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Prática de Ensino em Biologia no Ensino Médio Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Prof. Ms. João Paulo Silva Pinheiro Revisão Textual: Profa. Ms. Alessandra Fabiana Cavalcanti O Ensino de Ciências por meio da Atividade Prática e de Campo • A realização de uma aula prática • A Aula de Campo no Contexto de Ciências • Ciências no dia-a-dia: Vamos Contextualizar? · Esta unidade tem por objetivo fazer com que o aluno seja capaz de: · reconhecer o papel da aula prática e de campo no processo de construção do conhecimento de Ciências; · analisar o processo de preparação de uma atividade prática e uma de campo; · compreender a aplicação das modalidades de ensino: aula prática e aula de campo; · contextualizar e de promover a interdisciplinaridade com a aula prática e a aula de campo. OBJETIVO DE APRENDIZADO Nesta unidade, iremos aprender metodologias didáticas para aperfeiçoar a prática docente a partir da leitura do tema: O Ensino de Ciências, por meio da Atividade Prática e de Campo. Tais atividades são de fundamental importância para que haja a aprendizagem significativa, uma vez que é possível relacionar a teoria à prática. Dessa forma, leia de forma atenciosa cada um dos tópicos abordados, não se esquecendo de observar e acessar o material complementar. Além disso, pesquise outros recursos, como vídeos, imagens e artigos, com o intuito de ampliar os conhecimentos sobre o tema dessa unidade. Em caso de dúvida, não hesite em procurar o tutor. Além do mais, participe do fórum de discussão, onde será possível debater mais sobre o tema e interagir com os demais alunos para construir o conhecimento. Atente-se aos prazos das atividades! Bom estudo e bom desempenho! ORIENTAÇÕES O Ensino de Ciências por meio da Atividade Prática e de Campo UNIDADE O Ensino de Ciências por meio da Atividade Prática e de Campo Contextualização Importante! Como ensinar Ciências? Você já se perguntou? Deve ser realizado conforme a imagem do link abaixo: http://goo.gl/RvKBjH Trocando ideias... Muitos professores utilizam a “aula tradicional”, que é conceituada por diversos autores como o tipo de aula em que há a predominância da exposição de conteúdos, por meio do livro didático e/ou quadro branco. Muitas vezes, os alunos escutam e reproduzem o que o professor fala e interagem pouco ou nada com o docente e com os demais alunos, conforme vemos na imagem. Você quer ser um professor que age assim? De que forma podemos “dinamizar” as aulas e proporcionar uma aprendizagem realmente significativa? A introdução de aulas práticas e de aulas de campo pode ser uma alternativa que permita aos alunos “visualizar” e “praticar” o conteúdo de Ciências, proporcionando um ensino que fuja do tradicional. Vamos aprender mais sobre isso? 6 7 A realização de uma aula prática Introdução Quantas aulas práticas você já teve em Ciências? Você se lembra? Mas afinal, o que é uma aula prática? Observa-se, que muitos professores ainda utilizam o método de ensino baseado na exposição de conteúdo, utilizando apenas o livro didático e o quadro branco sem que haja a introdução de qualquer outro recurso didático ou metodologia de ensino, que possa permitir a visualização concreta ou a vivência daquilo que é ensinado. Se a prática docente for baseada apenas na “transmissão” de conteúdo teórico, a aprendizagem será efetiva? Ilustração de uma das formas de “transmissão” de conteúdo e o que pode acontecer após esse processo. http://goo.gl/bvMUBX Ex pl or A realização de aulas práticas, ou seja, o trabalho experimental, nas escolas iniciou- se há mais de cem anos sob a influência do que era realizado nas universidades, pois se observava que os discentes tinham a teoria, no entanto não sabiam como utilizá-la. Isso é importante para que o aluno possa desenvolver a capacidade de reflexão e pensamento crítico acerca dos assuntos e que possam ser aplicados no cotidiano de cada um, além de permitir um ensino mais prazeroso. A aula prática consiste em realizar uma determinada atividade com o intuito de explorar e de problematizar um conteúdo teórico ou de prová-lo de forma concreta, ou seja, prática. Isso pode ser desenvolvido por meio de experimentos com o uso de laboratório, a fim de testar hipóteses, pelo contato com estruturas dimensionais, como maquetes, pela visita a locais (atividade de campo) e pela produção de materiais didáticos (modelos tridimensionais, textos entre outros). Todas essas formas, para serem consideradas como prática, exigem o contato físico. Vamos explorar sobre a realização de atividades práticas, com ou sem o uso de laboratório, no contexto de Ciências com enfoque no Ensino Fundamental!! Aula Prática no Ensino Fundamental O Ensino Fundamental é um período da escola em que o lúdico e o “concreto” são fundamentais para que haja a aprendizagem, uma vez que as crianças necessitam de um contato físico para assimilar determinado assunto, como o uso de modelos tridimensionais (Fig. 1). No ensino de Ciências, isso pode ser possível por meio da introdução de aulas práticas e/ou experimentais, porém pouco se observa a utilização dessa metodologia nos ciclos do ensino fundamental. 7 UNIDADE O Ensino de Ciências por meio da Atividade Prática e de Campo As aulas práticas devem propiciar a discussão, o levantamento de ideias e promover a contextualização, além do mais não deve ser um instrumento somente para que seja comprovada ou negada alguma teoria, mas que possibilite a reflexão e o posicionamento de cada aluno frente a um determinado problema científico, possibilitando a investigação do tema proposto e, consequentemente, a aprendizagem significativa. Figura 1. Demonstração de uma maneira em que o aluno pode transpor o material impresso (imagem de uma estrutura de tecido do corpo) para um modelo tridimensional. Fonte: istock/gettyimages Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998) recomendam que a utilização de experimentos com alunos dos terceiro e quarto ciclos é de suma importância, a fim de que eles ganhem de forma gradativa a noção das características básicas de um experimento. “O isolamento do sistema, o reconhecimento e o teste de variáveis, o controle na coleta de dados e a interpretação de medidas devem ser discutidos. Também deve estar claro o objetivo do experimento, suas limitações e as extrapolações que possibilita, ou não” (BRASIL, 1998). Como planejar uma aula prática? O planejamento é o ato que permite desenvolver da melhor forma a realização de uma determinada atividade, possibilitando avaliar o que pode acontecer antes, durante e após essa atividade. Para que isso aconteça, é necessário que o professor inicialmente escolha o conteúdo a ser trabalhado, pense no tempo de duração disponível para a realização da aula, na matriz curricular, nos conhecimentos prévios que cada aluno deve ter, estabeleça os objetivos a serem alcançados, o conteúdo a ser ministrado, os recursos didáticos disponíveis e os complementares, a metodologia a ser aplicada, a forma de avaliação, as referências bibliográficas utilizadas e outras que possam ser consultadas pelos alunos. É importante que o plano de aula contemple todos esses pontos supracitados e que seja da forma mais detalhada possível, a fim de que qualquer pessoa possa “reproduzir” com outros alunos, não como receita, mas como um instrumento que pode ser mudado de acordo com as particularidades de cada turma. 8 9 Além do mais, esteja preparado, pois no momento da aula podem surgir imprevistos, e observe todos os quesitos de segurança tanto seu quanto dos seus alunos. Por isso, o professor deve realizar uma prévia da atividade prática, com o objetivo de verificar o passo-a-passo e evitar esses imprevistos, aliado a isso, é possível que o docente cronometre o tempo para que não seja ultrapassado no dia da aula. Em relação às normas de segurança, os PCNs nos propõem alguns cuidados, como evitar experimentos com fogo, e ao utilizar necessitade ter todo o cuidado para prevenir e contornar possíveis acidentes. Além disso, deve-se verificar antecipadamente onde e como estão os equipamentos de segurança e as saídas de emergência da escola. É necessário a atenção do professor para as recomendações dos experimentos (acompanhamento de adultos, montagem, o cuidado com combustíveis, principalmente garrafas de álcool, panelas quentes e fogareiros), a serem realizados, disponíveis em alguns materiais, como os livros didáticos. “As instruções devem ser acompanhadas de advertências que possam transmitir a real periculosidade das situações retratadas” (BRASIL, 1998). Alguns símbolos de advertência podem ser visualizados na imagem abaixo (Fig. 2). Figura 2. Lista de Pictogramas referente aos perigos químicos. Em relação a experimentos em que há a manipulação de substâncias, os PCNs recomendam que