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Revisões / Reviews 35 Volume X Nº3 Maio/Junho 2008 A violência é encarada como um problema social. Quando se pretende compreender a génese das condutas violentas, a maio- ria dos estudos centra-se no lobo frontal, particularmente, no lobo pré-frontal. Assim, este artigo dedica-se a uma revisão da literatura, nos últimos dois anos, em ordem a analisar se existe uma relação entre as disfunções no córtex pré-frontal e os com- portamentos violentos. A nossa pesquisa identificou catorze estudos. Os resultados são apresentados por sectores: órbito-frontal, ventromedial, dorsola- teral e ventrolateral. Com efeito, parece ser evidente o risco que as disfunções acarretam no desenvolvimento de comportamentos agressivos, nomeadamente, na inibição, na empatia, na memória e na moratória. Não obstante a rede de regiões neurais, concluiu-se que o córtex órbito-frontal (COF) regula a auto-monitorização adaptativa e o acesso à informação do estímulo; o córtex ventromedial (CVM) envolve-se no julgamento e no conhecimento moral; o córtex ventrolateral (CVL) relaciona-se com a aprendizagem retrospectiva e a inibição comportamental; e o córtex dorsolateral (CDL) suporta o raciocínio prospectivo e a atenção. Em jeito de conclusão, são apontadas algumas sugestões para futuras investigações. Palavras-chave: órbito-frontal, dorsolateral, ventromedial, ven- trolateral, violência. Continua: Resumo / Abstract Sónia Alexandra Cortinhas de Carvalho Mestranda da Universidade do Porto João Marques – Teixeira Professor da Universidade do Porto Correspondência com o artigo: soniaacortinhas@gmail.com Tlf: 965 316 100 Revisão da Literatura: Córtex Pré-frontal e Comportamentos Violentos Literature Review: Prefrontal Cortex and Violent Behaviors Introdução Os crimes violentos foram sempre vistos como um problema significativo da ordem e da saúde pública a nível mundial, mas eles existem desde o berço da humanidade. Aliás, os antro- pólogos e os historiadores reconhecem que a violência se res- guarda em qualquer cultura, inclusivé, nas mais primitivas. O Relatório Global sobre Assentamentos Humanos das Na- ções Unidas (UN-Habitat) frisa o aumento estatístico de crimes violentos a nível mundial, nomeadamente, o crime contra a propriedade, a violência doméstica e o homicídio[1]. Em Portugal, de acordo com o Relatório Anual de Segurança Revisões / Reviews Saúde Mental Mental Health 36 Interna do Ministério da Administração Interna[ 2 ], verificou-se, no geral, o acréscimo de ocorrências criminais participadas às Forças de Segurança e à Policia Judiciária, totalizando 391.085 participações, mais 2% que no ano 2005. No âmbito da crimi- nalidade intitulada de violenta e grave, observou-se também uma subida de 2% em relação ao ano anterior, o que reflecte o seu reduzido impacto no total nacional (5.5%). De entre os crimes situados nesta categoria, salientam-se o crime por furto (80%); rapto, sequestro e tomada de reféns (26.9%); homicídio voluntário consumado (20.5%); e violação (6.1%). Podem ser adoptados diferentes pontos de vista na tentativa de compreender e explicar os comportamentos violentos[3]. As visões explicativas que inicialmente repousavam sob teorias causais e estáticas deram lugar, nos últimos 20 anos, à neces- sidade de uma integração multifactorial de factores biológicos, psicológicos e sociais, cruciais para a compreensão etológica e preventiva do crime[4]. Em simultâneo, os avanços tecnológicos têm comprovado a participação de determinadas estruturas cerebrais na me- diação da agressão/violência, nomeadamente, através de estudos com técnicas de neuroimagem (Tomografia Assisti- da por Computador, Tomografia por Emissão de Pósitrons, Electroencefalografia e Imagem por Ressonância Magnética), neuropsicológicas e avaliações neuroquímicas. Com efeito, a produção científica tem evidenciado, recorrendo a estas técnicas, que as lesões ou défices no sistema límbico, angular gyrus, lobo temporal, parietal e frontal contribuem para os comportamentos violentos[5,6]. Se bem que os sistemas cerebrais sejam interdependentes, as disfunções nas suas estruturas traduzem, em maior ou menor grau de intensidade, modificações nos padrões com- portamentais e funcionais em áreas inerentes à motivação, expressão, memória, integração de funções sensoriais e exe- cução motora[ 7]. Contudo, quando se pretende compreender a génese das con- dutas violentas, os estudos centram-se especialmente no lobo frontal - área motora, pré-motora e pré-frontal -, sem descurar a importância de outras áreas associativas do cérebro[7,8]. De facto, o lobo frontal desempenha um papel fulcral no pla- neamento, iniciação, integração, implementação, e atenção no acompanhamento de acções complexas; condições essas que se reúnem sob o termo “funções executivas”. De entre as áreas do córtex pré-frontal que têm sido implicadas nos com- portamentos violentos e antissociais, sobressaem as regiões dorsolateral, orbital, ventromedial e ventrolateral. Os estudos dedicados ao COF indicam que os indivíduos lesionados são caracteristicamente impulsivos, desconcentra- dos, indiferentes às consequências do seu comportamento[9] e agressivos[10]. Adicionalmente, salientam-se os défices no com- portamento interpessoal, ao nível do processamento emocional e auto-monitorização adaptativa (e.g., não demonstrar ansie- dade antes de tarefas de elevado risco, dificuldade em avaliar quais os comportamentos aliciadores de emoções negativas/ positivas, adoptar apropriadamente o comportamento num determinado contexto, em ordem a corresponder aos objec- tivos e às expectativas dos outros)[11]. Apesar da semelhança com o pré-frontal lateral na função selectiva de respostas, é sugerido que COF é recrutado especialmente em situações complexas e ambíguas, tornando as decisões mais intuitivas ou emocionais. Outros autores referem: nos danos precoces, a pobre aquisição da moral e de regras sociais[12]; a redução Continuação: Violence has been viewed as a social problem. To understand the origin of violent actions, the majority of the studies are focu- sed in frontal lobe, particularly, in prefrontal lobe. So, this article dedicates a literature review, in order to analyze if there’s a rela- tionship between prefrontal cortex dysfunctions and aggressive behaviours. Our search identified fourteen studies. The results are displayed for categories: orbitofrontal, ventromedial, dorsolateral and ven- trolateral. In this way, it seems that the impaired functions