e uma melhoria dos padrões de vida de uma população. O PIB potencial representa o nível de produção sustentável máximo que uma economia pode alcançar (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Pausa para refletir: Ao se comparar a diferença entre o PIB real e o PIB potencial, há o hiato do produto. Por que calcular o hiato do produto? De acordo com Dornbusch, Fischer e Startz (2013), o hiato do produto é a diferença entre o produto real e o produto potencial, isto é, o que a economia poderia produzir no pleno emprego, dados os recursos existentes. Assim: Hiato do produto = produto real – produto potencial. Tal fato pode ser observado na figura “PIB real e potencial nos Estados Unidos”. Fundamentos da Macroeconomia26 pIB real e potencial nos Estados unidos S A M U EL S O N ; N O R D H A U S , 2 01 2, p . 3 31 . Observe, na figura “PIB real e potencial nos Estados Unidos”, o hiato do produto nos anos de 1930 a 1940 e perceba que o PIB real estava muito abaixo do PIB potencial. Quando isso ocorre, tem-se como consequência um desemprego elevado. Ainda na refe- rida figura, após 1940, o PIB real ficou acima do PIB potencial. Nesse caso, quando a produção cresce acima do produto potencial, a inflação dos preços tende a aumentar (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Notadamente, o produto potencial é determinado pela capacidade de produção da economia, a qual depende destes fatores: capital, trabalho, terra e eficiência tecnológica. Assim, o PIB potencial tende a crescer de forma gradativa, uma vez que os fatores de pro- dução variam lentamente ao longo do tempo (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Em contrapartida, o pIB real está sujeito a grandes variações cíclicas. Logo, durante as recessões cíclicas, ele cai abaixo do seu potencial, aumentando o desemprego (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Nesse sentido, a inflaç ã o, o crescimento e o desem- prego estã o relacionados ao ciclo econô mico, que é um padrão de expansãoe contra- ção da atividade econômica ao longo de uma trajetória de crescimento (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013), conforme apresentado na figura “Ciclos econômicos”. 27Fundamentos da Macroeconomia Ciclos econômicos D O R N B U S C H ; F IS C H ER ; S TA R T Z , 2 01 3, p . 1 4. Na fi gura “Ciclos econômicos”, no “pico cí clico, a atividade econô mica é alta em rela- ç ã o à tendê ncia; em um vale cí clico, é atingido o ponto baixo na atividade econô mica. Todos (infl aç ã o, crescimento e desemprego) possuem padrõ es cí clicos” (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013, p. 14). É importante, agora, prestar atenção no comportamento do produto (PIB) em relação à tendência do ciclo econômico (a linha azul da fi gura). Essa trajetó ria de tendê ncia do PIB seria a trajetó ria que ele tomaria se os fatores de produç ã o fossem plenamente empregados. Mas não é isso que ocorre o tempo todo, pois o PIB varia constantemente, ou seja, a população aumenta, os empresários adquirem máqui- nas e equipamentos, o conhecimento melhora, enfim, todos esses recursos aumentados permitem que o nível do produto cresça. Em contrapartida, os fatores de produção não são empregados o tempo todo, visto que, para isso, todas as pessoas teriam que estar trabalhando, em média, de 8 a 16 horas por dia. Em “termos econô micos, há o pleno emprego de trabalho quando todas as pes- soas que querem um emprego podem encontrá-lo em um intervalo de tempo razoá vel” (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013, p. 15). Fundamentos da Macroeconomia28 Nessa perspectiva, o hiato do produto permite mensurar o tamanho de seus des- vios cíclicos, em relação ao produto potencial, ou da tendência do produto (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). Assim, para buscar equilíbrio econômico de curto prazo e con- trolar o hiato do produto, é necessário evitar as grandes variações cíclicas do PIB real. Para isso, o governo pode utilizar dois instrumentos: a política fiscal e a política monetária. A política fiscal utiliza impostos e gastos do governo. Os gastos do governo corres- pondem às compras governamentais, gastos com bens e serviços e transferência de ren- das (aposentadorias, seguro desemprego e bolsa família). Dessa forma, uma ampliação das despesas do governo influencia o nível global de despesa da economia, bem como o PIB. Por causa do peso dos gastos do governo na economia, um aumento desses implica uma elevação do PIB. Por outro lado, uma redução das despesas reduz o PIB. Existem, ainda, os tributos que afetam a economia, visto que os impostos influen- ciam as rendas das pessoas e, por sua vez, o consumo (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Nessa perspectiva, deixar as pessoas com maior ou menor renda disponível provoca efei- tos relevantes na economia. Por exemplo, o governo pode tentar estimular a economia com desemprego de recursos, ou seja, por meio de uma redução dos impostos, ampliando a renda disponível para as famílias para que elas passem a ter mais renda para gastar ou poupar. Sendo assim, essa medida provoca um crescimento do PIB. Em contrapartida, um aumento no imposto leva a um efeito contrário, reduzindo, assim, o PIB. Por outro lado, existe a política monetária, considerada o segundo instrumento mais importante da política macroeconômica (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Tal política é conduzida pelo governo por meio da gestão da moeda, do crédito e do sistema bancário (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Você já deve ter notado como o Banco Central do Brasil aumenta e reduz a taxa de juros da economia. O Banco Central afeta a economia ao determinar as taxas de juros de curto prazo e também pela compra e venda de títulos públicos. Por exemplo, para segurar a inflação, o governo pode decidir aumentar a taxa de juros. Dessa forma, as pessoas serão incentivadas a deixarem de consumir e a aplicarem o dinheiro em títulos públicos. Com a aquisição de tais papéis, “retira-se” o dinheiro de circulação. Nesse caso, a pessoa, incen- tivada pelo aumento dos juros, pode deixar de comprar um caro zero para adquirir títulos. Por outro lado, se a economia estiver em recessão e o governo decidir estimular o con- sumo, ele pode reduzir a taxa de juros, tornando os títulos públicos não tão atrativos assim, o que faria com que as pessoas pudessem preferir a moeda para realizar as transações ao invés de adquirir títulos. Assim, Samuelson e Nordhaus (2012) afirmam que a política monetária tem um efeito importante tanto sobre o PIB real quanto sobre o PIB potencial. 