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1. INTRODUÇÃO O desenho na psicologia não se trata apenas de uma ação, cada traço pode ter um significado simbólico, principalmente quando falamos de crianças. A criatividade, traçados, limite de margem, significado, imaginação etc., podem dizer muito sobre o sensório cognitivo e motor deles. Autores como George-Henri Luquet (1969), Viktor Lowenfeld (1976) e Jean Piaget (1976), estudam fases do desenvolvimento infantil que nos ajudam a compreender mais sobre crianças de diferentes idades e seus respectivos desenhos. Para este trabalho tivemos como proposta a prática de análise e observação sobre desenhos infantis de 4 crianças de faixa etária entre 2 à 15 anos. Sendo um desenho livre, elaborado em uma folha sulfite e sem restrição de cores, apenas não foi permitido o uso de borracha. O grupo foi composto por 8 integrantes que foram divididos em duplas para coleta da análise. Luquet (1969) foi um dos primeiros teóricos a se interessar pelo desenho, chegando na conclusão em seus estudos que existem 4 fases diferentes no desenvolvimento do grafismo infantil. Ele as definiu como realismo fortuito para crianças dos 2 aos 3 anos, realismo gorado dos 3 aos 4 anos, realismo intelectual que vai dos 4 aos 8 ou 9 anos e por final, realismo visual a partir dos 8 até 12 anos. Lowenfeld (1976) partilha da mesma visão, dando nomenclatura diferente e pontuando uma diferença considerável de idade para essas 4 etapas. São elas: Garatuja com idade de 2 anos, pré-esquemático dos 4 aos 7 anos, esquemático dos 7 aos 9 anos e realismo dos 9 aos 12 anos. Assim como eles, Piaget (1976) também dividiu em fases o desenvolvimento do desenho infantil com relação a períodos do sensório, cognitivo e motor, sendo elas: Garatuja no período sensório-motor (0 a 2 anos) e parte do pré-operatório (2 a 7 anos), cujo pode ser dividida em mais duas subfases (desordenada e ordenada), a pré-esquemático cujo acontece no pré-operatório, a fase esquematismo no estágio operatório concreto (7 a 12 anos), a fase realismo que por sua vez ocorre no final do período do operatório concreto, e por fim a fase pseudo naturalismo que se encontra no estágio das operações abstratas ou operatório formal (12 anos em diante). 2. DESENVOLVIMENTO De acordo com Luquet, Lowenfeld e Piaget, o grafismo infantil não é apenas um ato criativo e espontâneo da criança, mas sim uma função do pensamento que tem por objetivo a representação intencional da realidade. A capacidade cognitiva de representação segundo Piaget, surge a partir de 2 anos de idade e pode ser manifesta através da linguagem, imitação, jogo simbólico, imagem mental e o próprio desenho. A princípio o objetivo de Piaget era observar o processo de desenvolvimento cognitivo das crianças, não focando na análise do grafismo em sua metodologia. O resultado de seus estudos então foi à criação da teoria de desenvolvimento cognitivo infantil, onde nela Piaget organiza estádios do desenvolvimento cognitivo segundo a faixa etária de 0 a 15 anos. Os estádios que remetem a fase do grafismo são: ESTÁDIO PRÉ-OPERATÓRIO (2 A 7 ANOS) De acordo com o teórico, essa fase se dá pela passagem da inteligência sensório- motora para a inteligência representativa, onde a criança começa a ter uma imagem mental das coisas que a cerca, possibilitando por exemplo, a representação de um objeto ausente. Mesmo nesse período é importante frisar que a criança ainda apresenta um pensamento pré-lógico como o pensamento egocêntrico, pensamento animista, pensamento artificialista etc. ESTÁDIO OPERATÓRIO CONCRETO (7 A 11 ANOS) Nesse período a principal característica é a capacidade cognitiva que a criança tem de coordenar pontos de vista de maneira lógica, podendo expressar ações cognitivas, mas elaboradas, por isso chamamos esse estádio de operatório concreto pois o pensamento deixa de ser pré-lógico e passa a ser operatório. Outras características que marcam essa fase é o pensamento indutivo, reversibilidade das