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Priscila Behrens 2020.2 Síndrome do Corrimento Genital VULVOVAGINITES: O que é: Inflamação e/ou infecção de vulva ou vagina. Epidemiologia: Corresponde a 50-70% das queixas em consultas ginecológicas e estima-se que dez milhões de consultas por ano sejam decorrentes de sintomas relacionados às vulvovaginites. Ambiente Vaginal Fisiológico composto por: • Glândulas sebáceas, sudoríparas, de Bartholin e de Skene, que produzem secreções fisiológicas (A vagina não é um ambiente estéril). • Fase hormonal influencia no tipo e na quantidade de células presentes. Conteúdo Vaginal Fisiológico composto por: • Muco cervical, células vaginais e cervicais, secreção de glândulas, proteínas, glicoproteínas, carboidrato, pequena quantidade de leucócitos (células de defesa) e microrganismo da flora vaginal • Microrganismos aeróbios (lactobacilos acidófilos, Staphylococcus epidemidis, Streptococcus spp., Escherichia coli), anaeróbios facultativos (Gardnerella vaginalis), anaeróbios estritos (Prevotella spp., Bacteroides spp) e fungos, com destaque para a Candida spp. o O Lacobacillus sp. representam 90% das bactérias presentes na flora normal de uma mulher sadia em idade reprodutiva, e respondem pelo pH ácido que inibe o crescimento de bactérias nocivas à mucosa vaginal. Secreção Vaginal Fisiológica: • Possui consistência flocular e geralmente de coloração branca ou transparente • Está presente no fundo da vagina, mas pode se exteriorizar • Possui PH ácido (4,5), importante para a defesa do organismo e contribui para a concepção/ reprodução já que o sêmen tem PH alcalino • Na microscopia são encontradas células epiteliais superficiais, alguns leucócitos e poucas células indicadoras com presença da bactéria G. vaginalis em níveis elevados (vaginose bacteriana) Síndrome: Conjuntos de sinais e sintomas que caracterizam uma doença Quando a mulher vai se aproximando da menopausa, ocorre uma redução dos lactobacilos, o que acarreta um aumento do pH vaginal e perda gradual da defesa. Priscila Behrens 2020.2 VAGINOSE BACTERIANA O que é: • Conjunto de infecções da vulva e da vagina por bactérias anaeróbicas que provocam sintomas, mas que não são caracterizados como inflamação (por terem poucos leucócitos e nenhum ou pouco sinal de inflamação). Patogenia: • Alteração da flora bacteriana vaginal normal; • Perda dos lactobacilos produtores de H2O2 (aumento do pH vaginal, perdendo mecanismo de defesa); • Supercrescimento de bactérias anaeróbicas, como: Gardnerella vaginalis, mobiluncus, bacteróides, mycoplasma hominis. Gardnerella vaginalis: Microbiologia: • Bastonetes; • Pleomorfico; • Anaerobio facultativo; • Não capsulado; • Imóvel. Características Clínicas: • Odor desagradável (peixe podre); • Corrimento: pequena intensidade, homogêneo e branco acinzentado; • Não apresenta habitualmente prurido, ardor, queimação; • Comum recorrência; • Maior risco de DIP (doença inflamatória pélvica), DIP pós-abortamento, infecções pós-operatórias da cúpula vaginal após histerectomia, citologia cervical anormal. Diagnóstico: • Critérios de Amsel: o Corrimento vaginal branco acinzentado em pequena quantidade; o pH maior que o normal (tendendo ao alcalino); o Teste de aminas (whiff) positivo; o Feito no consultório, com a coleta da secreção da paciente em uma lâmina, pinga algumas gotas de KOH 10% e o odor é exalado imediatamente (devido a liberação das aminas radioativas); Priscila Behrens 2020.2 o Presença de Clue Cells; ▪ Células evidenciadoras de Gardnerella. • Exame Bacterioscópico: o Usar exame a fresco ou corado pelo Gram; o Presença de clue cells; o Número pequeno ou inexistente de leucócitos; o Não se faz culturas o Vulva não fica hiperemiada. Tratamento: • Metronidazol (principal droga utilizada) 2g VO, dose única ou 400mg VO, de 12/12h por 7 dias • Tinidazol 2g VO, dose única Candidíase Vulvovaginal Epidemiologia: • 75% das mulheres já foram acometidas por uma espécie de Candida; • 40 a 50% terão um 2º episodio; • 5% de recorrência; • 80-90% tipo Candida Albicans ------ 5-10% de Candida glabrata Características: • Microrganismo comensal; • Capacidade dimórfica (esporos/hifas); • Sistema imune do trato