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Resumo Geral Farmaco (by Jassa)

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FARMACOLOGIA - Jassunção 
Parkinson e Alzheimer 
 
A. DOENÇA DE PARKINSON 
A doença teve, nas últimas décadas, um aumento considerável do número de 
diagnósticos, o que se relaciona com o aumento da longevidade da população. O 
quadro clínico basicamente envolve alterações motoras: tremor involuntário (em geral 
unilateral – início da doença), rigidez muscular, bradicinesia (dificuldade em iniciar os 
movimentos), postura modificada, alteração da fala e dificuldade na deglutição. Cerca 
de 80% dos pacientes também apresenta depressão. 
A fisiopatologia do Parkinson ocorre pela degeneração de neurônios da via 
nigroestriatal, que liberam dopamina no corpo estriado, onde ela modula (diminui) a 
liberação de acetilcolina. Assim, a doença é caracterizada por uma diminuição de 
dopamina e por um aumento de acetilcolina, o que caracteriza todas as alterações 
motoras. A causa da lesão específica desses neurônios ainda é desconhecida, mas o 
tratamento se dá pela correção das alterações provocadas, através da diminuição da 
acetilcolina e aumento da dopamina. Pode ser feito de três maneiras: 
1. Levoterapia 
Padrão ouro do tratamento para pacientes com mais de 65 anos, com elevado 
grau de incapacitação motora – provoca melhora efetiva de todos os sintomas 
motores, principalmente rigidez muscular e bradicinesia. Em pacientes mais jovens 
(com menos de 65 anos), o uso não é recomendado (exceto em quadros graves). 
A dopamina não consegue atravessar a BHE, e por isso é administrada a 
levodopa (ou L-DOPA), precursora da dopamina, que tem essa capacidade. No SNC, a 
L-DOPA sofre ação da enzima dopa-descarboxilase (DDC) e é convertida em dopamina, 
aumentando os seus níveis. Entretanto, a DDC é expressa tanto no SNC quanto na 
periferia e, assim, se for administrada sozinha, grande parte da L-DOPA é convertida 
em dopamina antes de chegar ao SNC, e perde o seu efeito no tratamento do 
Parkinson. É por isso que a levoterapia envolve a associação de L-DOPA com inibidores 
periféricos da DDC (sem ação central), que são a Carbidopa e a Benserazida (Prolopa®). 
Isso aumenta a formação de dopamina central e evita efeitos adversos periféricos da 
dopamina (cardiovasculares e gastrointestinais). 
Apesar da melhora dos sintomas, podem ocorrer efeitos adversos (a curto 
prazo) e outras condições clínicas (a longo prazo – principalmente quando se inicia o 
tratamento tarde). Os efeitos adversos decorrentes do aumento de dopamina são 
náuseas e vômitos (no reflexo do vômito), alucinações (no sistema límbico) e arritmias 
(periferia). As condições clínicas são: 
CONDIÇÃO CLÍNICA SINTOMAS 
Efeito On-Off 
Flutuações motoras – alternância entre períodos com perda súbita de 
movimento, rigidez e bradicinesia (Off) e períodos de melhora (On). 
Discinesias tardias e de 
pico de dose 
Movimentos contorcionais involuntários (orofaciais, mastigatórios e de 
membros) por dessensibilização de receptores dopaminérgicos. 
Demandam redução da dose, ou associação com outros fármacos. 
Delayed-On 
Demora na resposta. Ocorre pela medicação próxima a refeições com 
proteínas, que competem com L-DOPA por carregador na absorção. 
Deterioração de término 
de dose 
Piora do quadro por encurtamento do beneficio terapêutico de cada 
dose – necessária a administração do fármaco em intervalos curtos, sem 
aumentar o montante total da dose diária (liberação prolongada). 
Estado “freezing” Bradicinesia e rigidez. Demanda aumento da dose e acompanhamento. 
2. Intensificadores da transmissão dopaminérgica 
A Amantadina, os inibidores da MAO-B e os agonistas D2 podem ser usados em 
monoterapia para quadros leves ou associados à levoterapia (redução das flutuações 
motoras). Os inibidores da COMT só são utilizados em associação à levoterapia. Todos 
possuem os mesmos efeitos adversos da levoterapia. 
• Amantadina: antiviral com leve ação dopaminérgica. 
• Inibidores da MAO-B (IMAO-B): promovem redução da degradação da 
dopamina. Selegilina e Rasagilina realizam inibição irreversível da enzima. 
• Agonistas D2: Pramipixol, Ropirinol e Rotigotina (adesivo transdérmico). O 
uso não é recomendado em pacientes 
com transtornos psicóticos. 
• Inibidores da COMT: Entacapona (mais 
utilizada – atua apenas na COMT 
periférica) e Tolcapona (hepatotóxica). 
3. Anticolinérgicos 
Possuem a única finalidade de aliviar os tremores, através do antagonismo de 
receptores muscarínicos no corpo estriado, reduzindo assim a atividade da 
acetilcolina. O Biperideno é o mais utilizado. Os efeitos adversos são decorrentes do 
bloqueio dos receptores colinérgicos: confusão mental, sonolência, constipação 
intestinal, retenção urinária e borramento visual. Indicados para pacientes jovens 
(com menos de 60 anos), contra-indicados para maiores de 70 anos e pacientes com 
demência, pois pode causar um quadro psicótico – pacientes com Parkinson podem 
desenvolver quadros relacionados à perda funcional de outras áreas do SNC 
(depressão, demência etc.). 
B. DOENÇA DE ALZHEIMER 
É a doença neurodegenerativa mais comum da atualidade, causa líder de 
incapacitação entre pessoas mais de 60 anos. É a principal causa de demência (declínio 
progressivo e irreversível da capacidade intelectual). O quadro clínico envolve 
sintomas cognitivos e comportamentais, de evolução gradual (estágios leve, 
moderado e avançado). Os sintomas cognitivos são: 
• Perda progressiva da memória: recente, que evolui para a de longo prazo. 
• Afasia: alterações da linguagem. 
• Apraxia: incapacidade de reconhecer automaticamente tarefa a ser executada. 
• Agnosia: incapacidade de reconhecer e identificar objetos. 
• Diminuição ou pobreza de julgamento. 
• Desorientação: confusão com o tempo e com lugares. 
• Dificuldade no planejamento e na solução de problemas cotidianos. 
• Incapacidade de aprender coisas novas ou lidar com situações inesperadas. 
• Incapacidade de pensar e fazer cálculos simples. 
Os sintomas comportamentais são: 
• Irritabilidade e intolerância. 
• Desinibição social: incapacidade de julgamento (ex.: hipersexualidade). 
• Falta de cooperação. 
• Perambulação: especialmente no final da tarde e à noite. 
• Redução da capacidade funcional: incapacidade de cuidar de si mesmo. 
A fisiopatologia do Alzheimer ocorre pela degeneração dos neurônios 
colinérgicos subcorticais que inervam o córtex (cognição) e o hipocampo (memória), 
com redução drástica de acetilcolina nesses locais, e também pela alteração das vias 
do glutamato no córtex e no sistema límbico (emoções), com neurotoxicidade causada 
pelo excesso de glutamato – as vias colinérgicas e glutamatérgicas centrais são 
envolvidas nos processos de memorização. Ocorre atrofia acentuada do córtex 
cerebral (perda de massa – aumento dos sulcos e dos ventrículos). É mais agressiva 
que o Parkinson porque acomete todo o córtex (principalmente pré-frontal e frontal). 
O tratamento farmacológico tem como base anticolinesterásicos e 
antagonistas do receptore NMDA (receptor de cálcio regulado por glutamato) para 
glutamato, que promovem melhora apenas dos sintomas cognitivos (o tratamento dos 
sintomas psiquiátricos e comportamentais se dá por antidepressivos e antipsicóticos, 
evitando-se o uso daqueles com efeito anticolinérgico). 
1. Anticolinesterásicos 
Os principais são a Donepezila, a Rivastigmina e a Galantamina. Promovem 
inibição reversível da enzima acetilcolinesterase, diminuindo a degradação da 
acetilcolina e aumentando a sua oferta sináptica, melhorando a transmissão 
colinérgica no córtex e hipocampo. Indicados em monoterapia nos estágios leve e 
moderado, e em associação à Memantina no estágio grave. 
Os efeitos adversos são resultantes das ações periféricas da acetilcolina: 
náuseas, vômito, diarreia, incontinência urinária, salivação e sudorese. Outros menos 
recorrentes são: anorexia, perda de peso, tonturas, insônia, sonhos vívidos, cefaleia,e 
alucinações. 
2. Antagonistas do receptor NMDA para glutamato 
No receptor NMDA neuronal há um sítio de ligação para o glutamato, que 
quando se liga promove a sua ativação, com um influxo de cálcio para o neurônio, o 
que contribui para a melhora na memorização e no aprendizado – processo fisiológico 
que ocorre no córtex e hipocampo. Com a evolução do Alzheimer, ocorre 
hiperexcitação do receptor NMDA por hiperatividade do glutamato, com estimulação 
excessiva do receptor, o que leva à sobrecarga de cálcio dentro do neurônio. Isso 
promove a ativação da apoptose, com morte neuronal. 
O principal fármaco antagonista (não-competitivo – sítios diferentes) do 
receptor NMDA para glutamato é a Memantina, que impede a sua ativação 
excitotóxica – preserva a ativação fisiológica durante o processo de formação da 
memória e do aprendizado. É indicado em monoterapia nos estágios moderado e 
grave, ou no estágio leve quando os anticolinesterásicos são contra-indicados. Como 
efeitos adversos apresentam sonolência, tontura, cefaleia, constipação e níveis 
elevados de enzimas hepáticas. 
FARMACOLOGIA - Jassunção 
Introdução à Psicofarmacologia 
 
 A psicofarmacologia estuda os fármacos que 
modulam a neurotransmissão no sistema nervoso 
central. Fisiologicamente, o circuito neurológico do 
organismo atua com todas as neurotransmissões em 
sincronia. Entretanto, podem ocorrer alterações 
nos circuitos que geram dessincronia, o que pode 
acarretar em transtornos psiquiátricos, doenças 
neurológicas e doenças neurodegenerativas. O 
tratamento destes quadros se dá pelos 
psicofármacos, que normalizam os circuitos 
disfuncionais, sincronizando-os. As suas ações 
nestes transtornos ocorrem principalmente pela 
modulação dos seguintes neurotransmissores: 
serotonina (5HT), noradrenalina (NA), dopamina 
(DA), acetilcolina e GABA. 
 No SNC, o principal tipo de sinapse é a química, pelo fato de envolver passagem 
de neurotransmissor do neurônio pré-sináptico para o pós-sináptico. O receptor do 
neurônio pós-sináptico pode ser excitatório, dando continuidade ao potencial de ação 
(pela despolarização do neurônio pós-sináptico), ou inibitório, bloqueando o potencial 
de ação (pela hiperpolarização 
do neurônio pós-sináptico). 
Com raras exceções, o 
término do efeito dos 
neurotransmissores se dá por 
receptação neuronal através de 
proteínas transportadoras. 
Depois da recaptação, podem 
sofrer rearmazenamento nas 
vesículas sinápticas ou 
degradação por enzimas 
específicas do citoplasma 
neuronal. Os psicofármacos 
podem atuar nos receptores 
pós-sinápticos ou nas proteínas 
transportadoras. 
NEUROTRANSMISSOR 
TRANSPORTADOR 
(RECAPTAÇÃO) 
ENZIMA 
(DEGRADAÇÃO) 
5HT SERT 
MAOA 
NA NAT/NET 
DA DAT MAOB 
 
TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS 
• Esquizofrenia 
• Transtornos depressivos 
(depressão/transtorno bipolar) 
• Transtornos de ansiedade 
(Pânico/TAG/TOC/TET/Fobia social) 
DOENÇAS NEUROLÓGICAS 
• Epilepsia 
• TDAH 
• Autismo 
DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS 
• Alzheimer 
• Parkinson 
FARMACOLOGIA - Jassunção 
Hipnoanalgésicos 
 
Os hipnoanalgésicos não são considerados psicofármacos porque são opióides. 
“Hipno” remete a indução do sono, enquanto “analgésico” é aquilo que promove alívio 
da dor sem promover perda da consciência. O ópio é obtido da planta papoula (Papaver 
somniferum), sendo composto por mais de vinte alcalóides naturais, entre eles a 
morfina e a codeína. Opiáceo é tudo aquilo que é derivado da morfina. Opióide é toda 
substância endógena ou exógena (fármacos) que se liga aos receptores e tem efeito 
semelhante ao da morfina. 
 A dor possui dois componentes: o sensorial – nocicepção (percepção e 
discriminação do estímulo nocivo, objetiva) e o emocional (experiência desagradável 
que acompanha a nocicepção, subjetiva e pessoal). Os opióides aliviam ambos os 
componentes, diferenciando-se dos analgésicos não opióides, que só aliviam o 
sensorial. 
A nocicepção é o conjunto de eventos neurais através do qual os estímulos 
nocivos são detectados, através do seguinte caminho (da periferia para o SNC): um 
nociceptor (terminação nervosa sensível à dor) converte o estímulo doloroso em 
impulso nervoso, conduzido até a medula espinal por uma fibra nociceptiva (1º 
neurônio), que pode ser uma fibra Aδ (para dor aguda), cujo neurotransmissor é o 
glutamato, ou do tipo C (para dor crônica), cujo neurotransmissor é a substância P. Na 
medula, ocorre sinapse com um 2º neurônio, que segue até o tronco cerebral, onde faz 
sinapse com um 3º neurônio, que segue para o tálamo 
e córtex somatossensorial, onde se discrimina o 
estímulo como dor. Tanto o glutamato quanto a 
substância P estimularão o 2º neurônio, 
despolarizando-o e permitindo a transmissão do 
impulso nervoso. Para que a dor seja transmitida do 
nociceptor para o SNC deve haver despolarização da 
fibras Aδ/tipo C, liberação dos neurotransmissores 
glutamato/substância P e despolarização do 2º 
neurônio. Impedindo-se algum desses eventos, não 
ocorre condução da dor. 
O sistema de modulação supramedular da dor 
é descendente (do SNC para a periferia). Na Área 
Periaquedutal Cinzenta do mesencéfalo são produzidas 
e liberadas encefalinas (opióides endógenos), que 
estimulam uma segunda área chamada Núcleo Magno 
da Rafe, entre a ponte e o bulbo. Então, os neurônios 
estimulados da Rafe liberam serotonina na medula, 
onde, no corno dorsal, estimula um grupo neuronal 
chamado Complexo Inibitório da Dor que, quando 
estimulado, também libera encefalinas, que aqui 
possuem papel inibitório, atuando tanto no 1º 
neurônio (Aδ ou do tipo C, impedindo a liberação de 
glutamato e de substância P) quanto no 2º neurônio 
(causando hiperpolarização). Assim, a condução do 
estímulo doloroso para o córtex somatossensorial é impedida – este é o sistema 
endógeno de analgesia. Os fármacos opióides possuem o mesmo mecanismo de ação. 
Os receptores opióides 
dividem-se em três tipos: κ 
(KOR), μ (MOR) e δ (DOR). Ο 
mais importante, responsável 
pelos efeitos terapêuticos e 
adversos dos fármacos, é o 
receptor μ, principal alvo 
molecular dos opióides. Todos os 
receptores são acoplados à 
proteína Gi (inibitórios), e são localizados tanto no 1º quanto no 2º neurônio. 
Os fármacos opióides são agonistas de receptores μ, imitando os efeitos das 
encefalinas. Eles aliviam dor moderada a grave, promovendo conforto e reduzindo a 
ansiedade – alteram a nocicepção e o componente emocional. Dividem-se em: 
• Agonistas fortes: Morfina, Metadona, Fentanila; 
• Agonistas moderados: Codeína, Oxicodona, Difenoxilato, Loperamida; 
• Agonistas parciais: Buprenorfina; 
• Agonista fraco: Tramadol; 
• Antagonistas: Naloxona e Naltrexona (utilizados em intoxicação – overdose). 
As suas ações ocorrem tanto na medula quanto no encéfalo. Na medula, o 
mecanismo de ação se dá pela ativação de receptores μ nos neurônios do corno dorsal. 
No 1º neurônio (fibras Aδ ou do tipo C), fecham canais de Ca2+ voltagem dependentes, 
diminuindo a entrada de Ca2+, o que reduz a liberação de substância P e de glutamato. 
No 2º neurônio, abrem canais de K+, aumentando a saída de K+, gerando 
hiperpolarização. No encéfalo, o mecanismo de ação se dá pela ativação de receptores 
μ na Área Periaquidutal Cinzenta, estimulando o sistema endógeno de analgesia, e 
aumentando, assim, a liberação de encefalinas. 
Os efeitos terapêuticos e usos clínicos dos opióides são: 
• Alívio da dor moderada a intensa; 
• Efeito antitussígeno: Codeína, cuja molécula atua no centro da tosse. É 
convertida em Morfina pelo fígado, através do citocromo P450 (2D6), e por isso 
não pode ser administrada com Fluoxetina, que é inibidor enzimático (inibe 
2D6, impedindo o efeito analgésico); 
• Tratamento de diarreia: Loperamida (Imosec®) e Difenoxilato (Lomotil®), que 
não atravessam a BHE por serem substrato para a glicoproteína P (não são 
usados para analgesia), mas diminuem a motilidade gastrointestinal; 
• Parte da medicação pré-anestésica: devido ao efeitoanalgésico e às 
propriedades sedativas (alívio da ansiedade, agitação e indução de um estado 
de calma e tranquilidade). 
Os efeitos adversos dos opióides são: 
• Depressão respiratória: sem depressão da função cardiovascular; 
• Miose; 
• Náuseas e vômitos: 40% dos pacientes; 
• Retenção urinária; 
• Constipação intestinal: aumentam o tônus e diminuem a motilidade; 
• Liberação de histamina: Morfina, gerando prurido, rubor da pele, hipotensão 
(devido à vasodilatação) e broncodilatação. 
• Euforia e indiferença a estímulos: poderosa sensação de bem estar e 
contentamento, daí o alto potencial de abuso e dependência (uso compulsivo 
reforçado pelo desenvolvimento de dependência física – adição). 
A interrupção abrupta da administração de fármacos opióides provoca síndrome 
de abstinência característica, com: rinorreia, lacrimejamento, midríase e fotofobia, 
vômito, diarreia, dor no corpo, hiperatividade autonômica (hiperreflexia, taquicardia, 
sudorese, hipertermia, tremores), ansiedade e hostilidade. O tratamento se dá por 
uma terapia de substituição, através da administração de Metadona (primeira opção 
de tratamento, por gerar efeitos adversos mínimos) ou Buprenorfina. Ocorre 
manutenção do paciente por alguns dias, e posteriormente uma retirada gradual – os 
sintomas de abstinência da Metadona são menos graves e mais suportáveis que os da 
Morfina e Heroína (derivada da Morfina). 
A intoxicação opióide ou overdose gera a potencialização dos efeitos adversos 
(euforia ou disforia, sensação de calor, rubor facial ou coceira, constipação, retenção 
urinária, sonolência, miose, depressão respiratória, arreflexia, apneia, sedação e 
coma), sendo característica pela tríade: coma, pupilas puntiformes e depressão 
respiratória. O tratamento se dá pela administração de Naloxona, antagonista dos 
receptores opióides. A administração (em monodroga) a dependentes de morfina e 
heroína deve ser evitada, porque gera abstinência precipitada por antagonista (com 
sintomas de ansiedade, hiperventilação, hipertermia, taquicardia, calafrios). 
 
