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Prof. Adilson Camacho UNIDADE I Agricultura Sustentável Para início de conversa Os objetivos gerais desta unidade são apresentar quadro geral da produção e seus sentidos culturais e econômicos, podendo, assim, planejar, orientar, avaliar e monitorar as atividades agropecuárias sustentáveis em seu uso do ambiente. Do que estamos falando? Agropecuária e extrativismos sustentáveis. Sustentabilidade. Cultivo e criação. Por quê? A construção da qualidade de vida, saúde das ecologias internas e externas ao nosso corpo, como uma unidade, isto é sustentabilidade! Como? No cotidiano, plantando, cultivando, criando melhor, de modo mais adequado. Vejamos! Agricultura sustentável O argumento principal: há níveis de afastamento cognitivo e conceitual da produção do alimento, com a perda da consciência dos mecanismos e relações agrárias, no Brasil ainda típicas dos espaços rurais, o “setor primário da economia”. Trata-se de confrontação do “valor econômico estrito” por meio do “valor da vida saudável”. Educação a serviço da cultura, de fato coletiva e promotora da saúde; fórmula da sustentabilidade. Sustentável (2016). Os objetivos: uma conquista da consciência social da importância histórica de comer (adequada aos estilos de vida), tanto por meio do (re)aprendizado criativo e coerente de formas tradicionais quanto por modos totalmente novos. Construir saúde pela qualidade (vida/ambiente), a sustentabilidade. Agricultura sustentável Os meios: manejo correto dos ecossistemas, nos planos científico (física, química e biologia) e social (cultura em suas várias dimensões: base simbólica, percepção e memória, história e técnica; cultura expressa nos usos territoriais dos lugares). Seguido por práticas econômicas inovadoras (mesmo quando milenares) diante da padronização das redes e sistemas em escala planetária: comércio justo ou fair trade, economia social, solidária, colaborativa e criativa como instrumentos de inserção social, consciência dos processos globais de produção (cadeias completas, contra o fracionamento do processo produtivo). Vamos ao roteiro da aula! Agricultura sustentável Nosso roteiro da Unidade I – o conteúdo 1. Agriculturas sustentáveis originais ou saberes e personagens vernáculos: domesticação, cultivo e criação de plantas e animais em experiências e práticas sustentáveis. 2. Produção da escassez artificial: a produção em meio à ecologia, às politécnicas, à lógica de tesouraria e ao marketing. 3. Territorialização dos sistemas e cadeias produtivas convencionais de economia e tecnologias duras (regiões): uniformizadoras e concentradoras. 4. Consolidação das tecnologias agroindustriais no campo: sucessos e declínio das atividades agrárias convencionais e a complexidade do novo rural ou “rurbano”. Graziano da Silva (1997). Agricultura sustentável 1. Agriculturas sustentáveis originais ou saberes e personagens vernáculos como experiências e práticas agroecológicas sustentáveis a serem seletivamente resgatadas (aplicadas) na unidade II, de acordo com sua vitalidade. Natureza inteira (religiosidade, mística, metafísica) – redução a sistema (ciência positivista moderna): do por quê ao como. Observação: desenvolvimento sustentável é o processo de ampliação permanente das liberdades substantivas dos indivíduos em condições que estimulem a manutenção e a regeneração dos serviços prestados pelos ecossistemas às sociedades humanas. Ele é formado por uma infinidade de fatores determinantes, mas cujo andamento depende justamente da presença de um horizonte estratégico entre seus protagonistas decisivos (ABRAMOVAY, 2010, p. 97). Agricultura sustentável Valores e práticas desejáveis: Seja pelas técnicas ou pela escala, os grupos sociais tradicionais produziam sem explotar os recursos. Produção com sentido, “modelo” cósmico. Visão biocêntrica e conectiva: tudo ligado. Agricultura sustentável Falemos de alternativas. A etnoecologia é o estudo e descrição de sistemas de conhecimento de grupos étnicos sobre o mundo natural. [...] conhecimento tradicional é definido como o conjunto de saberes e saber-fazer a respeito do mundo natural, sobrenatural, transmitido oralmente de geração em geração. Para muitas dessas sociedades, sobretudo para as indígenas, existe