predis- pose a major risk in development of violent behaviours, namely, in inhibition, in empathy, in memory and in moratorium. Nevertheless the networks of neural regions, the findings provide evidence that orbitofrontal cortex (OFC) regulates the adaptable behaviour and the access to stimulus information; the ventrome- dial cortex (VMC) involves the moral judgment and knowledge; the ventrolateral cortex (VLC) serves the retroactive learning and the behavioural inhibition; and the dorsolateral cortex (DLC) su- pports the retrospective reasoning and the attention. In conclu- sion, are pronounced some suggestions to future investigations. Key–words: orbitofrontal, ventromedial, ventrolateral, dorsolate- ral, violence. Revisões / Reviews 37 Volume X Nº3 Maio/Junho 2008 do metabolismo da glicose no COF e no CVM em pacientes impulsivos e em crianças agressivas[13,14]. O adicional envolvimento do CDL pode predispor a sequelas no planeamento, na atenção e na resposta preservativa[5]. Em certo modo, este sector está envolvido na representação de objectivos, consonantes com os estados afectivos positivos ou negativos[15]. Averiguou-se ainda o reduzido metabolismo no CDL em pacientes agressivos e em crianças agressivas com epilepsia[13,16]; o funcionamento anormal do CDL durante uma tarefaemocional, segundo um estudo de fMRI[17]. Os estudos atinentes ao CVL adoptam tarefas que requerem a inibição de respostas[18] e a aprendizagem retroactiva[19,20]. As disfunções no lobo frontal, particularmente no COF e CVL, incrementam a agressão reactiva[21], assim como as patologias (e.g., psicopatia)[19,22]. Desde o caso dramático de Phineas Gage, as investigações de- bruçam-se ainda sobre as lesões no CVM, das quais resultam a “sociopatia adquirida”, a “sociopatia desenvolvimental” ou a “pseudopsicopatia”. Nesta linha, tem sido acusada a agres- sividade, a inadequação social[23], as dificuldades na tomada de decisão (e.g., antecipação afectiva de consequências), a reduzida condutância eléctrica da pele quanto ao estímulo pre- ditor de consequências negativas[5]. A sua alteração resultaria na atenuação do valor emocional dos dilemas morais, acom- panhada de respostas desinibidas[24]. É, outrossim, sugerido que esta região se encontra mais envolvida na representação de estados afectivos negativos ou positivos na ausência de incentivos imediatos e presentes[15]. Há uma notável evidência sobre a participação da psicopa- tologia nos crimes ou nos comportamentos violentos[3,8,25]. Verificou-se a elevada incidência de desordens psiquiátricas em população encarcerada, e só aproximadamente 25% de indivíduos beneficiavam de tratamento farmacológico, ou são considerados legalmente “insanos”[26]. Uma revisão sistemática de diversos estudos mostrou que cerca de 23.000 prisioneiros estavam mais predispostos a ter a psicose ou a depressão major e, acentuadamente, exibir a desordem de personalidade antissocial do que a população geral[27]. Numa revisão da literatura, é referido que os esquizofrénicos apresentam tendencialmente um risco mais elevado de praticar crimes violentos, em relação às pessoas não esquizofrénicas, embora se denote, neste aspecto, bastante inconsistência empírica[28]. Na psicopatia também têm sido reportados défices no CVM[22], no CVL[29], mas a mensuração respeitante ao efeito das lesões no COF com a Iowa Gambling Task, indica algumas discordân- cias quando são feitas comparações com os não-psicopatas[30]. Alguns investigadores sugerem que, em detrimento dos défices no CDL, são mais prováveis nos psicopatas no COF[24]. Noutra revisão da literatura[23] sobre a personalidade anti-social (PAP), é referido o envolvimento de regiões mediais e laterais do CPF. Segundo os estudos de fMRI com tarefas de con- dicionamento (e.g., medo, inibição), tem sido observado um aumento da intensidade do sinal na amígdala e nas regiões do CPF (e.g., dorsolateral, órbito-frontal) em pacientes com PAP, porém, não diferindo no desempenho em relação ao grupo de controlo. Desta maneira, sugeriu-se um provável esforço extra para o processamento de emoções negativas, o qual se designou por estratégia compensatória. No geral, no que respeita ao córtex pré-frontal, tem sido rela- tado a redução da matéria cinzenta em indivíduos antissociais e psicopatas[3,32]; a correlação entre o menor fluxo do sangue no lobo frontal e o aumento dos comportamentos agressivos manifestados por ofensores não-psicopatas[34]; a menor ac- tivação do córtex pré-frontal e das regiões angular gyrus em homicidas[35]. Há quem frise que a disfunção do CPF durante a adolescência, enquanto período crítico desenvolvimental, deixa perturbações no comportamento dirigido a objectivos e na auto-regulação emocional, traduzindo um elevado risco de se tornar cronica- mente antissocial na vida adulta[25]. O mesmo se pode dizer sobre outros períodos desenvolvimentais: período neonatal e infância[12,36]. Posta em evidência o enquadramento da temática, o presente trabalho dedica-se a uma revisão das produções científicas, em ordem a analisar a seguinte questão: 1) existe uma relação entre as disfunções (lesões e défices) no córtex pré-frontal e os comportamentos violentos? 2. Método 2.1. Procedimento Partindo de um artigo de revisão intitulado “Homicídio e lobo frontal”[7], procedeu-se a uma revisão sistemática da literatura sobre o tema supracitado, mediante o levantamento de artigos científicos nos últimos dois anos (2006 e 2007), nas seguintes bases de dados: Medline, ScienceDirect, Oxfords Journals e Pubmed. Cruzaram-se as palavras-chave “pré-frontal”, “órbito- Revisões / Reviews Saúde Mental Mental Health 38 frontal”, “dorsolateral” e “ventromedial” com “crime”, “violên- cia”, “agressividade”, “homicídio”, “moral”, “esquizofrenia”, “psicopatia” e “antissocial”. Na selecção dos artigos, foram examinados os resumos, atendendo a: 1) termos “órbito-frontal”, “dorsolateral”, “ven- tromedial” e “ventrolateral”, uma vez que a apresentação dos resultados seguirá esta estrutura dimensional (por áreas); 2) termos “défices” e “lesões”; 3) tipo de artigo (seleccionaram-se apenas os estudos empíricos). No total, foram seleccionados 14 artigos. Relativamente ao peso percentual dos artigos nas diferen- tes bases de dados, saliente-se: 64.29% no Science Direct, 14.29% no Medline, 14.29.