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O consumo engloba um conjunto de comportamentos que vão desde a escolha, compra e uso até o descarte de produtos e serviços para a satisfação de necessidades e desejos. O consumidor, também chamado de cliente, é o conjunto de pessoas, grupos ou organizações que desempenha diferentes papéis ao longo do processo de compra e uso de produtos e serviços, como apresentado no Quadro 1.1 a seguir. Na perspectiva da psicologia comportamental (behaviorismo), o comportamento do consumidor engloba um conjunto de reações ou respostas a fatores de natureza pessoal, sociocultural, situacional ou de marketing. Os fatores pessoais que influenciam o comportamento do consumidor são o conjunto de estados fisiológicos e psicológicos, bem como os traços de personalidade e as características particulares do indivíduo, como valores pessoais, crenças e experiências, idade e renda, estados de privação ou carência, entre outros. Os fatores socioculturais têm grande diversidade, pois incluem regras e valores compartilhados socialmente, crenças religiosas, opiniões dos membros da família e dos amigos, mensagens dos veículos de comunicação, mudanças tecnológicas, normas legais etc. Os fatores situacionais são as condições circunstanciais e momentâneas que interferem no comportamento do consumidor, como sua disponibilidade de tempo e as características do ambiente da loja no momento da compra. Os fatores ou estímulos de marketing são as decisões empresariais relativas a produto, preço, distribuição, propaganda e promoção de vendas, que visam provocar certas respostas nos consumidores. Essas respostas são, principalmente, a preferência pelo produto, a compra, a repetição da compra, a confiança, a satisfação e a fidelidade do consumidor. A história da sociedade de consumo Conhecer o consumidor tem sido uma prioridade das empresas desde a segunda metade do século XIX, quando o desenvolvimento das técnicas de produção e comercialização possibilitou que produtos fossem fabricados, embalados e distribuídos em massa, dando origem à sociedade de consumo. Para os estudiosos desse fenômeno sociocultural e econômico, simultâneos contribuíram para a formação da sociedade de consumo: 1) a produção industrial em larga escala, que possibilitou a expansão dos bens padronizados; 2) a distribuição em massa de produtos industrializados, que garantiu o acesso da população aos diversos tipos de bens; 3) a oferta de crédito ao consumidor, que viabilizou a aquisição dos bens de consumo; 4) o consumo de produtos industrializados por parte da população, que foi motivada pelas mensagens publicitárias sobre os benefícios dos produtos vendidos nas lojas. Portanto, a sociedade de consumo caracteriza-se pela presença de quatro condições: 1) a maior parte da população consome acima de suas necessidades básicas; 2) a maior parte das necessidades é satisfeita pelo mercado, e não pela produção doméstica, por dádiva ou escambo; 3) as práticas de comprar e consumir são socialmente aprovadas e aceitas como fonte de satisfação e prazer; 4) as identidades de indivíduos e grupos se constroem cada vez mais com base em estilos de vida definidos pelo consumo diferencial de certos bens e serviços. Desde essa época, o consumo torna-se uma dimensão central da vida social moderna, em que as aspirações consumistas são consideradas legítimas e a insaciabilidade dos desejos de compra e uso de produtos torna-se um fator importante para a manutenção do sistema econômico. Nessa sociedade, os indivíduos sentem-se incluídos e têm sua identidade reconhecida a partir do momento em que se tornam consumidores e passam a incorporar os produtos de consumo em seus hábitos cotidianos e estilo de vida. Sabia mais (reflexão) Algumas pesquisas baseadas na abordagem interpretativa do consumo buscam compreender as condições de vida e os significados do consumo da população de baixa renda, que enfrenta discriminação social, em situações como a vivida pela consumidora jovem residente em São Paulo: “Tem lugares que a vendedora te olha de cima a baixo antes de te atender. Onde eu sei que tem esse tipo de vendedora eu nem entro. Na loja K. fui tratada assim. A pessoa me olhou, virou as costas e não veio me atender. Percebi que elas vêm atender se a pessoa tá vestindo marca ou tá bem-vestida. Pessoas que elas pensam que têm dinheiro, que vão comprar.” Fonte: LIMEIRA, T. Comportamento de compras de jovens de baixa renda no varejo de vestuário. 