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Mastite em pequenos ruminantes

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Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” 
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias 
Campus Jaboticabal 
 
 
 
 
MASTITE EM PEQUENOS RUMINANTES 
Etiologia infecciosa, diagnóstico e controle 
 
 
 
 
 
 
Discente: 
Tayná de Souza 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Jaboticabal - SP 
Setembro, 2020 
1. Introdução 
Nos pequenos ruminantes, temos as cabras e algumas raças ovinas utilizadas na 
produção leiteira, algumas não especializadas, mas de melhor aptidão quando 
comparadas à outras raças, como é o caso do uso da raça Santa Inês. 
Porém, a produção de leite destes animais é, em sua maioria, destinada à produção 
de queijos e derivados, devido as propriedades hipoalergenicas e ao maior valor 
biológico nos nutrientes, o que desperta interesse na pecuária, e envolve em grande 
parte empresas de pequeno porte. 
A mastite é uma doença de grande importância nos sistemas de produção, 
acarretando queda de bem-estar do animal, qualidade e quantidade de leite, refletindo 
diretamente na economia da produção. 
A doença afeta todos os tipos de animais, mas sua ocorrência é mais discutida em 
animais destinadas a exclusiva produção leiteira. 
Ainda, como característica da doença, temos animais clínicos e subclínicos, onde a 
forma subclínica da mastite ovina apresenta maior relevância econômica, devido os 
prejuízos na produção animal, a maior ocorrência quando comparada com a forma 
clínica e as mudanças fisioquímicas do produto. 
 
2. Revisão Bibliográfica 
2.1 Etiologia 
Os agentes etiológicos da mastite podem ser classificados como ambientais ou 
contagiosos, em geral são variados, mas representados principalmente por bactérias. 
O gênero Staphylococcus spp. foram os microrganismos mais isolados em ovinos e 
caprinos com mastite subclínica. Em um estudo com 159 ovinos da raça Santa Inês 
em 20 propriedades destinadas a dupla aptidão foram isolados principalmente os 
coagulase negativo na realização do California Mastitis Test (CMT) seguido de análise 
microbiológica (TONIN, F., 2003), dados também encontrados nos estudos de 
ZAFALON et al., (2015) com 160 animais de única propriedade, com amostras de 
lactação 1 e lactação 2, onde os coagulase negativos se mantiveram presentes. 
A maior ocorrência de mastite aguda tem como causa o Staphylococcus aureus e a 
Mannheimia haemolytica, isoladamente ou associados a outros microrganismos 
(BOLSANELLO, 2007). 
 
 
Citam como fatores predisponentes a elevada produção leiteira, alimentação proteica 
e traumas mamários. A mastite clínica nos ovinos é caracterizada por gangrena e leva 
a morte do animal, já a subclínica causa principalmente perdas econômicas 
relacionadas à produção, qualidade do leite e desenvolvimento do cordeiro. 
Microrganismos como S. aureus e Corynebacterium, por serem contagiosos, indicam 
que a transmissão ocorre principalmente da hora da ordenha, devido aos manejos de 
higiene (LUCHEIS, S.; HERNANDES, G. e TRONCARELLI, M., 2010). 
Outros microrganismos, assim como na bovinocultura, estão associados a mastite em 
pequenos ruminantes, como Streptococcus spp., Escherichia coli, Micrococcus spp. e 
Pasteurella spp e estes ainda podem estar em associações (TONIN, F., 2003). 
Em caprinos, o vírus da artrite encefalite caprina também é um importante causador 
de mastite (ALCINDO, J. F., 2014). 
 
2.2 Patogenia 
O processo inflamatório depende de três fases para o desenvolvimento, são elas a 
penetração, instalação e multiplicação, dependentes do grau de virulência do 
microrganismo, do estado do mecanismo de defesa do hospedeiro, das condições 
ambientais e das medidas higiênico-sanitárias do local de criação. Depois da 
penetração e de se instalar na glândula mamária, os microrganismos utilizam 
nutrientes do leite para multiplicação, com isso há ativação do sistema imune do 
animal, atraindo células de defesa para a glândula mamária, o que resulta no aumento 
de células somáticas no leite. Com as células somáticas, outros componentes do 
sangue acabam passando, com consequente alteração nas proteínas, gorduras e 
sabor do leite (BOLSANELLO, 2007). 
 
2.3 Diagnóstico 
Muitos testes vêm sendo usados para o diagnóstico de mastite, dentre eles, os mais 
comuns são a Contagem de Células Somáticas (CCS), California Mastitis Test (CMT), 
isolamento e identificação do agente (ALCINDO, J. F., 2014). 
A mastite clínica é facilmente diagnosticada visivelmente pela consistência de água 
do leite, formação de grumos e presença de pus e sangue, já a forma subclínica se 
dissemina silenciosamente no rebanho e leva a perdas econômicas, para isso, a 
contagem de células somáticas e o CMT constituem como medidas necessárias para 
o controle da mastite subclínica em ovelhas (LUCHEIS, S.; HERNANDES, G. e 
TRONCARELLI, M., 2010). 
 
