Buscar

2-Origem e histórico social e cultural do jogo

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 16 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

DIMENSÕES 
DO JOGO
Mariluce Ferreira 
Romão
Origem e histórico social 
e cultural do jogo
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Definir jogo, brinquedo e brincadeira pelas perspectivas histórica e 
social.
 � Avaliar o papel da ludicidade e dos jogos na formação humana e no 
processo educativo escolar básico, considerando sua dimensão social, 
histórica e cultural.
 � Identificar a importância do jogo no processo de conhecimento, 
expressividade e socialização da criança.
Introdução
Por meio do jogo, o ser humano se introduz na cultura e amplia a sua 
capacidade de imaginação e de representação simbólica da realidade. O 
jogo nasce espontâneo, sem outro fim além da necessidade e da alegria 
de jogar. Além disso, ele evolui, cresce e acompanha o ser humano e a 
sua cultura.
Neste capítulo, você vai conhecer a definição de jogo, brinquedo e 
brincadeira pelas perspectivas histórica e social. Também vai avaliar o 
papel da ludicidade e dos jogos na formação humana e no processo edu-
cativo escolar básico, considerando sua dimensão sócio-histórico-cultural. 
Além disso, você vai verificar a importância do jogo nos processos de 
conhecimento, expressividade e socialização da criança.
Jogo, brinquedo e brincadeira: perspectivas 
históricas e sociais
Inúmeros autores discutem as concepções de jogo, brinquedo e brincadeira. 
Muitos deles assinalam a aproximação semântica desses termos e integram 
essas concepções à cultura humana, por sua função significante, isto é, por 
apresentarem um sentido que transcende sua execução propriamente dita 
(SARAIVA, 2011).
Jogo
Para começar, é necessário que você compreenda que qualquer definição 
de jogo é similar ao conceito de lúdico, independentemente da teoria que a 
contemple. O jogo é a ação de jogar, um passatempo ou uma diversão. Em 
geral, as crianças usam a palavra “jogo” compreendendo-a simplesmente 
como a prática de jogar. O jogo sugere clareza e evidência. Ele é considerado 
essencial para o ser humano: o homo ludens passa quase metade da vida 
em vigília. 
Contudo, considera-se que nenhum sábio tenha chegado a uma definição 
precisa, porque jogar faz referência a uma condição ou realidade primordial da 
vida. A definição de jogo não é exatamente determinada, tampouco delimitada. 
É possível, inclusive, que toda tentativa de definição seja classificada como 
jogo científico. A distorção acerca das tentativas de definição do jogo, por 
seu caráter “incoerente” e sua complexidade, responde à sua especificidade e 
indefinição inata. O jogo trata-se de um desafio, vivido como real e com mais 
intensidade do que o trabalho sério e responsável. Ele é algo que representa, 
na prática, uma ficção.
Do ponto de vista fisiológico, pode-se entender o jogo como atividade 
que os seres vivos superiores realizam aparentemente sem um fim utilitário 
e com o objetivo de eliminar o excedente de energia. Como comportamento 
vital, poderiam existir atividades necessárias e essenciais e atividades desin-
teressadas, nas quais se inclui o jogo (definição do poeta Schiller modificada 
pelo filósofo Spencer).
Brinquedo
Afirmar que o brinquedo metamorfoseia e fotografa a realidade significa 
assumi-lo como uma reprodução. Assim, o brinquedo reproduz tanto coisas 
como uma totalidade social: shopping centers, naves espaciais, aparelhos 
eletrodomésticos, bonecos e robôs, princesas e fadas, piratas, índios, mocinhos 
e bandidos. Isso referencia a tecnologia na atualidade e, sobretudo, incorpora 
um imaginário preexistente, veiculado por contos de fadas, filmes e seriados 
televisivos. Todavia, face à industrialização e ao consumismo, o brinquedo 
Origem e histórico social e cultural do jogo2
arrisca ser transformado em objeto de dominação do adulto, em detrimento 
da criança. Se, por um lado, suprem reais necessidades, os brinquedos podem 
impor desejos sugeridos pelas estratégias mercadológicas, que impregnam o 
mundo das crianças com a lógica do consumismo.
