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3-O brincar e suas diversidades culturais

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A LUDICIDADE 
E A PEDAGOGIA 
DO BRINCAR 
Caroline Costa Nunes Lima
O brincar e suas 
diversidades culturais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Reconhecer a importância da diversidade cultural nas brincadeiras 
representadas pelas crianças.
 � Identificar a diversidade cultural presente nas brincadeiras das crianças 
brasileiras.
 � Interpretar as cantigas de roda como importantes manifestações 
culturais.
Introdução
Neste capítulo, estudaremos o conceito de cultura, reconhecendo a 
relevância da diversidade cultural como uma das nossas maiores ri-
quezas e responsáveis pela formação de nossa identidade. Veremos a 
diversidade cultural presente nas brincadeiras infantis brasileiras e, por 
fim, conheceremos mais a fundo as origens das cantigas de roda, suas 
características e sua relevância no processo de ensino e aprendizagem 
e desenvolvimento infantil. 
A diversidade cultural e suas representações 
nas brincadeiras infantis 
A palavra “cultura” está presente em nosso cotidiano e é por si só dotada de 
uma complexidade latente. Tantos utilizam esse vocábulo de modo limitado, 
empregando-o no sentido de desprestigiar alguns costumes e valorizar outros. 
A nós, interessa irmos à essência do significado de “cultura” em respeito 
à diversidade e à valorização de todo um legado que atravessa gerações e 
enriquece a nossa trajetória histórica. Observe na Figura 1 como podemos 
ver representados aspectos culturais em todo mundo.
Figura 1. Os diversos aspectos culturais presentes no mundo.
Fonte: adaptada de asantosg/Shutterstock.com.
Assim, a concepção de cultura é objeto de investigação das mais variadas 
ciências. Desde o século XIX, os antropólogos se dedicam a defini-la, e esses 
esforços resultaram em múltiplas e, por vezes, contraditórias concepções. 
A definição mais genuína afirma que cultura abrange todas as realizações 
materiais e espirituais de um povo. Em outras palavras, trata-se de tudo o que 
o Homem criou material e imaterialmente, resultando em uma complexidade 
de conhecimentos e habilidades presentes na sociedade. Sob outro ponto 
de vista, Bosi (1992) ressalta que cultura é o conjunto que abarca práticas, 
técnicas, símbolos e valores que passam de geração a geração, assegurando 
a convivência social e garantindo aos descendentes dos povos a própria so-
brevivência em um matiz muito próximo ao de educar. Quando tratamos de 
aspectos da cultura representados em brinquedos e brincadeiras, Friedmann 
([20--?], documento on-line) afirma:
O brincar e suas diversidades culturais2
[...] é imprescindível divulgar e trocar as diversidades culturais das várias re-
giões que traduzem seus respectivos valores através da linguagem transmitida 
pelos brinquedos e brincadeiras. Brinquedos que ainda são criados pelas mãos 
artesanais de pessoas simples e sensíveis, até os brinquedos propostos por 
uma indústria que recebe grande influência das tendências mundiais, muito 
fascinada com o merchandising e as modas, porém sem questionamentos sobre 
adequação ou valores inerentes aos brinquedos comercializados, incluindo 
aqui brinquedos eletrônicos e videogames. 
Com relação às brincadeiras, nosso país tem uma riqueza infindável do Norte 
ao Sul, determinando uma cultura lúdica ao mesmo tempo heterogênea, 
diversa e comum, a partir da influência das culturas europeia, africana e 
indígena. Assim como tantos monumentos materializam a história através do 
tombamento dos mesmos, o brincar constitui-se em um patrimônio lúdico da 
humanidade e, no nosso caso, da brasilidade: a cada conjunto de brincadeiras 
de cada região, revela-se uma linguagem cultural da mesma. A criança fala 
através do seu brincar.
Ao falarmos em brincadeiras infantis, é natural falarmos também em 
folclore e nossas tradições repletas de imagens, costumes e fantasias. Para 
relacionar essa aprendizagem a sua história, recorde-se do seu tempo em que 
era criança e das histórias que fizeram parte dessa época. Quem contava essas 
histórias a você? 
Crianças são atraídas pelo mundo imaginário, incluem em suas brincadeiras 
monstros, príncipes e princesas, animais falantes e todo universo fantástico 
a que têm acesso. Desse modo, essas relações necessitam ser compreendidas 
pelos adultos e educadores para assegurar uma vivência plena dos elementos 
que potencializam a criatividade e o desenvolvimento infantis. O fato de 
esses elementos serem comuns à infância não torna menor a importância, o 
reconhecimento e o valor cultural deles. 