29Fundamentos da Macroeconomia 1.2.2 Macroeconomia de curto e longo prazo A Macroeconomia é diferenciada pelos economistas entre de médio e de longo prazo. A Macroeconomia de curto prazo considera os preços e salários fixos. Portanto, analisa os ciclos econômicos bem como os fatores que estabelecem o produto, determinado pela demanda. Assim, muitos fatores afetam a demanda, desde a confiança do consumidor até as políticas fiscais, monetárias e cambiais. Já a Macroeconomia de médio prazo estuda o que determina o produto, como recur- sos tecnológicos, estoque de capitais e força de trabalho. No longo prazo, os preços e salários são flexíveis e o produto é determinado pelos fatores de produção. Assim, são estudadas as relações entre crescimento econômico, renda e riqueza, distribuição de renda e a razão de alguns países serem ricos enquanto outros são pobres. Para isso, as políticas econômicas de longo prazo, comumente, focam em fatores como instrução, pesquisa, pou- pança e papel do governo. © L ig ht w is e / / 1 23 R F. A história econômica, ao ser observada, é descrita conforme o desempenho macroe- conômico das economias. oqual pode ser analisado conforme as relações entre a demanda e a oferta agregada, uma vez que tais relações explicam as principais tendências de varia- ções nos preços, quando se leva em consideração o equilíbrio do mercado de bens, finan- ceiro e de trabalho, o que pode ser observado, na figura “Oferta e demanda agregadas determinam as principais variáveis macroeconômicas”. Fundamentos da Macroeconomia30 oferta e demanda agregadas determinam as principais variáveis macroeconômicas S A M U EL S O N ; N O R D H A U S , 2 01 2, p . 3 35 . Pense que o ní vel da oferta agregada é a quantidade de bens que a economia pode produzir, de acordo com os recursos e a tecnologia disponí veis. Por outro lado, o ní vel de demanda agregada é a demanda total por bens de consumo, por novos investimentos, por bens adquiridos pelo governo e por bens lí quidos a serem exportados (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). Na figura “Oferta e demanda agregadas determinam as principais variáveis macroe- conômicas”, observe, os principais determinantes que afetam a atividade econômica global. Do lado esquerdo, estão as variáveis que determinam a demanda e a oferta agre- gadas. No centro, mostra-se como elas interagem entre si. Finalmente, o lado direito apre- senta o resultado em termos de produto, emprego, nível de preços e comércio externo (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Observe, na parte inferior da figura “Oferta e demanda agregadas determinam as principais variáveis macroeconômicas”, na qual estão apresentadas as forças que afetam a oferta agregada (OA), que há referência à quantidade de bens e serviços totais que as fir- mas de um país estão dispostas a produzir e vender em um dado período (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Conforme o verificado, a oferta agregada depende do nível de preços, 31Fundamentos da Macroeconomia custos e da capacidade de produção da economia em termos de recursos como mão de obra, capital e tecnologia. Apesar da oferta agregada, as empresas estão, em geral, dispostas a venderem tudo o que puderem pelo maior preço possível (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Assim, durante uma expansão, as empresas se esforçam para entregar todos os produtos deman- dados. Em contrapartida, em tempos de contração de demanda,as empresas podem per- ceber que possuem excesso de capacidade e de custos (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Nesse sentido, a produção nacional e o nível geral de preços dependem do comporta- mento da oferta e também da demanda agregada (DA). Na parte de cima da figura “Oferta e demanda agregadas determinam as principais variáveis macroeconômicas”, tem-se a demanda agregada, que é igual ao total da despesa em bens e serviços, dependendo do nível de preços e das políticas fiscal e monetária (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). A demanda agregada é composta por consumo, investimentos, gastos do governo e exportações menos importações. DA = C + I + G (X – M) DA = demanda agregada C = consumo das famílias I = investimento G = gasto do governo X = exportação de bens e serviços M = importação de bens e serviços Assim, a demanda agregada é afetada pelos seus componentes e pelas variáveis exó- genas, como o gasto do governo. Nesse sentido, quando há um equilíbrio entre oferta e demanda agregada, a produção nacional e o nível de preços estão estabelecidos no pata- mar em que há consumidores dispostos para a compra e empresas dispostas para a venda (SAMUELSON; NORDHAUS, 2012). Desse modo, a relação de oferta agregada reflete os efeitos do produto sobre o nível de preços e decorre do equilíbrio no mercado de trabalho, isto é, da relação entre o nível de preços, o nível de preços esperado e o nível de produção. Por outro lado, a relação de demanda agregada reflete o nível de preços sobre o produto. Fundamentos da Macroeconomia32 No curto prazo, as variações no produto da economia são causadas tanto por varia- ções na oferta agregada quanto na demanda agregada. Ao se analisar, no curto prazo, as curvas de OA e DA, verifica-se que a curva de oferta agregada é horizontal. Observe, a seguir, a figura “Oferta agregada e demanda agregada: curto prazo”. oferta agregada e demanda agregada: curto prazo D O R N B U S C H ; F IS C H ER ; S TA R T Z , 2 01 3, p . 9 . “Ocorre que, no curto prazo, o produto é determinado apenas pela demanda agre- gada e os preç os nã o sã o afetados pelo ní vel de produto” (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013, p. 9). Cabe ressaltar que a demanda agregada, por vezes, é o campo da explicação das flutuações. No médio prazo, o produto é determinado pelo equilíbrio no mercado de trabalho, no qual a velocidade do ajuste de preç os é resumida na curva de Phillips, que relaciona infla- ç ã o e desemprego. Por isso, as curvas de oferta e demanda agregada possuem uma incli- nação intermediária, conforme demonstra a figura “Oferta agregada e demanda agregada: médio prazo”. 