FARMACOLOGIA - Jassunção 
Esquizofrenia 
 
 A psicose é uma síndrome caracterizada por distorção grave da realidade, 
associada a alterações das capacidades afetiva, de comunicação e de relacionamento. 
Pode estar associada a diversos transtornos psiquiátricos (não é exclusiva da 
esquizofrenia). Os sintomas psicóticos incluem delírios, alucinações, desorganização da 
fala e do comportamento, distorção da realidade e embotamento afetivo. Alguns 
transtornos exigem a psicose como definidora do diagnóstico (esquizofrenia), 
enquanto outros têm a psicose como característica associada, mas não definitiva para 
diagnóstico (mania – transtorno bipolar tipo I, depressão). 
 A esquizofrenia é um transtorno psiquiátrico grave e crônico (90% dos pacientes 
não se curam). Para que o diagnóstico seja feito os sinais devem permanecer por um 
período mínimo de 6 meses, e ao menos 1 desses meses deve ser de sintomas 
psicóticos (fase ativa), com prejuízo sócio-ocupacional. É multifatorial – 
biopsicopessoal (predisposição genética associada a estresses ambientais e 
psicopessoais, e falha nos mecanismos adaptativos – maconha). Tem prevalência de 
0,5-1,0% na população adulta, sempre se instalando no adulto jovem (no homem a 
idade do pico é 20 anos, enquanto na mulher é 25 anos). A taxa de suicídio entre 
esquizofrênicos é alta: 70% tenta ao menos uma vez, sendo 10-20% consumado. 
 Os sintomas da esquizofrenia são divididos em dois grandes grupos: positivos 
(psicóticos – presentes na fase ativa) e negativos (precedem e sucedem a fase ativa). 
Os sintomas positivos são: 
• Delírios: interpretação equivocada da realidade percebida ou crenças falsas 
(bizarras ou paranoides). Os mais comuns são os persecutórios (perseguição). 
• Alucinações: alteração de qualquer modalidade sensorial (audição, visão, tato 
e paladar). As mais comuns são as auditivas. 
• Discurso desorganizado: argumentos incoerentes e ilógicos. 
• Comportamento desorganizado: desleixo com a aparência e com a higiene, 
hiperatividade, inquietação e respostas emocionais inadequadas. 
Os sintomas negativos são: 
• Embotamento afetivo: incapacidade de expressar os sentimentos. 
• Retraimento social: diminuição do interesse pelas interações sociais. 
• Anedonia: diminuição total do prazer. 
• Olhar indiferente, apatia e passividade. 
• Falta de espontaneidade. 
• Diminuição do desejo, da motivação e da iniciativa. 
• Restrições na fluência e na produtividade do pensamento/fala: monossilábico, 
o que diferencia da fase ativa, quando se fala muito. 
• Prejuízo da atenção. 
Os sintomas negativos isolados podem ser confundidos com a depressão – a 
diferença é que não respondem a antidepressivos. Eles definirão o prognóstico do 
paciente – são associados a longos períodos de internação e prejuízo no ajustamento 
social (quando muito intensos, o indivíduo não retoma a autonomia). 
A esquizofrenia possui 4 estágios, de acordo com a idade do paciente: 
1. Estágio I (0-15 anos): assintomático – funcionamento cerebral integral. 
2. Estágio II (15-20 anos): fase prodrômica em 
que começam os sintomas negativos – início 
insidioso (não fecha diagnóstico). 
3. Estágio III (20-40 anos): fase aguda, com 
ruptura psicótica – aparecimento de 
sintomas positivos (1º surto). Remissões e 
recaídas, com redução sem recuperação do 
funcionamento cerebral a cada surto, 
levando a um declínio cognitivo irreversível – assim, deve-se prevenir os surtos. 
4. Estágio IV (> 40 anos): predomínio de sintomas negativos e cognitivos. 
Para a esquizofrenia, o neurotransmissor chave é a dopamina. As vias 
dopaminérgicas envolvidas são a mesolímbica e a mesocortical. 
A via mesolímbica é envolvida na regulação das emoções, do prazer e da 
motivação, importante também na recompensa e no comportamento de reforço – 
associada com os sintomas positivos. O corpo celular dos neurônios fica no 
mesencéfalo e a terminação nervosa no sistema límbico, onde se libera dopamina nos 
receptores D2. Na esquizofrenia, ocorre uma hiperatividade desta via – aumento da 
liberação de dopamina e da estimulação de D2, o 
que gera os sintomas positivos. A 
dessensibilização de receptores não ocorre 
porque ela necessita de no mínimo 30 dias de 
estímulo, quando o surto já acaba. 
A via mesocortical é envolvida na 
regulação da cognição e do afeto – associada com 
os sintomas negativos. O corpo celular dos 
neurônios fica no mesencéfalo e as terminações 
nervosas nos córtices frontal e pré-frontal, onde 
é liberada a dopamina nos receptores D2. Na 
esquizofrenia, ocorre uma hipoatividade desta 
via – diminuição da liberação de dopamina e da 
estimulação de D2, o que gera os sintomas 
negativos. 
O tratamento da esquizofrenia se dá por fármacos antipsicóticos (que 
controlam o surto, previnem recaídas, diminuem o número de internações e 
melhoram a convivência familiar) e por reabilitação psicossocial, que resgata a 
autonomia, a individualidade e a capacidade de socialização e relacionamento do 
indivíduo. Os antipsicóticos são classificados em: 
• Típicos (1ª geração – Haloperidol, Clorpromazina, Levomepromazina): são 
antagonistas D2. Na via mesolímbica melhoram os sintomas positivos. Devem 
ser usados apenas durante o surto – em longo prazo (2-3 anos) geram muitos 
efeitos adversos (não são seletivos), sendo eles: 
▪ Na via mesocortical: acentuação dos sintomas negativos. 
▪ Na via nigroestriatal: bloqueio de alta afinidade de mais de 90% dos 
receptores D2 estriatais, com sintomas extrapiramidais (SEP) – 
parkinsonismo secundário (discinesia tardia – movimentos contorcionados 
orofaciais e de membros). 
OUTRAS VIAS DOPAMINÉRGICAS 
Ficam preservadas na esquizofrenia, 
mas podem sofrer ação dos 
antipsicóticos, com efeitos adversos. 
Via tuberoinfundibular: o corpo 
celular do neurônio fica no 
hipotálamo e a terminação nervosa 
na hipófise, onde é liberada a 
dopamina em D2, o que modula 
(diminui) a liberação de prolactina. 
Via nigroestriatal:o corpo celular do 
neurônio fica na substância negra do 
mesencéfalo e a terminação nervosa 
no corpo estriado do diencéfalo, onde 
é liberada a dopamina em D2. 
▪ Na hipófise: aumenta a liberação de 
prolactina, gerando diferentes efeitos nos 
homens (aumenta as mamas e diminui libido) 
e nas mulheres (galactorreia, amenorreia). 
▪ Bloqueio de M1 (visão turva, boca seca, 
sonolência e constipação), H1 (sonolência e 
ganho de peso) e α1 (tontura e hipotensão 
ortostática). 
• Atípicos (2ª geração – Aripiprazol, Clozapina, Olanzapina, Quetiapina, 
Risperidona): são antagonistas de serotonina (receptor 5HT2A) e dopamina 
(D2). A serotonina se liga nos 5HT2A das terminações nervosas da via 
mesocortical e modula a liberação de dopamina. Quando o antipsicótico atípico 
bloqueia 5HT2A, aumenta a liberação de dopamina no córtex, que compete com 
os antagonistas D2 e melhoram os sintomas negativos. Os sintomas positivos 
também melhoram pelo bloqueio de D2 na via mesolímbica. São tão efetivos 
quanto os típicos e não possuem um terço dos efeitos adversos. Alguns são 
injetáveis de depósito, o que facilita a adesão ao tratamento (aplicados 
intramuscular de 1-2x ao mês). Possuem baixo risco de SEP, e na hipófise não 
alteram a secreção de prolactina (bloqueiam D2, o que aumenta a liberação, e 
5HT2A, o que reduz – equilíbrio). As desvantagens, entretanto, estão no alto 
custo e no maior risco de efeitos adversos metabólicos (aumento da resistência 
à insulina e de triglicérides) – o ganho de peso é o principal fator para a não-
adesão entre jovens. Também podem ser empregados para tratamento de 
transtorno bipolar e depressão resistente (associados a antidepressivos), e para 
o controle da agressividade em idosos com demência e crianças autistas. 
▪ Clozapina: padrão ouro de eficácia, sendo a única capaz de reduzir o risco 
de suicídio, utilizada para tratamento de depressão psicótica grave, quando 
o paciente é resistente a outros antipsicóticos. Risco de agranulocitose 
(potencialmente fatal), convulsões, ganho de peso e efeitos adversos 
metabólicos. Tem efeito sedativo e pode causar hipotensão ortostática e 
sialorreia. 
▪ Quetiapina: também é antagonista de 5HT2C (aumenta a liberação de DA e 
de NA no córtex pré-frontal – ação pró-cognitiva e antidepressiva) e de 
5HT7 (ação antidepressiva) – é associada a antidepressivos para tratar 
depressão. Menor risco de ganho de peso. 
▪ Olanzapina: bastante sedativa, com alto risco de ganho de peso e efeitos 
adversos metabólicos. Zyprexa Relprev® (injetável de depósito) tem 
liberação prolongada. 
▪ Risperidona: baixo risco de efeitos adversos metabólicos. Única com uso 
pediátrico aprovado – utilizada para tratamento de autismo e de TDAH 
(associada à Ritalina – “Ri-Ri”). Risperdal Consta® (injetável de depósito) 
tem liberação prolongada. 
CONTRAINDICAÇÃO 
PARA IDOSOS 
Os antipsicóticos típicos são 
contraindicados para idosos 
por serem muito sedativos 
e por aumentarem o risco 
de AVC (Haloperidol). 
FARMACOLOGIA - Jassunção 
Epilepsia 
 