Metamorfosear é o mesmo que transformar, transmudar, converter, transmutar.
A oposição ao mercantilismo envolvendo o brinquedo, imposto pela tecno-
logia e pela economia, edifica a convergência entre a cultura popular e a visão 
infantil do mundo, mediante as quais o elemento imaginário das identidades 
regionais e da percepção infantil pode se manifestar. No brinquedo, é possível 
observar claramente a base característica da arte popular, ou seja, a imitação 
de uma técnica procurada, aplicada a um material simples ou rudimentar. Brin-
quedos confeccionados pela própria criança, acompanhada pelo adulto, como 
bolas, cata-ventos, papagaios ou bonecas de pano, reproduzem, naturalmente, 
objetos sofisticados, entretanto permitem, em sua execução, integrar tempos 
distintos. Em contrapartida, na idade adulta, esse ato de intensa comunicação 
é um meio de recuperação da própria infância, com ênfase na memória e na 
imaginação.
Brincadeira
Desenvolver-se socialmente, no universo infantil, é um processo complexo e 
permanente. Ele começa no início da vida e envolve diversas variáveis, com 
destaque à atividade física realizada de maneira informal do começo ao fim 
da vida. Associada a essa atividade física está a brincadeira, que preenche 
muito tempo na infância. Logo, cede lugar ao esporte enquanto nível máximo 
da atividade formal organizada. É no esporte que a criança manifesta o grau 
de socialização, atingido por meio de condutas tanto de colaboração como 
de competição (MURCIA et al., 2008). O fator emocional presente no ato de 
brincar é uma das razões pelas quais as crianças estabelecem uma coincidência 
entre a situação representada em uma brincadeira e a realidade.
3Origem e histórico social e cultural do jogo
Ao brincar de “casinha” ou de “escolinha”, assumindo, respectivamente, o papel de 
mãe ou de professora, a criança tenta reproduzir o que considera que uma mãe e 
uma professora devam ser. Ao mesmo tempo, ela procura manifestar as regras de 
comportamento exigidas por esses papéis sociais na vida real. Assim, a representação 
tem uma força motivadora, que pode levar a criança a aceitar as restrições às suas 
próprias atitudes na relação com a mãe ou com a professora. Nesse sentido, o espaço 
da invenção, calcado em códigos de conduta prévios, promove a socialização.
No Quadro 1, você pode ver definições de brincadeira.
1 A brincadeira é uma atividade fonte de prazer, 
divertida e que geralmente provoca excitação.
2 A brincadeira é uma experiência de liberdade e arbitrariedade, já 
que a característica psicológica principal é que se produz sobre 
um fundo psíquico geral, caracterizado pela liberdade de escolha. 
Por meio das brincadeiras, as crianças saem do presente, da 
situação concreta, situam-se e experimentam outras situações, 
outros papéis e personagens, com uma mobilidade e uma 
liberdade que a realidade da vida cotidiana não lhes oferece.
3 A ficção é considerada um elemento constitutivo da brincadeira. 
Pode-se afirmar que brincar é “fazer de conta”, que a realidade é 
assim e não “assado”, mantendo, ao mesmo tempo, a consciência 
dessa ficção. Por isso, qualquer atividade pode virar brincadeira 
(saltar, atirar uma pedra). Quanto menor a criança, maior a 
sua tendência a transformar cada atividade em brincadeira. O 
que caracteriza a brincadeira não é a atividade em si mesma, 
mas a atitude do sujeito frente a essa atividade. A maioria dos 
autores considera que a aparição da ficção (o faz de conta) 
é o momento em que começa a verdadeira brincadeira.
4 A brincadeira é uma atividade que envolve ação e 
participação, já que brincar é fazer e sempre envolve a 
participação ativa de quem brinca, mobilizando-se para a 
ação. A ativação lúdica tem motivações intrínsecas. Por isso, 
quando há utilitarismo, se converte em meio para alcançar 
um fim, perde a atração e o caráter de brincadeira.