% no Oxford Journals e 7.13% no Pubmed. Este desnível deve-se, em parte, à indisponibilidade de acesso directo à informação. No que toca às metodologias utilizadas nos artigos em revisão, estes socorrem-se, na sua maioria, da ressonância magnética e de testes neuropsico- lógicos. Contudo, notou-se que são escassos os estudos empíricos dedicados à exploração das áreas cerebrais acima enunciadas com amostras constituídas por criminosos ou ofensores com histórias de violência, excepto para o COF. No geral, é abordada a relação da psicopatologia com o comportamento agressivo, impulsivo e antissocial, e quando se recorre a amostras de sujeitos saudáveis são pesquisadas essencialmente as funções cerebrais no comportamento. Por outro lado, há consideravelmente estudos dedicados ao impacto das lesões no comportamento (agressivo), em parti- cular, no CVM. Desta forma, como não é possível apresentar uma relação directa entre as disfunções no lobo pré-frontal e os crimes violentos, também devido ao espaço das datas pesqui- sadas, tentaremos demonstrar em que medida as disfunções contribuem para os comportamentos violentos. 3. Resultados 3.1. Sector Órbito-Frontal Antonucci et. al.[37] examinaram 15 sujeitos não psicóticos de duas clínicas psiquiátricas, a fim de analisar a associação en- tre o volume do COF e a agressividade/impulsividade. Estes, clinicamente estáveis, foram submetidos ao preenchimento de três questionários avaliadores da agressão/ impulsividade (e.g., Barratt Impulsivity Scale, Lifetime History of Aggression Scale-Revised e Buss-Perry Physical Aggression Subescale) e à ressonância magnética em imagem (eMRI). Os resultados indicaram uma associação significativa e positiva do volume da matéria cinzenta/ assimetria do COF com a impulsividade mo- tora e agressão, respectivamente. Para os participantes com a desordem afectiva, houve uma forte associação da assimetria do COF com as medidas psicométricas da agressão. Por outro lado, para os participantes sem esta desordem, houve uma associação forte e positiva do COF e as subescalas medidoras da impulsividade. Estes resultados sugerem um papel distintivo do COF na relação com a agressão/ impulsividade, ou seja, a agressividade e a impulsividade traduzem diferentes modelos de organização no COF. Os autores salientam a concordância destes resultados com os estudos prévios, que têm evidencia- do a actuação do COF e CVM na regulação da agressividade e na geração da impulsividade (motora e não-planeamento). Coccaro et. al.[38] comparam 10 sujeitos não medicados e diagnosticados com a desordem explosiva intermitente (IED) com 10 saudáveis, em ordem a investigar a reactividade da função amígdala-COF durante uma tarefa emocional pela res- sonância magnética em imagem (fMRI). Incluíram-se medidas comportamentais(e.g., Lifetime History of Aggression Scale- Revised, Buss-Perry Aggression Questionnaire, State-Trait Anger Expression Inventory e Beck Depression Inventory). Os resultados mostraram a ausência de diferenças significati- vas entre os grupos quanto à performance. Porém, segundo a fMRI, os indivíduos com a desordem explosiva intermitente exibiram uma hiperactivação na amígdala e uma hipoactivação no COF nas tarefas emocionais (processamento de emoções implícitas e explicitas); além disso, não se verificou a conexão amídgala-COF durante as mesmas respostas, ao invés do grupo de controlo. Deste modo, os autores pressupõem que a interacção disfun- cional amídgala-COF compromete as respostas sociais dos sujeitos com uma história prévia de comportamento impulsivo/ agressivo, e substancia também o défice interaccional entre o network córtice-límbico e a agressão. Entrementes, não se aplicaram medidas comportamentais quanto à impulsividade, e a própria natureza da tarefa pode recrutar sobretudo funções da amígdala do que do COF. Beer, Oliver, Scabini e Knight[39] propuseram analisar o papel do COF na auto-monitorização, apropriação do comportamento interpessoal e emoções sociais (e.g., embaraço). Nesta linha, 4 participantes lesionados no COF e 4 lesionados no CPF lateral foram comparados com 8 participantes saudáveis (divididos em 2 grupos), numa tarefa interpessoal (conversação com Revisões / Reviews 39 Volume X Nº3 Maio/Junho 2008 um estranho), mas antes avaliaram-nos quanto ao conhe- cimento de normas sociais. Após completarem a tarefa, os participantes reputaram em que medida sentiram apropriado revelar informação pessoal/íntima aquando a conversa com o “estranho”, e seguidamente à visualização de um filme, os mesmos avaliaram em que medida se sentiram embaraçados, furiosos, angustiados, etc, baseando-se em escalas. Os resultados salientaram a “ignorância” dos pacientes lesio- nados no COF, cuja performance “violou” as normas sociais, e o embaraço associado à inadequação do comportamento emergiu só depois da visualização do filme. Os autores suben- tendem que a lesão no COF deturpa o discernimento na aquisi- ção de informações emocionais complementares, necessárias à auto-monitorização. No entanto, não é abordada a influência da amígdala ou de outras estruturas cerebrais, já que se fala na emoção e nos aspectos cognitivos inerentes ao comporta- mento adaptativo concordante com as regras sociais. Hoaken, Allaby e Earle[40] investigaram o desempenho de 20 ofensores violentos, 20 ofensores não-violentos encarcerados e 20 de controlo quanto a 1) funções cognitivas e 2) reconhe- cimento afectivo de expressões faciais. A classificação divisora do tipo de violência foi baseada na definição apresentada por Harris e colaboradores citados pelo mesmo autor, e nas infor- mações clínicas de ficheiros dos prisioneiros. Os testes usados foram os seguintes: 1) Conditioned Non- spatial-Association Test, Concrete Subject-Ordered Working Memory Test e Abstract Subject-Ordered Working Memory Test; 2) Ekman Facial Affect Recognition task. Por conseguinte, verificou-se a pobre performance dos dois grupos ofensores nas medidas de função executiva, em relação ao grupo de con- trolo; o pobre reconhecimento do grupo ofensores violentos na tarefa de reconhecimento afectivo das faces, ao invés de outros dois grupos; e os défices executivos associavam-se signifi- cativamente às dificuldades de interpretação afectiva. Estes défices cognitivos são explicados, baseando-se nos aspectos do córtex pré-frontal, mas sem se especificar, no entanto, as estruturas do CPF ou a influência de outras estruturas. Birbaumer et. al.