33Fundamentos da Macroeconomia oferta agregada e demanda agregada: médio prazo D O R N B U S C H ; F IS C H ER ; S TA R T Z , 2 01 3, p . 1 0. Assim, em uma economia com capacidade de produção fixa, “no longo prazo, o ní vel de produto é determinado somente por consideraç õ es por parte da oferta. Basicamente, o produto é determinado pela capacidade produtiva da economia” (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013, p. 6). O ní vel de preç os é determinado pela demanda em relaç ã o ao produto que a economia pode ofertar. A seguir, há a figura “Oferta agregada e demanda agregada: longo prazo”. Fundamentos da Macroeconomia34 oferta agregada e demanda agregada: longo prazo D O R N B U S C H ; F IS C H ER ; S TA R T Z , 2 01 3, p . 7 . Na fi gura “Oferta agregada e demanda agregada: longo prazo”, há o diagrama da oferta e de demanda, agregada com uma curva de oferta agregada vertical. Na curva de oferta agregada (OA), está representada, a cada ní vel de preç os, a quantidade de produto que as empresas estã o dispostas a ofertar (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). Com isso, a posiç ã o da curva de oferta agregada depende da capacidade produtiva da economia. Na curva de demanda agregada (DA), está apresentado, a cada ní vel de preç os, o ní vel de produto no qual os mercados de bens e os mercados monetá rios estã o, simultaneamente, em equilí brio (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). A posiç ã o da curva de demanda agregada depende das polí ticas monetá rias e fi scais e do ní vel de confi anç a do consumidor. A interseç ã o da oferta agregada com a demanda agregada determina preç o e quantidade. “Em longo prazo, a curva de oferta agregada é vertical. O produto está atrelado à posiç ã o em que essa curva de oferta atinge o eixo horizontal. O ní vel de preç os, por sua vez, pode assumir qualquer valor” (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013, p. 7). Logo, no longo prazo o produto é determinado somente pela oferta agregada, e os preç os sã o determinados pela oferta agregada e pela demanda agregada. Cabe ressaltar que, no longo prazo, conforme ocorre o crescimento econômico, a curva de oferta, geralmente, move-se para a direita em ordem de pequenas porcentagens (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). 35Fundamentos da Macroeconomia Ademais, os movimentos na demanda agregada podem ser pequenos ou gran- des. Logo, a única fonte possível de inflação elevada está em grandes movimentos de demanda agregada, que se deslocam, cruzando a curva de oferta agregada na verti- cal (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). Diante disso, serão abordadas essas rela- ções no decorrer do texto. Por isso, o escopo deste material está limitado ao estudo da Macroeconomia de curto e médio prazo. 1.2.3 Desemprego e produto Neste tópico, será trabalhada a relação entre o mercado de trabalho, o produto e a determinação de preços e salários. Por isso, é importante frisar que alterações na renda interferem na demanda por bens e que variações na demanda por bens levam a mudanças no produto, as quais, por sinal, interferem diretamente na renda (BLANCHARD, 2004). Como a mão de obra é um fator de produção, alterações nos salários podem levar a mudanças no nível de preços e também do produto. Para entender essa dinâmica, é neces- sário trazer o conceito de oferta e demanda para o mercado de trabalho. Ao se pensar pela lei da oferta, quanto maior a oferta de trabalho, considerando a demanda constante, menor serão os salários. Logo, quanto maior o desemprego, menor tende a ser o salário (BLANCHARD, 2004). © L er ijs er ge ev / / 1 23 R F. . Fundamentos da Macroeconomia36 O contrário é verdadeiro, pois quanto menor a oferta de trabalho, maior tende a ser o salário. Ainda, se houver um aumento na demanda por mão de obra, mantendo-se a oferta constante, o salário tende a subir. Por outro lado, se houver uma redução da demanda por mão de obra, os salários tendem a cair (BLANCHARD, 2004). Pense que as empresas podem demitir em função de uma queda na demanda ou reduzir o número de contratações. Se as empresas, inicialmente, optarem pela redução do número de contratações, isso levará a uma maior concorrência no mercado de trabalho (BLANCHARD, 2004). Em contrapartida, se a decisão for demitir, haverá a possibilidade de os que estão empregados perderem o emprego, o que pode levar a um alto desemprego e a uma piora na situação dos trabalhadores. A probabilidade de que os trabalhadores venham a perder o emprego é maior e, se eles ficarem desempregados, há uma probabilidade de permanece- rem no desemprego por um período mais longo (BLANCHARD, 2004). Assim, considerando a lei da oferta e da demanda no mercado de trabalho, é possí- vel inferir que um aumento na taxa de desemprego afeta os salários. Logo, a determinação dos salários depende do nível de desemprego, de forma que o nível de desemprego enfra- quece o poder de barganha do trabalhador, forçando-o a aceitar um salário mais baixo (BLANCHARD, 2004). Outro fator que pode afetar os salários é o seguro-desemprego, visto que quanto melhor ele for, mais as pessoas tenderão a abrir mão do emprego em prol de consegui- rem o benefício, o que pode levar a um maior desemprego. Pense que se o seguro-desem- prego não existisse, o indivíduo, para nãoficar desempregado, aceitaria qualquer salário. No entanto, com o seguro-desemprego, o trabalhador tenderia a escolher um trabalho que oferecesse um salário melhor, para que não fosse necessário abrir mão do benefício em prol de um emprego, uma vez que o benefício de seguro desemprego tende a elevar os salários (BLANCHARD, 2004). Agora, imagine que as empresas produzam bens utilizando o trabalho como o único fator de produção, embora seja preciso destacar que elas utilizam máquinas e precisam de uma infraestrutura. Porém, para efeito de exemplo, considere somente a mão de obra. Não obstante, se a mão de obra é um fator de produção, o custo para produzir algum bem é o salário (W) do trabalhador. De acordo com Blanchard (2004), para a empresa calcular