Quadro 1. Definições de brincadeira
(Continua)
Origem e histórico social e cultural do jogo4
Fonte: Adaptado de Múrciae colaboradores (2008).
5 A brincadeira é uma atividade séria, ainda que não possua o 
mesmo conceito de seriedade dos adultos. Para a criança, trata-se 
de uma atividade séria porque “põe em jogo” todos os recursos 
e as capacidades de sua personalidade. A brincadeira a envolve 
em toda a sua totalidade (nível corporal, intelectual e afetivo).
6 A brincadeira é sempre expressão e descobrimento 
de si mesmo e do mundo.
7 A brincadeira é sempre interação e comunicação, pois 
promove a relação e a comunicação com os outros, 
levando a criança a procurar parceiros com frequência.
8 A brincadeira também é imitação e criação. Alguns autores 
veem na atividade lúdica a fonte das atividades superiores do 
homem, as quais conduzem ao trabalho, à ciência, à arte, etc.
Quadro 1. Definições de brincadeira
O significado de jogos e brincadeiras transcende aquilo que eles manifestam, uma 
vez que, ao se estruturarem no campo do imaginário-simbólico, constituem uma 
linguagem de sentidos múltiplos e se integram à cultura. A cultura surge sob a forma 
de jogo, que ela é desde seus primeiros passos, como que “jogada”. Assim, a vida social 
se reveste de formas suprabiológicas, que lhe conferem uma dignidade superior sob 
a forma de jogo. É por meio do jogo que a sociedade exprime sua interpretação da 
vida e do mundo (MURCIA et al., 2008).
A ludicidade na formação humana e na escola 
básica
A produção de um instrumento pedagógico com base na ludicidade da infância 
e na apropriação de experiências enraizadas na cultura local atende ao objetivo 
da escola de formar indivíduos socialmente comprometidos. Isso representa uma 
(Continuação)
5Origem e histórico social e cultural do jogo
resistência ao processo de aculturação que crianças e adolescentes sofrem, visto 
que ocorre a disseminação das manifestações culturais de países economicamente 
hegemônicos. Isso também contribui para a constituição das identidades, para 
o aprimoramento da interação humana, para a compreensão dos significados 
inerentes aos produtos culturais, para o reconhecimento da riqueza presente na 
diversidade cultural e para a identificação das influências recíprocas entre as 
manifestações da cultura e os recursos tecnológicos (SARAIVA, 2011).
Os seres humanos sempre jogaram e brincaram entre si. Há registros de 
jogos nas paredes de cavernas. Essas e outras possíveis evidências demonstram 
que o jogo acompanhou não somente a evolução histórica como também esteve 
presente em todas as civilizações. Assim, são encontrados jogos do Egito, da 
Grécia, da Índia, da China, dos incas, de Angola, da Espanha e do Brasil, por 
exemplo. As brincadeiras costumam variar conforme a região. Entretanto, 
permanece a sua essência, a sua forma e a sua “poesia”. Os aspectos que 
sofrem maiores alterações são a letra das canções e o próprio nome dos jogos. 
No Brasil, há uma riqueza ampla de jogos e brincadeiras, tendo em vista as 
heranças portuguesa, indiana e afrodescendente.
Para a psicologia ou para a pedagogia, os registros da forma como uma 
criança joga e interage com seus parceiros (ou professores) são relativamente 
novos. Piaget (1975) e Kamii e De Vries (1991), responsáveis por divulgar 
esses registros a partir de observações sistemáticas, auxiliam os profissionais 
a refletirem e analisarem o desenvolvimento da criança. A educação física, 
ao considerar o jogo e o seu conteúdo, colabora para que eles continuem a 
ser transmitido de geração a geração, dando sustentação a esse patrimônio 
cultural tão significativo para a humanidade (DARIDO; RANGEL, 2017).