operações mentais, conservação etc. ESTÁDIO OPERATÓRIO FORMAL (12 A 15 ANOS) Entre essas idades a criança passa a trabalhar com a lógica dedutiva e não mais com a lógica indutiva, essa capacidade cognitiva possibilita a resolução de situações- problemas do cotidiano que geram conflito e desadaptação mental. Além disso a criança também já é capaz de levantar hipóteses, testá-las e refletir sobre seus próprios pensamentos, a fim de justificar, de forma lógica, seus julgamentos sobre algo ou sobre o mundo. A teoria piagetiana e seus estádios do desenvolvimento foram tão importantes que deram base para outros teóricos como Luquet e Lowenfeld a desenvolverem suas teorias, só que diferente de Piaget, esses outros dois estudiosos focaram mais no grafismo em si, na análise dos traços e suas representações. Para compor sua teoria Luquet observava o desenho de seus filhos e assim como Piaget, ele também chegou à conclusão de que o desenho é uma imitação do real através da representação, e essa intenção realista vai se desenvolvendo na medida em que a criança vai ficando mais velha. Após chegar a esse entendimento Luquet separou fases do realismo conforme o avanço de idade das crianças, essas fases são: REALISMO FORTUITO (2 A 3 ANOS) Nesse período a criança faz uma analogia entre o traço do seu grafismo e um objeto, podendo mudar o significado do mesmo ao longo do desenho. Esse tipo de grafismo ocorre despretensiosamente, ao acaso, por isso o nome realismo fortuito. REALISMO GORADO (3 A 4 ANOS) A criança aprende a representar com fracassos e sucessos, pois ela já tem uma intenção realista, mas se depara com características físicas e mentais ainda não tão desenvolvidas, como a coordenação e a percepção, por isso é comum nessa fase as crianças desenharem uma pessoa com as pernas e os braços saindo da cabeça por exemplo. REALISMO INTELECTUAL (4 A 8 ANOS) Nessa faixa etária os desenhos passam a ser mais elaborados, com plano de fundo, transparência e rebatimento, pois a criança começa a desenhar o que sabe e não somente o que vê. O desenho da criança nessa fase será mais detalhado, intencional e seus traços serão mais bem executados, pelo fato da coordenação nessa idade ser mais desenvolvida. REALISMO VISUAL (9 A 12 ANOS) A característica mais marcante desse período é o empobrecimento do grafismo por um apego maior a realidade, a criança passa a desenhar o que vê, não mais o que sabe gerando perda de espontaneidade e redução a produção artística. Para Luquet há uma submissão da parte da criança às leis da realidade. Viktor Lowenfeld também realizou inúmeros estudos sobre o grafismo infantil e assim como Luquet e Piaget estabeleceu fases do desenvolvimento que percorre a infância e vai até a adolescência, em sua teoria Lowenfeld nomeou essas fases da seguinte maneira: GARATUJAS (2 Á 4 ANOS) O teórico Lowenfeld separou três tipos de grafismo nessa fase: Desordenado (rabiscos que ultrapassam o limite do papel), controlado (os rabiscosnão ultrapassam mais o limite do papel), nomeado (a criança tira o lápis do papel e nomeia os traços que fez) e diagramado (traços e linhas se interligam formando o que parece ser um mosaico). PRÉ- ESQUEMÁTICO (4 A 7 ANOS) Nessa fase se inicia a representação da figura humana, e mesmo sem a presença de uma linha de chão no desenho, a criança começa a ajustar a posição dos elementos conforme sua realidade, pássaros na parte superior e casa na parte inferior do papel por exemplo. ESQUEMÁTICO (7 A 9 ANOS) Há nesse período exageros nos traços e a utilização de plano deitado, há também de forma mais clara o aparecimento de linhas bases tornando o desenho mais coordenado, a ideia de objetos do chão e objetos do céu já é concreta nessa faixa etária. REALISMO (9 A 12 ANOS) O nome dessa fase se dá pela preocupação da criança em representar de forma fiel a realidade que a cerca, usando para isso técnicas um pouco mais avançadas como profundidade e sobreposições. Também teremos nessas idades grafismos com riquezas de detalhes e o início de desenhos satíricos. 