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FARMACOLOGIA - Jassunção Parkinson e Alzheimer A. DOENÇA DE PARKINSON A doença teve, nas últimas décadas, um aumento considerável do número de diagnósticos, o que se relaciona com o aumento da longevidade da população. O quadro clínico basicamente envolve alterações motoras: tremor involuntário (em geral unilateral – início da doença), rigidez muscular, bradicinesia (dificuldade em iniciar os movimentos), postura modificada, alteração da fala e dificuldade na deglutição. Cerca de 80% dos pacientes também apresenta depressão. A fisiopatologia do Parkinson ocorre pela degeneração de neurônios da via nigroestriatal, que liberam dopamina no corpo estriado, onde ela modula (diminui) a liberação de acetilcolina. Assim, a doença é caracterizada por uma diminuição de dopamina e por um aumento de acetilcolina, o que caracteriza todas as alterações motoras. A causa da lesão específica desses neurônios ainda é desconhecida, mas o tratamento se dá pela correção das alterações provocadas, através da diminuição da acetilcolina e aumento da dopamina. Pode ser feito de três maneiras: 1. Levoterapia Padrão ouro do tratamento para pacientes com mais de 65 anos, com elevado grau de incapacitação motora – provoca melhora efetiva de todos os sintomas motores, principalmente rigidez muscular e bradicinesia. Em pacientes mais jovens (com menos de 65 anos), o uso não é recomendado (exceto em quadros graves). A dopamina não consegue atravessar a BHE, e por isso é administrada a levodopa (ou L-DOPA), precursora da dopamina, que tem essa capacidade. No SNC, a L-DOPA sofre ação da enzima dopa-descarboxilase (DDC) e é convertida em dopamina, aumentando os seus níveis. Entretanto, a DDC é expressa tanto no SNC quanto na periferia e, assim, se for administrada sozinha, grande parte da L-DOPA é convertida em dopamina antes de chegar ao SNC, e perde o seu efeito no tratamento do Parkinson. É por isso que a levoterapia envolve a associação de L-DOPA com inibidores periféricos da DDC (sem ação central), que são a Carbidopa e a Benserazida (Prolopa®). Isso aumenta a formação de dopamina central e evita efeitos adversos periféricos da dopamina (cardiovasculares e gastrointestinais). Apesar da melhora dos sintomas, podem ocorrer efeitos adversos (a curto prazo) e outras condições clínicas (a longo prazo – principalmente quando se inicia o tratamento tarde). Os efeitos adversos decorrentes do aumento de dopamina são náuseas e vômitos (no reflexo do vômito), alucinações (no sistema límbico) e arritmias (periferia). As condições clínicas são: CONDIÇÃO CLÍNICA SINTOMAS Efeito On-Off Flutuações motoras – alternância entre períodos com perda súbita de movimento, rigidez e bradicinesia (Off) e períodos de melhora (On). Discinesias tardias e de pico de dose Movimentos contorcionais involuntários (orofaciais, mastigatórios e de membros) por dessensibilização de receptores dopaminérgicos. Demandam redução da dose, ou associação com outros fármacos. Delayed-On Demora na resposta. Ocorre pela medicação próxima a refeições com proteínas, que competem com L-DOPA por carregador na absorção. Deterioração de término de dose Piora do quadro por encurtamento do beneficio terapêutico de cada dose – necessária a administração do fármaco em intervalos curtos, sem aumentar o montante total da dose diária (liberação prolongada). Estado “freezing” Bradicinesia e rigidez. Demanda aumento da dose e acompanhamento. 2. Intensificadores da transmissão dopaminérgica A Amantadina, os inibidores da MAO-B e os agonistas D2 podem ser usados em monoterapia para quadros leves ou associados à levoterapia (redução das flutuações motoras). Os inibidores da COMT só são utilizados em associação à levoterapia. Todos possuem os mesmos efeitos adversos da levoterapia. • Amantadina: antiviral com leve ação dopaminérgica. • Inibidores da MAO-B (IMAO-B): promovem redução da degradação da dopamina. Selegilina e Rasagilina realizam inibição irreversível da enzima. • Agonistas D2: Pramipixol, Ropirinol e Rotigotina (adesivo transdérmico). O uso não é recomendado em pacientes com transtornos psicóticos. • Inibidores da COMT: Entacapona (mais utilizada – atua apenas na COMT periférica) e Tolcapona (hepatotóxica). 3. Anticolinérgicos Possuem a única finalidade de aliviar os tremores, através do antagonismo de receptores muscarínicos no corpo estriado, reduzindo assim a atividade da acetilcolina. O Biperideno é o mais utilizado. Os efeitos adversos são decorrentes do bloqueio dos receptores colinérgicos: confusão mental, sonolência, constipação intestinal, retenção urinária e borramento visual. Indicados para pacientes jovens (com menos de 60 anos), contra-indicados para maiores de 70 anos e pacientes com demência, pois pode causar um quadro psicótico – pacientes com Parkinson podem desenvolver quadros relacionados à perda funcional de outras áreas do SNC (depressão, demência etc.). B. DOENÇA DE ALZHEIMER É a doença neurodegenerativa mais comum da atualidade, causa líder de incapacitação entre pessoas mais de 60 anos. É a principal causa de demência (declínio progressivo e irreversível da capacidade intelectual). O quadro clínico envolve sintomas cognitivos e comportamentais, de evolução gradual (estágios leve, moderado e avançado). Os sintomas cognitivos são: • Perda progressiva da memória: recente, que evolui para a de longo prazo. • Afasia: alterações da linguagem. • Apraxia: incapacidade de reconhecer automaticamente tarefa a ser executada. • Agnosia: incapacidade de reconhecer e identificar objetos. • Diminuição ou pobreza de julgamento. • Desorientação: confusão com o tempo e com lugares. • Dificuldade no planejamento e na solução de problemas cotidianos. • Incapacidade de aprender coisas novas ou lidar com situações inesperadas. • Incapacidade de pensar e fazer cálculos simples. Os sintomas comportamentais são: • Irritabilidade e intolerância. • Desinibição social: incapacidade de julgamento (ex.: hipersexualidade). • Falta de cooperação. • Perambulação: especialmente no final da tarde e à noite. • Redução da capacidade funcional: incapacidade de cuidar de si mesmo. A fisiopatologia do Alzheimer ocorre pela degeneração dos neurônios colinérgicos subcorticais que inervam o córtex (cognição) e o hipocampo (memória), com redução drástica de acetilcolina nesses locais, e também pela alteração das vias do glutamato no córtex e no sistema límbico (emoções), com neurotoxicidade causada pelo excesso de glutamato – as vias colinérgicas e glutamatérgicas centrais são envolvidas nos processos de memorização. Ocorre atrofia acentuada do córtex cerebral (perda de massa – aumento dos sulcos e dos ventrículos). É mais agressiva que o Parkinson porque acomete todo o córtex (principalmente pré-frontal e frontal). O tratamento farmacológico tem como base anticolinesterásicos e antagonistas do receptore NMDA (receptor de cálcio regulado por glutamato) para glutamato, que promovem melhora apenas dos sintomas cognitivos (o tratamento dos sintomas psiquiátricos e comportamentais se dá por antidepressivos e antipsicóticos, evitando-se o uso daqueles com efeito anticolinérgico). 1. Anticolinesterásicos Os principais são a Donepezila, a Rivastigmina e a Galantamina. Promovem inibição reversível da enzima acetilcolinesterase, diminuindo a degradação da acetilcolina e aumentando a sua oferta sináptica, melhorando a transmissão colinérgica no córtex e hipocampo. Indicados em monoterapia nos estágios leve e moderado, e em associação à Memantina no estágio grave. Os efeitos adversos são resultantes das ações periféricas da acetilcolina: náuseas, vômito, diarreia, incontinência urinária, salivação e sudorese. Outros menos recorrentes são: anorexia, perda de peso, tonturas, insônia, sonhos vívidos, cefaleia,e alucinações. 2. Antagonistas do receptor NMDA para glutamato No receptor NMDA neuronal há um sítio de ligação para o glutamato, que quando se liga promove a sua ativação, com um influxo de cálcio para o neurônio, o que contribui para a melhora na memorização e no aprendizado – processo fisiológico que ocorre no córtex e hipocampo. Com a evolução do Alzheimer, ocorre hiperexcitação do receptor NMDA por hiperatividade do glutamato, com estimulação excessiva do receptor, o que leva à sobrecarga de cálcio dentro do neurônio. Isso promove a ativação da apoptose, com morte neuronal. O principal fármaco antagonista (não-competitivo – sítios diferentes) do receptor NMDA para glutamato é a Memantina, que impede a sua ativação excitotóxica – preserva a ativação fisiológica durante o processo de formação da memória e do aprendizado. É indicado em monoterapia nos estágios moderado e grave, ou no estágio leve quando os anticolinesterásicos são contra-indicados. Como efeitos adversos apresentam sonolência, tontura, cefaleia, constipação e níveis elevados de enzimas hepáticas. FARMACOLOGIA - Jassunção Introdução à Psicofarmacologia A psicofarmacologia estuda os fármacos que modulam a neurotransmissão no sistema nervoso central. Fisiologicamente, o circuito neurológico do organismo atua com todas as neurotransmissões em sincronia. Entretanto, podem ocorrer alterações nos circuitos que geram dessincronia, o que pode acarretar em transtornos psiquiátricos, doenças neurológicas e doenças neurodegenerativas. O tratamento destes quadros se dá pelos psicofármacos, que normalizam os circuitos disfuncionais, sincronizando-os. As suas ações nestes transtornos ocorrem principalmente pela modulação dos seguintes neurotransmissores: serotonina (5HT), noradrenalina (NA), dopamina (DA), acetilcolina e GABA. No SNC, o principal tipo de sinapse é a química, pelo fato de envolver passagem de neurotransmissor do neurônio pré-sináptico para o