Jogos como amarelinha, empinar papagaio e jogar pedrinhas têm registro na Grécia 
e no Oriente, comprovando a universalidade dos jogos infantis (KISHIMOTO, 2005).
A importância da brincadeira na educação
Os jogos, de acordo com Darido e Rangel (2017), podem ser considerados como 
um dos conteúdos escolares que apresentam maior facilidade de aplicação. 
Isso ocorre por diferentes razões, entre elas as listadas a seguir:
Origem e histórico social e cultural do jogo6
 � não são desconhecidos da criança, uma vez que a maioria já́ participou 
de diferentes jogos e brincadeiras;
 � não exigem espaço ou material sofisticado (embora possam existir 
jogos com tais exigências);
 � podem variar em complexidade de regras, ou seja, desde pequeno pode-
-se jogar com poucas regras, ou chegar a jogos com regras de altíssimo 
nível de complexidade; 
 � podem ser praticados em qualquer faixa etária; 
 � são divertidos e prazerosos para os seus participantes (a menos que 
sejam levados a extremos de competição).
Aprende-se o jogo pelo método global, diferentemente do esporte, que 
geralmente é aprendido/ensinado por partes. Ao contrário, em um grande 
jogo, aprende-se jogando, não se explica e se “treina” as partes para depois 
se jogar. A graça de se aprender o jogo está́ , justamente, em jogá-lo. Não se 
aprende a arremessar para depois se aprender a jogar queimada; o arremesso 
é aprendido durante o jogo. Se o arremesso deve ser mais forte, mais fraco, 
em determinada direção, para cima ou para baixo, é o contexto do jogo que 
vai determinar. Os jogos coletivos foram criados dessa maneira. Assim, as 
pessoas aprendiam jogando. Somente mais tarde, com a técnica e a ciência, é 
que se passou a ensinar com a decomposição das partes.
Na educação contemporânea, jogos e brincadeiras podem ser entendidos 
a partir de três perspectivas complementares: meio globalizador, objeto de 
estudo e ferramenta metodológica. Veja a seguir.
 � Como objeto de estudo: é um bloco de conteúdos que apresenta dife-
rentes modalidades, segundo a complexidade das normas que o regulam, 
o grau de envolvimento que exige dos participantes e as capacidades 
que pretende desenvolver.
 � Como estratégia metodológica: é uma atividade intrinsecamente 
motivadora que facilita a aproximação natural à prática normalizada do 
exercício físico. Não resulta unicamente em aprendizagens esportivas. 
Tem sentido em si mesma e favorece a exploração corporal, as relações 
com os demais e o aproveitamento coletivo do ócio.
 � Como meio globalizador: inter-relaciona conteúdos de educação física 
com outras áreas e eixos transversais. Sua prática potencializa atitudes 
e hábitos de tipo cooperativo e social, baseados na solidariedade, na 
tolerância, no respeito e na aceitação das normas de convivência. Essas 
7Origem e histórico social e cultural do jogo
três perspectivas devem estar intimamente relacionadas, combinando-se 
para alcançar os objetivos da etapa.
Jogo, conhecimento, expressividade e 
socialização
Tendo em vista os valores sociais relacionados aos esportes, bem como a sua 
interlocução com a motricidade, identifica-se progressivo aumento no interesse 
por essas atividades. No universo infantil, o esporte se torna especialmente 
importante. Afinal, envolve pessoas que estão formando a sua personalidade 
e que se encontram no momento “delicado” de aprender a tomar decisões e 
incorporar em seu esquema de valores o que é mais e o que é menos relevante.
Nesse contexto, é fundamental definir o que beneficia o indivíduo e o que 
é melhor para o grupo, o que pode e deve ser feito na prática esportiva e o 
que não se deve fazer. Para isso, as regras criam barreiras a fim de evitar o 
que atenta contra a ética esportiva. Você deve considerar, nesse cenário, os 
mais jovens e as crianças que, motivadas, dedicam-se a uma prática esportiva 
e buscam se “espelhar” no que assistem na televisão e/ou no que idealizam, 
como os praticantes de esportes adultos, os espetáculos e as competições.
