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Brasília-DF. Patologias do sistema Nervoso CeNtral Elaboração Tatiana Góes Freitas Letícia Paranhos R. D. Coelho Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumário APrESEntAção ................................................................................................................................. 4 orgAnizAção do CAdErno dE EStudoS E PESquiSA .................................................................... 5 introdução.................................................................................................................................... 7 unidAdE i PARALISIA CEREBRAL E ESCLEROSES ....................................................................................................... 9 CAPítulo 1 PARALISIA CEREBRAL (PC) ....................................................................................................... 10 CAPítulo 2 ESCLEROSE MúLtIPLA (EM) ...................................................................................................... 13 CAPítulo 3 ESCLEROSE LAtERAL AMIOtRófICA (ELA) ................................................................................ 16 unidAdE ii PAtOLOGIAS fREQUENtES EM AMBULAtóRIO NEUROLóGICO E tRANStORNOS NEUROCOGNItIVOS .... 18 CAPítulo 1 EPILEPSIA ............................................................................................................................... 20 CAPítulo 2 HIdROCEfALIA ....................................................................................................................... 27 CAPítulo 3 ACIdENtE VASCULAR CEREBRAL (AVC) ................................................................................... 29 CAPítulo 4 tRANStORNO NEUROCOGNItIVO dEVIdO à dOENçA dE HUNtINGtON ................................. 31 CAPítulo 5 tRANStORNO NEUROCOGNItIVO dEVIdO A LESãO CEREBRAL tRAUMátICA ........................... 33 CAPítulo 6 tRANStORNO NEUROCOGNItIVO dEVIdO à dOENçA dE PARkINSON .................................... 35 CAPítulo 7 tRANStORNO NEUROCOGNItIVO dEVIdO à dOENçA dE ALzHEIMER ..................................... 37 CAPítulo 8 tRANStORNO NEUROCOGNItIVO VASCULAR .......................................................................... 43 CAPítulo 9 tRANStORNO NEUROCOGNItIVO fRONtOtEMPORAL ............................................................. 46 unidAdE iii tRANStORNOS dO dESENVOLVIMENtO ................................................................................................ 49 CAPítulo 1 dEfICIêNCIA INtELECtUAL (dI) ................................................................................................ 49 CAPítulo 2 tRANStORNO dE défICIt dE AtENçãO/HIPERAtIVIdAdE (tdAH) ............................................... 53 CAPítulo 3 tRANStORNOS dO ESPECtRO AUtIStA (tEA) ............................................................................ 56 CAPítulo 4 tRANStORNOS ESPECífICOS dA APRENdIzAGEM ................................................................... 61 CAPítulo 5 tANV: tRANStORNO dE APRENdIzAGEM NãO VERBAL ............................................................ 69 unidAdE iV CONCEItOS E CONSIdERAçÕES GERAIS SOBRE AGNOSIA, APRAXIA, AfASIA E AMNéSIA E PAtOLOGIAS fREQUENtES EM AMBULAtóRIO PSIQUIátRICO ..................................................................................... 72 CAPítulo 1 GNOSIAS ............................................................................................................................... 73 CAPítulo 2 PRAXIAS ................................................................................................................................. 76 CAPítulo 3 AfASIAS ................................................................................................................................. 79 CAPítulo 4 AMNéSIA ................................................................................................................................ 81 CAPítulo 5 dEPRESSãO ........................................................................................................................... 82 CAPítulo 6 tRANStORNO BIPOLAR dO HUMOR ........................................................................................ 84 rEfErênCiAS .................................................................................................................................. 87 5 Apresentação Caro aluno A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD. Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo. Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira. Conselho Editorial 6 organização do Caderno de Estudos e Pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refletir Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. 7 Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) finalizar Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 8 introdução Nesta apostila o leitor encontrará informações acerca de algumas das patologias oriundas de alterações do Sistema Nervoso Central, tais como: Paralisia Cerebral, Esclerose Múltipla, Esclerose Lateral Amiotrófica, Epilepsia, Hidrocefalia, entre outros. Estas são atendidas em ambulatório neurológico e, eventualmente, em outros ambulatórios complementares para o tratamento. Abordaremos também algumas patologias que podem ser tratadas em ambulatório neurológico e no psiquiátrico, podendo os profissionais de ambas as especialidades encaminharem pacientes para o atendimento em neuropsicologia. Estas patologias são consideradas como patologiasneuropsiquiátricas, como: Doença de Alzheimer, Transtorno Neurocognitivo Vascular e o Frontotemporal. Algumas patologias que interferem no decorrer do desenvolvimento da criança também serão abordadas, tais como a Deficiência Intelectual, o Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, o Transtornos do Espectro Autista, Transtornos Específicos da Aprendizagem e o Transtorno de Aprendizagem Não Verbal. O leitor encontrará informações sobre alterações da sensopercepção, apraxias, afasia e amnésia, bastante importantes de serem conhecidos a fim de evitar confusão durante o processo de avaliação e posterior reabilitação neuropsicológica. Por último, saindo um pouco das patologias primariamente oriundas de alterações do Sistema Nervoso Central, abordaremos brevemente sobre alguns transtornos psiquiátricos que são comumente mal interpretados ao olhar do senso comum e que merecem atenção especialmente no momento das entrevistas (inicial e devolutiva) com o paciente e os familiares que possivelmente podem estar mais presentes. objetivo » Transmitir conhecimentos sobre os diversos assuntos para que o aluno possa perceber quais são aqueles que mais lhe agradam ou chamam a atenção para futuro aprofundamento. 9 unidAdE iPArAliSiA CErEBrAl E ESClEroSES introdução Neste primeiro momento, serão abordadas as patologias mais comuns decorrentes de alterações em alguma região do Sistema Nervoso Central. O sistema nervoso do organismo humano é dividido em duas partes, o Sistema Nervoso Central (SNC) e o Sistema Nervoso Periférico (SNP). O SNC é constituído pelo encéfalo e pela medula espinhal, e o SNP é formado por nervos e gânglios, que são responsáveis pelo transporte de informações sensoriais entre o SNC e os demais órgãos do organismo. No SNC encontram-se a substância cinzenta e a substância branca. A substância cinzenta é formada pelos corpos de neurônios e a substância branca é constituída pelos axônios, que são fibras nervosas. A cor esbranquiçada é devido à mielina que encobre os axônios. Mesmo que mínimas, quaisquer alterações da integridade do SNC, seja anatômica ou funcional, podem trazer comprometimentos ao indivíduo em sua capacidade de aprendizagem, inclusive no meio acadêmico, o que prejudica significativamente o desenvolvimento intelectual caso o comprometimento do SNC ocorra nos primeiros anos de vida. É importante lembrar que “o córtex cerebral é a camada de substância cinzenta que reveste os hemisférios cerebrais” (HAASE et al, 2013). Dependendo da localização de origem, as patologias vasculares podem ser chamadas de “corticais”, quando originárias no córtex; ou “subcorticais”, quando as lesões estão nas estruturas mais internas, “abaixo do córtex”. As lesões corticais apresentam sintomas cognitivos e motores súbitos, enquanto as subcorticais são mais discretas, inclusive com microinfartos imperceptíveis em testes de rastreio, mas visíveis em exames de imagem. As artérias cerebrais têm a função de irrigar grandes áreas cerebrais, e danos nestas artérias de maior calibre são facilmente identificados pelos pacientes e por seus cuidadores, pois a sintomatologia é evidente. 