o preço (P) do seu produto, levará em consideração a margem de lucro (m) que deseja obter e também o valor dos salários. Observe a fórmula a seguir: 37Fundamentos da Macroeconomia Perceba que os preços possuem uma relação direta com o salário, visto que à medida que o salário aumenta, os preços também aumentam, e vice-versa. Assim, ao se dividir ambos os lados da equação (P = (1+ m) W) pelo salário, tem-se: A razão entre o nível de preços e salários é resultante do processo de formação de preços das empresas, que é igual a um mais a margem de lucro, ao se pensar que os salá- rios são nominais. Uma elevação na margem de lucros das empresas leva a um aumento de preço, o que provoca uma redução no salário real (BLANCHARD, 2004). Contexto O salário real é medido em termos de poder de compra, num dado período. Ima- gine que você ganhe R$ 1.000,00 e consiga comprar dez camisetas por R$ 100,00 cada. Se houver aumento no preço, para R$ 110,00, e seu salário manter-se constante, você passará a adquirir apenas nove camisetas. Como os salários são fi xados por um determinado período, durante um tempo, mesmo que haja um aumento de preço, os salários, normalmente, não serão reajustados, ou seja, esse reajuste demora um tempo. Portanto, como os preços dos produtos dependem dos salários e da margem de lucro, uma margem de lucro maior leva a um salário real menor. Ademais, o equilíbrio do mercado de trabalho requer que o salário real escolhido na determinação dos salários seja igual ao salário real resultante da fixação dos preços. Esse equilíbrio, então, determina a taxa de desemprego (BLANCHARD, 2004). Assim, a taxa de desemprego permite identificar se a economia está operando acima ou abaixo de seu nível normal de atividade. Nesse sentido, um alto crescimento do produto leva a uma queda da taxa de desemprego. Por outro lado, o baixo crescimento está asso- ciado a uma elevação da taxa de desemprego. Fundamentos da Macroeconomia38 Não obstante, um aumento no produto leva a um aumento do nível geral de preços, o que implica em um aumento do emprego. Um aumento do emprego, porém, leva a uma redu- ção do desemprego e, portanto, a uma queda da taxa de desemprego (BLANCHARD, 2004), tendo vista que uma queda da taxa de desemprego leva a um aumento dos salários nominais. Logo, um aumento dos salários nominais implica em um aumento dos preços defi nidos pelas empresas, o que equivale a um aumento do nível de preços (BLANCHARD, 2004). Cabe ressaltar que há uma dinâmica sobre as expectativas de aumento de preços. Por exemplo, um nível esperado de preços mais elevado provoca um nível de preços corren- tes, proporcionalmente, mais alto, ou seja, se o nível de preços esperados dobrar, o nível de preços correntes irá dobrar (BLANCHARD, 2004). Esse efeito acontece por meio dos rea- justes salariais. Se os responsáveis pelos reajustes dos salários tiverem expectativas de aumento de preços, eles estabelecerão salários nominais mais altos. Por sua vez, isso levará as empre- sas a fixarem preços mais elevados (BLANCHARD, 2004). Assim, a relação entre o produto e o nível de preços, para um dado valor de nível de preços esperados, é representada pela curva OA (oferta agregada), na figura “Oferta agregada” a seguir. oferta agregada B L A N C H A R D , 2 00 4, p . 1 34 . 39Fundamentos da Macroeconomia Dessa forma, a curva, na figura “Oferta agregada” tem três propriedades: primeira- mente, uma oferta agregada possui inclinação ascendente, de forma que um aumento do produto leva a um aumento do nível de preços; em segundo lugar, a curva de oferta agre- gada passa pelo ponto A, no qual o produto (Y) é igual ao seu produto natural (Yn) e o seu nível de preços (P) é igual ao nível de preços esperados (Pe); por fim, aumentos no nível de preços farão com que a curva de oferta agregada desloque-se para cima, e a queda nos preços levará a um deslocamento da curva para baixo (BLANCHARD, 2004). 1.2.4 Inflação e desemprego Agora, você entenderá, de forma detalhada, a relação da demanda agregada como uma variação entre a inflação, a expectativa de inflação e o desemprego ao longo do tempo. A taxa de inflação é um percentual do aumento generalizado dos preços, o que resulta na perda do poder aquisitivo da moeda (PASSOS; NOGAMI, 2016). Por exemplo, você precisa de mais moedas, hoje, para comprar um litro de leite do que precisava alguns anos atrás. Logo, a inflação é uma desvalorização da moeda, isto é, para se adquirir o mesmo produto, mais moedas são necessárias. Isso ocorre quando o PIB nominal aumenta mais rapidamente que o PIB real. © A nd re a D an ti / / 1 23 R F. Fundamentos da Macroeconomia40 É importante destacar que existem dois tipos de infl ação: a de demanda e a de custos. “A infl aç ã o de demanda diz respeito ao excesso de demanda agregada em relaç ã o à produ- ç ã o disponí vel de bens e serviç os (oferta agregada) (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 506). Esse tipo de infl ação pode ser entendido como “dinheiro demais à procura de poucos bens”. Dessa forma, políticas expansionistas de demanda agregada tendem a gerar inflação (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). Por exemplo, o governo, ao financiar seus deficit emitindo moeda, cria um processo inflacioná rio. Imagine uma economia na qual a demanda é dada por: Considere a oferta agregada (OA) dada por Y, que mede o ní vel de renda ou de pro- duto da economia. Para que a economia esteja em equilí brio, é preciso que a oferta agre- gada seja igual à demanda agregada (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 506). Veja: Em que: Agora, se o produto está operando abaixo do pleno emprego, nesse cenário, não há inflação. “Presume-se aqui que, se houver desemprego em larga escala na economia, aumento da demanda agregada deverá corresponder a aumento na produç ã o agregada de bens e serviç os, sem que haja correspondente aumento de preç os” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 508). Entretanto, uma vez atingido o pleno emprego, qualquer aumento adicional da demanda agregada provocará apenas aumento de preç os, visto que a demanda estará maior que a oferta (PASSOS; NOGAMI, 2016). Por outro lado, para se combater a inflaç ã o, será necessário reduzir a demanda agre- gada por bens e serviç os, uma vez que, em curto prazo, ela se mostra mais sensí vel a alte- raç õ es de polí tica econô mica que a oferta agregada, cujos ajustes se dã o em longo prazo. Dessa forma, uma contração da demanda agregada tende a reduzir a taxa de inflação (PASSOS; NOGAMI, 2016). 