Além de direitos, tais como alimentação saudável, saúde, lar, família e 
educação, a criança tem também o direito ao acesso à participação e à convi-
vência com valores sociais a fim de exercer sua cidadania, fazendo parte de 
um contexto histórico e social; desse modo, precisa ter acesso a suas raízes 
culturais. É imprescindível, assim, que os espaços institucionais de educação 
infantil permitam às crianças o acesso a essa aprendizagem, resgatando, 
valorizando e inserindo nas brincadeiras as trocas culturais que atravessam 
séculos e asseguram nossa identidade.
3O brincar e suas diversidades culturais
Vejamos o que as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil abordam 
quanto à inserção de elementos culturais de nossa formação nas práticas pedagógicas 
(BRASIL, 2010):
4. Princípios
[...] 
Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito 
ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades 
e singularidades. 
Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade 
de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais. 
Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do res-
peito à ordem democrática (p. 16).
5. Concepção de Proposta Pedagógica
[...] 
Promovendo a igualdade de oportunidades educacionais entre as crian-
ças de diferentes classes sociais no que se refere ao acesso a bens culturais 
e às possibilidades de vivência da infância (p. 17).
7. Organização de Espaço, Tempo e Materiais
[...] 
A indivisibilidade das dimensões expressivo-motora, afetiva, cognitiva, 
linguística, ética, estética e sociocultural da criança.
[...] 
A apropriação pelas crianças das contribuições histórico-culturais dos 
povos indígenas, afrodescendentes, asiáticos, europeus e de outros 
países da América (p. 19–20).
[...]
Garantir experiências que:
Possibilitem vivências éticas e estéticas com outras crianças e grupos 
culturais, que alarguem seus padrões de referência e de identidades no 
diálogo e conhecimento da diversidade.
[...]
Propiciem a interação e o conhecimento pelas crianças das manifestações 
e tradições culturais brasileiras (p. 26–27). 
O brincar e suas diversidades culturais4
A diversidade cultural presente nas 
brincadeiras das crianças brasileiras
O conceito de infância sofre variações de acordo com as sociedades, o que nos 
leva a pensar na diversidade presente em cada história de vida de um povo que tem 
influências familiares, culturais e sociais que se manifestam em hábitos nas práticas 
do dia a dia. Ao pensar num país como o Brasil, com dimensões continentais, 
marcado pela presença de diferentes nações e imigrantes que trouxeram também 
sua bagagem cultural, veremos que a diversidade faz parte da nossa formação. 
Somos resultado dessa construção e ainda contamos com elementos que 
ampliam o conceito de multiplicidade quando notamos que o mundo con-
temporâneo é marcado por uma circulação de pessoas pelos mais variados 
países; além disso, contamos com a tecnologia e as diferentes mídias que 
transformaram o conceito de tempo e espaço. 
Essas mudanças trouxeram consequências em diferentes campos sociais. 
Na educação, por exemplo, há um esforço de se adequar a metodologias para 
uma aprendizagem significativa e contextualizada, valendo-se dos novos 
recursos de que dispomos como aliados em nossa prática. Isso significa que 
podemos e devemos fazer uso dessas ferramentas, mas não devemos abrir mãodo uso de práticas e conteúdos que tanto estiveram presentes e são aliados no 
desenvolvimento dos educandos. Esse é o caso das brincadeiras tradicionais 
infantis, por exemplo. Vejamos a seguir algumas características e origens de 
nossas brincadeiras de tradição, segundo Kishimoto (2014, p. 85):
[...] pode-se dizer que elas incluem a produção cultural de um povo, em certo 
período histórico, uma cultura não oficial, fluida, caracterizada pela oralidade 
e sempre em transformação incorporando criações anônimas das gerações que 
se sucedem. É uma cultura que se caracteriza pelo anonimato, pela tradição 
de agrupamentos infantis que os reproduzem, especialmente pela oralidade, 
que ficam gravados na memória das infâncias, que se conservam e se modi-
ficam pelo poder criativo do brincante. Embora antiga é também nova porque 
dispõe de uma estrutura cujo conteúdo se renova a cada brincadeira. Tais 
brincadeiras evidenciam o pertencimento de crianças e jovens a um grupo 
social que convive e partilha dos mesmos signos culturais, socializando-se, 
indicando seu lugar na sociedade e criando identidades [...].
