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Pós-Graduação em Gestão Gestão estratégica de pessoas Gestão de Competências e Competitividade Organizacional Maria Sara FAEL Diretor Executivo Marcelo Antônio Aguilar Diretor Acadêmico Francisco Carlos Sardo Coordenador Pedagógico Osnir Jugler EDitorA FAEL Autoria Maria Sara Gerente Editorial William Marlos da Costa Projeto Gráfico e Capa Patrícia Librelato Rodrigues revisão Dayene Castilho Programação Visual e Diagramação Karlla Cristyne Plaviak AtEnção: esse texto é de responsabilidade integral do(s) autor(es), não correspondendo, necessariamente, à opinião da Fael. É expressamente proibida a venda, reprodução ou veiculação parcial ou total do conteúdo desse material, sem autorização prévia da Fael. EDitorA FAEL Avenida Silva Jardim, 167 Curitiba | PR | CEP 80.230-000 FAEL Rodovia Deputado Olívio Belich, Km 30 PR 427 Lapa | PR | CEP 83.750-000 FotoS DA CAPA Afonso Lima Ilker Jakub Krechowicz T. Al Nakib Todos os direitos reservados. 2012 Gestão de Competências e Competitividade Organizacional 1 . Liderança contemporânea e competências 1.1 Ampliação da percepção em situações de desafios Os novos processos organizacionais exigem na posição de liderança contemporânea pessoas com competências específicas e muito particulares. As empresas precisam de pessoas que sejam criativas, fle- xíveis e versáteis, como também que tenham facilidade de adaptação e, ao mesmo tempo, de inovação. Desse modo, a liderança contemporânea deve estar preparada para perceber os desafios do mundo globalizado e gerir mudanças nas organizações. Segundo Dutra (2010), os trabalhos desenvolvi- dos com as empresas brasileiras ao longo dos anos de 1990 apontam grandes transformações na forma de gerir as pessoas: alteração no perfil das pessoas exigido pelas empresas, deslocamento do foco do controle para o desenvolvimento das pessoas e maior relevância das pessoas no sucesso do negócio ou da empresa. Isso quer dizer que na gestão do negócio as pes- soas passaram a ser o principal ativo, não sendo mais consideradas meros recursos das organizações, e sim, o capital intelectual das empresas. Neste contexto de globalização e de mudanças constantes, a liderança tor- nou-se a chave fundamental para o desenvolvimento e a manutenção das organizações em um ambiente cada vez mais competitivo. Liderar torna-se um processo complexo, visto que as pessoas não se interessam mais em somente cumprir ordens determinadas e executar tarefas mecâ- nicas. Ser líder requer o desenvolvimento de uma visão estratégica ligada ao negócio da empresa e ao mesmo tempo às pessoas que compõe esta organização. As ações do líder estão relacionadas não somente à cons- trução, ao desenvolvimento ou ao comando das equi- pes, mas determinam para ele próprio a necessidade de um constante desenvolvimento de novas competências. Nesse sentido, o líder parece nunca estar pronto para todos os desafios do contexto global, mas sim, deve se perceber em constante busca de seu próprio aperfeiço- amento em função das múltiplas determinações sociais e culturais do nosso tempo. O mundo está conectado e mesmo uma única atividade do trabalhador comum pode trazer grandes impactos para as organizações. De acordo com Hersey e Blanchard (1986, p. 103), “a organização bem-suce- dida tem uma característica principal que a distingue das organizações mal sucedidas: uma liderança dinâmica e eficaz”. Na relação entre pessoas e organizações, existe o critério da complexidade que deve ser analisado, pois as pessoas perseguem objetivos individuais que nem sem- pre correspondem aos objetivos organizacionais. Nesse relacionamento entre pessoas e organizações é que os líderes desempenham um papel crucial no sentido de estabelecer uma relação cooperativa e satisfatória. A liderança é o processo de exercer influência sobre as pessoas para a realização de um objetivo em uma determinada situação. Lembrando que influência é uma força psicológica, cujo objetivo é modificar o com- portamento de uma pessoa de modo intencional. Desse modo, vê-se que a liderança é uma necessidade em todos os grupos e que existe uma contínua procura por pessoas que tenham essa capacidade no universo do trabalho. Contudo, a liderança não está fora das ações cotidianas dos sujeitos. Em um ou outro momento da vida todos tentam exercer a liderança, sejam suas ativi- dades referentes a uma instituição escolar, educacional ou familiar. Ao longo do tempo, a liderança tem mudado em função da complexidade crescente da vida nas institui- ções sociais. Antigamente, os papéis sociais eram bem definidos e a vida era pacata. As profissões eram deter- minadas a um fim na vida, as carreiras se faziam estáveis e as pessoas se vinculavam às organizações de trabalho por um longo tempo. Em relação ao trabalho, escolhiam o que deveriam fazer e continuavam a realizar essa ativi- dade quase continuamente sem grandes mudanças. Ser líder era cumprir metas e objetivos da organização se utilizando dos trabalhadores e de sua força de trabalho disponível, sem se preocupar com conflitos existentes entre os interesses deles e os das organizações. Hoje, a liderança se exerce a cada instante frente a novas formas de viver, a novas tecnologias e a modos GESTãO ESTRATÉGICA DE PESSOAS | 2 | de trabalho. Surge a necessidade de o líder cuidar da integração de suas decisões com as novas carreiras e profissões. É indispensável para um líder ter um conhe- cimento de toda a sua área de trabalho: o mercado, os produtos e os concorrentes; interagir com outras áreas da empresa; saber procurar parceiros e solicitar servi- ços. Portanto, além de todo o desenvolvimento da ges- tão e o fluxo das pessoas dentro da organização, esse momento histórico também demanda do líder uma forte integração com a estratégia organizacional, assim como com as expectativas das pessoas. Para Chiavenato (2008), existe uma grande dife- rença entre gerenciar pessoas e gerenciar com pessoas. No primeiro caso, as pessoas são o objeto da gerência, são guiadas e controladas para alcançar determinados objetivos. No segundo caso, elas são o sujeito ativo da gerência, são elas que guiam e controlam para atingir os objetivos da organização e os objetivos pessoais. Chiavenato (1994) define liderança como a influ- ência interpessoal exercida numa situação e dirigida por meio do processo da comunicação humana à consecu- ção de um ou de diversos objetivos específicos. Desse modo, os líderes não podem estar somente concentra- dos no trabalho, mas também no empregado, já que se vive em uma realidade que muda constantemente, ou seja, nada se mantém. É interessante se questionar: existe um tipo “ideal de liderança”? Depois de identificar que o tipo de trata- mento dado às pessoas é fundamental para o sucesso organizacional, os interesses centrais de toda a liderança devem ser voltados para o relacionamento. A excelên- cia empresarial está intimamente ligada à excelência da liderança, sendo as principais qualidades do líder a visão, a dedicação e a integridade. Na empresa contemporânea, o líder deve manter um interesse máximo pelas tarefas e também pelas pes- soas envolvidas, considerando que o sujeito é único e ímpar e que se destaca dentro de uma equipe de traba- lho por suas diferenças. Desse modo, para desenvolver o trabalho em equipe, é necessário haver um sentido da valorização das individualidades na manutenção e no desenvolvimento do grupo de trabalho. As pessoas têm competências, habilidades e inte- resses distintos e não é mais possível, em um mundo globalizado, o líder investir em grupos sem considerar a diversidade do ser humano. Portanto, é pouco realista a ideia de um único tipo de liderança, assim como um único tipo de grupo de trabalho,nem tampouco pode-se falar de estilo ideal ou normativo do líder. Cada situação em que está envolvida a atividade do líder é particular considerando diferenças culturais, costumes e tradições, bem como o nível de instrução e padrão de vida, que pode interferir na produtividade de um determinado grupo de trabalho. A flexibilização do mercado, vista como um todo, é uma grande “usina de criação” que nasce com os dias contados, ou seja, perfaz um caminho em que os sujeitos dentro de suas organizações de trabalho estão em constante processo de atualização, requerendo, por- tanto, um comportamento adaptativo do líder. Segundo Hersey e Blanchard (1986, p. 117) o conceito de líder adaptativo poderia ser formulado da seguinte maneira: “Quanto mais os gerentes adaptarem seu estilo de com- portamento de líder no sentido de atender à situação específica e às necessidades dos seus subordinados, tanto mais eficazes serão na consecução dos objetivos pessoais e organizacionais”. Consequentemente, o líder está diretamente ligado aos novos processos geradores de conhecimento, que possibilitam o desenvolvimento de novas habilidades, da capacidade criativa e da atenção crítica da realidade, fatores que conformam as suas características pessoais indicativas de suas atitudes. Quando se fala em liderança, é necessário ter em mente a mobilização de um corpo de pessoas pelo qual o líder é responsável, e que este possa de fato mantê-las integradas a um planejamento de metas ou a um programa de projetos. Hoje, não basta ser líder cumpridor de tarefas muito definidas e manter a integração da equipe, é preciso mais que isso, ter conhecimentos, atitudes e habilida- des muito diferenciadas, amplas competências, já que a liderança é considerada atualmente resultado das novas conquistas em gestão de pessoas. Segundo Chiavenato (2008, p. 137), liderança é “uma influência interpessoal exercida em uma