pós-sináptico. O receptor do neurônio pós-sináptico pode ser excitatório, dando continuidade ao potencial de ação (pela despolarização do neurônio pós-sináptico), ou inibitório, bloqueando o potencial de ação (pela hiperpolarização do neurônio pós-sináptico). Com raras exceções, o término do efeito dos neurotransmissores se dá por receptação neuronal através de proteínas transportadoras. Depois da recaptação, podem sofrer rearmazenamento nas vesículas sinápticas ou degradação por enzimas específicas do citoplasma neuronal. Os psicofármacos podem atuar nos receptores pós-sinápticos ou nas proteínas transportadoras. NEUROTRANSMISSOR TRANSPORTADOR (RECAPTAÇÃO) ENZIMA (DEGRADAÇÃO) 5HT SERT MAOA NA NAT/NET DA DAT MAOB TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS • Esquizofrenia • Transtornos depressivos (depressão/transtorno bipolar) • Transtornos de ansiedade (Pânico/TAG/TOC/TET/Fobia social) DOENÇAS NEUROLÓGICAS • Epilepsia • TDAH • Autismo DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS • Alzheimer • Parkinson FARMACOLOGIA - Jassunção Hipnoanalgésicos Os hipnoanalgésicos não são considerados psicofármacos porque são opióides. “Hipno” remete a indução do sono, enquanto “analgésico” é aquilo que promove alívio da dor sem promover perda da consciência. O ópio é obtido da planta papoula (Papaver somniferum), sendo composto por mais de vinte alcalóides naturais, entre eles a morfina e a codeína. Opiáceo é tudo aquilo que é derivado da morfina. Opióide é toda substância endógena ou exógena (fármacos) que se liga aos receptores e tem efeito semelhante ao da morfina. A dor possui dois componentes: o sensorial – nocicepção (percepção e discriminação do estímulo nocivo, objetiva) e o emocional (experiência desagradável que acompanha a nocicepção, subjetiva e pessoal). Os opióides aliviam ambos os componentes, diferenciando-se dos analgésicos não opióides, que só aliviam o sensorial. A nocicepção é o conjunto de eventos neurais através do qual os estímulos nocivos são detectados, através do seguinte caminho (da periferia para o SNC): um nociceptor (terminação nervosa sensível à dor) converte o estímulo doloroso em impulso nervoso, conduzido até a medula espinal por uma fibra nociceptiva (1º neurônio), que pode ser uma fibra Aδ (para dor aguda), cujo neurotransmissor é o glutamato, ou do tipo C (para dor crônica), cujo neurotransmissor é a substância P. Na medula, ocorre sinapse com um 2º neurônio, que segue até o tronco cerebral, onde faz sinapse com um 3º neurônio, que segue para o tálamo e córtex somatossensorial, onde se discrimina o estímulo como dor. Tanto o glutamato quanto a substância P estimularão o 2º neurônio, despolarizando-o e permitindo a transmissão do impulso nervoso. Para que a dor seja transmitida do nociceptor para o SNC deve haver despolarização da fibras Aδ/tipo C, liberação dos neurotransmissores glutamato/substância P e despolarização do 2º neurônio. Impedindo-se algum desses eventos, não ocorre condução da dor. O sistema de modulação supramedular da dor é descendente (do SNC para a periferia). Na Área Periaquedutal Cinzenta do mesencéfalo são produzidas e liberadas encefalinas (opióides endógenos), que estimulam uma segunda área chamada Núcleo Magno da Rafe, entre a ponte e o bulbo. Então, os neurônios estimulados da Rafe liberam serotonina na medula, onde, no corno dorsal, estimula um grupo neuronal chamado Complexo Inibitório da Dor que, quando estimulado, também libera encefalinas, que aqui possuem papel inibitório, atuando tanto no 1º neurônio (Aδ ou do tipo C, impedindo a liberação de glutamato e de substância P) quanto no 2º neurônio (causando hiperpolarização). Assim, a condução do estímulo doloroso para o córtex somatossensorial é impedida – este é o sistema endógeno de analgesia. Os fármacos opióides possuem o mesmo mecanismo de ação. Os receptores opióides dividem-se em três tipos: κ (KOR), μ (MOR) e δ (DOR). Ο mais importante, responsável pelos efeitos terapêuticos e adversos dos fármacos, é o receptor μ, principal alvo molecular dos opióides. Todos os receptores são acoplados à proteína Gi (inibitórios), e são localizados tanto no 1º quanto no 2º neurônio. Os fármacos opióides são agonistas de receptores μ, imitando os efeitos das encefalinas. Eles aliviam dor moderada a grave, promovendo conforto e reduzindo a ansiedade – alteram a nocicepção e o componente emocional. Dividem-se em: • Agonistas fortes: Morfina, Metadona, Fentanila; • Agonistas moderados: Codeína, Oxicodona, Difenoxilato, Loperamida; • Agonistas parciais: Buprenorfina; • Agonista fraco: Tramadol; • Antagonistas: Naloxona e Naltrexona (utilizados em intoxicação – overdose). As suas ações ocorrem tanto na medula quanto no encéfalo. Na medula, o mecanismo de ação se dá pela ativação de receptores μ nos neurônios do corno dorsal. No 1º neurônio (fibras Aδ ou do tipo C), fecham canais de Ca2+ voltagem dependentes, diminuindo a entrada de Ca2+, o que reduz a liberação de substância P e de glutamato. No 2º neurônio, abrem canais de K+, aumentando a saída de K+, gerando hiperpolarização. No encéfalo, o mecanismo de ação se dá pela ativação de receptores μ na Área Periaquidutal Cinzenta, estimulando o sistema endógeno de analgesia, e aumentando, assim, a liberação de encefalinas. Os efeitos terapêuticos e usos clínicos dos opióides são: • Alívio da dor moderada a intensa; • Efeito antitussígeno: Codeína, cuja molécula atua no centro da tosse. É convertida em Morfina pelo fígado, através do citocromo P450 (2D6), e por isso não pode ser administrada com Fluoxetina, que é inibidor enzimático (inibe 2D6, impedindo o efeito analgésico); • Tratamento de diarreia: Loperamida (Imosec®) e Difenoxilato (Lomotil®), que não atravessam a BHE por serem substrato para a glicoproteína P (não são usados para analgesia), mas diminuem a motilidade gastrointestinal; • Parte da medicação pré-anestésica: devido ao efeitoanalgésico e às propriedades sedativas (alívio da ansiedade, agitação e indução de um estado de calma e tranquilidade). Os efeitos adversos dos opióides são: • Depressão respiratória: sem depressão da função cardiovascular; • Miose; • Náuseas e vômitos: 40% dos pacientes; • Retenção urinária; • Constipação intestinal: aumentam o tônus e diminuem a motilidade; • Liberação de histamina: Morfina, gerando prurido, rubor da pele, hipotensão (devido à vasodilatação) e broncodilatação. • Euforia e indiferença a estímulos: poderosa sensação de bem estar e contentamento, daí o alto potencial de abuso e dependência (uso compulsivo reforçado pelo desenvolvimento de dependência física – adição). A interrupção abrupta da administração de fármacos opióides provoca síndrome de abstinência característica, com: rinorreia, lacrimejamento, midríase e fotofobia, vômito, diarreia, dor no corpo, hiperatividade autonômica (hiperreflexia, taquicardia, sudorese, hipertermia, tremores), ansiedade e hostilidade. O tratamento se dá por uma terapia de substituição, através da administração de Metadona (primeira opção de tratamento, por gerar efeitos adversos mínimos) ou Buprenorfina. Ocorre manutenção do paciente por alguns dias, e posteriormente uma retirada gradual – os sintomas de abstinência da Metadona são menos graves e mais suportáveis que os da Morfina e Heroína (derivada da Morfina). A intoxicação opióide ou overdose gera a potencialização dos efeitos adversos (euforia ou disforia, sensação de calor, rubor facial ou coceira, constipação, retenção urinária, sonolência, miose, depressão respiratória, arreflexia, apneia, sedação e coma), sendo característica pela tríade: coma, pupilas puntiformes e depressão respiratória. O tratamento se dá pela administração de Naloxona, antagonista dos receptores opióides. A administração (em monodroga) a dependentes de morfina e heroína deve ser evitada, porque gera abstinência precipitada por antagonista (com sintomas de ansiedade, hiperventilação, hipertermia, taquicardia, calafrios). FARMACOLOGIA - Jassunção Esquizofrenia A psicose é uma síndrome caracterizada por distorção grave da realidade, associada a alterações das capacidades afetiva, de comunicação e de relacionamento. Pode estar associada a diversos transtornos psiquiátricos (não é exclusiva da esquizofrenia). Os sintomas psicóticos incluem delírios, alucinações, desorganização da fala e do comportamento, distorção da realidade e embotamento afetivo. Alguns transtornos exigem a psicose como definidora do diagnóstico (esquizofrenia), enquanto outros têm a psicose como característica associada, mas não definitiva para diagnóstico (mania – transtorno bipolar tipo I, depressão). A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico grave e crônico (90% dos pacientes não se curam). Para que o diagnóstico seja feito os sinais devem permanecer por um período mínimo de 6 meses, e ao menos 1 desses meses deve ser de sintomas psicóticos (fase ativa), com prejuízo sócio-ocupacional. É multifatorial – biopsicopessoal (predisposição genética associada a estresses ambientais e psicopessoais, e falha nos mecanismos adaptativos – maconha). Tem prevalência de 0,5-1,0% na população adulta, sempre se instalando no adulto jovem (no homem a idade do pico é 20 anos, enquanto na mulher é 25 anos). A taxa de suicídio entre esquizofrênicos é alta: 70% tenta ao menos uma vez, sendo 10-20% consumado. Os sintomas da esquizofrenia são divididos em dois grandes grupos: positivos (psicóticos – presentes na fase ativa) e negativos (precedem e sucedem a fase ativa). Os sintomas positivos são: • Delírios: interpretação equivocada da realidade percebida ou crenças falsas (bizarras ou paranoides). Os mais comuns são os persecutórios (perseguição). • Alucinações: alteração de qualquer modalidade sensorial (audição, visão, tato e paladar). As mais comuns são as auditivas. • Discurso desorganizado: argumentos incoerentes e ilógicos. • Comportamento desorganizado: desleixo com a aparência e com a higiene, hiperatividade, inquietação e respostas emocionais inadequadas. Os sintomas negativos são: • Embotamento afetivo: incapacidade de expressar os sentimentos. • Retraimento social: diminuição do interesse pelas interações sociais. • Anedonia: diminuição total do prazer. • Olhar indiferente, apatia e passividade. • Falta de espontaneidade. • Diminuição do desejo, da motivação e da iniciativa. • Restrições na fluência e na produtividade do pensamento/fala: monossilábico, o que diferencia da fase ativa, quando se fala muito. • Prejuízo da atenção. Os sintomas negativos isolados podem ser confundidos com a depressão – a diferença é que não respondem a antidepressivos. Eles definirão o prognóstico do paciente – são associados a longos períodos de internação e prejuízo no ajustamento social (quando muito intensos, o indivíduo não retoma a autonomia). A esquizofrenia possui 4 estágios, de acordo com a idade do paciente: 1. Estágio I (0-15 anos): assintomático – funcionamento cerebral integral. 