Como podemos constatar pelo trecho apresentado, existe uma riqueza cultural 
presente nas brincadeiras tradicionais e é papel da escola resgatar e preservar 
esse acervo. Sabemos que no campo educacional existem profissionais com 
diferentes tempos de magistério, mas é fundamental que todos tenham a dimensão 
5O brincar e suas diversidades culturais
da importância que as brincadeiras tradicionais devem ter. Para termos uma 
ideia do quanto a diversidade das brincadeiras envolve uma complexa rede de 
tradições em diferentes tempos e sociedades, veja o que diz Kishimoto (2014, 
p. 88) a respeito do surgimento dos brinquedos e brincadeiras: 
As brincadeiras e os brinquedos não nasceram como tais. Surgem de práticas 
de adultos, de rituais religiosos, astrológicos, relações com a magia, represen-
tações sobre a natureza, os espíritos, a vida e a morte, e parte de romances, 
poemas e narrativas. Muitos preservam-se até os tempos atuais e aparece em 
diversas situações, como parlendas de invocação à Lua praticadas antigamente 
no Egito em a Babilônia que aparecem nos textos religiosos por volta de 3.000 
anos a.C. Nos dias atuais, elas são encontradas entre os índios da América, 
negros da África, primitivos da Austrália e da Polinésia, indígenas da Ásia 
e no Brasil; em Rondônia, sobrevive como o oferecimento da criança à Lua: 
“Lua luar. Pega este menino. E ajuda a criar”.
A brincadeira tradicional origina-se de uma literatura popular e folclórica 
e resulta de práticas em que se construíam brinquedos com materiais de modo 
artesanal, com trechos de poemas que se associam a atividades como o pular 
corda, movimentações corporais, jogos com pedras, personagens históricos e 
imaginários, canções vindas da cultura oral e da memória coletiva que sofrem 
variações devido ao hibridismo cultural, mas cuja essência permanece a mesma. 
É comum que a origem das brincadeiras seja desconhecida, mas as regras de 
como se joga se mantêm preservadas graças à memória coletiva que conserva 
a tradição por meio da oralidade. Relatos, mitos, lendas, contos, canções e 
crônicas não registradas fazem parte de uma memória histórica social humana 
(BOSI, 2003). Tantos outros acervos transitam por mídias. A perpetuação das 
brincadeiras se assemelha a narrativas de nossas memórias e de nossas vidas, 
como aponta Kishimoto (2014, p. 101–102):
A perenidade das brincadeiras é similar à narrativa que tece o fio da memória 
e da vida, de geração em geração, como a dos galos que tecem as manhãs do 
poeta brasileiro João Cabral de Melo Neto ou, o nascimento do neto, que tece 
o fio das brincadeiras da infância nas telas de Portinari, trazendo os piões, 
pipas e pula selados tempos de Brodósqui.
Mudam suas formas de transmissão e conservação e não prevalecem apenas 
formas orais, há outros meios iconográficos e midiáticos, favorecidos pelas 
novas tecnologias e meios de comunicação. Desse modo, pode-se dizer que 
o brincar do passado continua no presente, modificando sua forma de trans-
missão, com conteúdos e materiais que acompanham os novos tempos, mas 
permanece a estrutura da brincadeira [...].
O brincar e suas diversidades culturais6
Quando refletimos sobre as brincadeiras da cultura brasileira, encontramos 
um rico acervo repleto de elementos folclóricos, de uma variedade que inclui 
canções, parlendas, cantigas de roda, além de outras que envolvem ações que 
favorecem os desenvolvimentos expressivo, corporal, motor e cognitivo. Veja 
no Quadro 1 algumas brincadeiras que fazem parte da cultura de nosso país e 
o modo como elas podem ser implementadas no cotidiano escolar. 
Fonte: adaptado de Almeida (2012, p. 71–117).
Nome da 
brincadeira
Período 
de vida 
indicado para 
realização das 
brincadeiras
Detalhes
Brincos e cantigas 
simples
Bebês Favorecem o desenvolvimento da oralidade 
das crianças, propiciam o contato corporal 
com o adulto e auxiliam no desenvolvimento 
de suas capacidades expressivas, além de 
serem excelente possibilidade de manter viva 
parte de nossa tradição.