41Fundamentos da Macroeconomia Em contrapartida, existe a inflação de custos, provocada pelo aumento de custos de produção, como matéria-prima e salários, em que a demanda é constante. Essa eleva- ção dos custos leva a uma retração da produção, uma vez que ocorre um deslocamento da curva de oferta para a esquerda, provocando um aumento de preços. Perceba que a inflação tem uma relação direta com os salários e o mercado de tra- balho. Quando o desemprego está baixo, a inflação tende a subir; quando o desemprego está alto, a inflação tende a cair. Logo, “a variação da inflação depende da diferença entre as taxas de desempregoatual e natural. Quando a taxa de desemprego atual ultrapassa a taxa natural, a inflação cai; quando a taxa de desemprego atual é menor que a taxa natural, a inflação aumenta” (BLANCHARD, 2004, p. 163). A inflação, bem como o desemprego, é uma grande preocupação macroeconômica. Cabe ressaltar que os custos do desemprego englobam o desperdício do produto potencial. No caso da inflação, não há uma perda evidente de produto, mas ela incomoda as relações dos preços conhecidas e reduz a eficiência do sistema de preços (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). A inflação é perniciosa, pois provoca diversos danos à economia e, consequente- mente, à sociedade, como a redução do poder aquisitivo de alguns segmentos da popula- ção que possuem rendimentos fixos, por exemplo, aluguéis e salários. Por sua vez, aqueles com renda livre, como empresas e especuladores, são mais favorecidos pelo processo infla- cionário (PASSOS; NOGAMI, 2016). A inflação influencia a alocação de recursos na economia, visto que costuma modi- ficar o perfil de investimentos dos agentes econômicos, provocando resistências em investidores ao alocar recursos em projetos de longo prazo. Por fim, a inflação influen- cia o balanço de pagamentos, visto que a elevação dos preços internos encarece o pro- duto nacional, o que pode dificultar as exportações e estimular as importações (PASSOS; NOGAMI, 2016). Nesse contexto, os formuladores de políticas econômicas, comumente, estão dis- postos a aumentar o desemprego como um esforço para diminuir a inflação. Para isso, os governos utiliza políticas de contração de demanda, o que leva a uma queda na quanti- dade da demanda de produtos na economia. As empresas param de contratar ou passam a demitir, gerando desemprego. Indivíduos desempregados consomem menos, o que leva a um maior desemprego e uma redução da inflação (PASSOS; NOGAMI, 2016). Para comprimir a demanda agregada, são utilizadas políticas de: “aumento da carga tributária; redução dos gastos do governo; elevação das taxas de juros; controle de cré- dito; e arrocho salarial” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 508). Assim, é apresentado, na figura Fundamentos da Macroeconomia42 “Demanda agregada: deslocamento” um exemplo da curva de demanda agregada, consi- derando-se uma política expansionista de gasto do governo e contracionista, por meio da redução da quantidade de moeda. Demanda agregada: deslocamento B L A N C H A R D , 2 00 4, p . 1 37 . A relação da demanda agregada reflete o nível de preços sobre o produto. Assim, um aumento no nível de preços esperado mais elevado provoca um aumento no nível de pre- ços, de forma que um nível de preços mais elevado leve a uma queda no estoque real de moeda. Por sua vez, um estoque real de moeda menor provoca aumento na taxa de juros. Como consequência, uma taxa de juros maior leva a uma queda da demanda por bens e a um produto menor (BLANCHARD, 2004, p. 139). Assim, um aumento no nível de preços reduz o estoque real de moeda, o que leva a um aumento da taxa de juros. Um aumento da taxa de juros leva a uma queda do consumo, o que reduz o produto. 43Fundamentos da Macroeconomia Proposta de atividade Reforce seu aprendizado com o exercício sugerido a seguir. A atividade não é avaliativa, mas é uma boa oportunidade para testar seus conhecimentos e fixar o conteúdo estudado no capítulo. Agora é a hora de recapitular tudo o que você aprendeu neste capítulo! Elabore um infográfi- co, destacando as ideias entre produto, inflação e desemprego. Ao produzir seu infográfico, considere as leituras básicas e complementares realizadas. Fundamentos da Macroeconomia44 Recapitulando Neste capítulo, foi visto que, a partir de Keynes, os formuladores de políticas econô- micas passaram a entender a relação da temporalidade, em que demanda pode ser influen- ciada a partir das relações de curto prazo, a partir das políticas fiscais e monetárias, que podem alterar os resultados do mercado, refletindo no produto, emprego, desemprego e na inflação. Essas políticas enfocam o equilíbrio entre a demanda e a oferta agregada no curto prazo, reduzindo o hiato do produto e encurtando recessões econômicas. Aprendeu-se, também, que as alterações na demanda levam a variações no produto, e que variações na produção implicam mudança na renda, bem como mudanças na renda interferem na demanda por bens. Passou-se, assim, a compreender a dinâmica dos pre- ços e salários, em que se verificou a relação direta da inflação com os salários e o mercado de trabalho. Assim, quando o desemprego está baixo, a inflação tende a subir; quando o desemprego está alto, a inflação tende a cair. Dessa forma, a variação da inflação depende da diferença entre as taxas de desemprego atual e natural. Por fim, verificou-se que essas flutuações econômicas não estão presentes no longo prazo, mas no crescimento econômico. Nesse sentido, pode-se compreender que, para um crescimento econômico de longo prazo, é necessário desenvolver políticas, a fim de melhorar as tecnologias, aumentar a produção potencial e reduzir o hiato do produto, levando a um crescimento contínuo da produção. 45Fundamentos da Macroeconomia Referências BLANCHARD, O. Macroeconomia. 3. ed. São Paulo: Pearson, 2004. DORNBUSCH, R.; FISCHER, S.; STARTZ, R. Macroeconomia. 11. ed. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2013. PASSOS, C. R. M.; NOGAMI, O. princípios de Economia. São Paulo: Cengage Learning, 2016. SAMUELSON, P.; NORDHAUS, W. Economia. Porto Alegre: McGraw-Hill, 2012. CAPÍTULO 2 Medindo a Renda Nacional Marcela Gimenes Bera Oshita oBJEtIVoS Do Capítulo • Entender o conceito dos principais agregados macroeconômicos: Produto Interno Bruto (PIB), Produto Nacional Bruto (PNB), Produto Interno Líquido (PIL) e produ- to Nacional Líquido (PNL), analisando seus conceitos e a evolução deles ao longo do tempo. • Analisar as diferenças entre variáveis reais e nominais e o PIB a custo de fatores e preço de mercado, destacando sua importância para uma compreensão mais am- pla do sistema econômico. tÓpICoS DE EStuDo 1 Fluxo circular da atividade econômica: produto e renda • Agentes econômicos. • Fluxo real e monetário. • Fluxo circular da atividade econômica. 3 Valores reais e nominais • Defl ator do Produto Interno Bruto (PIB). • Desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) real X nominal. 2 Formas de mensuração da atividade econômica • O Produto Interno Bruto (PIB) pela ótica do dispêndio e da renda. • O Produto Interno Bruto (PIB) pela ótica da oferta. • O problema da dupla contagem. 4 Contas nacionais • Produto Interno Bruto (PIB) e Produto Nacional Bruto (PNB). • Produto Interno Bruto (PIB) e Produto Nacional Bruto (PNB) a pre- ço de mercado e a custo de fatores. Fundamentos da Macroeconomia48 Contextualizando o cenário Neste capítulo você, compreenderá o funcionamento da Macroeconomia a partir do fluxo circular da atividade econômica. Serão apresentados, também, os conceitos dos principais agregados macroeconômicos, como o Produto Interno Bruto (PIB), o Produto Nacional Bruto (PNB), o Produto Interno Líquido (PIL) e o Produto Nacional Líquido (PNL), bem como a sua a evolução ao longo do tempo. Além disso, você aprenderá a diferenciar o investimento bruto do líquido. Também, serão analisadas as diferenças entre variáveis reais e nominais e o PIB a custo de fa- tores e o preço de mercado, destacando sua importância para uma compreensão mais ampla do sistema econômico. Diante desse cenário: Qual é a identidade macroeconômica fundamental? 49Fundamentos da Macroeconomia 2.1. Fluxo circular da atividade econômica: produto e renda Os estudos serão iniciados a partir do fluxo circular da atividade econômica, produto e renda. Para isso, serão vistos os agentes econômicos, o fluxo real e monetário e o fluxo circu- lar da atividade econômica. Assim, você compreenderá o funcionamento da Macroeconomia a partir do fluxo circularda economia. Verá, também, como é a interação entre os agentes eco- nômicos e a circulação de moeda e de produtos nos mercados. Dessa forma, você passará a ter uma melhor percepção do funcionamento das atividades econômicas. Nessa perspectiva, a expressão fluxo circular da atividade econômica pode parecer estra- nha à primeira vista, mas ela retrata a forma pela qual a economia se movimenta como um todo (PASSOS; NOGAMI, 2016). Isso porque o fluxo circular da atividade econômica está relacionado diretamente ao cotidiano das pessoas, sobre o qual nunca se reflete. 2.1.1 Agentes econômicos A economia se caracteriza por uma quantidade infinita e contínua de transações eco- nômicas entre os agentes, sejam pessoas ou, sejam empresas, significando que todas as unidades econômicas transacionam entre si (PASSOS; NOGAMI, 2016). Fluxo circular da atividade econômica © G ig ra / / 1 23 R F. Fundamentos da Macroeconomia50 A figura “Fluxo circular da atividade econô mica” demonstra, de forma simples, como os indiví duos e as empresas interagem na economia, sendo que cada um busca atingir dife- rentes objetivos: “as empresas procurando maximizar seus lucros e os indiví duos procu- rando maximizar a satisfaç ã o de seus desejos e necessidades” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 370). Observe, a seguir, a figura “Fluxo básico da economia”. Fluxo básico da economia PA S S O S ; N O G A M I, 20 16 , p . 3 70 . Na fi gura “Fluxo básico da economia”, o exemplo começa com uma sociedade bem simples, na qual são considerados somente dois setores: os indivíduos representados pelas famílias e as empresas. “As famí lias oferecem mã o de obra para as empresas, que a utilizam para a produç ã o de bens e serviç os, remunerando-os sob a forma de salá rios; com esses salá rios elas adquirem bens e serviç os das empresas” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 370). Agora, imagine que as famí lias sejam detentoras de outros fatores de produç ã o, tais como má quinas e equipamentos, construç õ es, recursos naturais, além da mão de obra, e que esses fatores sejam utilizados, direta ou indiretamente, para a produç ã o de bens e serviç os (PASSOS; NOGAMI, 2016), conforme apresentado na fi gura “Fluxo da atividade econômica”. 51Fundamentos da Macroeconomia Fluxo da atividade econômica PA S S O S ; N O G A M I, 20 16 , p . 3 71 . Dessa forma, para analisar esses fluxos de forma mais precisa, é necessária a ado- ção de alguns crité rios para se agregarem ao conjunto de informaç õ es geradas nas relaç õ es entre indiví duos e empresas, como a remuneraç ã o dos proprietá rios de fatores de produ- ç ã o, isto é, a renda (PASSOS; NOGAMI, 2016). Fazem parte dessa renda salários, lucros, juros e aluguéis. Logicamente, os salários referem-se aos pagamentos feitos aos proprie- tá rios do fator de trabalho, e os lucros representam a remuneraç ã o dos empresá rios. Já os juros representam a remuneraç ã o do capital, e os alugué is referem-se à remuneraç ã o dos bens e imó veis (PASSOS; NOGAMI, 2016). Nesse sentido, ao “somarmos a renda auferida por todas as famí lias de uma socie- dade, em um determinado perí odo, obteremos a Renda Nacional relativa a esse perí odo” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 371). Na parte inferior da figura “Fluxo da atividade econô- mica”, está aprensentado “o fluxo de renda (juros, lucros, salá rios e alugué is) das empre- sas para as famí lias, fruto do fornecimento dos fatores de produç ã o das famí lias para as empresas (capital, terra, mã o de obra etc)” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 371). Fundamentos da Macroeconomia52 Pausa para refletir A renda auferida pelas famílias, a despesa dos fatores de produção e o produto gerado repre- sentam uma relação