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FÍSICO-QUÍMICA I F IQF235 TERCEIRA LISTA DE EXERCÍCIOS GABARITO Prof. Rodrigo S. Bitzer, DFQ-IQ/UFRJ Termoquímica. Sugestões de leitura : P.W. Atkins e J. de Paula. Físico-Química Biológica , 1a ed., 2008. pp. 48-63. R. Chang. Físico-Química para as Ciências Químicas e Biológicas , vol. 1, 3a ed., 2010. pp. 98-124. ATENÇÃO Trate todos os gases como perfeitos 1) Classifique como endotérmica ou exotérmica: (a) uma reação de combustão para a qual Δ rH = -2020 kJ mol-1. ΔrH = qp < 0: exotérmica. (b) uma dissolução com Δ disH = +4,0 kJ mol-1. ΔrH = qp > 0: endotérmica. (c) uma vaporização. ΔrH = qp > 0: endotérmica. (d) uma fusão. ΔrH = qp > 0: endotérmica. (e) uma sublimação. ΔrH = qp > 0: endotérmica. ATENÇÃO Exceto quando escrito explicitamente, todos os exercícios numéricos foram resolvidos usando o Sistema Internacional de Unidades (SI) 1 2) Se a entalpia-padrão de combustão da grafita vale -393,5 kJ mol-1 e a entalpia-padrão de combustão do diamante vale -395,41 kJ mol-1, ambas a 298 K, calcule a entalpia da transição, Δ trH , C(s, grafita) → C(s, diamante) a 298 K. (+1,91 kJ mol-1) Para responder, basta usar a Lei de Hess: 3) A 298 K, a entalpia de desnaturação da lisozima branca do ovo de galinha vale +217,6 kJ mol-1. A variação da capacidade calorífica molar (ΔtrCp,m) durante a desnaturação é de +6,3 kJ K-1 mol-1. Calcule a entalpia de desnaturação da lisozima a 351 K (temperatura de “fusão” da proteína) e a 263 K. (+5,5 x 10 2 kJ mol-1; -2,9 kJ mol-1) Considerando que a variação da capacidade calorífica molar (ΔCp,m) da lisozima não depende da temperatura, podemos usar a equação de Kirchhoff simplificada: . A entalpia de desnaturação da lisozima a 351 K (Δ trH351) vale: ΔtrH351 = ΔtrH298 + ΔtrCp,m (351 K - 298 K) ΔtrH351 = +217,6 kJ mol-1 + (+6,3 kJ K-1 mol-1) (53 K) ΔtrH351 = +5,5 x 102 kJ mol-1. A entalpia de desnaturação da lisozima a 263 K (Δ trH263) vale: ΔtrH263 = ΔtrH298 + ΔtrCp,m (263 K - 298 K) ΔtrH263 = +217,6 kJ mol-1 + (+6,3 kJ K-1 mol-1) (-35 K) ΔtrH263 = -2,9 kJ mol-1. Os cálculos acima mostram que a desnaturação da lisozima não é sempre endotérmica. De fato, é possível verificar que temperaturas abaixo de 263,65 K (-9,5oC) fornecem entalpias de desnaturação exotérmicas. 2 4) Calcule a entalpia de vaporização da água a 100oC, a partir do seu valor a 25oC (+44,01 kJ mol-1). As capacidades caloríficas do líquido e do vapor são, respectivamente, 75,29 J K-1 mol-1 e 33,58 J K-1 mol-1. (+40,88 kJ mol-1) Perceba que a entalpia-padrão de vaporização da água a 100oC é menor que a entalpia-padrão de vaporização a 25oC. 5) Numa reação de combustão, é possível estimar a entalpia-padrão de combustão, ΔcH , a partir da variação de energia interna (ΔcU). A entalpia-padrão de combustão consiste na variação de entalpia-padrão por mol de substância