[41] compararam 10 psicopatas criminais com 10 sujeitos saudáveis, visando testar a hipótese se este comportamento pode ser consequência de um deficiente condicionamento do medo, através da fMRI e avaliações da resposta electrodérmica, seguindo as matrizes pavlovianos. Os psicopatas foram seleccionados segundo o Psychopathy Check-Revised (PCL-R) e, devido a certos constrangimentos na recolha de dados, esta demorou mais de 2 anos. Com efeito, os resultados apontaram, nos psicopatas, uma insufici- ência significativa da activação do circuito límbico - pré-frontal (amígdala, COF, ínsula e cingulado anterior) durante a aquisição do paradigma (só a activação na amígdala direita), o mesmo acontecendo na condutância eléctrica da pele. Em contraste, o grupo de controlo mostrou uma activação “estável” do mesmo circuito (activação substancial da amígdala esquerda e COF esquerdo). Estas observações sugerem uma certa dissociação do processamento emocional e cognitivo, resultante do retrocesso sobre a antecipação de acontecimen- tos aversivos nos psicopatas. 3.2. Sector Ventromedial Fellows[42] comparou 21 sujeitos lesionados no CVM com 11 sujeitos lesionados no córtex frontal (dorsal e lateral) e 21 sujeitos saudáveis, de forma a explorar os efeitos das lesões na tomada de decisão. Seleccionaram os participantes atra- vés de fMRI, informações clínicas e medição do Quociente de Inteligência. Os participantes efectuaram escolhas face à informação estandardizada apresentada num quadro (e.g., escolher o apartamento correcto). Os resultados assinalaram estratégias diferentes entre os grupos. Enquanto os participantes de controlo e os lesio- nados no córtex frontal basearam as suas estratégias numa pesquisa “baseada no atributo”, os participantes lesionados no CMV seguiram uma estratégia “baseada na alternativa”, mas o desempenho global não foi afectado pelo aumento da complexidade (e.g., quantidade de informação adquirida). Assim, o autor sugere que estas diferenças sistemáticas podem afectar a qualidade das escolhas dos participantes lesionados no CVM, susceptíveis de serem consideradas “impulsivas” (e.g., não examinar a informação toda, diferentes objectivos) e, enfim, admite que o processo de tomada de decisão é, de facto, suportado pelo sector ventromedial. Ciaramelli, Muccioli, Ládavas e Pellegrino[43] avaliaram 7 pa- cientes lesionados na região ventromedial e 12 indivíduos saudáveis, através da fMRI e de tarefas com dilemas morais pessoais, impessoais e não morais. Todos os pacientes apre- sentavam um declínio na conduta interpessoal, retrocesso no cumprimento das normas sociais e “alienação” emocional. Os testes neuropsicológicos aplicados indiciaram competên- cias intelectuais íntegras, mas com moderados problemas nas funções executivas e de memória. Assim, introduziram pergun- Revisões / Reviews Saúde Mental Mental Health 40 tas de memória, além de outras, durante a experimentação. Nos resultados, verificou-se que todos os pacientes mostra- ram-se capazes de recordar os aspectos relevantes do cenário, enquanto realizavam as suas decisões; mas foram mais rápidos e mais inclinados do que o grupo de controlo em “autorizar” as violações morais nos dilemas morais pessoais, enquanto nos dilemas impessoais não se observaram diferenças de desempenho. Os autores concluem que o CVM é necessário para confrontar as violações morais, possivelmente, através de reacções emocionais e antecipatórias que influem a escolha e o comportamento moral. Todavia, os autores não aplicaram, de facto, medidas comportamentais para concluírem as ditas dificuldades interpessoais na fase da selecção. Robertson et. al.[44] examinaram 16 participantes saudáveis, sem nenhuma história psiquiátrica ou desordens neurológicas. Estes foram pré-testados na rapidez de leitura, usando-se o subteste Sight Word Efficiency, e demonstraram uma boa amplitude de palavras lidas. Em ordem a analisar a topologia da cognição moral, socorreram-se da fMRI e de narrativas (morais e não-morais). Enquanto a sensibilidade para o sentido de justiça estava associada a uma maior activação do sulcus intraparietal esquerdo, a sensibilidade parabenevolência estava associada a uma maior activação do tálamo, córtex cingulado posterior, córtex pré-frontal ventromedial e dorsolateral. Estes resultados sugerem o importante papel destas regiões no aces- so às experiências/histórias pessoais (suportada pela memória autobiográfica), identidades e perspectivas sociais; possibilitam as representações neurais do processo da sensibilidade moral; e suportam diferentes processamentos da informação neural para o reconhecimento interpretativo de questões da justiça e benevolência morais. 3.3. Sector Ventrolateral Kaladjian et. al.[45] compararam 21 esquizofrénicos não pacien- tes com 21saudáveis, através da fMRI, no intuito de identificar as áreas cerebrais especificamente associadas às respostas inibitórias, durante uma tarefa Go-NoGo (e.g., carregar num botão aquando o aparecimento do sinal). Os participantes preencheram os seguintes critérios: nenhuma história de abuso de drogas ou de desordens neurológicas; parâmetros da Struc- tured clinical Interview for DSM-IV Axis I Disorders e National Adult Reading Test. Comparando os sujeitos saudáveis com os esquizofrénicos, estes exibiram uma diminuição significativa na activação durante a inibição da resposta motora só no CVL direito. Os autores concluem que esta região é crítica para a inibição do comportamento impulsivo e sugerem que pode ser uma chave decisiva para as desordens psiquiátricas. Mitchell, Rhodes, Pine e Blair[46] examinaram 13 voluntários, sem antecedentes psiquiátricos ou ingestão actual de medi- cação, de forma a determinar quais as regiões implicadas na “aprendizagem retroactiva”. Socorreram-se da fMRI, em com- binação com uma tarefa de tomada de decisão (e.g., vender ou manter o stock) com diferentes condições de valores dos reforços e de respostas. Antes do início da experiência, houve 24 tentativas de treino. Os resultados mostraram a activação do CVL, COF, CDL, córtex dorsomedial e caudado na reversão dos erros, e adicionalmente, o aumento da activação do CVL, CDL e caudado a seguir à reversão das contingências para respostas correctas. Deste modo, sugeriu-se que o CVL está envolvido no “desempate” das respostas alternativas, me- diante a manipulação das representações; e o CDL intervém na aprendizagem retroactiva, pela manutenção dos níveis da atenção. Wolf, Vasic e Walter[47] avaliaram 15 sujeitos saudáveis, isentos de histórias de trauma cerebral, de desordens psiquiátricas e ou de consumo de substâncias nos últimos 6 meses. Em ordem a examinar quais as áreas cerebrais recrutadas durante uma tarefa apelativa da memória de trabalho (verbal), baseada numa versão modificada do Sternberg Item Recognition Paradigm, recorreram à fMRI. Os resultados indicaram a activação do CVL esquerdo (BA47), CPF anterior (BA 10) e CDL bilateral durante a recuperação de dois ou mais itens; a activação do CVL bilateral na recuperação de um item. Os autores concluem que as áreas do córtex pré-frontal parecem estar envolvidas distintamente na discriminação dos itens: o CVL pode iniciar a recuperação explícita da informação, e as áreas dorsais do CPF podem estar envolvidas no aumento do processo da recuperação. 