10 objetivos » Compreender os aspectos gerais sobre Paralisia Cerebral, Esclerose Múltipla e Esclerose Lateral Amiotrófica. » Identificar os sintomas que podem ser apresentados e ter atributos para desmistificar possíveis estereótipos de que o paciente “não faz porque tem preguiça” ou que “nunca vai conseguir fazer...”, especialmente junto aos familiares e ambientes acadêmico ou laboral. » Compreender a complexidade das referidas patologias e ter noção sobre o trabalho do neuropsicólogo, especialmente no acolhimento tanto dos pacientes quanto dos familiares. CAPítulo 1 Paralisia Cerebral (PC) A Paralisia Cerebral é caracterizada por desordens não progressivas que ocorrem no desenvolvimento do cérebro, seja no período fetal ou na infância, que interferem nos movimentos motores e posturais. A paralisia cerebral é uma deficiência que não altera a inteligência, mas pode afetar membros de diferentes formas: » braço e perna de um dos lados do corpo; » duas pernas; » ambos os braços e pernas. Existem diversos tipos de paralisia cerebral: » Espástico: os músculos ficam tensos e contraídos. Ocorre devido a danos no córtex motor e é o mais frequente. » Discinético: movimentos involuntários ocorridos devido aos danos nos gânglios da base. 11 PARALISIA CEREBRAL E ESCLEROSES │ UNIDADE I » Atáxico: movimentos descoordenados, que afetam o equilíbrio e a percepção do posicionamento do corpo no espaço. Ocorre devido a danos no cerebelo. » Tipos mistos: combinação de danos. Os sintomas podem se apresentar em diferentes níveis de intensidade e acarretam em uma limitação das experiências sensoriais. A criança com paralisia cerebral não vai ter acesso às mesmas sensações decorrentes de atividades comuns a outras crianças, como andar de bicicleta e perceber a relação entre o equilíbrio e a velocidade que impõe ao pedalar; correr pela praia, sentindo as diferentes texturas da areia (quente, molhada, fina...) no solado do pé; dar uma cambalhota; pular na piscina; entre outras. figura 1. Crianças brincando. fonte disponível em: <https://mibufc.files.wordpress.com/2012/08/pinturas-e-imagens-de-crianc3a7as-brincando.jpg>. Já é sabido pela literatura que a limitação no desenvolvimento motor tem relação direta com prejuízos no desenvolvimento cognitivo. Sendo assim, a criança com paralisia cerebral muito comumente apresenta quociente intelectual abaixo da faixa média para sua idade. Pode haver dificuldades no desenvolvimento da comunicação, nas habilidades visuoespaciais, além de a criança com paralisia cerebral precisar de maior tempo para lidar com as informações, seja pela gravidade de seu quadro ou por privação de oportunidades para aprender por tentativas e erros e por experimentação. Os cuidadores e professores desta criança precisam ser instruídos sobre à necessidade que ela tem 12 UNIDADE I │ PARALISIA CEREBRAL E ESCLEROSES de maior tempo para entender os estímulos do meio, para armazenar e expressar as informações. Antes de se formar em neuropsicologia, o profissional é psicólogo e, neste âmbito, deve também atentar a questões emocionais do contexto de seu cliente/paciente. No caso do atendimento da criança com paralisia cerebral, o profissional da psicologia deve observar a maneira com que os pais, em especial a mãe, lidam com as dificuldades da criança. Em alguns casos, faz-se necessário uma ou mais sessões específicas com a mãe ou os cuidadores para entender quais eram as expectativas sobre a criança desde a gestação, como lidaram com o diagnóstico, como esta criança foi recebida neste lar, o que esperam dela etc. É importante orientar para que estes adultos evitem limitar ainda mais esta criança, por motivos psicodinâmicos próprios deste(s) adulto(s). Um contexto facilitador é extremamente importante para que esta criança aprenda a lidar com os frequentes fracassos que irão surgir, tanto em meio acadêmico quanto no social. O diagnóstico de paralisia cerebral é feito por um neurologista infantil, com base na história de vida e das características clínicas encontradas em sua avaliação, incluindo as alterações motoras, “retardo no desenvolvimento, persistência de reflexos arcaicos, anormalidades posturais e outros sinais patológicos” (TABAQUIM; JOAQUIM, 2013). Quando é solicitada a avaliação neuropsicológica, os testes devem ser pensados a fim de propiciar a execução por parte do paciente. Evita-se, então, utilizar testes como o subteste “cubos” (WISC) em crianças cuja manifestação motora não lhe permita a manipulação adequada. Para avaliação da capacidade de raciocínio geral de crianças de 3 a 9 anos, pode-se utilizar a Escala de Maturidade Mental Columbia, que não exige uma resposta verbal, tem apresentação lúdica e não é tão complexa quanto o Raven. A paralisia cerebral é uma síndrome ocorrida geralmentepor falta de oxigênio ou hemorragia no cérebro, na hora do nascimento, e pode abranger: » diminuição da coordenação motora; » rigidez e perda da força muscular; » descontrole de membros, cabeça e olhos; » tremores. A reabilitação é feita com fisioterapia e terapia ocupacional para auxiliar no combate da rigidez muscular. 13 CAPítulo 2 Esclerose Múltipla (EM) Esclerose múltipla é uma doença crônica decorrente de comprometimento nos circuitos subcorticais do Sistema Nervoso Central, devido à desmielinização, que é a perda progressiva da bainha de mielina sobre os nervos. Afeta o cérebro, a medula espinhal e o nervo óptico. Algumas características são: » origem em uma disfunção do sistema imunológico; » deterioração da mielina. Algumas informações relevantes sobre o funcionamento neuronal: » mielina é o tecido que protege as fibras nervosas e garante a transmissão de informações entre os neurônios; » na esclerose Múltipla, a mielina é danificada ou destruída; » as lesões da mielina provocam falhas na condução das informações; » as fibras nervosas transmitem os sinais dos nervos para o cérebro e o restante do corpo; » com o comprometimento ou bloqueio dos sinais nervosos, as fibras vão transmitir sinais também modificados; » ao receber sinais nervosos comprometidos, surgem sintomas da doença, tais como a perda da aptidão física, redução da eficiência intelectual, entre outros. figura 2. desmielinização. fonte disponível em: <https://images1.minhavida.com.br/imgHandler.ashx?mid=35093>. 14 UNIDADE I │ PARALISIA CEREBRAL E ESCLEROSES Afeta pacientes jovens, com início entre os 20 e 30 anos. O indivíduo acometido pode apresentar uma série de sintomas, tais como: extremo cansaço, diminuição da acuidade visual, desequilíbrio, falhas mnésticas, disfasia (linguagem), ataxia (motora). Cerca de 30% dos pacientes com Esclerose Múltipla têm dificuldades de memória (MALLOY-DINIZ et al., 2015). Os sintomas aparecem em diferentes regiões do nosso organismo. REGIÃO ALGUNS SINTOMAS MAIS COMUNS Central » Fadiga. » Depressão. » Instabilidade de humor. » Comprometimento cognitivo. Visual » Nistagmo (oscilações rítmicas, repetidas e involuntárias de um ou ambos os olhos). » Neurite óptica (inflamação do nervo óptico). Garganta » Disfagia (dificuldade de engolir). Fala » Disartria (dificuldade para articular as palavras para falar). Musculoesquelética » Fraqueza. » Espasmos (contração muscular súbita e involuntária). » Ataxia (perda do controle muscular durante a realização de movimentos voluntários). Em uma ou mais regiões também pode haver sensação de dor, hipoestesia ou parestesia. Até o momento conta com uma ampla gama de opções terapêuticas bastante eficazes, mas ainda é uma doença que não tem cura. O tratamento é feito com um neurologista e tem o objetivo de evitar os picos de processo inflamatório. Mesmo com a medicação, é possível que sintomas ainda sejam relatados, porém, em uma intensidade mais abrandada. O estado emocional do indivíduo interfere significantemente em sua percepção da doença e de seus sintomas. É preciso investigar as queixas a fundo, a fim de entender quais são suas causas. Por exemplo: se o paciente informa estar triste, é importante averiguar se ele tem vontade de realizar as atividades que fazia antes da doença. Em caso negativo, pode-se investigar sobre a probabilidade de uma depressão. Caso o indivíduo tenha interesse, mas apresente extremo cansaço, talvez se trate de uma fadiga física. É importante que o profissional faça orientações, inclusive por meio de um documento ou reunião à empresa em que o paciente trabalha, informando sobre a necessidade 15 PARALISIA CEREBRAL E ESCLEROSES │ UNIDADE I de intervalos para descanso mais frequentes, para que os patrões saibam como é a melhor maneira de extrair o melhor rendimento deste profissional, evitando julgar a doença como uma preguiça ou má vontade, o que pode interferir negativamente em uma avaliação de desempenho. Em testes de aprendizado/memória, provavelmente este paciente apresentará alguma dificuldade na evocação dos estímulos previamente apresentados. Ao trabalhar no programa de reabilitação neuropsicológica, o uso de dicas/pistas é bastante útil para auxiliar nesta etapa de evocação, visto que os estímulos foram registrados. 16 CAPítulo 3 Esclerose lateral Amiotrófica (ElA) Trata-se de uma doença degenerativa com comprometimento progressivo dos neurônios motores localizados no cérebro e na medula espinhal. Conforme as células nervosas vão perdendo sua capacidade de transmitir impulsos nervosos, é dada origem à doença. Os sintomas mais comuns incluem a paresia gradual da musculatura dos membros, disfagia (dificuldade de deglutição), disartria (dificuldade na articulação) e dispneia (dificuldade respiratória). Pode haver paralisia progressiva de todos os músculos sobre os quais, em condições saudáveis, temos domínio voluntário sobre sua movimentação e articulação. Sendo assim, é um paciente com dificuldade para engolir alimentos, o que pode acarretar em desnutrição, se não for devidamente assistido; não consegue se expressar de forma suficiente a ser compreendido com facilidade, o que pode gerar frustrações emocionais. Também podem apresentar fraquezas na musculatura respiratória, o que é uma causa comum de morte dos pacientes acometidos com ELA. Outros sintomas são: » endurecimento muscular; » atrofia muscular; » cãibras; » tremor muscular; » espasmos; » diminuição ou perda da sensibilidade. A morte dos neurônios interfere no funcionamento dos músculos do organismo humano, comprometendo, progressivamente, a fala, a deglutição, além dos músculos dos membros. A consciência e os órgãos dos sentidos permanecem inalteradas. O início dos sintomas ocorre próximo aos 54 anos, abruptamente e com sobrevida média de 3 a 5 anos. É uma doença que ainda não tem cura. Metade dos pacientes morre em 30 meses e 20% pode sobreviver de 5 a 10 anos. O tratamento é majoritariamente médico, mas com melhor eficácia se houver cuidado multidisciplinar abrangendo os serviços de psicoterapia, fonoaudiologia, fisioterapia e acompanhamento nutricional. 