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Legislação Ambiental 1 1 Legislação Ambiental 1 Ms. Débora Rodrigues Legislação Ambiental 1 2 Introdução 3 Capítulo I: A Constituição Federal e Meio Ambiente 4 Capítulo II: Princípios Ambientais 11 Capítulo III: Competência Constitucional 13 Capítulo IV: A Política Nacional de Meio Ambiente 16 Capítulo V: Considerações Finais 48 Capítulo VI: Bibliografia 49 SUMÁRIO Legislação Ambiental 1 3 INTRODUÇÃO Ao longo da história da humanidade, os recursos ambientais foram explorados sem a preocupação em cuidar do Planeta Terra para as futuras gerações. A preocupação com o Meio Ambiente é muito recente e intensificou-se principalmente na segunda meta do século passado, sobretudo após a Conferência da Organização das Nações Unidas, em Estocolmo, em 1972. Com a criação do conceito de desenvolvimento sustentável, o Brasil precisou mobilizar-se para normatizar a proteção ao meio ambiente. É dentro desse contexto que se entende a criação da Política Nacional de Meio Ambiente, em 1981 e, posteriormente, a grande novidade constitucional. Pela primeira vez o Brasil criava, em 1988, uma Constituição Federal que dedica todo um capítulo sobre o Tema Meio Ambiente. O capítulo VI tem apenas um artigo, 225, que exerce o papel de principal norteador do meio ambiente, devido a seu complexo teor de direitos, mensurado pela obrigação do Estado e da Sociedade na garantia de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, já que se trata de um bem de uso comum do povo que deve ser preservado e mantido para as presentes e futuras gerações. Essa disciplina trata exatamente da discussão do direito de todo cidadão brasileiro a um meio ambiente ecologicamente equilibrado. O primeiro capítulo discute o tão importante artigo 225 da Constituição e há o desmembramento dos seus incisos para o melhor entendimento dos direitos constitucionais. Em um segundo momento, procurou-se discutir os princípios do direito ambiental. Dentro da concepção jurídica, “princípios” são normas, e, como tal, dotados de positividade, que determinam condutas obrigatórias e impedem a adoção de comportamentos com eles incompatíveis. Servem, também, para orientar a correta interpretação das normas isoladas, indicar, dentre as interpretações possíveis diante do caso concreto, qual deve ser obrigatoriamente adotada pelo aplicador da norma, em face dos valores consagrados pelo sistema jurídico. Portanto, é importante uma apresentação dos mais importantes princípios ambientais que norteiam toda a legislação associada ao tema. Também é fundamental saber como estão distribuídas as obrigações de proteção ao Meio Ambiente entre os entes federativos, entendidos aqui como União, Estado, Distrito Federal e Municípios. Através da leitura desse capítulo, você poderá saber sobre os diferentes tipos de competências para cuidar dos recursos naturais dentro do território brasileiro. No final, a disciplina buscará uma discussão muito especial sobre a Política Nacional de Meio Ambiente, uma vez que é ela que norteou toda as ações de intensificação de proteção ao meio ambiente em território brasileiro, uma vez que veio primeiro que a Constituição de 1988. Complementando os estudos nos capítulos citados, há a indicação de inúmeros vídeos com a discussão de conceitos, complementação de textos aqui apresentados, exemplos e reportagens interessantes sobre a questão ambientais. Não deixe de assistir os vídeos acompanhar os áudios. Bom estudo! Legislação Ambiental 1 4 CAPÍTULO I: A Constituição Federal e Meio Ambiente Na Disciplina de “Ciências Ambientais”, você observou que a preocupação com a inserção do homem no mesmo ambiente é uma situação bastante recente, sobretudo a partir da segunda metade do século passado. Como diz MACHADO (1982): “Não se separa o homem e seu ambiente como compartimentos estanques”. (p.6) Por isso, é bom destacar a Constituição de 1988 que ratificou esse interesse pela temática ambiental ao criar um capítulo inteiro para a discussão do Meio Ambiente, o capítulo VI. A constitucionalização da proteção do meio ambiente é tendência internacional, contemporânea do surgimento e do processo de consolidação do direito ambiental. No presente texto, portanto, estar-se-á fazendo uma análise dos fundamentos ético-jurídicos e técnicas de constitucionalização do meio ambiente, em especial na Constituição Federal de 1988. Vamos começar com o primeiro artigo do capítulo VI, uma vez que é no art. 225 que se encontra o núcleo principal da proteção do meio ambiente na Constituição de 1988. Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Repare que, logo no início, o Estado brasileiro quer deixar claro que todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. Isso significa dizer que não é qualquer meio ambiente que é bom para a população. Mas, sim aquele que é ecologicamente equilibrado, ou seja, com qualidade. É fundamental destacar que esse bem, o meio ambiente ecologicamente equilibrado, é para todos, tanto dessa geração, quanto da futura. Devemos preservá-lo. Associando ao conceito de Desenvolvimento sustentável, trabalhado na disciplina anterior. De acordo com RODRIGUES (2008), ao ser taxado de essencial à sadia qualidade de vida, o meio ambiente tornou-se indissociável de uma vida saudável, vinculando o ambiente equilibrado a uma condição imprescindível para acesso à saúde. Continuemos com a Constituição: “Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público”. I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; No primeiro inciso já há a obrigatoriedade de restaurar processos ecológicos desfeitos, a Constituição Federal é taxativa e transferiu este ônus ao Poder Público. Nesse caso, é bom também diferenciar as ações verbais: • Preservar: Significa, de maneira mais ampla, a manutenção do bem, nesse caso, ambiental; • Restaurar: é o ato de não apenas conferir-lhe estabilidade, mas recuperar, o mais possível, as características originais. De acordo com RODRIGUES (2008), há diferenças fundamentais entre “recuperar” e “restaurar” o meio ambiente. As políticas de recuperação não possuem compromisso com a condição original do Legislação Ambiental 1 5 ambiente degradado, mas principalmente com o restabelecimento do equilíbrio ambiental. Por sua vez, o termo restaurar é usado para definir as políticas de restituição de um ecossistema degradado o mais próximo possível de sua condição original. Verifique também que o inciso deixa claro que cabe ao Poder Público, o prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas, ou seja, precisam-se desenvolver práticas de conservação ambiental. II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; Ao Poder Público também ficou a incumbência de preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação desse material. É bom sempre lembrar de que o Brasil é um dos países que abrigam maior biodiversidade no Planeta. Atualmente, a Lei nº 11.105/05 fixou normais de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados e seus derivados (figura 01). Figura 01: Organismo geneticamente modificado Fonte: NAIME (2010) III - definir, em todas as unidades da Federação, espaçosterritoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; Foi imposta também ao Estado, a missão de definir em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus compostos. Essa norma foi regulamentada, posteriormente, pela Lei n 9985, publicada em 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza (Quadro 01). Veja que apenas lei formal poderá estabelecer qualquer possibilidade de alteração ou supressão dos recursos ambientais existentes nessas unidades de conservação. Quadro 01: Unidades de Conservação Federais e seus tipos Legislação Ambiental 1 6 IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; Constitucionalizou-se a exigência de estudo prévio de impacto ambiental, para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação ambiental. Os estudos ambientais tornaram-se, a partir dessa Carta Magna, parte integrante e imprescindível de licenciamento ambiental. Tanto para empreendimentos públicos como privados. É só ver o exemplo do processo de licenciamento da menina dos olhos do governo Lula, a Hidrelétrica de Belo Monte. Existem duas resoluções importantes, a serem comentadas nesse caso: a) Resolução CONAMA 001/86: Estabelece as definições, as responsabilidades, os critérios básicos e as diretrizes gerais para uso e implementação da Avaliação de Impacto Ambiental. b) Resolução CONAMA 237/97: Organiza os procedimentos e critérios utilizados no licenciamento ambiental, de forma a efetivar a utilização do sistema de licenciamento como instrumento de gestão ambiental. E lista os empreendimentos que necessitam de Estudos de Impactos Ambientais (EIA/RIMA), porque desenvolvem atividades potencialmente causadoras de significativa degradação ambiental. V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; De acordo com esta lei (N.