3.4. Sector Dorsolateral Grimm et. al.[48] avaliaram 29 sujeitos saudáveis, sem défices neurológicos ou psiquiátricos, a fim de analisar quais as regiões corticais envolvidas no processamento das diferentes dimen- sões da emoção: valência, intensidade e reconhecimento. Usaram a fMRI durante a aplicação do International Affective Picture System, dividido em duas partes (e.g., visualização e julgamento de fotografias emotivas), e os resultados patentea- ram uma correlação significativa da valência com a activação no CVM (durante a visualização) e CDL bilateral (julgamento); a Revisões / Reviews 41 Volume X Nº3 Maio/Junho 2008 intensidade com o CVL direito (julgamento); e o reconhecimento com o córtex cingulado anterior (visualização). Os resultados evidenciaram a segregação neural da representação de dife- rentes emoções nas regiões pré-frontais corticais. Blair et. al.[49] compararam o desempenho de 25 sujeitos psi- copatas (de instituições de alta segurança) com 30 sujeitos saudáveis, mediante a mensuração do funcionamento do CDL (e.g., tarefa de alternação espacial), do COF (e.g., tarefa de al- ternação do objecto) e do córtex cingulado anterior (e.g., tarefa Stroop). Seleccionaram-se os pacientes segundo os critérios da Psychopathy Check-Revised (PCL-R), Raven’s Advanced Matrix.Set I (inteligência geral) e National Adult Reading Test (inteligência verbal). Os resultados acusaram défices só nas medidas de funciona- mento do COF nos psicopatas, não se verificando diferenças nas outras medidas. Assim, subentendeu-se que a principal função do COF, a alteração das respostas motoras para os objectos, em função da informação-reforço, é deficiente nos psicopatas, ao contrário do papel do CDL, a alteração das respostas motoras para a localização espacial, em função da informação-reforço. Yoon, Hoffman e D’Esposito[50] recrutaram 14 sujeitos saudá- veis, com a pretensão de analisar quais as regiões do córtex pré-frontal lateral envolvidas nas representações sensórias, retrospectivas e prospectivas, através da fMRI durante a apli- cação de uma tarefa apelativa da memória de trabalho (e.g., visualização de rostos e carregar um botão na fase do julga- mento). Nos resultados, observaram-se as correlações entre as representações sensórias retrospectivas e o CVL, e entre as representações prospectivas da acção e o CDL. Com efeito, os autores enfatizam a segregação espacial das regiões no suporte da informação retrospectiva vs. prospectiva. 4. Discussão Parece ser consensual que as disfunções no córtex pré-frontal aumentam o risco do desenvolvimento de uma personalidade agressiva, designadamente, no controle inibitório, na empatia, na memória e na moratória. 4.1. Sector Órbito-Frontal Depreendeu-se uma consistência empírica quanto ao contri- buto de défices no sector órbito-frontal para a agressão, por via da desregulação emocional, e para a geração da impulsi- vidade. Aliás, constatou-se[15] que o COF modula a agressão, mediante a activação do afecto negativo por menor dominância do hemisfério esquerdo (associado à expressão dos afectos positivos). No que respeita às lesões no lado direito do CFI, é aludido[51] que o papel generante do impulso pode ser locali- zado no COF, enquanto a sua regulação pode ser fixada no córtex frontal inferior. Apesar de o estudo de Beer, John, Scabini e Robert[39] não fazer referência ao papel da amígdala e de outras estruturas, demonstra que os danos no COF dificultam a adequação das relações interpessoais, em termos de auto-monitorização (e.g., comportar-se em concordância com as regras da tarefa) e ge- ração das emoções ligadas aos erros sociais (e.g., embaraço percepcionado). Desta maneira, a regulação do comporta- mento adaptativo dirigido aos objectivos e emocional, ambos indissociáveis, é uma característica relevante do COF. Interessa ainda referir a importância da conexão entre a amíg- dala e o COF. O estudo de Coccaro et. al.[38], pioneiro na análise da activação cerebral da amígdala – COF, durante o processamento da informação emocional em indivíduos com desordem explosiva intermitente, patenteia o impacto disfun- cional de ambas estruturas no comportamento. O estudo de Birbaumer et. al.[41] demonstra também as falhas no envolvimento emocional dos psicopatas criminosos durante a aquisição do “medo” que aparecem ligadas só à activação da amígdala direita. A falha na activação do COF manifestou- se, sobretudo, quando foi necessário exteriorizar a associação aprendida para as respostas comportamentais. Algumas pesquisas de neuroimagem têm encontrado uma maior activação desta estrutura para os afectos negativos do que para os positivos[15,52],o que pode justificar a hiperactivação desta estrutura, em oposição do COF. Além disso, é sugerido que a maior activação pode ser um mecanismo básico na patologia do comportamento agressivo[38], e corresponder a uma estratégia compensatória, i.e., um esforço extra para o processamento de emoções negativas, como foi denotado em estudos que versam PAP[23]. Ademais, a disfunção da amígdala tem sido igualmente salientada em população não clínica[53,5]. Todavia, alguns autores sugerem diferenças funcionais entre a amígdala esquerda e direita, e esta estrutura demarca-se mormente no processamento emocional (e.g., reconhecimento das expressões faciais, contingências de condicionamento), enquanto o COF serve como seu mediador[15,54] e regula as respostas motoras apropriadas[29]. Morris, Ohman e Dolan[55] Revisões / Reviews Saúde Mental Mental Health 42 propuseram que a amígdala direita está envolvida no processo de aprendizagem emocional inconsciente, ao passo que a es- querda se cinge mais à aprendizagem emocional consciente. Sendo assim, seria interessante explorar futuramente esta questão, as diferenças de activação ou de funcionamento entre os dois lados da amígdala, bem como do COF no âmbito da criminalidade. A investigação apresentada por Hoaken, Allaby e Earle[40] mos- tra que a interpretação de expressões afectivas faciais é mais pobre nos ofensores