2. Estágio II (15-20 anos): fase prodrômica em que começam os sintomas negativos – início insidioso (não fecha diagnóstico). 3. Estágio III (20-40 anos): fase aguda, com ruptura psicótica – aparecimento de sintomas positivos (1º surto). Remissões e recaídas, com redução sem recuperação do funcionamento cerebral a cada surto, levando a um declínio cognitivo irreversível – assim, deve-se prevenir os surtos. 4. Estágio IV (> 40 anos): predomínio de sintomas negativos e cognitivos. Para a esquizofrenia, o neurotransmissor chave é a dopamina. As vias dopaminérgicas envolvidas são a mesolímbica e a mesocortical. A via mesolímbica é envolvida na regulação das emoções, do prazer e da motivação, importante também na recompensa e no comportamento de reforço – associada com os sintomas positivos. O corpo celular dos neurônios fica no mesencéfalo e a terminação nervosa no sistema límbico, onde se libera dopamina nos receptores D2. Na esquizofrenia, ocorre uma hiperatividade desta via – aumento da liberação de dopamina e da estimulação de D2, o que gera os sintomas positivos. A dessensibilização de receptores não ocorre porque ela necessita de no mínimo 30 dias de estímulo, quando o surto já acaba. A via mesocortical é envolvida na regulação da cognição e do afeto – associada com os sintomas negativos. O corpo celular dos neurônios fica no mesencéfalo e as terminações nervosas nos córtices frontal e pré-frontal, onde é liberada a dopamina nos receptores D2. Na esquizofrenia, ocorre uma hipoatividade desta via – diminuição da liberação de dopamina e da estimulação de D2, o que gera os sintomas negativos. O tratamento da esquizofrenia se dá por fármacos antipsicóticos (que controlam o surto, previnem recaídas, diminuem o número de internações e melhoram a convivência familiar) e por reabilitação psicossocial, que resgata a autonomia, a individualidade e a capacidade de socialização e relacionamento do indivíduo. Os antipsicóticos são classificados em: • Típicos (1ª geração – Haloperidol, Clorpromazina, Levomepromazina): são antagonistas D2. Na via mesolímbica melhoram os sintomas positivos. Devem ser usados apenas durante o surto – em longo prazo (2-3 anos) geram muitos efeitos adversos (não são seletivos), sendo eles: ▪ Na via mesocortical: acentuação dos sintomas negativos. ▪ Na via nigroestriatal: bloqueio de alta afinidade de mais de 90% dos receptores D2 estriatais, com sintomas extrapiramidais (SEP) – parkinsonismo secundário (discinesia tardia – movimentos contorcionados orofaciais e de membros). OUTRAS VIAS DOPAMINÉRGICAS Ficam preservadas na esquizofrenia, mas podem sofrer ação dos antipsicóticos, com efeitos adversos. Via tuberoinfundibular: o corpo celular do neurônio fica no hipotálamo e a terminação nervosa na hipófise, onde é liberada a dopamina em D2, o que modula (diminui) a liberação de prolactina. Via nigroestriatal:o corpo celular do neurônio fica na substância negra do mesencéfalo e a terminação nervosa no corpo estriado do diencéfalo, onde é liberada a dopamina em D2. ▪ Na hipófise: aumenta a liberação de prolactina, gerando diferentes efeitos nos homens (aumenta as mamas e diminui libido) e nas mulheres (galactorreia, amenorreia). ▪ Bloqueio de M1 (visão turva, boca seca, sonolência e constipação), H1 (sonolência e ganho de peso) e α1 (tontura e hipotensão ortostática). • Atípicos (2ª geração – Aripiprazol, Clozapina, Olanzapina, Quetiapina, Risperidona): são antagonistas de serotonina (receptor 5HT2A) e dopamina (D2). A serotonina se liga nos 5HT2A das terminações nervosas da via mesocortical e modula a liberação de dopamina. Quando o antipsicótico atípico bloqueia 5HT2A, aumenta a liberação de dopamina no córtex, que compete com os antagonistas D2 e melhoram os sintomas negativos. Os sintomas positivos também melhoram pelo bloqueio de D2 na via mesolímbica. São tão efetivos quanto os típicos e não possuem um terço dos efeitos adversos. Alguns são injetáveis de depósito, o que facilita a adesão ao tratamento (aplicados intramuscular de 1-2x ao mês). Possuem baixo risco de SEP, e na hipófise não alteram a secreção de prolactina (bloqueiam D2, o que aumenta a liberação, e 5HT2A, o que reduz – equilíbrio). As desvantagens, entretanto, estão no alto custo e no maior risco de efeitos adversos metabólicos (aumento da resistência à insulina e de triglicérides) – o ganho de peso é o principal fator para a não- adesão entre jovens. Também podem ser empregados para tratamento de transtorno bipolar e depressão resistente (associados a antidepressivos), e para o controle da agressividade em idosos com demência e crianças autistas. ▪ Clozapina: padrão ouro de eficácia, sendo a única capaz de reduzir o risco de suicídio, utilizada para tratamento de depressão psicótica grave, quando o paciente é resistente a outros antipsicóticos. Risco de agranulocitose (potencialmente fatal), convulsões, ganho de peso e efeitos adversos metabólicos. Tem efeito sedativo e pode causar hipotensão ortostática e sialorreia. ▪ Quetiapina: também é antagonista de 5HT2C (aumenta a liberação de DA e de NA no córtex pré-frontal – ação pró-cognitiva e antidepressiva) e de 5HT7 (ação antidepressiva) – é associada a antidepressivos para tratar depressão. Menor risco de ganho de peso. ▪ Olanzapina: bastante sedativa, com alto risco de ganho de peso e efeitos adversos metabólicos. Zyprexa Relprev® (injetável de depósito) tem liberação prolongada. ▪ Risperidona: baixo risco de efeitos adversos metabólicos. Única com uso pediátrico aprovado – utilizada para tratamento de autismo e de TDAH (associada à Ritalina – “Ri-Ri”). Risperdal Consta® (injetável de depósito) tem liberação prolongada. CONTRAINDICAÇÃO PARA IDOSOS Os antipsicóticos típicos são contraindicados para idosos por serem muito sedativos e por aumentarem o risco de AVC (Haloperidol). FARMACOLOGIA - Jassunção Epilepsia Uma crise epiléptica é composta de manifestações motoras, sensitivas, sensoriais, autonômicas e psiquiátricas, geralmente associadas a um foco no SNC. A convulsão é uma manifestação motora nem sempre relacionada à crise epiléptica (traumas, hipóxia, tumores, hipoglicemia, hipocalcemia, hiponatremia e febre são possíveis causas de convulsões não-epilépticas). As crises epilépticas classificam-se em: • Generalizadas: perda de consciência e de memória, sujeição a acidentes no decorrer da crise. Dividem-se em: ▪ Tônico-clônica: aumento do tônus muscular, seguido de movimentos musculares excessivos por alguns minutos. Estímulos luminosos e sonoros muito intensos são gatilhos. ▪ De ausência: comum na infância. Imobilidade e fixação do olhar por alguns minutos. A hiperventilação e a risada são gatilhos. ▪ Atônica: comum na infância. Semelhante à de ausência, porém não há imobilidade – perda da força muscular e queda. ▪ Mioclônica: ocorrem pequenas contrações musculares localizadas. • Parciais (focais): sem perda de consciência e de memória. Dividem-se em: ▪ Simples: os sintomas dependem do local do foco epiléptico, que pode estar na área visual (perda ou alteração da visão), auditiva (surdez ou zumbido), motora (mioclonia local). ▪ Complexas: turvação da consciência. Capacidade de realizar atividades de forma automática e robótica, sem resposta à estímulos externos. Perda parcial da memória. O foco é no lobo temporal. Pode ser acompanhada de alucinações e sensações de familiaridade com locais nunca antes visitados. A aura é a sensação tida pelo paciente quando este sabe que vai ter uma crise, preparando-se para ela. Pode-se ajudar o paciente durante a crise através de: decúbito lateral, proteção da cabeça, afastamento de objetos que possam causar lesão, remoção de locais perigosos – não deve-se tentar parar os seus movimentos. As drogas antiepilépticas têm como objetivo o controle das crises e a melhora da qualidade de vida, causando mínimos efeitos adversos. São divididas em quatro gerações: 1ª, 2ª, 3ª e 4ª, classificadas de acordo com o período de desenvolvimento (1ª e 2ª mais antigas, 3ª e 4ª mais novas), e não com a eficácia. Algumas das mais novas também são usadas para o tratamento de outras doenças, como o Topiramato (previne enxaqueca e ajuda no emagrecimento) e Lamotrigina e Gabapentina (dores crônicas). Os mecanismos de ação das drogas antiepilépticas podem ocorrer por aumento da atividade do GABA (neurotransmissor inibitório), diminuição da atividade do glutamato (neurotransmissor excitatório) ou bloqueio de canais de Na+ ou de Ca2+ (diminuindo a despolarização). • Barbitúricos: aumentam a atividade do GABA. ▪ Fenobarbital: mais utilizado, pelas vias oral, venosa ou intramuscular, e de maior efeito, para epilepsia e indução do sono (anticonvulsivante e hipnótico). É barato e de fácil administração, e tem absorção completa e lenta. Sua ligação proteica no sangue é de 40-60%, e na associação com ESTADO DE MAL EPILÉPTICO Ocorre quando há crises consecutivas, sem tempo para recuperação entre elas, e indica hospitalização. outras medicações é importante a preponderância da sua forma livre. 