genital regula transformação para o estado infeccioso; • Frequente na menacme (período reprodutivo da mulher); • Começa a ser sintomático quando possui um grande nível de colônias – concentração desses organismos >10ˆ4 /ml. Fatores predisponentes: • Gestação; • Diabetes Mellitus; • Contraceptivos orais; • Uso de antibióticos; • Uso de corticosteroides; • HIV; • Hábitos higiênicos inadequados; • Roupas intimas justas ou sintéticas; Como não é uma IST, não é necessário tratar o parceiro. É apenas um desequilíbrio da flora Priscila Behrens 2020.2 Características clínicas: • Principal sintoma: prurido genital; • Corrimento branco, aderente à parede vaginal (aspecto de leite coalhado); • Pode ocorrer disúria e dispareunia superficial; • Piora no período pré-menstrual, devido alterações imunológicas no local; • Exame ginecológico: eritema e/ou edema e/ou fissura na vulva; • Exame especular: conteúdo vaginal aumentado e placas aderidas a parede vaginal ou colo uterino; • Poder ter fluido esbranquiçado; • Não há alteração do pH (consegue se desenvolver no pH ácido). **Obs: ocasionalmente pode ocorrer corrimento amarelado – vaginose bacteriana (associação e pode ter uma modificação no aspecto do corrimento) – faz tratamento polimicrobiano. **Pacientes com ansiedade, stress, tendem a ter recorrência de candidíase por conta da alteração hormonal e imunológica. Diagnóstico: • Bacterioscopia a fresco – pode ser negativo em aprox. 50% das culturas; o Se for negativo é necessário continuar a investigação; o Visualiza-se no microscópio hifas ou esporos; • Bacterioscopia com coloração pelo método de gram – melhor definição de hifas e esporos; • Cultura: o Sabouraud; o Nickerson; • Teste das aminas é negativo – não tem odor desagradável. Tratamento: • Episódios isolados – preferencialmente via vaginal – miconazol creme vaginal a 2% ou óvulos vaginais de 100mg uma aplicação ao deitar durante 7 dias; • Pode-se utilizar também: tioconazol, isoconazol, terconazol, clotrimazol, nistatina e fenticonazol; • Os azóis é o tratamento mais frequente e mais efetivo que a nistatina. ❖ Em casos recorrentes: tratamento sistêmico (creme e VO) o Aspectos observados: ▪ Confirmação microbiológica pela cultura; ▪ Identificação e tratamento dos fatores predisponentes; ▪ Avaliar a necessidade de indução e manutenção de terapia supressora com azólicos; ▪ Apoio psicológico. Priscila Behrens 2020.2 Terapia de supressão: serve para controlar a recorrência, utiliza-se fluconazol – 150mg, 1x por semana por até 6 meses Recorrência de ate aproximadamente 50% dos casos Não é indicado o tratamento do parceiro – não transmite por via sexual Tricomoníase vaginal: O que é: • É uma IST curável causada pelo Trichomonas vaginalis; • Associa-se de maneira importante com outra IST; • Alta taxa de transmissão; • O homem tem 70% em contrair a doença, mesmo em uma única exposição. Geralmente seguem assintomáticos, servindo apenas como vetor de transmissão. Microbiologia: • Célula polimorfa – pseudópodes; • Forma trofozoitica flagelada; • Não sobrevive fora do sistema urogenital; • Divisão binaria longitudinal; • Anaeróbio facultativo; • Provoca alteração no pH vaginal, cresce em pH >5,0; • Fatores de virulência: o Cisteína proteinase – citotóxica e hemolítica o Degrada a porção C3 do complemento o Degrada IgG, IgM e IgA o Adesinas o Glicosidases Transmissão: • Via sexual; • T vaginalis pode sobreviver por mais de uma semana no prepúcio do homem sadio; • O vetor da doença: ohomem; • Tricomoníase neonatal é adquirida durante o parto. Priscila Behrens 2020.2 Características clínicas: • Pode ser desde assintomática até provocar um quadro de inflamação aguda; • Corrimento purulento com odor desagradável; • Queimação, prurido, disúria, polaciúria e dispareunia; • Pode ocorrer sangramento pós-coito; • Exame físico e especular: eritema da vulva e mucosa vaginal, corrimento bolhoso amarelo-esverdeado com odor desagradável, colpite multifocal, pequenos pontos hemorrágicos na vagina e no colo strawberry cérvix. Complicações: • Problemas relacionados com a gravidez: o Ruptura prematura de membranas, parto prematuro, baixo peso ao nascer, endometrite pós parto, natimortos e morte