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Desenvolvimento Cognitivo – Jean Piaget Profª Érica Henke Garcia Universidade Estácio de Sá Jean Piaget Nasceu em Neuchatel, Suíça em 1896 Biólogo Estudo de questões epistemológicas na Psicologia Participou de estudos sobre inteligência Interesse pelas respostas erradas das crianças – processo de pensamento subjacente na emissão daquela resposta (RAPPAPORT, 1981) Jean Piaget Interesse inicial em como a criança organiza o conhecimento do mundo real, não na aprendizagem em si Interacionismo – experiências + processos de pensamento (URRUTIGARAY, 2016) Adaptação à realidade externa depende basicamente do conhecimento (RAPPAPORT, 1981) O desenvolvimento para Piaget “Volta-se para as mudanças, ou estágios, na qualidade do funcionamento cognitivo. Ele quer saber como a mente estrutura suas atividades e se adapta ao ambiente.” (PAPALIA; FELDAMN, 2013) Para Piaget desenvolvimento é o produto dos esforços da criança para entender e agir em seu mundo (PAPALIA; FELDAMN, 2013) “...para Piaget, o conhecimento seria o resultado de construções sucessivas com elaborações constantes de estruturas novas e, desse modo, não proviria unicamente da experiência com os objetos ou mesmo de uma condição inata pré-formada no indivíduo” (URRUTIGARAY, p.71, 2016) Algumas considerações Para Piaget, a mente da criança não é uma miniatura da mente do adulto (PAPALIA; FELDMAN, 2013) A criança tem um modo diferente do adulto de pensar Método clínico: observação e indagação flexível Estudo experimental com crianças – desenvolvimento intelectual, evolução da inteligência humana Estruturas formam-se gradualmente, permitindo que a criança construa a sua realidade ao adquirir o conhecimento de modo ativo (URRUTIGARAY, 2016) Conceitos importantes na teoria piagetiana O crescimento cognitivo ocorre por meio de alguns processos: Hereditariedade Esquema Adaptação Equilibração (RAPPAPORT, 1981; PAPALIA; FELDMAN, 2013) Hereditariedade Hereditariedade – o indivíduo herda uma série de estruturas (sensoriais e neurológicas) que predispõem ao surgimento de certas estruturas mentais Para Piaget não se herda a inteligência, mas sim o organismo que irá amadurecer ao entrar em contato com o ambiente Ambiente inclui aspectos: físicos e sociais Interação organismo ambiente: resultam estruturas cognitivas que funcionarão de modo semelhante por toda a vida (RAPPAPORT, 1981) Hereditariedade Maturação do organismo (desenvolvimento do sistema nervoso central) – contribui para a formação de novas estruturas mentais que irão possibilitar uma adaptação cada vez melhor ao ambiente Importância da estimulação física (objetos para manipular, lugares a serem explorados, oportunidade de observação de fenômenos da natureza) e sociais (reforça e valoriza a aquisição de competências da criança) (RAPPAPORT, 1981) Esquema No início da vida o bebê só tem reflexos (fecha os olhos para uma luz forte, mas não entende o porquê fecha os olhos) Tendência a criar categorias A partir de um equipamento biológico hereditário a criança forma estruturas mentais para organizar o caos de sensações e estados internos desconhecidos Esquema é uma estrutura unitária básica, assim como a célula o é para o corpo humano Esquemas podem ser definidos também como estrutura biológica que muda e se adapta (RAPPAPORT, 1981;PAPALIA; FELDMAN, 2013) Esquema São unidades estruturais móveis que se modificam e se adaptam (ex.: pegar coisas, mãe) Os esquemas tornam-se cada vez mais complexos. Ex.: ato de sugar, classificação dos pássaros Esquemas – unidade estrutural básica do pensamento ou ação que refere-se ao modo de organizar informações sobre o mundo Os esquemas irão controlar a maneira como a criança pensa e se comporta em uma determinada situação (RAPPAPORT, 1981;PAPALIA; FELDMAN, 2013) Adaptação Modo como a criança lida com as novas informações por meio daquilo que ela já sabe (PAPALIA; FELDMAN, 2013) O desenvolvimento cognitivo começa com a capacidade inata de se adaptar ao ambiente (PAPALIA; FELDMAN, 2013) O ato de conhecer é prazeroso e gratificante e é uma força motivadora para o desenvolvimento (RAPPAPORT, 1981) Conhecimento possibilita novas formas de interação com o ambiente, o que possibilita uma adaptação mais completa e eficiente. Assim o organismo se sente mais apto a lidar com situações novas. (RAPPAPORT, 1981) Adaptação Ocorre por meio de dois processos complementares: Assimilação – compreende algo novo com base no conhecimento que já possui (estruturas cognitivas)(ex.:boneca) Acomodação – ajustar as próprias estruturas cognitivas para encaixar a informação nova (ex.: boneca) (PAPALIA; FELDMAN, 2013) Equilíbrio ou equilibração Esforço constante para atingir um equilíbrio estável O bebê irá organizar as sensações que recebe em um esquema sensorial-motor, permitindo