25% é eliminado pelo rim e o restante é metabolizado pelo citocromo P450 (no qual causa indução enzimática). Os efeitos adversos são sedação, nistagmo (movimento oscilatório do olho), ataxia (perda de coordenação motora), irritabilidade, hiperreatividade (crianças), agitação e confusão (idoso). A intoxicação só é revertida pela alteração do pH do meio (como é ácido, é necessária a alcalinização – bicarbonato e diurético), já que não possui nenhum antagonista. Não deve ser associado com anticoncepcionais (inibidor enzimático – corta o efeito), e mulheres grávidas devem ter as doses reduzidas. Usado para Estado de Mal Epiléptico e crises parcial simples e tônico-clônica generalizada. ▪ Tionembutal: é utilizado pela via endovenosa e possui ação ultra curta. Atua no SNC e causa depressão cardiorrespiratória, usado na UTI no Estado de Mal Epiléptico para induzir o coma (neurônios trabalham em ritmo lento, permitindo a recuperação de traumas ou cirurgias). ▪ Primidona: é um desoxibarbitúrico, pró-fármaco com dois metabólitos ativos, o Fenobarbital e a Fenilmetilmalonamida. Os efeitos adversos são sedação, vertigem, ataxia, diplopia e nistagmo, e a longo prazo pode ocorrer risco de alergia (Doença de Steve-Johnson – descamação da pele, bolhas e desidratação, que pode levar à morte). Pode induzir a Síndrome Lúpica (semelhante ao Lúpus – anticorpos contra os núcleos das células) e a agranulocitose. Usada nas crises tônico-clônica generalizada, parcial simples e parcial complexa. • Fenitoína: bloqueia canais de Na+. Tem absorção lenta e incompleta (pior em genéricos) e grande ligação com proteínas plasmáticas (90%). Não é administradopela via intramuscular (não é absorvida) e precipita com a maioria dos soros – a administração deve ser feita o mais rápido possível (30min) em soro glicosado gota a gota para não precipitar. Os efeitos adversos agudos são nistagmo, ataxia, diplopia, vertigem e visão borrada, enquanto os crônicos são hirsutismo (aumento de pelos), hiperplasia gengival (pode evoluir para perda de dentes), hiperglicemia, inibição da Vasopressina, hepatite, linfadenomegalia, malformações fetais e alergias (geneticamente determinadas). Não causa sonolência como o Fenobarbital. Usada no Estado de Mal Epiléptico e nas crises tônico-clônica generalizada e parcial simples, e também nas convulsões por trauma por ser a única que não atua no SNC. • Carbamazepina: bloqueia canais de Na+. Utilizada pela via oral e disponível na rede pública. Tem ligação proteica de 70% e é metabolizado pelo citocromo P450, gerando um metabólito ativo e tóxico. Os efeitos adversos são diplopia, ataxia e visão borrada, podendo ocorrer alergia (Stevens-Johnson – geneticamente determinado). Pode promover leucopenia (12% em crianças e 7% em adultos – transitória e mais frequente nos 3 primeiros meses), hepatopatia e aplasia de medula (rara e idiossincrática – não depende da dose). Potencializa a Vasopressina, causando edema e hiponatremia. Usada nas crises tônico-clônica generalizada, parcial simples e parcial complexa (1ª escolha). • Oxcarbazepina: derivada da Carbamazepina e desenvolvida para reduzir os seus efeitos adversos, por produzir um metabólito inativo – entretanto, é menos utilizada por ser mais cara. É um indutor enzimático potente (interfere com anticoncepcionais). Usada nas mesmas crises que a Carbamazepina. • Valproato de sódio ou Ácido Valpróico: aumenta a atividade do GABA e inibe canais de Na+ e Ca2+. Tem ligação proteica alta (90%), é absorvido de forma rápida e completa e excretado inalterado na urina (5%) e metabolizado (95%) por conjugação e oxidação (citocromo P450 – inibidor enzimático da 2C9), formando metabólitos ativos. Os efeitos adversos são sedação, ataxia, tremor, disfunções no TGI (principalmente), anorexia, náuseas, diarreia e malformações fetais. Possui hepatotoxicidade (mais frequente em crianças). Pode aumentar a quantidade de amônia levando ao coma (encefalopatia hiperamonêmica). Usado no Estado de Mal Epiléptico e nas crises tônico-clônica generalizada, de ausência, tônica (1ª escolha), e mioclônica (2ª escolha). • Benzodiazepínicos: aumentam a atividade do GABA, sendo os mais utilizados o Diazepam, o Clonazepam, e o Clobazam. Os efeitos adversos são fadiga, sono, perda de coordenação e ataxia. Também podem diminuir a eficácia dos anticoncepcionais. Usados no Estado de Mal Epiléptico e nas crises de ausência, tônica (2ª escolha) e mioclônica (1ª escolha). • Etossuximida: bloqueia canais de Ca2+. Os efeitos adversos são náuseas, anorexia, letargia e tonturas, e raramente causam agranulocitose ou apresentam hepatotoxicidade. Usada nas crises de ausência, tônica e mioclônica (3ª escolha para todas). O paciente deve ser medicado por no mínimo 2 anos antes da interrupção, quando as doses devem ser diminuídas gradualmente, atentando-se para a reincidência das crises (se voltarem a ocorrer, a medicação deverá ser feita por toda a vida). O paciente com a doença controlada pode ser liberado para dirigir, mediante reavaliações periódicas (luzes dos carros podem ser gatilhos para as crises). Quando apenas uma droga não basta para evitar as convulsões, é possível associar diferentes medicamentos, atentando-se, entretanto, para a metabolização hepática das drogas associadas (um pode induzir a enzima que metaboliza o outro, por exemplo). Não é recomendada a troca das marcas dos medicamentos (genéricos – apesar dos efeitos semelhantes, uma pequena diferença pode ser suficiente para a reincidência das crises). Devido à existência das convulsões não epilépticas, em uma primeira crise convulsiva não são utilizadas drogas antiepilépticas (apenas Fenitoína – não atua no SNC), mas somente após reincidências. FARMACOLOGIA - Jassunção Benzodiazepínicos Os benzodiazepínicos (BZD) são os principais fármacos sedativo-hipnóticos, os quais deprimem o SNC, promovendo tanto um efeito sedativo (ansiolítico – sensação de calma e tranquilidade e redução da ansiedade) quanto um efeito hipnótico (sonolência – facilitação do início e manutenção do sono). Dessa forma, os seus efeitos gerais e principais indicações clínicas são: • Ansiolítico: são adjuvantes no tratamento dos transtornos de ansiedade. Os de maior efeito são: Alprazolam (Frontal®), Bromazepam (Lexotan®), Clonazepam (Rivotril®) e Diazepam (Valium®). • Hipnótico: para a insônia. Os de maior efeito são Flunitrazepam (Rohypnol® - “boa-noite Cinderela”) e Midazolam (Dormonid®). • Parte da medicação pré-anestésica: são adjuvantes em anestesia geral por promoverem sedação e amnésia anterógrada (dificulta a fixação da memória para fatos novos após a administração), antes e no decorrer do procedimento. • Anticonvulsivante: tratamento da epilepsia e dos estados convulsivos. • Relaxamento muscular: distúrbios neuromusculares específicos (adjuvantes). O alvo molecular para qualquer BZD é o receptor GABAA, que é um canal de Cl- regulado por ligante, aberto pelo GABA, cujo sítio de ligação é diferente daquele do BZD (que é incapaz de abrir o canal na ausência do GABA). O receptor GABAA possui 5 subunidades (duas β, duas α e uma δ) que podem ser diferentes de acordo com o canal (α1, α2, α3 etc.), determinando subtipos diferentes – isso faz com que os fármacos possuam afinidade diferente para cada receptor: aqueles de efeito hipnótico possuem maior afinidade por GABAA α1, enquanto aqueles de efeito ansiolítico possuem maior afinidade por GABAA α2 e α3. Quando ativa o GABAA (abertura do canal de Cl-), o GABA modula a transmissão nervosa sináptica no SNC, promovendo hiperpolarização (Cl- entra no neurônio), e dificultando a propagação do potencial de ação. Quando o BZD se liga ao GABAA, aumenta a sua afinidade pelo GABA, potencializando o seu efeito – maior influxo de Cl- e maior hiperpolarização. A amígdala é a estrutura cerebral responsável por avaliar o grau de ameaça de um estímulo – é ela que desencadeia a ansiedade a partir da interpretação de estímulos cotidianos como perigosos. Quando o efeito inibitório do GABA é potencializado pelo BZD, o efeito ansiolítico ocorre na amígdala. Os efeitos adversos promovidos pelos BZD são: sonolência diurna, redução dos reflexos, prejuízo no equilíbrio e prejuízo cognitivo (raciocínio mais lento e difícil fixação da memória) – dessa forma, o seu uso é contra-indicado para idosos (risco de quedas e fraturas) e pacientes com demência. Além disso, o uso concomitante com TRANSTORNOS DE ANSIEDADE São adjuvantes no tratamento, pois são associados com antidepressivos durante os primeiros 6-8 meses, para evitar o efeito ansiogênico inicial das drogas antidepressivas. álcool gera potencialização do efeito depressor – existe um sítio de ligação para o álcool no receptor GABAA, que potencializa ainda mais o efeito do BZD. Apesar de os BZD serem fármacos muito seguros (índice terapêutico muito alto e necessidade do GABA para agirem – mesmo em doses altas, a única coisa que acontece é a sonolência em excesso), a associação com o álcool é perigosa, porque este não atua apenas no GABAA, mas também em outros receptores, potencializando muito o efeito depressor. Os BZD induzem tolerância aos efeitos ansiolíticos e hipnóticos com o uso continuado (necessidade de maior dose para obter o efeito inicial). Provocam também dependência, o que significa que uma suspensão abrupta pode causar