º 9.985) existem cinco tipos de unidades de conservação: (1) Estação ecológica, as áreas assim determinadas são de domínio público, ou seja, se alguma propriedade particular estiver incluída no projeto ela é desapropriada, sendo aberta somente a visitação com objetivo educacional desde que previstas em seu Plano de Manejo e, até mesmo as pesquisas científicas devem ser autorizadas; (2) Reserva Biológica, possui as mesmas características da Estação Ecológica, porém seu uso é mais restrito, a Estação Ecológica tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas, já a Reserva Biológica tem o objetivo único de proteger integralmente a biota sem qualquer interferência humana, a não ser para medidas de recuperação; (3) Parque Nacional, também é de domínio público (que também pode ser Estadual ou Municipal), mas ao contrário das UC (Unidades de Conservação) anteriores, pode ser utilizado para recreação, pesquisa científica, turismo ecológico e demais atividades educativas desde que previstas no seu Plano de Manejo e, as pesquisas, autorizadas; (4) Monumento Natural, é uma reserva que pode ser particular desde que o uso pelos seus proprietários corresponda ao objetivo da UC que é “…preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica.”; (5) Refúgio da Vida Silvestre, tem como objetivo proteger áreas naturais necessárias para a reprodução e manutenção de espécies. Da mesma forma que o Monumento Natural, o Refúgio da Vida Silvestre pode ser particular desde que respeitados os objetivos da UC, caso contrário a área pode ser desapropriada. FONTE: IBGE, Diretoria de Geociências, Departamento de Geografia. Legislação Ambiental 1 7 Determinou-se, também, o controle da produção, da comercialização e do emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente. Este inciso recorre aos princípios de precaução e da prevenção. O primeiro diz respeito ao fato de se não se conhece ou não se controla as consequências do uso de técnicas, métodos e sinergia de substâncias podem causar à vida e ao ambiental, então é melhor não empregá-lo. No segundo caso, a situação é um pouco diferente. Se há a hipótese conhecida de risco, precisam-se desenvolver técnicas para enfrentar o limite máximo de consequências negativas. Cabe ao Poder Público, também estabelecer limites de emissões, que possam de alguma forma ameaçar o equilíbrio ambienta e pôr em risco a vida humana. VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; Como nos diz RODRIGUES (2008), a educação é a única ferramenta capaz de alterar a cultura e os costumes de um povo. O inciso VI foi regulamentado pela Política Nacional de Educação Ambiental (Lei nº 9,795/1999). VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade; O número inigualável de espécies de plantas, peixes, anfíbios, pássaros, primatas, insetos, faz com que o nosso país seja alvo da biopirataria, termo usado para caracterizar o desvio ilegal das riquezas naturais (flora e fauna) e do conhecimento das populações tradicionais sobre a utilização dos mesmos (CAVALCANTE, 2010). De acordo com a ministra do Meio Ambiente, em 2010, Izabella Teixeira: “O Brasil é o G1 da Biodiversidade” e que é fundamental regulamentar os recursos genéticos do país (AGUIAR, 2010). Também é bom destacar que o Brasil aparece ao lado da Austrália, do México, da China e da Indonésia como um dos países que reúnem o maior número de espécies ameaçadas. Se tais práticas não forem contidas, o equilíbrio ambiental estará certamente fadado à extinção. Figura 03: Papagaio de Peito Roxo. É uma das espécies mais ameaçadas de nossa fauna.Em virtude do desmatamento e do tráfico, suas populações sofreram tremendo decréscimo desde os anos 40. Fonte: FUNDAÇÃO JARDIM ZOOLÓGICO DE NITERÓI (2010) De acordo com GOMES (2010), ainda falta no Brasil, instrumentos de repressão penal, e uma lei que regulamente o setor. A difícil interpretação jurídica e as atuais exigências burocráticas para autorização de pesquisas de campo sobre biodiversidade desestimulam o desenvolvimento científico e econômico, impedindo o objetivo maior que é repartir benefícios para todas as cadeias que participaram da geração daquele conhecimento. Atualmente, o tema está regulamentado no país por uma Medida Provisória (2.186), editada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Atualmente, ainda está tramitando na instância pública o Anteprojeto da “Lei de Acesso a Recursos Genéticos, Conhecimentos Tradicionais e Repartição de Benefícios”. Também destacamos, nesse trabalho, parágrafos específicos desse artigo: Legislação Ambiental 1 8 § 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei; Deixa claro o legislador que o ambiente degradado por exploração mineral deve ser recuperado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente. Todos ainda lembram dos grandiosos impactos ambientais causados pela exploração mineral da Província Mineral de Carajás, na Região Norte do país e que apresenta até, hoje, fortes passivosambientais (figura 04). Figura 04: Degradação Ambiental da mineração em Carajás Fonte: SURVIVAL (2010). O Regulamento do Código de Mineração, previsto pelo Código de Mineração como legislação específica e complementar deste, foi aprovado pelo Decreto nº 62934, de 02/04/1968, que dispõe sobre os direitos relativos às massas individualizadas de substâncias minerais ou fósseis, encontradas na superfície ou no interior da terra, formando os recursos minerais do país; o regime de sua exploração e aproveitamento; a fiscalização, pelo Governo Federal, da pesquisa, da lavra e de outros aspectos da indústria mineral. Atualmente, o Ministério de Minas e Energia elaborou uma nova proposta para a regulamentação da atividade de mineração no Brasil, com o objetivo fortalecer o processo regulatório, através da criação da Agência Nacional de Mineração (ANM), atrair investimentos para o setor e acabar com a informalidade na área. § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados; De acordo com RODRIGUES (2008), esse dispositivo é iluminado pelo princípio da ubiquidade, por meio do qual o agente de uma conduta nociva ao meio ambiente é responsabilizado nas três esferas de poder: Administrativa, Penal e Civil. Traduz-se que uma única atitude contrária ao equilíbrio ambiental gera a tríplice responsabilização do agende, com punições administrativas, penais e civis. A diferença entre as responsabilidades: • Administrativa: Aplica-se às pessoas jurídicas e corresponde ao dever de observar procedimentos garantidores de lisura, transparência e equidade, para manter vínculo com a Administração Pública. • Civil: Responsabilidade de reparar danos causados a terceiros. • Penal: É definida na lei de crimes ambientais e pode colocar na cadeia, os responsáveis por um dano ambiental. Estudaremos melhor esse assunto, quando for trabalhada a disciplina de “Legislação Ambiental”. § 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais; Legislação Ambiental 1 9 Nesse caso, quis o legislador que houvesse o reconhecimento da importância dos biomas brasileiros, por isso, são considerados patrimônio nacional. Verifique que, embora deve-se assegurar a sua preservação, eles não são intangíveis e podem ser utilizados, de maneira sustentável. A Lei autoriza, mas limita a sua exploração. Destaca-se, no entanto, que o bioma cerrado não está presente nessa legislação. Quando foi elaborada a Carta Magna, o Brasil estava passando por amplo processo de implantação do agronegócio na Região Centro-Oeste brasileira e havia o interesse de não resguardar esse importante bioma. Figura 05: Biomas do Brasil Fonte: IBGE (2000) § 5º - São indisponíveis as terras devolutas ou arrecadadas pelos Estados, por ações discriminatórias, necessárias à proteção dos ecossistemas naturais; Durante o Brasil-Colônia, as terras eram divididas pelas Capitanias Hereditárias (sabia-se de quem eram as terras). Quando o Brasil se tornou República, a Lei das Terras, de 1850, limitou o acesso a elas. Somente poderiam adquirir terras por compra e venda ou por doação do Estado. Portanto, a maior parte daquelas terras das capitanias hereditárias ficou sem dono. Capitanias hereditárias (1574) com a divisão da América portuguesa em capitanias Fonte: Lisboa, Biblioteca da Ajuda Terras devolutas são terras que não pertencem ao domínio público, nem ao particular. Seriam, portanto, terras de ninguém. De acordo com o legislador, essas terras já estão e devem conglobar os recursos ambientais existentes, portanto determina-se a sua indisponibilidade para outras ações como, por exemplo, para a reforma agrária (Figura 06). Legislação Ambiental 1 10 Figura 06: Terras Devolutas no Brasil - 2003 Fonte: http://www.mstfelisburgo.eu/tabelle/mapa1.gif - OLIVEIRA (2010). § 6º - As usinas que operem com reator nuclear deverão ter sua localização definida em lei federal, sem o que não poderão ser instaladas; O