uma interligação orgânica entre o mundo natural, o sobrenatural e a organização social. Não existe uma classificação dualista entre o ‘natural’ e o ‘social’ (DIEGUES, 2000a:30). Para Diegues (2000) as populações tradicionais não indígenas: caiçaras, caipiras, babaçueiros, jangadeiros, pantaneiros, pastoreios, praieiros, quilombolas, caboclos/ribeirinhos amazônicos, ribeirinhos não amazônicos, varjeiros, sitiantes, pescadores, açorianos, sertanejos/vaqueiros. Agricultura sustentável Mapa das populações tradicionais Fonte: Adaptado de: DIEGUES (2000b, p. 61-62). Legenda Populações tradicionais Caiçara Jangadeiros Pastoreio Caipira Sertanejo vaqueiro Açorianos Pescador Ribeirinho e amazônico Quilombola Populações tradicionais indígenas Área de concentração indígena Alternativas mais sustentáveis: formas de vida e produção que têm melhores relações com os ambientes, usando-os, mas mantendo-os, como agriculturas sustentáveis originais, com métodos vernaculares e que podem nos ensinar muito ainda hoje. São formas de vida muito antigas, com aproximadamente 10.000 anos (HAVILAND et al., 2011, p. 120) que, como veremos adiante, praticavam atividades de coleta (extrativismo) e cultivo (agricultura, pecuária) similares aos que hoje chamamos agroecologia, esta que é um conjunto de conhecimentos e procedimentos inspirados nos baixos impactos negativos dos velhos saberes e usos. A agroecologia soube aprender. Agricultura sustentável Agroecologia é a consideração dos processos ecológicos para uma agricultura sustentável: “Eu sempre começo dizendo que a agroecologia é a aplicação dos conceitos e princípios ecológicos no desenho e manejo de agroecossistemas sustentáveis” (GLIESSMAN, 2000). Agricultura sustentável “é uma agricultura que protege a base de recursos naturais e permite uma economia viável e também propõe um aspecto social justo e aberto a todos que fazem parte da sociedade” (GLIESSMAN, 2000). Agricultura regenerativa: termo cunhado por Robert Rodale ao estudar os processos de regeneração dos sistemas agrícolas ao longo do tempo, sendo um termo ligado à possibilidade de produzir recuperando os solos, [...] a proposta visa a regeneração e a manutenção não apenas das culturas, mas de todo o sistema de produção alimentar, incluindo as comunidades rurais e os consumidores. Agricultura sustentável A modernidade trouxe possibilidades e reduções. A razão da redução é a manipulação do conhecido em nome do todo: não há outro jeito de planejar e fazer projetos. Num sistema sabemos o que está ligado e para onde o conjunto se dirige. A humanização do sapiens-sapiens resulta diretamente de sua progressiva competência técnica, que requereu experimentação e conhecimento dos elementos de seu entorno, com os quais passou a se relacionar conscientemente, primeiro de modo operacional e mítico e só recentemente científico. Vejamos algo desses 15 mil anos, fundamental: a domesticação dos outros seres nessa relação com a natureza. Agricultura sustentável A domesticação e cultivo, desde o neolítico, estão na base da fixação humana nos ambientes ecúmenos (HAVILAND et al., 2011), humanizando pedaços de espaço (paisagens), tornados menos inóspitos pelos símbolos e rituais, responsáveis pelas cadeias de confiança desses homens e mulheres em seu sustento, como afirma Cassirer (1968). Agricultura sustentável Os centros de origem do milho, do trigo e do arroz domesticados Fonte: STANDAGE, 2010, C.1.e- book no Adobe Digital Editions). MILHO (3500 a.C.) TRIGO (8500a.C.) ARROZ (7500 a.C.) Assinale a alternativa correta no que diz respeito à domesticação de animais e plantas. a) As plantas são hoje como sempre foram, apenas os animais sofreram domesticação. b) Os animais e as plantas vêm sendo adaptados às necessidades humanas e também vimos mudando com eles. c) Mudá-los não nos afetou em nada. d) As frutas não eram diferentes, apenas os legumes. e) Nenhum gênero da natureza precisava ser mudado, apenas fizemos isso por capricho científico. Interatividade Assinale a alternativa correta no que diz respeito à domesticação de animais e plantas. a) As plantas são hoje como sempre foram, apenas os animais sofreram domesticação. b) Os animais e as plantas vêm sendo adaptados às necessidades humanas e também vimos mudando com