Uma crise epiléptica é composta de manifestações motoras, sensitivas, 
sensoriais, autonômicas e psiquiátricas, geralmente associadas a um foco no SNC. A 
convulsão é uma manifestação motora nem sempre relacionada à crise epiléptica 
(traumas, hipóxia, tumores, hipoglicemia, hipocalcemia, hiponatremia e febre são 
possíveis causas de convulsões não-epilépticas). As crises epilépticas classificam-se em: 
• Generalizadas: perda de consciência e de memória, sujeição a acidentes no 
decorrer da crise. Dividem-se em: 
▪ Tônico-clônica: aumento do tônus 
muscular, seguido de movimentos 
musculares excessivos por alguns minutos. 
Estímulos luminosos e sonoros muito 
intensos são gatilhos. 
▪ De ausência: comum na infância. Imobilidade e fixação do olhar por alguns 
minutos. A hiperventilação e a risada são gatilhos. 
▪ Atônica: comum na infância. Semelhante à de ausência, porém não há 
imobilidade – perda da força muscular e queda. 
▪ Mioclônica: ocorrem pequenas contrações musculares localizadas. 
• Parciais (focais): sem perda de consciência e de memória. Dividem-se em: 
▪ Simples: os sintomas dependem do local do foco epiléptico, que pode estar 
na área visual (perda ou alteração da visão), auditiva (surdez ou zumbido), 
motora (mioclonia local). 
▪ Complexas: turvação da consciência. Capacidade de realizar atividades de 
forma automática e robótica, sem resposta à estímulos externos. Perda 
parcial da memória. O foco é no lobo temporal. Pode ser acompanhada de 
alucinações e sensações de familiaridade com locais nunca antes visitados. 
A aura é a sensação tida pelo paciente quando este sabe que vai ter uma crise, 
preparando-se para ela. Pode-se ajudar o paciente durante a crise através de: decúbito 
lateral, proteção da cabeça, afastamento de objetos que possam causar lesão, 
remoção de locais perigosos – não deve-se tentar parar os seus movimentos. 
As drogas antiepilépticas têm como objetivo o controle das crises e a melhora 
da qualidade de vida, causando mínimos efeitos adversos. São divididas em quatro 
gerações: 1ª, 2ª, 3ª e 4ª, classificadas de acordo com o período de desenvolvimento 
(1ª e 2ª mais antigas, 3ª e 4ª mais novas), e não com a eficácia. Algumas das mais novas 
também são usadas para o tratamento de outras doenças, como o Topiramato (previne 
enxaqueca e ajuda no emagrecimento) e Lamotrigina e Gabapentina (dores crônicas). 
Os mecanismos de ação das drogas antiepilépticas podem ocorrer por aumento 
da atividade do GABA (neurotransmissor inibitório), diminuição da atividade do 
glutamato (neurotransmissor excitatório) ou bloqueio de canais de Na+ ou de Ca2+ 
(diminuindo a despolarização). 
• Barbitúricos: aumentam a atividade do GABA. 
▪ Fenobarbital: mais utilizado, pelas vias oral, venosa ou intramuscular, e de 
maior efeito, para epilepsia e indução do sono (anticonvulsivante e 
hipnótico). É barato e de fácil administração, e tem absorção completa e 
lenta. Sua ligação proteica no sangue é de 40-60%, e na associação com 
ESTADO DE MAL EPILÉPTICO 
Ocorre quando há crises 
consecutivas, sem tempo para 
recuperação entre elas, e indica 
hospitalização. 
outras medicações é importante a preponderância da sua forma livre. 25% 
é eliminado pelo rim e o restante é metabolizado pelo citocromo P450 (no 
qual causa indução enzimática). Os efeitos adversos são sedação, nistagmo 
(movimento oscilatório do olho), ataxia (perda de coordenação motora), 
irritabilidade, hiperreatividade (crianças), agitação e confusão (idoso). A 
intoxicação só é revertida pela alteração do pH do meio (como é ácido, é 
necessária a alcalinização – bicarbonato e diurético), já que não possui 
nenhum antagonista. Não deve ser associado com anticoncepcionais 
(inibidor enzimático – corta o efeito), e mulheres grávidas devem ter as 
doses reduzidas. Usado para Estado de Mal Epiléptico e crises parcial 
simples e tônico-clônica generalizada. 
▪ Tionembutal: é utilizado pela via endovenosa e possui ação ultra curta. 
Atua no SNC e causa depressão cardiorrespiratória, usado na UTI no Estado 
de Mal Epiléptico para induzir o coma (neurônios trabalham em ritmo 
lento, permitindo a recuperação de traumas ou cirurgias). 
▪ Primidona: é um desoxibarbitúrico, pró-fármaco com dois metabólitos 
ativos, o Fenobarbital e a Fenilmetilmalonamida. Os efeitos adversos são 
sedação, vertigem, ataxia, diplopia e nistagmo, e a longo prazo pode 
ocorrer risco de alergia (Doença de Steve-Johnson – descamação da pele, 
bolhas e desidratação, que pode levar à morte). Pode induzir a Síndrome 
Lúpica (semelhante ao Lúpus – anticorpos contra os núcleos das células) e 
a agranulocitose. Usada nas crises tônico-clônica generalizada, parcial 
simples e parcial complexa. 
• Fenitoína: bloqueia canais de Na+. Tem absorção lenta e incompleta (pior em 
genéricos) e grande ligação com proteínas plasmáticas (90%). Não é 
administradopela via intramuscular (não é absorvida) e precipita com a 
maioria dos soros – a administração deve ser feita o mais rápido possível 
(30min) em soro glicosado gota a gota para não precipitar. Os efeitos adversos 
agudos são nistagmo, ataxia, diplopia, vertigem e visão borrada, enquanto os 
crônicos são hirsutismo (aumento de pelos), hiperplasia gengival (pode evoluir 
para perda de dentes), hiperglicemia, inibição da Vasopressina, hepatite, 
linfadenomegalia, malformações fetais e alergias (geneticamente 
determinadas). Não causa sonolência como o Fenobarbital. Usada no Estado de 
Mal Epiléptico e nas crises tônico-clônica generalizada e parcial simples, e 
também nas convulsões por trauma por ser a única que não atua no SNC. 
• Carbamazepina: bloqueia canais de Na+. Utilizada pela via oral e disponível na 
rede pública. Tem ligação proteica de 70% e é metabolizado pelo citocromo 
P450, gerando um metabólito ativo e tóxico. Os efeitos adversos são diplopia, 
ataxia e visão borrada, podendo ocorrer alergia (Stevens-Johnson – 
geneticamente determinado). Pode promover leucopenia (12% em crianças e 
7% em adultos – transitória e mais frequente nos 3 primeiros meses), 
hepatopatia e aplasia de medula (rara e idiossincrática – não depende da dose). 
Potencializa a Vasopressina, causando edema e hiponatremia. Usada nas crises 
tônico-clônica generalizada, parcial simples e parcial complexa (1ª escolha). 
• Oxcarbazepina: derivada da Carbamazepina e desenvolvida para reduzir os 
seus efeitos adversos, por produzir um metabólito inativo – entretanto, é 
menos utilizada por ser mais cara. É um indutor enzimático potente (interfere 
com anticoncepcionais). Usada nas mesmas crises que a Carbamazepina. 
• Valproato de sódio ou Ácido Valpróico: aumenta a atividade do GABA e inibe 
canais de Na+ e Ca2+. Tem ligação proteica alta (90%), é absorvido de forma 
rápida e completa e excretado inalterado na urina (5%) e metabolizado (95%) 
por conjugação e oxidação (citocromo P450 – inibidor enzimático da 2C9), 
formando metabólitos ativos. Os efeitos adversos são sedação, ataxia, tremor, 
disfunções no TGI (principalmente), anorexia, náuseas, diarreia e malformações 
fetais. Possui hepatotoxicidade (mais frequente em crianças). Pode aumentar a 
quantidade de amônia levando ao coma (encefalopatia hiperamonêmica). 
Usado no Estado de Mal Epiléptico e nas crises tônico-clônica generalizada, de 
ausência, tônica (1ª escolha), e mioclônica (2ª escolha). 
• Benzodiazepínicos: aumentam a atividade do GABA, sendo os mais utilizados o 
Diazepam, o Clonazepam, e o Clobazam. Os efeitos adversos são fadiga, sono, 
perda de coordenação e ataxia. Também podem diminuir a eficácia dos 
anticoncepcionais. Usados no Estado de Mal Epiléptico e nas crises de ausência, 
tônica (2ª escolha) e mioclônica (1ª escolha). 
• Etossuximida: bloqueia canais de Ca2+. Os efeitos adversos são náuseas, 
anorexia, letargia e tonturas, e raramente causam agranulocitose ou 
apresentam hepatotoxicidade. Usada nas crises de ausência, tônica e 
mioclônica (3ª escolha para todas). 
O paciente deve ser medicado por no mínimo 2 anos antes da interrupção, 
quando as doses devem ser diminuídas gradualmente, atentando-se para a 
reincidência das crises (se voltarem a ocorrer, a medicação deverá ser feita por toda a 
vida). O paciente com a doença controlada pode ser liberado para dirigir, mediante 
reavaliações periódicas (luzes dos carros podem ser gatilhos para as crises). 
Quando apenas uma droga não basta para evitar as convulsões, é possível 
associar diferentes medicamentos, atentando-se, entretanto, para a metabolização 
hepática das drogas associadas (um pode induzir a enzima que metaboliza o outro, por 
exemplo). Não é recomendada a troca das marcas dos medicamentos (genéricos – 
apesar dos efeitos semelhantes, uma pequena diferença pode ser suficiente para a 
reincidência das crises). 
Devido à existência das convulsões não epilépticas, em uma primeira crise 
convulsiva não são utilizadas drogas antiepilépticas (apenas Fenitoína – não atua no 
SNC), mas somente após reincidências. 
FARMACOLOGIA	-	Jassunção	
Benzodiazepínicos	
	
Os	benzodiazepínicos	(BZD)	são	os	principais	fármacos	sedativo-hipnóticos,	os	
quais	deprimem	o	SNC,	promovendo	tanto	um	efeito	sedativo	(ansiolítico	–	sensação	
de	 calma	 e	 tranquilidade	 e	 redução	 da	 ansiedade)	 quanto	 um	 efeito	 hipnótico	
(sonolência	–	facilitação	do	início	e	manutenção	do	sono).	Dessa	forma,	os	seus	efeitos	
gerais	e	principais	indicações	clínicas	são:	
• Ansiolítico:	são	adjuvantes	no	tratamento	dos	
transtornos	de	ansiedade.	Os	de	maior	efeito	
são:	 Alprazolam	 (Frontal®),	 Bromazepam	
(Lexotan®),	 Clonazepam	 (Rivotril®)	 e	
Diazepam	(Valium®).	
• Hipnótico:	para	a	 insônia.	Os	de	maior	efeito	
são	 Flunitrazepam	 (Rohypnol®	 -	 “boa-noite	
Cinderela”)	e	Midazolam	(Dormonid®).	
• Parte	 da	 medicação	 pré-anestésica:	 são	 adjuvantes	 em	 anestesia	 geral	 por	
promoverem	sedação	e	amnésia	anterógrada	(dificulta	a	fixação	da	memória	
para	fatos	novos	após	a	administração),	antes	e	no	decorrer	do	procedimento.	
• Anticonvulsivante:	tratamento	da	epilepsia	e	dos	estados	convulsivos.	
• Relaxamento	muscular:	distúrbios	neuromusculares	específicos	(adjuvantes).	
O	alvo	molecular	para	qualquer	BZD	é	o	receptor	GABAA,	que	é	um	canal	de	Cl-	
regulado	por	ligante,	aberto	pelo	GABA,	cujo	sítio	de	ligação	é	diferente	daquele	do	
BZD	(que	é	incapaz	de	abrir	o	canal	na	ausência	do	GABA).	O	receptor	GABAA	possui	5	
subunidades	 (duas	 β,	 duas	 α	 e	 uma	 δ)	 que	
podem	ser	diferentes	de	acordo	com	o	canal	(α1,	
α2,	α3	etc.),	determinando	subtipos	diferentes	–	
isso	faz	com	que	os	fármacos	possuam	afinidade	
diferente	para	cada	receptor:	aqueles	de	efeito	
hipnótico	possuem	maior	afinidade	por	GABAA	
α1,	 enquanto	 aqueles	 de	 efeito	 ansiolítico	
possuem	maior	afinidade	por	GABAA	α2	e	α3.	
Quando	 ativa	 o	 GABAA	 (abertura	 do	
canal	 de	 Cl-),	 o	 GABA	 modula	 a	 transmissão	
nervosa	 sináptica	 no	 SNC,	 promovendo	
hiperpolarização	 (Cl-	 entra	 no	 neurônio),	 e	
dificultando	a	propagação	do	potencial	de	ação.	
Quando	o	BZD	se	liga	ao	GABAA,	aumenta	a	sua	afinidade	pelo	GABA,	potencializando	
o	seu	efeito	–	maior	influxo	de	Cl-	e	maior	hiperpolarização.	
A	amígdala	é	a	estrutura	cerebral	responsável	por	avaliar	o	grau	de	ameaça	de	
um	 estímulo	 –	 é	 ela	 que	 desencadeia	 a	 ansiedade	 a	 partir	 da	 interpretação	 de	
estímulos	 cotidianos	 como	 perigosos.	 Quando	 o	 efeito	 inibitório	 do	 GABA	 é	
potencializado	pelo	BZD,	o	efeito	ansiolítico	ocorre	na	amígdala.	
Os	efeitos	adversos	promovidos	pelos	BZD	são:	sonolência	diurna,	redução	dos	
reflexos,	 prejuízo	 no	 equilíbrio	 e	 prejuízo	 cognitivo	 (raciocínio	 mais	 lento	 e	 difícil	
fixação	da	memória)	–	dessa	forma,	o	seu	uso	é	contra-indicado	para	idosos	(risco	de	
quedas	e	fraturas)	e	pacientes	com	demência.	Além	disso,	o	uso	concomitante	com	
TRANSTORNOS		
DE	ANSIEDADE	
São	 adjuvantes	 no	 tratamento,	
pois	 são	 associados	 com	
antidepressivos	 durante	 os	
primeiros	6-8	meses,	para	evitar	
o	 efeito	 ansiogênico	 inicial	 das	
drogas	antidepressivas.		
álcool	 gera	potencialização	 do	 efeito	 depressor	 –	 existe	 um	 sítio	 de	 ligação	 para	 o	
álcool	no	receptor	GABAA,	que	potencializa	ainda	mais	o	efeito	do	BZD.	Apesar	de	os	
BZD	serem	fármacos	muito	seguros	(índice	terapêutico	muito	alto	e	necessidade	do	
GABA	para	agirem	–	mesmo	em	doses	altas,	a	única	coisa	que	acontece	é	a	sonolência	
em	excesso),	a	associação	com	o	álcool	é	perigosa,	porque	este	não	atua	apenas	no	
GABAA,	mas	também	em	outros	receptores,	potencializando	muito	o	efeito	depressor.	
Os	 BZD	 induzem	 tolerância	 aos	 efeitos	 ansiolíticos	 e	 hipnóticos	 com	 o	 uso	
continuado	(necessidade	de	maior	dose	para	obter	o	efeito	inicial).	Provocam	também	
dependência,	 o	 que	 significa	que	uma	 suspensão	abrupta	pode	 causar	 sintomas	de	
rebote	 (semelhantesaos	 da	 ansiedade,	 com	 maior	 intensidade)	 ou	 síndrome	 de	
abstinência	(ansiedade,	irritabilidade,	insônia,	tremores,	sudorese)	–	a	retirada	deve	
ser	gradual,	para	que	o	receptor	se	acostume	com	uma	dosagem	menor	até	parar.	
Casos	 de	 intoxicação	 por	 BZD	 induzem	 depressão	 respiratória	 e	 podem	 ser	
revertidos	por	uso	de	antagonistas	competitivos	reversíveis	de	receptores	GABAA,	que	
se	 ligam	 no	mesmo	 sítio	 dos	 fármacos	 –	 Flumazenil	 (injetável).	 Estes	 antagonistas	
também	podem	ser	utilizados	para	acelerar	a	recuperação	do	paciente	após	uso	de	
BZD	como	pré-anestésicos	em	procedimentos	cirúrgicos	e	diagnósticos.	
FARMACOLOGIA - Jassunção 
Antidepressivos 
 