2.1. ANÁLISE DO DESENHO 2-3 Nome: H.R. Idade: 1 ano e 11 meses Materiais: Folhas de sulfite, lápis coloridos, giz de cera e uma canetinha marrom. No dia 13 de março, L. R., mãe de H.R., aceitou o convite para permitir em que seu filho participasse da realização do trabalho. Prestes a completar 2 anos no dia 20/03, H.R. desenvolveu um desenho onde teve em sua disponibilidade folhas sulfites, lápis de diferentes cores, giz de cera e uma caneta colorida. O mesmo ficou impressionado com a variedade de materiais e em seguida tentou usar todos os lápis de uma vez, mas sem sucesso, em seguida, pegou o giz de cera verde e criou alguns traços, o que não durou muito pois trocou o giz pelo lápis, entretanto, ao observar que tinha uma canetinha, optou por usá-la. Antes de iniciar, o mesmo foi questionado sobre o que ia desenhar, a resposta foi ele mesmo, ao decorrer do tempo foi questionado mais uma vez e a resposta mudou, ele estava desenhando a mãe, assim que acabou foi perguntado novamente o que ele tinha desenhado e a resposta foi um “au au”, vulgo cachorro. A mesa bem como as folhas por baixo da utilizada também foram rabiscadas, porém de uma forma involuntária. Enquanto desenhava, H.R. narrou alguns de seus movimentos, como quando pegou o lápis e trocou pela canetinha e, tanto o giz, quanto o lápis e a canetinha, eram seguradas com as pontas dos dedos conforme os traços eram feitos. Segundo Luquet sobre o desenvolvimento do grafismo, consideramos que H.R. se encontram na fase do realismo fortuito (2 aos 3 anos), já para Lowenfeld na fase de garatuja (2 anos), ambas semelhantes. Os traços aos poucos começaram a ganhar intencionalidade, mas o significado não foi permanente pois as formas mudam constantemente de definição, além da noção de espaço ainda ser ilimitada, não havendo limite de margens. Já Piaget que estuda o desenvolvimento de habilidades cognitivas e motoras, observamos que a criança entrevistada está em transição de uma fase para outra, da sensório-motor (0 aos 2 anos), onde mostrou que H.R. ainda teve uma descarga motora em suas ações, para a fase pré-operatório (2 aos 7 anos), pelo fato de o mesmo demonstrar estar desenvolvendo a capacidade de representação e aparecimento da linguagem, principalmente por antecipar suas ações futuras. Entretanto, apesar do pré-operatório ser esperado o desenvolvimento da coordenação motora fina, H.R. nos surpreendeu ao mostrar tamanha habilidade no movimento de pinça com os dedos além de também não precisar do giz indicado para sua idade, pois geralmente crianças de 2 a 3 anos ainda estão desenvolvendo a prática de segurar objetos com a ponta dos dedos e nesse caso, mesmo tendo menos de 2 anos, vemos que a habilidade de pinça já se faz presente na criança. Seu desenho condiz com a sua fase, mas seu desenvolvimento psicomotor nos parece bem adiantado para sua idade. Logo, nos surpreendemos com o fato de ter resquícios da fase sensório-motor com habilidades bem desenvolvidas que se aprende ao decorrer do período pré-operatório. Já visando o desenvolvimento do desenho infantil, ainda segundo Piaget, H.R. localiza-se na fase garatuja em suas duas subfases, pois ainda adquire movimentos amplos e desordenados, sem preocupação se um rabisco cobrirá o outro (desordenada) mas ao mesmo tempo demonstra o início de movimentos circulares e longitudinais, além de não manter relação fixa entre o objeto e sua representação (ordenada). 