2o Congresso Latino-Americano de Varejo, São Paulo, 2010. O novo paradigma trouxe uma nova agenda de pesquisa para investigar temas como consumo simbólico, rituais de consumo, resistência e boicote do consumidor, consumo como mediador das relações humanas, consumo sustentável e construção de identidades sociais por meio do consumo, entre outros. Os autores pioneiros dessa abordagem foram Russell Belk, A. Firat, Elizabeth Hirschman, Morris Holbrook, Sidney Levy, Grant McCracken, Mary Douglas e Colin Campbell, entre outros. A explicação a seguir ajuda a entender o consumo como um processo complexo, englobando as dimensões individual, social e cultural: O consumo envolve não apenas usar bens, mas sonhar com eles, passear em lojas, comprar, personalizar e dispor de bens. O consumo é a emoção de dirigir um carro em alta velocidade; é a combinação de adereços numa blusa; é ler um anúncio no jornal. É também procurar algo num shopping center; é hesitar entre vários modelos numa feira de automóveis, é interagir com o vendedor numa loja. É ainda o sentimento de alegria ou tristeza diante de um bem que agradou ou não, e a pilha de objetos abandonados no fundo da gaveta. É reciclar uma lata de cerveja ou queimar o lixo. Outra perspectiva adotada no estudo do consumo é a da teoria crítica, cujas principais referências são os autores Adorno e Horkheimer, pioneiros na abordagem crítica da cultura de consumo. Entre outros temas, eles focaram suas análises na estrutura de funcionamento da publicidade, em que analisaram as “configurações psicológicas” que pudessem explicitar “por que e como a sociedade moderna produz indivíduos capazes de reagir a esses estímulos, dos quais, inclusive, sentem necessidade”. O estudo do consumidor e a gerência de marketing Entender o comportamento do consumidor é a primeira responsabilidade do profissional de marketing. Partindo do conhecimento sobre a empresa, seus clientes e concorrentes, esse profissional poderá desempenhar seu trabalho, que engloba o planejamento, a implementação e o controle das atividades estratégicas e táticas de marketing, visando criar valor para os clientes e, simultaneamente, para os diversos públicos da empresa. Em inglês, esses públicos são denominados stakeholders. O planejamento estratégico de marketing é o processo de decisão gerencial sobre objetivos, estratégias, programas e orçamentos de marketing. Esse processo engloba seis etapas. A primeira etapa do planejamento de marketing é a análise do ambiente, que abrange a coleta e a análise de informações sobre fatores externos e internos à empresa, visando identificar riscos e oportunidades de negócios, bem como os pontos fortes e fracos da empresa e dos concorrentes. Também são realizadas pesquisas sobre o comportamento do consumidor. Na segunda etapa, são definidos os objetivos de marketing, na terceira, são elaboradas as estratégias de marketing, na quarta, são detalhados os planos e programas para implementação das estratégias, na quinta, são definidos os meios para controle e avaliação dos resultados dos programas implementados, e na sexta etapa é detalhado o orçamento de marketing. Os objetivos de marketing são as decisões sobre o volume de receitas e lucros a serem alcançados, bem como a participação de mercado almejada para cada produto da empresa. As estratégias de marketing são o conjunto dedecisões sobre o modo como a empresa criará valor para seu público-alvo e os diversos públicos interessados. As estratégias selecionadas devem estar baseadas nos pontos fortes da empresa e nas oportunidades de mercado identificadas, para alavancar as competências e recursos da empresa, explorar as oportunidades de negócios e atingir os objetivos empresariais. São seis as estratégias de marketing, a saber: seleção dos segmentos de mercado e do público-alvo (targeting, em inglês), posicionamento, portfólio de produtos, preços, composto promocional e distribuição. A estratégia de selecionar o mercado em que a empresa vai competir engloba a definição do segmento de consumidores e das características do público-alvo para o qual serão direcionadas as estratégias e os programas de marketing. Cada público-alvo requer uma estratégia de marketing distinta. Como exemplo, um fabricante de sorvetes pode ter dois públicos-alvo: crianças de 3 a 12 anos e adolescentes de 13 a 17 anos. Os produtos oferecidos e a propaganda serão diferentes para cada segmento de público, porque eles têm desejos e comportamentos distintos. O posicionamento é a estratégia de selecionar um conjunto de qualidades tangíveis e intangíveis a serem associadas à marca que a