sintomas de rebote (semelhantesaos da ansiedade, com maior intensidade) ou síndrome de abstinência (ansiedade, irritabilidade, insônia, tremores, sudorese) – a retirada deve ser gradual, para que o receptor se acostume com uma dosagem menor até parar. Casos de intoxicação por BZD induzem depressão respiratória e podem ser revertidos por uso de antagonistas competitivos reversíveis de receptores GABAA, que se ligam no mesmo sítio dos fármacos – Flumazenil (injetável). Estes antagonistas também podem ser utilizados para acelerar a recuperação do paciente após uso de BZD como pré-anestésicos em procedimentos cirúrgicos e diagnósticos. FARMACOLOGIA - Jassunção Antidepressivos A depressão é um transtorno do humor crônico que se manifesta pela presença de um ou mais Episódios Depressivos Maiores (EDM), caracterizados por humor deprimido (tristeza, sensação de vazio e desesperança) ou anedonia (perda do interesse ou prazer), com alterações cognitivas, vegetativas (alteração no peso) e comportamentais, que trazem ao indivíduo sofrimento ou prejuízo significativo do funcionamento social e profissional. Esses sintomas estão presentes todos os dias, na maior parte do dia, durante pelo menos 15 dias consecutivos. A predisposição genética é de 40%, porém é necessário um gatilho psico-social, emocional ou mecanismo biológico adaptativo para desencadear a doença. As vias neuronais importantes para a depressão são a noradrenérgica (NA), serotonérgica (5HT – neurotransmissor do humor) e dopaminérgica (DA). Em indivíduos normais, há produção e liberação de quantidades ideais de 5HT, DA e NA (monoaminas) na fenda sináptica, que se ligam aos receptores pós-sinápticos, ativando-os e promovendo despolarização dos neurônios pós-sinápticos (propagação do potencial de ação). Em indivíduos com depressão, a síntese de monoaminas pelos neurônios pré-sinápticos é diminuída, e menos chegam à fenda (deficiência sináptica), sendo que as bombas de recaptação para os neurônios pré-sinápticos continuam agindo normalmente. Com isso, os neurônios pós-sinápticos começam a produzir e expressar mais receptores, na tentativa de manter a neurotransmissão – up-regulation compensatória dos receptores. A diminuição de monoaminas associada ao fenômeno de up-regulation é o que desencadeia os sintomas da depressão. Quando a concentração sináptica de monoaminas na fenda é aumentada farmacologicamente, ocorre o fenômeno de down-regulation compensatória dos receptores – a quantidade de receptores nos neurônios pós-sinápticos diminui, já que não são mais necessários (dessensibilização). Isso permite uma melhora dos sintomas da depressão. Os fármacos antidepressivos inibem as bombas de recaptação para os neurônios pré-sinápticos, aumentando a concentração de monoaminas na fenda, sendo este efeito farmacológico imediato – porém, os sintomas da depressão melhoram apenas quando ocorre down-regulation, o que não é imediato – esse processo começa de 15-21 dias depois do início do tratamento, o que caracteriza um efeito terapêutico tardio (o primeiro mês de tratamento apresenta vários efeitos adversos e nenhum efeito terapêutico – disfunção sexual, taquicardia, ansiedade etc. Os antidepressivos inibidores de recaptação de monoaminas dividem-se em: • Antidepressivos Tricíclicos (TCA): Amitriptilina, Clomipramina, Imipramina e Nortriptilina. Promovem inibição da recaptação de NA e 5HT. Geram efeitos adversos porque bloqueiam (antagonismo) α1 (tontura, sonolência, queda da PA), H1 (ganho de peso e sonolência) e M1 (constipação intestinal, retenção urinária, visão turva, boca seca, sonolência, confusão mental) – potencialmente inadequados para idosos. Empregados no tratamento da fibromialgia e na profilaxia da enxaqueca. A overdose (ingestão de mais de 1g por dia) é potencialmente fatal – no SNC causa convulsões e coma, enquanto no coração causa arritmias e parada cardíaca (toxicidade cardíaca). • Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS): Citalopram, Escitalopram, Fluoxetina, Fluvoxamina, Paroxetina e Sertralina. Promovem inibição seletiva e potente da recaptação de 5HT. O efeito terapêutico (antidepressivo e ansiolítico) se dá pela down-regulation de 5HT1A. Os efeitos adversos ocorrem pela atuação em 5HT2A (ansiedade, insônia e disfunção sexual), 5HT3 (em TGI – náuseas, diarreia e dores de estômago) e 5HT2C (disfunção sexual e anorexia), que desaparecem pela down-regulation. • Inibidores da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (IRSN): Venlafaxina, Desvenlafaxina, Duloxetina e Milnaciprano. Promovem inibição da recaptação de 5HT e NA. O efeito terapêutico se dá pela down-regulation de 5HT1A, através da inibição substancial da NAT e da SERT (proteínas responsáveis pela receptação de NA e 5HT). São mais seletivos, sem ação antagonista sobre receptores α1, H1 e M1 (sem efeitos adversos correspondentes). São indicados para o tratamento de depressão, dos transtornos de ansiedade, da fibromialgia e da neuropatia diabética (Duloxetina e Milnaciprano), e dos sintomas vasomotores (ondas de calor) associados à menopausa. Os efeitos adversos são tremores, agitação, aumento da PA, boca seca, constipação, taquicardia, insônia, ansiedade, disfunção sexual, anorexia, náuseas e dores no estômago. • Inibidores da Recaptação de Noradrenalina e Dopamina (IRND): Bupropiona. Promovem inibição da recaptação de NA e DA. Indicados para o tratamento da dependência de nicotina e da compulsão alimentar. Os efeitos adversos são convulsões, ansiedade, insônia e perda de apetite. Além destes, existem os Antidepressivos Atípicos, assim denominados por possuírem outros mecanismos de ação. A Trazodona promove bloqueio potente (em baixas doses) de 5HT2A pós- sináptico, e bloqueio dependente de dose da recaptação neuronal de 5HT. A sua principal indicação clínica é o tratamento da insônia associada à depressão e, em associação a ISRS, o tratamento da disfunção sexual e diminuição da libido. A Mirtazapina promove bloqueio de receptores α2 nas terminações pré- sinápticas noradrenérgicas e serotonérgicas. Quando a NA se liga a α2, há redução da liberação de NA e da 5HT. A Mirtazapina, antagonista α2, impede a ação da NA, e então ocorre maior liberação de NA e de 5HT, o que promove down-regulation de receptores de 5HT1A – efeito terapêutico (antidepressivo e ansiolítico). Devido ao bloqueio dos receptores 5HT2A, 5HT2C e 5HT3 pós-sinápticos ocorre a ausência de efeitos adversos correspondentes (como em ISRS). É indicada para o tratamento da depressão (monoterapia) ou, associada aos ISRS e IRSN, o tratamento da disfunção sexual e insônia. Também pode ser usada em idosos depressivos com baixo peso, pois bloqueia 5HT2C e H1, causando ganho de peso (aumento do apetite) e sono (bloqueio de H1 – anti-histamínico). Normalmente utilizada em associação (não é a primeira opção). A Vortioxetina é um antidepressivo novo e multimodal, por promover inibição da receptação neuronal de 5HT e antagonismo de 5HT1A (parcial), 5HT1B e 5HT3, 5HT7 e 5HT1D (o que aumenta a liberação de 5HT). Não provoca disfunção sexual e tem efeitos pró-cognitivos (aumento da liberação de Ach no córtex). Os principais efeitos adversos são náuseas e perda do apetite. FARMACOLOGIA - Jassunção Anti-histamínicos e AINEs A inflamação possui fenômenos vasculares (vasodilatação – aumento de perfusão local que gera rubor, calor, e aumento da permeabilidade), que ajudam a gerar o edema local, e fenômenos celulares (migração leucocitária). A dor é um fator limitante na inflamação – é o principal motivo pelo qual um paciente utiliza anti- inflamatórios, além de algumas condições de edema que limitam as funções na condição crônica. Os medidores inflamatórios são responsáveispelos eventos ocorridos na resposta, e eles podem estar armazenados (histamina) ou livres no plasma (produzidos após o estímulo celular – eicosanóides). A. HISTAMINA Produzida por mastócitos (inflamação – receptor H1), por células cromafins- símile da mucosa gástrica (produção de HCl – receptor H2) e por neurônios do SNC (vigília e vômito – receptores H1, H3 e H4). Na resposta inflamatória, a ação sobre H1 promove vasodilatação, aumento da permeabilidade, broncoconstrição e prurido. • Anti-histamínicos: são antagonistas H1 (efeitos são a vasoconstrição e a diminuição da permeabilidade). São usados como antialérgicos e divididos em: § 1ª geração: alta lipossolubilidade (ação central) com ação anticolinérgica (também são antagonistas muscarínicos), o que gera efeitos adversos como sonolência, letargia, perda de coordenação motora, aumento do apetite, retenção urinária e constipação intestinal. Exemplos: Bronfeniramina, Prometazina (Fenergan®), Clorfeniramina, Desclorfeniramina, Hidroxizine, Difenidramina, etc. § 2ª geração: baixa lipossolubilidade, sem ação anticolinérgica (menos efeitos adversos). Exemplos: Loratadina, Desloratadina, Fexofenadina etc. B. EICOSANÓIDES Nunca estão pré-formados – a síntese ocorre mediante estimulação celular, quando PLA2 (fosfolipase A2) quebra fosfolipídeos de membrana em ácido araquidônico e liso- glicerilfosforilcolina. Sobre o ácido araquidônico agem as enzimas COX (cicloxigenase) e LPX (lipoxigenase). COX produz intermediários sobre os quais atuarão outras enzimas (dependendo do tecido), que formarão as prostaglandinas (PG) e a tromboxano (TX). LPX formará os leucotrienos. A partir da liso-glicerilfosforilcolina é produzido FAP (fator de ativação plaquetária). Na inflamação, as prostaglandinas são responsáveis pela hiperalgesia (dor – sensibilizam os nociceptores) e contribuem para a vasodilatação e para o aumento da permeabilidade. Além disso, PGE1 (prostaglandina E1) é mediadora da febre – nos processos inflamatórios o aumento da produção de interleucinas (IL-2 e IL-6) promove