país já detém a sétima maior reserva de urânio do mundo, de acordo com dados da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN), e está entre os sete países do mundo que têm conhecimento e meios para gerar energia elétrica de fonte nuclear. Tabela 01: As 10 maiores Reservas conhecidas recuperáveis - 2007 No interesse nacional, reservou-se ao Congresso Nacional, por lei federal, definir a localização de usinas que operem com reator nuclear. Até agora, apenas as usinas de angra, cujas localizações já estavam definidas anteriormente à Constituição, estão em funcionamento, no Rio de Janeiro (Figura 07). Figura 07: Reservas nacionais de urânio, unidades de extração, beneficiamento e produção de elementos combustíveis e usina termonuclear de Angra dos Reis Fonte: ELETROBRAS (2010) Após a construção da terceira usina em Angra, no Rio de Janeiro, governo pretende investir na tecnologia nuclear no Nordeste e no Sudeste. Em 2009, houve o lançamento do “Programa Nuclear Brasileiro: Autonomia e Sustentabilidade do País” e divulgou-se que o país precisa dobrar sua capacidade de geração energética até 2030. Para atingir essas metas, o Plano Nacional de Energia – PNE 2030 – estabelece cenários de implantação entre 4.000 e 8.000 MW de usinas termonucleares até o ano de 2030 (ROTHMAN, 2010). Legislação Ambiental 1 11 CAPÍTULO II: Princípios Ambientais O direito ambiental fundamenta-se em diversos princípios tais como: acesso equitativo aos recursos naturais, prevenção, reparação, qualidade, participação popular e publicidade. De acordo com NUNES (2006), o Direito Ambiental é o conjunto de normas que controlam de forma coercitiva as atividades relacionadas ao meio ambiente, visando a preservação ambiental, tanto para a geração atual, como para as futuras gerações, buscando equalizar, conscientizar e fiscalizar as atividades da sociedade como um todo, trazendo consigo a punibilidade para aqueles que venham a desrespeitar tais normas. Essa subdivisão do direito surgiu como resposta às agressões em nível mundial do meio ambiente e tem como sua base de estudos, ramos de diferentes ciências como Biologia, Geografia, Ciências Sociais, Antropologia e o próprio Direito. Desta forma, surgiu o Direito Ambiental, recurso competente para tutelar o meio ambiente, em todas suas espécies, da agressão humana, tentando fazer nossos descendentes disporem de condições análogas às que nos são oferecidas, buscando um desenvolvimento sustentável. Como disciplina autônoma que é, o Direito Ambiental rege-se por princípios próprios, eficazes no combate à interferência lesiva humana na natureza, constituindo eles a base das demais normas reguladoras deste ramos jurídico, sendo estas seus sucedâneos (CAVALCANTE, 2003). Como em qualquer ramo do direito, há um conjunto de princípios que regem o direito ambiental, sendo estes a base fundamental, ou estrutura central na qual as normas são construídas. NUNES (2006) deixa claro, entretanto que os princípios do direito ambiental, sempre caminharão em conformidade com os princípios de outros ramos do direito, e nem poderia estar apartado, pois, uma vez fazendo parte do nosso ordenamento jurídico, deve fortalecer nossa estrutura normativa, firmando assim a unicidade e coerência do mesmo. Nesse sentido, elencam-se alguns dos mais importantes princípios do direito ambiental: Figura 08:Princípios do direito ambiental Fonte: A autora Legislação Ambiental 1 12 Fonte: NUNES (2006) Legislação Ambiental 1 13 CAPÍTULO III: Competência Constitucional Competência é uma palavra do senso comum, utilizada para designar uma pessoa qualificada para realizar alguma coisa. Mas, dentro do âmbito constitucional, o conceito tem algumas variações importantes. A competência é uma parcela de responsabilidade que um órgão jurisdicional possui para resolver os conflitos. Neste mesmo liame preleciona MARINONI & ARENHART (2007) define bem: “A competência, portanto, nada mais é do que uma parcela de jurisdição que deve ser efetivamente exercida por um órgão ou grupo de órgãos do Poder Judiciário” (p.37). Nesse sentido, a tradução é simples. Na Constituição, competência não é quem sabe fazer, e sim quem pode fazer. É a Carta Magna que distribui a Competência, entre os entes federativos. A competência se divide em legislativa e administrativa. A competência legislativa se expressa no poder de estabelecer a entidade normas gerais, leis em sentido estrito. Por sua vez, a competência administrativa, ou material, cuida da atuação concreta do ente, que tem o poder de editar normas individuais, ou seja, atos administrativos. É quem pode executar a lei (SANTOS, 1999). Sendo a Federação o sistema de organização de Estado adotado pelo Brasil, surge-se o problema da repartição, da distribuição de competências entre o governo central (União), Estados-Membros, o Distrito Federal e os Municípios. Os chamados entes federativos (figura 09). Figura 09: Entes federativos Fonte: a autora Para começar a comentar sobre as competências entre os entes federativos, veja o que estabelece o art. 22 da Constituição: Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: [...] IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; [...] Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas das matérias relacionadas neste artigo. Observe que a Constituição deixa claro que cabe privativamente à União legislar sobre inúmeros itens e, dentre eles, sobre a água, um dos bens ambientais e que está bastante ameaçado pelas atividades antrópicas (figura 10). Figura 10: água – recurso fundamental à vida Isso significa dizer que quaisquer leis estaduais ou municipais sobre o assunto são inválidas ou, melhor, inconstitucionais. Mas, há uma ressalva no Legislação Ambiental 1 14 único parágrafo desse artigo. Uma Lei complementar da União pode transmitir a competência de legislar sobre águas para um Estado, mas tem que ser de maneira muito específica. Município algum e nem o Distrito Federal tem essa competência. Quando o assunto é competência, vale a pena também citar o artigo 23 da Constituição: Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: [...] III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; [...] XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios; [...] Inicialmente, pode ficar a confusão sobre a competência, se é material ou legislativa. Mas, observe que se trata de ações e execução é associada à competência material. Nesse caso, dos os entes da federação têm a obrigação de atender aos incisos do artigo 23 da Carta Magna. Outro artigo importante, no que se referência à competência da área ambiental é o 24. Vejamos: Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: [...] VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; [...] § 1º - No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. § 2º - A competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. § 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. § 4º - A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.; [...] De acordo com PASSOS (2010), a competência concorrente é utilizada para o estabelecimento de PADRÕES, de NORMAS GERAIS ou específicas sobre determinado tema. Prevê a possibilidade de disposição sobre o mesmo assunto ou matéria por mais de uma entidade federativa (União, Estados e Municípios), porém, com primazia da união. Legislação Ambiental 1 15 Observe que, nesse caso, compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar sobre os descritos nos incisos. Mas, o artigo primeiro deixa bem claro que, a competência da União estabelece-se, ou é superveniente, sobre os demais entes federativos. E mais! É necessário que os Estados e precisam exercer a sua competência suplementar sobre esses itens. Mas, caso a União não tenha se pronunciado sobre o assunto legislativamente, o Estado terá competência plena. Os municípios, embora com menos competências ambientais, tem o seu valor. Resta-nos, portanto, comentar sobre o artigo 30. Art. 30. Compete aos Municípios: I - legislar sobre assuntos de interesse local; II - suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; [...] É complexa a posição do Município dentro da nossa Federação. SANTOS (1999) informa que com a Constituição Federal de 1988 o Município atingiu um grau de importância impensável nos sistemas constitucionais anteriores. Não há dúvida de que ao Município foi atribuída uma ampla competência legislativa. Mas, quando o assunto é meio ambiente, esse ente federativo tem muitas restrições. De acordo com o artigo 30, a Carta Magna ofereceu aos municípios a possibilidade de enriquecer, suplementar a legislação federal e estadual, desde que reste comprovado o interesse predominantemente local. Mas, que fique claro que o assunto de interesse local não é aquele que interessa exclusivamente ao Município, mas aquele que predominantemente afeta à população do lugar. Legislação Ambiental 1 16 CAPÍTULO IV: A Política