devem ser disponibilizadas informações de material de segurança para a proteção do indivíduo, como para os olhos, as mãos, os braços e o tronco, além do uso de local apropriado, principalmente no caso de manuseio de substâncias voláteis. É ideal que não se utilize experimentos com substâncias concentradas, por exemplo ácidos e bases, com substâncias tóxicas ou de elevado risco, incluindo metais pesados e seus sais. Para experimentos que envolvam eletricidade, devem restringir ao uso de pilhas e baterias (corrente contínua e tensão máxima de 9 Volts) sem envolver a utilização da rede elétrica domiciliar. “Ao lidar com textos impressos, é importante que as lâmpadas, soquetes e demais elementos estejam retratados como componentes característicos de lanternas e aparelhos do gênero, deixando explícito que não devem ser realizadas improvisações com elementos de maior tensão” (BRASIL, 1998). Somado a isso, também não é recomendado, em qualquer caso, a utilização de sangue humano para experimentos ou demonstrações, como a tipagem sanguínea e a confecção de esfregaços para observação microscópica. Já as atividades que 9 UNIDADE O Ensino de Ciências por meio da Atividade Prática e de Campo contenham a utilização de tecidos humanos devem ser realizadas com material fixado, em lâminas preparadas previamente, a fim de que haja a observação microscópica (BRASIL, 1998). Acesse os Parâmetros Curriculares Nacionais – Ciências e observe mais recomendações de segurança para uma aula prática/experimental. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencias.pdf Ex pl or Para uma aula prática, é necessário também que o professor elabore um roteiro a ser disponibilizado a todos os alunos, em que deve conter o máximo de informações a serem interpretadas para guiá-los na organização e na manipulação dos materiais, e seja necessário o mínimo de intervenção do professor. Além do mais, esse guia orienta o passo-a-passo, o que cada aluno deve observar, fornece questões norteadoras para discussão e campos específicos para o registro de observações e de imagens resultantes da aula. Na confecção desse roteiro e do planejamento, deve-se levar em consideração o conteúdo que está sendo ministrado, o espaço físico do laboratório e/ou os recursos disponíveis na escola para a realização da atividade, a consulta de outras fontes de informação (artigos, reportagens, vídeos entre outros) para que seja realizada a contextualização e haja um melhor aprendizado dos alunos. Porém, você pode pesquisar práticas que utilizem materiais de fácil acesso e que podem também ser confeccionados pelos próprios alunos, como a utilização de materiais recicláveis. A etapa de discussão dos resultados obtidos na aula é crucial para a construção do conhecimento, isso pode ser confirmado pelos PCNs: A discussão dos resultados de experimentação é sempre um momento importante. A ideia de experimento que dá “certo” ou “errado” deve ser compreendida dentro dos referenciais que foram especificamente adotados. Quando os resultados diferem do esperado, estabelecido pelo protocolo ou pela suposição do estudante, deve-se investigar a atuação de alguma variável, de algum aspecto ou fator que não foi considerado em princípio, ou que surgiu aleatoriamente, ao acaso. É uma discussão pertinente, afastando-se a ideia de que o experimento que deu “errado” deve ser descartado da análise. Pelo contrário, no ensino de Ciências Naturais, a discussão de resultados diferentes do esperado pode ser muito rica. (PCN, 1998, p. 123). Na realização dessas aulas práticas, é fundamental que o professor pense no desenvolvimento de atitudes, nos valores e nas habilidades dos alunos, bem como na forma de estimular o pensamento crítico e o raciocínio dos mesmos, e também o interesse pelo conteúdo praticado, verificando os conceitos e comprovando ou não aquilo visto na teoria (Fig. 3). Como nos remete os PCNs, é importante que as atividades práticas “não se limitem a nomeações e manipulações de vidrarias e reagentes, fora do contexto experimental”. Mas que o objetivo principal seja a garantia do “espaço de reflexão, desenvolvimento e construção de ideias, ao lado de conhecimentos de procedimentos e atitudes” (BRASIL, 1998). 