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1. INTRODUÇÃO
A aritmética é um sistema de manipulação de representações simbólicas de quantidades de evolução recente, é uma aquisição cultural propiciada pela interação do sistema analógico, impreciso, não simbólico, de representações de magnitudes com códigos verbais, orais e por escrito, viabilizando a elaboração de representações exatas de quantidades e suas manipulações por meio de algoritmos (DEHAENE, 2001 apud HAASE, WOOD e WILLMES, 2010).
A dificuldade com o uso da aritmética pode estar relacionada a fatores constitucionais, como no caso da discalculia do desenvolvimento ou por meio de doenças neurológicas, como a acalculia (WILLMES, 2008 apud HAASE, WOOD e WILLMES, 2010). Habilidades de quantificação e números são empregadas em várias atividades do cotidiano, como por exemplo, para rótulos verbais (CPF, telefones, etc.) e quantificadores cardinais (preços, quantidades, etc.). A falta de habilidades aritméticas é considerada mais incapacitante no que se refere à sustentação de uma ocupação remunerada do que o analfabetismo (PARSONS E BYNNER, 1997 apud HAASE, WOOD e WILLMES, 2010). 
A prevalência da discalculia do desenvolvimento varia de 3% a 6%, sendo similar à da dislexia (BUTTERWORTH, 2005 apud HAASE, WOOD e WILLMES, 2010). Com base no DSM-5, a Discalculia se enquadra em um Transtorno Específico da Aprendizagem com prejuízo na matemática e se refere a um padrão de dificuldades caracterizado por problemas no processamento de informações numéricas, aprendizagem de fatos aritméticos, realização de cálculos precisos ou fluentes e dificuldades adicionais na leitura de palavras e no raciocínio matemático.
Mesmo com ocorrência expressiva, há poucas investigações científicas sobre o tema, notadamente no que se refere à avaliação diagnóstica. No Brasil, a representação desse assunto em periódicos acadêmicos ainda é pequena (BASTOS, 2008). Revela-se importante e necessário, portanto, maior pesquisa e divulgação de informações sobre essa temática.
Esta pesquisa teve como objetivo geral apresentar revisão bibliográfica sobre o Transtorno de Aprendizagem relacionada a matemática, denominado discalculia, assim como elaborar, um material de apoio para entendimento da importância da avaliação neuropsicológica para a reabilitação neste tipo de Transtorno. A partir disso, foram delineados dois objetivos específicos. O primeiro foi levantar dados científicos sobre a Discalculia e suas classificações, pois, esclarecendo melhor o que é o transtorno, facilita-se a compreensão do mesmo e da importância da avaliação neuropsicológica. O segundo objetivo foi descrever a importância da avaliação neuropsicológica na discalculia para que intervenções como a reabilitação sejam utilizadas para trabalhar as dificuldades na aprendizagem, no uso das habilidades acadêmicas, inserção no mercado de trabalho e melhora das atividades do cotidiano, além disso, visa colaborar para que outros profissionais da psicologia possam ampliar seu conhecimento e realizar práticas mais efetivas e eficazes para o atendimento aos pacientes que apresentem discalculia.
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM
Fragoso Neto (2007) comenta que para ser considerado um transtorno, a dificuldade de aprendizagem deve estar presente desde o início da vida escolar, não sendo adquirida ao longo da escolarização e, em consequência de falta de oportunidades de aprender, interrupções na escolarização, traumatismo ou doença cerebral.
De acordo com o DSM-V, o Transtorno Específico da Aprendizagem é um transtorno do neurodesenvolvimento com origem biológica que é o eixo das anormalidades no nível cognitivo as quais são associadas com as manifestações comportamentais. A origem biológica engloba uma interação de fatores genéticos, ambientais e epigenéticos que instigam a capacidade do cérebro para processar ou perceber informações não verbais ou verbais com precisão e eficiência.
Como características diagnósticas no DSM IV, os transtornos da aprendizagem são diagnosticados quando os resultados do indivíduo em testes padronizados e individualmente administrados de matemática, leitura ou expressão escrita estão significativamente abaixo do esperado para sua idade (discrepância de mais de dois desvios-padrão entre rendimento e QI.), nível de inteligência e escolarização durante pelo menos seis meses. Os problemas de aprendizagem interferem consideravelmente nas atividades de vida diária e/ou no rendimento escolar que exigem habilidades de leitura, matemática ou escrita e os Transtornos da Aprendizagem podem persistir até a idade adulta.