eles. c) Mudá-los não nos afetou em nada. d) As frutas não eram diferentes, apenas os legumes. e) Nenhum gênero da natureza precisava ser mudado, apenas fizemos isso por capricho científico. Resposta 2. “Revolução verde”: mudança da produção necessária à produção artificial da escassez e os limites efetivos da produção (impostos pelo padrão político e técnico) que não estão ligados aos limites produtivos da terra, posto que esta possa render muito mais em condições ambientalmente sustentáveis. Fome como condição mercantil, recurso econômico e efeito esperado. Vamos considerar o caminho da natureza ao ambiente: redução ao mundo conhecido. Da natureza ao ambiente: caminho de conhecimento das propriedades dos materiais e é o mesmo que nos leva da arte e da religião ao abastecimento, isto é, das possibilidades artísticas que de um lado fazem da árvore escultura, monumento ou totem, e de outro lhe conferem um caráter utilitário em objeto de uso, como um móvel, uma casa. Agricultura sustentável Portanto, a evolução dos pequenos cultivos às grandes plantações, com jardins, hortos e hortas profissionais, implica transformações de ordem qualitativa (perda do todo em nome do domínio intelectual e operatório do processo) e quantitativa (ganho relativo de volumes com a escala industrial). E como abundância não faz altos preços, ela somente atende aos atributos da concentração em geral. A concentração é a marca política e econômica dos circuitos produtivos expressos territorialmente. Sua forma por excelência é a das redes... O que os discursos (de políticos, empresários e investidores) tentam esconder, o território escancara! “Teoria dos dois circuitos”. SANTOS, M. O espaço dividido. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1979. O que é desenvolvimento?! Resposta difícil... Agricultura sustentável Em termos gerais, nossa questão passa pela comparação entre dois grandes modelos de desenvolvimento, com seus procedimentos e instrumentos de gestão correspondentes, bem como o território transformado por esses processos: os convencionais ou vigentes; e os modelos alternativos. Observação: os campos de ambos são pouco conhecidos, mesmo que estejamos imersos no modelo convencional..., conhecemo-lo muito pouco! É preciso estudar e diferenciar as novidades (modas e tendências) das medidas efetivamente sustentáveis. Agricultura sustentável Atenção com as panaceias! Muitas coisas podem ser feitas, mas é preciso encontrar a verdadeira medida de propostas de coleta seletiva, reciclagem de materiais, “retrologística” ou logística reversa aplicada aos processos (produção e circulação). Há uma tendência à “transferência” da responsabilidade institucional (das agências federais de governança, por exemplo) aos indivíduos, devido à falência dos sistemas de armazenamento e distribuição de água potável e de energia elétrica domiciliar, que passam a ser regulados pelo mercado. Impactos ambientais e “modelos convencionais” de desenvolvimento, seus postulados científicos e tecnológicos alinhados aos preceitos positivistas do “como?”, muito mais do que “por quê?”. Onde está situada a moral e a ética no valor econômico? Questão fundamental de Amartya Sen. Agricultura sustentável As ligações entre natureza e ser humano são extremamente complexas e até mesmo desconhecidas em muitos aspectos, o que é bastante explorado pela filosofia (metafísica) e por algumas formas de ciência e arte. É assim que passa a fazer sentido a questão da desertificação física (ambiental, exterior), complementada mais adiante com suas formas social (convívio público) e psíquica (simbólica, interior), ligadas ao afastamento da natureza do humano, sugerindo um debate: Degradação, cisão ou apenas transformação? O que de fato acomete a humanidade nos tempos de hoje? Continuemos a exposição. Saúde e ambiente. Alimento e ambientes. Agricultura sustentável Estamos produzindo a escassez, menosprezando a abundância. O que percebemos como “escassez de natureza” levou ao surgimento das ideias de preservação e conservação. Na base do que chamamos “escassez de natureza”, estão: “inconsciência” nas relações entre os seres humanos e o entorno em toda sua complexidade; ignorância que nos torna meros usuários, sem condições de atribuir sentido aos processos e às