a atuação do bebê sobre a realidade (RAPPAPORT, 1981) Passagem da assimilação para acomodação Criança não consegue lidar com novas experiências dentro das estruturas cognitivas existentes – estado motivacional desconfortável (desequilíbrio) Ex.: Pássaro e avião (PAPALIA; FELDMAN, 2013) Equilíbrio ou equilibração Assimilação + acomodação = equilíbrio Busca por equilíbrio é a força motivadora do crescimento cognitivo Cada estágio do desenvolvimento cognitivo emerge de um momento de desequilíbrio, ao qual a criança se adapta aprendendo a pensar de uma maneira nova ou modificada (PAPALIA; FELDMAN, 2013) Adultos possuem estruturas e modos de funcionamento dessas estruturas que lhes permitem viver em um estado de equilíbrio satisfatório com o ambiente O equilíbrio no caso adulto, não é estático, mas sim dinâmico, pois situações novas surgem e o adulto precisa aprender a lidar com ela, porém nenhuma estrutura nova irá surgir (RAPPAPORT, 1981) Estágios do desenvolvimento Formas diferentes de interagir com o ambiente nas diferentes faixas etárias Estágio ou período – maneira típica de agir ou pensar Construção da inteligência – a medida que a criança amadurece física e psicologicamente, é estimulada física e socialmente pelo ambiente Criança é vista como agente de seu próprio desenvolvimento A maturação é um processo biológico essencial ao desenvolvimento e como este processo ocorre mais ou menos no mesmo período para crianças de uma mesma idade e cultura os mecanismos funcionais e as estruturas mentais acabam sendo comuns à grande maioria de crianças de uma mesma faixa etária – por isso a teoria de Piaget pode ser dividida em estágios ou períodos (RAPPAPORT, 1981) Estágios do desenvolvimento intelectual: Sensório-motor (0 a 2 anos) Pré-operacional (2 a 6 anos) Operações concretas (7 a 11 anos) Operações formais (12 em diante) Estágio sensório-motor De 0 a 2 anos aproximadamente Bebês aprendem sobre si mesmos e seu ambiente – atividade sensorial e motora Organização dos estímulos ambientais permitindo ao bebê lidar com essa situação mesmo que de forma rudimentar (RAPPAPORT, 1981) Importância da estimulação visual, tátil, auditiva por meio de objetos e brinquedos adequados (URRUTIGARAY, 2016) Estágio sensório-motor Diferenciação entre os objetos externos e o próprio corpo (RAPPAPORT, 1981) Aos poucos o bebê coordena seus reflexos e reações (ex. olha para o que escuta, chupa objetos) Início do comportamento interacional – aprendem com experiências passadas para resolver novos problemas (URRUTIGARAY, 2016) Estágio sensório-motor Para que a criança consiga organizar a realidade é preciso que ao final desse estágio ela seja capaz de: Ter noção de permanência dos objetos (aprox. aos 9 meses), permite a concepção de um mundo estável em que a existência dos objetos é independente da percepção imediata; Construção de um espaço prático – espaço geral que contém todos os outros espaços parciais, assim como a percepção de si mesmo como um objeto espacialmente integrado e colocado Noção de causalidade Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=lQyyzmb4WZU&list=PLojBKTvfY2-EyDyKy6MPrGSiDhkj0Ut-Y&index=2 Estágio pré-operacional2 a 6 anos aproximadamente 2ª infância – idade pré-escolar Desenvolvimento da fala Na transição entre sensório-motor e pré-operacional - Início da capacidade representacional – capacidade de representar mentalmente objetos e ações na memória através de símbolos (palavras, números, etc) – marca a transição para o estágio pré-operacional Gradual sofisticação do pensamento simbólico (URRUTIGARAY, 2016) Estágio pré-operacional Expansão do vocabulário linguístico Capacidade de usar símbolos mentais (imagens ou palavras) – representa objetos não presentes Compreendem que pessoas e objetos são basicamente os mesmos por mais que mudem de forma, tamanho e aparência 3 anos – relações espaciais (imagens, mapas, maquetes) – dupla representação (o símbolo e aquilo que é representado pelo símbolo) conseguem entender que a maquete representa um lugar, por ex. Estágio pré-operacional Interesse e procura na interação com seus pares (outras crianças) Relacionamento ao fazer coisas juntas, mesmo brincando sozinhas (egocentrismo, dificuldade em considerar a outra pessoa como um ser com sentimentos, atitudes e vontades diferentes das suas próprias) Linguagem socializada (diálogo verdadeiro com intenção de comunicação) porém ainda egocêntrica Verbalização acompanha a ação - treino dos esquemas verbais recém-adquiridos, passagem gradual do pensamento explícito (motor) para o pensamento interiorizado Características do pensamento infantil no estágio pré-operatório: Egocentrismo – não conseguem aceitar o ponto de vista do outro Centralização – dificuldade de considerar mais de uma dimensão de um acontecimento ao mesmo tempo Animismo – atribui