A prevalência do transtorno é de 5 a 15% entre crianças em idade escolar, em diversas culturas e idiomas. Nos adultos a prevalência não é precisa, mas estima-se 4% e é mais comum no sexo masculino do que no feminino (proporções que variam cerca de 2:1 a 3:1). As consequências negativas do Transtorno envolvem desde o baixo desempenho acadêmico, evasão escolar no ensino médio, menor taxa de educação no ensino superior, taxas mais altas de desemprego, renda menor e subemprego até sintomas depressivos que incluem suicídio (DSM V).
2.2 DISCALCULIA
O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais- DMS-5 enquadra a Discalculia como um Transtorno Específico da Aprendizagem com prejuízo na matemática (F81.2), em que há prejuízo na matemática em relação ao senso numérico, memorização e aprendizagem de fatos numéricos, precisão no raciocínio matemático, na fluência de cálculo, problema no processamento de informações numéricas e na realização de cálculos precisos ou fluentes.
Já com base no Código Internacional de Doenças (CID 10), os Transtornos de Aprendizagem são caracterizados pela perturbação nos padrões normais de aquisição de habilidade desde os estágios iniciais do desenvolvimento. Eles não estão relacionados à falta de oportunidade de aprender, nem a traumatismo ou doença cerebral. Estudos sugerem que estão relacionados a algum tipo de disfunção biológica, originado nas anormalidades do processo cognitivo.
A etiologia da Discalculia do Desenvolvimento (DD) é possivelmente multifatorial, englobando alterações em múltiplos genes que interagem de forma complexa com o ambiente. Pesquisas genéticas indicam alta recorrência familiar (LANDERL & MOLL, 2010; SHALEV et al, 2001) e altos coeficientes de herdabilidade em estudos com gêmeos (ALARCON, DEFRIES, LIGHT & PENNINGTON, 1997). Em 2010, as primeiras análises de triagem genômica completa para DD foram publicadas. Diversos polimorfismos de nucleotídeos únicos se associaram ao desempenho em matemática. No entanto, os efeitos foram pequenos e aditivos, e a variância de desempenho foi explicada tanto por fatores gerais quanto por fatores específicos à matemática (DOCHERTY et al, 2010).
De acordo com Bastos (2006, p.202),
diferentes habilidades podem estar prejudicadas no transtorno da matemática, incluindo habilidades lingüísticas e perceptuais (por exemplo, reconhecer ou ler símbolos numéricos ou aritméticos e agrupar objetos em conjuntos), habilidades de atenção (Por exemplo, copiar corretamente números ou cifras, lembrar de somar os números " levado" e observar sinais de operação) e habilidades matemáticas (por exemplo, seguir sequências de etapas matemáticas, contar objetos e aprender as tabuadas de multiplicação).
Segundo Garciá (1998), a Discalculia é classificada em seis subtipos, podendo acontecer em combinações diferentes e com outros transtornos de aprendizagem:
· Discalculia Verbal: dificuldade para nomear as quantidades matemáticas, os números, os termos, os símbolos e as relações;
· Discalculia Practognóstica: dificuldade para enumerar, comparar e manipular objetos reais ou em imagens matematicamente;
· Discalculia Léxica: dificuldades na leitura de símbolos matemáticos;
· Discalculia Ideognóstica: dificuldades em fazer operações mentais e na compreensão de conceitos matemáticos;
· Discalculia Gráfica: dificuldades na escrita de símbolos matemáticos;
· Discalculia Operacional: Dificuldades na execução de operaçõese cálculos numéricos.
Embora reconheça os números, dependendo do subtipo de discalculia, a criança que tem transtorno matemático não irá conseguir estabelecer relações entre eles, montar operações e identificar corretamente os sinais matemáticos. Para ela, será como se o professor estivesse falando uma língua desconhecida.
2.3 AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA DA DISCALCULIA
A neuropsicologia é a ciência que estuda a relação entre o comportamento humano e o cérebro. Apesar de bastante estudada por diversos profissionais é uma área nova em pesquisas brasileiras (FIORI, 2008).