dada situação e dirigida através do processo de comunicação humana, para consecução de um ou mais objetivos” e pode ser dividida em: Liderança como influência: uma pessoa pode x influenciar outra em função do relacionamento existente entre elas. GESTãO DE COMPETêNCIAS E COMPETITIvIDADE ORGANIzACIONAL | 3 | Liderança que ocorre em determinada situa- x ção: ocorre em dada estrutura social decor- rente da atribuição de autoridade para a tomada de decisão. Liderança dirigida pelo processo de comuni- x cação humana, capacidade de induzir o grupo a cumprir as obrigações atribuídas a cada um com zelo e correção. Liderança visando à concepção de um ou de x diversos objetivos específicos: o líder como meio para atribuir seus objetivos ou necessidades. Portanto, o líder deve estar presente em todos os níveis hierárquicos e em todas as áreas de atuação, con- siderando que é um diferencial competitivo no mundo dos negócios as empresas terem lideranças competentes. Competitividade está de muitas maneiras interliga- das à competência, e quando se trata de diferencial, diretamente se instala nesse discurso o reconhecimento, aquilo que difere. Pode-se observar que o líder contem- porâneo está investido dessas condições, em um cená- rio a cada tempo mais complexo, no qual objetivos de vida se somam a objetivos organizacionais. Competências são processos construtivos do sujeito trabalhador. Todo profissional deve ter uma determinada qualificação, trazendo para dentro da organização habilidades, conhecimentos, capacidades e destrezas, juntamente com a sua aptidão para apre- ender novas capacitações, aprimorando o seu desem- penho no trabalho de modo indefinido. Segundo Dutra (2010), existem competências comuns às trajetórias do líder: orientação para resultados, direcionamento estratégico, liderança de equipes, ser um agente de mudanças, colaboração irrestrita e estar orientado para o mercado, além da orientação para a ação (que serão explicitadas mais adiante). Portanto, a liderança se efetiva na compreensão da maleabilidade das pessoas, no diagnóstico de potencia- lidades e na consistência das competências humanas. A competência é compreendida por teóricos da admi- nistração como um conjunto de conhecimentos, habili- dades e atitudes necessários para que a pessoa desen- volva suas atribuições e responsabilidades. Para Dutra (2010), essa forma de encarar a competência tem se mostrado pouco instrumental, pois esse conjunto não garante que a organização se beneficiará diretamente. Considera-se importante discutir o conceito de “entrega”, ou seja, a capacidade do sujeito de entregar-se à organização, de saber agir de maneira responsável, pois na prática organizacional intuitivamente valoriza-se o profissional por seus atos e realizações e não pela descrição formal de suas funções ou atividades. Para Dutra (2010, p. 24), “a agregação de valor das pessoas é, portanto, sua contribuição efetiva ao patrimônio de conhecimento da organização, permitindo-lhe manter suas vantagens competitivas no tempo”. Trata-se de interpretar o mundo à volta, de uma múltipla capacidade sensível de ter alcance e condições gerenciais que possibilitem ao líder contemporâneo as condições de poder modificar um trajeto operacio- nal. Essas possibilidades são provenientes de políticas empresariais. Não há força criativa, competência inte- lectual, atualização no meio contemporâneo que seja suficiente para um pleno desempenho laboral sem as avaliações de competências que se fazem integradas nas políticas das organizações. O conceito de competência, segundo Dutra, Fleury, e Ruas (2010) apresenta ainda uma variedade de defini- ções: capacidade de quem é capaz de apreciar e resol- ver certo assunto, fazer determinada coisa (Dicionário do Aurélio B. de Holanda). Observáveis características indi- viduais – conhecimentos, habilidades, objetivos, valores – capazes de predizer ou causar efetivo ou superior desempenho no trabalho ou em outra situação de vida (David C. McClelland). Competência no trabalho é uma destacada carac- terística de um empregado (que pode ser motivo, habi- lidade, conhecimento, autoimagem, função social) que resulta em efetivo e/ou superior performance (Boyatzis). “De fato a consolidação da noção de competência ini- cia pela transição do conceito de qualificação para o de competência, período em que a ênfase principal é a identificação das capacidades necessárias para atuar em certo tipo de tarefa e obter um desempenho supe- rior” (DUTRA; FLEURY; RUAS, 2010, p. 25). Nos anos de 1990, as transformações do mundo do trabalho demandam, portanto, a inclusão da instabilidade, da flexibilidade e da responsabilidade, sendo o foco da competência mobilizado para as capacidades. Nos primei- ros anos deste século, e com a intensificação dos proces- sos de avaliação de desempenhos, é que a mensuração e o uso de indicadores passam a ser valorizados. GESTãO ESTRATÉGICA DE PESSOAS | 4 | A competência é uma resultante da combinação de conhecimentos com comportamentos e inclui for- mação, treinamento, experiência, e autodesenvolvi- mento. A dinâmica da mobilidade da ênfase em que a noção de competência é pensada e aplicada nas organizações varia muito, e isso explica em parte a heterogeneidade do conceito. Para Dutra (2010), esse conceito deve estar relacionado e associado com a entrega, porque as pessoas não são avaliadas pelo que fazem nem por suas capacidades, mas sim pelo que entregam para as organizações. Não é mais possível pensar em grandes empreen- dimentos sem a presença de líderes que saibam tanto administrar suas competências como desenvolver a si próprios, de modo que possibilitem a efetivação de projetos pessoais e organizacionais. Portanto, institui- ções tanto privadas quanto públicas exigem líderes que tenham competências em disseminar conheci- mentos, habilidadese demonstrar isso em atitudes. As constantes mudanças na produção obrigaram a ajustes de profundidade, as incertezas de futuro fizeram com que as empresas se dirigissem a novas estratégias para o desenvolvimento de seus recursos humanos. O século XX foi movimentado pelas novas tecnologias, o que obrigou as empresas a novos pro- cessos de gestão, exigindo lideranças capacitadas a transitar entre o habitual e tradicional das organiza- ções e as novas tendências. As competências do líder foram mais ampliadas, exigindo a proatividade frente à necessidade de res- postas rápidas que se impuseram com grande veloci- dade entre o conhecimento e a formação de habilida- des e atitudes para processá-los. Os novos processos organizacionais precisam de líderes comprometidos e flexíveis ao diálogo não somente na relação entre as organizações e o mercado, mas entre os grupos de trabalho. Configura-se, então, uma mudança estrutural de comportamento das organizações que promove uma demanda cada vez maior da gestão de competências dos sujeitos no trabalho. O sujeito-trabalhador é outro com novas necessidades e a empresa também flui em uma velocidade muito além do que foi percebida no passado, na direção de atrair e manter pessoas competentes no trabalho. Contudo, existe certa desconfiança frente ao novo paradigma da gestão de competências. Em algumas empresas, as quais pretendem estar fechadas a mudan- ças em seus processos de gestão, são observadas medidas de cautelas e controles de metas. No entanto, as competências possuem grande potencial para favo- recer o crescimento das empresas. É cada vez mais necessário que o líder esteja conectado com a realidade próxima e com os novos modos de gestão. No entanto, a grande maioria das pessoas ainda acha a ideia de mudança ameaçadora e tenta negar sua existência. Muitos ainda não incorporaram esse conhe- cimento e não levam em conta esse fato social crítico. Nada perdura no tempo das estações, portanto, deve se compreender que o líder na contemporaneidade deve estar desenvolvendo novas estratégias e estar compro- metido com a sociedade do presente. Essa dinâmica em que o capital não sobrevive se não houver constante reformulação organizacional e das relações de trabalhado encadeadas ao mundo social refere-se diretamente a conhecer as competên- cias dos trabalhadores. São elas que poderão oferecer uma melhor percepção da realidade organizacional em que coexista investimento no desenvolvimento de com- petências dos trabalhadores e que garantam os meios necessários para que as organizações suportem as variações do mercado. Para construir competências e reter trabalhadores competentes deve se ter como fundamento quais são as competências da própria empresa. Toda organiza- ção pode ser encarada como um grupo de pessoas e profissionais integrados a um projeto de presente. No intercâmbio entre os homens e os sistemas organiza- cionais deve haver um sentimento de reciprocidade em que cada um avalia o que está oferecendo e o que está recebendo em troca. Esse sentimento de reciprocidade deve ser consi- derado pelos líderes do futuro e é preciso que estejam preparados também para estimular e desenvolver com- petências em seus liderados. A liderança não surge ape- nas da oportunidade, trata-se de um processo de inves- timento que exige trocas sociais. Segundo Chiavenato (1994), a teoria das relações humanas constatou a influência da liderança sobre o comportamento das pessoas. Nesses termos, coexistem diferentes teorias sobre liderança, sendo as três principais: GESTãO DE COMPETêNCIAS E COMPETITIvIDADE ORGANIzACIONAL | 5 | Traços da personalidade: a personalidade do 1 | líder o qualifica para a atividade. Estilos de liderança: autocrática, isto é, o 2 | sujeito é quem impõe as condições; a demo- crática, na qual se