posições e papéis que ocupamos nas estruturas sociais e, mais particularmente, nas cadeias produtivas. Tudo isso acentuado pelos problemas globais listados. História da agricultura. Agricultura sustentável Carl Sauer lança seu olhar arguto sobre nosso modelo de desenvolvimento, sublinhando que o forte aumento na produção nos últimos anos é devido, somente em parte, a uma melhor recuperação ambiental, com uso mais eficiente de energia e substituição de fontes escassas pelas abundantes. Em essência, temos esgotado mais rapidamente os recursos acessíveis que conhecemos. Então, pergunta, não deveríamos admitir que muito do que chamamos de produção não é apenas extração? (SAUER, Carl. A atividade do homem sobre a terra, 1956). Agricultura sustentável Assinale a alternativa correta sobre sustentabilidade nas atividades agrárias. a) A própria ideia de atividades agropecuárias sustentáveis ambientalmente rejeita os aditivos químicos nocivos à saúde, tendo a vida humana como gabarito da reflexão (ética e jurídica) e da ação (gerenciar, lavrar a terra, criar animais). b) Os modelos de desenvolvimento e de gestão alternativos na produção agrária supõem o emprego de agrotóxicos, pois em pequenas doses não há malefícios à saúde. c) Não é possível plantar sem uso de agrotóxicos. d) A biotecnologia é a última palavra em desenvolvimento sustentável. e) Produção da escassez, como tratamos, é a falta absoluta de alimentos. Interatividade Assinale a alternativa correta sobre sustentabilidade nas atividades agrárias. a) A própria ideia de atividades agropecuárias sustentáveis ambientalmente rejeita os aditivos químicos nocivos à saúde, tendo a vida humana como gabarito da reflexão (ética e jurídica) e da ação (gerenciar, lavrar a terra, criar animais). b) Os modelos de desenvolvimento e de gestão alternativos na produção agrária supõem o emprego de agrotóxicos, pois em pequenas doses não há malefícios à saúde. c) Não é possível plantar sem uso de agrotóxicos. d) A biotecnologia é a última palavra em desenvolvimento sustentável. e) Produção da escassez, como tratamos, é a falta absoluta de alimentos. Resposta Formação ou territorialização dos sistemas e cadeias produtivas convencionais, uniformizadoras e concentradoras, de economia e tecnologias duras: os problemas. A questão agrária começa a se definir quando o Estado brasileiro, no século XIX, pressionado por alguns setores das elites, sobretudo pelas grandes potências da época, que queriam expandir mercados (coisa impossível com a escravidão, pois escravo não compra), decidem acabar com a escravidão. Acabar com a escravidão significava, naquela época, em que o governo estava nas mãos dos grandes fazendeiros, criar um sério problemapara a grande propriedade, para os próprios fazendeiros (MARTINS, 1997). Nossa história do acesso à terra: lei de terras (lei 601, de 1850) formou-se o oposto da Lei de Colonização, aprovada nos Estados Unidos mais ou menos na mesma época. Agricultura sustentável No Brasil se fez o contrário. Tratou-se de aprovar um regime de propriedade que impedisse o acesso à propriedade da terra a quem não tivesse dinheiro para comprá-la, mesmo que fosse terra pública ou terra devoluta. Para obter a legitimação do direito à terra era necessário que a pessoa pagasse por ela (MARTINS, 1997). A estrutura fundiária do país leva-nos à sua configuração territorial: se a propriedade é concentrada ou pulverizada e como se dá sua capilaridade econômica ou ligação pelos múltiplos modos de transporte, entre outras características. Há uma pergunta elementar sobre a sustentabilidade: por quem e para quem os projetos são elaborados? É assim que se vê, no espaço geográfico, a essência da estrutura social, pois o território não mente. Agricultura sustentável A questão agrária brasileira articula-se às questões fundiária e da pobreza, tornando- se fundamental estudá-las. As políticas territoriais estão na base da geografia da produção e da distribuição de produtos, sendo as mais importantes à compreensão do modelo de propriedade brasileira a lei portuguesa de concessão de sesmarias, de 1375, Lei de Terras, de 1850, e Estatuto da Terra, de 1964. Seguem referências de três abordagens sobre o tema: JAHNEL, T. C. As leis de terras no Brasil. Boletim Paulista de Geografia, AGB. N. 65, São Paulo, 2º sem. de 1987. (p.105-116). OSÓRIO, S. L. Na terra, as raízes do atraso. História Viva, Ano 1, N. 1, nov. 2003. (p.72-7). MARTINS, J. S. A questão agrária brasileira e o papel do MST. In: STEDILE, J. P. (org.). A reforma agrária e a luta do MST. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997. Agricultura sustentável O campo é atrasado. Sim e não. Os estereótipos: A condição predominantemente agrícola do rural; há expansão de ocupações em atividades não agrícolas, subvertendo a imagem cristalizada do espaço rural. Êxodo rural como inerente ao campo; mas a população volta a crescer e as atividades do espaço agrário não são somente agrícolas, são parte da cadeia produtiva, que enreda essas áreas, com mais trabalho e melhoria de vida, junto com migração de retorno e o planejamento global do país. É mito que o desenvolvimento agrícola leva ao desenvolvimento rural (reducionismo econômico). Mitos sobre o campo (SILVA, 1997). Achar que pequenas e médias propriedades são de gestão familiar, pois “o centro das atividades da família deixou de ser a agricultura porque a família deixou de ser agrícola e se tornou pluriativa ou não agrícola, residindo no campo” (SILVA, 1997). ORNAs (Ocupações Rurais Não-Agrícolas) podem ser o motor do desenvolvimento nas regiões atrasadas: as novas atividades não rurais vêm se expandindo, enquanto aquelas especificamente agrárias têm decrescida sua participação no total de empregos. Para Silva (1997), as ORNAs têm maiores condições de avançarem “justamente naquelas áreas rurais que têm uma agricultura desenvolvida e/ou estão mais próximas de grandes concentrações urbanas” e “nas regiões mais atrasadas não há emprego agrícola e muito menos ocupações não agrícolas”. E conclui que “a falta de desenvolvimento rural na maioria das regiões ‘atrasadas’ do país se deve fundamentalmente à falta de desenvolvimento das atividades não agrícolas”. Mitos e novos mitos sobre o campo (SILVA, 1997). A reforma agrária não é mais viável: é preciso entender que uma reforma agrária deve contemplar quaisquer atividades passíveis de inserir os contingentes de desempregados no mercado de trabalho (SILVA,1997). O novo rural não precisa de regulação pública: algo como uma institucionalização ou governança, pois a diversidade de atividades é imensa e pode “envelhecer prematuramente” se não houver normatização (SILVA, 1997). O desenvolvimento local leva automaticamente ao desenvolvimento: o novo enfoque do desenvolvimento local sustentável tem o inegável mérito de permitir a superação das já arcaicas dicotomias urbano/rural e agrícola/não agrícola. Como sabemos hoje, o rural, longe de ser apenas um espaço diferenciado pela relação com a terra – e mais amplamente com a natureza e o meio ambiente – está profundamente relacionado ao urbano que lhe é contíguo. Agricultura sustentável A globalização requer organização para extrair mais recursos e, para isso, necessita que tanto a configuração territorial quanto a estrutura social estejam aptas a remunerar e a receber os investimentos dos agentes econômicos. Problemas: no desenvolvimento de base local sustentável; no Brasil, ações voltadas exclusivamente para o desenvolvimento agrícola, apesar da modernização, não foram acompanhadas pelo desenvolvimento rural; ao privilegiar as dimensões tecnológicas e econômicas do processo de desenvolvimento rural, secundando as mudanças sociais e políticas; com o aumento das disparidades hoje existentes em nosso país, seja em termos regionais, seja em relação à agricultura familiar. Agricultura sustentável identificar os principais condicionantes de distribuição da renda das pessoas e das famílias rurais e/ou agrícolas, tais como o grau e a intensidade da pluriatividade na agropecuária brasileira, a distribuição da terra segundo a posição da ocupação dos membros dos domicílios, o efeito das diferentes formas de acesso à terra sobre os rendimentos das famílias, as diferentes formas de ocupação dos membros das famílias segundo sexo, grau de escolaridade, as características dos domicílios e sua disponibilidade de bens e serviços essenciais etc.; pesquisar a importância do trabalho doméstico como alternativa de ocupação e renda das famílias rurais; pesquisar a importância da