combustível. Para uma reação química de combustão envolvendo apenas espécies gasosas, é possível mostrar que ΔcH = ΔcU + Δνgás R T, onde Δνgás = Σνprodutos – Σνreagentes é a diferença entre os coeficientes estequiométricos das espécies em fase gasosa. Por exemplo, na reação CaCO3(s) → CaO(s) + CO2(g), Δνgás é igual a 1. A entalpia-padrão de combustão do gás propano vale -2220 kJ mol-1 a 298 K, e a entalpia de vaporização do líquido vale +15 kJ mol-1. Calcule a entalpia-padrão e a energia interna padrão de combustão do propano líquido a 298 K. (-2205 kJ; -2200 kJ) Precisamos, inicialmente, montar um ciclo termodinâmico para determinar a entalpia-padrão de combustão (Δ cH ) do propano líquido: C3H8(g) + 5 O2(g) → 3 CO2(g) + 4 H2O(l), ΔcH = -2220 kJ mol-1 + C3H8(l) → C3H8(g), ΔvapH = +15 kJ mol-1 ___________________________________________________________ C3H8(l) + 5 O2(g) → 3 CO2(g) + 4 H2O(l), ΔcH = -2205 kJ mol-1. 3 Usamos a equação ΔcH = ΔcU + Δνgás R T para calcular a energia interna padrão de combustão (Δ cU ) do propano líquido, sabendo que Δ νgás = 3 - 6 = -2: ΔcH = ΔcU + Δνgás R T ΔcU = ΔcH - Δνgás R T ΔcU = (-2205 x 103 J mol-1) - [(-2) (8,314 J mol-1 K-1) (298,15 K)] ΔcU = -2200 x 103 J mol-1 = -2200 kJ mol-1. 6) A entalpia-padrão da reação abaixo vale -3120 kJ. 2 C2H6(g) + 7 O2(g) → 4 CO2(g) + 6 H2O(l), ΔrH = -3120 kJ. Quanto vale a entalpia-padrão de combustão do etano? Quanto vale a entalpia específica de combustão do etano? O etano é um combustível mais ou menos eficiente que o metano? Justifique sua resposta. (-1560 kJ mol-1; 51,88 kJ g-1; metano) Como mencionado no enunciado do exercício 5, a entalpia-padrão de combustão (ΔcH ) consiste na variação de entalpia-padrão por mol de substância combustível. Assim, a entalpia-padrão de combustão do etano é a metade da entalpia-padrão da reação fornecida no enunciado: ΔcH = -1560 kJ por mol de etano. Para calcular a entalpia específica do etano, que consiste num valor positivo dado em kJ g-1, basta dividir o módulo de ΔcH , |ΔcH |, pela massa molar (M/g mol-1) do etano: Entalpia específica do etano = 1560 kJ mol-1/30,07 g mol-1 Entalpia específica do etano = 51,88 kJ g-1. A entalpia específica fornece o calor liberado na queima de 1 g de combustível. Quanto maior o seu valor, mas adequado é o combustível. A entalpia específica do gás H2 é 142 kJ g-1. Para responder a última pergunta, precisamos calcular a entalpia-padrão de combustão (ΔcH ) do metano: CH4(g) + 2 O2(g) → CO2(g) + 2 H2O(l), ΔcH , onde ΔcH = [2 ΔfH (H2O) + ΔfH (CO2)] - ΔfH (CH4). As entalpias-padrão de formação (ΔfH ) podem ser obtidas a partir de uma tabela de dados termodinâmicos, como a que temos na seção “Material complementar” de nossa sala de aula. Substituindo os valores de ΔfH , temos: ΔcH = [2 x ΔfH (H2O) + ΔfH (CO2)] - ΔfH (CH4) ΔcH = 2 x (-285,83) - 393,51 + 74,81 ΔcH = -890,36 kJ mol-1. Portanto, a entalpia específica do metano vale: Entalpia específica do metano = 890,36 kJ mol-1/16,04 g mol-1 Entalpia específica do metano = 55,51 kJ g-1. 