A depressão é um transtorno do humor crônico que se manifesta pela presença 
de um ou mais Episódios Depressivos Maiores (EDM), caracterizados por humor 
deprimido (tristeza, sensação de vazio e desesperança) ou anedonia (perda do 
interesse ou prazer), com alterações cognitivas, vegetativas (alteração no peso) e 
comportamentais, que trazem ao indivíduo sofrimento ou prejuízo significativo do 
funcionamento social e profissional. Esses sintomas estão presentes todos os dias, na 
maior parte do dia, durante pelo menos 15 dias consecutivos. A predisposição genética 
é de 40%, porém é necessário um gatilho psico-social, emocional ou mecanismo 
biológico adaptativo para desencadear a doença. 
As vias neuronais importantes para a depressão são a 
noradrenérgica (NA), serotonérgica (5HT – neurotransmissor 
do humor) e dopaminérgica (DA). Em indivíduos normais, há 
produção e liberação de quantidades ideais de 5HT, DA e NA 
(monoaminas) na fenda sináptica, que se ligam aos receptores 
pós-sinápticos, ativando-os e promovendo despolarização dos 
neurônios pós-sinápticos (propagação do potencial de ação). 
Em indivíduos com depressão, a síntese de monoaminas pelos 
neurônios pré-sinápticos é diminuída, e menos chegam à 
fenda (deficiência sináptica), sendo que as bombas de 
recaptação para os neurônios pré-sinápticos continuam agindo 
normalmente. Com isso, os neurônios pós-sinápticos começam 
a produzir e expressar mais receptores, na tentativa de manter 
a neurotransmissão – up-regulation compensatória dos 
receptores. A diminuição de monoaminas associada ao 
fenômeno de up-regulation é o que desencadeia os sintomas 
da depressão. 
Quando a concentração sináptica de monoaminas na fenda é aumentada 
farmacologicamente, ocorre o fenômeno de down-regulation compensatória dos 
receptores – a quantidade de receptores nos neurônios pós-sinápticos diminui, já que 
não são mais necessários (dessensibilização). Isso permite uma melhora dos sintomas 
da depressão. Os fármacos antidepressivos inibem as bombas de recaptação para os 
neurônios pré-sinápticos, aumentando a concentração de monoaminas na fenda, 
sendo este efeito farmacológico imediato – porém, os sintomas da depressão 
melhoram apenas quando ocorre down-regulation, o que não é imediato – esse 
processo começa de 15-21 dias depois do início do tratamento, o que caracteriza um 
efeito terapêutico tardio (o primeiro mês de tratamento apresenta vários efeitos 
adversos e nenhum efeito terapêutico – disfunção sexual, taquicardia, ansiedade etc. 
Os antidepressivos inibidores de recaptação de monoaminas dividem-se em: 
• Antidepressivos Tricíclicos (TCA): Amitriptilina, Clomipramina, Imipramina e 
Nortriptilina. Promovem inibição da recaptação de NA e 5HT. Geram efeitos 
adversos porque bloqueiam (antagonismo) α1 (tontura, sonolência, queda da 
PA), H1 (ganho de peso e sonolência) e M1 (constipação intestinal, retenção 
urinária, visão turva, boca seca, sonolência, confusão mental) – potencialmente 
inadequados para idosos. Empregados no tratamento da fibromialgia e na 
profilaxia da enxaqueca. A overdose (ingestão de mais de 1g por dia) é 
potencialmente fatal – no SNC causa convulsões e coma, enquanto no coração 
causa arritmias e parada cardíaca (toxicidade cardíaca). 
• Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina (ISRS): Citalopram, 
Escitalopram, Fluoxetina, Fluvoxamina, Paroxetina e Sertralina. Promovem 
inibição seletiva e potente da recaptação de 5HT. O efeito terapêutico 
(antidepressivo e ansiolítico) se dá pela down-regulation de 5HT1A. Os efeitos 
adversos ocorrem pela atuação em 5HT2A (ansiedade, insônia e disfunção 
sexual), 5HT3 (em TGI – náuseas, diarreia e dores de estômago) e 5HT2C 
(disfunção sexual e anorexia), que desaparecem pela down-regulation. 
• Inibidores da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (IRSN): Venlafaxina, 
Desvenlafaxina, Duloxetina e Milnaciprano. Promovem inibição da recaptação 
de 5HT e NA. O efeito terapêutico se dá pela down-regulation de 5HT1A, através 
da inibição substancial da NAT e da SERT (proteínas responsáveis pela 
receptação de NA e 5HT). São mais seletivos, sem ação antagonista sobre 
receptores α1, H1 e M1 (sem efeitos adversos correspondentes). São indicados 
para o tratamento de depressão, dos transtornos de ansiedade, da fibromialgia 
e da neuropatia diabética (Duloxetina e Milnaciprano), e dos sintomas 
vasomotores (ondas de calor) associados à menopausa. Os efeitos adversos são 
tremores, agitação, aumento da PA, boca seca, constipação, taquicardia, 
insônia, ansiedade, disfunção sexual, anorexia, náuseas e dores no estômago. 
• Inibidores da Recaptação de Noradrenalina e Dopamina (IRND): Bupropiona. 
Promovem inibição da recaptação de NA e DA. Indicados para o tratamento da 
dependência de nicotina e da compulsão alimentar. Os efeitos adversos são 
convulsões, ansiedade, insônia e perda de apetite. 
Além destes, existem os Antidepressivos Atípicos, assim denominados por 
possuírem outros mecanismos de ação. 
A Trazodona promove bloqueio potente (em baixas doses) de 5HT2A pós-
sináptico, e bloqueio dependente de dose da recaptação neuronal de 5HT. A sua 
principal indicação clínica é o tratamento da insônia associada à depressão e, em 
associação a ISRS, o tratamento da disfunção sexual e diminuição da libido. 
A Mirtazapina promove bloqueio de receptores α2 nas terminações pré-
sinápticas noradrenérgicas e serotonérgicas. Quando a NA se liga a α2, há redução da 
liberação de NA e da 5HT. A Mirtazapina, antagonista α2, impede a ação da NA, e então 
ocorre maior liberação de NA e de 5HT, o que promove down-regulation de receptores 
de 5HT1A – efeito terapêutico (antidepressivo e ansiolítico). Devido ao bloqueio dos 
receptores 5HT2A, 5HT2C e 5HT3 pós-sinápticos ocorre a ausência de efeitos adversos 
correspondentes (como em ISRS). É indicada para o tratamento da depressão 
(monoterapia) ou, associada aos ISRS e IRSN, o tratamento da disfunção sexual e 
insônia. Também pode ser usada em idosos depressivos com baixo peso, pois bloqueia 
5HT2C e H1, causando ganho de peso (aumento do apetite) e sono (bloqueio de H1 – 
anti-histamínico). Normalmente utilizada em associação (não é a primeira opção). 
A Vortioxetina é um antidepressivo novo e multimodal, por promover inibição 
da receptação neuronal de 5HT e antagonismo de 5HT1A (parcial), 5HT1B e 5HT3, 5HT7 
e 5HT1D (o que aumenta a liberação de 5HT). Não provoca disfunção sexual e tem 
efeitos pró-cognitivos (aumento da liberação de Ach no córtex). Os principais efeitos 
adversos são náuseas e perda do apetite. 
FARMACOLOGIA	-	Jassunção	
Anti-histamínicos	e	AINEs	
	