agroindústria e da indústria rural como geradoras de emprego e renda no meio rural, em particular no estado de São Paulo e em Minas Gerais, que têm um dos maiores parques agroindustriais do país; Projeto Rurbano, liderado por José Graziano da Silva (2001): caracterizar as famílias rurais e/ou agrícolas com aposentados e/ou desocupados, com o objetivo de propor uma política previdenciária ativa para as regiões desfavorecidas do meio rural brasileiro; caracterizar as famílias sem-terra em relação à renda e ocupação de seus membros em nível de grandes regiões e principais unidades da Federação, visando a delimitar o que se poderia chamar o “núcleo duro” (core) da pobreza rural, com o objetivo de subsidiar a política nacional de assentamentos rurais. O projeto teve prosseguimento com sucessivas fases, com o aumento das disparidades hoje existentes em nosso país, seja em termos regionais, seja em relação à agricultura familiar. Projeto Rurbano, liderado por José Graziano da Silva (2001): José Graziano da Silva prefere ver novas dinâmicas rurais, uma espécie de fusão de atividades urbanas e rurais, a falar de fim do modo de vida rural. Liderou, por quase duas décadas, uma linha de pesquisa multidisciplinar e com múltiplas equipes, chamada Rurbano. GRAZIANO DA SILVA, José. Quem precisa de uma estratégia de desenvolvimento? In: Núcleo de Estudos Agrários e de Desenvolvimento. José Graziano, Jean Marc e Bianchini debatem: O Brasil rural precisa de uma estratégia de desenvolvimento. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Agrário, Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável, Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural, 2001. GRAZIANO DA SILVA, José. O novo rural brasileiro. Campinas: Instituto de Economia, Edunicamp, 1999. Projeto Rurbano, liderado por José Graziano da Silva (2001) A sua característica fundamental é que ele não é somente um agricultor ou um pecuarista, ele combina atividades agropecuárias com outras atividadesnão agrícolas, dentro ou fora de seu estabelecimento, tanto nos ramos tradicionais urbano-industriais, como nas novas atividades que vêm se desenvolvendo no meio rural, como lazer, turismo, conservação da natureza, moradia e prestação de serviços pessoais. Ao descrever o tipo de ocupação emergente no chamado “novo” rural brasileiro, José Graziano define o trabalhador do campo como: a) Prestador de serviços de associações profissionais de classe, em tempo integral. b) Pluriativo, o agricultor em tempo parcial. c) Trabalhador flexível, baseado no aprendizado do aprendizado. d) Novo camponês, baseado no aprendizado. e) Novo trabalhador rural, baseado no ciclo de melhoria. Interatividade A sua característica fundamental é que ele não é somente um agricultor ou um pecuarista, ele combina atividades agropecuárias com outras atividades não agrícolas, dentro ou fora de seu estabelecimento, tanto nos ramos tradicionais urbano-industriais, como nas novas atividades que vêm se desenvolvendo no meio rural, como lazer, turismo, conservação da natureza, moradia e prestação de serviços pessoais. Ao descrever o tipo de ocupação emergente no chamado “novo” rural brasileiro, José Graziano define o trabalhador do campo como: a) Prestador de serviços de associações profissionais de classe, em tempo integral. b) Pluriativo, o agricultor em tempo parcial. c) Trabalhador flexível, baseado no aprendizado do aprendizado. d) Novo camponês, baseado no aprendizado. e) Novo trabalhador rural, baseado no ciclo de melhoria. Resposta 3. Consolidação das tecnologias no campo e da agroindústria, os sucessos e declínio das atividades agrárias convencionais. Insustentabilidade da produção “sem a natureza”, “sem o humano” e gestão ambiental “sem ambiente”. O novo rural ou o “Rurbano” impõem-se. Os modelos de produção agrários funcionam como sistemas agrícolas e pecuários que combinam técnicas e tradições locais como expressão das relações entre ser humano e meio rural e urbano. Intensivo: comercial, uso permanente do solo, rotação de culturas, tecnologia de ponta, fertilizantes e defensivos agrícolas, seleção de espécies e sementes (biotecnologia), mão de obra pouco numerosa, pequenas e médias propriedades. Agricultura sustentável Extensivo: subsistência, grandes propriedades com