faz a discussão de fundo para a ação, e a mais evidenciada é aceita e posta em movimento; e a liberal, na qual os sujeitos buscam por si mesmos encontrar as respostas para a ação empresarial. Situações de liderança (teoria contingencial): 3 | como o próprio nome diz, refere-se a con- tingências; a liderança se realiza em não se exercer padrões unívocos, e sim, de estar pre- parado para diferentes situações. Para Lacombe (2003), o poder dos líderes é deter- minante no sentido de influenciar pessoas. Trata-se do exercício de um cargo posto em movimento devido ao poder legitimado, do exercício previsto em um cargo, o poder que se faz referência, que é proveniente das qua- lidades e do carisma do líder, de um saber com poder. É, portanto, exercido pelo conhecimento do líder. A força presente numa esfera empresarial se faz pela qualificação de seus líderes. São eles que conquis- tam a urgente flexibilização nos modelos tradicionais das organizações. São os líderes que provém à organização de sucesso e são promotores do desenvolvimento, pois concebem as estratégias de trabalho com grupos que são direcionados ao futuro da organização. No entanto, tal força da liderança nem sempre é reconhecida. A partir de Hersey e Blanchard (1986), a lide- rança surge como um dos conceitos mais intangíveis do mundo dos negócios (não é possível determiná-la como uma coisa definida, final), sendo a sua origem remonta ao mundo militar. Historicamente a liderança se desenvolve em etapas, surge a cada patente adquirida, em cada ação meritória. A partir dos anos de 1980, ela ressurgiu depois de um período de rela- tivo abandono. A liderança contemporânea, segundo informa Malvezzi (2000), caracteriza-se como um processo de construção do ser, construção esta que é de res- ponsabilidade de cada um, principalmente no mundo dos negócios. Todos, portanto, estariam interligados às mudanças que se sucedem cada vez mais velozes. Nesse sentido, “acredita-se que a maioria das pes- soas pode aumentar a sua eficácia em funções de lide- rança através da educação, do treinamento e do desen- volvimento” (HERSEY; BLANCHARD, 1986, p. 105). A liderança se constitui num processo de aprendizagem e a sua determinação se dá pela consciência acrescida do sábio em suas relações com os outros. Minicucci (2005, p. 279) afirma: A sabedoria está em saber quando usar tal e qual método. Seu problema é, pois, aprender a variar de técnica de acordo com as diferentes condições e pessoas com as quais se defronta em seu trabalho [...]. A sua sabedoria em apli- car as três armas básicas da liderança – auto- crática, democrática, permissiva – determinará seu sucesso pessoal como líder. [...] Saber ser autocrático, democrático ou permissivo de acordo com a situação. A sabedoria não se estabelece no uso do método. Ao se percorrer a história do desenvolvimento humano, compreende-se que está intimamente ligado às rela- ções humanas, que em sociedade se faz o sujeito e ele é decorrente de sua capacidade em administrar a existência, compreendendo o seu papel de atualizar o conhecimento. Nesse sentido, não é a experiência o ponto primor- dial, e sim as práticas dessa convivência, isto é, faz-se num processo de aprendizagem constante, nunca fina- lizado e sempre em movimento. O sábio sabe operar o novo, está apto a prosperar, a criar e dinamizar o seu conhecimento, sendo que nada é, portanto, estanque. Considera-se que o aprender a ser líder deve estar ao alcance de todos. Essa capacidade não é apanágio de poucos, todos têm potencialidades a desenvolver na liderança. A partir do momento em que as organizações conseguem entender que a capacidade em liderança pode ser adquirida é que se pode desenvolver gestões de pessoas e realizar a avaliação de competências. O sujeito é uma totalidade e os líderes contempo- râneos devem viabilizar relações imediatas, rápidas e definitivas para a formação social, intelectual e integral de seus liderados.A liderança tornou-se multifacetada, flexível e deve possuir as condições para garantir os seus atributos. As competências da liderança estão rela- cionadas à constante mudança, aos desafios contínuos do nosso tempo, principalmente nos campo cognitivo e emocional, são referências para aqueles que deverão em algum tempo exercer o papel de líder. GESTãO ESTRATÉGICA DE PESSOAS | 6 | A diferença entre o que é eficaz ou não no comportamento do líder depende dos julgamentos que este é capaz de tecer sobre uma determinada situação. Segundo vergara (2000, p. 73): a liderança requerida, nestes tempos de globa- lização e modernidade, é um processo do ser, e essa construção é de responsabilidade de cada pessoa quando opta por, simplesmente, viver sua vida, expressando-se com plenitude e dignidade, suas expressões ganham valor. E ela torna-se líder. As características do mundo contemporâneo revelam amplo leque de atributos associados à liderança, levan- do-se em conta o momento atual das organizações. Entre os estudos sobre a liderança enfatizam-se condições, sejam elas internas ou externas, sejam traços, comporta- mentos que mais se relacionam com a natureza da lide- rança. Destacam-se o autocontrole e a maturidade, uma vez que são essenciais nas situações de julgamento. Existe uma necessidade de ampliação da percepção do líder em relação ao futuro, bem como as competências relaciona- das à comunicação e à interação, visto que o líder está constantemente lidando com pessoas e exercitando a ati- vidade de mobilizá-las para que alcancem seus objetivos. Nos tempos de turbulência e de intensa competiti- vidade, o líder tornou-se indispensável para conduzir a organização num rumo mais seguro. O líder contempo- râneo é aquele que lança as pessoas à ação, converte seguidores em agentes de mudanças. O líder possibi- lita um clima organizacional satisfatório e efetivo e que transforme a organização em um caso de sucesso. Por- tanto, as organizações precisam enfatizar na liderança suas habilidades e estratégias para o enfrentamento de situações desafiadoras. Os aspectos sociais correspondentes à maneira como o líder influencia seus colaboradores corresponde, segundo Hersey e Blanchard (1986), a um estilo tradi- cional e autoritário, que enfatiza as preocupações com a tarefa e o estilo democrático que acentuam as preocu- pações com as relações humanas. Na verdade, o reco- nhecimento dos dois estilos de liderança foi confirmado em diversos estudos sobre lideranças, porém, os estilos variam muito de um líder para outro. Não há um estilo predominante, o que existem são várias combinações, entre líderes mais focados em tarefas ou mais focados em relações interpessoais. 2 . Líder adaptativo Pode-se dizer que o conceito de líder adaptativo questiona a existência de um melhor estilo de liderança. Desse modo, a pergunta é qual o estilo de liderança mais eficaz para uma determinada situação. A percepção do líder, portanto, deve ser estratégica e analisar elementos importantes da situação para a sua atuação. A eficácia do estilo de comportamento do líder depende da situação em que ele é usado. A diferença entre o que é eficaz ou não no comportamento do líder depende dos julgamentos que este é capaz de tecer sobre uma determinada situação. Em situações críticas, a coleta de maior número de informações possíveis sobre o ambiente permite ao líder tomar decisões baseado em seus julgamentos de modo estratégico e eficaz. A competência da autopercepção do líder é fundamental porque influencia o comporta- mento e atitudes sobre os liderados em situações críti- cas. É necessário manter a coerência quando os líderes dirigem seus colaboradores em situações de constante mudança e considerar que a heteropercepção, ou seja, como os outros julgam e avaliam seu comportamento, é tão importante quanto à autopercepção. A ampliação da visão para situações desafiadoras e a capacidade de direcionar pessoas para uma nova per- cepção das suas potencialidades são tarefas que fazem do gestor um líder de visão. Objetivando o sucesso da organização e o bem-estar dos liderados, os líderes contemporâneos enfrentam um dos maiores desafios, que é o fato de uma grande maioria das pessoas resis- tirem à mudança (sua maior aliada), justificando suas ações com o argumento de que o atual comportamento levou-as ao nível de sucesso de que desfrutam agora. Isso é absolutamente verdadeiro, mas um novo nível de pensamento é necessário a fim de se experimentar um novo nível de sucesso pessoal e profissional. Em situações desafiadoras, a liderança é fator princi- pal para o desenvolvimento das atividades e nas tomadas de decisões e se caracteriza pela forma como são condu- zidos os ideais das organizações nos grupos de trabalho. GESTãO DE COMPETêNCIAS E COMPETITIvIDADE ORGANIzACIONAL | 7 | Sobre percepção do líder no ambiente de trabalho, Minicucci (1992, p. 179) afirma: Quando o líder é capaz de perceber a situação, entender os seus seguidores, compreendê-los, diz-se que tem sensitividade percepcional; ou, ainda, situacional ou social. [...] quando for capaz de entender a situação, os seguidores, ou de compreender as barreiras de comuni- cação, de descobrir as metas desejadas, ele estabelecerá o que se chama mapa psicoló- gico do grupo. Portanto, a percepção para o processo de liderança é o ponto de partida para o entendimento das pessoas, de suas aspirações, necessidades e desejos. Saber qual conduta usar com cada pessoa faz do líder um sábio que passa a dominar o mapa psicológico do grupo que lidera. “Não basta que o administrador saiba desempe- nhar bem suas funções nos tipos de comunicação; não basta saber planejar, implantar, operar, avaliar, é preciso que saiba também estimular, coordenar e controlar, entendendo as pessoas e suas peculiaridades individu- ais e grupais” (LAKATOS, 1997, p. 153). O trabalho do líder tem importância fundamental para o ambiente, pois permite a utilização eficiente do raciocí- nio, fomenta a utilização da bagagem intelectual, do poder de análise e da compreensão do problema. O líder fim deve ampliar a sua percepção para um próximo nível a fim de enfrentar situações de desafio, como compreender que o mesmo padrão de pensamento que os levou ao ponto em que estão não os levará ao ponto para o qual desejam ir. É necessário romper as barreiras do medo e assumir o controle, estabelecer o compromisso com solu- ções e cuidar do processo, aprender instrumentos e estra- tégias alternativas para fortalecer as pessoas a sua volta. Por força do papel que a liderança desempenha em relação ao futuro e “quando refletimos sobre o tipo de liderança bem sucedida em nosso mundo cada vez mais caótico, destacamos não apenas as pessoas que ocupam cargos tradicionais de liderança, mas também aquelas em toda organização capazes de tomar deci- sões dignas de um diretor-presidente [...]