17 PARALISIA CEREBRAL E ESCLEROSES │ UNIDADE I Com as dificuldades motoras progressivas, é natural que o paciente vá tendo cada vez mais dificuldade funcional e torne-se dependente para atividades diárias. A somatória das incapacidades e da extrema dependência comumente geram irritabilidade, sintomas ansiosos e depressivos no paciente, o que pode acarretar em conflitos com os familiares ou cuidadores que lhe auxiliam, caso estes não tenham estrutura emocional suficientemente fortalecida para lidar com o doente. Neste sentido, a psicoterapia, sendo individual ou familiar, é indicada como suporte para a dinâmica familiar e melhor qualidade de vida dos envolvidos. Há poucos estudos sobre a cognição de pacientes acometidos com Esclerose Lateral Amiotrófica. O que se sabe é que há déficits cognitivos abrangendo principalmente as funções executivas e aspectos da linguagem e de memória. Alterações do comportamento dos indivíduos com ELA são muito semelhantes às encontradas em indivíduos com Transtorno Neurocognitivo Frontotemporal. Uma escala globalmente utilizada por profissionais da saúde, em geral o médico, para avaliação da funcionalidade do indivíduo com Esclerose Lateral Amiotrófica é a “Amyotrophic Lateral Sclerosis Functional Rating Scale-Revised”. 18 unidAdE ii PAtologiAS frEquEntES EM AMBulAtÓrio nEurolÓgiCo E trAnStornoS nEuroCognitiVoS introdução O neuropsicólogo que trabalha com maior proximidade a serviços neurológicos, com frequência vai receber encaminhamentos de casos de pacientes acometidos com Epilepsia e decorrentes de Acidentes Vasculares. No caso das epilepsias, é muito comum a necessidade de avaliação pré e pós-operatória daquele paciente que ainda apresenta sintomas, mesmo com ingestão correta de medicação. Quando amedicação não é suficiente para controle dos sintomas epilépticos, a equipe de neurologia pode oferecer ao paciente a possibilidade de fazer neurocirurgia para remoção ou abrandamento dos sintomas. A avaliação neuropsicológica vem para evidenciar e comparar os déficits e habilidades do paciente antes e depois da neurocirurgia. Ao lidar com casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC), o neuropsicólogo encontrará uma gama de queixas, dependendo da localização e da dimensão das alterações. Geralmente os encaminhamentos solicitam avaliação global das funções cognitivas. A avaliação dos aspectos afetivos e de personalidade também deve ser considerada a fim de melhor orientar o paciente e seus familiares. A hidrocefalia é uma patologia importante de ser conhecida a fim de que o profissional possa estar atento aos sintomas e verificar a possibilidade de realização de avaliação neurológica e/ou exame de imagem para um diagnóstico preciso, pois os sintomas desta doença são reversíveis após a neurocirurgia. Nem sempre o paciente vem ao neuropsicólogo com a hipótese diagnóstica de hidrocefalia, ainda mais se vier encaminhado de outro profissional que não seja o neurologista. O termo “demência” utilizado no DSM-IV foi substituído por “transtorno neurocognitivo maior” no DSM-V, que engloba outras patologias. Algumas delas são: » Transtorno Neurocognitivo devido à doença de Alzheimer. » Transtorno Neurocognitivo vascular. 19 PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS │ UNIDADE II » Transtorno Neurocognitivo devido à doença de Parkinson. » Transtorno Neurocognitivo Frontotemporal. » Transtorno Neurocognitivo devido a lesão cerebral traumática. » Transtorno Neurocognitivo devido à doença de Huntington; entre outros. A categoria Transtorno Neurocognitivo abrange o grupo de transtornos em que o déficit clínico primário esteja entre as funções cognitivas e que não estavam presentes no nascimento. Tratemos, então, de um estado de dificuldades em determinado grau, em que há comprometimento da memória concomitante a comprometimento em alguma função da vida diária. Alguns transtornos são reversíveis, tais como os ocasionados por drogas, questões emocionais, metabólicas, endócrinas, nutricionais, cardiovasculares, infecciosas. Ao tratar a origem, os sintomas “demenciais” também deixam de se apresentar. Outros casos não têm reversibilidade, tais como o Transtorno Neurocognitivo devido à doença de Alzheimer, o Transtorno Neurocognitivo Vascular, Transtorno Neurocognitivo Frontotemporal, entre outros. O melhor tratamento para adiar a progressão da maioria destes transtornos é aliar medicação com reabilitação neuropsicológica. objetivos » Elucidar sobre patologias mais comuns de ambulatório neurológico com demanda de avaliação neuropsicológica. » Transmitir conhecimentos sobre a atuação do neuropsicólogo em cada caso. » Fornecer ao aluno conhecimentos sobre Transtornos Neurocognitivos para que seja capaz de identificá-los. » Transmitir conhecimentos sobre a atuação do neuropsicólogo junto às referidas patologias. 20 CAPítulo 1 Epilepsia A epilepsia é um distúrbio cerebral caracterizado por crises epilépticas. É necessário que ocorra, pelo menos, duas crises dentro de um intervalo de 24h para que seja caracterizada. Crises epilépticas são o desequilíbrio entre excitação e inibição de impulsos da atividade elétrica cerebral. Há descargas súbitas, excessivas e descontroladas de um grupamento neuronal, ocorrendo de modo espontâneo ou secundário a eventos exógenos. As crises epiléticas também são chamadas de manifestações ictais. Ocorrem, predominantemente, no córtex cerebral e sua atividade é geralmente intermitente e recorrente. É importante frisar que crise não é sinônimo de convulsão, pois pode haver crise que não seja convulsiva. Convulsões são especificamente as crises com manifestação motora, em que há episódios de contração muscular excessiva ou anormal. As crises podem ser decorrentes de uma disfunção neuronal focal ou generalizada. figura 3. Crises epilépticas. fonte disponível em: <http://lh3.ggpht.com/-X4m5_0w9ciw/t2-e1MgXfCI/AAAAAAAAGpk/_36y31B_tSE/image_ thumb%25255B26%25255d.png?imgmax=800>. As crises parciais ou focais são as mais comuns. Têm origem em redes neuronais específicas de um dos hemisférios cerebrais e podem se originar em estruturas subcorticais. As crises parciais podem ser simples ou complexas. » As crises parciais simples têm início súbito, com duração breve e não há perda da consciência. Nem sempre apresenta sintomas e pode ser seguida de uma fraqueza transitória. 21 PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS │ UNIDADE II » As crises parciais complexas vêm acompanhadas de perda da consciência, em que não há contato com o ambiente. Durante a crise, alterações motoras são comuns, podendo apresentar movimentos mastigatórios; movimentos intensos das mãos e dedos; caretas; rasgar roupas; pegar e soltar de maneira repetitiva um objeto; entre outras ações sem sentido. Após a crise o indivíduo apresenta confusão mental e amnésia. As crises parciais generalizadas se originam em algum ponto de uma rede neuronal e rapidamente se propagam em redes neuronais de ambos os hemisférios cerebrais. Podem incluir estruturas corticais e subcorticais e perda da consciência. Dentre as crises generalizadas, existe a crise de ausência, a crise tônica, a crise clônica, a crise tônico-clônica (mais comum) e a crise mioclônica, descritas a seguir: » Crise de ausência: perda súbita da consciência (não mais que 30 segundos). O indivíduo fica estático, com fixação do olhar, sem responder aos estímulos. Pode acontecer muitas destas crises ao longo do dia. » Crise tônica: contrações musculares repentinas e duradouras, deixando os membros tensos, estendidos com duração de poucos segundos ou minutos. Há perda de consciência e, comumente, desvio dos olhos e cabeça para um lado ou até rotação de todo o corpo. » Crise clônica: contrações musculares do corpo ou membros, movimentos de flexão e estiramento dos membros de forma repetitiva e rítmica, com duração de poucos segundos ou minutos. Pode haver flexão de um membro e giro do pescoço. » Crise tônico-clônica: perda súbita da consciência, queda ao solo e o indivíduo pode emitir um grito ou gemido. Há uma rigidez generalizada, em que a cabeça fica retraída, os braços flexionados e as pernas extendidas (fase tônica). Posteriormente, ocorre uma fase em que os músculos alternadamente relaxam e se contraem, surgindo os abalos clônicos de grande amplitude. Durante a fase clônica desta crise, o indivíduo pode morder a língua ou evacuar. A duração média é de 3 minutos e, no período pós-ictal, o indivíduo vai recuperando a consciência aos poucos, podendo sentir cansaço, dor de cabeça, confusão e sonolência. » Crise mioclônica: abalos musculares abruptos, rápidos e repetitivos, simétricos nas extremidades, em que é comum deixar cair objetos das mãos. O indivíduo mantém-se consciente e descreve sensação de “choque elétrico”. 