espaços cedidos a terceiros mediante o uso da meação, arrendamento ou posse; uso de técnicas antigas, rotação de solos, equipamentos rústicos, carência de insumos e mão de obra escassa. Plantations: monocultura tropical, produção para a agroindústria e/ou exportação; grandes propriedades; trabalho assalariado, numeroso e barato; tecnologia, insumos e rendimento elevado. Com o aumento das disparidades hoje existentes em nosso país, seja em termos regionais, seja em relação à agricultura familiar. Agricultura sustentável Formas de exploração da terra Exploração direta: normalmente, pelo próprio dono e sua família. Propriedades de tamanho reduzido, exploradas pelo proprietário. Exploração indireta: 1) exploração feita por parceria (meação ou terça), o proprietário entra com a terra e o capital, enquanto o produtor entra com o trabalho e a técnica de produção; 2) exploração por arrendamento (aluguel da terra); 3) exploração por ocupação, posse – por usucapião ou grilagem de terra. Agronegócio: grandes empreendimentos agropecuários, com o uso de novas tecnologias, pesquisas agronômicas, acessoramento de órgãos públicos, como a Embrapa, além de apoio de tecnopolos, aliando universidades e produção, como a Escola Superior Luís de Queiróz (USP Piracicaba), Unicamp, USP Ribeirão e Institutos da Unesp, entre outros no País. Agricultura sustentável Tipos de lavouras Permanente: cultivo geralmente arbóreo, do qual se obtém muitas safras ao longo de muitos anos. Por exemplo: café, laranja, cacau, manga, uva, algodão arbóreo etc. Temporária: cultivo geralmente herbáceo, do qual se obtém uma única safra por plantio. Por exemplo: trigo, soja, milho, sorgo, feijão, arroz, cana, algodão herbáceo etc. A maior quantidade de terras ocupadas destina-se às pastagens, seguida pelas matas e florestas e, em menor proporção, às lavouras. Tais indicadores permitem falar em subaproveitamento do espaço agrário, embora tenha sido observado no período um aumento nas áreas dedicadas às lavouras. (IBGE, Censo agropecuário, 2006). Agricultura sustentável Relações de trabalho A problemática quanto à qualidade de vida no campo está vinculada às relações de trabalho e ao tipo de empreendimento rural: pequeno proprietário; grandes empresas; assalariados temporários; parceiros (trabalham em terra alheia); arrendatários. Algumas formas de relação são capitalistas e outras não capitalistas, mas que se subordinam ao sistema. No meio rural brasileiro poucos são os proprietários das terras: conflitos pela posse da terra envolvendo posseiros, indígenas, proprietários e, no caso da Amazônia, os seringueiros. A falta de solução para o problema da terra tem contribuído para multiplicar os conflitos. Relações de trabalho Principais lavouras As mais tradicionais são as de produtos de subsistência: mandioca, milho, feijão e arroz, que são hoje disseminados em todo o País. No entanto, os cinco produtos tradicionais voltados para a exportação e para a agroindústria são a cana, o tabaco, o café, o cacau e o algodão. Relações de trabalho Produção Agrícola Brasileira Companhia Nacional de Abastecimento. Fonte: http://www.conab.gob.br/OlalaCMS/upl oads/arquivos/12_02_09_11_57_02_sli de1.png. Acesso em 08/05/2015. Conab Armazéns Conab Usinas Biodiesel (ANP) Usinas Etanol-Açúcar Café Cana-de-açúcar Grãos Características gerais O início da atividade pecuarista, tanto no Sul como no Norte do País, esteve prioritariamente vinculado ao propósito da colonização territorial. Prestava-se, secundariamente ao objetivo de alimentar a pequena mão de obra utilizada na atividade criatória e os contingentes civis e militares engajados na colonização e ampliação de fronteiras. Durante o século XVIII, a Campanha Gaúcha passou a ser área de criação de mulas e bovinos, com produção voltada para o abastecimento de carne de charque (salgada) e mulas para o transporte do ouro na região da mineração em Minas Gerais. O transporte da carne se dava em lombos de mulas, por meio de caminhos de tropeiros que ligavam a Campanha Gaúcha à região da mineração. Atividade pecuária É fundamental que se reconheça, como vimos insistindo, a importância da identidade entre estrutura fundiária e social, pois não é possível separá-las nas interpretações. A configuração de uma é uma face da