10 11 PISA ENEM ANEB Melhoria dos processos de ensino e de aprendizagem da Matemática Figura 3. Esquema demonstrando que a experimentação em Ciências propicia ao aluno desenvolver a criticidade, o raciocínio e a refl exão. O Uso do Laboratório de Ciências O laboratório de Ciências é um ambiente que pode ser utilizado nas aulas com a finalidade de que haja a comprovação ou a refutação de algumas ideias, obter informações da natureza que não se encontram nos materiais didáticos impressos, como os livros, além do mais, permite o manuseio de equipamentos e o exercício de várias habilidades do indivíduo, como o raciocínio. É essencial que o laboratório seja um ambiente acolhedor e propício para o desenvolvimento da aprendizagem. Dessa maneira, recomenda-se a utilização de “objetos” e/ou símbolos que recordem os conteúdos de Ciências, tais como animais (peixes, anfíbios, répteis, aves, mamíferos entre outros), modelos tridimensionais dos tecidos animais e vegetais, plantas e outros. Também, a utilização de placas sinalizando alguns riscos de contaminação, de advertências e de indicação da localização e do uso de cada material exposto no ambiente irá beneficiar a realização das atividades. Representação de alguns itens importantes na estrutura de um laboratório de Ciências para o uso e o desenvolvimento de uma aula. http://goo.gl/xJn4cH Ex pl or No entanto, muitos trabalhos disponíveis na literatura relatam que a estrutura dos laboratórios de ensino de Ciências não se encontra nas condições supracitadas, pois faltam equipamentos e a manutenção dos que existem, e a infraestrutura em más condições (por exemplo, ambiente quente sem climatização do ar). Somado a isso, alguns autores descrevem a utilização desse ambiente para outros fins, 11 UNIDADE O Ensino de Ciências por meio da Atividade Prática e de Campo como depósito de materiais não mais utilizados pela escola. Tal fato ocorre, pois não existem normas definidas para a criação e a manutenção de laboratórios de Ciências nos ensinos fundamental e médio das escolas; existem, apenas, algumas recomendações elaboradas pelo Ministério da Educação para um curso Técnico de Formação para os Funcionários da Educação (BRASIL, 2009). Portanto, podemos resumir o uso do laboratório de Ciências para contemplar vários objetivos (BRASIL, 2009): Pode ser usado para demonstrar um fenômeno, ilustrar um princípio teórico, coletar dados, testar uma hipótese, desenvolver habilidades básicas de observação ou medida, propiciar a familiarização com os instrumentos, propiciar experiências com a luz e o som, conhecer os hábitos alimentares e o modo de vida de determinadas espécies. Há uma infinidade de ações e de procedimentos a serem desenvolvidos em um laboratório, não apenas a observação em microscópios ou a mistura de reagentes químicos. Quando é feito um trabalho pedagógico coerente,em que o desenvolvimento do aluno é apreciado, as atividades didáticas passam a ter um perfil totalmente diferenciado. Algumas dicas e recomendações para o uso do laboratório de Ciências. O documento traz algumas maneiras de tornar o ambiente seguro e favorável ao desenvolvimento das aulas, algumas ilustrações e definições de materiais utilizados no laboratório dentre outros assuntos. http://goo.gl/LgWWt7 Ex pl or De forma geral, podemos elencar alguns benefícios e desafios/malefícios da atividade prática (Quadro 1): Quadro 1. Benefícios e Desafios/Malefícios da Atividade Prática Benefícios da Atividade Prática Desafios/Malefícios da Atividade Prática Complementa a aula teórica Se mal organizada, desperta o desinteresse pelo assunto Criticidade Turma numerosa pode haver a dificuldade na condução da atividade Reflexão Má estrutura do laboratório prejudica o aprendizado Autonomia do aluno Falta de recursos didáticos e de equipamentos na escola podem impossibilitar a realização da aula Trabalho em grupo Professor que não tenha formação “adequada” para a condução de aulas práticas Estímulo à pesquisa científica Contextualização Interdisciplinaridade Melhora desempenho e aprendizagem dos alunos 12 13 A Aula de Campo no Contexto de Ciências Se você não tiver qualquer recurso didático na escola que possibilite deixar de usar o livro didático e o quadro branco no ensino de Ciências, o que você faria? Muitos professores pensam que a aula prática ocorre apenas com a utilização da experimentação (uso do laboratório) ou com o uso de modelos didáticos, jogos entre outros, e esquecem de uma alternativa que os rodeia e permite a aprendizagem significativa: a aula de campo. Vamos saber mais sobre uma aula de campo? Você já participou