22 UNIDADE II │ PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS O chamado Estado de Mal Epiléptico é caracterizado por uma crise de duração prolongada ou por duas ou mais crises seguidas, mas sem a retomada completa da consciência entre estas crises, podendo provocar uma condição duradoura. Sabe-se que as crises vão ocasionar sintomas de acordo com a região envolvida. Quanto à etiologia, a epilepsia é chamada Idiopática é aquela de causa genética. Em casos em que a epilepsia foi originada a partir de uma lesão, chama-se de epilepsia Sintomática. E quando não se sabe a causa, chama-se de epilepsia Criptogênica. A variante mais estudada entre as epilepsias de etiologia idiopática é a Epilepsia mioclônica juvenil. Esta é uma síndrome generalizada, com início na adolescência, geralmente precipitada por privação do sono, fadiga, abusode álcool e estimulação luminosa. Estes jovens apresentam maiores dificuldades no desempenho de tarefas que envolvem a formação de conceitos, abstração, flexibilidade mental, velocidade de processamento e planejamento. Entre as epilepsias parciais, a mais frequente é a Epilepsia de Lobo Temporal. Os pacientes acometidos com este tipo descrevem alterações psíquicas momentâneas, como medos, dejà vu (sensação de que já esteve em determinado lugar ou já fez a mesma coisa antes) e o jamais vu (esquecimento total de algo cotidiano). Descrevem, também, sensações gástricas crescentes, como “uma bola que vai subindo”; alucinações olfativas ou gustativas; palpitações (percepção dos batimentos cardíacos), piloereção (ereção dos pelos, conhecida por “arrepios”); alterações gastrointestinais. Na avaliação neuropsicológica, as disfunções comumente encontradas em indivíduos com epilepsia de lobo temporal são as alterações de linguagem envolvendo nomeação, déficits mnésticos e disfunções executivas. Estudos atribuem este perfil como “reflexo do espraiamento de descargas epileptiformes em um circuito temporofrontal” (FUENTES et al, 2008). A Epilepsia de Lobo Frontal vai apresentar sintomatologia diferente, dependendo da área específica que for afetada na região frontal. A maior parte dos prejuízos está relacionada às funções motoras e de funções executivas. Dentre as alterações motoras podem ocorrer movimentação excessiva dos membros, alterações posturais, entre outras, geralmente em crises com duração de 10 a 30 segundos. Impulsividade, agressividade e labilidade do humor são alterações comportamentais comuns. Epilepsia do Lobo Parietal e do Occipital são menos frequentes. Quando ocorridas no Lobo Parietal, são comuns as parestesias contralaterais. Alucinações visuais e movimentos dos olhos e da cabeça são uma característica encontrada em Epilepsia do Lobo Occipital. 23 PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS │ UNIDADE II Em crianças, a epilepsia interfere no aprendizado acadêmico e há uma relação entre menor idade de início das crises e menor desempenho nas disciplinas escolares. Sendo assim, quanto mais velha for a criança em seu primeiro episódio, menor será o impacto acadêmico. Em crianças, com a remissão das crises, muito frequentemente há melhora no rendimento acadêmico. Independentemente do tipo de síndrome epiléptica, as crises levam ao dano neuronal, e a cada crise, os danos aumentam. Nem todos os casos têm as crises cessadas com medicamento. Estima-se que cerca de 30% dos casos permaneçam com as crises refratárias ao tratamento medicamentoso. Nestes casos em que não há constatação de diminuição ou interrupção das crises, a realização de neurocirurgia é necessária. O diagnóstico é realizado por meio de entrevista descritiva das crises. O exame de eletroencefalograma (EEG) também é necessário para a caracterização da atividade elétrica cerebral. figura 4. tipos de crises epilépticas. fonte disponível em: <http://i.imgur.com/8MBlzkM.jpg>. Ao atender um indivíduo com epilepsia, é importante que, tanto paciente quanto seus familiares, sejam orientados quanto à necessidade de ingestão medicamentosa correta e manutenção das consultas com neurologista, mesmo na ausência das crises. A avaliação neuropsicológica de pacientes com epilepsia vai auxiliar a compreender a dimensão do impacto da síndrome na funcionalidade e auxiliam no prognóstico, revelando quais são as potencialidades e as maiores dificuldades do indivíduo; e 24 UNIDADE II │ PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS orientando para possíveis atividades que podem ser realizadas em seu cotidiano. A avaliação pode, também, fazer acompanhamento da evolução do indivíduo. Antes da aplicação de qualquer teste é importante entender o caso detalhadamente, por meio de entrevistas com o paciente, com os familiares e com profissionais da saúde que atendem este paciente. Esta coleta de dados tem o objetivo de entender, basicamente, “o tipo e a frequência das crises, as medicações em uso e como estes fatores se manifestam, atualmente, sobre a cognição e o comportamento” (PAULA; COSTA, 2016). A próxima etapa vai incluir a aplicação de testes com o objetivo de responder às solicitações de quem requeriu a avaliação. É importante caracterizar as habilidades pré-mórbidas, geralmente através de testes que avaliam a inteligência cristalizada e por meio de entrevista detalhada com os familiares ou pessoas de convívio acadêmico ou profissional do paciente. A avaliação neuropsicológica pode ser solicitada no momento pré-operatório a fim de mensurar o estado cognitivo e emocional do sujeito ainda com a sintomatologia epiléptica. Os mesmos testes devem ser utilizados para a avaliação pós-operatória, garantindo melhor comparação de desempenho pré e pós cirúrgico. O objetivo é averiguar quais déficits estavam presentes com a doença e em quais funções houve melhora, assegurando ao paciente e à equipe médica, a realidade cognitiva do paciente em questão. Da mesma forma com que o profissional da neuropsicologia se interessa mais pelo resumo dos resultados de exames de imagem, profissionais de outras áreas precisam ter acesso prático aos dados obtidos no exame neuropsicológico. Assim, em um ambiente multidisciplinar, o neuropsicólogo precisa organizar os dados de maneira prática para que a discussão em equipe seja fluida e que todos possam entender quais são as potencialidades e as dificuldades dos pacientes. Uma sugestão para esta situação é que os resultados abaixo da média sejam apresentados na cor vermelha e aqueles na faixa média, ou acima desta, em verde. A autora enfatiza que, para os pacientes, é importante manter a prática de entregar um relatório descritivo e fazer as devidas orientações. É sempre importante lembrar que o neuropsicólogo é livre para escolher suas técnicas avaliativas, mas também precisa estar bastante esclarecido sobre o diagnóstico e suas variações, inclusive quanto aos fatores que podem interferir na execução de uma tarefa. Como os testes e outros instrumentos não são absolutos, devem ser interpretados dentro do contexto, pois nada substitui o raciocínio clínico. 25 PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS │ UNIDADE II Algumas orientações sobre a epilepsia são imprescindíveis ao público em geral, ao presenciar uma crise convulsiva, tais como: » procurar manter a calma; » tentar virar a cabeça do indivíduo para o lado, para que a saliva não impeça a respiração; » proteger a cabeça com algo suave, pode apoiar na perna de alguém (preferencialmente na coxa) ou em uma peça de roupa dobrada; » não colocar nada na boca na pessoa, nem objeto nem nada líquido; » não tente despertar o indivíduo; » permaneça ao lado do indivíduo até terminar a crise e informe-o do ocorrido com o máximo de tranquilidade possível, evitando maiores constrangimentos. figura 5. Como agir diante de crise convulsiva. fonte disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-cfUJgfzxwso/tbsw7jQztrI/AAAAAAAAAJs/2s1PhLMAIsE/s1600/epilepsia-ajuda. jpg>. 1. Mantenha-se calmo e acalme quem assiste à crise. 2. Coloque a pessoa de lado, com a cabeça baixa, de modo que a saliva possa escorrer para fora da boca. 26 UNIDADE II │ PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS 3. Desaperte a roupa em volta do pescoço. 4. Ponha qualquer coisa macia debaixo da cabeça da pessoa. Pode ser sua mão ou sua perna, impedindo-a de bater a cabeça no chão ou em objetos próximos. 5. Permaneça junto da pessoa até que volte a respirar calmamente e comece a acordar. 6. Ofereça-se para ajudar no regresso para casa ou chamar alguém da família. É muito comum a pessoa ficar constrangida, principalmente se tiver muita gente olhando. Neste caso, reações hostis, como uma defesa do ego, podem ocorrer. É importante que a pessoa seja respeitada, caso não queiraconversar após a crise ou não queira ajuda. figura 6. O que NãO fazer. fonte disponível em: <https://crescercomsaude.files.wordpress.com/2009/05/epilepsia2.jpg?w=510&h=379>. 1. Não coloque nada na boca da pessoa, ela pode morder e se machucar. Também não tente puxar a língua da pessoa. 2. Não tente acordar nem force a pessoa a se levantar. 3. Não lhe dê NADA para beber (nunca dê líquidos a alguém que está inconsciente). 27 CAPítulo 2 Hidrocefalia O líquido que envolve e circula pelo Sistema Nervoso Central é chamado de líquor. Este é produzido no cérebro pelo plexo coroide. O cérebro saudável produz uma gota de líquor a cada dez segundos, em média. Ao ser produzido, passa pelo ventrículo lateral, depois pelo forame de Monro, pelo 3o ventrículo, pelo aqueduto, pelo 4o ventrículo e, por último, é absorvido nas granulações. figura 7. Circulação liquórica. fonte disponível em: <http://www.raquelzorzi.com.br/hidrocefaliaemcriancas>. Caso ocorra algum incidente cerebral, seja uma infecção nas granulações ou traumatismo craniano, um AVC... em que haja sangramento que se misture ao líquor, esse sangramento vai circular junto ao líquor e, ao chegar nas granulações, vai entupi-las. Entupindo, o líquor não pode ser absorvido. Sendo assim, fica excedente, pois o cérebro continua produzindo. A Hidrocefalia é o acúmulo de líquor no cérebro. figura 8. Hidrocefalia. fonte disponível em: <https://static.tuasaude.com/img/posts/2014/11/50d2469c231355d8dabc861b30847e03-640_427. jpeg>. 