	 A	 inflamação	 possui	 fenômenos	 vasculares	 (vasodilatação	 –	 aumento	 de	
perfusão	 local	 que	gera	 rubor,	calor,	 e	aumento	da	permeabilidade),	 que	ajudam	a	
gerar	o	edema	local,	e	fenômenos	celulares	(migração	leucocitária).	A	dor	é	um	fator	
limitante	 na	 inflamação	 –	 é	 o	principal	motivo	 pelo	 qual	 um	 paciente	 utiliza	 anti-
inflamatórios,	 além	 de	 algumas	 condições	 de	 edema	 que	 limitam	 as	 funções	 na	
condição	crônica.	Os	medidores	inflamatórios	são	responsáveispelos	eventos	ocorridos	
na	 resposta,	 e	 eles	 podem	 estar	 armazenados	 (histamina)	 ou	 livres	 no	 plasma	
(produzidos	após	o	estímulo	celular	–	eicosanóides).	
A. HISTAMINA	
Produzida	 por	mastócitos	 (inflamação	 –	 receptor	H1),	 por	células	 cromafins-
símile	da	mucosa	gástrica	 (produção	de	HCl	–	 receptor	H2)	e	por	neurônios	do	SNC	
(vigília	e	vômito	–	receptores	H1,	H3	e	H4).	Na	resposta	inflamatória,	a	ação	sobre	H1	
promove	vasodilatação,	aumento	da	permeabilidade,	broncoconstrição	e	prurido.		
• Anti-histamínicos:	 são	 antagonistas	 H1	 (efeitos	 são	 a	 vasoconstrição	 e	 a	
diminuição	da	permeabilidade).	São	usados	como	antialérgicos	e	divididos	em:	
§ 1ª	geração:	alta	 lipossolubilidade	 (ação	central)	 com	ação	anticolinérgica	
(também	são	antagonistas	muscarínicos),	o	que	gera	efeitos	adversos	como	
sonolência,	 letargia,	perda	de	coordenação	motora,	aumento	do	apetite,	
retenção	 urinária	 e	 constipação	 intestinal.	 Exemplos:	 Bronfeniramina,	
Prometazina	(Fenergan®),	Clorfeniramina,	Desclorfeniramina,	Hidroxizine,	
Difenidramina,	etc.	
§ 2ª	 geração:	 baixa	 lipossolubilidade,	 sem	 ação	 anticolinérgica	 (menos	
efeitos	adversos).	Exemplos:	Loratadina,	Desloratadina,	Fexofenadina	etc.	
B. EICOSANÓIDES	
Nunca	estão	pré-formados	–	a	síntese	
ocorre	mediante	estimulação	celular,	quando	
PLA2	(fosfolipase	A2)	quebra	fosfolipídeos	de	
membrana	 em	 ácido	 araquidônico	 e	 liso-
glicerilfosforilcolina.	 Sobre	 o	 ácido	
araquidônico	 agem	 as	 enzimas	 COX	
(cicloxigenase)	 e	 LPX	 (lipoxigenase).	 COX	
produz	intermediários	sobre	os	quais	atuarão	
outras	enzimas	 (dependendo	do	 tecido),	que	
formarão	as	prostaglandinas	(PG)	e	a	tromboxano	(TX).	LPX	formará	os	leucotrienos.	A	
partir	da	liso-glicerilfosforilcolina	é	produzido	FAP	(fator	de	ativação	plaquetária).	
Na	 inflamação,	 as	 prostaglandinas	 são	 responsáveis	 pela	 hiperalgesia	 (dor	 –	
sensibilizam	os	nociceptores)	e	contribuem	para	a	vasodilatação	e	para	o	aumento	da	
permeabilidade.	 Além	 disso,	 PGE1	 (prostaglandina	 E1)	 é	mediadora	 da	 febre	 –	 nos	
processos	inflamatórios	o	aumento	da	produção	de	interleucinas	(IL-2	e	IL-6)	promove	
a	formação	de	PGE1,	que	no	hipotálamo	determina	um	aumento	de	temperatura.	
Existem	 basicamente	 dois	 tipos	 de	 COX:	 COX1	 e	 COX2.	 A	 COX1	 promove	 a	
produção	de	PG	no	epitélio	gástrico,	diminuindo	a	secreção	de	HCl	e	aumentando	a	de	
muco,	gerando	assim	proteção	gástrica.	A	COX2	promove	a	produção	de	PG	em	células	
inflamatórias,	causando	inflamação,	dor	e	febre.		
• AINEs	 (analgésicos,	 antitérmicos	 e	 anti-inflamatórios	 não-esteroidais):	 são	
inibidores	da	COX	(diminuindo	PG	e	TX)	com	seletividades	diferentes.		
LOCAL	DE	
ATUAÇÃO	 ENZIMA	 PRODUTO	 AÇÃO	
EFEITO	ADVERSO	DA	INIBIÇÃO	
(AINEs)	
Células	
inflamatórias	 COX2	 PGE2	e	PGF2	 Dor,	febre,	inflamação		 Inibição	da	inflamação		
Epitélio	
gástrico	 COX1	 PGE2	e	PGF2	 Proteção	gástrica	 Gastrite	(úlceras)	
Rim	 COX2	 PGE2	e	PGF2	
Vasodilatação	
(aumento	da	perfusão	
e	filtração)	
Vasoconstrição	 (diminuição	 da	
perfusão	 e	 da	 filtração),	 que	
ativa	 o	 SRAA,	 que	 estimula	 a	
retenção	de	Na+	e	água	–	evitar	
em	hipertensos.		
Uso	 abusivo	 gera	 lesões	 na	
estrutura	 renal	 –	 evitar	 em	
pacientes	 com	 problemas	
renais	ou	que	só	têm	um	rim.	
Células	
endoteliais	 COX2	
PGI2	
(prostaciclina)	
Vasodilatação	–	 	 inibe	
agregação	plaquetária	 Coagulação	(trombose)	
Plaquetas	 COX1	 TXA2	
Vasoconstrição	–	ativa	
agregação	plaquetária	
Inibição	 da	 coagulação	
(hemorragia)	
Útero	 COX2	 PGE2	e	PGF2α	 Contração	uterina	 Relaxamento	uterino	
§ AAS:	em	dose	baixa	(100-200mg)	 inibe	seletivamente	COX1	(utilizado	em	
cardiopatas	–	inibe	agregação	plaquetária).	Quando	se	aumenta	a	dose	(>	
500mg),	 também	 inibe	 a	 COX2.	 No	 estômago	 é	 o	 que	 mais	 promove	 a	
gastrite	 pois,	 além	 de	 diminuir	 PG,	 tem	 ação	 irritante	 local	 na	 mucosa	
gástrica,	podendo	causar	úlcera	hemorrágica	–	comprimidos	de	liberação	
entérica	minimizam	este	efeito.	Pode	promover	salicilismo	 (alteração	no	
labirinto	que	gera	vertigem,	tontura	e	vômitos).	
§ COXIBES	(Celecoxibe	e	Etoricoxibe):	inibidores	seletivos	de	COX2.	Evitados	
em	cardiopatas,	pois	favorecem	a	trombose	arterial	e	os	infartos.	Utilizados	
para	cólicas	menstruais.	
§ Diclofenaco,	Nimesulida	e	Meloxicam:	 inibem	COX1	e	COX2,	 com	maior	
seletividade	para	a	COX2.	Nimesulida	possui	hepatotoxicidade.	
§ Paracetamol:	não	 tem	ação	anti-inflamatória,	 e	possui	hepatotoxicidade	
gerada	pelo	seu	metabólito	de	fase	I,	gerado	pelo	citocromo	P450.	Em	caso	
de	 intoxicação,	administra-se	acetilcisteína,	que	aumenta	glutationa,	que	
se	conjuga	com	o	metabólito,	fazendo	com	que	ele	perca	a	sua	toxicidade.	
§ Dipirona:	 tem	melhor	 resposta	 anti-térmica.	 Em	 uso	 prolongado	 pode	
causar	agranulocitose	(diminuição	dos	granulócitos	no	sangue).		
§ Ibuprofeno,	 Naproxeno,	 Cetoprofeno,	 Piroxicam,	 Tenoxicam,	 Ácido	
Mefenâmico,	Sulindaco	e	Cetorolaco:	inibem	COX1	e	COX2	de	forma	mais	
homogênea.	
FARMACOLOGIA - Jassunção 
Farmacologia Molecular 
 