Nacional de Meio Ambiente Você aprendeu como foi a história da preocupação com o Meio Ambiente, no cenário internacional e nacional. Nos anos de 1980, a Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland apresentou ao mundo o relatório NOSSO FUTURO COMUM, originário da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, formada pela ONU em 1983 (Figura 11). Figura 11: Gro Harlem Brundtland http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/e/ef/Gro_ Harlem_Brundtland_2009.jpg Nesse documento, fixava-se o entendimento de que a definição de desenvolvimento sustentável “prevê a satisfação das necessidades presentes, sem prejuízo da capacidade de futuras gerações exercerem os mesmos direitos” – figura 12. Figura 12: a idéia do desenvolvimento sustentável É a partir desse momento, que a Organização das Nações Unidas, através de seus Organismos Financiadores, passa a incorporare solicitar novos mecanismos de aferição para o financiamento de projetos, entre eles, a avaliação dos impactos ambientais. Em razão dessas exigências internacionais, alguns projetos desenvolvidos em fins da década de 70 e início dos anos 80 e financiados pelo BIRD e pelo BID foram submetidos a estudos ambientais, dentre eles, as usinas hidrelétricas de Sobradinho-BA, Tucuruí-PA e o terminal porto-ferroviário Ponta da Madeira, no Maranhão, ponto de exportação do minério extraído pela Companhia Vale do Rio Doce, na Serra do Carajás. No entanto, os estudos foram realizados segundo as normas das agências internacionais, já que o Brasil ainda não dispunha de normas ambientais próprias (IBAMA, 1995) – figura 13. Figura 13: Vista aérea da UHE Tucuruí com os vertedouros abertos http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/dc/ Vistausituc.jpg É dentro desse contexto que surgiu a Política Nacional de Meio Ambiente. A partir da consciência de que Brasil não poderia submeter-se indefinidamente a normas estritamente internacionais, na avaliação dos impactos ambientais gerados no país, face às peculiaridades e atributos incomparáveis da nossa biodiversidade, que passamos a buscar a nossa própria lei de política ambiental. Lembre-se de que a Legislação Ambiental 1 17 lei foi publicada em 1981, quando o país ainda estava sob as ordens da ditadura militar. O fato é que em 31 de agosto de 1.981 foi editada a Lei no. 6.938, criando a Política Nacional do Meio Ambiente, estabelecendo conceitos, princípios, objetivos, instrumentos, penalidade, seus fins, mecanismos de formulação e aplicação, e instituindo o SISNAMA - Sistema Nacional de Meio Ambiente e o CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente (artigo 1º). É fundamental destacar que a lei é anterior à Constituição promulgada em 1988, por isso, teve alguns textos suspensos pela Carta Magna e também pela regulamentação do setor, posteriormente. Art. 2º - A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: É importante dar destaque ao fato de que o artigo 2º da lei 6.938/81, antes mesmo da Constituição Brasileira já oferecia o reconhecimento da necessidade de preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida. Posteriormente, o legisla evidencia quais os princípios que devem ser seguidos para se atingir a esse objetivo. I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; Nesse inciso, a lei deixa claro que o meio ambiente é um patrimônio público, bem de todos e, por isso, deve as ações governais encontrar meios de manter o equilíbrio ecológico. Está se atendendo ao princípio ambiental da natureza pública da proteção ambiental. Para RODRIGUES (2008), todo e qualquer plano de investimentos, público ou privado, deve necessariamente incluir em seus objetivos o respeito e a preservação máxima ao equilíbrio ambiental diretamente envolvido. II - racionalização do uso do solo, do subsolo, da água e do ar; Observe que a Carta Magna deixa clara a possibilidade de uso dos recursos solo, subsolo, água e ar (biosfera), desde que de maneira sustentável. Embora sejam bens que devam ser mantidos com equilíbrio ecológico, pode-se utilizá-los de maneira racional (Quadro 03). Quadro 03: Biosfera Figura 14: Representação da biosfera A biosfera é o espaço da vida que envolve o planeta Terra. Seu limite superior é a camada de ozônio, situada a 14 km de altura no equador e aproximadamente a 7 km dos pólos; camada essa que protege os seres vivos da radiação ultravioleta do sol. Seu limite inferior varia desde os primeiros centímetros de profundidade do solo, junto à sua superfície, até o fundo do oceano (aproximadamente 10 km). Legislação Ambiental 1 18 A Biosfera como espaço de vida do planeta é muito pequeno, e pode ser considerado como uma lâmina bastante estreita que envolve a Terra, como se tratasse de uma folha de papel se compararmos sua espessura com o volume total do planeta. III - planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais; Para se alcançar o desenvolvimento sustentável, é fundamental, o planejamento e a fiscalização do uso dos recursos ambientais. Planejamento é um processo contínuo e dinâmico que consiste em um conjunto de ações intencionais, integradas, coordenadas e orientadas para tornar realidade um objetivo futuro, de forma a possibilitar a tomada de decisões antecipadamente. Observe que esse inciso está diretamente associado ao artigo 23 da Carta Magna que faz referência à proteção do meio ambiente e combate à poluição em qualquer de suas formas e também a preservação das florestas, a fauna e a flora. Para esse inciso seja aplicado, é fundamental o poder de polícia ambiental, na Administração Pública das diferentes esferas de poder, para exercerem a legítima fiscalização dos atributos ambientais (Quadro 04). Quadro 04: As polícias ambientais do Brasil As Polícias Militares Ambientais atuam na preservação e conservação ecológica através de ações de fiscalização e controle nas áreas de mineração, poluição, queimadas, caça e pesca ilegais. Operam também programas na área de educação ambiental. A maior parte das riquezas naturais brasileiras está em áreas privadas, portanto, os esforços de fiscalização são mais focados nesses locais onde, geralmente, existem poucas unidades de conservação. Procurando o melhor resultado possível em suas ações, as Polícias Militares Ambientais trabalham de forma integrada com o IBAMA, Secretarias Estaduais de Meio Ambiente, Universidades, ONGs e outras instituições. Através dessas parcerias é que se torna possível obter uma ação eficaz de fiscalização e preservação. Dos 27 estados brasileiros, 26 dos possuem unidades da Polícia Militar Ambiental, somando um efetivo de quase 10.000 homens, que garantem a segurança da biodiversidade da nação. Nos últimos dez anos, a ação eficiente das Polícias Militares no diversos ecossistemas do país contribuiu para a conservação mostrando os seguintes resultados: • Redução do contrabando e comércio ilegal de animais silvestres; • Maior controle de desmatamento da Mata Atlântica; • Controle total da caça ilegal de jacaré no Pantanal; • Elaboração e implantação de programas para capacitação interna; • Implantação e execução de diversos programas de educação ambiental; • Controle das ações ilegais de extração mineral; • Apoio a diversos programas de pesquisas científicas. Fonte: POLÍCIA AMBIENTAL DO BRASIL (2010). IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativa; Legislação Ambiental 1 19 Aqui, há uma reafirmação do legislador na proteção dos ecossistemas nacionais. Embora registra-se que a Carta Magna poderia substituir o termo “ecossistema” por “bioma”, uma vez que há diferenças importantes entre os termos. Ecossistema é o sistema integrado e auto- funcionante que consiste em interações dos elementos bióticos e abióticos e cujas dimensões podem variar consideravelmente. Por sua vez, Bioma é o conjunto de vida (vegetal e animal) definida pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, resultando em uma diversidade biológica própria. Portanto, o termo bioma estaria melhor aplicado nesse inciso. Vale destacartambém a necessidade de se criar unidades de conservação que pudessem oferecer preservação de cada um dos ecossistemas presentes em território nacional. As Unidades de Conservação podem ser classificadas dois tipos: As unidades de conservação de proteção integral, ou de uso indireto, são aquelas onde haverá a conservação dos atributos naturais, efetuando-se a preservação dos ecossistemas em estado natural com um mínimo de alterações, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais. As unidades de conservação de uso sustentável, ou de uso direto, são aquelas onde haverá conservação dos atributos naturais, admitida a exploração de parte dos recursos disponíveis em regime de manejo sustentável (BRASIL, 2000). V - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras; Nesse inciso há uma clara menção ao princípio ambiental do limite, onde o Poder Público é o