28 UNIDADE II │ PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS figura 9. Hidrocefalia em exame de imagem. fonte disponível em: <http://www.neurocranioecoluna.com.br/site/images/neurocirurgia/hidrocefalia_01.jpg>. A hidrocefalia de pressão normal caracteriza-se por alterações cognitivas subcorticais, apresentadas como declínio, apraxia da marcha e incontinência urinária. O exame de neuroimagem é capaz de revelar um aumento do volume do sistema ventricular e leve atrofia cortical. O paciente com hidrocefalia apresenta marcha comprometida apraxicamente. A habilidade motora é preservada, o indivíduo consegue andar, mas a praxia da marcha é alterada, o paciente anda sem boa desenvoltura, como se fosse uma criança aprendendo a andar. O tratamento é neurocirúrgico. Na grande maioria dos casos, punções liquóricas (líquido que percorre o Sistema Nervoso Central) repetidas trazem melhorias sobre a cognição e a marcha. Em outros casos, a implantação de uma válvula para regulagem do fluxo já é suficiente. Faz-se importante fazer fisioterapia, reabilitação cognitiva e outras intervenções indicadas a cada caso. 29 CAPítulo 3 Acidente Vascular Cerebral (AVC) O acidente vascular cerebral é causado pela ruptura aguda de vasos sanguíneos dentro do cérebro. Há dois tipos de AVC: » AVC Isquêmico: de ocorrência frequente em cerca de 80% dos casos, este tipo é decorrente de interrupção do fluxo sanguíneo. Os sintomas são percebidos como iniciados “de repente”. No AVC isquêmico transitório, os sintomas são passageiros. » AVC Hemorrágico: menos comum, ocorre por rompimento de algum vaso sanguíneo. O paciente sente dores de cabeça muito fortes, podendo vir acompanhadas de fraqueza e/ou sonolência. figura 10. AVC Isquêmico e AVC Hemorrágico. fonte disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/-6297XOeC4Yo/Vjtflhp5YdI/AAAAAAAAHmg/x3iAxHykoSs/s1600/fhAEhzg.jpg>. Sabemos que o oxigênio é transportado pelo sangue. Sendo assim, as células nervosas da área afetada ficam privadas de oxigênio, o que impede seu funcionamento. Com isto, a parte do corpo que é controlada por estas células também sofre impacto, apresentando fraquezas ou incapacidade de funcionar. Pode ocorrer, ainda, perda da consciência, do funcionamento cerebral como um todo, sendo a causa mais comum de incapacidade e morte. A maior incidência é em idosos, hipertensos, diabéticos, fumantes e pessoas com colesterol alto. 30 UNIDADE II │ PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS É importante reconhecer os sintomas o mais breve possível, pois o tratamento de desobstrução do coágulo para a minimização de sequelas deve ser feito nas primeiras 4 horas. De acordo com o DSM-V, as evidências de doença cerebrovascular encontradas em exames de neuroimagem (ressonância magnética ou tomografia computadorizada) englobam um ou mais dos seguintes eventos: » um ou mais grandes vasos infartados ou hemorrágicos; » um único infarto ou hemorragia situada em uma região específica do cérebro, como o giro angular, o tálamo, ou porções anteriores e basais do cérebro; » dois ou mais infartos lacunares fora do tronco cerebral; » lesões extensas e confluentes da substância branca; Nos exames de neuroimagem, as lesões de substância branca aparecem descritas como “doença do vaso menor”, ou “mudanças isquêmicas subcorticais”. 31 CAPítulo 4 transtorno neurocognitivo devido à doença de Huntington Esta doença é uma desordem degenerativa, com comprometimento nos circuitos subcorticais, com perdas específicas de neurônios do estriado, que é composto pelo núcleo caudado e putamen. figura 11. Corpo Estriado. fonte disponível em: <https://www.psicoactiva.com/atlas/estriado.jpg>. De condição genética, a doença conduz à deterioração progressiva do sistema nervoso. Manifesta-se a partir dos 40 anos de idade, o tempo de evolução médio da doença é de 15 anos após o diagnóstico dos sintomas motores. Só há tratamento sintomático, o que leva o paciente, inexoravelmente, ao óbito. Ocorrem mudanças cognitivas, comportamentais e motoras, comumente nesta ordem. Prejuízos cognitivos são progressivos e incluem alterações nas funções executivas, mais especificamente na velocidade de processamento, organização e planejamento. As mudanças comportamentais estão altamente associadas ao declínio funcional, como a depressão, irritabilidade, ansiedade, sintomas obsessivo-compulsivos, desinibição e mudanças de personalidade. Entre as alterações motoras, os pacientes apresentam um quadro, chamado Coréia, caracterizado por distúrbio de movimento, que acomete todas as regiões do corpo, tais como: movimentos bruscos, hipercinéticos e involuntários. Com a progressão da doença, os pacientes apresentam prejuízo intenso da marcha e os movimentos involuntários e desordenados mais graves podem interferir 32 UNIDADE II │ PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS significativamente no autocuidado, como tomar banho, vestir-se e ir ao banheiro, tornando o indivíduo acometido cada vez mais incapacitado, inclusive para andar. No estágio terminal, o controle motor para comer e deglutir é intensificado a ponto de colaborar de forma significativa para a morte do indivíduo. O neuropsicólogo que trabalhar atendendo a esta condição deve saber que o prejuízo motor acaba produzindo uma disartria (produção da fala), sendo de difícil compreensão. Perdas de memória também são frequentes. As barreiras na comunicação e o aumento progressivo da dependência comumente impulsionam a alterações de humor, como o aumento de comportamentos impulsivos ou irritáveis. Uma atenção profissional se faz necessária para evitar maiores desgastes emocionais do indivíduo e de sua família, já que, em fase mais avançada da doença, os cuidados necessários vão além das demandas decorrentes do declínio cognitivo. A orientação familiar deve ser constante, inclusive procurando acolher as angústias dos familiares e cuidadores, que precisam estar em boas condições físicas e de estrutura emocional para que possam cuidar deste doente com menos cansaço e evitando a sobrecarga, tão comum em cuidadores. 33 CAPítulo 5 transtorno neurocognitivo devido a lesão cerebral traumática É um dano cerebral, causado por fatores externos, como um impacto na cabeça ou outras ocorrências de movimento rápido (aceleração/desaceleração) em que houve deslocamento do cérebro na caixa craniana. De acordocom o DSM-V, as características específicas de um trauma cerebral incluem, pelo menos, um dos seguintes eventos: » perda de consciência; » amnésia pós-traumática; » desorientação e confusão; » sinais neurológicos: um novo surgimento de convulsões, perda de campo visual, anosmia (perda total do olfato), hemiparesia (paralisia de um dos lados do corpo). Dentre as causas mais comuns estão: » as quedas, especialmente em pessoas idosas; » acidentes de trânsito, com maior foco para motociclistas. Há lesões cerebrais chamadas de “lesões de contragolpe”, que ocorrem quando o cérebro se choca com a parte óssea que o protege, mas no lado oposto ao do impacto. Por exemplo: se o indivíduo sofreu impacto na parte frontal da cabeça, dentro do crânio, o cérebro é jogado rapidamente para a parte de trás, oprimindo o lobo occipital e áreas mais próximas a ele. Ao ser lançado para a parte de trás, o cérebro choca-se com o osso e este impacto interno pode causar danos. Dependendo da intensidade do golpe, ao voltar, o cérebro ainda corre risco de chocar com a parte frontal do crânio, causando outro golpe. A lesão cerebral traumática pode acarretar distúrbios convulsivos e, dependendo da gravidade, pode levar o indivíduo ao óbito. Quanto à cognição, as dificuldades vão variar de acordo com a intensidade e extensão da lesão e das áreas afetadas. Dentre os principais déficits, podem abranger domínios 34 UNIDADE II │ PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS variados, tais como atenção, funções executivas, memória e cognição social (capacidade de julgamento e comportamento social desajustados). Em uma lesão mais grave, com hemorragia intracraniana, por exemplo, os prejuízos também são mais acentuados, como afasia, dispraxia construtiva, entre outros. Em bebês ou crianças pequenas, as lesões podem acarretar em prejuízos no desenvolvimento neuropsicomotor. Em adolescentes e adultos, os déficits neurocognitivos abarcam maior propensão à fadiga, hipersensibilidade a luz e som e labilidade do humor (irritabilidade, depressão, ansiedade, hostilidade ou apatia). Em idosos, a desorientação e confusão mental são comuns após lesão cerebral traumática. Em muitos casos o processo de reabilitação traz inúmeros benefícios para que o indivíduo retome, ao máximo, seu potencial funcional. O objetivo do tratamento é tentar restaurar a autonomia e independência deste indivíduo, para que seja menos dependente dos cuidados alheios e, talvez, possa retomar seus afazeres anteriores ao evento traumático. 