 A farmacologia estuda a comunicação entre as células, através de substâncias 
químicas. A farmacologia molecular estuda o mecanismo de ação das drogas. 
Antigamente, não se sabia o que ocorria após a administração de um medicamento, mas 
apenas que perante ela o organismo gerava uma resposta. Dale, em 1902, trabalhou 
com o SNA colinérgico e chegou à conclusão de que a acetilcolina possui as seguintes 
propriedades: alta potência (uma pequena quantidade da substância tinha grande 
resposta), alta seletividade (quando o tecido alvo é trocado, o efeito muda) e alta 
especificidade (de estrutura química – pouca modificação na estrutura gera grande 
mudança no efeito). Descobriu-se depois que toda substância endógena possui essas 
três características. Baseando-se nisso, Furchgott, em 1952, então propôs a teoria do 
receptor farmacológico. Percebeu que só algumas partes da célula precisam interagir 
com a substância para se obter resposta (alta potência), e essas pequenas porções são 
moléculas (alta especificidade) diferentes para cada tecido (alta seletividade). Com essas 
três conclusões, chegou à definição do receptor farmacológico: proteína de membrana 
que, quando é atingida por uma 
substância, pode gerar uma resposta 
de função fisiológica da célula, sendo 
que neste caso a substância é 
chamada de agonista, ou pode 
acoplar-se ao receptor e não gerar 
resposta fisiológica, e além disso seu 
acoplamento bloqueia a ação do 
agonista por agir no mesmo receptor 
dele, sendo chamada de antagonista 
farmacológico (mesmo receptor). 
 A acetilcolina, quando interage com o receptor muscarínico (ação) do músculo 
liso, provoca contração muscular (efeito). O buscopan age no mesmo receptor (também 
tem ação), só que não recebe resposta celular e não provoca efeito fisiológico, mas 
bloqueia o efeito da acetilcolina (ele não relaxa a musculatura, apenas não permite a 
contração – por essa razão impede uma cólica menstrual, por exemplo). Esse 
antagonista farmacológico, assim, é de ação, por atuar no receptor farmacológico. No 
organismo, entretanto, também existe o antagonista fisiológico, que é o que o 
organismo usa para compensar os efeitos dos agonistas. O antagonista fisiológico nada 
mais é do que um outro agonista, que atua em receptores diferentes e causando efeito 
oposto. No exemplo acima, por exemplo, a adrenalina atua nos receptores β2 causando 
um relaxamento do músculo liso. Os agonistas endógenos, assim, atuam compensando 
uns aos outros para manter a homeostase, enquanto que os antagonistas 
farmacológicos não são produzidos pelo organismo. 
 Os receptores farmacológicos não são os únicos alvos moleculares das 
substâncias, havendo também enzimas, canais iônicos (ROC – canal operado por 
receptor, e VOC – canal operado por voltagem) e ácidos nucleicos (DNA e RNA). 
Clarke, em 1930, criou a teoria da ocupação: uma droga ocupa um receptor 
formando um complexo DR (droga + receptor), equanto mais destes complexos 
formados, maior o efeito gerado. Entretanto, quando uma substância entra em contato 
com um receptor nem sempre um efeito é gerado (caso do antagonista farmacológico), 
e por isso a teoria não explica o mecanismo completo. Então Ariëns e Stevenson, em 
1962 e 1963, criaram a teoria da ocupação e ativação a partir de duas constantes: a 
constante de afinidade e a constante da atividade intrínseca. A constante de afinidade 
(Kaf) mede a capacidade que cada molécula tem de ocupar o receptor: 𝑲𝒂𝒇 =
𝟏
𝑫𝑬𝟓𝟎
 , 
sendo que DE50 é o valor da dose necessária para provocar metade do efeito máximo 
da droga. A constante da atividade intrínseca (α) mede o efeito da droga, a partir de 
uma comparação com o efeito do agonista forte, que é o agonista endógeno do 
receptor: 𝜶 =
𝒆𝒇𝒆𝒊𝒕𝒐 𝒎á𝒙𝒊𝒎𝒐 𝒅𝒂 𝒅𝒓𝒐𝒈𝒂
𝒆𝒇𝒆𝒊𝒕𝒐 𝒎á𝒙𝒊𝒎𝒐 𝒅𝒐 𝒂𝒈𝒐𝒏𝒊𝒔𝒕𝒂 𝒇𝒐𝒓𝒕𝒆
 𝒙 𝟏𝟎𝟎, e admitiam que o α pode ir de 0, 
caso do antagonista farmacológico (sem efeito), até 100, e isso permite a conclusão de 
que nenhuma droga tem efeito maior que o agonista endógeno, o que não é verdade: 
esse limite superior pode ser superado por substâncias exógenas – o conceito da 
margem de segurança se refere ao fato de que os agonistas endógenos nunca ocupam 
todos os receptores existentes na célula. Os agonistas exógenos de efeito máximo maior 
que o do agonista endógeno são chamados de drogas de alta eficácia, vantajosas por 
não utilizarem tanta maquinaria bioquímica, conseguindo um efeito muito maior do 
que o dos agonistas endógenos utilizando muito menos receptores, podendo então ser 
administradas em doses menores. Stevenson, para corrigir isso, criou a constante de 
eficácia (e), calculada da mesma maneira que a constante de atividade intrínseca, mas 
com a diferença de não estabelecer um limite superior, podendo ir de 0 ao infinito. É a 
eficácia que é utilizada, assim, para medir efeito da droga. 
 É chamado de acoplamento o conjunto estímulo (presença da droga) e resposta 
(o que a droga faz). Existem dois tipos: o direto (quando o receptor é o canal iônico) e a 
transdução (quando é necessária uma segunda substância diferente do agonista, 
chamada de segundo mensageiro – os dois fundamentais são o cAMP e o Ca2+), sendo 
que a maior parte dos nossos receptores atuam por transdução. Para que os segundos 
mensageiros sejam mobilizados são necessárias proteínas G, integrantes da membrana. 
O cAMP necessita das proteínas GS e GI, enquanto o Ca2+ necessita da proteína GQ: 
a) PROTEÍNA GS: é associada a uma enzima adenilato ciclase, que transforma ATP 
em cAMP. Quando a droga chega na biofase (uma região extracelular onde o 
receptor exerce influência elétrica) exerce sobre o receptor forças de Van der 
Waals, modificando a sua conformação. Um agonista chega à biofase e muda a 
conformação do receptor, que muda a conformação da proteína GS, que 
estimula a adenilato ciclase, aumentando a produção de cAMP, o que estimula 
o metabolismo da célula (um exemplo desse tipo de receptor é o β1, presente 
em todo o coração e reconhecido pela adrenalina, e a maior produção de cAMP 
estimula a contração do músculo cardíaco). Um antagonista chega à biofase e 
muda a conformação do receptor, mas isso não gera resposta da proteína G. 
b) PROTEÍNA GI: tem o mesmo mecanismo da GS, mas é inibitória: diminuirá a 
produção de cAMP pela inibição da adenilato ciclase, diminuindo o 
metabolismo da célula (um exemplo desse tipo de receptor é o β2, presente na 
musculatura lisa de brônquios e reconhecido pela adrenalina, e a diminuição de 
cAMP causa broncodilatação). 
c) PROTEÍNA GQ: não associa-se com a adenilato ciclase, mas com enzimas da via 
dos fosfoinositídeos, que transforma PIP2 em IP3. Um agonista chega à biofase 
e muda a conformação do receptor, que muda a conformação da proteína Gq, 
que estimula as enzimas, aumentando a produção de IP3. A existência de Ca2+ 
livre no citosol significa que a célula está em sofrimento – começa a acumular 
fatores de apoptose, aproximando-se da morte celular. O IP3 em grandes 
quantidades fura a membrana do sarcoplasma, liberando Ca2+, que se ligará às 
proteínas calmodulina e troponina, formando complexos que estimulam o 
metabolismo celular (um exemplo desse tipo de receptor é o α1, presente na 
pele é reconhecido pela adrenalina, que quando tem um pico promovem a 
vasoconstrição cutânea). 
 As curvas dose-resposta possuem a mesma 
conformação de hipérbole, com um efeito 
crescente no começo que chega a um máximo, mas 
que, para efeitos de cálculo, é derivada para uma 
sigmóide, em que trabalha-se com valores de 20 a 
80% do efeito máximo (pedaço da sigmóide 
considerado como reta). Algumas propriedades dos 
gráficos são: quanto mais para cima no eixo do 
efeito, maior a eficácia da droga; quanto mais para 
a direita no eixo da dose, menor a potência da 
droga e sua afinidade com o receptor; só se pode 
fazer curvas para agonistas, pois, como 
antagonistas não possuem efeito não se encaixam 
no eixo do gráfico. 
No primeiro gráfico, a droga A possui maior 
potência do que a droga B: apesar de ambas 
atingirem o mesmo efeito máximo, é necessária 
dose menor da droga A para atingi-lo do que da B. 
No segundo gráfico, a droga A encontra-se 
em duas situações: administrada sozinha ou 
acompanhada de um antagonista. A curva nos 
deixa claro que é um caso de antagonista 
competitivo, pois aumentando-se a dose da droga 
A ela retira o antagonista dos receptores, e o 
efeito máximo é atingido – deslocamento da curva 
para a direita. 
No terceiro gráfico, sabendo que o efeito 
máximo da droga A é maior que o da B e que seus 
DE50 são semelhantes, conclui-se que a droga A é 
mais eficaz que a droga B, pois com a mesma dose 
atinge-se um efeito máximo maior. 
No quarto gráfico, a curva nos deixa claro 
que é um caso de antagonista não competitivo, 
pois com a ele o efeito máximo não é atingido 
mesmo que a dose seja aumentada, pois o 
antagonista atua sobre um sítio diferente do 
mesmo receptor, mudando a sua conformação e impedindo a ligação do agonista, sem 
haver competição, sendo que o antagonista só é retirado através de metabolização e 
excreção – deslocamento da curva para baixo. 
FARMACOLOGIA - Jassunção 
Farmacologia do SNA Simpático 
 
 As respostas simpáticas ocorrem por 
mediação da noradrenalina (Nor) e da 
adrenalina (Ad). A Nor é liberada das 
terminações nervosas simpáticas e atua nos 
receptores específicos dos órgãos efetores (α1, 
α2 e β1). A Ad é um hormônio liberado da 
medula da adrenal na corrente sanguínea, e 
também atua nos receptores adrenérgicos (α1, α2, β1, β2 e β3) dos órgãos. Os 
principais efeitos simpáticos são: 
Órgão Receptor Resposta 
Coração β1 
Aumento da frequência cardíaca, 
aumento da força contrátil, aumento da 
condução do impulso atrioventricular 
Vasos periféricos (pele, mucosa e 
mesentério – leito vascular maior) 
α1 Vasoconstrição 
Vasos do músculo esquelético β2 Vasodilatação (desvio do leito periférico) 
Brônquios β2 Broncodilatação 
Útero gravídico β2 Relaxamento uterino 
Tubo intestinal β2 Diminui a motilidade 
Bexiga 
Detrusor β2 Relaxamento 
Esfíncter interno α1 Contração 
Globo ocular 
Pupila α1 
Midríase (dilatação pela contração dos 
músculos radiais da íris) 
Corpo ciliar β2 Aumento da produção de humor aquoso 
Músculo esquelético β2 Tremor 
 Nos órgãos, α1 de músculo liso aumenta o Ca2+ intracelular e a contratilidade. 
O β2 de músculo liso aumenta cAMP e gera relaxamento muscular. Outros efeitos do 
β2 são o aumento da entrada de K+ para as células e a glicogenólise (aumento da 
glicemia). O β3 promove a lipólise. É importante ressaltar que baixas concentrações de 
Ad conseguem estimular grande quantidade de receptores β. 
A síntese de Nor ocorre na terminação nervosa da fibra simpática. Ela começa 
por uma proteína transportadora que forma tirosina no citosol, que se transforma em 
dopa (por ação da enzima tirosina hidroxilase), que se transforma em Da (por açãoda 
enzima dopa descarboxilase), que entra na vesícula sináptica e se transforma em Nor 
(por ação da enzima dopamina β-hidroxilase – DBH). A liberação de Nor se inicia com a 
diferença de potencial gerada pelo impulso nervoso que chega ao terminal, que abre 
canais de Ca2+ voltagem dependentes, e o Ca2+ entra e estimula a exocitose das 
vesículas de Nor, sendo que a vesícula é reaproveitada posteriormente. Nor cai na 
fenda sináptica e se liga em algum de seus receptores. 
 A síntese de Ad ocorre na medula adrenal. A liberação de Ach em receptores 
Nn das células cromafins promove a síntese de Nor (as células cromafins têm as 
mesmas enzimas das terminações nervosas), com posterior conversão de Nor em Ad 
(por ação da enzima PNMT). 
 O término do efeito da Nor não ocorre devido à sua degradação na fenda 
sináptica: o principal mecanismo de parada de efeito ocorre por uma proteína 
EXCEÇÕES DO SNA SIMPÁTICO 
• As fibras que inervam as glândulas 
sudoríparas liberam Ach; 
• As fibras que inervam vasos renais 
liberam dopamina (Da); 
• As terminações também liberam 
cotransmissores, como o ATP. 
carregadora chamada NET (recaptura neuronal da Nor – captação 1) leva a Nor de volta 
para a terminação nervosa onde, ligada à membrana mitocondrial, encontra-se a 
enzima MAO (monoaminoxidase, que também é muito expressa nos hepatócitos e nas 
células epiteliais intestinais), que degrada a Nor. Descobriu-se ainda que a Nor 
recapturada pode ser reaproveitada para as vesículas vazias. Quando inibidores de 
recaptura atuam, o efeito da Nor é prolongado, assim com a inibição da MAO promove 
o aumento da oferta de Nor. Outro mecanismo, que ocorre em tecidos extraneuronais, 
acontece através do TEN (transportador extraneuronal – captação 2), que também 
captura a Nor para dentro dos órgãos, cujos tecidos expressam a enzima COMT, que 
degrada a Nor. 
 O controle de liberação da Nor ocorre por ação sobre receptores pré-sinápticos. 
A ação sobre o α2 pré-sináptico diminui o cAMP, o Ca2+ e a liberação de Nor (o 
aumento de Nor na fenda modula negativamente a sua liberação – autorregulação 
negativa). De maneira inversa, a ação sobre o β2 pré-sináptico aumenta o cAMP, o 
Ca2+ e a liberação de Nor. 
Os fármacos que simulam os efeitos de uma estimulação simpática são os 
adrenérgicos, enquanto aqueles que impedem esses efeitos são os antiadrenérgicos. 
A. ADRENÉRGICOS 
Classificam-se em adrenérgicos de ação direta e adrenérgicos de ação indireta. 
a) Adrenérgicos de Ação Direta 
São agonistas dos receptores α e/ou β. Podem ser representados por: 
• Noradrenalina: injetável e emergencial, sendo usada em casos de choque. 
Aumenta rapidamente a pressão arterial (PA) devido a dois fatores: em α1 dos 
vasos periféricos promove vasoconstrição, aumentando a resistência periférica 
(principal fator de alteração da PA), 
enquanto em β1 do coração promove 
aumento do débito cardíaco. Pode 
provocar necrose no local de 
administração. Não possui ação 
central (não atravessa BHE). 
• Adrenalina: também injetável e 
emergencial, usada em casos de 
choque anafilático em que há 
liberação sistêmica de histamina (via 
receptor H1) quando ocorre 
broncoconstrição, vasodilatação, e 
diminuição da PA. Em α1 promove 
vasoconstrição periférica e em β1 
promove aumento da força contrátil 
do coração, aumentando assim a PA, 
e através de β2 promove 
vasodilatação dos vasos musculares 
(apesar de a vasodilatação agir contra o aumento da PA, ela ainda assim 
aumenta pela preponderância da vasoconstrição periférica – leito periférico é 
maior e mais importante, e o aumento da resistência vascular prevalece). A ação 
sobre β2 também promove broncodilatação, mas devido ao aumento da PA ela 
não é recomendada para quadros de broncoespasmo. 
PARADA CARDÍACA 
A Ad é utilizada em casos de parada 
cardíaca, e não a Nor. Na parada cardíaca 
necessita-se de uma droga vasopressora, 
que promoverá aumento da PA. Quando 
uma delas é administrada, entretanto, o 
centro cardiovascular do bulbo que 
controla a PA promove uma bradicardia 
reflexa compensatória, proporcional à 
ação do fármaco em aumentar a PA 
(quanto mais aumenta, maior a bradicardia 
gerada). Essa bradicardia, porém, não é 
interessante para um quadro de parada 
cardíaca. A Nor aumenta mais a PA do que 
Ad, porque provoca só vasoconstrição 
(enquanto Ad também gera vasodilatação 
muscular). Assim, a bradicardia reflexa 
causada por Nor será maior, e por isso ela 
não é recomendada em casos de parada 
cardíaca, sendo preferível a Ad. 
 