de alguma aula deste tipo? Você a utilizaria em sua prática docente? Por quê? De que forma? Vamos responder a esses questionamentos e relacioná-los às ideias dessa unidade. Introdução O Ensino de Ciências, ao ser realizado em ambientes naturais (Fig. 6), possibilita a motivação e a interação dos alunos, além de favorecer a explicação do conteúdo de forma integrada, contextualizada e interdisciplinar. A aula de campo propicia, além da aquisição e da problematização do conhecimento, a conscientização sobre a utilização do meio ambiente em todos os aspectos, sejam eles sociais, éticos e biológicos. Aliado a isso, o estudante desenvolverá a capacidade de discutir e de buscar alternativas para a solução dos problemas ambientais e manifestar algumas emoções que não são possíveis apenas com a realização de uma aula teórica em sala de aula. Dessa maneira, a aula de campo constitui como uma atividade prática que utiliza os espaços que vão além de uma sala de aula “tradicional”, tais espaços podem estar inseridos na própria escola, como o pátio, a praça, a quadra de esportes, ou fora da escola, como as praças da cidade, as florestas, os parques, as áreas de preservação ambiental, os zoológicos, o centro comercial, as ruas entre outros. Esses espaços permitem ao aluno observar que os processos naturais não estão presentes apenas na natureza, mas que podem acontecer em vários locais frequentados por eles no dia-a-dia. Também, possibilitam explorar as ações antrópicas nos ambientes. Dessa maneira, ressalta-se a importância de que a aula de campo seja feita em parceria com outras disciplinas da escola, possibilitando a “visão” do ambiente como um todo e propiciando a interdisciplinaridade e a contextualização (BRASIL, 1998). Campos (2012, p. 25-26) traz uma proposta de como cada professor pode trabalhar a sua disciplina em uma aula de campo, com o objetivo de que haja a interdisciplinaridade: 13 UNIDADE O Ensino de Ciências por meio da Atividade Prática e de Campo A geografia entraria com os estudos dos ambientes costeiros, a biologia estudaria a restinga e sua complexa sistemática de funcionamento, plantas, animais, tipo de solo, período de formação entre outros. A história entraria com uma abordagem acerca do processo predatório que tal ecossistema sofreu nos séculos da colonização, poderia também explorar assentamentos humanos pré-históricos e suas tecnologias para dominar a natureza. O professor de matemática poderia trabalhar com geometria plana, com medidas de campo, cálculo de altura de árvores e tamanho padrão, avaliação de distâncias das marés entre outras abordagens, tudo isso comporia um texto bastante rico, um tipo de relatório de campo, para o professor de língua portuguesa que também organizaria a mostra cultural resultante de tal experiência. Figura 4. Aula de campo como uma forma de ensinar Ciências e desenvolver diversas habilidades nos alunos. Fonte: istock/gettyimages A aula de campo torna-se uma atividade prazerosa tanto para o professor quanto para os alunos. O professor estará inovando a prática docente, possibilitando a construção do conhecimento por meio do contato com o meio ambiente; já para os alunos, a conscientização ou a educação ambiental será desenvolvida. Mas para que essa atividade aconteça da melhor forma possível, é necessário que o professor conheça o ambiente visitado, bem como as características peculiares do local (fauna, flora, aspectos sociais e econômicos dentre outros) com o intuito de que os objetivos da aula sejam alcançados. Aula de Campo no Ensino Fundamental A aula de campo pode tornar-se um momento de lazer para os alunos e professores? Cuidado! Esse não é o objetivo.Ex pl or O professor deve atentar-se aos objetivos e ao conteúdo a serem explorados na aula, até mesmo explanando isso para os alunos, com o intuito de que compreendam que a “saída” de dentro da sala de aula é uma atividade para que haja a aprendizagem e não um momento de diversão. Isso deve ser levado em 14 15 consideração, principalmente, no ensino fundamental, em virtude da idade e da maturidade dos alunos. Para que haja uma aprendizagem significativa com a aula de campo, é fundamental que o professor estimule o desenvolvimento das emoções positivas dos alunos, além do mais, torne uma atividade em que o discente sinta-se “confortável” no ambiente em que está sendo desenvolvida. Algumas sensações só serão possíveis no