35 CAPítulo 6 transtorno neurocognitivo devido à doença de Parkinson Este transtorno é caracterizado por comprometimento nos circuitos subcorticais. É uma doença neurodegenerativa cujos sintomas principais são: tremor, rigidez e lentidão. Para entendermos melhor, vamos voltar à bioquímica dos neurotransmissores: Há uma região do cérebro chamada de corpo estriado, responsável por controlar a postura e os movimentos do corpo humano. Por meio da acetilcolina, o corpo estriado ativa os movimentos e, através da dopamina, os inibe. A dopamina é produzida na substância negra e faz a comunicação entre esta região e o corpo estriado. No Parkinson, há perda de neurônios da substância negra. Sendo assim, a diminuição da concentração de dopamina é significativa, o que faz com que seja muito mais difícil para o doente inibir movimentos (tremores) indesejáveis e controlá-los (rigidez). figura 12. Receptor de dopamina. fonte disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-Afr22AUhIgI/URrmHhYhLkI/AAAAAAAAAJg/Jq_mHy2JR5k/s1600/ neuronio+parkinson.bmp>. figura 13. Substância Negra. fonte disponível em: <http://www.neurocranioecoluna.com.br/site/images/neurocirurgia/estimulacao_cerebral/ estimulacao_02.jpg>. 36 UNIDADE II │ PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS A doença de Parkinson costuma aparecer após os 65 anos. O paciente acometido com a doença vai apresentar manifestações clínicas variadas, com destaque para o quadro motor, composto por rigidez muscular, tremor de repouso, bradicinesia (lentificação dos movimentos), rigidez na marcha (geralmente caminha arrastando os pés, com passos bem curtos e com necessidade de apoio), diminuição da expressão mímica facial e alteração postural (é comum andarem com a cabeça inclinada para frente), com alto risco de queda. Há, ainda, manifestações não motoras, tais como anomia, depressão, distúrbios do sono, alterações cognitivas e comportamentais, disfunção autonômica, entre outras. figura 14. Sintomas parkinsonianos. fonte disponível em: <http://www.pdtrials.org/wp-content/uploads/2015/10/Parkinsons-disease-signs.jpg>. O paciente acometido com Parkinson tem mais chances de desenvolver algum outro Transtorno Neurocognitivo. Cerca de 40 a 50% dos pacientes com Parkinson vão apresentar sintomas demenciais, caracterizados por diminuição da memória, da atenção, das funções executivas e visioespaciais, alterações da personalidade e transtornos comportamentais. Geralmente, o comprometimento motor está presente há, pelo menos, um ano antes do início do declínio cognitivo, que tem desenvolvimento gradual. Quanto maior a idade de início da doença de Parkinson, maiores são as chances de desenvolvimento de doença concomitante. Em testes neuropsicológicos, a atenção sustentada é mais preservada do que a atenção utilizada para realizar testes que avaliam a velocidade de processamento. 37 CAPítulo 7 transtorno neurocognitivo devido à doença de Alzheimer Alzheimer é a doença neurodegenerativa mais comum entre os idosos senis, afetando cerca de 15% dos idosos acima dos 65 anos e dobrando a cada 5 anos. A instalação do quadro é de início insidioso e a progressão da doença depende muito de fatores genéticos e da reserva cognitiva (rede neuronal desenvolvida previamente). Geralmente a evolução é lenta, podendo levar mais de 15 anos. Os principais fatores que definem a doença de Alzheimer são a deterioração progressiva das funções cognitivas, especificamente das habilidades visioespaciais e memória, e, concomitantemente, a perda da funcionalidade. Ocorre comprometimento nos circuitos corticais e com grande perda de neurônios hipocampais. figura 15. Hipocampo. fonte disponível em: <http://www.psiqweb.med.br/site/fBArquivos/NO/00000292/00000292_621.jpg>. Desenvolve-se progressivamente, decorrente de processo degenerativo, iniciando seu curso pelos lobos temporais mesiais, afetando o hipocampo e, consequentemente, a memória. Há certa atrofia cortical, em especial nos córtex límbico e associativo, bem como aumento no volume dos ventrículos cerebrais. 38 UNIDADE II │ PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS figura 16. Alzheimer. fonte disponível em: <http://www.institutoalzheimerbrasil.org.br/Uploads/contents_images/ d3ba00948a403e37dfc9453c2dc56f02.jpeg>. A acetilcolina é um neurotransmissor usado pelo hipocampo, que é a região mais envolvida nos processos de memória (que inclui a aprendizagem). Os níveis de acetilcolina caem progressivamente durante o envelhecimento, e, nos pacientes com Alzheimer, a queda dos níveis de acetilcolina é drasticamente mais elevada. Há também outros processos bioquímicos alterados na doença, mas ainda em estudo pela comunidade científica. São comuns os déficits mnésticos, de linguagem (perda da nomeação, compreensão) e habilidades visuoespaciais. Na fase inicial da doença os pacientes começam a ter dificuldades cognitivas, especificamente na aquisição de novas memórias (aprendizado), alguma dificuldade em acompanhar o tempo, desorientação espacial e mudanças de humor, podendo aparecer sintomas de depressivos, como apatia, perda de iniciativa etc. Nesta fase, a linguagem e as habilidades motoras continuam como antes. O doente é capaz de manter uma conversa, é sociável e compreende a comunicação, como gestos, entonação etc. Pode acontecer de o paciente nãoreconhecer facilmente o lugar onde está e ter lapsos de memória durante uma conversa. Uma estratégia eficaz é auxiliar, informando sobre o assunto que estava sendo discutido e, caso o fornecimento de dicas não esteja sendo suficiente ou esteja provocando frustrações no indivíduo, pode-se mudar o foco da conversa ou mudar de ambiente. 39 PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS │ UNIDADE II figura 17. Necessidade de ajuda. fonte disponível em: <https://md24housecall.com/wp-content/uploads/2016/03/A0177_Closeup-portrait-sad-alone-dark- gloomy-frustrated-stressed-senior-mature-woman-hands-on-head-looking-down-having-really-bad-nigh.jpg>. A fase leve é o momento ideal de se introduzir um cuidador na vida diária deste idoso, pois ainda é capaz de escolher e entender a necessidade, embora muitas vezes apresentem resistência por não terem compreensão global de seu quadro. Também é uma fase em que precisa ser pensado sobre a possibilidade de retirada da direção de um automóvel, pois na próxima fase os déficits são mais abrangentes e estes idosos em trânsito podem pôr em risco a própria vida e a de outros. figura 18. Retirada da direção. fonte disponível em: <http://www.chapadensenews.com.br/files/fotos/196519.jpg>. A fase moderada abrange outras áreas cerebrais e funções cognitivas, ocasionando déficits na linguagem, nas habilidades visioespaciais e o comprometimento para a realização das atividades diárias avançam um pouco mais. Este idoso passa a apresentar-se um pouco mais descuidado com sua higiene pessoal (ou demandando ajuda para conseguir se arrumar como de costume). 40 UNIDADE II │ PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS figura 19. Auxílio na higiene do idoso adoentado. fonte disponível em: <https://static-blog.getninjas.com.br/guia/wp-content/uploads/2015/02/idosos.jpg>. Já ocorre perda parcial da capacidade de reconhecimento, mantendo intactas as recordações mais solidificadas, como os ambientes familiares e orientações pessoais (próprio nome, idade, lugar de nascimento, nome de seu cônjuge e parentes). Passa a ter dificuldades na fala e linguagem (afasia) e para realizar funções básicas já aprendidas, como se vestir e utilizar talheres. figura 20. Ajuda para vestir. fonte disponível em: <http://conteudo.imguol.com.br/c/noticias/2014/02/09/9fev2014---chen-wenyao-ajuda-sua-mae-a-mei- a-se-vestir-na-casa-onde-vivem-em-jianyang-provincia-de-fujian-sudeste-da-china-wenyao-de-64-anos-cuida-de-sua-mae-de- 106-anos-ha-decadas-ela-diz-que-1391954678057_956x500.jpg>. Nesta fase moderada da doença, o idoso já é dependente de um cuidador em tempo integral, pois começam as manifestações físicas/motoras, como debilidade muscular, alterações de postura, caminhada, maior cansaço, entre outros. 41 PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS │ UNIDADE II figura 21. Limitações físicas na doença de Alzheimer. fonte disponível em: <http://www.maisquecuidar.pt/AndarilhoArticulado.htm>. O idoso nesta fase é mais sonolento, repetitivo com a fala e com atitudes (abre e fecha gavetas, dobra e desdobra roupas...), pode apresentar sinais psicóticos (delírios, alucinações e ilusões) e perde o interesse por atividades das quais gostava antes. É um paciente que pode relatar que alguém em sua residência está roubando seu dinheiro (sendo que talvez esqueceu onde o guardou), que os familiares estão combinando sua internação para ficar com seus bens, entre outros. Na fase mais avançada da doença, o comprometimento cerebral já avançou para as porções do lobo frontal, ocasionando em alterações das funções executivas, da personalidade e do comportamento. figura 22. Idoso tira a roupa. fonte disponível em: <https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=imgres&cd=&cad=rja&uact=8&ved= 0ahUkEwjaoo_Eze3tAhWCk5AkHf6bdl8QjRwIBw&url=http%3A%2f%2fblogoge1.blogspot.com%2f2015%2f06%2firritado-idoso- tira-roupa-apos-ser.html&psig=AfQjCNHMffkxdtkJbk_75k54RNVeRufRhA&ust=1494790114655347>. 