de igualdade. Essa igualdade entre produto, renda e despesa é a identi- dade fundamental da economia? Nessa perspectiva, as empresas, ao utilizarem os fatores de produção, produzirão bens e serviços que serão oferecidos às famílias. Dessa forma, o Produto Nacional refere- se ao valor de toda a produção gerada pelas empresas. Veja o fluxo do Produto Nacional na parte superior da figura “Fluxo da atividade econômica”. Ademais, é realizada a suposição de que toda a renda das famílias é destinada ao con- sumo, logo, todo “esse consumo retratará o total das despesas efetuadas pelos indivíduos na aquisição de todos os bens e serviços produzidos pelas empresas” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 371). Considerando que o pagamento para as empresas dos bens e serviços adqui- ridos pelas famílias é denominado despesa, a “soma de todos os pagamentos efetua- dos dentro de uma economia, em um determinado período de tempo, chama-se Despesa Nacional” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 371). É possível compreender, então, que o valor do Produto Nacional é igual ao valor da despesa nacional, que por sinal, é igual à renda nacional, isto é: PN = DN = RN. 2.1.2 Fluxo real e monetário Existem dois fluxos: o fluxo real e o fluxo monetário, ou o fluxo da atividade econô- mica, como também é conhecido. O fluxo real das firmas é o movimento dos recursos produtivos de bens e servi- ços entre os diversos agentes econômicos (PASSOS; NOGAMI, 2016). Assim, as empresas “contratam mão de obra, compram matérias-primas e bens de investimentos, e produ- zem bens que são, posteriormente, vendidos a outras empresas que transformam o pro- duto ainda mais, até que o produto final seja vendido ao consumidor” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 371). Observe que, durante todas essas posições, há uma transferência constante de bens e serviços entre os agentes econômicos. 53Fundamentos da Macroeconomia © M ax im B as in sk i / / 12 3R F. Os fl uxos monetários são contrapartidas monetá rias dos fl uxos reais, isto é, “toda vez que um bem ou serviç o é transferido de um agente para outro, sã o efetuados pagamen- tos em troca deles” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 372). O fl uxo monetá rio gira na direç ã o con- trá ria ao fl uxo real, conforme pode-se observar na fi gura “Fluxos reais e fl uxos monetá rios”. Fluxos reais e fluxos monetá rios PA S S O S ; N O G A M I, 20 16 , p . 3 72 . Fundamentos da Macroeconomia54 Está retratado, na figura “Fluxos reais e fluxos monetários”, o fluxo de renda que foi visto anteriormente. “Agora, na parte superior, temos o movimento dos recursos pro- dutivos e de bens e serviços que denominamos Fluxo Real” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 372). Considere, então, o pagamento em moeda pela utilização dos recursos produtivos, bem como pela aquisição dos bens e serviços, o que se denomina fluxo monetário, na parte inferior da figura “Fluxos reais e fluxos monetários”. Portanto, é possível salientar que a preocupação central do estudo macroeconômico “é com o que determina a magnitude desses fluxos e por que esses fluxos variam ao longo do tempo” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 372). 2.1.3 Fluxo circular da atividade econômica Agora, para que se entenda melhor o fluxo circular da atividade econômica, é neces- sário compreender o conceito mais importante da Macroeconomia, que é o Produto Interno Bruto (PIB). O PIB é o valor total de bens finais e serviços produzidos numa econo- mia (país) durante um período de tempo (normalmente, um ano). Dessa forma, o pIB é o termômetro da economia, isto é, permite que as autoridades econômicas determinem se a economia está em expansão ou contração, bem como se há ameaça de uma grave recessão e de inflação (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). Pausa para refletir Se o PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos numa economia num dado período de tempo, qual é a relação entre PIB e o fluxo circular da atividade econômica? Para se conhecer o nível de desenvolvimento econômico de um país, basta analisar o PIB per capita, ou seja, dividido pela população. Logo, o PIB pode dar uma imagem global da economia, visto que representa “o valor a que se chega quando se aplica a medida monetária aos diversos bens e serviços– desde abacate a zinco – que um país produz com os seus recur- sos de terra, trabalho e capital” (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013, p. 343). Nesse sentido, o PIB representa toda a produção de bens de consumo (C), inves- timento (I), gastos do governo (G) e as exportações líquidas (X - M) (exportação menos importação de bens e serviços). Em símbolos: pIB = C + I + G + (X - M). Como representa a produção global da economia, o PIB é utilizado para medir o seu desempenho. 55Fundamentos da Macroeconomia Na grande depressão que se iniciou em 1929, o PIB dos EUA caiu quase 50% em qua- tro anos, o que causou elevado desemprego, falências, quebras de bancos e dificuldades para a população em geral. Em contrapartida, desde a Segunda Guerra Mundial até os anos 2000, o PIB dos EUA aumentou 250% (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). Agora, analise o fluxo circular da atividade macroeconômica, representado na figura “Fluxo circu- lar da atividade macroeconômica”. Fluxo circular da atividade macroeconômica D O R N B U S C H ; F IS C H ER ; S TA R T Z , 2 01 3, p . 