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1 Disciplina: Fundamentos de pragmática Nome: Edimila Cunha Morais Resenha do capítulo “Introdução: o objeto de estudo da disciplina” do livro RASO, T. Pragmática. São Paulo: Parábola, em preparação. No capítulo “Introdução: o objeto de estudo da disciplina”, do livro Pragmática, o autor e professor Tommaso Raso trata de alguns conceitos importantes sobre a pragmática linguística, as bases do seu surgimento e também sobre sua importância em diversas áreas de estudo. No primeiro tópico, o autor introduz explicando que a pragmática é uma disciplina que teve sua origem no pragmatismo filosófico e que seus estudos passaram por um grande desenvolvimento no séc. XX. A raiz grega pragma significa ação e a pragmática linguística mais especificamente é a área que estuda a ação humana realizada por meio da linguagem. O autor explica que em determinadas expressões como por exemplo “Vai tomar banho”, pode haver uma variedade de interpretações, sejam elas de agressividade, ironia, seriedade, etc. Nesse sentido, para se fazer essa interpretação, é necessário entendermos a decisão da ação realizada pelo falante e a partir dessa interpretação podemos entender a expressão a nível sintático e morfológico. Com isso, como apresentado a seguir no capítulo, vemos que na semântica, uma sequência de palavras apresenta apenas um significado estável, enquanto no nível pragmático, essa mesma sequência de palavras pode ter diferentes significados, variando a cada realização da mesma. Se por um lado a semântica estuda o significado do código linguístico, sem considerar o seu uso, a pragmática estuda a interação entre o contexto linguístico (também chamado de cotexto) e o contexto extralinguístico, resultando assim na intenção do falante. Logo, o autor destaca que a linguagem possui natureza acional e que por meio dela é possível realizar ações no mundo. Existem ações que independem da linguagem como correr e 2 mover uma mesa por exemplo e outras ações que são executadas exclusivamente por meio da linguagem, como perguntar algo ou contar uma história. Existem ainda ações que podem ser executadas tanto pela linguagem, quanto sem ela, como cumprimentar alguém por exemplo. Retomando o conceito de pragmática, o autor destaca que embora ela possa ser definida como o estudo do uso da língua em contexto, é muito difícil atribuir uma definição que abarque todo o seu âmbito de estudo, isso porque a pragmática se aplica a estudos diversos, que vão desde a comunicação entre povos de culturas distintas, até efeitos gerados na linguagem em contextos mais específicos, como por exemplo uma comunicação feita por telefone. Dessa forma, como é bem explicado no texto, a pragmática se apresenta como uma importante disciplina, na medida em que seus estudos abrangem diversas áreas como comunicação, psicologia, antropologia, entre outras. Partindo para o próximo tópico, o autor apresenta a distinção entre o raciocínio lógico e o raciocínio empírico. O raciocínio lógico-dedutivo parte de algo geral para chegar ao particular, onde temos uma ou mais premissas verdadeiras, então logo a consequência também será necessariamente verdadeira e é o que ocorre por exemplo em sentenças de acarretamento. Já o raciocínio empírico-indutivo parte do particular para se chegar ao geral e é fruto de experiências e observações, como na premissa “A maior parte dos alunos foi à aula”, deduzimos “então alguém faltou”, no entanto essa consequência não é necessariamente verdade, logo, como o autor bem coloca, no raciocínio indutivo, diferentemente do raciocínio lógico-dedutivo, as consequências são prováveis, mas não necessariamente verdadeiras. Esses conceitos são importante para entendermos um pouco melhor sobre a filosofia da linguagem ideal e a filosofia da linguagem ordinária, que é apresentada a seguir no texto. A filosofia da linguagem ideal é o ramo de reflexões propostas por Frege, Russell e Wittgenstein e segundo esses autores, as línguas naturais são geralmente ambíguas e imperfeitas. Nesse viés, a fim de desfazer essas ambiguidades, é proposto que os enunciados 3 devem ser distinguidos de sua forma gramatical e sua forma lógica por meio de um sistema simbólico, que seja capaz de desfazer essas ambiguidades, levando assim ao que seria considerado como uma linguagem “ideal”. Já a filosofia da linguagem ordinária, surge entre os anos de 1930 e 1950, por meio de filósofos como J.Austin e P.Grice, que defendem o uso de uma linguagem comum, ou seja, a linguagem usada no dia-a-dia. Para eles, a linguagem lógica por si só não permite entender aquilo que o falante deseja passar, pois na linguagem do dia-a-dia, uma palavra pode ter diferentes ideias, como por exemplo o conector “e”, que do ponto de vista lógico terá sempre o mesmo significado, mas na prática, o seu significado em determinadas sentenças poderá ter uma ideia de sequencialidade e em outras sentenças uma ideia de causalidade. Logo, partindo do pressuposto de que a lógica não é suficiente para se entender a linguagem natural, o que Austin propõe é que a análise linguística não deve se basear no valor de verdade ou falsidade dos