a formação de PGE1, que no hipotálamo determina um aumento de temperatura. Existem basicamente dois tipos de COX: COX1 e COX2. A COX1 promove a produção de PG no epitélio gástrico, diminuindo a secreção de HCl e aumentando a de muco, gerando assim proteção gástrica. A COX2 promove a produção de PG em células inflamatórias, causando inflamação, dor e febre. • AINEs (analgésicos, antitérmicos e anti-inflamatórios não-esteroidais): são inibidores da COX (diminuindo PG e TX) com seletividades diferentes. LOCAL DE ATUAÇÃO ENZIMA PRODUTO AÇÃO EFEITO ADVERSO DA INIBIÇÃO (AINEs) Células inflamatórias COX2 PGE2 e PGF2 Dor, febre, inflamação Inibição da inflamação Epitélio gástrico COX1 PGE2 e PGF2 Proteção gástrica Gastrite (úlceras) Rim COX2 PGE2 e PGF2 Vasodilatação (aumento da perfusão e filtração) Vasoconstrição (diminuição da perfusão e da filtração), que ativa o SRAA, que estimula a retenção de Na+ e água – evitar em hipertensos. Uso abusivo gera lesões na estrutura renal – evitar em pacientes com problemas renais ou que só têm um rim. Células endoteliais COX2 PGI2 (prostaciclina) Vasodilatação – inibe agregação plaquetária Coagulação (trombose) Plaquetas COX1 TXA2 Vasoconstrição – ativa agregação plaquetária Inibição da coagulação (hemorragia) Útero COX2 PGE2 e PGF2α Contração uterina Relaxamento uterino § AAS: em dose baixa (100-200mg) inibe seletivamente COX1 (utilizado em cardiopatas – inibe agregação plaquetária). Quando se aumenta a dose (> 500mg), também inibe a COX2. No estômago é o que mais promove a gastrite pois, além de diminuir PG, tem ação irritante local na mucosa gástrica, podendo causar úlcera hemorrágica – comprimidos de liberação entérica minimizam este efeito. Pode promover salicilismo (alteração no labirinto que gera vertigem, tontura e vômitos). § COXIBES (Celecoxibe e Etoricoxibe): inibidores seletivos de COX2. Evitados em cardiopatas, pois favorecem a trombose arterial e os infartos. Utilizados para cólicas menstruais. § Diclofenaco, Nimesulida e Meloxicam: inibem COX1 e COX2, com maior seletividade para a COX2. Nimesulida possui hepatotoxicidade. § Paracetamol: não tem ação anti-inflamatória, e possui hepatotoxicidade gerada pelo seu metabólito de fase I, gerado pelo citocromo P450. Em caso de intoxicação, administra-se acetilcisteína, que aumenta glutationa, que se conjuga com o metabólito, fazendo com que ele perca a sua toxicidade. § Dipirona: tem melhor resposta anti-térmica. Em uso prolongado pode causar agranulocitose (diminuição dos granulócitos no sangue). § Ibuprofeno, Naproxeno, Cetoprofeno, Piroxicam, Tenoxicam, Ácido Mefenâmico, Sulindaco e Cetorolaco: inibem COX1 e COX2 de forma mais homogênea. FARMACOLOGIA - Jassunção Farmacologia Molecular A farmacologia estuda a comunicação entre as células, através de substâncias químicas. A farmacologia molecular estuda o mecanismo de ação das drogas. Antigamente, não se sabia o que ocorria após a administração de um medicamento, mas apenas que perante ela o organismo gerava uma resposta. Dale, em 1902, trabalhou com o SNA colinérgico e chegou à conclusão de que a acetilcolina possui as seguintes propriedades: alta potência (uma pequena quantidade da substância tinha grande resposta), alta seletividade (quando o tecido alvo é trocado, o efeito muda) e alta especificidade (de estrutura química – pouca modificação na estrutura gera grande mudança no efeito). Descobriu-se depois que toda substância endógena possui essas três características. Baseando-se nisso, Furchgott, em 1952, então propôs a teoria do receptor farmacológico. Percebeu que só algumas partes da célula precisam interagir com a substância para se obter resposta (alta potência), e essas pequenas porções são moléculas (alta especificidade) diferentes para cada tecido (alta seletividade). Com essas três conclusões, chegou à definição do receptor farmacológico: proteína de membrana que, quando é atingida por uma substância, pode gerar uma resposta de função fisiológica da célula, sendo que neste caso a substância é chamada de agonista, ou pode acoplar-se ao receptor e não gerar resposta fisiológica, e além disso seu acoplamento bloqueia a ação do agonista por agir no mesmo receptor dele, sendo chamada de antagonista farmacológico (mesmo receptor). A acetilcolina, quando interage com o receptor muscarínico (ação) do músculo liso, provoca contração muscular (efeito). O buscopan age no mesmo receptor (também tem ação), só que não recebe resposta celular e não provoca efeito fisiológico, mas bloqueia o efeito da acetilcolina (ele não relaxa a musculatura, apenas não permite a contração – por essa razão impede uma cólica menstrual, por exemplo). Esse antagonista farmacológico, assim, é de ação, por atuar no receptor farmacológico. No organismo, entretanto, também existe o antagonista fisiológico, que é o que o organismo usa para compensar os efeitos dos agonistas. O antagonista fisiológico nada mais é do que um outro agonista, que atua em receptores diferentes e causando efeito oposto. No exemplo acima, por exemplo, a adrenalina atua nos receptores β2 causando um relaxamento do músculo liso. Os agonistas endógenos, assim, atuam compensando uns aos outros para manter a homeostase, enquanto que os antagonistas farmacológicos não são produzidos pelo organismo. Os receptores farmacológicos não são os únicos alvos moleculares das substâncias, havendo também enzimas, canais iônicos (ROC – canal operado por receptor, e VOC – canal operado por voltagem) e ácidos nucleicos (DNA e RNA). Clarke, em 1930, criou a teoria da ocupação: uma droga ocupa um receptor formando um complexo DR (droga + receptor), equanto mais destes complexos formados, maior o efeito gerado. Entretanto, quando uma substância entra em contato com um receptor nem sempre um efeito é gerado (caso do antagonista farmacológico), e por isso a teoria não explica o mecanismo completo. Então Ariëns e Stevenson, em 1962 e 1963, criaram a teoria da ocupação e ativação a partir de duas constantes: a constante de afinidade e a constante da atividade intrínseca. A constante de afinidade (Kaf) mede a capacidade que cada molécula tem de ocupar o receptor: 𝑲𝒂𝒇 = 𝟏 𝑫𝑬𝟓𝟎 , sendo que DE50 é o valor da dose necessária para provocar metade do efeito máximo da droga. A constante da atividade intrínseca (α) mede o efeito da droga, a partir de uma comparação com o efeito do agonista forte, que é o agonista endógeno do receptor: 𝜶 = 𝒆𝒇𝒆𝒊𝒕𝒐 𝒎á𝒙𝒊𝒎𝒐 𝒅𝒂 𝒅𝒓𝒐𝒈𝒂 𝒆𝒇𝒆𝒊𝒕𝒐 𝒎á𝒙𝒊𝒎𝒐 𝒅𝒐 𝒂𝒈𝒐𝒏𝒊𝒔𝒕𝒂 𝒇𝒐𝒓𝒕𝒆 𝒙 𝟏𝟎𝟎, e admitiam que o α pode ir de 0, caso do antagonista farmacológico (sem efeito), até 100, e isso permite a conclusão de que nenhuma droga tem efeito maior que o agonista endógeno, o que não é verdade: esse limite superior pode ser superado por substâncias exógenas – o conceito da margem de segurança se refere ao fato de que os agonistas endógenos nunca ocupam todos os receptores existentes na célula. Os agonistas exógenos de efeito máximo maior que o do agonista endógeno são chamados de drogas de alta eficácia, vantajosas por não utilizarem tanta maquinaria bioquímica, conseguindo um efeito muito maior do que o dos agonistas endógenos utilizando muito menos receptores, podendo então ser administradas em doses menores. Stevenson, para corrigir isso, criou a constante de eficácia (e), calculada da mesma maneira que a constante de atividade intrínseca, mas com a diferença de não estabelecer um limite superior, podendo ir de 0 ao infinito. É a eficácia que é utilizada, assim, para medir efeito da droga. É chamado de acoplamento o conjunto estímulo (presença da droga) e resposta (o que a droga faz). Existem dois tipos: o direto (quando o receptor é o canal iônico) e a transdução (quando é necessária uma segunda substância diferente do agonista, chamada de segundo mensageiro – os dois fundamentais são o cAMP e o Ca2+), sendo que a maior parte dos nossos receptores atuam por transdução. Para que os segundos mensageiros sejam mobilizados são necessárias proteínas G, integrantes da membrana. O cAMP necessita das proteínas GS e GI, enquanto o Ca2+ necessita da proteína GQ: a) PROTEÍNA GS: é associada a uma enzima adenilato ciclase, que transforma ATP em cAMP. Quando a droga chega na biofase (uma região extracelular onde o receptor exerce influência elétrica) exerce sobre o receptor forças de Van der Waals, modificando a sua conformação. Um agonista chega à biofase e muda a conformação do receptor, que muda a conformação da proteína GS, que estimula a adenilato ciclase, aumentando a produção de cAMP, o que estimula o metabolismo da célula (um exemplo desse tipo de receptor é o β1, presente em todo o coração e reconhecido pela adrenalina, e a maior produção de cAMP estimula a contração do músculo cardíaco). Um antagonista chega à biofase e muda a conformação do receptor, mas isso não gera resposta da proteína G. b) PROTEÍNA GI: tem o mesmo mecanismo da GS, mas é inibitória: diminuirá a produção de cAMP pela inibição da adenilato ciclase, diminuindo o metabolismo da célula (um exemplo desse tipo de receptor é o β2, presente na musculatura lisa de brônquios e reconhecido pela adrenalina, e a diminuição de cAMP causa broncodilatação). c) PROTEÍNA GQ: não associa-se com a adenilato ciclase, mas com enzimas da via dos fosfoinositídeos, que transforma PIP2 em IP3. Um agonista chega à biofase e muda a conformação do receptor, que muda a conformação da proteína Gq, que estimula as enzimas, aumentando a produção de IP3. A existência de Ca2+ livre no citosol significa que a célula está em sofrimento – começa a acumular fatores de apoptose, aproximando-se da morte celular. O IP3 em grandes quantidades fura a membrana do sarcoplasma, liberando Ca2+, que se ligará às proteínas calmodulina e troponina, formando complexos que estimulam