. Todos pre- cisam manifestar liderança” (DRUCKER, 1997, p. 89). Por exemplo, se os colaboradores de um gerente forem suficientemente maduros e capazes de assumir encar- gos, a liderança poderá tratar de atribuir mais delega- ções e responsabilidades e a liderança poderá assumir uma função de retaguarda permitindo que as pessoas demonstrem suas competências. Em organizações nas quais as atividades são con- duzidas de forma coletiva ou individual, deve-se conectar os profissionais com o perfil de liderança, o que, sobre- maneira, facilitará as ações deles. Se cada profissional, sendo ou não de nível hierárquico superior, agir como um líder em diversas situações, as tarefas serão desen- volvidas de forma mais ágil e eficiente. O planejamento deixa de ser prioridade do nível estratégico e passa a integrar o quadro de ações do nível operacional. Dessa forma, a liderança se manifestade uma maneira cole- tiva em situações que necessitam de decisões de vários níveis organizacionais ou do grupo de trabalho. Gil (2001, p. 221) assevera a importância da par- ticipação, da motivação e das atitudes da liderança para o clima e a cultura da organização: Elogios sinceros e demonstrações de apreço – mesmo que muito singelas, como um sorriso ou um sinal de positivo com o polegar – dão às pessoas um senso de vitória, fazendo com que sintam que deram uma contribuição de valor. Recomenda-se, portanto, que os gerentes se apoiem seus empregados mesmo quando erram, apontando-lhes as falhas e indicando como melhorar, sem culpá-los ou humilhá-los. À medida que reconhecem neles os pontos fortes, fazendo críticas construtivas, estão con- tribuindo para que se empenhem em melhorar futuramente. Atitudes positivas dos líderes com seus liderados incidem na motivação e consequentemente no clima organizacional. Ao apontar as falhas e sugerir melho- rias, o líder molda uma nova postura dentro da gestão empresa, possibilitando, portanto, uma mudança gradual na cultura, isso com a contribuição da administração participativa. No que concerne à postura do líder, a comunicação promove interferência no clima, na cultura e na moti- vação da força de trabalho. O favorecimento do ciclo de aprendizagem vivencial e a administração participa- tiva podem ajudar no processo de desenvolvimento de competências e de mudanças organizacionais. Pode-se considerar que os sujeitos no trabalho em uma empresa não estão distantes de sua formação humana para a vida. Nesse sentido, “as organizações permitem satis- fazer diferentes tipos de necessidades dos sujeitos: emocionais, espirituais, intelectuais, econômicas, etc.” (CHIAvENATO, 2008, p. 23). Portanto, a liderança é fator fundamental na organização. GESTãO ESTRATÉGICA DE PESSOAS | 8 | Em resumo, a valorização das potencialidades dos colaboradores deve ser uma dinâmica constante nas organizações. Os líderes devem rever seus códigos de trabalho, suas normas de conduta e as condições da produção. Entre a capacidade de realizar a sua lide- rança, a eficácia do líder deve estar relacionada não somente com a tarefa, mas com as relações interpes- soais no ambiente de trabalho. Entretanto, as pessoas são competentes para dirigir, controlar e supervisionar o seu próprio comportamento e a gestão participativa aumenta a força e o papel da liderança. A empresa que pretende aderir a um grau de eficiência maior deve considerar as competências de seus colaboradores. Se são diferentes e têm potenciais diferentes, precisam ser tratados de maneira diferente. É necessário ampliar esse paradigma que direciona os liderados à execução simples das tarefas que mais se adéquam os seus perfis e desenvolver na dimensão da aprendizagem as competências da responsabilidade e compromisso com a missão da organização e com os seus objetivos. 3 . Gestão de habilidades e competências corporativas 3.1 Metodologia e técnicas de identificação e desenvolvimento de competências A gestão de habilidades e competências corporati- vas é um processo necessário para a atração, a manu- tenção e o aperfeiçoamento constante dos profissionais para as organizações. Ao conjunto de qualificações e tecnologias essenciais, de difícil imitação por parte dos concorrentes, que são necessárias para atingir os objeti- vos estratégicos da empresa denomina-se competên- cias corporativas. Para o conjunto de conhecimen- tos, habilidades e atitudes requeridos pelos diferentes níveis de gestão para atingir os objetivos específicos de cada função, que revelam o grau de comprometimento com a organização, denomina-se competências humanas. A história da gestão das competências surge de uma necessidade. Segundo Dutra (2010, p. 120), “as empresas sentiam a necessidade de aperfeiçoar o seu sistema de avaliação das pessoas, que não contem- plava adequadamente a questão da carreira e análise do desenvolvimento”. As deficiências apontadas por tra- balhadores por intermédio dos levantamentos de clima organizacional e das avaliações do sistema de gestão de pessoas apontaram a necessidade de inovar. Desse modo, a gestão das habilidades e competências surge como um amplo processo de integrar o próprio sistema de gestão de pessoas às competências corporativas. Esse processo de gestão de competências deve integrar toda política organizacional promovendo uma transformação que influencia diretamente os resultados organizacionais, assim como a cultura geral da empresa. Em um mundo globalizado como o de hoje, que sofre constantes mudanças, as empresas vivem instabilidades de diversas ordens, fruto de reformas da econômica mundial e da crise financeira. Por sua vez, os res- ponsáveis pelas organizações se deparam com novos conceitos a uma velocidade que, quando começam a processá-los, os paradigmas já se alteraram. A gestão das pessoas na nova economia mundial sobre alterações significativas, do ponto de vista das organizações, aponta que “a corrida da globalização exige que os olhares estejam voltados para resultados e, nesse processo, as pessoas encontram-se em alta, uma vez que a riqueza das empresas e das nações depende do conhecimento e das habilidades de suas equipes.” (GRAMIGNA, 2007, p. 1). Antes de descrever o que é a gestão por compe- tência, é necessário resgatar que o conceito de com- petências possui variações de acordo com a época em for utilizado. De acordo com Gramigna (2007), desde o século Xv a competência era associada à rivalidade e à competição, principalmente em função de que as pessoas envolvidas no trabalho tinham interesses seme- lhantes de produção. Ao longo da história da gestão de competências, observa-se o seu desenvolvimento. Linguagem jurídica – Idade Média: “[...] é a x capacidade de apreciar e julgar certas ques- tões ou realizar determinados atos”. Renascimento: “[...] é a capacidade de realizar x determinado trabalho”. GESTãO DE COMPETêNCIAS E COMPETITIvIDADE ORGANIzACIONAL | 9 | Taylorismo: “[...] habilidades necessárias para x o exercício de atividades específicas”. Década de 50 do século XX: “[...] é uma x característica subjacente de um indivíduo que resulta em desempenho efetivamente superior em um dado cargo” (G.O. KLEMP). Já no início da década de 70 do século XX, os estudos feitos principalmente por David McClelland (apud RESENDE, 2003) apontam que o conceito de competên- cia adquiriu novos significados e uma importância maior. As empresas vêm utilizando modelos de gestão que se baseiam em competências para se desenvolve- rem de forma sinérgica e em todos os níveis da organi- zação de modo que as competências necessárias sejam obtidas para a realização dos seus propósitos. A partir desses pressupostos teóricos, torna-se pos- sível entender a gestão de competências como modelo de gestão organizacional. Guimarães et al. (2001) sugerem o diagrama disposto na Figura 1, a seguir, para ilustrar as etapas desse modelo. Trata-se de processo contínuo que toma como referência a estratégia corpo- rativa para orientar esforços em torno da captação e/ ou do desenvolvimento das competências necessárias à consecução de objetivos organizacionais. Figura 1 Modelo de gestão organizacional baseada nas competências. Diagnóstico das competências profissionais Desenvolvimento de competências internas Acompanhamento e avaliação Capacitação e integração de competências externas Formulação dos planos operacionais de trabalho e de gestão Definição de indicadores de desempenho e de remuneração de equipes e indivíduos Formulação da estratégia organizacional Definição da missão, da visão de futura