Sob o ponto de vista funcional, o sistema nervoso central de uma criança é diferente do de um adulto. Assim, uma disfunção cerebral numa criança tende a se manifestar como uma falha na aquisição de novas habilidades cognitivas e comportamentais. Como Manga e Ramos (1991) mencionam, a neuropsicologia infantil procura compreender a relação entre conduta no ser humano em desenvolvimento e o cérebro, preocupando-se, principalmente, com a criação de bateria de testes neuropsicológicos que possibilitem investigar e diagnosticar certas disfunções cerebrais que originam dificuldades específicas de aprendizagem infantil.
Com base em estudos de Fonseca (1995) na discalculia existem as dificuldades de associar símbolos visuais aos números; contar; aprender sistemas cardinais e ordinais; visualizar grupos de objetos; compreender o princípio da conservação; realizar operações aritméticas; perceber a significação dos sinais das operações matemáticas; ordenar números espacialmente; lembrar operações básicas, tabuadas; transportar números; seguir sequências; perceber princípios de medidas; relacionar o valor de moedas, entre outros, e estas dificuldades com base em Christensen (1987) demonstram que as funções neuropsicológicas indispensáveis nos processos de realização de cálculos não estão suficientemente desenvolvidas.
Nos estudos sobre Discalculia metade das crianças exibe prejuízos em leitura e déficits hereditários em memória semântica e operacional, cognição numérica, consciência fonológica, viso espacial e função executiva (IUCULIANO, 2016). De outro ponto de vista, alguns autores consideram que a maturação destas funções cognitivas podem ser moduladas ou agravadas por fatores ambientais, sendo influenciadas por fatores como o estresse (KAUFMANN E VON ASTER, 2012).
As queixas principais que caracterizam a discalculia, com base em KUCIAN e von ASTER (2013) são: prejuízo do senso numérico, dificuldades para estimar quantidades, reduzida capacidade de discriminação visual, dificuldade com a transcodificação de representações simbólicas, dificuldade para contar em ordem invertida, incompreensão do sistema decimal, prejuízo no desenvolvimento da linha numérica mental, capacidade limitada de recuperação de fatos aritméticos, dificuldade para decompor um problema em partes, incompreensão dos procedimentos de cálculo e seus conceitos, além de estratégias imaturas de contagem.
Segundo Christensen (1987), na avaliação neuropsicológica emprega-se de provas exploratórias, como por exemplo, as utilizadas por Luria em diagnósticos neuropsicológicos, sobre a compreensão da estrutura do número e das operações aritméticas, estabelecendo uma relação entre as condutas comportamentais de alunos discalcúlicos com a localização cerebral dos transtornos neuropsicológicos. Essas provas diagnósticas investigam a compreensão, a estrutura e o reconhecimento de números, as diferenças numéricas, cálculos mentais simples, operações aritméticas complexas, sinais aritméticos, expressões numéricas simples, séries de operações aritméticas consecutivas e orais, entre outras.
Atualmente, existem poucos testes padronizados e específicos para a discalculia. Em âmbito internacional, é possível citar o teste “Dyscalculia Screener” (BUTTERWORTH, 2003), que foi criado e adaptado em forma de website interativo (LUCULANO, TANG & BUTTERWORTH, 2008). Outros estudos e testes buscam utilizar e adaptar os resultados de testes preexistentes, criados com outros objetivos, como a escala de inteligência Weshler, terceira edição – WISC IV (FIGUEIREDO, PINHEIRO & NASCIMENTO, 1998), e o Teste de Desempenho Escolar (TDE) (STEIN, 1994).
2.4 IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA NA DISCALCULIA PARA A (RE) HABILITAÇÃO NEUROPSICOLÓGICA
A neuropsicologia utiliza vários instrumentos de medidas e procedimentos: testes psicológicos, desenho, tarefas, observação, entrevista e escalas. O objetivo desta ciência é aprofundar o estudo da relação entre o cérebro e o comportamento humano em condições normais ou patológicas (TEETER & CLIKEMAN, 1997). O exame neuropsicológico avalia o funcionamento cognitivo e comportamental, o que permite compreender sobre o funcionamento cerebral, inferindo as disfunções cognitivas e comportamentais resultantes de condições neurológicas e psiquiátricas específicas e seu impacto na vida das pessoas (TEETER & CLIKEMAN, 1997). Enquanto que a reabilitação, seja de orientação cognitiva ou neuropsicológica, objetiva minimizar os efeitos de déficits cognitivos e alterações de comportamento que representam obstáculos ao desempenho adequado em tarefas da vida diária, assim como estimular a aquisição de novas habilidades e a adaptação às perdas permanentes, por meio do treino de estratégias compensatórias (SOLBERG & MATEER, 2009).