2.2. ANÁLISE DO DESENHO 4-6 Nome: A.C. Idade: 5 anos e 9 meses Materiais: Folha de sulfite, canetas e canetinhas coloridas No dia 14 de março, seguimos a casa da participante A.C., no caso irmã da entrevistadora. Inicialmente pedimos autorização para a mãe dela para participar da entrevista, que aceitou e logo preencheu o termo. Seguimos para a sala, onde a A.C. se sentou na mesa, pedimos para ela fazer um desenho, imediatamente aceitou e começou a pensar no que poderia fazer. Não disse o que iria desenhar, apenas mostrava, em alguns momentos, por busca de aprovação. A integrante do grupo interagiu com a criança, auxiliando com os materiais e comentando sobre o desenho. Durante o processo, foi questionado o que ela desenhou, logo em seguida a criança respondeu prontamente: "Você". A entrevistada A.C conversou o tempo todo, uma experiência agradável e única ver a alegria dela em fazer o desenho. Contudo, não houve dificuldade alguma, a mesma até autografou seu desenho. No primeiro momento, disse que o que havia no desenho era a irmã dela, logo após alguns minutos mudou de ideia e disse que era ela, mas trocou novamente afirmando ser sua irmã, mostrando uma certa representatividade ao fazer o desenho. Outra parte do desenho, disse que era o céu e rabiscou com caneta a parte superior da folha de sulfite, fazendo os traços das nuvens e desenhando sua própria casa. Chegou até fazer um coração para a irmã dela. Dessa forma, concluímos nossa entrevista com a entrega do desenho. Segundo Jean Piaget (1896-1980) com sua Teoria do Desenvolvimento, consideramos que a entrevistada se encontra no estádio Pré-operatório, tanto por sua idade coincidir com a teoria (2 a 7 anos), mas também por apresentar características semelhantes ao que é proposto, por exemplo conseguir fazer representatividade das pessoas, ao dizer que desenhou sua irmã e/ou a si mesmo. Também mostra a capacidade de pensar no que não está presente, como a casa, nuvem e afins. Ordenada: com movimentos longitudinais e circulares; coordenação viso-motora. Retrata a figura humana de forma imaginária, exploração do traçado, interesse pelas formas. Onde a criança descreve o que vai desenhar, mas não existe relação fixa entre o objeto e sua representação. Por isso ela pode representar o traçado com um nome, e antes de terminar o desenho, renomea-lo. Com base na teoriade Luquet (1876-1965), a A.C. encontra-se na 3° fase: Realismo intelectual dos 4 aos 8/9 anos, encaixando sua idade ao esperado, considerado normativo. Há alguns exemplos de características presente que demonstram que A.C. se encontra nessa fase, como expressar sua criatividade sobre aquilo que sabe sobre os objetos e não aquilo que vê. Utiliza também objetos abstratos para mostrar afeto, um exemplo seria o coração no canto superior da folha. E na análise segundo Lowenfeld (1903-1960), a entrevistada se inclui na etapa pré-esquemático de 4 a 7 anos, por passar a fazer tentativas de representar o real, ao desenhar uma pessoa conforme ela enxerga na realidade, de maneira desordenada e desproporcional. 2.3. ANÁLISE DO DESENHO 7-10 Nome: M.S.A Idade: 8 anos e 10 meses Materiais: Lápis de cor, de escrever, caneta e folha de sulfite. Inicialmente conversamos com o responsável para pedirmos autorização. Após termos a autorização, marcamos a data do encontro para o dia 13/03/2020 às 14:20. Chegando na casa da criança, separamos o material utilizado e explicamos para ela que precisávamos fazer um trabalho para faculdade, se ela poderia nos ajudar fazendo um desenho de sua preferência. A criança concordou e perguntou o que teria que desenhar, dissemos que era um desenho livre, questionou por que teria que desenhar qualquer coisa, e foi dito que a professora nos orientou para que fosse assim. Em seguida questionou se poderia fazer uma princesa, respondemos que poderia ser o que ela quisesse novamente e a criança disse que ia desenhar uma princesa sereia. No início do desenho, com o lápis de escrever, ela ficou quieta até terminar a princesa sereia, momento em que ela mostra o desenho e comenta: “Assim?”, esperando uma possível aprovação. Sem respondermos nada, ela olhou para o desenho, pensou e voltou a desenhar fazendo a pedra em que a princesa sereia está sentada, em seguida o mar, o sol e as nuvens permanecendo sem descrever o que fazia. Concluiu dizendo pronto, vou pintar. Usou cores vivas, mas pintou com leveza e sempre analisando sua caixa de cores para saber qual usar. Ao anunciar que havia terminado, fizemos perguntas sobre o desenho. Ela disse