e dos macro-objetivos da organização Definição de indicadoresde desempenho organizacional Fonte: Adaptado de Guimarães et al. (2001, p. 4). Metodologias e técnicas de identificação e desen- volvimento de competências são utilizadas com o obje- tivo de alcançar as estratégias organizacionais alinhando as competências do sujeito e da equipe com as compe- tências das organizações ou competências corporativas. Não existe um único modelo de gestão por competên- cia, porque cada empresa identifica de forma específica os seus processos de trabalho em busca do planeja- mento, da captação, do desenvolvimento e da avaliação de seus colaboradores. Desse modo, muitas metodologias foram criadas nas últimas décadas por diversos autores para realizar a gestão por competências, mas poucas realmente fun- cionam, no sentido de instrumentalizar a própria gestão do processo. No entanto, para as empresas que implan- taram sistemas de gestão por competências, alguns benefícios ficam claros: melhora o desempenho dos colaboradores; x identifica as necessidades de treinamentos; x alinha os objetivos e metas da organização e x da equipe; reduz a subjetividade na seleção e avaliação x de pessoas; GESTãO ESTRATÉGICA DE PESSOAS | 10 | O conhecimento passou a ser o recurso mais importante para as organizações. analisa o desenvolvimento dos colaboradores; x enriquece o perfil dos colaboradores, poten- x cializando seus resultados; melhora o relacionamento entre gestores e x liderados; mantém a motivação e o compromisso. x A gestão de competências também tem uma histó- ria de seu desenvolvimento, que inicia na década de 90 do século XX com outras novas ferramentas gerenciais voltadas para a gestão de recursos humanos, as quais traziam termos como: acumulação do saber, gestão de desempenho, gestão estratégica, todas focadas no capi- tal intelectual dos sujeitos que compõe as organizações. Conforme apontado por Gramigna (2007), a ges- tão baseada na competência parece ser um instrumento gerencial alternativo aos modelos de gestão tradicional- mente utilizados pelas organizações. As pessoas são novamente valorizadas e percebidas como indispensá- veis para a organização e são permitidas a elas muda- rem de função ou cargo por meio do desenvolvimento de suas habilidades e competências. O conhecimento passou a ser o recurso mais importante para as orga- nizações. Uma pesquisa realizada com as cem melho- res empresas para se trabalhar no Brasil, por Fischer e Albuquerque (2004), revelou que 55% delas colocam a gestão de competências na segunda posição entre as estratégias que orientar os modelos de gestão de pessoas nos próximos anos. veja os principais conceitos sobre competências dos principais estudiosos do tema no Brasil: Joel Dutra (2010): “Saber ser e saber mobili- x zar o repertório individual em diferentes con- textos”. Pedro Paulo Carbone (2006): “Combinações x sinérgicas de conhecimentos, habilidades e atitudes, expressas pelo desempenho profis- sional, no âmbito de determinado contexto ou estratégia organizacional”. Claude Lévy-Leboyer (2002): “Um conjunto x de conhecimentos, habilidades e atitudes que algumas pessoas, grupos ou organizações dominam melhor do que outras, o que as faz se destacar em determinados contextos”. Fisher e Fleury (1998): “Conjunto de políticas x e práticas definidas de uma organização para orientar o comportamento humano e as rela- ções interpessoais no ambiente de trabalho”. Portanto, as abordagens sobre competências na literatura sobre o tema referem-se a competências dos indivíduos, competências coletivas ou grupais, como também competências organizacionais, além de pesqui- sas conceituais. Nos trabalhos publicados em periódicos existe uma predominância de estudos sobre a aborda- gem das competências individuais. Tais competências individuais compreendem em todos os sentidos uma mobilização por parte do indi- víduo de uma combinação de recursos ou dimensões de competência: de conhecimentos (saber), habilida- des (fazer) e atitudes (querer) necessárias ao desem- penho de atividades ou funções, segundo padrões de qualidade e produtividade requeridos pela natureza do trabalho. Para Rabaglio (2008), a definição de competên- cia está baseada no CHA, sendo conhecimentos (C), habilidades ou competências técnicas (H) e atitudes ou competências comportamentais (A), que uma pessoa possui. O conhecimento tem relação com a formação acadêmica, com o conhecimento teórico. A habilidade está ligada ao prático, à vivência e ao domínio do conhecimento. Já a atitude representa as emoções, os valores e os sentimentos das pessoas, isto é, o com- portamento humano. Na década de 80 do século XX, Boyatizis (apud BITENCOURT, 2004) definiu a competência com base na formação das pessoas e em seus resulta- dos, colocando o enfoque nas características pessoais e relacionando-as com o comportamento humano, determinando assim o retorno da organização. As competências são desenvolvidas por meio da aprendi- zagem adquirindo os CHAs adequados com os objeti- vos organizacionais, conforme ilustra a figura 2: GESTãO DE COMPETêNCIAS E COMPETITIvIDADE ORGANIzACIONAL | 11 | Figura 2 As dimensões da competência. Informação x Saber o quê x Saber o porquê x Quero fazer x Identidade x Determinação x Técnica x Capacidade x Saber como x Conhecimento Competência Habilidades Atitudes Fonte: Durand (2000, apud BRANDãO, 2005). Os CHAs se referem aos conhecimentos, às infor- mações assimiladas pelo sujeito dentro de uma estrutura já construída que influencia em seu comportamento; habilidades – que são os conhecimentos aplicados, ou seja, colocados em ação e as atitudes – que se referem a aspectos sociais e afetivos ligados ao trabalho. As competências até aqui foram definidas e foca- das no sujeito. Porém, para outros autores, as compe- tências não se referem apenas ao sujeito, estes autores relacionam as competências individuais com as com- petências das equipes e com as competências gera- das pelo próprio o ambiente organizacional. Conforme Brandão (2005), na área da gestão organizacional, o termo competência foi empregado de diferentes for- mas, adquirindo conotações variadas. Para Dutra (2010), é possível notar a existência de duas grandes correntes: a primeira delas é composta em sua maioria por autores norte-americanos (Boyatzis, 1982, e McClelland, 1973) que define competência como um conjunto de qualificações (conhecimentos, habilidades e atitudes) que capacita uma pessoa a exer- cer determinada atividade. A segunda corrente, formada por autores franceses (Lê Boterf, 1999, e zarifian, 2001), caracteriza competência integrando o sujeito ao trabalho, ou seja, o enfoque não é no conjunto de qualidades que o sujeito possui e sim no que ele realiza no trabalho. Carbone et al. (2006, p. 43) fez uma conexão entre essas duas correntes citadas e definiu competência como “[...] combinações sinérgicas de conhecimentos, habilidades e atitudes, expressas pelo desempenho pro- fissional dentro de determinado contexto organizacional, que agregam valor a pessoas e organizações”. Para Dutra (2010), as competências podem ser atri- buídas tanto à organização quanto às pessoas. Colocando a organização e as pessoas no mesmo nível, percebe-se o processo de transferências de competências, um pro- cesso recíproco no qual a empresa transfere seu patrimô- nio às pessoas, contribuindo para o crescimento profissio- nal e preparando-as para lidar com novas situações. As pessoas, no entanto, transferem para a organi- zação aquilo que aprenderam, com a sua capacidade individual permitem as organizações enfrentarem novos desafios. Para Dutra (2010), a necessidade de um modelo articulado em competências se justifica pelo ambiente competitivo no campo das organizações, já que a gestãopor competência surgiu das dificuldades das organizações em lidar com determinadas situações. O princípio do processo de gestão é desenvolver e adquirir novas competências fundamentais para a manutenção da vantagem competitiva da organização na era do conhecimento. Organizações que atuarem de forma proativa e implantarem estratégias para desenvol- ver e reter os profissionais em potencial, mais chances terão em obter sucesso no mercado. Resende (2008) afirma que a gestão por competência é um modelo de gestão empresarial que pode ser classificado como de GESTãO ESTRATÉGICA DE PESSOAS | 12 | última geração, sendo um modelo capaz de superar todos os outros, no que se refere a sua contribuição para o desenvolvimento das organizações. No entanto, para ser efetiva precisa ser bem desen- volvida. Segundo Carbone et al. (2006, p. 49), “a gestão por competências [...] propõe-se a alinhar esforços para que as competências humanas possam gerar e susten- tar as competências organizacionais necessárias à con- secução dos objetivos estratégicos da organização”. Para desenvolver um processo de gestão é primei- ramente necessário mapear as competências corporati- vas para implantar uma estratégia de gestão eficiente na empresa. Existem recursos e competências importantes para a organização, por serem fontes para sustentar as vantagens competitivas, e existem competências que não representam algo especial. Portanto, segundo Dutra (2010, p. 25), é preciso criar categorias distintas: Competências essenciais: fundamentais para x a sobrevivência da organização e centrais em sua estratégia. Competências distintivas: reconhecidas pelos x clientes como diferenciais em relação aos competidores, conferem à organização vanta- gens competitivas. Competências de unidades de negócio: x pequeno número de atividades chave (entre três e seis) esperadas pela organização das unidades