neonatal. • Problemas relacionados com a fertilidade: o Aumenta 2x o risco de infertilidade o Resposta inflamatória pode destruir a estrutura tubária. Diagnóstico: • A clínica – anamnese; • Microscopia – identificar o protozoário no exame a fresco; • pH > 5 – teste da amina positivo; • Bacterioscopia pelo Gram – identificação do protozoário; • Colpocitologia; • Cultura em meio Diamond – apresenta elevada sensibilidade e especificidade. Tratamento: • Metronidazol – 2g VO, dose única (secnidazol e tinidazol) *Dose única – maior aderência, por via oral é mais resolutiva que via vaginal *Recidivas ocorrem por falta de tratamento do parceiro, tratamento incompleto ou reinfecção • Gestantes: *Metronidazol é a droga de escolha (500mg VO 2x ao dia por 5 a 7 dias) *Tinidazol não é recomendado • Parceiro: o Assintomáticos e transitórios: resolução espontânea em até 10 dias o Sintomático: precisa ser tratado e suspender relações durante o tratamento **OBS: em caso de reinfecções: considerar a presença de uma terceira pessoa e essa também precisa ser tratada. Priscila Behrens 2020.2 CERVICITES: O que é: • Processo inflamatório no colo do útero; • Assintomática em torno de 80% dos casos; • Presença de corrimento endocervical mucopurulento; • Principais agentes etiológicos: Chalmydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae; • Aumentam risco de doença inflamatória pélvica. Neisseria gonorrhoeae: O que é: • Acomete principalmente mucosas do trato genital inferior; • Possui período de incubação curto, de 2 a 5 dias; • O locus primário é o endocérvice, mas pode subir. Microbiologia: • Diplococo gram-negativo, não flagelado, sem esporos, encapsulado, anaeróbico facultativo. Sintomas: • Cervicite; • Uretrite; • Corrimento vaginal; • Disúria; • Sangramento intermenstrual; • Dos pélvica geralmente associada à salpingite. Exame físico: • Exsudato cervical purulento ou mucopurulento, sem odor; • Colo uterino doloroso à mobilização, geralmente quando já está no TGS. Complicações: • DIP; • Obstrução tubária > infertilidade; • Aumento das chances de gravidez ectópica; • Aborto espontâneo; • Parto prematuro; Priscila Behrens 2020.2 • Conjuntivite gonocócica do neonato (por isso necessário parto cesáreo caso a infecção esteja ativa já que a contaminação ocorre pelo contato do neonato com o canal vaginal). Diagnóstico: • Bacterioscopia da secreção – Gram (-) com inúmeros leucócitos; • Cultura em meio Thayer-Martin; • PCR. Tratamento: • Azitromicina, 1g, dose única e Ofloxacina, 400mg, dose única • Doxiciclina solúvel 100mg, 12/12h por 7 dias e Tianfenicol 500mg, 12/12h por 7 dias • Gestantes: o Eritromicina 500mg, 6/6h, por 10 dias ou Ampicilina 3,5g/ Amoxicilina 3g, em dose única, precedido de Probenecide 1g em dose única Chalmydia trachomatis O que é: • Tipo de IST; • Período de incubação: de 14 a 30 dias com evolução mais arrastada • 70% das pacientes são assintomáticas Microbiologia: • Bacilo Gram (-), intracelular obrigatório, 17 sorotipos, tropismo por células epiteliais colunares/cilíndricas; • Sorotipos de D à K estão relacionados a cervicites. Sintomas: • Corrimento vaginal mucopurulento; • Dispaurenia; • Disúria. • Exame físico: exsudato mucopurulento, sangramento endocervical, colo edemaciado e hipermiado, dor à mobilização Complicações: • Uretrite, endometrite, dip, esterilidade, gravidez ectópica, peri-hepatite, aborto, restrição do crescimento fetal, prematuridade, baixo peso ao nascer, conjuntivite e pneumonia no RN. Priscila Behrens 2020.2 **Sindrome de Fitz-Hugh-Curtis (infecção alta) – cistos no fígado em formato de cordas de violino. Diagnóstico: • Bacterioscopia vaginal; • Cultura em meio McCoy; • Imunofluorescência direta; • PCR. Tratamento: • Azitromicina, 1g, dose única e Ofloxacina, 400mg, dose única • Doxiciclina solúvel 100mg, 12/12h por 7 dias e Tianfenicol 500mg, 12/12h por 7 dias • Gestantes: o Eritromicina 500mg, 6/6h, por 10 dias ou Ampicilina 3,5g/ Amoxicilina 3g, em dose única, precedido de Probenecide 1g em dose única **A OMS recomenda o tratamento conjunto da gonorreia na presença de infecção por clamídia porque são bem parecidos e ISTs “complementares”.
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