que gostou e conta detalhes sobre ele, informando que gosta de desenhar princesas. Para Piaget (1896-1980) crianças de 6 a 10 anos se encontram no momento operatório-concreto, momento em que a criança começa a atingir pensamentos lógicos para resolução de problemas. Com isso, a criança de 8 anos, por conter as características citadas anteriormente, se encontra no estádio operatório-concreto. Aplicando seu desenho na teoria de grafismo deste autor, a M.S.A está na fase do realismo, pois é possível identificar a diferenciação de sexo do(a) personagem desenhado tanto na fisionomia, quanto na vestimenta – este detalhe se encontra no cabelo comprido e ao desenhar a parte superior de um biquine na sereia. E também uma tentativa de trazer seu desenho para o real com a descoberta do plano e da superposição (BOMBONATO G.A.; FARANGO A.C., 2016, p. 192). De acordo com as fases apresentadas por Luquet (1876-1965), M.S.A apresenta aspectos relacionados ao Realismo Intelectual, onde ela desenhou aquilo que conhece, produz os objetos que estão ausentes usando a criatividade e consegue transmitir elementos reais em seu desenho. Seguindo para teoria de Lowenfeld (1903-1960), sobre o grafismo, a criança está na fase do realismo, pois não desenha mais se baseando em formas geométricas. Seu traço passa a ser mais aproximado ao natural, como vemos em seu desenho. Ela deixa de desenhar de maneira espontânea e passa a reproduzir formas que são reais e fazem sentido no senso comum em que vive. 2.4. ANÁLISE DO DESENHO 11-15 Nome: G.S.S. Idade: 11 anos Materiais: Folha de sulfite, lápis de cores e lápis comum. Numa tarde de sábado, se locomovemos a casa da participante G.S.S. que está na faixa etária de 11 anos e nos apresentamos formalmente como estudantes de psicologia aos responsáveis da menor de idade. Ao solicitar e explicar sobre a aplicação do teste para os pais e a aceitação deles, seguimos ao quarto da criança, sendo um ambiente onde ela se sente confortável e a tranquila e começamos o diálogo para uma boa convivência prévia ao teste. Deixando ela a vontade, disponibilizamos uma folha sulfite, lápis e lápis de cores e fizemos um pedido: “Poderia fazer um desenho nessa folha, por favor?”, ao concordar com a cabeça, G.S.S. começou a virar a folha e ficar com um olhar pensativo. Após alguns minutos, começou a criar algumas hipóteses: “Acho que vou desenhar uma casa... – Parou com um olhar curioso aos materiais disponíveis e falou rindo – Não tenho régua!”. Depois de ao total de 6 minutos de tentativa de criação de algum desenho, deixando presente o sentimento de preocupação e interesse, começou os primeiros traços. Ao passar 20 minutos da produção do desenho, com dedicação e foco, terminou e nos entregou a folha, assim finalizamos com a frase: “Ficou lindo, obrigada!” Com uma reflexão conjunta sobre o desenho e com base na Teoria do Desenvolvimento Cognitivo presente no livro Seis Estudos de Psicologia (1967) de Jean Piaget (1896-1980), concluímos que a criança entrevistada G.S.S. se encontra no período transitivo entre Operatório Concreto e Formal, por levarmos em consideração alguns fatores, tais como que o Operatório Concreto se encontra na idade de 7 aos 12, condizente com a entrevistada que está nessa faixa, outros fatores que demonstram estar nesse estádio é a presente sabedoria de fazer operações mentais/contas matemáticas (no momento da contagem das cores na hora de separá-las) e compreensão da permanência dos objetos mesmo sem ter a visão dos mesmo (arco-íris continua mesmo com a nuvem na frente dele). Entretanto, no Operatório Formal já há uma estrutura mental possibilitando a criação de hipóteses, presente na G.S.S. ao tentar desenhar a casa. Com base nesse mesmo autor citado acima, entretanto, falando diretamente sobre o Grafismo, podemos concluir que a G.S.S. se encontra na fase Pseudo Naturalismo tanto por sua idade ser de acordo com a teoria, mas também por conter em seu desenho uma riqueza em detalhes, características semelhantes