de negócio. Competências de suporte: atividades que x servem de alicerce para outras atividades da organização. Por exemplo: a construção e o trabalho eficientes em equipes podem ter grande influência na velocidade e qualidade de muitas atividades dentro da organização. Capacidade dinâmica: condição da organiza- x ção de adaptar continuamente suas compe- tências às exigências do ambiente. Responder a questão de quais são as competências organizacionais sem as quais a empresa não sobreviveria no mercado é fundamental ao se pensar em implantar um sistema de gestão de competências, e categorizar as competências é essencial para discutirmos a relação entre as competências individuais e organizacionais. Para implantar uma metodologia da gestão de com- petências primeiramente é preciso desenvolver a capa- citação dos profissionais e gestores da organização sob esse enfoque, para que eles possam aplicar suas habili- dades da melhor maneira possível, no sentido de alcançar os objetivos propostos. Desse modo, é necessário detec- tar, medir e desenvolver os conhecimentos, habilidades e atitudes necessárias para a realização de processos do negócio e das principais atividades de trabalho. É preciso, ao adotar a gestão por competências como principal metodologia de planejamento estraté- gico, ter claro que competências, tanto as organizacionais quanto humanas, são ativos intangíveis de valor elevado para as organizações. É preciso definir primeiramente quais as competências da gestão são fundamentais para gerir as pessoas. Portanto, administrar, organizar, planear e liderar um projeto, pessoas de uma equipe ou uma organização devem estar alinhados com as competên- cias corporativas. As empresas estão entendendo que somente a ava- liação técnica de uma pessoa não é suficiente para dizer se será um profissional que atende a todas as exigências de um determinado cargo. Para tal foram desenvolvidos metodologias, ou um conjunto de ferramentas capazes de promover o contínuo aperfeiçoamento dos conhe- cimentos, habilidades e atitudes de cada colaborador. Enquanto metodologia, Dutra (2010, p. 99) propõem na concepção e implementação do sistema de gestão de pessoas quatro etapas: Etapa I – definição dos parâmetros do sistema 1 | de gestão de pessoas; Etapa II – modelagem do sistema;2 | Etapa III – implementação inicial do sistema e 3 | capacitação do corpo gerencial; Etapa Iv – monitoramento do sistema.4 | Em cada uma das etapas se engloba objetivos e premissas que norteiam a modelagem do sistema dos resultados a serem obtidos como sua implantação. As etapas são desenvolvidas com o grupo de coordenação e direção da empresa. Promovendo a ampla participa- ção do corpo gerencial, procura incentivar a interação entre os gestores envolvidos no processo de modela- gem do sistema, instituindo-o como grupo habilitado para discutir questões organizacionais abrangentes. GESTãO DE COMPETêNCIAS E COMPETITIvIDADE ORGANIzACIONAL | 13 | Como resultados esperados, procura-se atingir uma sustentação do sistema em longo prazo com a renova- ção contínua em todas as etapas. Existem, no entanto, outros autores que abordam técnicas mais específicas na aplicação de uma estrutura de gestão de competências. Por exemplo, segundo Gramigna (2007, p. 4), para implantar nas empresas um sistema de gestão de com- petências, esse sistema compreende cinco fases: mapeamento e definição dos perfis de competên- cias; verificação da situação de cada colaborador em relação ao perfil traçado (criação de banco de talentos com base no potencial de cada um); projetos estratégicos de realinhamento de perfis por meio da capacitação e do desenvolvimento de competências; definição de estratégias para gerir o desempenho individual e elevar o nível de domínio das equipes; realinhamento dos planos de carreira e remuneração, adequando-os ao novo modelo de competências. No modelo de gestão por competências proposto são identificadas algumas premissas básicas, sendo elas: perfis específicos existentes para cada tipo de x negócio; cada cargo na organização possui caracterís- x ticas distintas, portanto, necessitam de profis- sionais com as competências necessárias para executar tal função; reconhecimento de que a gerência é respon- x sável pela capacitação e desenvolvimento das competências; percepção de continuidade, que a competência x que se possui hoje não será a mesma exigida no futuro, portanto, sempre haverá demanda de novas competências. Contudo, a gestão por competências pode ser implantada por meio de blocos de intervenção, de maneira simultânea ou passo a passo. A maioria dos autores aponta que para que o modelo de gestão de competências funcione é imprescindível o envolvimento de pessoas-chave da organização. A seguir são definidos os perfis, identificando as competências essenciais da empresa e as percebidas pelos clientes, e as competências básicas, aquelas que são percebidas no ambiente interno. No bloco seguinte, a formulação de um banco de identificação de talentos a partir de entrevistas, diagnósticos e seminários. No quarto bloco, a capacitação, sendo esta a filosofia do modelo de competências, que se apoia no desenvol- vimento do potencial ilimitado do sujeito. E fechando o ciclo, utiliza-se como ferramenta de avaliação de resul- tados a gestão de desempenhos. Conforme Gramigna (2007), o mapeamento das competências é a fase determinante para o desenvol- vimento de um modelo e necessita da participação da direção da organização. Nessa fase, são apontados dois tipos de competências: Técnicas: são as competências necessárias 1 | que o profissional precisa obter para realizar determinada função. De suporte: são as competências que diferen-2 | ciam o profissional, que agregam valor. A partir de um modelo desenvolvido para cada empresa é mapeado quais as competênciasorganiza- cionais e profissionais de modo a identificar as compe- tências que a organização e seus funcionários possuem, bem como as que deverão ser desenvolvidas visando o crescimento da organização. O próximo passo é desenvolver um sistema de mensuração com o objetivo de conhecer o que o fun- cionário possui em relação a conhecimentos, habili- dades e atitudes que possam ser correlacionados ao plano estratégico definido pela organização. Com os resultados dessa mensuração são oferecidos incentivos educacionais para o desenvolvimento do conhecimento e aptidões de seus funcionários visando a atender ple- namente aos objetivos e missão da organização. Desse modo, é necessário ter clareza nas defini- ções em relação à missão, visão, objetivos e competên- cias organizacionais: formulação da estratégia organizacional; x definição da missão, da visão de futuro e dos x objetivos estratégicos; definição de indicadores de desempenho x organizacional; diagnóstico das competências essenciais à x organização; diagnóstico das competências humanas ou x profissionais; GESTãO ESTRATÉGICA DE PESSOAS | 14 | desenvolvimento de competências internas; x captação e integração de competências externas; x formulação dos planos operacionais de traba- x lho e de gestão; definição de indicadores de desempenho e x remuneração de equipes e sujeitos; acompanhamento e avaliação. x As competências organizacionais compõem o norte para as estratégias nos demais níveis da empresa. Desse modo, para diagnosticar competências em organizações implica, em primeiro lugar, realizar um prognóstico a respeito das competências organizacionais relevantes à consecução da estratégia, e a partir dessas, identificar as competências de grupos e individuais. De acordo com Borges-Andrade, Abbad e Mourão (2004), um diagnóstico criterioso de competências é fundamental, pois além de auxiliar na definição estra- tégica da organização, subsidia questões relativas aos investimentos em treinamento, desenvolvimento e edu- cação. A partir do mapeamento é identificado o GAP, ou lacuna, que mostra as competências existentes e as competências necessárias para atingir o desempenho esperado pela empresa, conforme ilustra o Gráfico 1. Figura 3 GAP ou lacuna identificada Visão dinâmica Competências necessárias Competências atuais Gap 0 Gap1 T1T0 Tempo No Gráfico 1, é possível visualizar a diferença entre o GAP0 e o GAP1. Essa diferença tende a aumentar quando a organização não investe em capacitação em desenvolvi- mento de seus funcionários. (CARBONE et al., 2006). Novas competências são exigidas de acordo com o contexto que as organizações estão inseridas, e quando a capacitação não ocorre, a curva das competências necessárias tende a crescer e a curva das competên- cias mapeadas a cair, pois as competências tornam-se obsoletas com o tempo (CARBONE et al., 2006). verificando a importância de um constante mape- amento para que a organização tenha plena visão da discrepância existente entre as competências atuais e as necessárias e possibilitando também planejar ações para o desenvolvimento das competências de seus fun- cionários por meio da aprendizagem é que são desen- volvidas as competências humanas. Na fase de acompanhamento, os resultados espe- rados são comparados com os atingidos, funciona como um feedback e que tem como objetivo corrigir eventuais desvios. Nessa fase, verifica-se se as ações GESTãO DE COMPETêNCIAS E COMPETITIvIDADE ORGANIzACIONAL | 15 | adotadas pela organização foram eficazes em relação às competências definidas. Para acompanhamento de todo o sistema de desenvolvimento profissional é necessá- rio um conjunto de indicadores que dizem respeito ao acompanhamento do sistema de capacitação. Serão esses indicadores que medem a eficiência do processo de capacitação e desenvolvimento profissional. O pres- suposto básico desse modelo é a coerência entre os objetivos, as estratégias funcionais e as corporativas. 