diferenciarão da concorrência e influenciarão a preferência e a fidelidade do consumidor. Em outras palavras, o posicionamento visa definir a imagem da marca a ser construída na mente do consumidor por meio das ações de marketing. Como exemplo, a margarina Qualy, da Sadia, é posicionada como “a única margarina que oferece qualidade de vida”. A estratégia de produto inclui as decisões sobre as características e os benefícios dos produtos e serviços oferecidos, como nome da marca, design, tamanho, cor, peso, espessura e embalagem dos produtos. A estratégia de preço refere-se à decisão do preço do produto a ser pago pelo consumidor, bem como os descontos, o crédito oferecido e o prazo de pagamento. A estratégia de promoção engloba as decisões sobre comunicação e promoção de marketing, incluindo as seguintes ferramentas: propaganda (ou publicidade), promoção ao consumidor, relações públicas, serviço de atendimento, telemarketing, vendas, marketing direto, assessoria de imprensa, website da empresa, comunicação nas redes sociais e merchandising no ponto de venda. A estratégia de distribuição inclui as definições sobre os canais de venda, como tipo e quantidade de revendedores, número e qualificação dos vendedores, entre outras. Inclui a venda on-line e a venda direta porta a porta. Em síntese, entender como o consumidor reage, o que ele pensa, necessita e deseja é a primeira etapa da gestão de marketing. A eficácia das decisões e ações de marketing depende da qualidade das informações coletadas sobre o consumidor e da análise dessas informações. O estudo do consumidor, portanto, é uma tarefa importante e difícil, mas bastante estimulante e gratificante, o que recompensa o trabalho árduo e complexo do profissional de marketing. Conceitos gerais 1. Estudar o comportamento do consumidor significa entender por que compramos e usamos determinados produtos e por que escolhemos certas marcas e não outras. 2. A necessidade é um estado de carência ou privação de algo essencial para as pessoas. Pode ser inata ou adquirida. 3. O desejo é um estado psicológico direcionado à obtenção de uma satisfação ou prazer (saborear uma pizza), sem que seja preciso haver uma carência (fome) que justifique o consumo do produto. 4. Produto ou bem de consumo é tudo o que é comercializado ou comprado por alguém, visando satisfazer necessidades ou desejos. Podem ser bens tangíveis ou intangíveis. 5. O comportamento do consumidor é o conjunto de reações ou respostas dos consumidores a fatores pessoais, ambientais e situacionais, bem como aos estímulos de marketing (produto, preço, distribuição e promoção). 6. A sociedade de consumo é aquela em que a maior parte da população consome acima de suas necessidades básicas, que são satisfeitas pelo mercado. As práticas de consumo são socialmente aprovadas e as identidades formam-se em função de estilos de vida definidos pelo consumo. 7. Paradigma é o conjunto de crenças, pressupostos e premissas sobre o objeto e o método de um campo de estudo acadêmico-científico. 8. Dois paradigmas utilizados no estudo do comportamento do consumidor são o positivismo e o interpretativismo, que se diferenciam em pressupostos e metodologias. 9. A gestão de marketing engloba planejamento, implementação e controle das atividades estratégicas e táticas de marketing, visando criar valor para o cliente e, simultaneamente, para os diversos públicos da empresa. 10. O planejamento estratégico de marketing é o processo gerencial de decisão sobre segmentos-alvo, objetivos, estratégias, programas e investimentos de marketing. 11. As estratégias de marketing são o conjunto de decisões que se referem ao modo como a empresa criará valor para seu público-alvo e os diversos públicos interessados. 12. São seis as estratégias de marketing: seleção do mercado ou público-alvo, posicionamento, portfólio de produtos, preços, composto promocional e distribuição. 13. Economia Comportamental é uma área de estudos interdisciplinares, que considera os fatores sociais, cognitivos e emocionais que interferem nas decisões dos consumidores e investidores. 14. Neuromarketing é uma área de estudos que visa aplicar os conhecimentos neurocientíficos para a compreensão do funcionamento dos processos neurais e suas implicações nos desejos e comportamentos dos indivíduos. Capitulo 1 - P.7 - 24 Bibliografia: Limeira, Tania Maria Vidigal 2. ed. Comportamento do consumidor brasileiro / Tania Maria Vidigal Limeira. – 2. ed. – São Paulo: Saraiva, 2016. 464 p.
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