Poucas pessoas ainda tem consciência da importância do estudo do transtorno. Se o estudo não for realizado e não tivermos pesquisas, inviabiliza a generalização dos conhecimentos, afeta também os estudos estatísticos e impede a definição de ferramentas diagnósticas mais apropriadas, que consequentemente diagnósticos imprecisos e tratamentos inapropriados são adotados (MURPHY et al., 2007). 
A maior diferença entre habilitação e reabilitação neuropsicológica é justamente a existência ou não de lesão. Se nos casos da habilitação neuropsicológica, estamos a estruturar funções ainda não adquiridas pelo indivíduo ou que se encontram com desempenho fraco em suas tarefas diárias frente à demanda do ambiente e na presença de um cérebro disponível; nos casos de reabilitação neuropsicológica estamos a recuperar funções perdidas, recrutando zonas cerebrais que anteriormente não integravam o sistema funcional daquela função, de modo a compensar as zonas que não podem mais dar o seu contributo devido a lesão. Por ser de certa forma artificial, este é um processo relativamente longo durante o qual o cérebro “aprende” um novo “caminho” para o mesmo resultado (NARCISO, 2015).
Segundo Fiori (2008), o conhecimento dos métodos neuropsicológicos possibilita não apenas avaliação e diagnóstico mais precoce e exato, como também a composição e estabelecimento de programas de ação terapêutica e reeducação.
O diagnóstico precoce seguido pelo encaminhamento a uma equipe multidisciplinar pode resultar de forma muito positiva para o individuo com Discalculia. O programa de intervenção deve ser construído com base nas diferentes características de cada indivíduo, de forma a reabilitar seus comprometimentos aritméticos e potencializar as habilidades existentes. No caso de criança a qual os pais recebem orientação sobre as dificuldades apresentadas pelo filho e se envolvem de forma colaborativa no processo de tratamento possui melhor prognóstico (SIQUEIRA E GURGEL-GIANNETTI, 2011). 
Na reabilitação neuropsicológica a orientação é para metas funcionais significativas, aplicadas às diversas áreas de vida, buscando a integração da pessoa com dano cerebral ao seu ambiente da forma mais autônomo possível (WILSON, 2011; PRIGATANO, 1997 apud CARDOSO, MELO & FREITAS, 2013). Conforme Wilson (2002 apud CARDOSO, MELO & FREITAS, 2013) enfatiza, para realizar uma reabilitação cognitiva é preciso associar metodologia cientifica, teoria e relevância clínica neste contexto.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2011), a reabilitação é composta por diversas medidas proativas para sustentação de um nível de funcionamento proveitoso à interação de pessoas com deficiências ou possibilidadede tê-las e objetiva que essas pessoas possam ter suas atividades de vida diária sem prejuízo e com participação na sociedade, tanto no âmbito educacional e civil quanto no laboral.
A reabilitação estimula as habilidades cognitivas como alerta, atenção, memória, com o objetivo de corrigir processos cognitivos disfuncionais independentemente da fase do desenvolvimento humano (PRIGATANO, 2000). A intervenção de reabilitação mais efetiva é adaptada ao perfil, desenvolvida preferencialmente no formato individual e com diversas repetições, por programas elaborados de forma estruturada e que mescle assuntos curriculares e não curriculares e articulem a motivação por meio de recompensas e pela redução de ansiedade relacionada a matemática (KUCIAN & VON ASTER, 2013).
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
Para a elaboração do presente trabalho foi realizado pesquisa bibliográfica e teórica de cunho exploratório-descritivo, com o propósito de levantar as teorias atualmente mais aceitas em relação à identificação da discalculia, assim como elaborar um material de apoio sobre a importância da avaliação neuropsicológica para a reabilitação neste tipo de transtorno citado. Parte das buscas foi realizada em livros de psicologia e neuropsicologia e bases de dados e periódicos eletrônicos disponíveis online do Scientific Libary OnLine (SciElo), PEPSIC– Periódicos Eletrônicos em Psicologia e no Google Acadêmico. Na busca foram utilizadas as principais palavras-chave: “dyscalculia”, “discalculia”, “neuropsicologia” e “reabilitação neuropsicológica”.
4. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
 O desenvolvimento do presente estudo possibilitou a compreensão aprofundada do tipo de Transtorno que a discalculia se enquadra e observar que atualmente existem poucos estudos sobre o tema, porém tem alta prevalência. É um Transtorno que interfere nas atividades diárias, na inserção no mercado de trabalho e no rendimento escolar, quando não tratado. 
A discalculia é um Transtorno de Aprendizagem que tem alta prevalência, principalmente em homens e acomete as dificuldades em matemática, com alguns subtipos que variam conforme o tipo de dificuldade. A avaliação neuropsicológica faz parte de uma ciência nova no Brasil, e atualmente existem poucos testes padronizados para a avaliação da discalculia, que são o Dyscalculia Screener, TDE e a o Teste de Inteligência WISC.
Como em qualquer outro transtorno neurocognitivo e comportamental, a detecção precoce, o diagnóstico e o tratamento adequado são os recursos necessários para aumentar as chances de um bom prognóstico. A avaliação neuropsicológica das disfunções da numerosidade qualifica e quantifica as limitações e também identifica as funções mais desenvolvidas.
A (re) habilitação neuropsicológica neste caso estimula as habilidades cognitivas numéricas básicas, como álgebra, trigonometria, geometria e cálculo, e a memória operacional, que está bastante relacionada à numerosidade, quando adaptada ao perfil de forma estruturada permite reabilitar os comprometimentos aritméticos e potencializar as habilidades existentes. 
A reabilitação cognitiva é um dos elementos da reabilitação neuropsicológica tendo como principal atividade o treino cognitivo, com o objetivo de lidar melhor com a aprendizagem em questão. Os treinos são construídos por meio de estratégias, como tarefas específicas focadas em habilidades, multidomínios, como jogos cognitivos que envolvem diferentes domínios cognitivos e processos focados em capacidades gerais que subsidiam as outras capacidades. No decorrer do treino são avaliadas as alterações de desempenho para avaliar se está sendo efetivo e gerando resultado satisfatório.
O estudo das comorbidades é essencial para definir o tipo de reabilitação adequada a cada caso. A importância da avaliação neuropsicológica para a reabilitação foi demonstrada por meio de pesquisas que apontam que os conhecimentos dos métodos neuropsicológicos proporcionam não apenas avaliação e diagnóstico mais precoce e exato, como também a composição e estabelecimento de programas de ação terapêutica, seja em casa, na escola ou em programas de (re) habilitação.
A avaliação necessariamente deve ter um caráter multidimensional e ser de preferência realizada por um profissional com formação em neuropsicologia. A avaliação multidimensional considera o domínio específico (cognição numérica), o domínio geral (outras habilidades cognitivas já adquiridas), diagnóstico diferencial, dimensão afetiva e anamnese. Antes de seguir com as avaliações, é necessário identificar e excluir possíveis problemas comportamentais, emocionais e absenteísmo as aulas, para seguir com o diagnóstico.
Todos os objetivos propostos foram cumpridos com a metodologia de pesquisa bibliográfica e teórica de cunho exploratório-descritivo, apesar da dificuldade encontrada pelos poucos estudos realizados até o momento sobre o tema.
Recomenda-se que sejam realizadas mais pesquisas científicas para padronização de testes no Brasil que avaliam a discalculia e seus diferentes subtipos para tornar possível o aprimoramento da avaliação neuropsicológica e os treinos de habilitação e reabilitação neuropsicológica na discalculia, além de que conforme as pesquisas indicaram, quanto antes se constata o Transtorno pela avaliação neuropsicológica, torna-se mais efetiva a obtenção de resultados na reabilitação neuropsicológica, pois a avaliação permite identificar quais funções precisam ser desenvolvidas e quais já são mais desenvolvidas, e assim utilizar destas para desenvolver as funções necessárias.
O aprofundamento das características clínicas de quem tem o Transtorno Específico de Aprendizagem é possível estudar por meio de estudos de casos, pois a criança com o Transtorno apresenta desde o início do seu desenvolvimento um atraso para perceber e manipular numerosidades.
A discalculia não se trata de um transtorno com processo degenerativo progressivo, porém constitui-se de disfunções que são resistentes ao tratamento, por isso a importância de compreender melhor as disfunções e até mesmo os principais motivos da resistência do tratamento. 
Caso o diagnóstico da avaliação neuropsicológica seja a discalculia, é extremamente importância o encaminhamento para a psicoeducação para pais e professores e propostas de (re) habilitação.
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