Jogar é, por convenção, o meio ideal para uma aprendizagem social fa-
vorável, pois é uma atividade naturalmente ativa e muito estimuladora para 
a maior parte das crianças. As brincadeiras envolvem constantemente as 
pessoas nos processos de ação, reação, sensação e experimentação. Todavia, 
se alguém altera o jogo das crianças, premiando excessivamente a disputa, 
a agressão física, as trapaças e o jogo desleal, altera também a qualidadede vida das crianças. O desenvolvimento social nas crianças é um processo 
permanente e de alta complexidade. Nele, influem múltiplas variáveis, sendo 
uma das mais importantes a atividade física realizada de maneira informal 
do começo ao fim da vida.
A brincadeira solicita da criança iniciativa e coordenação, bem como 
atitudes perante seus pares com vistas a estabelecer e manter a comunicação. 
Trata-se de potencializar de forma progressiva a relação com os outros, pois 
assim ocorre a assimilação da linguagem da comunicação e de suas diversas 
interfaces. Jogando, as crianças vivem situações diversificadas, que envolvem 
sentimentos, atitudes e comportamentos. Nesse contexto, aprendem a cooperar, 
a participar, a competir, a serem aceitas ou não, a constatar a imagem que os 
outros têm delas e a expressar a imagem que fazem dos outros. 
Origem e histórico social e cultural do jogo8
O ato de brincar promove a adaptação social, fazendo com que a criança, 
na representação de outro personagem, perceba a experiência do outro e a 
própria situação vivida. Nas atividades simbólicas, a criança assume o papel 
de outro, adotando sua perspectiva. Esse processo tem grande importância 
no desenvolvimento da capacidade de cooperação. Para compreender melhor 
a forma de atuar, considerando as situações lúdicas e a sua relação com o 
desenvolvimento de valores sociais, é importante repassar esses valores e 
o processo pelo qual as crianças os incorporam em seu repertório pessoal.
Os valores são alcançados pela socialização e pela comunicação entre os 
seres humanos. Dessa maneira, tudo o que se faz para uma criança reflete no 
processo de formação de sua personalidade. Tanto na escola como nas práticas 
relativas ao esporte escolar, os professores e os treinadores devem procurar 
um equilíbrio entre o desenvolvimento de valores pessoais ou individuais e 
o desenvolvimento de valores sociais ou coletivos. Em condições extremas, 
é necessário priorizar os valores sociais. Afinal, o excessivo empenho no 
desenvolvimento de valores individuais pode ocasionar um incremento no 
personalismo, na falta de consciência social, na falta de comunicação e na 
progressiva deterioração do ambiente comunitário.
Acredita-se que o valor é um elemento fundamental para o ser humano. 
Valorizar significa dar preferência a algo em detrimento de outras coisas. 
Embora adquirir valores seja um processo sem fim, que concerne ao desen-
volvimento e à evolução do indivíduo, é principalmente durante infância e 
a adolescência que ocorre a consolidação da constituição fundamental de 
valores. Nesse período, os valores passam de uma moral heterônoma, segundo 
a qual são direcionados pelas opiniões e normas dos mais “experientes” 
(pais, educadores, treinadores), para uma moral autônoma. Esta é gerida pela 
opinião própria. Esse processo acontece paralelamente ao desenvolvimento 
do juízo moral.
Heterônoma: que se submete às vontades de outra pessoa; que está subordinada 
às leis ou preceitos exteriores. Por exemplo: um país heterônomo é aquele que pode 
ser alvo de leis de crescimento, desenvolvimento ou formação que se desviam das 
consideradas normais.
9Origem e histórico social e cultural do jogo
Há etapas gerais que todos atravessam na conformação de seu esquema de 
valores. Nesse transcurso de tempo, e de processos psicossociais, as pessoas 
mais significativas e próximas da criança desempenham um papel diferente 
conforme a etapa do desenvolvimento moral em que ela se encontra. Para 
compreender isso melhor, observe o Quadro 2, a seguir.