responsável por estabelecer limites nas atividades produtivas potencial ou efetivamente poluidora, como é o caso de refinarias, por exemplo. O zoneamento constitui uma medida oriunda do poder de polícia, tendo por fundamento a repartição do solo municipal em zonas e a designação de seu uso. O dispositivo normativo do zoneamento é um avanço considerável na legislação ambiental do período da ditadura militar. O estabelecimento de zonas, com fronteiras definidas pos estudos ambientais, para o desenvolvimento das atividades que podem recorrer da ação de poluir, mas sempre com limites. Como nos orienta RODRIGUES (2008), as políticas de zoneamento que recaiam sobre algum ente federativo, por exemplo, pode identificar a vocação e4conômico-ambienta para cada zona, implementar e sugerir políticas de desenvolvimento sustentável individualizado. VI - incentivos ao estudo e à pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional e a proteção dos recursos ambientais; Se a preservação, conservação, recuperação e restauração ambientais são ações importantes que geram benefícios para toda a sociedade, então é importante desenvolver ferramentas para o incentivo dessas práticas. A interpretação do inciso IV é simples: As tecnologias menos poluidoras podem ser desenvolvidas, mas é preciso amplo e aprofundado trabalho de estudo e pesquisas. É importante deixar claro que mesmo os estudos que parecem não ter resultados em curto prazo, precisam ser incentivados. VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental; Nesse caso, o legislador quis valorizar a necessidade do acompanhamento da qualidade ambiental. Legislação Ambiental 1 20 Esse tipo de procedimento é comum, quando se realiza um estudo da qualidade da água, por exemplo. Há coleta de água de um determinado corpo hídrico, mensalmente, para verificar a presença de coliformes fecais. Verificaremos mais na frente, em nosso estudo, que esse inciso está sendo aplicado, em um instrumento denominado de monitoramento ambiental. VIII - recuperação de áreas degradadas; Esse item está apenas reforçando o inciso I, do § 1º do artigo 225 da Carta Magna, já citado. É fundamental não somente a preservação dos recursos ambientais existentes, mas recuperar aqueles que já se encontram degradados. IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação; Você aprendeu que um dos princípios do direito ambiental é a prevenção. Observe que quis o legislador que ocorresse a preocupação de dar atenção às áreas que já estão ameaçadas de degradação. Acompanhe essa reportagem! Floresta fóssil no Piauí está ameaçada a degradação 17 de março de 2009 A Floresta Fóssil, que fica a pouco mais de 1 km do centro de Batalha (a 154 km de Teresina) próximo ao riacho da Bela Vista, representa uma paisagem rara no estado do Piauí. O lugar revela uma floresta petrificada, mas que está ameaçada de desaparecer por falta de preservação. O lugar abriga até mesmo marcas históricas, como arte rupestre, no entanto esse registro histórico pode sumir. Sem nenhum tipo de trabalho que conserve o lugar tudo está abandonado. Um morador da região lamentando a situação diz que até hoje nenhum vereador de Batalha teve a preocupação de apresentar um projeto requerendo a transformação do local em um parque, ou nem mesmo a solicitação de um estudo da Floresta Fóssil. A população de Batalha quer mais atenção dos políticos competentes ao problema de abandono de um lugar que poderia ser referência no município como atração turística, assim como acontece com outros municípios do Piauí, a exemplo o Morro do Gritador na cidade de Pedro II, A Serra da Capivara no município de São Raimundo Nonato, Cachoeira do Urubu em Esperantina, entre tantos outros lugares do Piauí que são reservas naturais. Fonte: http://www.portalaz.com.br/noticia/municipios/132093 De acordo com OLIBEIRA (2010), o Parque da Floresta Fóssil é conhecido internacionalmente por sua riqueza de troncos fossilizados. Lá será desenvolvida a revitalização estrutural para proporcionar condições adequadas para visitação e estudos. Considerado o único parque de floresta fóssil da América Latina e o maior das Américas, os fósseis ali encontrados datam de mais de 250 milhões de anos. A principal característica do Parque é que os troncos se apresentam em posição de vida, ou seja, na vertical. É fundamental a sua proteção da natureza, por isso, após a manifestação dos moradores, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Batalha vai revitalizar o Parque Ambiental da Floresta Fóssil para fazer sua proteção. Lembre-se de que é muito mais fácil prevenir do que remediar! X - educação ambiental a todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente; Como já informado na discussão sobre o inciso VI do § 1º do artigo 225 da Constituição Federal, a Legislação Ambiental 1 21 educação é a única ferramenta capaz de alterar a cultura e os costumes de um povo. No que se refere à educação, o Ministério de Educação vem fazendo a sua parte, embora ainda se tenha muito que fazer. Na tentativa de atender à demanda por material audiovisuais nas escolas, foi desenvolvido o projeto “Circuito Tela Verde” – Quadro 05. Quadro 05: Circuito Tela Verde O Circuito tem como objetivo promover a sensibilização e reflexão dos públicos sobre o meio em que vivem; levar filmes sobre a temática a setores excluídos dos circuitos dos festivais de vídeos ambientais, produções premiadas e/ ou de reconhecida importância para conscientização socioambiental; e estimular a produção de materiais pelas próprias comunidades, sendo eles jovens, crianças e adultos, que conseguem olhar seu meio e traduzir, em processo educomunicativo, em linguagem de áudio e vídeo. Dessa forma, busca-se conscientizar as pessoas da importância de suas ações nos processos de gestão ambiental. A comunidade não só pode, como deve participar dos processos de gestão ambiental local. Fonte: IBAMA (1995) Agora que terminamos de trabalhar com o artigo segundo, está na hora de avançar para o terceiro artigo que conceitua os termos trabalhados por ela, para deixar claro o seu conteúdo. Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende- se por: Verifique que o artigo busca atribuir uma definição de caráter eminentemente jurídico. I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas; As diferentes ciências que discutem a degradação e preservação dos recursos naturais, como Geografia, Física e Biologia, por exemplo, têm conceitos diferentes sobre o termo “Meio Ambiente”. Na Política Nacional de Meio Ambiente, o termo “Meio Ambiente” estará atreladosempre à existência da vida, ou seja “que abria e rege a vida em todas as suas formas”. II - Degradação da qualidade ambiental, a alteração adversa das características do meio ambiente; É oportuno também destacar RODRIGUES (2008) que comenta que legislador buscou uma forma racional de se conceituar a degradação ambiental, vinculando-a à adversidade, ao prejuízo e à quebra do equilíbrio. É um termo de conotação claramente negativa e está geralmente associada à idéia de perda de qualidade. O causador é sempre o ser humano. III - poluição, a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: Observe que o legislador deixa claro que a poluição é um tipo de degradação ambiental. Você pode desmatar uma região e não estará lançando nenhum tipo de poluição, mas com certeza estará degradando o meio ambiente. Vamos acompanhar agora, quais são os tipos de elementos que podem causar a poluição, através das alíneas que vão de “a” a “e”. a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem- estar da população; Legislação Ambiental 1 22 b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos; Atente para o fato da Lei 6.938/81 entrelaçou os temas, com o objetivo de dar autonomia aos conceitos e permitir que eles possam conviver de forma indissociada, para melhor facilitar sua aplicação, notadamente nos enquadramentos das sanções administrativas e penais. Enquanto que as primeiras alíneas estão voltadas para o bem estar de seres humanos e, posteriormente à biota (plantas e animais), as últimas estão associadas ao efeito negativo dos poluentes sobre os recursos naturais vivos. A última alínea também deixa bem clara a questão dos limites estabelecidos pelos órgãos ambientais. Posteriormente, estará sendo trabalhada a questão do lançamento de resíduos na natureza. Você pode emitir alguma sonoridade, ao oferecer uma festa em seu ambiente de trabalho. Mas, é bom ficar atento aos limites impostos para a emissão do barulho, que poderá ser considerado poluição sonora (Quadro 06). Quadro 06: Poluição sonora A OMS (Organização Mundial de Saúde) considera que um som deve ficar em até 50 db (decibéis – unidade de medida do som) para não causar prejuízos ao ser humano. A partir de 50 db, os efeitos negativos começam. A Lei Ambiental (Nº 9.605/98) é federal e em seu artigo 54 determina uma pena de reclusão