o metabolismo celular (um exemplo desse tipo de receptor é o α1, presente na pele é reconhecido pela adrenalina, que quando tem um pico promovem a vasoconstrição cutânea). As curvas dose-resposta possuem a mesma conformação de hipérbole, com um efeito crescente no começo que chega a um máximo, mas que, para efeitos de cálculo, é derivada para uma sigmóide, em que trabalha-se com valores de 20 a 80% do efeito máximo (pedaço da sigmóide considerado como reta). Algumas propriedades dos gráficos são: quanto mais para cima no eixo do efeito, maior a eficácia da droga; quanto mais para a direita no eixo da dose, menor a potência da droga e sua afinidade com o receptor; só se pode fazer curvas para agonistas, pois, como antagonistas não possuem efeito não se encaixam no eixo do gráfico. No primeiro gráfico, a droga A possui maior potência do que a droga B: apesar de ambas atingirem o mesmo efeito máximo, é necessária dose menor da droga A para atingi-lo do que da B. No segundo gráfico, a droga A encontra-se em duas situações: administrada sozinha ou acompanhada de um antagonista. A curva nos deixa claro que é um caso de antagonista competitivo, pois aumentando-se a dose da droga A ela retira o antagonista dos receptores, e o efeito máximo é atingido – deslocamento da curva para a direita. No terceiro gráfico, sabendo que o efeito máximo da droga A é maior que o da B e que seus DE50 são semelhantes, conclui-se que a droga A é mais eficaz que a droga B, pois com a mesma dose atinge-se um efeito máximo maior. No quarto gráfico, a curva nos deixa claro que é um caso de antagonista não competitivo, pois com a ele o efeito máximo não é atingido mesmo que a dose seja aumentada, pois o antagonista atua sobre um sítio diferente do mesmo receptor, mudando a sua conformação e impedindo a ligação do agonista, sem haver competição, sendo que o antagonista só é retirado através de metabolização e excreção – deslocamento da curva para baixo. FARMACOLOGIA - Jassunção Farmacologia do SNA Simpático As respostas simpáticas ocorrem por mediação da noradrenalina (Nor) e da adrenalina (Ad). A Nor é liberada das terminações nervosas simpáticas e atua nos receptores específicos dos órgãos efetores (α1, α2 e β1). A Ad é um hormônio liberado da medula da adrenal na corrente sanguínea, e também atua nos receptores adrenérgicos (α1, α2, β1, β2 e β3) dos órgãos. Os principais efeitos simpáticos são: Órgão Receptor Resposta Coração β1 Aumento da frequência cardíaca, aumento da força contrátil, aumento da condução do impulso atrioventricular Vasos periféricos (pele, mucosa e mesentério – leito vascular maior) α1 Vasoconstrição Vasos do músculo esquelético β2 Vasodilatação (desvio do leito periférico) Brônquios β2 Broncodilatação Útero gravídico β2 Relaxamento uterino Tubo intestinal β2 Diminui a motilidade Bexiga Detrusor β2 Relaxamento Esfíncter interno α1 Contração Globo ocular Pupila α1 Midríase (dilatação pela contração dos músculos radiais da íris) Corpo ciliar β2 Aumento da produção de humor aquoso Músculo esquelético β2 Tremor Nos órgãos, α1 de músculo liso aumenta o Ca2+ intracelular e a contratilidade. O β2 de músculo liso aumenta cAMP e gera relaxamento muscular. Outros efeitos do β2 são o aumento da entrada de K+ para as células e a glicogenólise (aumento da glicemia). O β3 promove a lipólise. É importante ressaltar que baixas concentrações de Ad conseguem estimular grande quantidade de receptores β. A síntese de Nor ocorre na terminação nervosa da fibra simpática. Ela começa por uma proteína transportadora que forma tirosina no citosol, que se transforma em dopa (por ação da enzima tirosina hidroxilase), que se transforma em Da (por açãoda enzima dopa descarboxilase), que entra na vesícula sináptica e se transforma em Nor (por ação da enzima dopamina β-hidroxilase – DBH). A liberação de Nor se inicia com a diferença de potencial gerada pelo impulso nervoso que chega ao terminal, que abre canais de Ca2+ voltagem dependentes, e o Ca2+ entra e estimula a exocitose das vesículas de Nor, sendo que a vesícula é reaproveitada posteriormente. Nor cai na fenda sináptica e se liga em algum de seus receptores. A síntese de Ad ocorre na medula adrenal. A liberação de Ach em receptores Nn das células cromafins promove a síntese de Nor (as células cromafins têm as mesmas enzimas das terminações nervosas), com posterior conversão de Nor em Ad (por ação da enzima PNMT). O término do efeito da Nor não ocorre devido à sua degradação na fenda sináptica: o principal mecanismo de parada de efeito ocorre por uma proteína EXCEÇÕES DO SNA SIMPÁTICO • As fibras que inervam as glândulas sudoríparas liberam Ach; • As fibras que inervam vasos renais liberam dopamina (Da); • As terminações também liberam cotransmissores, como o ATP. carregadora chamada NET (recaptura neuronal da Nor – captação 1) leva a Nor de volta para a terminação nervosa onde, ligada à membrana mitocondrial, encontra-se a enzima MAO (monoaminoxidase, que também é muito expressa nos hepatócitos e nas células epiteliais intestinais), que degrada a Nor. Descobriu-se ainda que a Nor recapturada pode ser reaproveitada para as vesículas vazias. Quando inibidores de recaptura atuam, o efeito da Nor é prolongado, assim com a inibição da MAO promove o aumento da oferta de Nor. Outro mecanismo, que ocorre em tecidos extraneuronais, acontece através do TEN (transportador extraneuronal – captação 2), que também captura a Nor para dentro dos órgãos, cujos tecidos expressam a enzima COMT, que degrada a Nor. O controle de liberação da Nor ocorre por ação sobre receptores pré-sinápticos. A ação sobre o α2 pré-sináptico diminui o cAMP, o Ca2+ e a liberação de Nor (o aumento de Nor na fenda modula negativamente a sua liberação – autorregulação negativa). De maneira inversa, a ação sobre o β2 pré-sináptico aumenta o cAMP, o Ca2+ e a liberação de Nor. Os fármacos que simulam os efeitos de uma estimulação simpática são os adrenérgicos, enquanto aqueles que impedem esses efeitos são os antiadrenérgicos. A. ADRENÉRGICOS Classificam-se em adrenérgicos de ação direta e adrenérgicos de ação indireta. a) Adrenérgicos de Ação Direta São agonistas dos receptores α e/ou β. Podem ser representados por: • Noradrenalina: injetável e emergencial, sendo usada em casos de choque. Aumenta rapidamente a pressão arterial (PA) devido a dois fatores: em α1 dos vasos periféricos promove vasoconstrição, aumentando a resistência periférica (principal fator de alteração da PA), enquanto em β1 do coração promove aumento do débito cardíaco. Pode provocar necrose no local de administração. Não possui ação central (não atravessa BHE). • Adrenalina: também injetável e emergencial, usada em casos de choque anafilático em que há liberação sistêmica de histamina (via receptor H1) quando ocorre broncoconstrição, vasodilatação, e diminuição da PA. Em α1 promove vasoconstrição periférica e em β1 promove aumento da força contrátil do coração, aumentando assim a PA, e através de β2 promove vasodilatação dos vasos musculares (apesar de a vasodilatação agir contra o aumento da PA, ela ainda assim aumenta pela preponderância da vasoconstrição periférica – leito periférico é maior e mais importante, e o aumento da resistência vascular prevalece). A ação sobre β2 também promove broncodilatação, mas devido ao aumento da PA ela não é recomendada para quadros de broncoespasmo. PARADA CARDÍACA A Ad é utilizada em casos de parada cardíaca, e não a Nor. Na parada cardíaca necessita-se de uma droga vasopressora, que promoverá aumento da PA. Quando uma delas é administrada, entretanto, o centro cardiovascular do bulbo que controla a PA promove uma bradicardia reflexa compensatória, proporcional à ação do fármaco em aumentar a PA (quanto mais aumenta, maior a bradicardia gerada). Essa bradicardia, porém, não é interessante para um quadro de parada cardíaca. A Nor aumenta mais a PA do que Ad, porque provoca só vasoconstrição (enquanto Ad também gera vasodilatação muscular). Assim, a bradicardia reflexa causada por Nor será maior, e por isso ela não é recomendada em casos de parada cardíaca, sendo preferível a Ad. • Isoprenalina: agonista de β1 e β2, promovendo taquicardia e broncodilatação. Usada antigamente para broncoespasmo por promover queda da PA, pela vasodilatação muscular (sem vasoconstrição periférica – não atua sobre α1). Facilita a condução atrioventricular (pode ser usada em bloqueio AV). • Dopamina: também injetável e emergencial, sem efeito central (não atravessa BHE). Por ser precursor imediata de Nor, possui estrutura semelhante. Em dose baixa (baixa velocidade de infusão) tem seletividade pelos receptores D1 dos vasos renais, causando vasodilatação dos rins, aumentando a filtração – também atua sobre D1 no túbulo proximal do néfron, diminuindo a reabsorção de Na+ e consequentemente de água, aumentando a sua excreção urinária (como o paciente é grave, monitorar volemia). Em dose moderada (intermediária) também exerce ação sobre β1, aumentando o débito cardíaco. Em dose elevada, também exerce ação sobre o α1, aumentando a resistência periférica – aumento da PA (continua favorecendo a perfusão, mas não tanto quanto em dose baixa, por conta dos receptores α1 nos vasos renais). • Dobutamina: injetável, inotrópico, fármaco mais usado para aumentar trabalho cardíaco. Ação sobre β1, aumentando força contrátil sem aumentar frequência. • Agonistas α seletivos: fenilefrina (agonista α1 – via oral), nafazolina e oximetazolina (agonistas α1 e α2 – uso tópico). Uso como descongestionante nasal (vasoconstrição pela ação em α1, o que diminui a perfusão, a pressão hidrostática e o edema local). O uso abusivo determina perda de resposta (dessensibilização de receptores) e pode causar efeito rebote. Com o uso