outra. No que se refere ao rebanho de bovinos brasileiros, segundo o IBGE (2009:155) em 31.12.2006, era de 171,6 milhões de cabeças; um crescimento de 12,1% em relação ao Censo Agropecuário de 1996. Agricultura sustentável Tabela 16 – Estabelecimentos e efetivo bovino, total e diferença entre os Censos Agropecuários de 1996 e 2006, segundo as Grandes Regiões e Unidades da Federação – 1996/2006. Fonte: Adaptado de IBGE, Censo Agropecuário 1995-1996/2006, Grandes Regiões e Unidades da Federação Efetivo bovino Estabele- cimentos Número de Cabeças Diferença 1996/2006 Absoluta Relativa (%) Estabele- cimentos Número de cabeças Estabele- cimentos Número de cabeças Brasil Norte Rondônia Acre Amazonas Roraima Pará Amapá Tocantins 2 673 176 227 585 63 273 18 626 13 782 4 732 83 163 661 43 348 171 613 337 31 336 290 8 490 822 1 721 660 1 154 269 480 704 13 354 858 57 728 6 076 249 (.) 25 021 41 609 8 503 5 497 444 301 20 531 28 6 305 18 555 062 14 059 669 4 553 531 874 452 420 359 80 765 7 274 427 (.) 1 972 858 107 (.) 0,9 22,4 15,5 41,9 3,3 6,8 32,8 4,4 17,0 12,1 81,4 115,7 103,2 57,3 20,2 119,6 (.) 3,3 16,4Tabela 16 – Estabelecimentos e efetivo bovino, total e diferença entre os Censos Agropecuários de 1996 e 2006, segundo as Grandes Regiões e Unidades da Federação – 1996/2006. Fonte: Adaptado de IBGE, Censo Agropecuário 1995-1996/2006. Nordeste Maranhão Piauí Ceará Rio G. do Norte Paraíba Pernambuco Alagoas Sergipe Bahia 972 729 93 263 75 469 124 456 47 480 92 024 140 226 44 905 40 663 314 243 25 326 279 5 592 007 1 560 552 2 105 441 878 037 1 313 662 1 861 570 886 244 899 298 10 229 459 18 908 (.) 2 438 4 928 (.) 6 347 (.) 94 10 829 8 014 1 868 2 636 (.) 488 2 484 542 1 689 398 (.) 143 837 (.) 277 033 (.) 76 310 (.) 14 164 (.) 69 102 (.) 82 218 (.) 41 698 1 499 506 2,0 (.) 2,5 7,0 (.) 4,9 (.) 0,2 13,3 6,1 4,3 6,9 (.) 0,2 10,9 43,3 (.) 8,4 (.) 11,6 (.) 8,0 (.) 1,1 (.) 3,6 (.) 8,5 (.) 4,4 17,2 Sudeste Minas Gerais Espírito Santo Rio de Janeiro São Paulo 542 363 352 726 30 935 30 464 128 238 34 059 932 19 911 193 1 791 501 1 924 217 10 433 021 (.) 24 323 (.) 8 137 (.) 5 164 842 (.) 11 864 (.) 1 893 965 (.) 133 423 2 753 110 474 (.) 1 873 769 (.) 4,3 (.) 2,3 (.) 14,3 2,8 (.) 8,5 (.) 5,3 (.) 0,7 0,2 6,1 (.) 15,2 Sul Paraná Santa Catarina Rio G. do Sul 688 605 211 366 147 338 329 901 23 364 051 9 053 801 3 126 002 11 184 248 (.) 98 647 (.) 31 794 (.) 31 981 (.) 34 872 (.) 2 855 482 (.) 847 084 28 651 (.) 2 037 049 (.) 12,5 (.) 13,1 (.) 17,8 (.) 9,6 (.) 10,9 (.) 8,6 0,9 (.) 15,4 Centro-Oeste Mato Grosso do Sul Mato Grosso Goiás Distrito Federal 241 894 48 274 81 374 110 649 1 597 57 526 794 20 379 721 19 807 559 17 269 625 79 889 37 432 8 314 19 126 9 631 361 6 760 298 625 365 5 369 424 771 235 (.) 5 726 18,3 20,8 30,7 9,5 29,2 13,3 3,2 37,2 4,7 (.) 6,7 Assinale a alternativa correta quanto ao emprego intensivo de trabalho e tecnologia. a) Grandes extensões de terra e trabalho do dono, geralmente direto. b) Pequenas propriedades, com uso de tecnologia avançada e de alta produtividade na pesquisa, desenvolvimento e no manejo. c) Agricultura voltada para subsistência, com grandes propriedades e espaços cedidos a agregados mediante meação, arrendamento ou posse, uso de técnicas arcaicas de plantio etc. d) Monocultura tropical (cana, café, algodão, cacau, laranja, seringueira), com produção voltada para os mercados locais. e) Agricultura com uso de tecnologia antiga, manejo biológico das culturas, baixa mecanização, mão de obra numerosa. Interatividade Assinale a alternativa correta quanto ao emprego intensivo de trabalho e tecnologia. a) Grandes extensões de terra e trabalho do dono, geralmente direto. b) Pequenas propriedades, com uso de tecnologia avançada e de alta produtividade na pesquisa, desenvolvimento e no manejo. c) Agricultura voltada para subsistência, com grandes propriedades e espaços cedidos a agregados mediante meação, arrendamento ou posse, uso de técnicas arcaicas de plantio etc. d) Monocultura tropical (cana, café, algodão, cacau, laranja, seringueira), com produção voltada para os mercados locais. e) Agricultura com uso de tecnologia antiga, manejo biológico das culturas, baixa mecanização, mão de obra numerosa. Resposta ATÉ A PRÓXIMA!
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