4 . O ser e o desprender humano 4.1 Análise de competências do trabalho X análise de competências do perfil individual O ser e o desprender do humano diz respeito à implantação do modelo de gestão por competências. Tal modelo necessita de análises das competências do traba- lho e análise das competências de todos os trabalhadores da organização, de modo que a gestão de pessoas se estabeleça com planos estratégicos bem definidos. Se por um lado tem-se um perfil individual que pode ser atribuído a diversos colaboradores, por outro tem-se competências que ultrapassam os perfis reque- ridos pelo atores sociais. Desse modo, há de um lado a organização com seu conjunto de competências e de outro as pessoas e seu conjunto de competências, sejam elas aproveitadas ou não pela organização. Tal processo de gestão de competências pressu- põe que o desempenho de uma pessoa é a manifesta- ção do que ela é capaz de realizar. Portanto, empresas atuam como certificadoras, aplicam testes, simulações e avaliações de desempenho como instrumentos a fim de certificar as competências expressas pelas pessoas (CARBONE et al., 2006). A grande problemática para as empresas é con- seguir, após identificar as competências individuais do colaborador, transformar esses conhecimentos em pro- cessos de gestão do próprio trabalho, agregando tais competências para a empresa. Fleury (2000) conceitua as competências individu- ais como “saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades que agreguem valor econômico à organização e valor social ao indivíduo”. Dessa forma, colocar as pessoas e organizações lado a lado implica troca de competências e transfe- rência de conhecimentos. Portanto, deve-se colocar o estabelecimento das competências individuais vinculado à abordagem das competências organizacionais. Como um meio de identificar essas competências, a pesquisa documental é utilizada para analisar a mis- são, a visão, os objetivos estratégicos e qualquer outro documento que seja relevante às estratégias da empresa (CARBONE et al.,2006). Deve-se ter um olhar atento sobre as competências organizacionais questionando, a partir da missão, visão e objetivos, quais são as compe- tências fundamentais para a contínua transformação da organização. Segundo Dutra (2010, p. 25) “não podemos pen- sar em competências individuais de forma genérica e sim atreladas às competências essenciais para a orga- nização”. Parte-se do pressuposto de que as entregas esperadas das pessoas devem estar atreladas ao que é essencial para a organização. A relação íntima entre as competências organizacionais e individuais parte do eixo estratégico da forma de competição que a empresa enfrenta no mercado, seja ele a excelência operacional, a inovação em produtos ou a orientação para clientes. Para a análise das competências necessárias para a organização existem formas de competir que deter- minam um conjunto de características para o trabalho e se estabelece um mapa de competências individuais. É indispensável para nortear o planejamento das estratégias formativas necessárias e inferência das competências básicas, genéricas e específicas do trabalhador. Somente a partir das matrizes de perfis ocupacionais definidas em cada ramo de atividade e abrangendo famílias ocupa- cionais afins é que se poderão inferir as competências necessárias ao desempenho ótimo de tais atividades. 4.1.1 Análise de competências do trabalho Esse levantamento, tradicionalmente feito por meio das técnicas de análise ocupacional, adota hoje outras metodologias que levam em conta os proces- sos internos da construção do conhecimento. Todas as GESTãO ESTRATÉGICA DE PESSOAS | 16 | atividadesque estão sofrendo as transformações da superação do modelo fordista, a formação e a ava- liação do desempenho se desgrudam cada vez mais dos objetivos fixos para se concentrarem nas estraté- gias cognitivas e na formação de atitudes, condições necessárias para o alcance das performances exigidas no exercício profissional. Continua sendo necessária a definição dos obje- tivos a serem alcançados, mas não para atrelá-los à aprendizagem, em comportamentos que limitem e condicionem todo o processo formativo, e sim como um parâmetro orientador que permita planificar as estra- tégias cognitivas e a aprendizagem flexível, dentro do ritmo próprio, do estilo pessoal e das soluções originais de cada sujeito. É indispensável a um sistema de informação ocupa- cional possuir a descrição das matrizes de atividades, o padrão de desempenho e as normas exigidas em cada nível profissional dentro dos diversos ramos. Por isso, na análise dos processos de trabalho deve-se extrair dos perfis ocupacionais: Uma lista de conhecimentos, ou seja, os conte- x údos que exigem a memorização e a evocação de informações, fatos, estruturas, princípios, leis ou teorias. Esses conhecimentos serão mobili- zados no processo de trabalho para a resolu- ção dos diversos problemas que apresentam. Uma relação das situações em que se apre- x sentem dúvidas ou alternativas de sim e não que permita a construção de algoritmos deci- sórios nas resoluções de problemas. Uma lista de habilidades motoras necessárias x à realização dos índices de desempenho míni- mos das tarefas mecânicas e manuais. Uma lista das habilidades intelectuais, modos x de operações e técnicas aplicadas para tratar os problemas, com incidência no processo de trabalho da ocupação. Uma lista das atitudes recomendáveis e apti- x dões emocionais indispensáveis à natureza das operações em que se envolve o trabalha- dor na ocupação. Finalmente, uma lista de normas e padrões inter- x nacionais de exigências, assim como as reco- mendações sobre risco e acidente de trabalho. Finalizando o processo da análise, o diagnóstico final estará à disposição de todos os interessados por intermédio da rede interativa, e cada instituição de for- mação ou comitê de certificação poderá consultá-la e fazer suas devidas adaptações locais para planejar os currículos e itinerários formativos – são os PDI que serão discutidos adiante. É importante que o processo formativo se apre- sente da forma mais flexível possível, de preferência por meio de módulos e itinerários alternativos. Uma vez que a lacuna possa ser identificada, isto é, que mostre a discrepância entre as competências atuais e as que precisam ser desenvolvidas. A organização terá dados suficientes para saber onde investir, como capacitar e treinar seus funcionários, para que os seus objetivos sejam atingidos. 4.1.2 Análise de competências do perfil individual O ser pode ou não aprender sozinho? Ao conhecer suas competências com ou sem o auxílio de outros, é possível que as pessoas despertem para a necessidade de seu desenvolvimento. Isso acontece quando os sujei- tos tomam a iniciativa de diagnosticar suas necessida- des de treinamento e são capazes de formular metas, selecionando os recursos, escolhendo as estratégias. Porém, muitas vezes é necessária a intervenção do líder no diagnóstico das competências e no desenvolvimento delas para formar uma equipe competente. O trabalhador competente não é mais aquele que sabe repetir tarefas com perfeição, de maneira automá- tica, mas aquele que tem condições de mobilizar seus conhecimentos e experiências e emoções para resolver os problemas de rotina e solucionar os problemas inédi- tos que se lhes apresentem. Para Dutra (2010, p. 28), “o fato das pessoas pos- suírem um determinado conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes, não é garantia de que elas irão agregar valor à organização”. O autor propõe utilizar o conceito de entrega para consideração a capacidade das pessoas de forma individual, permitindo estabelecer pela sua entrega formas de orientar o seu desenvolvi- mento e recompensá-las. Durante os anos de 1980 e 1990, muitos autores contestaram a definição de competências associada ao GESTãO DE COMPETêNCIAS E COMPETITIvIDADE ORGANIzACIONAL | 17 | estoque de conhecimentos e habilidades das pessoas e procuraram associar o conceito às realizações e àquilo que elas provêm ou entregam. O fato de a pessoa ter qualificações não assegura que irá entregar o que lhe é solicitado. “As pessoas atuam como agentes de trans- formação de conhecimentos, habilidades e atitudes em competência entregue para a organização” (Dutra, 2010, p. 31). A competência entregue é que agrega valor e patrimônio de conhecimento para a organização. Dessa forma, a formação baseada em competên- cias aproxima-se mais da realidade do desempenho ocupacional requerido pelos trabalhadores e pretende melhorar a qualidade e a eficiência no desempenho, permitindo trabalhadores mais integrais, conhecedores de seu papel na organização, capazes de enfrentar, com formação de base ampla que reduza o risco de obso- lescência de seus conhecimentos. 