com antecedentes históricos de violência que nos ofensores não violentos, e esta dificuldade aparece correlacionada a défices de função executiva (para ambos os grupos). Com efeito, a incapacidade de compreender as emoções dos outros, um tipo de aprendizagem associativa, predispõe facilmente à hostilidade e interacção agressiva. Dado à menor plasticidade cognitiva, não existe a corres- pondente capacidade em usar as opções de respostas mais adaptativas. Na verdade, este tipo de dificuldade tem sido frequentemente enunciado no âmbito da psicopatologia, com os psicopatas[41]; desordem bipolar[56]; e esquizofrénicos[57]. Entretanto, na investigação citada, não se efectuaram rastreios psiquiátricos, em ordem a detectar a presença de possíveis perturbações e de normalizar a amostra, e o critério usado para divisão dos grupos é algo instável, dado à própria com- plexidade do acto violento. Curiosamente, parece que os efeitos mais nocivos, derivados das disfunções do CFP, envolvem os indivíduos com ante- cedentes de violência; quando se demonstram, sobretudo, agressivos do que impulsivos. Logo, acarretam com uma maior probabilidade para desordens afectivas graves. Estes factores levam também a uma menor activação do COF, da amígdala esquerda e de outras estruturas do sistema límbico. As lesões no COF aumentariam, outrossim, o risco de agressão instrumental[58], défices na aprendizagem retroactiva[29], pertur- bações na regulação social devido à pobre auto-consciência das emoções[59], etc. A respeito de outras estruturas cerebrais, é sugerido que o cingulado anterior possui um maior acesso aos sistemas motor e espacial, enquanto o COF tem um maior acesso à informação sobre o estímulo[60]. 4.2. Sector Ventromedial O sector ventromedial é crucial para se opor às violações mo- rais pessoais, e estando envolvido na representação do valor contextual específico do estímulo, a sua disfunção tem sido associada a elevados níveis de impulsividade, de agressividade, de ansiedade e de apatia[23,6,62]. No geral, os estudos versam as dificuldades no processo afectivo e intuitivo na tomada de decisão ética e social, ao nível das estratégias, auto-consciência e selecção de acções socialmente apropriadas. A capacidade de tomar decisões éticas é central no compor- tamento humano social e envolve a detecção e a interpretação de questões morais, bem como a idoneidade para a razão e o acto, alicerçados em princípios morais[44]. O processo de escolha entre as várias opções, embora envolva múltiplos processos[63], é um comportamento fundamental intrínseco à neguentropia. Paralelamente às observações de Fellows[42], existem outras que ilustram a variedade de estra- tégias heurísticas usadas para lidar com a complexidade de cada decisão[64]. Deste modo, as contusões no CVM podem provocar dificuldades na gestão da informação estruturada; nas associações entre o estímulo-reforço[65]; na flexibilidade em determinar o valor relativo das alternativas[42], tornando os indivíduos menos inclinados a usar uma estratégia de maximização da informação[66], em detrimento de indivíduos saudáveis[67]. Além de,ssa diferença de estratégias, o estudo de Ciaramelli, Muccioli, Ládavas e Pellegrino[43] evidencia outros factores prejudiciais à qualidade das decisões: a rapidez e a falha emo- cional na antecipação das consequências morais. Os lesionados no CVM estavam propensos em consentir mais rapidamente as violações morais, quer pessoais, quer impessoais, em comparação com os participantes saudáveis que se mostravam mais relutantes em permitir as violações pessoais em relação às impessoais. Outros autores chegam a conclusões similares[68,69]. Como os dilemas pessoais incitam um maior envolvimento pessoal dado à responsabilidade evocada, ao contrário dos dilemas impessoais[70], compreende-se que seja preciso an- tecipar as respostas negativas emocionais, empatizar com a situação de uma potencial vítima ou até predizer as perspec- tivas/intenções de outrem. Nesta linha, alguns estudos com fMRI mostram que a reflexão numa experiência emocional é suportada pelas regiões do córtice pré-frontal medial[71,72], o que salienta o network. Por outro lado, para os dilemas impessoais, tem sido sugerido que são acompanhados, em particular, pelo CDL, mediante o Revisões / Reviews 43 Volume X Nº3 Maio/Junho 2008 raciocínio lógico[73]. Se bem que a resolução dos dilemas morais requer uma ponderação sobre o bem/mal, é subentendido que o proces- so de decisão efectua-se através de dois sistemas neurais interactivos: a amígdala trabalha os sinais emocionais ime- diatos, enquanto que o CVM seria necessário para os sinais a longo-termo[74]. Ademais, é sugerido que amígdala fornece a informação expectante sobre o reforço (valência positiva ou negativa), o qual é depois representado pelo CVM, e os outros sistemas usam esta informação para seleccionar as respostas adequadas[61]. O estudo de Robertson et. al.[44] alega que a sensibilidade para o sentido de justiça e de benevolência (empatia e ética) seguem processamentos de informação neurais distintos. De facto, os recentes avanços nas teorias da moratória enfa- tizam esta distinção, sendo o sentido de benevolência mais aplicável aos conflitos morais, cuja resolução se baseia no enfoque de variáveis situacionais emergentes nas relações com os outros, e na orientação das emoções sociais[73]. Assim, as áreas cerebrais críticas para a sensibilidade moral são o córtex pré-frontal medial (acesso à informação do self e compreensão da perspectiva do outro), o córtex cingulado posterior (acesso às prévias experiências emocionais, cognitivas e somáticas) e sulcus temporal superior (acesso às percepções relacionadas com a cognição social). A menor activação deste sector também tem sido denun- ciada em inúmeras psicopatologias, tais como, a desordem da personalidade borderline[75], personalidade anti-social[23] e psicopatia[22,61]. Embora os estudos apresentados nos resultados abranjam amostras de sujeitos lesionados e saudáveis, e não sujeitos considerados agressivos ou impulsivos, é evidente o contributo deste sector para a manutenção do comportamento social- mente adaptativo. 4.3. Sector Ventrolateral A literatura indica o envolvimento deste sector na inibição da resposta motora, na aprendizagem retroactiva e nos processos cognitivos de controlo da memória semântica. O estudo de Kaladjian et. al.