3 44 . Nesse contexto, “o produto interno bruto pode ser medido (a) como um fluxo de produtos finais ou, equivalentemente, (b) como um fluxo de remunerações ou rendas. No arco superior, os compradores adquirem bens e serviços finais” (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013, p. 344). O fluxo monetário total da sua despesa em cada ano é uma das medidas do PIB. “O arco inferior mede o fluxo anual de custos do produto: as rendas que as empresas pagam em salários, rendas, juros, dividendos e lucros” (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013, p. 344), de forma que as duas medidas do PIB devem ser sempre iguais. Fundamentos da Macroeconomia56 2.2. Formas de mensuração da atividade econômica Neste momento, serão trabalhadas as formas de mensuração da atividade econômica no mercado. Abordando o Produto Interno Bruto (PIB) pela ótica do dispêndio e da renda, bem como o Produto Interno Bruto (PIB) pela ótica da oferta e o problema da dupla contagem. Você deve estar pensando: como os economistas calculam o PIB? Pois bem, ficando você surpreso(a) ou não, saiba que é possível medir o PIB de duas formas completamente independentes, ou seja, o PIB pode ser medido ou como um fluxo de produtos ou como uma soma de rendas (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). Contexto Os preços de mercado são utilizados como medida do valor dos diferentes bens, pois os preços relativos dos diferentes bens refletem o quanto os consumidores va- lorizam as últimas (ou marginais) unidades de consumo desses bens (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). Assim, para demonstrar as diferentes formas de se calcular o PIB, os tópicos a seguir serão iniciados com a consideração de uma economia muito simplificada, na qual não há governo, comércio exterior e investimento (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013), e a economia produz apenas bens de consumo adquiridos pelas famílias. O primeiro exemplo está muito simplificado para mostrar as ideias básicas. Logicamente, os exemplos realis- tas que se seguirão juntam o investimento, o governo e o setor externo (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). 2.2.1 O Produto Interno Bruto (PIB) pela ótica do dispêndio e da renda O Produto Interno Bruto (PIB), pela ótica do dispêndio, divide-se em: despesa de consumo (consumo das famílias), investimentos (formação bruta de capital fixo e varia- ção de estoque), gastos do governo (despesa de consumo da administração pública) e exportações menos importações (exportações líquidas de bens e serviços) (PASSOS; NOGAMI, 2016). 57Fundamentos da Macroeconomia Divisão do Produto Interno Bruto (PIB) Entretanto, esse estoque de capital está em constante desgaste, isto é, ferramen- tas, má quinas, edificaç õ es e outros instrumentos de produç ã o utilizados durante o ano se depreciam (PASSOS; NOGAMI, 2016). Por esse motivo, parte das despesas de investi- mento destina-se à substituiç ã o do capital desgastado, o que nã o aumenta o estoque de capital da economia. Por isso, existem duas definiç õ es de investimento: “Investimento Bruto (Ib), que é igual à s despesas com novas edificaç õ es, novos equipamentos etc., mais a variaç ã o de estoques; e Investimento Lí quido (Il), que é igual ao investimento bruto menos a depreciaç ã o” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 382). Assim: Il = Ib – Depreciaç ã o. Dica É o investimento lí quido que aumenta o estoque de capital da economia, levan- do a uma ampliação do PIB potencial da economia. Se o investimento líquido for zero, significa que o investimento realizado foi somente para repor as perdas com deprecia- ção, não contribuindo para o crescimento econômico. Fundamentos da Macroeconomia58 O gasto do governo (G) “em bens e serviços também são um importante compo- nente da demanda agregada da economia. São inclusas nesse item despesas com educa- ção, segurança, justiça, construção de estradas, hospitais etc.” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 382). O gasto do governo (G) deve atender suas funções típicas, como “administração direta, judiciário, legislativo etc., que dependem de dotação orçamentária” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 382). Por fim, existem as exportações (X) menos as importações (M), que são denominadas exportações líquidas. “As exportações correspondem à venda de parte da nossa produção para o exterior e que constituem demanda por produção interna. As despesas de impor- tação constituem-se em aquisições de produção realizada em outros países” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 382). Assim, pode-se entender o PIB pela ótica do dispêndio ou da demanda, como costuma ser chamado. Desse modo, tem-se: pIB = C + I + G + X – M = despesa nacional. Agora, o Produto Interno Bruto (PIB) será trabalhado pela ótica da renda, também chamada de abordagem pelo custo. Por meio dele, surgem todos os custos das atividades empresariais, que incluem os salários pagos à mão de obra, os aluguéis pagos pela terra, os lucros pagos ao capital, e assim consecutivamente (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). Por outro lado, esses custos empresariais representam as rendas que as famílias rece- bem das empresas. Logo, ao mensurarem o fluxo anual dessas rendas, os economistas che- gam, novamente, ao PIB. Dessa forma, calcula-se o PIB pelo total das rendas dos fatores produtivos (salários, juros, aluguéis e lucros), que são os custos de produção dos produtos finais da sociedade (DORNBUSCH; FISCHER; STARTZ, 2013). Assim, denomina-se valor adicionado a um produto a soma dos custos dos fatores de produção. Mas o método do valor adicionado é, de fato, a abordagem da renda para medir o pIB. Esses custos, em cada fase de produção, podem ser visualizados no quadro “Valor adicionado”. 59Fundamentos da Macroeconomia Valor adicionado Custos Estágio Salários ($) Juros ($) Aluguéis ($) Lucros ($) Valor Final Trigo Farinha Pão 300,00 125,00 150,00 100,00 25,00 50,00 200,00 70,00 75,00 100,00 80,00 125,00 700,00 300,00 400,00 Total 575,00 175,00 345,00 305,00 1.400,00 PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 377. Na produção do pão, o valor de um bem em cada estágio de produção é a soma do valor adicionado (salários + juros + aluguéis + lucros) durante cada estágio. Deve-se observar “que a inclusão do lucro como um item de custo se deve ao fato de ele ser uma remuneração a um fator de produção (ou seja, é um custo para se produzir um bem)” (PASSOS; NOGAMI, 2016, p. 377). Assim, o valor final é a soma do valor adicionado em cada estágio de pro- dução, o que, no quadro “Valor adicionado”, resultou no valor final do pão de R$1.400,00. Esclarecimento É provável que você já tenha observado a equivalência das duas abordagens do cálculo do PIB. Então, qual das duas abordagens é a melhor? Veja que elas são exatamente iguais. É possível entender o porquê de as duas abordagens serem iguais analisando uma economia simples de pedreiros. Considere que os pedreiros não possuem outras despesas além das de mão
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