de um a quatro anos e multa a quem “Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana...” Fonte: LACERDA (2009) É aquele que lançar “matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos” poderá ser considerado poluidor, pela lei, mesmo que o ser humano e a biota não tenham sofrido impactos. IV - poluidor, a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental; Não é considerado poluidor apenas um cidadão comum, uma empresa ou um conglomerado de indústrias pode ser considerado um poluidor. E a lei ainda deixa claro que o Estado, e seus diferentes entes federativos, podem ser considerados um poluidor. Percebe-se que é perfeitamente cabível a responsabilidade civil do Estado, na qualidade de poluidor indireto, quando sua omissão ou atuação ineficaz possuir nexo causal com o dano ambiental, seja por facilitar a ação do poluidor direto, seja por não cessar a atividade degradadora do poluidor. Ou se o poder público permanece inerte ou atua de forma precária em face ao dano ambiental, atual ou iminente, deve ser responsabilizado solidariamente com aquele que por ação causou o prejuízo (MORAES, 2010). V - recursos ambientais: a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora; É bom que fique muito bem entendido que os recursos ambientais podem ser considerados divididos em duas categorias: vivos e não vivos. No primeiro, Legislação Ambiental 1 23 trabalha-se com a idéia de fauna e flora. Por sua vez, atmosfera, solo e subsolos são considerados não vivos, mas também recursos naturais. Vamos continuar avançando, para trabalhar com o quarto artigo da lei. Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: Como já foi comentado no artigo 2º dessa lei, o objetivo da Lei 6.938/81 é “a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana”. Mas, quis o legislador deixar claros os objetivos e amplificar, como nos diz RODRIGUES (2008), ao máximo as formas de preservar, recuperar e melhorar o meio ambiente. Seu objetivo é o estabelecimento de padrões que tornem possível o desenvolvimento sustentável, através de mecanismos e instrumentos capazes de conferir ao meio ambiente uma maior proteção. I - à compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico; Observe que mais, uma vez, o legislador deixa clara a sua intenção de aplicação do conceito de Desenvolvimento Sustentável. Em seu trabalho, ARAÚJO (1997) destaca que atento a tal dispositivo em 1995, o IBAMA iniciou estudos visando a criação do Protocolo Verde, que foi oficialmente instituído por Decreto em 29 de maio de 1996. O objetivo era incorporar a variável ambiental no processo de gestão e concessão de crédito oficial e benefícios fiscais às atividades produtivas, atuando nas seguintes linhas: • dar subsídios à atuação institucional para o cumprimento das prescrições constitucionais relativas ao princípio de que a defesa e preservação do meio ambiente cabem ao poder público e à sociedade civil. • assessorar as ações governamentais para a priorização de programas e projetos que apresentem maiores garantias de sustentabilidade sócio-econômico-ambiental e que não contenham componentes que venham a causar danos ambientais, no futuro. • promover a captação de recursos internos e externos que viabilizem a criação de linhas de crédito, no sistema financeiro, orientadas especificamente para o desenvolvimento de projetos com alto teor ambiental a ser atendido. • atender a condicionamentos de doadores para obter isenção de imposto de renda. • financiar atividades pioneiras no desenvolvimento de estudos, pesquisas e instrumentos ligados ao desenvolvimento sustentável. II - à definição de áreas prioritárias de ação governamental relativa à qualidade e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios; O Brasil tem dimensões continentais e, com certeza, há áreas que merecem mais atenção no que se refere à manutenção da qualidade e do equilíbrio ecológico. Os recursos naturais são variados em quantidade e qualidade e concentram-se em distintas partes do país. Por isso, quis o legislador deixar claro que os entes da federação podem criar áreas prioritárias para receber investimentos no sentido de guardam o meio ambiente nacional. Você deve ter observado que, na época de publicação dessa lei, havia mais um ente federativo: Legislação Ambiental 1 24 o território. No Brasil, Fernando de Noronha existiu na condição de Território, mas com a Constituição Federal de 1988 passou a integrar o estado de Pernambuco. Outros casos de territórios que foram transformadosem estados são Amapá, Rondônia e Roraima. III - ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de normas relativas ao uso e manejo de recursos ambientais; Novamente, o princípio do limite está sendo lembrado pelo legislador. Será fundamental que os entes federativos unam-se com o objetivo de se estabelecer padrões e critérios para o manejo de recursos ambientais. O Parque Municipal de Nova Iguaçu, localizado no maciço do Gericinó-Mendanha e abrange os municípios de Nova Iguaçu e Mesquita, no Estado do Rio de Janeiro. O parque é uma unidade de conservação integral criada em 1998. Mas, no início do presente século, houve a transformação do local em geoparque, uma área protegida, com limites definidos e que contém pontos de interesse geológico e importância científica. Os geoparques também são providos de áreas em que há valores arqueológicos, ecológicos, históricos e/ou culturais a serem preservados. Figura 15: Parque Municipal de Nova Iguaçu Fonte: BARBOSA et al. (2009) Com o desmembramento de Nova Iguaçu a criação do município de Mesquita, em 15, houve a necessidade de estabelecimento conjunto de critérios para a preservação da Unidade de Conservação, que vem sofrendo com a pressão imobiliária em suas encostas. IV - ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais orientadas para o uso racional de recursos ambientais; Esse inciso é de primordial importância, uma vez que baseia os investimentos em pesquisa para o desenvolvimento de tecnologias limpas, como é o caso do biodiesel. O Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB) é um programa interministerial do Governo Federal que objetiva a implementação de forma sustentável, tanto técnica, como economicamente, a produção e uso do Biodiesel, com enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional, via geração de emprego e renda. No Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB), o Governo Federal organizou a cadeia produtiva, definiu as linhas de financiamento, estruturou a base tecnológica e editou o marco regulatório do novo combustível (Gráfico 01). Fonte: CAVALCANTI (2006) O biodiesel pode ser feito com qualquer óleo vegetal ou animal. Mas uma das vantagens do óleo da mamona é o seu custo baixo. A Embrapa Legislação Ambiental 1 25 - Pesquisadores da Embrapa Algodão (Campina Grande - PB) estão envolvidos em um projeto para a produção de biodiesel a partir do óleo da mamona. Em abril de 2010, o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq/ MCT), abriu chamada pública para selecionar projetos de pesquisas científicas, tecnológicas e de inovação para o desenvolvimento da cadeia produtiva do Biodiesel. As propostas serão financiadas no valor global estimado de R$ 15 milhões, provenientes do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT/Fundos Setoriais). V - à difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à divulgação de dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio ecológico; O legislador entendeu que não adianta apenas produzir tecnologias que auxiliariam na proteção ambiental, mas também há a necessidade de divulgação desse material, no sentido de contribuir para a conscientização pública da importância do Meio Ambiente. Neste sentido, foi criado, no âmbito do IBAMA, o Centro de Estudos de Desenvolvimento Sustentável, através da Portaria 93 (14/11/1995), que visa à organização de um fórum que permita ao Instituto colocar à disposição dos Órgãos do Governo e da Sociedade, instrumentos adequados à consecução do desenvolvimento sustentado efetivo e eficaz (ARAÚJO, 1997). Na verdade, é colocar em vigor o princípio da publicidade da Administração Pública. A obrigação de dar publicidade, levar ao conhecimento de todos os atos, contratos ou instrumentos jurídicos do Estado e seus entendes federativos. Isso dá transparência e confere a possibilidade de qualquer pessoa questionar e controlar toda a atividade administrativa deve representar o interesse público, por isso não se justifica, de regra, o sigilo. VII - à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de recursos ambientais com fins econômicos. Você acompanhou o vídeo dos princípios ambientais e já conhece os princípios do Poluidor- pagador e usuário-pagador. O primeiro aplica o conceito de se imputar a responsabilidade do poluidor em arcar com os custos resultantes da poluição por parte de quem polui. O segundo