4 Assim, podemos concluir que o metano é um combustível mais eficiente que o etano, já que a entalpia específica do metano (55,51 kJ g-1) é cerca de 7% maior que a do etano (51,88 kJ g-1). 7) Durante a glicólise, glicose (C6H12O6) é parcialmente oxidada a ácido pirúvico (CH3COCOOH) pela ação de NAD+, num processo anaeróbio. Entretanto, é possível conduzir a mesma oxidação parcial na presença de O 2: glicose(s) + O2(g) → 2 ácido pirúvico(s) + 2 H 2O(l) ΔrH = -480,7 kJ mol-1. Com base nesses dados e nas tabelas dedados termodinâmicos, calcule a entalpia-padrão de combustão e a entalpia-padrão de formação do ácido pirúvico. (-1161 kJ mol-1; -591 kJ mol-1) Usamos a equação termodinâmica fornecida no enunciado para calcular a entalpia-padrão de formação (ΔfH ) do ácido pirúvico: Substituindo os valores de ΔfH (glicose), ΔfH (O2) e ΔfH (H2O), temos: ΔrH = (2 x ΔfH (ác. pirúvico)) + (2 x ΔfH (H2O)) - ΔfH (glicose) - ΔfH (O2) -480,7 = 2 x ΔfH (ác. pirúvico) - 571,66 + 1274 - 0 2 x ΔfH (ác. pirúvico) = -1183,04 ΔfH (ác. pirúvico) = -591,52 kJ mol-1. Agora, é possível calcular a entalpia-padrão de combustão (ΔcH ) do ácido pirúvico: 5 CH3COCOOH(s) + 5/2 O2(g) → 3 CO2(g) + 2 H2O(l), ΔcH ΔcH = [2 x ΔfH (H2O) + 3 x ΔfH (CO2)] - ΔfH (ác. pirúvico) - (2,5 x ΔfH (O2)) ΔcH = -571,66 - 1180,53 + 591,52 - 0 ΔcH = -1160,67 kJ mol-1. 8) Use uma tabelas de dados termodinâmicos para calcular as entalpias-padrão das seguintes reações: (a) hidrólise do dipeptídeo Gly-Gly: +NH3CH2CONHCH2CO2-(s) + H2O(l) → 2 +NH3CH2CO2-(aq). (-1401,5 kJ mol-1) (b) dissociação do dióxido de nitrogênio: NO2(g) → NO(g) + O(g). (+306,24 kJ mol-1) (Dica: use as tabelas das páginas 669-678 do livro Atkins et al., Physical chemistry for the life sciences, 1st ed., disponível em nossa sala de aula). Sabendo que , basta usar os valores de ΔfH tabelados para calcular os valores de ΔrH . (a) ΔrH = 2 x ΔfH (+NH3CH2CO2-) - ΔfH (Gly-Gly) - ΔfH (H2O) ΔrH = -939,6 - 747,7 + 285,8 ΔrH = -1401,5 kJ mol-1. (b) ΔrH = ΔfH (NO) + ΔfH (O) - ΔfH (NO2) ΔrH = 90,25 + 249,17 - 33,18 ΔrH = +306,24 kJ mol-1. 9) Calcule as entalpias-padrão de formação (ΔfH ) do KClO3(s) e do NaHCO3(s) usando as informações abaixo e tabelas de dados termodinâmicos: 2 KClO3(s) → 2 KCl(s) + 3 O2(g), ΔrH = -89,4 kJ mol-1 NaOH(s) + CO2(g) → NaHCO3(s), ΔrH = -127,5 kJ mol-1. Para o sal KClO3(s), temos: ΔrH = (2 x ΔfH (KCl)) + (3 x ΔfH (O2)) - 2 x ΔfH (KClO3) -89,4 = -873,5 - 0 - 2 x ΔfH (KClO3) 2 x ΔfH (KClO3) = 784,1 ΔfH (KClO3) = +392,0 kJ mol-1. Para o sal NaHCO3(s), temos: ΔrH = ΔfH (NaHCO3) - ΔfH (NaOH) - ΔfH (CO2) -127,5 = ΔfH (NaHCO3) + 425,6 + 393,5 ΔfH (NaHCO3) = -946,6 kJ mol-1. 