[45] ressai a menor activação doCVL direito nos esquizofrénicos durante a inibição da resposta mo- tora, em comparação com os participantes saudáveis. Apesar de não serem consideradas as tipologias de esquizofrenia, as conclusões são concordantes com outros estudos, que verifi- caram também a menor activação do CVL direito em sujeitos com personalidade hiperactiva, borderline e antissocial[76,7,78]. Deste modo, compreende-se que o CVL seja entendido como uma estrutura-chave nas perturbações psicopatológicas, e por outro lado, o lado direito é habitualmente implicado na mediação da inibição do comportamento. Se reflectirmos sobre a actividade inibitória, faz sentido re- lacioná-la com a “aprendizagem retroactiva”. Paralelamente ao estudo de Mitchell, Rhodes, Pine e Blair[46], outros autores também concluem que o CVL suporta a “resposta retroactiva” através da saliência, entre as várias opções adquiridas, da re- presentação da resposta motora valorizada[19,20,79]. Subjacente a esta aprendizagem, está o recrutamento da memória - a base. A memória semântica detém informações a longo-termo, significados de vocábulos, propriedades de objectos que são representados de uma maneira específica[80] Por isso, ela é um ingrediente fundamental às decisões e ac- ções diárias. Há, de facto, evidência sobre a participação do córtex pré-frontal (CPF) nos processos da memória de trabalho e a longo-prazo[50]. Uma revisão da literatura refere a especialização do CVL esquerdo nos processos cognitivos de controlo no acesso à informação relevante da memória semântica, um papel que é efectivado pelas interconexões entre o CVL e as regiões tem- porais lateral e inferior[79]. Ademais, são distinguidos dois pro- cessos do CVL esquerdo para um processamento semântico controlado: 1) recuperação controlada, não sendo automática, activa o conhecimento relevante; 2) posterior selecção “desem- pata” as representações simultaneamente activas, permitindo a selecção da “melhor” representação e, subsequentemente, a tomada de decisão e acção. A investigação apresentada por Wolf, Vasic e Walter[47] apoia esta ideia, segundo a qual o CVL pode ser crítico para o início do processo da recuperação da informação, enquanto o CDL e o CFP anterior actuam como suportes. A selecção da informação depende do número e da duração dos “competidores activos”, e da retenção do objectivo espe- cífico. Um dos “competidores” é a interferência proactiva, refe- rente ao conhecimento prévio que, não sendo relevante, pode influenciar negativamente o subsequente processamento[33]. A lesão no CVL esquerdo aumenta a interferência proactiva, em comparação com outros aspectos da performance da memória a curto-prazo[81]. Importa ainda considerar o teor das tarefas de decisão, porque Revisões / Reviews Saúde Mental Mental Health 44 é sugerido que as decisões de reconhecimento do item envol- vem menos as funções de selecção em relação às decisões baseadas na reminiscência[82]. As primeiras assentam na familiaridade e na evocação mínima de detalhes episódicos; as segundas requerem mais infor- mação sobre os detalhes episódicos. Por exemplo, carregar num botão aquando o aparecimento do sinal não é a mesma coisa que decidir manter ou vender um stock. Nesta linha, os estudos têm evidenciado a elevada activação do CVL medial esquerdo[83,84]. Enquanto certas decisões exigem pouco esforço, outras solicitam uma ponderação cuidadosa das opções. Pode-se enquadrar aqui o último exemplo. Para tal, as tomadas de decisões dependem ainda de informações emocionais e mo- tivacionais do COF e das áreas subcorticais (e.g., amígdala), sendo integradas pelo CVL[85]. Todavia, note-se que só foram expostos estudos com amostras de sujeitos saudáveis, pois não se encontraram amostras de sujeitos lesionados ou classificados agressivos e impulsivos no espaço de tempo da pesquisa. No âmbito da criminalidade, este sector cerebral é usualmente aludido, em junção com outras regiões, nos quadros psicopatológicos. No entanto, consideramos que a importância deste sector não foi, até hoje, devidamente explorada. Por exemplo, na psico- patia é comummente aludida a disfunção no CVL explicando, segundo diversos autores, as falhas na selecção de respostas correctas. Contudo, estas falhas podem ter a sua origem nas dificuldades de recuperação e selecção das informações semânticas, o que significaria uma menor flexibilidade dos pro- cessos cognitivos de controlo da memória e, por conseguinte, uma maior probabilidade de erros nas respostas motóricas. 4.4. Sector Dorsolateral Neste sector, são atribuídas as funções de representação prospectiva da acção, a manutenção dos níveis de atenção e o raciocínio. O estudo de Grimm et. al.[48] evidenciou a associação entre a actividade no CDL bilateral e a valência do estímulo durante o julgamento (e.g., fotografias positivas ou negativas) e não durante a visualização. Como não se trata de um dilema pes- soal, logo não exige uma profunda antecipação afectiva das consequências e a evocação da responsabilidade pessoal. Isso leva a crer que a actividade do CDL depende, de facto, da valência do estímulo, estando em concordância com as observações esboçadas no sector ventromedial (e.g., dilemas pessoais vs. dilemas impessoais). Além disso, os mesmos autores salientam que o julgamento emocional pode ser acom- panhado pelo aumento da atenção que também tem sido associado com o CDL. A valência do estímulo pode abranger duas características: 1) o aspecto afectivo atinente à qualidade do estímulo, 2) o aspecto classificador do estímulo afectivo, como positivo ou negativo[6,86]. Nesta óptica, é indicado que a primeira caracte- rística está associada à actividade neural no CVM, enquanto a segunda está associada com a actividade neural no CDL[48]. Se bem é possível a diferenciação destes sectores, consi- dera-se que o CVM depende sobretudo das características contextuais do estímulo e o CDL redunda à “lógica” ou ao “julgamento” das diferentes informações que lhe chegam. Fuster[87] menciona que a função essencial do CPF lateral con- siste na integração temporal da informação no passado ou no futuro. Nesta linha, o estudo de Yoon, Hoofman e D’Esposito[50] expõe a correlação entre as representações sensórias retros- pectivas e o CVL, e entre as representações prospectivas da acção e o CDL durante uma tarefa apelativa da memória de trabalho. Sabendo que o CVL controla os processos cognitivos no acesso às representações sobre os objectos ou aconteci- mentos, é sugerido que o CDL usa estas informações para a preparação e execução das acções motoras. Outros autores chegam a constatações semelhantes[79,88,89]. Em certa medida, este