com a realidade e uma grande preocupação com as cores, assim como é proposto teoria de Jean Piaget (1896-1980) descrita no artigo acadêmico de Giseli A. Bombonato e Alessandra C. Farago do UNIFAFIBE (2016). Considerando a Teoria de Lowenfeld (1903-1960) sobre os desenhos infantis, nossa entrevistada G.S.S. demonstra-se em fase adequada para sua idade, sendo incluída na fase 4 designada de Realismo (9 a 12 anos). Com isso, conseguimos compreender que a criança dessa fase, entende melhor sobre a realidade que vive, observando as coisas ao seu redor com maior perspectiva da realidade que outra criança que se encontra na fase anterior nomeada de esquemático,por exemplo. Além disso, levando também a consideração a teoria de Luquet (1876-1965) sobre Etapas Gráficas do Desenvolvimento do Desenho, concluímos que a entrevistada G.S.S. está incluída na fase 4° nomeada de Realismo Visual, por conter os aspectos e idade que propõe essa etapa. Alguns dos aspectos que a G.S.S. demonstrou durante a entrevista para se incluir a essa fase é a questão do apego a realidade (desenho aquilo que vê), opacidade-perspectiva (noção que a nuvem está a frente, portanto, não desenho o final do arco-íris) e o distanciamento dos detalhes e contextos no desenho. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em uma observação geral das análises feitas, apenas a de 1 ano e 11 meses se mostrou avançada em alguns pontos para sua idade conforme dito em sua análise. E é possível perceber que as crianças entre 2 e 6 anos, vocalizam mais durante seus desenhos. Se olharmos pela teoria de Piaget, quando crianças fazem algo do qual julgam difícil, elas vocalizam como se quisessem aumentar sua concentração, que nessa fase ainda é bem dispersa. Assim, conforme a idade da criança aumenta, pode ser possível confirmar que sua estrutura cognitiva se molda a essas tarefas difíceis, tornando as fáceis, assim não dispersando mais e vocalizando cada vez menos. Isso se comprova ao percebemos que as crianças de 8 e 11 anos ficaram quietas, apresentaram tranquilidade e uma concentração maior e por mais tempo ao fazer o desenho. Com a prática do trabalho, conseguimos comprovar outra teoria de Piaget onde o mesmo afirma que as crianças mais novas têm sua criatividade constantemente ativa e ao longo dos anos, ao chegar na adolescência, essa criatividade vai dando lugar para o realismo, que seria desenhar exatamente o que vê e não mais o que imagina e cria. Notamos isso ao observar a mudança de ideias ao longo do desenho das crianças mais novas e a certeza e realidade no desenho das crianças mais velhas. Luquet e Lowenfeld em alguns pontos apresentam semelhanças em seus pensamentos, como a evolução da fantasia para o real. No decorrer do trabalho tivemos uma grande dificuldade de apresentar e relacionar o grafismo de Piaget e por ter grande semelhança com a dos teóricos Luquet e Lowenfeld, não conseguimos diferenciar sua teoria. Felizmente durante algumas pesquisas, tendo apenas como base artigos científico e o conteúdo passado em aula, foi possível o entendimento de sua teoria onde ele usou o desenvolvimento cognitivo para fazer uma relação às teorias do grafismo dos outros autores, desenvolvendo assim a sua. Seu interesse surgiu ao concordar que o desenho é uma forma de comunicação adequada para análise do desenvolvimento de uma criança. Por fim, concluímos que quase todas as crianças chegaram ao resultado esperado conforme as teorias, estando na fase esperada para sua idade ou em transição, trazendo a validade delas perante a atualidade. 4. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA BOMBONATO G.A.; FARANGO A.C. As etapas do desenho infantil segundo autores contemporâneos. UNIFAFIBE - Bebedouro -SP, 2016. PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento humano. 12 ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Trad. Maria A.M. D’Amorim; Paulo S.L. Silva. Rio de Janeiro: Forense, 1967. 5. ANEXO
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