4.2 Avaliação da competência A competência não pode ser separada da ação, portanto, ela só pode ser avaliada em situações reais de trabalho. A competência do perfil individual não deve enfrentar dicotomia teoria/prática que seria uma distin- ção conhecimento/habilidade. Desse modo, os perfis individuais devem compreender não só os conteúdos teóricos pertinentes ao cargo, mas serem capazes de ver habilidade para além do desempenho observável de uma técnica. Para definir competências individuais, Dutra (2010) identificou três abordagens metodológicas. Na primeira, recomendada por McClelland, as pessoas são apontadas pelas demais como tendo uma performance acima da média, em seguida, por entre- vistas individuais são identificadas competências que as diferenciam, finalmente, as competências levantadas são tabuladas e confrontadas com as competências organizacionais consideradas essenciais e distintivas. A segunda abordagem parte da premissa de que existe uma relação entre a estratégia organizacional e as competências das pessoas; mesmo que não haja consciência deste processo, ele existe porque caso não existisse a empresa não sobreviveria. Estabelecendo e explicitando as competências inicialmente levantadas em entrevistas com as pessoas-chave da organização, as competências individuais são posteriormente tabula- das para depois serem trabalhadas com o intento e as competências organizacionais. Na terceira abordagem, decorrente da segunda, consideram-se as carreiras existentes nas organizações que são atreladas a processos fundamentais. Dessa forma, algumas competências são fundamentais para todos os cargos da organização, outras são importantes somente para os técnicos, e outras ainda para os níveis gerenciais. Cada trajetória de carreira organizacional deve ser discutida com as pessoas-chave da organi- zação para obter melhor adequação entre o seu intento estratégico e as competências organizacionais. As entregas esperadas em cada nível da carreira devem ser observadas em determinadas competên- cias individuais descritas. Dutra (2010) recomenda que fiquem entre 7 e 12 competências para se trabalhar com uma margem de fácil observação e mensuração. A avaliação das competências deve atender a novas demandas do trabalhador flexível, que possa contribuir para a melhora da qualidade formativa e o incremento da empregabilidade do trabalhador. Ao realizar uma aná- lise de suas competências no trabalho, o sujeito pode se envolver atividades de aprendizagem formal e informal e pode escolher métodos mais apropriados para seu caso e, ainda, avaliar seu próprio desenvolvimento. Essesentido de autodirecionamento, em termos de habili- dade para planejar, conduzir e avaliar suas atividades de aprendizagem de forma independente, acontece quanto os GAP de competências estão claramente mapeados. As mudanças que o mapeamento de competên- cias podem promover nas organizações de trabalho são elevadas e requerem do trabalhador um direcionamento para a assimilação de novas informações, atitudes e habilidades. O despertar para a análise das competências e da atuação dos profissionais nas empresas resulta em ações desses mesmos profissionais para buscar em suas empresas melhores programas de capacitação e qualificação. A organização deve estar alinhada ao mapeamento das competências, verificando a sua funcionalidade. Contudo, o mapeamento das competências integrado com as estratégias organizacionais busca o desenvol- vimento do funcionário e da empresa, com a finalidade de aproximar os objetivos organizacionais e os pessoais, e requer investimentos nessa capacitação. GESTãO ESTRATÉGICA DE PESSOAS | 18 | Cada pessoa tem suas potencialidades, mas é necessário o alinhamento de competências do trabalho, ou seja, daqueles itens fundamentais para a organização com as competências pessoais. Para que esse alinha- mento seja efetivo ele deve ser mapeado com exatidão e periodicidade. As pessoas que mudam o trabalho também mudam, assim, o mapeamento periódico e sistemático das com- petências do trabalho. Com isso, o perfil do trabalhador será o principal insumo para a manutenção do modelo da gestão de competência de uma empresa. As novas práticas de gestão da competência no mundo do trabalho apontam para a valorização do conhe- cimento em altos níveis de escolaridade, a valorização da mobilidade e flexibilidade dos trabalhadores, o acompa- nhamento individualizado da carreira, competências rela- tivas à mobilização do trabalhador e seu compromisso com a empresa. Ainda, um conjunto de valores pessoais e a rede de relacionamento são necessários nesses tem- pos conturbados e instáveis, uma vez que para trabalhar bem e conseguir bons resultados, as pessoas precisam não apenas de competência técnica, de inteligência ou alta qualificação, mas também de competência social. A importância da competência social na formação da liderança é criar uma comunidade de aprendizagem que colocará as organizações e suas equipes no cami- nho para alcançarem um padrão de sucesso. A compe- tência social permite também a ampliação da percepção em situações de desafio, bem como a compreensão do comportamento das pessoas e dos grupos dentro da organização em situações desafiadoras. Dessa forma, o contexto competitivo que as empresas enfrentam neces- sita do trabalhador uma extrema flexibilidade para se ade- quar às mudanças e uma das principais competências necessária talvez seja possuir uma visão estratégica. 5 . Competências gerais Segundo Dutra (2010, 146- 147), foram definidas como comuns a várias trajetórias profissionais e são as seguintes: Orientação para resultados – atuação indepen- x dente, ou envolvendo outras pessoas, voltada para os resultados e rentabilidade da empresa. O indi- víduo atua com determinação e foco, obtendo e ou superando de forma consistente e com quali- dade os desafios assumidos. Para fazê-lo assume riscos e consegue mover obstáculos. Direcionamento estratégico – visão global de x futuro, que permite à pessoa identificar riscos e oportunidades capazes de causar impacto na empresa, no âmbito de sua atividade. A partir dessa visão, estrutura e coordena a implemen- tação de planos que viabilizem os objetivos estratégicos da empresa. Liderança de equipes – o líder obtém o com- x prometimento e desempenho máximo das pessoas e é considerado um exemplo a ser seguido. Delega seus liderados, com preci- são e limites adequados, missões e desafios, promovendo o acompanhamento e o apoio necessário para que eles alcancem os obje- tivos. Orienta o processo de desenvolvimento dos liderados. Investe tempo e recursos na identificação de talentos, formação de empre- endedores e processos de sucessão. Agente de mudanças – influencia e lidera x processos de mudança e transformação orga- nizacional, atuando de forma decisiva para o sucesso de sua implementação. Identifica e ou antecipa as necessidades de mudanças nos clientes ou nos processos da empresa. Dinamiza os negócios, reforçando a imagem de uma empresa de vanguarda. Colaboração irrestrita – a pessoa colabora em x projetos, programas e ações que vão contri- buir para os objetivos e resultados da empresa. Mantém a abertura dos canais de comunicação e articula-se de forma eficiente intra ou intera- éreas para implementação dos projetos e pro- cessos da empresa. É capaz de influenciar e ser influenciada, aceita debater e discutir os assun- tos, respeita as divergências de opinião e é par- ceira na implementação das decisões finais. Orientação para o mercado – o indivíduo x domina as variáveis de mercado, clientes, fornecedores, concorrentes, fatores de regu- lamentação e fatores políticos e estratégi- cos, para obter vantagens competitivas nos negócios. Quando responsável por atividade de suporte ao negócio, define e orienta suas estratégias e resultados alinhado com as melhores referenciais do mercado. GESTãO DE COMPETêNCIAS E COMPETITIvIDADE ORGANIzACIONAL | 19 | Orientação para a ação – a pessoa define x prioridades e métricas para acompanhamento das ações implementadas, obtendo os resul- tados nos prazos pactuados. Tem senso de urgência e proatividade, dando respostas rápi- das e precisas. 6 . Desenvolvimento de competências O conceito de desenvolvimento de competências remete não somente a uma qualificação profissional porque esta se baseia em conhecimentos teóricos formalizados com vistas a pôr em prática uma pro- fissão. Quanto se trata de competências é necessá- rio observar que estas requerem a mobilização de amplas qualidades subjetivas dos colaboradores na busca do encaminhamento de situações de trabalho diferenciadas e que não são necessariamente ligadas à formação inicial, podendo ser adquiridas em outros empregos nos estágios de formação e em atividades fora da empresa. O conceito de desenvolvimento profissional da pessoa é definido como “capacidade para assumir atribuições e responsabilidades em níveis crescentes de complexidade” (DUTRA, 2010, p. 65). Esse con- ceito permite, se atrelado a noção de competências, os seguintes desdobramentos: mensuração do desenvolvimento da pessoa; x perenidade e comparabilidade dos padrões; x desenvolvimento como patrimônio da pessoa. x Desse modo, para dar direção e foco ao desenvol- vimento é preciso agregar o conceito de competências, no qual a pessoa aprende a atuar em determinado nível de complexidade e não regride aos níveis inferiores, ou seja, o desenvolvimento é um patrimônio que a pessoa leva consigo para onde for. Devido à sua complexidade, o uso da abordagem por competências possibilita construir um sistema de gestão de desenvolvimento com os seguintes desdo- bramentos: análise das pessoas com base na sua indivi- x dualidade, em que deixam de ser avaliadas em função do cargo que ocupam ou de um perfil; análise das deficiências individuais, em que a x gestão de competências permite avaliar por- que a pessoa não conseguir produzir o resul- tado esperado, onde se localiza a sua defici- ência se no nível de informação, habilidades ou atitudes; análise da efetividade das ações de desenvol- x vimento, ao se estabelecer com a pessoa e sua chefia um plano para o seu desenvolvimento, tendo a sua cumplicidade, o que aumenta a chance de sucesso; adequação das ações de desenvolvimento, x respeitando a sua individualidade e sua singu- laridade. O desenvolvimento das
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