Rodas de 
movimento, 
brincos 
mais longos, 
brincadeiras 
corporais, rodas 
de escolha
Crianças de 
2 e 3 anos
Envolvem o reconhecimento do próprio 
corpo, do outro e a imitação. Nelas estão 
presentes aspectos do ato motor e de 
gestos simbólicos, como imitar um animal, 
uma profissão ou gestos indicados na 
cantiga. Essas brincadeiras trazem também a 
possibilidade de que as crianças se apropriem 
da cultura, no que se refere ao patrimônio 
cultural transmitido por meio da oralidade.
Rodas de 
dramatização, 
rodas de verso 
com quadrinhas, 
parlendas que 
viram pega-pega, 
brincadeiras 
cantadas e 
ritmadas
Crianças de 
4 e 5 anos
Contribuem para o desenvolvimento 
da noção do ritmo individual e coletivo, 
assim como alguns princípios básicos de 
cidadania. Essas rodas exigem das crianças 
que participam como personagem iniciativa, 
desembaraço, atenção e coragem. Dos outros 
participantes, exige controle para esperar sua 
vez, atenção, cooperação e observação.
Quadro 1. Exemplos de brincadeiras e suas contribuições.
7O brincar e suas diversidades culturais
Por meio dessas sugestões, educadores podem planejar atividades traba-
lhando com diferentes habilidades essenciais para o desenvolvimento infantil, 
além de inserir nossa cultura às vivências das crianças desde seu nascimento. 
Diante de tais reflexões, espera-se que os espaços institucionais de educação 
infantil assegurem a inserção das brincadeiras resultantes de nossa diversidade 
cultural como um dos eixos pedagógicos para que as crianças (re)construam 
as próprias experiências socioculturais ampliando os conhecimentos acerca 
de suas origens. Músicas, imagens, danças, folclores, canções, cantigas de 
roda, jogos, brincadeiras devem ser valorizados e fazer parte não somente 
em projetos isolados, mas também como parte integrante das atividades pe-
dagógicas educacionais infantis. 
As cantigas de roda e sua relevância como 
manifestações culturais 
As crianças também são produtoras de cultura e esses registros são tão an-
tigos quanto o próprio conceito de infância. As culturas da infância, assim 
como as outras produzidas pela sociedade, passam pelos processos históricos, 
carregam marcas do tempo e revelam complexidades sociais. As cantigas de 
roda, por exemplo, fizeram parte da sua infância e da infância de seus pais 
e outras gerações? 
Em maior ou menor grau, o fato é que as cantigas de roda são manifestações 
culturais que fazem parte da história de nosso país. Com as transformações 
sociais há uma preocupação maior em não perdermos nosso rico acervo cul-
tural e encontrarmos modo de relacioná-los com nossa múltipla dimensão da 
realidade. Segundo Brandão (2009, p. 54): 
o processo social de criação da cultura é o que atribui ao ser humano a possi-
bilidade de afirmar-se como um ser com consciência e respeito de seu saber. 
Enfim, como um sujeitoque habita de modo singular a sociedade e constrói 
uma história.
O Brasil é um país com um acervo lúdico e uma literatura oral que atra-
vessam gerações. Os gêneros textuais, tais como canções, cantigas, fábulas, 
parlendas, provérbios, mitos, entre outros, retratam um imaginário de povos 
indígenas, africanos e europeus que reflete nossa identidade cultural.
O brincar e suas diversidades culturais8
Cantigas de roda, por exemplo, ainda hoje são cantadas e brincadas em 
nosso país e constituem atividades lúdicas nas quais grupos com crianças de 
mãos entrelaçadas cantam canções com letras de fácil compreensão, rimas 
equilibradas e mensagens que reproduzem especificidades da cultura local 
com temáticas relacionadas ao imaginário social da criança (BRAGA, 2013).
Essas brincadeiras populares retratam fenômenos históricos sociais e são de 
incontestáveis representações culturais. Essas práticas transmitidas por meio 
da oralidade, segundo Cascudo (2012), são brincadeiras que revelam carac-
terísticas de tempos e espaços, descrevendo tipicamente crenças, costumes, 
festas, brincadeiras, a natureza e o folclore, fazendo com que essas marcas 
dialoguem com diferentes momentos de nossa história.
Diante de toda essa riqueza e grau de relevância histórica e social, a escola 
deve ser permeada por uma prática multiculturalista, inserindo as cantigas de 
roda devido a sua identificação de crenças e valores históricos. Essas atividades 
que trabalham com diferentes linguagens, como a musical, possibilitam à 
criança um desenvolvimento cognitivo, afetivo, motor e imaginativo, que amplia 
suas habilidades para apropriações estéticas e artísticas e de conhecimento 
de suas origens (BRAGA, 2013). 