42 UNIDADE II │ PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS A rigidez muscular e a alteração de postura estão mais acentuadas e podem, ainda, surgir tremores e crises epiléticas. Muito frequentemente, os idosos nesta fase apresentam incontinência urinária e fecal e certa perda de resposta à dor. Cognitivamente é um idoso desorientado com relação ao tempo e ao espaço, não sabendo informar em que data está e, se não estiver em sua casa de infância, não saberá informar onde está. A apatia é mais marcante, assim como os sintomas psicóticos e a agitação psicomotora. Apresenta maior agressividade, que pode ser atribuída a múltiplos fatores, como dores, cansaço, remédios e um ambiente exigente. O indivíduo nesta etapa já não se tem mais a preservação das capacidades automáticas adquiridas, como tomar banho, vestir-se sozinho, andar ou comer (incluindo pegar a comida com os talheres, levar a comida à boca, mastigar e deglutir). figura 23. Auxílio na alimentação na fase avançada. fonte disponível em:< http://portalamigodoidoso.com.br/wp-content/uploads/2012/07/idosa-com-a-infermeira-portal-amigo- do-idoso.jpg.. É de extrema importância que o familiar/cuidador seja orientado para conseguir controlar as situações de ansiedade e agitação dos doentes com Alzheimer, porque estas podem gerar comportamentos cada vez mais desgastantes a todos os envolvidos. 43 CAPítulo 8 transtorno neurocognitivo Vascular O Transtorno Neurocognitivo Vascular costuma ser decorrente de comprometimento nos circuitos subcorticais que agrupam o conjunto de quadros de perdas cognitivas e alterações da personalidade associadas a lesões cerebrovasculares. As lesões cerebrovasculares são de diversas causas, podendo consistir em: » pequenas áreas de enfarte ou doença dos pequenos vasos (microvascular); » grandes lesões tromboembólicas (múltiplos infartos); » lesões desmielinizantes secundárias à interrupção da irrigação sanguínea local; » infartos lacunares; » lesões únicas em locais estratégicos (tálamo, giro angular esquerdo, núcleo caudado, gânglios da base); » angiopatia amiloide; » acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos (rompimento dos vasos sanguíneos cerebrais) ou obstrução, entre outros. figura 24. Obstrução do fluxo sanguíneo. fonte disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/-uOrgO0M0_7M/UcqQ940qdyI/AAAAAAAAA-8/1cuyIkM7psE/s640/demencia- vascular.jpg>. 44 UNIDADE II │ PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS A etiologia vascular é heterogênea, pois vai depender do tipo de lesão, da localização e da extensão da lesão, que pode ser focal, multifocal ou difusa. A certeza é de que, após o acidente vascular cerebral, a circulação de sangue no cérebro é menor. O surgimento da doença é abrupto, com rápido desenvolvimento de déficits, inclusive cognitivos. Pressão alta, diabetes e tabaco são predispositores para desencadear o Transtorno. A prevalência é maior em indivíduos do sexo masculino do que nos do sexo feminino. De acordo com critérios do DSM-V, para a doença ser classificada como Transtorno Neurocognitivo vascular leve é necessário um só acidente vascular cerebral ou doença extensa da substância branca. Para ser caracterizado como Transtorno Neurocognitivo vascular maior, é preciso que tenha ocorrido, pelo menos, um dentre estes eventos: » dois ou mais acidentes vasculares cerebrais; » um acidente vascular cerebral estrategicamente situado; » uma combinação de doença da substância branca. Os sintomas iniciais são variados, pois dependem da localização da lesão. É muito comum que o paciente tenha complicações vasculares associadas, como “hipertensão arterial, sopro carotídeo, doença cardiovascular, diabete e dislipidemias” (DALGALARRONDO, 2008). A maior prevenção é a boa saúde cardiovascular. Nos três meses após um acidente vascular cerebral, 20 a 30% dos indivíduosapresentam falhas cognitivas, motoras e na funcionalidade. Posteriormente, o paciente passa a ter menor controle do corpo, sendo comum ocorrer distúrbio de marcha, com quedas frequentes, dificuldade de movimentação dos membros de um mesmo lado do corpo, dificuldade na fala ou na articulação das palavras, déficit visual de uma parte do campo visual e incontinência urinária nos estágios mais avançados. Quando ocorre doença isquêmica em pequenos vasos, costuma haver o desenvolvimento de sintomas depressivos concomitante à lentidão psicomotora e à disfunção executiva (“depressão vascular”). É comum escutar os familiares relatarem que o paciente “de um dia para o outro começou a...” falar com a boca torta, ter dificuldade para segurar um talher ou se perder no trânsito, por exemplo. Os déficits cognitivos podem ser atribuídos a uma ruptura dos circuitos córtico-subcorticais, com possível influência na atenção, em especial na velocidade do 45 PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS │ UNIDADE II processamento de informações e na capacidade executiva, mas podem variar de um caso para outro. Na avaliação neuropsicológica, na etapa de averiguação dos resultados quantitativos da aplicação dos testes, é comum a ocorrência de falhas de coerência sequencial nos testes de memória com histórias. É um paciente capaz de evocar o conteúdo apresentado dentro da quantidade de informações esperadas para sua faixa etária, porém, de maneira desorganizada. No reconhecimento tardio, o desempenho flui melhor com a utilização de pistas/dicas, o que pode ser um bom recurso para o programa de reabilitação neuropsicológica, incluindo a orientação para que o cuidador faça uso desta estratégia no cotidiano deste paciente. 46 CAPítulo 9 transtorno neurocognitivo frontotemporal O Transtorno Neurocognitivo Frontotemporal compreende uma série de variantes sindrômicas, causado por degeneração de um ou ambos os lobos frontais e temporais do cérebro. Seu desenvolvimento é progressivo, tem início normalmente entre os 40 e os 65 anos e acarreta em mudança comportamental e de personalidade e/ou prejuízo na linguagem. Conforme a doença progride, os pacientes acometidos tendem a apresentar sinais e sintomas que podem ser uma combinação dos subtipos existentes. Como existem diversas funções a serem, reguladas pelos dois lobos mais envolvidos, há variâncias na apresentação dos sintomas. O DSM-V subdivide a doença em dois grupos, sendo um grupo denominado de Transtorno Neurocognitivo frontotemporal de variante (ou subtipo) comportamental, e o outro Transtorno Neurocognitivo frontotemporal de variante (ou subtipo) linguística. transtorno neurocognitivo frontotemporal de variante comportamental Indivíduos com a variante comportamental do Transtorno Neurocognitivo Frontotemporal apresentam graus variados de apatia ou desinibição, com prejuízo da capacidade de insight. Podem perder interesse na socialização, inclusive com desinteresse pelas atividades e pessoas habituais, apresentar perda funcional no autocuidado, nas responsabilidades pessoais ou evidenciar comportamentos socialmente inadequados. Nos estágios posteriores, pode ocorrer perda de controle dos esfíncteres. transtorno neurocognitivo frontotemporal de variantes linguística Indivíduos com Transtorno neurocognitivo frontotemporal de variante linguística apresentam afasia progressiva primária, mas cada variante tem suas especificidades. Os indivíduos acometidos com a variante linguística semântica (denominada anteriormente por demência semântica) podem apresentar prejuízos importantes na compreensão de palavras, na nomeação de objetos, e no reconhecimento do significado 47 PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS │ UNIDADE II de estímulos visuais (agnosia associativa). Com a progressão da doença, também é comum a redução progressiva da produção verbal. Na avaliação neuropsicológica, é percebido como um paciente que economiza esforço ao fornecer respostas, mas mantém a preservação dos conhecimentos previamente adquiridos sobre as vertentes da língua, como a gramática, a leitura em voz alta e a escrita ortograficamente correta de palavras regulares. O quadro clínico é definido de acordo com a localização e abrangência anatômica da lesão. Inicialmente ocorrem alterações da personalidade e de comportamento, seguidas de déficits de linguagem. Dentre as alterações de personalidade, podemos ter um indivíduo apático e insensível que, anteriormente, se comovia com as demandas alheias e buscava ajudar. As alterações de comportamento podem incluir o isolamento social, perda de crítica, inflexibilidade mental, descuido da higiene pessoal, comportamentos rituais (incluindo a possibilidade de colecionismo), deambulações inadaptadas, entre outras. figura 25. Idoso acumulador patológico. fonte disponível em: <https://gcdn.emol.cl/psicologia-y-tendencias/files/2016/09/acumulador-compulsivo.jpg>. Os déficits de linguagem abrangem redução da fluência verbal, estereotipias, ecolalia e sinais de hiperoralidade (repetir as frases inúmeras vezes ou ecoar aquilo que os outros dizem). Em geral, pacientes acometidos com algum subtipo desta demência apresentam reflexos primitivos frontalizados (preensão palmar, sucção e projeção tônica dos lábios), início insidioso e progressivo de distúrbios de linguagem, alterações precoces de personalidade e de comportamento, como: isolamento social, apatia, desinibição, impulsividade, irritabilidade, hiperoralidade (repetir as frases inúmeras vezes ou ecoar aquilo que os outros dizem) e descuido com a higiene pessoal. 