sector está envolvido na representação de objectivos, consonantes com os estados afectivos positi- vos ou negativos[15], e na orientação espacial da informação cognitiva[85]. As dificuldades neste processo cognitivo podem se traduzir em erros perseverativos. Barbosa[8] refere que os pacientes lesionados no CDL demonstram uma maior percentagem de erros de perseveração no Wisconsin Card Sorting Test (WCST), e não na expressão verbal das estratégias de resposta e na consciência dos erros. No que toca à lateralização dos hemisférios, os sinais no CDL direito têm sido correlacionados com valências negativas; em contraste, os sinais no CDL esquerdo têm sido associados às valências positivas[90]. Adicionalmente, os sinais no CDL esquerdo têm sido associados ao julgamento emocional, e os sinais no CDL direito à antecipação ou atenção do julgamento emocional[91]. Na psicopatologia, é referido o reduzido metabolismo no CDL Revisões / Reviews 45 Volume X Nº3 Maio/Junho 2008 em pacientes agressivos e crianças com epilepsia[13,16]; a per- turbação de funções executivas em indivíduos psicopatas[92]; etc. Neste contexto, o estudo de Blair et. al.[39] indiciadéfices só no COF nos psicopatas, em relação aos sujeitos saudáveis. De facto, este tipo de défice, apontado por inúmeros autores, revela-se mais consistente, ao contrário no CDL[24,41]. Em suma, o CDL surge constantemente associado a outros sectores, e os défices destacam-se quando se encontram envolvidos estímulos emocionais (por exemplo, rostos), e se requer o respectivo julgamento para a posterior execução motora, suportada por representações prospectivas. Por exemplo, discriminar as expressões faciais como “positivas” ou “negativas” e carregar num botão aquando o aparecimento de rostos “positivos”. 5. Síntese 6. Conclusão O interesse crescente no estudo das bases neuropsicológicas do comportamento antissocial deve-se, em parte, à ligação empírica entre as disfunções neurológicas no lobo pré-frontal e os comportamentos antissociais e violentos. No entanto, não é possível apresentar directamente uma re- lação directa entre a criminalidade violenta e as disfunções no lobo pré-frontal. A maioria dos estudos tocam este assunto e pressupõem esta relação, mas demonstram-na de uma forma indirecta: essencialmente através de amostras de sujeitos com desordens psiquiátricas, até porque estas são percentualmente evidentes em população de reclusos[3,8]. Este facto prende-se também com as dificuldades derivadas de recursos financeiros e viabilidade metodológica na realização dos estudos. De qualquer forma, foi possível depreender a importância das regiões do córtex pré-frontal para o comportamento adaptativo. As disfunções - originadas por lesões, défices estruturais ou funcionais - aumentam o risco da impulsividade e, em casos mais extremos, da violência. Contudo, deve-se assumir uma visão multifactorial do fenómeno “comportamento criminal” para se alcançar uma compreensão etológica e preventiva do crime[4]. Nesta linha, Cusson[93] diz que “O problema criminal contemporâneo está demasiado imbricado na trauma da nossa vida quotidiana para poder ser combatido através de meios simples, brutais e expeditos. Para o conter sem atentar contra os nossos valores é preciso estudá-lo e conhecê-lo, evitando desvalorizá-lo ou dramatizá-lo.” (p. 13). O sector cerebral mais pesquisado é o órbito-frontal, e conhe- ce-se um significativo desenvolvimento nos dois últimos anos. Este aparenta ser o mais importante, como alguns autores têm vindo a salientar, mas há que atribuir igual atenção ao sector ventrolateral, visto possuir uma relação proeminente com a memória, o que não acontece. Sem a emoção ou a memória, os “graus de liberdade” do ser humano seriam mínimos. Os resultados dos estudos devem ser interpretados e ge- neralizados com precaução, uma vez que detêm algumas falhas metodológicas. Nos estudos supracitados, notou-se o seguinte: desigualdade de rigor nos critérios de selecção dos participantes; diferenças nas características das amostras (por exemplo, nível educacional, regimes de medicação) e a sua falta de representatividade e aleatoriedade; uso de diferentes metodologias; por vezes, não existem referências às condições de temperatura, ruído; e só alguns estudos usam grupos de controlo, treinos prévios e compensações monetárias. As investigações futuras poderiam dedicar-se a análises de género no âmbito de comportamentos violentos, descorti- nando a sua relação com as disfunções pré-frontais, pois os estudos utilizam normalmente amostras de sujeitos masculinos e institucionalizados. Outrossim, seria interessante explorar as diferenças de activação ou de funcionamento entre as áreas do CPF mencionadas neste artigo, com sujeitos reputados de violentos, impulsivos ou antissociais. Adicionalmente, estas diferenças ainda podem ser analisadas em função da natureza das tarefas (por exemplo, interpessoais vs. intrapessoais), da patologia (por exemplo, entre os sujeitos com psicopatia e desordem explosiva intermitente) e da faixa etária (por exemplo, estudos longitudinais). À guisa de conclusão final, os avanços no conhecimento Região cerebral Principais funções Sector órbito-frontal Auto-monitorização adaptativa Sector dorsolateral Representação prospectiva da acção Sector ventromedial Julgamento ético e representação contextual do estímulo Sector ventrolateral Inibição do comportamento e representações retrospectivas Quadro 1. Áreas cerebrais do lobo pré-frontal e suas principais funções. Revisões / Reviews Saúde Mental Mental Health 46 neurocientífico trazem importantes implicações para o sistema legal, permitem uma melhor compreensão sobre as variáveis influentes no comportamento criminal e antissocial, e enrique- cem as concepções teóricas e práticas, possibilitando novas respostas preventivas e remediativas. Referências [1] Oliveira, N. Homicídio no mundo cresce 30% em 20 anos, diz ONU; 2007. Disponível em http://www.agenciabrasil.gov.br/ noticias/2007/10/01/materia.2007-10-01.8024897407/view [2] Ministério da Administração Interna. Relatório Anual de Segu- rança Interna; 2006. Disponível em http://www.mail.gov.pt/data/ documentos/rasi_2006.pdf [3] Hilal, A, Çekin, N, Arslan, M. (2006). An act of homicide and what it brings to mind: a case presentation. Legal Medicine. 2006; 8: 293-296. [4] Marques-Teixeira, J. Comportamento Criminal: Perspectiva Biopsicológica. Linda a Velha: Vale & Vale Editores; 2000. [5] Raine, A., Yang, Y. 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