2.4 Controle 
Assim como na bovinocultura de leite, medidas higiênicas são importantes para 
qualidade do leite. Condições da higiene ambiental podem levar a contaminação fecal 
dos tetos, aumentando a incidência de mastite ambiental e prejuízos econômicos ao 
produtor (LUCHEIS, S.; HERNANDES, G. e TRONCARELLI, M., 2010). 
A dificuldade do tratamento está no número de cepas resistentes aos antimicrobianos 
usados, por isso deve-se sempre fazer o antibiograma da amostra para sucesso no 
tratamento. No experimento de Tonin (2003), algumas cepas de Staphylococcus 
coagulase negativa se mostraram sensíveis ao cefoperazone, gentamicina e 
neomicina. 
A presença de estirpes do Staphylococcus é responsável pela formação de biofilme e 
produção de enterotoxinas e toxinas, que acarretam a permanência da bactéria na 
glândula mamária, resultando em infecções persistentes (PILON, 2007). 
Como terapia alternativa no tratamento da mastite, há estudos com ozonioterapia na 
bovinocultura. A mastite traz grandes perdas ao produtor relacionadas ao custo de 
tratamento, descarte do leite e tempo de carência durante o tratamento, fora a 
implicação na saúde pública pelos resíduos de medicamentos no leite destinado ao 
consumo humano. O uso do ozônio é indicado como bactericida, fungicida, viricida e 
oxidante, o que melhora a efetividade do tratamento contra outros microrganismos 
associados a mastite, como leveduras, fungos e toxinas de bactérias, além do menor 
custo e perdas do produtor, pois não há tempo de carência e residual (TÚLIO et. Al., 
2003). 
 
3. Discussão 
A mastite em pequenos ruminantes muito se assemelha a mastite bovina, tanto em 
relação a etiologia, quanto diagnóstico e controle, porém o destino do leite destes 
animais, principalmente dos caprinos, é para produção de derivados e a mastite acaba 
contribuindo na qualidade do produto final, dificultando sua produção pois a 
degradação das proteínas do leite tem como resultado a redução da matéria prima 
para produzir derivados e seu tempo de prateleira. 
Ainda, o leite dos animais acometidos apresenta redução significativa dos teores de 
gordura e proteína, que pode influenciar negativamente o desenvolvimento dos 
cordeiros, ocasionando o descarte destes nos primeiros três meses de lactação, 
susceptibilidade a infecções e morte por inanição. 
Como a prevalência etiológica da mastite em pequenos ruminantes é por 
Staphylococcus spp., deve-se lembrar que este pode ser transmitido durante a 
ordenha, necessitando melhorar as medidas higiênico-sanitárias da criação. 
O uso de novas alternativas de tratamento para mastite, com menores implicações na 
saúde pública e que garante menores perdas, tanto no descarte do produto, no tempo 
de carência, quanto no gasto com medicamentos, é um fator importante para 
economia da produção, devendo ser mais estudado e praticado. 
 
4. Conclusão 
A mastite tem grande importância dentro de qualquer sistema de produção, não só 
com finalidade leiteira, pois, em animais de dupla aptidão, a qualidade do leite pode 
interferir também no crescimento dos filhotes, levando a perda econômica, por isso,deve ser feito monitoramento rotineiro da qualidade do leite, identificando com 
antecedência animais com a afecção para que haja o manejo correto dos animais e, 
consequentemente, menores perdas. 
Não há métodos de diagnósticos e tratamento específicos para a mastite em ovinos e 
caprinos, por isso o uso dos testes e métodos de tratamento da bovinocultura são 
estipulados para a criação de pequenos ruminantes. 
 
5. Referência Bibliográfica 
ALCINDO, J. F.. Avaliação Colostral de Cabras Acometidas por Mastite e Sua 
Influência nos Níveis Imunes Séricos de Cabritos. Dissertação (Mestrado) – 
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Medicina Veterinária. 2014. 
 
BOLSANELLO, R. X.. Aspectos de Produção e Etio-Epidemiológicos Referentes Às 
Vias de Transmissão Nas Mastites Ovinas. Aleph. 2007. 
 
IBGE. Centro de Inteligência e Mercado de Caprinos e Ovinos. Censo Agropecuário. 
2017. 
 
LUCHEIS, S.; HERNANDES, G. e TRONCARELLI, M.. Monitoramento Microbiológico 
Da Mastite Ovina Na Região de Bauru - SP. Currículo Lattes. p.395–403, 2010. 
 
PILON, L.. Características Genotípicas de Staphylococcus Coagulase-negativos e 
Taxas de Cura da Mastite Ovina. Unesp. p.716, 2007. 
 
TONIN, F.. Epidemiologia Molecular Aplicada Ao Estudo Da Mastite Caprina Causada 
Por Staphylococcus Spp. Aleph. 2003. 
 
TÚLIO, M. et. al.. Revisão Sobre O Uso Do Ozônio No Tratamento Da Mastite Bovina 
E Melhoria Da Qualidade Do Leite. Ozone Use in Bovine Mastitis Treatment and Milk 
Quality Improvement Review. Review Article Biosci. v.19, p.109–114, 2003. 
 
ZAFALON, L. F. et al.. Ocorrência de Mastite Subclínica Ovina Durante Duas 
Lactações Consecutivas Em Rebanho Da Raça Santa Inês. Ciencia Animal 
Brasileira. v.16(1), p.116–124, 2015.

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