contexto da aula de campo, como o cheiro e o “som” da natureza, conferindo as sensações de prazer e de encantamento, muitas vezes, não alcançadas em uma aula realizada de forma tradicional (estrutura física da sala de aula, quadro branco, livro didático). O “Pátio do Colégio” e os demais locais da Escola Importante! Como fugir da concepção de que uma aula de campo em Ciências só pode ocorrer na “natureza”? Se dessem a você a função de elaborar uma aula de campo utilizando os espaços da escola, como você faria isso? Será que o pátio da escola é um ambiente propício para que se aprenda Ciências? Trocando ideias... Diversos fatores podem inviabilizar a realização de aulas fora da escola (campo), tais como a logística na condução e o cuidado com os alunos, a autorização dos responsáveis e a falta de recursos financeiros da escola. Por isso, cabe ao professor planejar uma aula de campo dentro do ambiente escolar, utilizando os espaços disponíveis, que permitem o contato do aluno com a “natureza”. Na atividade de campo é fundamental que sejam desenvolvidos os seguintes aspectos com os alunos: educação ambiental, interdisciplinaridade, contextualização, pensamento crítico, indagação, busca de solução-problema, incentivo à pesquisa dentre outros, a fim de que o aluno seja um sujeito ativo na construção do conhecimento. Então, de que forma poderemos utilizar o pátio da escola como recurso no ensino de Ciências? O professor poderá construir com os alunos o ambiente propício para a realização das aulas, como o acréscimo de uma horta (Fig. 5) no pátio escolar (local que possua condições ambientais para o crescimento das plantas). No pátio, o docente no ensino fundamental terá como abordar assuntos relacionados a Ciências, Física e Química, tais como:o sistema solar, aspectos climáticos, Botânica (características das estruturas de uma planta, nome de espécies vegetais, a maneira de “cuidar” das plantas, como deve ser feita a coleta de espécimes vegetais para o estudo etc.), Zoologia (características de alguns animais), Ecologia (relações ecológicas, impactos ambientais, ciclos biogeoquímicos etc.), Educação Ambiental, Parasitologia, hábitos alimentares, formas de conversão de calor, energia, Bioquímica, características 15 UNIDADE O Ensino de Ciências por meio da Atividade Prática e de Campo químicas de algumas moléculas entre outros temas. Dentro da escola, o professor de Ciências também poderá desenvolver a aula na praça, na quadra de esportes, em um terreno e no corredor. Figura 5. Exemplo de uma escola em que os alunos participam do cuidado de uma horta e a utilizam como um recurso de aprendizagem. Fonte: Istock/gettyimages Como planejar uma aula de campo? Para o planejamento de uma aula de campo é necessário que sejam observados os mesmos pontos citados para a aula de laboratório: a escolha do conteúdo, o tempo de duração, a matriz curricular, os conhecimentos prévios dos alunos, os objetivos, o conteúdo a ser ministrado, os recursos didáticos disponíveis e os complementares, a metodologia, a avaliação e as referências bibliográficas. Além disso, o professor tem que planejar os aspectos relacionados antes, durante e após a aula, como a segurança dos alunos, a preservação do local da aula, o transporte dos alunos ao local, o guia de visitação e a confecção do relatório dos alunos após a aula. O docente deve disponibilizar textos sobre o local da aula, contendo os aspectos a serem trabalhados durante a atividade. É importante também, que o professor sugira o registro da aula por meio de fotografias e de forma escrita, com a finalidade de ter um melhor aprendizado e produzir um relatório com o máximo de informações. Após a aula, um momento de discussão sobre a atividade de campo é crucial para saber o posicionamento dos alunos, como as sensações, a respeito da metodologia aplicada, além de ser um momento oportuno para sanar dúvidas e auxiliar na construção do relatório (previamente orientado a respeito da forma de confecção e o que deve ser contemplado). 