vida aos objetos, animais falam e nos entendem Realismo nominal – objeto e seu nome sempre existiram (crianças bilíngues aprendem essa diferenciação mais cedo) Classificação – não tem noção dos princípios abstratos que orientam a classificação - dificuldade de agrupar “objetos que se parecem”, aos 5 anos a criança consegue classificar segundo a forma, cor e tamanho (URRUTIGARAY, 2016) Ausência de pensamento conceitual e de noções de conservação e invariância (ex.: mudança do líquido de recipiente) (RAPPAPORT, 1981) Exemplos da ausência de conservação e invariância Vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Dibr12uwXak Estágio operatório concreto Dos 7 aos 11 anos Fundamental 1 – intensificação do conteúdo de estudo na escola Grandes aquisições intelectuais ocorrem Declínio do egocentrismo intelectual e crescente incremento do pensamento lógico Necessidade de explicar logicamente suas ideias e ações Consegue internalizar a Inteligência sensório-motora adquirida anteriormente e ainda necessária no estágio pré-operacional (RAPPAPORT, 1981) Estágio operatório concreto Respostas mentais a objetos e situações reais (ex.: ordenar varetas por altura) Utiliza a lógica para a resolução de problemas concretos (aqui e agora) Não conseguem pensar de forma abstrata (PAPALIA; FELDMAN, 2013) Aquisição da noção de conservação e invariância dos objetos (ex.: líquidos) – consolida o pensamento da criança em uma estrutura lógica Julgamento deixa de depender exclusivamente da percepção e torna-se conceitual Linguagem vai deixando de ser egocêntrica e torna-se totalmente socializada (RAPPAPORT, 1981) Estágio operatório concreto Diminuição do egocentrismo social – pessoas têm pensamentos, sentimentos e necessidades diferentes das necessidades da criança Interação social mais genuína e efetiva tanto com seus pares como com os adultos Flexibilidade mental – possibilita entender regras de jogos (RAPPAPORT, 1981) Estágio operatório concreto Domínio do conceito de número e tempo Julgamento moral – agora as intenções do sujeito são levadas em consideração, diferente do período anterior em que apenas o ato praticado era levado em consideração Pouco a pouco a criança começa a estruturar seu universo por meio da razão, pois está desenvolvendo a capacidade de pensar, de se diferenciar do mundo e deixa de lado o egocentrismo (RAPPAPORT, 1981) Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=0qsgnfM15n4&list=PLojBKTvfY2-EyDyKy6MPrGSiDhkj0Ut-Y&index=3 Estágio operatório formal Entre os 11, 12 anos em diante Operações formais – capacidade para o pensamento abstrato Pensamento abstrato: Permite um modo mais flexível de manipular as informações; Compreensão do tempo histórico e espaço extraterrestre; Uso de símbolos representando outros símbolos (x = 20); Compreensão do que é uma metáfora; Pensar em possibilidades e formular hipóteses Capacidade de realizar deduções: chegar a uma conclusão por meio de uma hipótese Consegue compreender a forma de um argumento sem necessariamente conhecer a realidade concreta dele (URRUTIGARAY, 2016) Estágio operatório formal Formula seus próprios valores e questiona os valores dos pais – adquire assim autonomia Torna-se consciente do próprio pensamento, reflete sobre ele e oferece justificações lógicas para os julgamentos que faz Novas aquisições interferem no comportamento do adolescente – auxílio na busca de sua identidade e autonomia Formação do pensamento lógico-formal – forma final de equilíbrio (RAPPAPORT, 1981) Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=qF-68bZehg0&list=PLojBKTvfY2-EyDyKy6MPrGSiDhkj0Ut-Y&index=4 Contribuições importantes Saber como a criança pensa ajuda professores e pais a entendê-la e ensiná-la Piaget auxiliou educadores a elaborar currículos apropriados aos diferentes níveis de desenvolvimento Algumas críticas Desenvolvimento cognitivo é mais gradual e contínuo Tarefas que envolvem o raciocínio formal é uma função tanto do desenvolvimento quanto da cultura Lógica formal não explica habilidades maduras como: resolução de problemas práticos, sabedoria, capacidade de lidar com situações ambíguas (PAPALIA; FELDMAN, 2013) Exercício Como a teoria de Piaget modifica a forma de pensar do desenvolvimento cognitivo infantil? Como a teoria de Piaget pode ser aplicada em escolas em benefício do desenvolvimento infantil escolar? Referências bibliográficas PAPALIA, Diane E.; FELDMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento humano. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. RAPPAPORT, Clara Regina; FIORI, Wagner da Rocha; DAVIS, Claudia. Teorias do desenvolvimento: conceitos fundamentais. 7 ed. São Paulo: EPU, 1981. v. 1 URRUTIGARAY, Maria Cristina. Desenvolvimento da infância e da adolescência. Rio de Janeiro: SESES, 2016.
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