48 UNIDADE II │ PATOLOGIAS FREQUENTES EM AMBULATÓRIO NEUROLÓGICO E TRANSTORNOS NEUROCOGNITIVOS figura 26. Projeção tônica dos lábios. fonte disponível em: <http://3.bp.blogspot.com/-PgfdGJktb8o/tvvamX6BgzI/AAAAAAAAAtA/xXs_LPY8V3Y/s400/ BOA+VELHINHA+01.jpg>. Existem várias técnicas utilizadas para realizar o diagnóstico tais como, imagiologia cerebral, eletroencefalograma ou testes neuropsicológicos, que podem auxiliar na caracterização da doença. Em testes padronizados, a variante comportamental do Transtorno Neurocognitivo frontotemporal aponta para prejuízos comuns no raciocínio abstrato, na atenção concentrada (distratibilidade), na capacidade de planejamento e julgamento e nas funções executivas (flexibilidade mental e controle inibitório). Nos estágios iniciais, as capacidades perceptomotoras e a memória (incluindo a capacidade de aprendizagem) estão relativamente preservadas. Ainda não existe cura para o Transtorno. O que se pode fazer é cuidar dos sintomas secundários, como a depressão, podem ser aliviados pela psicoterapia e/ou medicação. Os profissionais da saúde têm o papel de fornecer conhecimentos sobre a doença, incluindo os motivos pelos quais a pessoa se comporta de determinada maneira. Assim, os familiares podem auxiliar o paciente a lidar com seus sintomas em vez de insistir para que se comporte de tal maneira, evitando maiores conflitos. Como a doença atinge o indivíduo em idade produtiva, em que ainda desfrutam de plena independência, é comum o abalo das relações familiares e laborais. O apoio de profissionais, amigos e familiares tende a fazer uma diferença positiva na forma de gerir a doença. A psicoterapia via auxiliar o doente a lidar com as questões emocionais decorrentes destas transformações e com a nova perspectiva de vida, entre outras demandas. 49 unidAdE iiitrAnStornoS do dESEnVolViMEnto introdução Serão descritas brevemente às características de algumas patologias ocorridas ao longo do desenvolvimento infantil. Faz-se importante que o neuropsicólogo as conheça para que possa identificar em uma avaliação e auxiliar a família orientando quanto às possibilidades e limitações desta criança, inclusive acolhendo os variados sentimentos e expectativas destes familiares, auxiliando-os a olhar esta criança com uma aproximação mais fidedignade suas reais condições. objetivos » Fornecer informações sobre Deficiência intelectual. » Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade. » Transtornos do Espectro Autista. » Transtornos Específicos da Aprendizagem. » Transtorno de Aprendizagem Não Verbal. CAPítulo 1 deficiência intelectual (di) Trata-se de uma deficiência caracterizada por limitações significativas em dois âmbitos, consecutivamente: 1. funcionamento intelectual; 2. comportamento e funcionamento adaptativo socialmente. 50 UNIDADE III │ TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO Para que o diagnóstico seja caracterizado, ambos os déficits precisam ser existentes desde o período de desenvolvimento, sendo necessário auxílio constante para que o indivíduo possa desempenhar as atividades de vida diária para lidar com as demandas externas, seja em casa, na escola, no trabalho ou outro ambiente. Os déficits intelectuais devem ser averiguados tanto pela avaliação clínica quanto por testes de inteligência padronizados, individualizados e adequados culturalmente e psicometricamente. A avaliação deve englobar a mensuração do quociente de inteligência (QI), a capacidade de “raciocínio, solução de problemas, planejamento, pensamento abstrato, juízo” (DSM-V) e a aprendizagem. Uma pontuação de teste abaixo de 70 indica uma limitação no funcionamento intelectual. Para a padronização do Teste de Inteligência Wechsler para Crianças (WISC-IV), foram avaliadas 120 crianças diagnosticadas previamente como deficientes mentais. A média de desempenho daquelas classificadas como Deficientes Mentais Leves foi de 60 pontos de QI Total, com 9 pontos de desvio padrão. Crianças diagnosticadas como Deficientes Mentais Moderadas obtiveram média de desempenho de 46 pontos de QI Total, com 8 pontos de desvio padrão. O comportamento expresso por um funcionamento adaptativo limitado abarca dificuldades quanto ao relacionamento interpessoal, autoestima, resolução de problemas sociais, capacidade de seguir regras e leis e evitar ser vítima, assumindo suas responsabilidades sociais. Compreendem, também, questões acerca de atividades do cotidiano, como os cuidados de higiene pessoal, cuidados com a saúde, utilização de dinheiro, transporte, telefone, entre outras competências. Os graus de deficiência intelectual variam, passando por dificuldades leves para se ajustar a situações novas (mas podendo ser educáveis), à falta de percepção sobre situações em que pode por sua vida em perigo (como querer soltar a mão dos pais/responsáveis e querer atravessar a rua rapidamente e sem olhar), crises de agressividade (inclusive autoagressividade, como morder as unhas até produzir ferimentos, por exemplo) e persistência de reflexos primitivos devido à imaturidade do SNC. Após avaliação e constatação do diagnóstico, o neuropsicólogo pode trabalhar visando conscientizar este indivíduo sobre seus limites, ensinar estratégias para responder às demandas o mais próximo do esperado, valorizar suas capacidades e buscar atividades em que seja necessário o uso de seus recursos psíquicos mais preservados. O ideal é trabalhar a partir de contextos reais, criar situações de aprendizagem positivas, com elogios perante aos sucessos (mesmo que pequenos) e significativas na vida desta criança, usar situações e formas mais concretas possíveis, dividir as tarefas em partes 51 TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO │ UNIDADE III e apresentar materiais de diferentes tipos, tais como: objetos, músicas, expressões corporais, expressões faciais, entre outras. Citamos aqui dois exemplos para ilustrar como este aproveitamento dos recursos intelectuais pode ser feito, mesmo com a presença marcante de déficits cognitivos em indivíduos adultos, em idade produtiva laboralmente: 1. Limitação das habilidades verbais, mas com preservação da coordenação motora e da atenção concentrada, pode trabalhar em estoque de supermercado. figura 27. Estoque. fonte disponível em: <https://4.bp.blogspot.com/-mQ8ky3g-eb4/VwBrf-a7slI/AAAAAAAA3w0/13Yy1Q55c9Q_qdQfwX9LoIinOGy- c3eQQ/s1600/IMG_5202.JPG>. 2. Falhas práxicas, mas com preservação (mesmo que mínima) das capacidades mnésticas pode atuar no balcão de informações de um shopping ou terminal rodoviário. figura 28. Balcão de informações. fonte disponível em: <http://www.shoppingviacatarina.com.br/public_html/ecentiva/uploads_fck/vc_P4120007.jpg>. 52 UNIDADE III │ TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO O objetivo é tentar melhorar, o funcionamento das pessoas dentro de seu próprio ambiente, a fim de melhorar sua qualidade de vida ao ter a sensação satisfatória de realização. Ao desempenhar atividades que valorizem o que há de melhor no indivíduo (mesmo que esteja abaixo do esperado para sua faixa etária), temos melhora em termos de autoestima, satisfação pessoal, orgulho e outros princípios de autoidentidade. Outras síndromes apresentam deficiência intelectual, tais como: 1. Síndromes e condições genéticas e malformativas; 2. Síndrome de Down; 3. Síndrome do X-Frágil; 4. Microcefalia; 5. Síndrome do alcoolismo fetal; 6. Síndrome do Cri du chat (miado do gato); 7. Síndrome de Angelman. 53 CAPítulo 2 transtorno de déficit de Atenção/Hiperatividade (tdAH) O TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que se caracteriza por um padrão persistente de sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Pode ser apenas do tipo desatento, apenas hiperativo ou do tipo combinado, com desatenção e hiperatividade. A apresentação do TDAH do tipo desatento inclui a incapacidade de permanecer em uma tarefa por tempo prolongado, as crianças parecem não ouvir e perdem seus materiais com mais frequência que os outros indivíduos de sua idade. figura 29. desatenção. fonte disponível em: <http://www.isaudebahia.com.br/noticias/detalhe/noticia/seu-filho-e-desatento-ou-tem-tdah/>. As características fundamentais do indivíduo acometido com TDAH do tipo hiperativo são: o excesso de atividade (além da manifestação de outros de mesma idade), inquietação, grande dificuldade de permanecer sentado, incapacidade de aguardar, entre outros. 54 UNIDADE III │ TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO figura 30. Hiperatividade. fonte disponível em: <http://espacorafah.com.br/wp-content/uploads/2016/02/hiperativo.jpg>. A apresentação do tipo combinada envolve critérios de desatenção concomitante ao preenchimento dos critérios de hiperatividade-impulsividade, desde que presentes nos últimos 6 meses. O indivíduo com TDAH tem maior busca por novidades. Diante de situações novas, estimulantes ou desafiadoras (como os jogos de videogame, por exemplo) a criança é capaz de controlar seus sintomas com esforço voluntário por algum tempo. Pessoas com TDAH tem maior dificuldade em concluir seus objetivos, iniciando vários projetos, mas que não chegam ao final, incluindo os âmbitos acadêmico, profissional e relacionamento afetivo. Apresentam maior envolvimento em acidentes de trânsito, mais multas por excesso de velocidade e perdem seus objetos com mais frequência do que indivíduos sem este acometimento. figura 31. tdAH: perda de objetos, perda de foco atencional. fonte disponível em: <http://www.institutoinclusaobrasil.com.br/wp-content/uploads/2016/05/hiperativo15B15d.jpg>. 55 TRANSTORNOS DO DESENVOLVIMENTO │ UNIDADE III A avaliação neuropsicológica do paciente com suspeita de TDAH precisa ser feita cautelosamente, a fim de diferenciar os sintomas de outras patologias, como o transtorno opositor e desafiante, o Transtorno Bipolar, manifestações emocionais, entre outras possibilidades. O profissional deve estar bastante embasado cientificamente e fazer entrevista minuciosa com os pais, com a escola, com outros ambientes em que a criança convive e, também, com a própria criança. dificuldades mais frequentes em estudantes com tdAH. Lentidão para aprender conteúdos e realizar tarefas escolares. Dificuldade para ignorar estímulos irrelevantes e para interromper uma resposta já iniciada. Dificuldade de organizar
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