16 17 Benefícios e Desafi os/Malefícios De uma forma geral, os benefícios de uma aula de campo são os mesmos supracitados para a aula prática. Já os desafios/malefícios irão depender da execução ou não do que foi planejado para antes, durante e após a atividade (Quadro 2). Quadro 2. Benefícios e Desafi os/Malefícios da Aula de Campo Benefícios da Aula de Campo Desafi os/Malefícios da Aula de Campo Complementa a aula teórica Se mal organizada, desperta o desinteresse pelo assunto Criticidade Turma numerosa pode haver a dificuldade na condução da atividade e na dispersão dos alunos Reflexão Segurança dos alunos Autonomia do aluno Transporte dos alunos Trabalho em grupo Professor que não tenha formação “adequada” para fornecer os conhecimentos científicos relacionados ao local, como os aspectos de fauna e de flora Estímulo à pesquisa científica Preservação do local Contextualização Autorização dos responsáveis Interdisciplinaridade Registrar o necessário por meio de fotos e de anotações Melhora desempenho e aprendizagem dos alunos Risco de acidentes (quedas, picada de insetos, cobras, animais peçonhentos etc.) Ciências no dia-a-dia: Vamos Contextualizar? Como aplicar o dia-a-dia dos alunos no ensino de Ciências? Será que é possível? Anteriormente listamos alguns exemplos, mas de forma resumida, veja abaixo alguns temas que podem ser aplicados na realização de aulas prática e de campo no ensino fundamental com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais (Quadro 3). Quadro 3. Lista de temas que podem ser utilizados para a realização de uma aula prática e/ou aula de campo no ensino fundamental. Temas de Ciências – Ensino Fundamental Sistema Terra-Sol-Lua Sistema de Orientação e Posição Observação das Estações do Ano Escalas de distância e grandeza Ritmo do ciclo do dia e da noite x Ritmos biológicos dos seres vivos Estrutura Interna da Terra Comparação entre diferentes ambientes (ex. local cultivado x local abandonado) Estudo sobre os seres vivos (morfologia, fisiologia, interações entre outros aspectos) Caracterização dos estratos herbáceo, arbustivo e arbóreo 17 UNIDADE O Ensino de Ciências por meio da Atividade Prática e de Campo Temas de Ciências – Ensino Fundamental Diferenciação entre os tipos de vegetação Diferenciação entre os diferentes grupos de animais Condições para a manutenção da vida Informações nutricionais dos alimentos Aspectos anatômicos e fisiológicos do ser humano Tecnologias antes da eletricidade Tecnologias, técnicas artesanais e domésticas em diferentes épocas Caracterização e separação de misturas Transformação de Energia Manejo e Conservação Ambiental Reações Químicas Problemas Ambientais, como o uso da água Ciclos Biogeoquímicos Qualidade de Vida A contextualização no ensino é uma forma pela qual o professor pode facilitar o ensino – aprendizagem, uma vez que visa a retomar as experiências vivenciadas pelos alunos e dessa maneira permite o entendimento de diversos assuntos. Cabe ao docente identificar os temas em que é possível contextualizar, fazer um “recorte” e adotar o recurso didático adequado para que seja feita a transposição didática. Transposição didática é transformar o conhecimento em algo capaz de ser ensinado, ou seja, o conhecimento escolar.Exp lo r 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Vídeos Escola que ensina agroecologia faz sucesso em Minas Gerais https://goo.gl/CB0sqW Sites Projeto de horta escolar incentiva educação ambiental em Maceió http://goo.gl/CrUvkh Leitura A Utilização se Aulas Práticas no Ensino de Ciências: um Desafio oara os Professores http://goo.gl/LgWWt7 Aulas Práticas Investigativas: uma experiência no ensinofundamental para a formação de alunos participativos http://goo.gl/nJNpfB Atividades de campo no ensino das ciências e na educação ambiental: refletindo sobre as potencialidades desta estratégia na prática escolar http://goo.gl/5d8zO4 As atividades de campo no ensino de ciências http://goo.gl/RjqcL3 Aulas de Campo em ambientes naturais e aprendizagem em ciências – um estudo com alunos do ensino fundamental http://goo.gl/egei1t O Desenvolvimento de Atividades Práticas na Escola: um desafio para os professores de ciências http://goo.gl/B5rq8a Horta Escolar: cultivando o ensino de ciências http://goo.gl/JDIj2l 19 UNIDADE O Ensino de Ciências por meio da Atividade Prática e de Campo Referências BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). Introdução. Ciências Naturais. Brasília: MEC/SEF, 1998. BRASIL. Pró-Funcionário – Curso Técnico de Formação para os Funcionários da Educação. Brasília: MEC / UnB, 2009. CAMPOS, C. R. P. A saída a campo como estratégia de ensino de ciências: reflexões iniciais. Revista Eletrônica Sala de Aula em Foco, v. 1, n. 2, p. 25 – 30, 2012. 20
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