enunciados e sim no que é apropriado e adequado na comunicação. Enquanto algumas sentenças como por exemplo “Trump é uma águia”, do ponto de vista semântico não pode ser considerado verdade, na comunicação normal ela é aceita, pois o interlocutor consegue entender por meio de inferências o significado do falante. Outro exemplo seria em uma situação onde uma pessoa que possui 5 filhos diz que possui 3 filhos, não seria apropriado em uma comunicação cotidiana, mas do ponto de vista lógico semântico é uma sentença verdadeira. Portanto, como o autor ressalta, é necessário fazer a distinção do que é significado do código(semântico) e significado do falante(pragmático). No tópico “Sentença e enunciado”, Tommaso ressalta a necessidade de se fazer a distinção entre esses conceitos, sendo a sentença uma unidade abstrata de natureza sintática e semântica que não depende do contexto, o enunciado é uma unidade de natureza pragmática e concreta. A comunicação é feita por meio de enunciados e esses variam de acordo com o 4 contexto. Além disso, diferentemente das sentenças, por meio dos enunciados é possível atribuir diferentes possibilidades interpretativas a uma mesma sequência linguística, como por exemplo a expressão “um leão”, que pode representar um aviso, um julgamento ou mesmo uma expressão de maravilha a depender da situação e da forma com que o falante expressa esse enunciado. Desse modo, apenas através do enunciado é possível chegar ao significado real. No tópico seguinte, Tommaso discorre sobre a diferença do Modelo do código e do Modelo inferencial, tendo o primeiro surgido no século XX, trata-se de um modelo que procura entender a atividade comunicativa como um processo de codificação, pelo qual os pensamentos são codificados por meio da fala e da escrita e quem recebe a mensagem decodifica essas expressões e tem acesso a esses pensamentos. De modo geral, a língua seria um código, pelo qual a transmissão de informações seria feita por um canal e essa transmissão pode falhar por vários motivos, como algum ruído por exemplo. No entanto, o Modelo do código não é suficiente para explicar diversos aspectos da comunicação linguística, como por exemplo na frase “Carlos e Maria se casaram e tiveram 3 filhos”, o interlocutor precisaria fazer algumas inferências sobre essa informação a fim de extrair um significado específico que é o significado do falante e cujo o código não oferece. Logo, no Modelo inferencial, Grice defende que o acesso aos pensamentos do falante não depende apenas da decodificação das expressões, mas de inferências feitas pelo interlocutor e que a comunicação pode falhar não só por problemas relacionados ao código, mas por falhas na compreensão dessas inferências.No tópico “O contexto”, Tommaso comenta sobre as dificuldades em se definir o que é o contexto e que sua reflexão está presente em várias disciplinas, como na filosofia, antropologia, psicologia, etc. É apresentado algumas noções de contexto dadas por alguns autores como Givón, que define três tipos de contexto: o genérico, que o conhecimento de mundo dado pelo léxico, o foco dêtico, que é compartilhado pela situação enunciativa e o foco no discurso, que é o compartilhamento do mesmo cotexto. No entanto, como Tommaso bem 5 coloca, existem alguns elementos que só podem ser interpretados com base no contexto, como: eu, aqui, hoje, etc. Mais adiante, o autor apresenta a noção de Common Ground, ou conhecimento compartilhado, que é algo que permite com que duas pessoas que possuam um determinado conhecimento, adquirido através de experiências no mundo, possam se comunicar sem precisar dizer informações óbvias. Alguns conhecimentos são universais, como o conhecimento do sol e da chuva por exemplo e outros conhecimentos dependem de contexto cultural, idade, língua, entre outros. Com base nessas condições é que normalmente o falante irá escolher a forma com que irá se comunicar com os seus ouvintes, criando assim uma comunicação bem-sucedida. Partindo para o último tópico do capítulo, é apresentada a noção de modelo de discurso, que é uma representação mental feita pelos participantes de um evento linguístico, por meio da qual cada participante fará uma interpretação dos enunciados, podendo essa ser diferente ou compartilhada por outros participantes. Além disso, algumas expressões precisam necessariamente do contexto para serem compreendidas, pois apenas com o cotexto, não se consegue desfazer algumas ambiguidades ocorridas em função de homonímias e polissemias por exemplo. Logo, como o autor bem coloca, a compreensão de mensagens envolve vários fatores e é a pragmática que busca entender como os falantes realizam essas ações. O capítulo de Introdução do livro de Pragmática de Tommaso Raso constitui-se como uma importante produção para os estudos introdutórios de uma matéria tão ampla como a Pragmática, pois apresenta de forma clara, vários tópicos referentes a área e a importância do seu estudo para entendermos diversos aspectos da língua e das interações comunicativas. Referência Bibliográfica RASO, T. Pragmática. São Paulo: Parábola, em preparação.
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