sistêmico se deve ter cuidado com hipertensos e cardiopatas. Colírio de fenilefrina (midriático) é pouco usado, mas diminui vermelhidão em casos de conjuntivite pela vasoconstrição. • Agonistas β2 seletivos: podem ter ação curta – fenoterol (Berotec®), salbutamol, terbutalina; ação longa – salmeterol, formoterol, clembuterol; ou ação ultralonga – indacaterol, vilanterol. São usados como broncodilatadores e relaxantes uterinos (útero gravídico). O clembuterol é utilizado por atletas de academia por causar vasodilatação muscular, broncodilatação, aumento da glicemia, lipólise (atuação em β3) e hipertrofia – dopping. Os efeitos adversos são tremor (atuação em β2), taquicardia reflexa (por conta da vasodilatação quando administrados em dose maior, pela atuação sobre β1 – associação com Atrovent® pode-se reverter isso), hipocalemia (risco em pacientes com histórico de problemas renais ou que usam medicamentos que alteram K+) e hiperglicemia (cuidado com diabéticos). • Agonistas α2 específicos: clonidina. Tem ação central – atuação sobre α2 em neurônios do centro cardiovascular, que inibe ativação do SNA simpático. Também atua sobre α2 de terminações nervosas adrenérgicas, o que diminui a liberação de Nor. Usada como antihipertensivo (atualmente muito pouco), sedação, também auxiliando em analgesia e no tratamento de abstinência aos opióides (e outras drogas). b) Adrenérgicos de Ação Indireta Podem causar aumento da liberação de Nor (anfetaminas e derivados – de ação central), inibição da recaptura da Nor (inibe NET) ou inibição da MAO (aumenta Nor). B. ANTIADRENÉRGICOS São fármacos que inibem uma resposta simpática. Classificam-se em: • Metildopa: promove diminuição da síntese e da liberação de Nor. Tem ação central, e se transforma em metildopamina, que se transforma em metilnoradrenalina,que é um agonista potente de α2 (ação anti-hipertensiva – droga de escolha para grávida hipertensa) e fraco de α1. • Antagonistas β: ou β bloqueadores, promovem respostas como a diminuição da frequência cardíaca (atuação em β1 – diminui o débito cardíaco) e a inibição da liberação de renina (atuação em β1 – inibe o sistema renina angiotensina aldosterona, diminuindo o débito cardíaco e a resistência periférica), sendo que ambos esses efeitos diminuem a PA (uso anti-hipertensivo); Além disso, também reduzem produção de humor aquoso no corpo ciliar (tratamento de glaucoma), diminuem tremor (atuação em β2), podendo favorecer o broncoespasmo (não usar em asmáticos) e a hipoglicemia (reação do organismo é ativação do simpático, com sudorese, taquicardia e tremor, o que mascara os próprios sinais clínicos da hipoglicemia). Não são considerados vasodilatadores diretos. São divididos em gerações: ▪ 1ª Geração: ação sobre β1 e β2 – propanolol, pindolol, timolol (colírio). ▪ 2ª Geração: ação seletiva sobre β1, não gerando broncoconstrição (não atua em β2 – preferíveis para asmáticos) – atenolol, metoprolol, bisoprolol. ▪ 3ª Geração: de maneira geral, promovem vasodilatação – carvedilol (ação sobre β1, β2 e α1 – vasodilatador), celiprolol e mebivolol (ambos de ação sobre β1, liberando NO e causando vasodilatação, podendo também atuar como agonistas de β2, gerando broncodilatação). • Antagonistas α: podem atuar sobre α1A (vasos periféricos) ou α1B (trato gênito- urinário). Quando bloqueiam α1A (prazosina, doxazosina, terazosina) causam vasodilatação, o que diminui a PA – utilizados como anti-hipertensivos, podendo ocorrer efeitos adversos como a taquicardia reflexa, que pode ser revertida pela associação com β bloqueadores. Quando bloqueiam α1B (tansulosina) favorecem a micção, pois relaxam o esfíncter interno da bexiga e a musculatura lisa da próstata – utilizados no tratamento de HPB (hiperplasia prostática benigna). FARMACOLOGIA - Jassunção Farmacologia do SNA Parassimpático O único mediador que rege os efeitos do SNA parassimpático é a acetilcolina (Ach). Ela possui receptores muscarínicos (metabotrópicos – M1, M2, M3, M4 e M5) e nicotínicos (ionotrópicos – Nn e Nm). Os principais efeitos parassimpáticos são: Órgão Receptor Resposta SNC M1 Memória, aprendizado, atenção, vigília, náusea Globo ocular M3 Miose (contração da pupila), acomodação visual (visão de perto) Glândulas salivares e sudoríparas M3 Aumento da secreção salivar e da diaforese (transpiração) Coração M2 Diminuição da frequência cardíaca Pulmão M3 Broncoconstrição, aumento da secreção Trato gastrointestinal M3 Aumenta motilidade (peristaltismo) Bexiga Detrusor M3 Contração Esfíncter interno Relaxamento Os fármacos que simulam os efeitos de uma estimulação parassimpática são os colinérgicos, enquanto que aqueles que impedem esses efeitos são os anticolinérgicos. A. COLINÉRGICOS Classe de agonistas dos receptores da Ach. Classificam-se em colinérgicos de ação de ação direta e colinérgicos de ação indireta. a) Colinérgicos de Ação Direta São agonistas muscarínicos (se ligam e estimulam diretamente os receptores muscarínicos). Dividem-se em ésteres de colina e não ésteres de colina. Os ésteres de colina podem ser representados por: • Acetilcolina: a própria Ach é um éster de colina, mas ela não é usada como fármaco devido à sua seletividade nula e à grande distribuição de acetilcolinesterases e butirilcolinesterases por todo o organismo, enzimas responsáveis pela sua degradação. • Carbacol (Miostat®): é a Ach com uma pequena alteração estrutural (troca de um grupo acetil por um carbamil), que promove uma degradação mais lenta pela acetilcolinesterase. Não pode ser administrado pela via oral ou intravenosa porque não é seletivo: atua em M1, M2, M3, e tem mais afinidade que a própria Ach pelos receptores nicotínicos. Entretanto, pode ser usado externamente, e por isso é utilizado no tratamento do glaucoma (hipertensão intraocular), administrado diretamente no olho como colírio, tendo o efeito de miose (contração da pupila). • Betanecol (Liberan®): pequenas alterações estruturais também permitem que seja degradado mais lentamente pela acetilcolinesterase. É altamente seletivo: atua especificamente em M3 de tratos gastrointestinal e genitourinário. Utilizado para tratar retenção urinária, decorrente de hiperplasia benigna de próstata e bexiga, ou de atonia intestinal (íleo paralítico pós-cirúrgico). Os não ésteres de colina (alcalóides) podem ser representados por: • Pilocarpina: por não ter a estrutura da acetilcolina (alcalóide amino terciário – muito lipossolúvel, chegam ao cérebro), não é degradada pela acetilcolinesterase (pode ser ingerido via oral), tendo degradação lenta por outras enzimas. É seletivo para M3 de globo ocular e de glândulas de secreção. Usado para o tratamento da xerostomia (boca seca), olhos ressecados e glaucoma (principalmente na emergência). b) Colinérgicos de Ação Indireta (ou Anticolinesterásicos) Produzem os efeitos do parassimpático, mas não pela ligação aos receptores: todos os seus representantes realizam a inibição das colinesterases (acetilcolinesterase e butirilcolinesterase), exacerbando a atividade da Ach, diminuindo a sua degradação e aumentando tanto seus níveis quanto seus efeitos em todos os seus receptores – não possuem seletividade, mas podem ou não atingir o SNC de acordo com sua lipossolubilidade (se for alta, o medicamento atravessa a BHE e atinge). Como efeitos colaterais, podem provocar náuseas (Ach em M1 do centro do vômito no SNC), diminuição da frequência cardíaca (Ach em M2 do coração), incontinência urinária (Ach em M3 da bexiga) e outros. Os representantes são classificados quanto ao início e duração da ação/efeito, podendo ser de ação curta (início imediato e duração de até 15min), intermediária ou longa: Os de ação curta podem ser representados por: • Edrofônio (Tensilon®): é usado em emergência (via intravenosa), e logo em seguida é administrado um outro anticolinesterásico de ação mais duradoura. Também é usado no diagnóstico da miastenia gravis (fraqueza muscular – doença autoimune com produção de anticorpos específicos contra os receptores nicotínicos dos músculos esqueléticos) – ocorre uma avaliação da força de um paciente doente pela comparação com a de um saudável, cuja diferença é perceptível: se houver melhora, há a presença da doença (a dose administrada para se obter melhora varia, sendo que quanto maior, mais grave o estado da doença). Os de ação intermediária podem ser representados por: • Neostigmina: utilizadas para o tratamento sintomático de miastenia gravis, e para reverter intoxicação por Atropina (somente perifericamente) ou por bloqueadores de junções neuromusculares. • Rivastigmina/Galantamina/Donepezila: altamente lipossolúveis – atingem o SNC, utilizadas para tratamento dos sintomas cognitivos do Alzheimer (Ach no hipocampo/córtex melhoram a atenção, memória e aprendizado). Os principais efeitos colaterais são náuseas, insônia, arritmia, cólicas intestinais e incontinência urinária. Os de ação longa podem ser representados por: • Organofosforados (inseticidas – não são fármacos): como o Gás Sarin (substância tóxica), que inibe as colinesterases irreversivelmente, aumentando muito os níveis de Ach. Quando ela se liga aos seus receptores cardíacos por muito tempo, gera bradicardia duradoura, e para que isso seja combatido e a morte seja evitada utiliza-se um antagonista da acetilcolina, como a Atropina. B. ANTICOLINÉRGICOS Classe dos antagonistas dos receptores muscarínicos da Ach, fazendo prevalecer os efeitos simpáticos. Esse bloqueio de receptores pode ser superado por concentrações maiores de Ach, como as produzidas pelos anticolinesterásicos, que são usados, dessa maneira, para reverter intoxicações por anticolinérgicos – da mesma maneira, os anticolinérgicos podem reverter as intoxicações
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