Aceitação de valores
Identificação 
de valores Convicção de valores
As crianças assumem 
os valores que os 
“outros significativos” 
lhes oferecem, 
entendendo-os como 
válidos pelo simples fato 
de que provêm de uma 
autoridade legítima. 
Esse processo constitui 
a representação mais 
genuína da moral 
heterônoma. Em geral, 
costuma-se atribuir 
à família a função 
principal de transmitir 
valores aos menores. 
Considerando-se o 
ritmo da sociedade 
atual e a escolarização 
cada vez mais precoce, 
é preciso refletir sobre 
o importante papel que 
podem desempenhar 
professores e 
treinadores quanto à 
incorporação de valores. 
É o momento no qual 
se corre o risco de que 
as crianças tenham de 
enfrentar conflitos entre 
o que dizem seus pais
As crianças vivem 
uma transição no 
desenvolvimento 
moral por meio da 
busca de valores. Já 
não lhes serve que 
os mais velhos — 
pais, professores e 
treinadores — digam -
-lhe o que está certo ou 
errado, pois procuram 
o valor das coisas em 
função de sua própria 
essência, não como 
valores alheios. Aqui, 
surgem numerosas 
dúvidas e se colocam 
importantes dilemas, 
processos que levarão 
a criança a incorporar 
uma decisão própria 
e a consolidar os 
critérios de valores que 
lhe servirão dali em 
diante. É o momento 
no qual as crianças 
passam muitas horas 
na escola, em contato 
com professores e 
treinadores. Portanto, 
esses profissionais
Provoca na criança 
a satisfação pessoal, 
culminando na 
realização do valor. 
Esse processo coincide 
com a etapa da 
adolescência e permite 
a superação do abalo 
sofrido na puberdade, 
surgindo a capacidade 
de encontro com os 
próprios pensamentos, 
sentimentos e desejos. 
É o momento no 
qual os adolescentes 
prescindem das 
normas estabelecidas, 
preocupando-se com os 
valores que sustentam 
as regras e normas 
sociais, configurando o 
mundo de seu eu ideal.
Quadro 2. Etapas de desenvolvimento moral da criança
(Continua)
Origem e histórico social e cultural do jogo10
Fonte: Adaptado de Múrcia e colaboradores (2008).
Aceitação de valores
Identificação 
de valores Convicção de valores
e o que transmitem 
os educadores e 
colegas. Por isso, 
são indispensáveis 
uma coordenação 
de interesses e uma 
coincidência de 
objetivos a fim de 
evitar que a criança 
chegue a uma 
ambiguidade e a uma 
perigosa contradição.
devem formular 
questões, estabelecer a 
orientação de metas e 
a busca de soluções, de 
modo que as crianças 
cheguem às suas 
próprias conclusões.
Quadro 2. Etapas de desenvolvimento moral da criança
Os jogos informais, os esportes infantis e os valores 
sociais
Os jogos informais ocupam posição média entre o jogo e o esporte organi-
zado. Mesmo que apresentem maior organização e estrutura do que os jogos 
infantis, eles mantêm o impulso do jogo. Você deve considerar a importância 
dos jogos informais para o desenvolvimento do caráter moral e social das 
crianças, uma vez que os programas de esportes juvenis organizados minam a 
riqueza cultural dos jogos infantis. Tais programas desenvolvem seu argumento 
com base em uma análise histórica e transcultural associada a uma reflexão 
saudosa da infância.
Como você viu, os jogos informais proporcionam um meio favorável para 
o desenvolvimento social e moral. Contudo, eles estão deixando de fazer 
parte do repertório das crianças. A seguir, você pode ver recomendações 
para melhorar a situação do ponto de vista da educação e da participação dos 
educadores no processo.