Ao inserir a cultura popular em suas práticas, os educadores colocam as 
crianças em contato direto com manifestações folclóricas, além de resgatarem 
festas populares por meio de uma aprendizagem significativa fazendo com 
que a criança se aproprie de um repertório que lhe dará mais condições de se 
expressar; isso as torna mais sensíveis e perceptivas ao mundo que as cerca. 
Além do desenvolvimento enfatizado, Jurado Filho (1985, p. 21) estabelece 
as seguintes relações entre as cantigas e as linguagens:
[...] um tempo em que essa linguagem que hoje consideramos não-traço usual 
era a linguagem da época, abordando coisas então cotidianas. Assim, o que 
hoje constitui quase que o resgate de sentidos – ora implícitos na brincadeira 
– em outra época eram fatos e situações explicitamente inscritos no discurso. 
Dessa forma, os efeitos de sentidos produzidos pelos textos das cantigas variam 
conforme estejam eles sujeitos à ação do tempo (então/agora) e às pessoas que 
delas se servem (adultos, jovens, crianças). 
Com essas relações, os educadores também podem trabalhar com as 
questões envolvendo a evolução da língua, levando as crianças a refletirem 
sobre o próprio discurso por meio de interações, favorecendo a percepção de 
diferentes contextos e as variações culturais dos grupos sociais retratados em 
determinadas gerações. 
9O brincar e suas diversidades culturais
ALMEIDA, L. S. Interações: crianças, brincadeiras brasileiras e escola. São Paulo: Blucher, 
2012. Disponível em: <https://issuu.com/editorablucher/docs/issu_crianca_brinca_
brasil_escola>. Acesso em: 31 mar. 2018.
BOSI, A. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
BRAGA, R. N. F. Cantigas de roda em tempos de alta modernidade: representações 
sociais dos docentes e dos pais dos alunos das Escolas do Campo em Chapadinha 
(MA). 2013. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Humano) – Universidade 
de Taubaté, Taubaté, 2013. Disponível em: <http://mpemdh.unitau.br/wp-content/
uploads/2011/dissertacoes/maranhao/raimunda_nonata_fortes_braga.pdf>. Acesso 
em: 25 mar. 2018.
BRANDÃO, C. R. O saber, o cantar e o viver do povo. São José dos Campos: Fundação 
Cultural Cassiano Ricardo, 2009. (Cadernos de folclore, v. 19).
BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes curriculares nacionais para a educação in-
fantil. Brasília: MEC, 2010. Disponível em: <http://ndi.ufsc.br/files/2012/02/Diretrizes-
-Curriculares-para-a-E-I.pdf>. Acesso em: 25 mar. 2018.
CASCUDO, L. C. Dicionário do folclore brasileiro. 11. ed. ilustrada. São Paulo: Global, 2012.
FRIEDMANN, A. O papel do brincar na cultura contemporânea. [20--?]. Disponível em: 
<https://issuu.com/adriafried/docs/name6d93f4 >. Acesso em: 22 abr. 2018.
JURADO FILHO, L. C. Cantigas de roda, jogo, insinuação e escolha. 1985. Dissertação 
(Mestrado em Linguística) – Instituto Estudos da Linguística, Universidade Estadual 
de Campinas, Campinas, SP, 1985.
KISHIMOTO, T. M. Jogos, brinquedos e brincadeiras do Brasil. Espacios en Blanco, v. 24, 
n. 1, p. 81-106, 2014. Disponível em: <http://www.scielo.org.ar/pdf/eb/v24n1/v24n1a07.
pdf>. Acesso em: 12 abr. 2018. 
MARCILIO, S. A. S. A importância do brincar. 2008. Trabalho de Conclusão de Curso 
(Licenciatura em Pedagogia) – Faculdade de Educação, Universidade Estadual de 
Campinas, Campinas, SP, 2008. Disponível em: <http://www.bibliotecadigital.unicamp.
br/document/?down=41262>. Acesso em: 23 abr. 2018.
Leitura recomendada
SILVA, E. R. Vamos brincar de preservar?: as brincadeiras infantis como patrimô-
nio cultural. In: SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 26., 2011, São Paulo. Anais... 
São Paulo: USP, 2011. Disponível em: <http://www.snh2011.anpuh.org/resources/
anais/14/1312923290_ARQUIVO_brincadeiras_e_patrimonio_definitivoerevisado2.
pdf>. Acesso em: 23 abr. 2018. 
O brincar e suas diversidades culturais10

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