estabelece que quem utiliza o recurso ambiental deve suportar seus custos, sem que essa cobrança resulte na imposição taxas abusivas. Então, não há que se falar em Poder Público ou a coletividade suportando esses custos, mas somente naqueles que dele se beneficiaram (figura 16). Fonte: A autora Vamos dar prosseguimento ao texto, comentando sobre o quinto parágrafo. Art. 5º - As diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente serão formuladas em normas e planos, destinados a orientar a ação dos Governos da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios no que se relaciona com a preservação da qualidade ambiental e manutenção do equilíbrio ecológico, observados os princípios estabelecidos no art. 2º desta Lei. Parágrafo único - As atividades empresariais públicas ou privadas serão exercidas em consonância com as diretrizes da Política Nacional do Meio Ambiente. Legislação Ambiental 1 26 Aqui, há apenas uma reafirmação de que para alcançar a manutenção do equilíbrio ecológico, descritos do artigo 2º, será necessária a formulação de normais e planos destinados para orientação a ação dos entes da federação. Essas diretrizes não nortearão apenas os órgãos públicos mais também as atividades produtivas do setor privado. Daremos prosseguimento ao artigo 6º: Art. 6º - Os órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, bem como as fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituirão o Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA, assim estruturado: Houve a intenção do legislador de desenvolver ferramentas para aplicação, em território nacional, da Política Nacional de Meio Ambiente. Para isso, era necessário univicar os órgãos associados á proteção dos recursos naturais, através de um sistema, que ele denominou de Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA (Figura 17). Figura 17: Sistema Nacional do Meio Ambiente I - órgão superior: o Conselho de Governo, com a função de assessorar o Presidente da República na formulação da política nacional e nas diretrizes governamentais para o meio ambiente e os recursos ambientais; Anteriormente chamado de “Conselho Superior do Meio Ambiente”, com a Lei nº 10.683/2003, de 1990 passou a ser apenas “Conselho do Governo”. O Conselho de Governo é o órgão superior de assessoramento imediato da Presidência da República, que tem por finalidade pronunciar-se sobre questões relevantes apresentadas pelo Governo Federal, incluída a estabilidade das instituições e problemas emergentes, de grave complexidade e implicações sociais. O Conselho se reúne mediante convocação do Presidente da República. Nessa situação é importante relembrar que dentre os princípios da Lei 6.938/81 está a “natureza pública da proteção ambiental” e da “observação obrigatória da variável ambiental no processo decisório de políticas públicas”. Portanto, o Presidente da República PRECISA considerar o meio ambiente, emsuas decisões para o país. II - órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), com a finalidade de assessorar, estudar e propor ao Conselho de Governo, diretrizes de políticas governamentais para o meio ambiente e os recursos naturais e deliberar, no âmbito de sua competência, sobre normas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida; O Conselho Nacional do Meio Ambiente foi instituído pela Lei 6.938/81 e regulamentado pelo Decreto 99.274/90. O Conselho é um colegiado representativo de cinco setores, a saber: órgãos federais, estaduais e municipais, setor empresarial e sociedade civil. Legislação Ambiental 1 27 É composto por Plenário, CIPAM, Grupos Assessores, Câmaras Técnicas e Grupos de Trabalho. O Conselho é presidido pelo Ministro do Meio Ambiente e sua Secretaria Executiva é exercida pelo Secretário-Executivo do MMA. O Plenário é o órgão máximo do Conama, que detém o poder decisório para discutir votar e aprovar as resoluções nos termos da lei. É presidido pelo ministro do Meio Ambiente. O Conama reúne-se ordinariamente a cada 3 meses no Distrito Federal, podendo realizar Reuniões Extraordinárias fora do Distrito Federal, sempre que convocada pelo seu Presidente, por iniciativa própria ou a requerimento de pelo menos 2/3 dos seus membros. O Comitê de Integração de Políticas Ambientais (CIPAM) é um órgão interno ao Conama que promove a integração das políticas ambientais das diversas esferas de poder. As Câmaras Técnicas são instâncias encarregadas de desenvolver, examinar e relatar ao Plenário as matérias de sua competência. Por sua vez, os Grupos de Trabalho são criados por tempo determinado para analisar, estudar e apresentar propostas sobre matérias de sua competência. Na verdade, o Decreto 99.274/90 não deixa claras as funções dos Grupos de Assessores e de Trabalho, mas devem colher informações e dados para fundamentar as decisões do Conselho. III - órgão central: a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República, com a finalidade de planejar, coordenar, supervisionar e controlar, como órgão federal, a política nacional e as diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente; De acordo com o próprio inciso, cabe ao órgão central fazer a função de secretária executiva, apoiando o planejamento, a coordenação, a supervisão e o controle das medidas de proteção ambiental, dentro do âmbito federal. É importante destacar que não existe mais a Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República que foi ampliada e agora é o próprio Ministério de Meio Ambiente. O enquadramento do MMA, vinculado ao poder executivo federal, como órgão central do SISNAMA, não o torna hierarquicamente superior a nenhum outro de natureza estadual ou municipal, especialmente em virtude da competência material comum. Sua atuação fica vinculada a sua qualidade de órgão federal, imprescindível como todos os demais para a consecução dos objetivos previstos nessa lei (RODRIGUES, 2008). IV - órgão executor: o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, com a finalidade de executar e fazer executar, como órgão federal, a política e diretrizes governamentais fixadas para o meio ambiente; Na Lei de 1981, não foi pensado em um órgão com a função exclusiva de executar os procedimentos de proteção ambiental. Mas, em 12 de abril de 1990, com a lei nº 8.028, o IBAMA foi considerado órgão executor da Política Nacional de Meio Ambiente. Isso porque o IBAMA só foi criado em 1989, com a Lei nº 7.735 pela fusão de quatro entidades brasileiras que atuavam na área ambiental: Secretaria do Meio Ambiente (SEMA), Superintendência da Borracha (SUDHEVEA), Superintendência da Pesca (SUDEPE) e Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF). Até 2007, o IBAMA atuava como único órgão executor, com a finalidade de executar a Política, referentes às atribuições federais permanentes, relativas à preservação, à conservação e ao uso sustentável dos recursos ambientais e sua fiscalização e controle. Mas, a Lei nº 11.516/2007 criou o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade deslocando algumas competências do IBAMA – figura 18. Legislação Ambiental 1 28 Figura xx18: Logotipo do Instituto Chico Mendes – intenção de mostrar o avanço para as Unidades de Conservação por todo o território nacional O novo órgão é responsável exclusivamente pela administração das unidades de conservação federais, além de fomentar e executar programas de pesquisa, proteção e conservação da biodiversidade em todo o Brasil. O instituto tem também a função de executar as políticas de uso sustentável dos recursos naturais renováveis e de apoio ao extrativismo e às populações tradicionais nas unidades de conservação federais de uso sustentável. V - Órgãos Seccionais: os órgãos ou entidades estaduais responsáveis pela execução de programas, projetos e pelo controle e fiscalização de atividades capazes de provocar a degradação ambiental; Os Órgãos Seccionais têm atuação restrita dentro do território brasileiro. Cada um dos 26 Estados tem um órgão seccional que pode concentrar as atribuições de proteção ao meio ambiente. No Estado do Rio de Janeiro, havia diferentes órgãos que atuavam em conjunto, antes da criação do INEA, com a Lei 5.101, de 4 de outubro de 2007. A Serla cuidava de Rios e Lagos; a Feema trava da fiscalização e licenciamento ambiental e o IEF tinha atribuições associadas panas às Unidades de Conservação. VI - Órgãos Locais: os órgãos ou entidades municipais, responsáveis pelo controle e fiscalização dessas atividades, nas suas respectivas jurisdições; Diante da necessidade fundamental de se ter órgãos que cuidem do controle e fiscalize as atividades produtivas que consumam atributos ambientais, desde o seu início, a Política Nacional de Meio Ambiente atribuiu aos municípios a função. § 1º Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição, elaboração normas supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo CONAMA. § 2º O s Municípios, observadas