(Continuação)
11Origem e histórico social e cultural do jogo
 � Os professores de educação física, os adultos relacionados com a re-
creação infantil e os programas de esporte juvenil podem proporcionar 
oportunidades para que as crianças organizem e façam seus próprios 
jogos, bem como para que pratiquem os jogos propostos pelos adultos. 
 � Deve-se reafirmar o valor dos jogos informais e da brincadeira espon-
tânea nos contatos das crianças com pais e responsáveis. 
 � Pode-se ensinar às crianças os jogos ameaçados de desaparecimento. 
Muitas brincadeiras maravilhosas, que existiram durante gerações e 
eram transmitidas oralmente, são agora “espécies” em perigo de extin-
ção. O adulto deve ensinar como brincar e deixar as crianças à vontade. 
 � Finalmente, esse mesmo adulto pode ajudar a modificar os conceitos 
esportivos a fim de incorporar algumas das vantagens oferecidas pelos 
jogos informais.
1. Tendo em vista o perfil do jogo, 
sob o pontode vista fisiológico, 
o que é correto afirmar?
a) O jogo tem perfil utilitário.
b) O jogo tem perfil opcional.
c) O jogo tem perfil necessário.
d) O jogo tem perfil secundário.
e) O jogo tem perfil desprezível.
2. Do ponto de vista da educação, 
o que pode ser feito para 
melhorar a situação dos jogos 
informais? 
a) O valor dos jogos 
informais e brincadeiras 
deve ser considerado 
isoladamente pela escola.
b) Os professores devem propor 
diversas oportunidades 
de jogos e brincadeiras 
espontâneas.
c) A brincadeira e os jogos 
informais devem ser impostos e 
realizados de forma arbitrária.
d) Os conceitos dos jogos 
esportivos devem ser dissociados 
dos jogos informais.
e) Deve-se ensinar às crianças 
somente jogos novos.
3. Em relação ao desenvolvimento 
moral da criança, o que 
é correto afirmar?
a) Na fase de aceitação de valores, 
a criança assume valores 
próprios desde a infância.
b) Na fase de convicção de 
valores, surge a capacidade de 
encontro com os pensamentos 
na adolescência.
c) Na fase de aceitação de 
valores, a criança incorpora 
decisões próprias e consolida 
critérios e valores.
d) Na fase de convicção de 
valores, a criança confronta 
o que é dito pelos pais e 
pelos professores. 
Origem e histórico social e cultural do jogo12
e) Na fase de identificação de 
valores, a criança entende 
como seu o valor do outro.
4. No atual sistema educativo, os 
jogos e as brincadeiras podem 
ser entendidos a partir de três 
perspectivas: como objeto de 
estudo, estratégia metodológica e 
meio globalizador. Nesse contexto, o 
que caracteriza o objeto de estudo, 
a estratégia metodológica e o meio 
globalizador, respectivamente?
a) Conteúdo, inter-relações 
e motivação.
b) Motivação, conteúdo 
e inter-relações.
c) Conteúdo, motivação 
e inter-relações.
d) Motivação, inter-relações 
e conteúdo.
e) Inter-relações, conteúdo 
e motivação.
5. Na educação, quais são as 
“facilidades” apresentadas 
pelos jogos como conteúdos 
escolares? 
a) São aprendidos/
ensinados por partes.
b) Já são conhecidos pela criança.
c) São limitados à infância.
d) Priorizam a sofisticação.
e) Possuem regras fixas.
DARIDO, S. C.; RANGEL, I. C. A. (Coord.). Educação física na escola: implicações para a 
prática pedagógica. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017.
MURCIA, J. A. M. et al. Aprendizagem através do jogo. Porto Alegre: Artmed, 2008.
SARAIVA, J. A. et al. Palavras, brinquedos e brincadeiras: cultura oral na escola. Porto 
Alegre: Artmed, 2011.
Leituras recomendadas
FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. 4. ed. São 
Paulo: Scipione, 1997. (Pensamento e Ação no magistério).
KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2005.
13Origem e histórico social e cultural do jogo
Conteúdo:

Outros materiais