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NEUROFISIOLOGIA DA DOR A dor é definida como uma experiência sensorial e emocional desagradável associada a dano tecidual real ou potencial, ou descrita em termos de tal dano. Geralmente ocorre em resposta a um estímulo nociceptivo que corresponde a um estímulo nocivo ou potencialmente nocivo detectado pelos órgãos dos sentidos denominados nociceptores. O componente cognitivo da dor se refere à capacidade de compreender e avaliar a dor e seu significado, e leva em conta os valores culturais, a atenção e as experiências e lembranças passadas O componente motivacional refere-se à vontade de se livrar ou até mesmo de aumentar a dor e está associado a fatores como raça e cultura. Já o componente afetivo refere-se a emoções ou sentimentos desagradáveis associados à dor. Às vezes, as pessoas relatam dor na ausência de danos teciduais ou qualquer outra causa fisiopatológica, em geral, por razões psicológicas. Nocicepção e dor não devem ser confundidas, porque uma pode ocorrer sem a outra. Quando utilizamos analgésicos gerais para a remoção de terceiros molares inclusos, eles bloqueiam a dor, mas a nocicepção ainda pode ocorrer em resposta a procedimentos cirúrgicos, como a incisão. Já os anestésicos locais bloqueiam a atividade das fibras aferentes nociceptivas primárias, de modo que os sinais nociceptivos não chegam ao encéfalo. Portanto, os anestésicos locais bloqueiam tanto a nocicepção como a dor. Nocicepção: Processo fisiológico de codificação e processamento neural de um estímulo nociceptivo. Refere-se à atividade em uma via nociceptiva. A dor aguda é descrita como um alerta de que uma lesão ocorreu em uma parte do corpo e de que uma mudança de comportamento deve ocorrer com o intuito de manter o dano tecidual o mais controlado possível. A dor crônica é geralmente definida como uma dor que persiste por pelo menos seis meses, e seu diagnóstico, bem como seu tratamento, é extremamente difícil. FibraS aFerenTeS noCiCePTivaS PrimáriaS Os tecidos orofaciais, como os dentes, a pele facial, a articulação temporomandibular (ATM) e a musculatura adjacente são inervados principalmente por ramificações do nervo trigêmeo. Esse nervo é constituído por fibras nervosas aferentes primárias de grande calibre envolvidas na condução da informação tátil e proprioceptiva. Essas fibras têm seus corpos celulares no gânglio trigeminal e terminam como terminações nervosas livres nos tecidos periféricos. As terminações periféricas dessas fibras são ativadas por estímulos nociceptivos e são chamadas de nociceptores. As fibras aferentes primárias A-δ são mielinizadas e conduzem para o encéfalo (veja abaixo) os sinais nociceptivos associados à dor rápida, aguda e bem localizada, enquanto as fibras aferentes primárias C são amielinizadas e associadas à dor lenta, difusa e mal localizada. Sensibilização periférica: Resposta aumentada e limiar nociceptivo reduzido das terminações aferentes nociceptivas à estimulação do seu campo receptivo (área da pele, mucosa ou tecido profundo, a partir do qual os seus receptores podem ser ativados por um estímulo). A maioria dos sinais nociceptivos trigeminais é conduzida para o subnúcleo caudal que se estende para a medula espinal cervical, onde se funde com a coluna dorsal da medula. Os neurônios nociceptivos no subnúcleo caudal são de dois tipos: · neurônios convergentes, que respondem a estímulos não nociceptivos (p. ex., de toque), bem como aos estímulos nociceptivos aplicados em seu campo receptivo na região orofacial; · neurônios nociceptivos específicos, que respondem exclusivamente a estímulos nociceptivos mecânicos e térmicos aplicados em seu campo receptivo. Os subnúcleos oral e interpolar também recebem sinais nociceptivos e são importantes no processamento da dor orofacial, especialmente da dor perioral e intraoral. Após uma lesão ou inflamação dos tecidos orofaciais, os impulsos nociceptivos conduzidos pelas fibras A-δ e C a partir dos tecidos periféricos podem resultar em uma liberação excessiva de substâncias neuroquímicas (p. ex., glutamato, substância P, ATP) e induzir uma cascata de eventos intracelulares em neurônios nociceptivos centrais, provocando o aumento de sua sensibilidade aos impulsos nociceptivos. Esse processo de hiperexcitabilidade é denominado sensibilização central e é definido como uma resposta aumentada dos neurônios nociceptivos do SNC a impulsos aferentes normais ou normalmente ineficazes (sublimiares). A sensibilização central pode levar a alterações neuroplásticas funcionais nos processos nociceptivos centrais, que contribuem para a dor crônica. Também pode resultar da ativação da glia no SNC e da disfunção dos sistemas endógenos de controle da dor.
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