as normas e os padrões federais e estaduais, também poderão elaborar as normas mencionadas no parágrafo anterior. Relembre de que Estados e Municípios podem complementar as normas gerais estabelecidas pelo órgão federal. Mas nunca deverão contrariá-las, uma vez que serão consideradas inconstitucionais. Há sempre a necessidade de se respeitar a hierarquia dos entes federativos. § 3º Os órgãos central, setoriais, seccionais e locais mencionados neste artigo deverão fornecer os resultados das análises efetuadas e sua fundamentação, quando solicitados por pessoa legitimamente interessada. Assim, como no inciso V do art. 4º, há a necessidade dos órgãos do SISNAMA dar publicidade atos, contratos, dentre outros, para pessoa legitimamente interessada. É dentro dessa realidade, que pessoas físicas e jurídicas recolhem dados dos órgãos públicos para a elaboração de suas pesquisas e estratégicas, a exemplo de instituições acadêmicas. Art. 4º - A Política Nacional do Meio Ambiente visará: § 1º Os Estados, na esfera de suas competências e nas áreas de sua jurisdição, elaboração normas Legislação Ambiental 1 29 supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio ambiente, observados os que forem estabelecidos pelo CONAMA. § 2º Os Municípios, observadas as normas e os padrões federais e estaduais, também poderão elaborar as normas mencionadas no parágrafo anterior. § 3º Os órgãos central, setoriais, seccionais e locais mencionados neste artigo deverão fornecer os resultados das análisesefetuadas e sua fundamentação, quando solicitados por pessoa legitimamente interessada. § 4º De acordo com a legislação em vigor, é o Poder Executivo autorizado a criar uma Fundação de apoio técnico científico às atividades do IBAMA. Desde a sua criação, em 1981 até os dias atuais, o quarto parágrafo não foi implementado pelo IBAMA. O seu objetivo é servir de base para os estudos científicos multidisciplinares do órgão. Art. 7º (Revogado). Art. 8º Compete ao CONAMA: (Redação dada pela Lei nº 8.028, de 1990). O artigo 7º informava sobre a composição do antigo Conselho Superior de Meio Ambiente, que foi substituído pelo Conselho do Governo, em 1990, através da sua revogação, oferecida pela Lei nº 8.028. Nessa mesma lei, há o desenvolvimento do texto que estabelece as competências do CONAMA. Vamos conhecê-las. I - estabelecer, mediante proposta do IBAMA, normas e critérios para o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, a ser concedido pelos Estados e supervisionado pelo IBAMA; O Estado brasileiro é composto por 27 Estados e um Distrito Federal, cada qual com sua própria competência para julgar os pedidos de licenciamento ambiental – figura 19. Figura 19: Mapa político do Brasil Fonte: IBGE (2000) Mas, quis o legislador que o CONAMA oferecesse normais e critérios mínimos a serem requeridos pelos órgãos ambientais seccionais. Esse procedimento evita que decisões políticas dos governos rotativos, dentro do território brasileiro estabeleçam limites inapropriados para a proteção do meio ambiente. Mas, observe que os Conselheiros não estão livres de elaborarem uma regulamentação adequada apenas aos seus interesses. É fundamental que o IBAMA envie uma proposta de regulamentação, no sentido de aumentar a legitimidade do dispositivo normativo. Em agosto de 2010, por exemplo, o IBAMA enviou para a reunião de conselho do CONAMA uma proposta de resolução que dispõe sobre o fornecimento das informações referentes à movimentação interestadual de resíduos perigosos. Legislação Ambiental 1 30 II - determinar, quando julgar necessário, a realização de estudos das alternativas e das possíveis consequências ambientais de projetos públicos ou privados, requisitando aos órgãos federais, estaduais e municipais, bem assim a entidades privadas, as informações indispensáveis para apreciação dos estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, especialmente nas áreas consideradas patrimônio nacional; Até 1989, cabia ao CONAMA, a responsabilidade de apreciar os estudos de impacto ambiental, e respectivos relatórios de impacto ambiental, no caso de obras ou atividades de significativa degradação ambiental, nas áreas consideradas Patrimônio Nacional pela Constituição Federal. A partir da Lei nº 8.028/1990, coube ao IBAMA a execução das “ordens” dadas pelo CONAMA. Portanto, cabia a este órgão a apreciação do processo de licenciamento de empreendimentos considerados de nível nacional. Após 2007, o IBAMA divide com o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade essa obrigação, como explicado. Mas, o que se faz notar, nesse inciso, é que o CONAMA tem poderes para atuar como órgão vigilante de qualquer processo de licenciamento ambiental no território brasileiro. III - decidir, como última instância administrativa em grau de recurso, mediante depósito prévio, sobre as multas e outras penalidades impostas pelo IBAMA; (REVOGADO) A partir da Lei nº 7.804, de 1989, cabia ao CONAMA a última decisão sobre os processos e recursos apresentados pelos réus, que se sintam injustiçados de multas por infrações ambientais. Embora a manifestação do órgão ficasse atrelada ao pagamento prévio d do valor em litígio. Mas, a Lei nº 11.941, de 2009 revogou esse inciso e agora quem toma essa providência é o Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, que é responsável pelo julgamento dos recursos associados ao setor tributário brasileiro. IV - homologar acordos visando à transformação de penalidades pecuniárias na obrigação de executar medidas de interesse para a proteção ambiental; (VETADO) Embora esse artigo tenha sido suspenso antes mesmo da publicação dessa Política Nacional de Meio Ambiente, a Lei de Crimes Ambientais (nº 9.605/1998) prevê a transformação de multas por infração ambiental em medidas de interesse ambiental, quando for de interesse da coletividade. Mas, esse tipo de prerrogativa só acontece no caso da multa simples, que pode ser convertida em serviços de preservação, melhoria e recuperação da qualidade do meio ambiente. Entretanto, caso ocorra reincidência, este benefício não poderá mais ser utilizado. V - determinar, mediante representação do IBAMA, a perda ou restrição de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito; Você aprendeu que uma das sanções oferecidas pela Lei de Crimes Ambientais é a multa simples. Mas, há um conjunto de sanções, dentre elas, há a restrição de direitos, como no caso do inciso V desse artigo, a perda de benefícios fiscais concedidos pelo Poder Público, em caráter geral ou condicional, e a perda ou suspensão de participação em linhas de financiamento em estabelecimentos oficiais de crédito. Verifique que os conselheiros Conama não têm competência para determinar a sanção sozinhos. Eles apenas ratificam o que os funcionários do IBAMA, os Legislação Ambiental 1 31 agentes de fiscalização, entenderem como melhor punição para o infrator ambiental. VI - estabelecer, privativamente, normas e padrões nacionais de controle da poluição por veículos automotores, aeronaves e embarcações, mediante audiência dos Ministérios competentes; Embora os Estados e Municípios possam legislar complementarmente sobre recursos naturais (a exceção sobre água), inclusive sobre limites e padrões de poluição, entende-se que apenas o Conama pode estabelecer esses mesmos limites de poluição, quando o caso for veículos automotores, aeronaves e embarcações. Mais uma vez, o legislador quis deixar claro que os conselheiros do Conama não podem tomar nenhuma providência sozinhos. Precisam de audiência e anuência dos Ministérios competentes, como o de Transportes, por exemplo. VII - estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos; Já aprendemos no artigo 3º, que dispõe sobre o estabelecimento de limites ao uso dos recursos naturais, que há a necessidade de estabelecimento de normais, critérios e padrões de controle da qualidade do meio ambiente. Esse inciso informa que caberá ao Conama essa atribuição, de maneira geral. Estados e Municípios poderão estabelecer limites locais, desde que não contrariem a normatização geral. Como a Política Nacional foi criada em 1981, é bom deixar claro que já há uma normatização mais recente, de 1997: a Lei nº 9.433 que criou o Conselho Nacional de Recursos Hídricos, para tratar apenas do elemento água. Parágrafo único. O Secretário do Meio Ambiente é, sem prejuízo de suas funções, o Presidente do Conama. A Lei original de 1981 foi alterada em 1990 (Lei º 8.028), também para informar que o presidente do Conama será o ministro de Meio Ambiente. Após trabalhar com a competência do Conama, iniciaremos os trabalhos sobre os instrumentos da Política Nacional de Meio Ambiente. Art. 9º - São instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente: I - o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental; O estabelecimento dos
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