10) As entalpias de ligação médias (tabelas abaixo) das ligações C-C, C-H, C=O e O-H são 348, 412, 743 e 463 kJ mol-1, respectivamente. A combustão do octano é exotérmica 6 porque ligações relativamente fracas se quebram para formar ligações mais fortes. Use essa informação para justificar por que a glicose tem uma entalpia específica menor que a do ácido decanoico (C10H20O2), um lipídio, embora esses compostos tenham massas molares semelhantes. Lembre-se que as entalpias de ligação são sempre positivas, pois estão relacionadas à energia térmica necessária para quebrar uma ligação química. Além disso, lembre-se que entalpia específica é a entalpia de combustão por grama de material. As entalpias de ligação médias (Δ X-Y) são valores médios de entalpias de ligação H X-Y, obtidos a partir de um conjunto de compostos relacionados. Elas referem-se, de fato, à energia térmica necessária para quebrar uma ligação química. Assim, para estimar a entalpia de uma reação (ΔrH) a partir de entalpias de ligação médias (Δ X-Y), basta H usar a expressão: ΔrH = ΣΔ X-Y(reagentes) - ΣΔ X-Y(produtos).H H Na expressão acima, calculamos a energia necessária para quebrar as ligações químicas dos reagentes (ΣΔ X-Y(reagentes)) e a diminuímos da energia liberada pela H formação das ligações químicas dos produtos (ΣΔ X-Y(produtos)).H 7 O enunciado do problema diz que a entalpia específica da glicose é menor que a entalpia específica do ácido decanoico, lembrando que suas massas molares são semelhantes. Isso significa dizer que o módulo da entalpia de combustão da glicose, |ΔcH(glicose)|, é menor que o módulo da entalpia de combustão do ácido decanoico, |ΔcH(ác. decanoico)|. Em outras palavras, a queima de 1 g de ácido decanoico libera mais energia que a queima de 1 g de glicose! O ácido decanoico exibe um grande número de ligações C-C e C-H. Na glicose, esse número é bem menor; além disso, a glicose exibe mais ligações C-O e O-H que o lipídio. A queima do ácido decanoico ocorre com quebra de muitas ligações C-C e C-H e subsequente formação de ligações C=O e O-H, relativamente mais fortes, levando à liberação de uma grande quantidade de energia como calor. Na glicose, essa liberação é menor, pois há mais ligações fortes na glicose que no ácido decanoico. Portanto, o balanço energético é menos favorável na queima do açúcar. Estimando as entalpias de combustão (ΔcH) a partir dos valores de Δ X-Y, temos:H C10H20O2 + 14 O2 → 10 CO2 + 10 H2O, ΔcH(ác. decanoico) = ΣΔ X-Y(reagentes) - ΣΔ X-Y(produtos)H H ΔcH(ác. decanoico) = 19.484 kJ mol-1 - 24.120 kJ mol-1 ΔcH(ác. decanoico) = -4.636 kJ mol-1. C6H12O6 + 6 O2 → 6 CO2 + 6 H2O ΔcH(glicose) = ΣΔ X-Y(reagentes) - ΣΔ X-Y(produtos)H H ΔcH(glicose) = 12.441 kJ mol-1 - 14.472 kJ mol-1 ΔcH(glicose) = -2.031 kJ mol-1. Nossa estimativa permite concluir que a queima de ácido decanoico libera, pelo menos, duas vezes mais energia que a queima da glicose! 8