• Isoprenalina: agonista de β1 e β2, promovendo taquicardia e broncodilatação. 
Usada antigamente para broncoespasmo por promover queda da PA, pela 
vasodilatação muscular (sem vasoconstrição periférica – não atua sobre α1). 
Facilita a condução atrioventricular (pode ser usada em bloqueio AV). 
• Dopamina: também injetável e emergencial, sem efeito central (não atravessa 
BHE). Por ser precursor imediata de Nor, possui estrutura semelhante. Em dose 
baixa (baixa velocidade de infusão) tem seletividade pelos receptores D1 dos 
vasos renais, causando vasodilatação dos rins, aumentando a filtração – 
também atua sobre D1 no túbulo proximal do néfron, diminuindo a reabsorção 
de Na+ e consequentemente de água, aumentando a sua excreção urinária 
(como o paciente é grave, monitorar volemia). Em dose moderada 
(intermediária) também exerce ação sobre β1, aumentando o débito cardíaco. 
Em dose elevada, também exerce ação sobre o α1, aumentando a resistência 
periférica – aumento da PA (continua favorecendo a perfusão, mas não tanto 
quanto em dose baixa, por conta dos receptores α1 nos vasos renais). 
• Dobutamina: injetável, inotrópico, fármaco mais usado para aumentar trabalho 
cardíaco. Ação sobre β1, aumentando força contrátil sem aumentar frequência. 
• Agonistas α seletivos: fenilefrina (agonista α1 – via oral), nafazolina e 
oximetazolina (agonistas α1 e α2 – uso tópico). Uso como descongestionante 
nasal (vasoconstrição pela ação em α1, o que diminui a perfusão, a pressão 
hidrostática e o edema local). O uso abusivo determina perda de resposta 
(dessensibilização de receptores) e pode causar efeito rebote. Com o uso 
sistêmico se deve ter cuidado com hipertensos e cardiopatas. Colírio de 
fenilefrina (midriático) é pouco usado, mas diminui vermelhidão em casos de 
conjuntivite pela vasoconstrição. 
• Agonistas β2 seletivos: podem ter ação curta – fenoterol (Berotec®), 
salbutamol, terbutalina; ação longa – salmeterol, formoterol, clembuterol; ou 
ação ultralonga – indacaterol, vilanterol. São usados como broncodilatadores e 
relaxantes uterinos (útero gravídico). O clembuterol é utilizado por atletas de 
academia por causar vasodilatação muscular, broncodilatação, aumento da 
glicemia, lipólise (atuação em β3) e hipertrofia – dopping. Os efeitos adversos 
são tremor (atuação em β2), taquicardia reflexa (por conta da vasodilatação 
quando administrados em dose maior, pela atuação sobre β1 – associação com 
Atrovent® pode-se reverter isso), hipocalemia (risco em pacientes com histórico 
de problemas renais ou que usam medicamentos que alteram K+) e 
hiperglicemia (cuidado com diabéticos). 
• Agonistas α2 específicos: clonidina. Tem ação central – atuação sobre α2 em 
neurônios do centro cardiovascular, que inibe ativação do SNA simpático. 
Também atua sobre α2 de terminações nervosas adrenérgicas, o que diminui a 
liberação de Nor. Usada como antihipertensivo (atualmente muito pouco), 
sedação, também auxiliando em analgesia e no tratamento de abstinência aos 
opióides (e outras drogas). 
b) Adrenérgicos de Ação Indireta 
Podem causar aumento da liberação de Nor (anfetaminas e derivados – de ação 
central), inibição da recaptura da Nor (inibe NET) ou inibição da MAO (aumenta Nor). 
B. ANTIADRENÉRGICOS 
São fármacos que inibem uma resposta simpática. Classificam-se em: 
• Metildopa: promove diminuição da síntese e da liberação de Nor. Tem ação 
central, e se transforma em metildopamina, que se transforma em 
metilnoradrenalina,que é um agonista potente de α2 (ação anti-hipertensiva 
– droga de escolha para grávida hipertensa) e fraco de α1. 
• Antagonistas β: ou β bloqueadores, promovem respostas como a diminuição da 
frequência cardíaca (atuação em β1 – diminui o débito cardíaco) e a inibição da 
liberação de renina (atuação em β1 – inibe o sistema renina angiotensina 
aldosterona, diminuindo o débito cardíaco e a resistência periférica), sendo que 
ambos esses efeitos diminuem a PA (uso anti-hipertensivo); Além disso, 
também reduzem produção de humor aquoso no corpo ciliar (tratamento de 
glaucoma), diminuem tremor (atuação em β2), podendo favorecer o 
broncoespasmo (não usar em asmáticos) e a hipoglicemia (reação do 
organismo é ativação do simpático, com sudorese, taquicardia e tremor, o que 
mascara os próprios sinais clínicos da hipoglicemia). Não são considerados 
vasodilatadores diretos. São divididos em gerações: 
▪ 1ª Geração: ação sobre β1 e β2 – propanolol, pindolol, timolol (colírio). 
▪ 2ª Geração: ação seletiva sobre β1, não gerando broncoconstrição (não 
atua em β2 – preferíveis para asmáticos) – atenolol, metoprolol, bisoprolol. 
▪ 3ª Geração: de maneira geral, promovem vasodilatação – carvedilol (ação 
sobre β1, β2 e α1 – vasodilatador), celiprolol e mebivolol (ambos de ação 
sobre β1, liberando NO e causando vasodilatação, podendo também atuar 
como agonistas de β2, gerando broncodilatação). 
• Antagonistas α: podem atuar sobre α1A (vasos periféricos) ou α1B (trato gênito-
urinário). Quando bloqueiam α1A (prazosina, doxazosina, terazosina) causam 
vasodilatação, o que diminui a PA – utilizados como anti-hipertensivos, 
podendo ocorrer efeitos adversos como a taquicardia reflexa, que pode ser 
revertida pela associação com β bloqueadores. Quando bloqueiam α1B 
(tansulosina) favorecem a micção, pois relaxam o esfíncter interno da bexiga e 
a musculatura lisa da próstata – utilizados no tratamento de HPB (hiperplasia 
prostática benigna). 
FARMACOLOGIA - Jassunção 
Farmacologia do SNA Parassimpático 
 
 O único mediador que rege os efeitos do SNA parassimpático é a acetilcolina 
(Ach). Ela possui receptores muscarínicos (metabotrópicos – M1, M2, M3, M4 e M5) e 
nicotínicos (ionotrópicos – Nn e Nm). Os principais efeitos parassimpáticos são: 
Órgão Receptor Resposta 
SNC M1 
Memória, aprendizado, atenção, vigília, 
náusea 
Globo ocular M3 
Miose (contração da pupila), acomodação 
visual (visão de perto) 
Glândulas salivares e sudoríparas M3 
Aumento da secreção salivar e da 
diaforese (transpiração) 
Coração M2 Diminuição da frequência cardíaca 
Pulmão M3 Broncoconstrição, aumento da secreção 
Trato gastrointestinal M3 Aumenta motilidade (peristaltismo) 
Bexiga 
Detrusor 
M3 
Contração 
Esfíncter interno Relaxamento 
 Os fármacos que simulam os efeitos de uma estimulação parassimpática são os 
colinérgicos, enquanto que aqueles que impedem esses efeitos são os anticolinérgicos. 
A. COLINÉRGICOS 
Classe de agonistas dos receptores da Ach. Classificam-se em colinérgicos de 
ação de ação direta e colinérgicos de ação indireta. 
a) Colinérgicos de Ação Direta 
São agonistas muscarínicos (se ligam e estimulam diretamente os receptores 
muscarínicos). Dividem-se em ésteres de colina e não ésteres de colina. 
Os ésteres de colina podem ser representados por: 
• Acetilcolina: a própria Ach é um éster de colina, mas ela não é usada como 
fármaco devido à sua seletividade nula e à grande distribuição de 
acetilcolinesterases e butirilcolinesterases por todo o organismo, enzimas 
responsáveis pela sua degradação. 
• Carbacol (Miostat®): é a Ach com uma pequena alteração estrutural (troca de 
um grupo acetil por um carbamil), que promove uma degradação mais lenta pela 
acetilcolinesterase. Não pode ser administrado pela via oral ou intravenosa 
porque não é seletivo: atua em M1, M2, M3, e tem mais afinidade que a própria 
Ach pelos receptores nicotínicos. Entretanto, pode ser usado externamente, e 
por isso é utilizado no tratamento do glaucoma (hipertensão intraocular), 
administrado diretamente no olho como colírio, tendo o efeito de miose 
(contração da pupila). 
• Betanecol (Liberan®): pequenas alterações estruturais também permitem que 
seja degradado mais lentamente pela acetilcolinesterase. É altamente seletivo: 
atua especificamente em M3 de tratos gastrointestinal e genitourinário. 
Utilizado para tratar retenção urinária, decorrente de hiperplasia benigna de 
próstata e bexiga, ou de atonia intestinal (íleo paralítico pós-cirúrgico). 
 Os não ésteres de colina (alcalóides) podem ser representados por: 
• Pilocarpina: por não ter a estrutura da acetilcolina (alcalóide amino terciário – 
muito lipossolúvel, chegam ao cérebro), não é degradada pela 
acetilcolinesterase (pode ser ingerido via oral), tendo degradação lenta por 
outras enzimas. É seletivo para M3 de globo ocular e de glândulas de secreção. 
Usado para o tratamento da xerostomia (boca seca), olhos ressecados e 
glaucoma (principalmente na emergência). 
b) Colinérgicos de Ação Indireta (ou Anticolinesterásicos) 
Produzem os efeitos do parassimpático, mas não pela ligação aos receptores: 
todos os seus representantes realizam a inibição das colinesterases (acetilcolinesterase 
e butirilcolinesterase), exacerbando a atividade da Ach, diminuindo a sua degradação e 
aumentando tanto seus níveis quanto seus efeitos em todos os seus receptores – não 
possuem seletividade, mas podem ou não atingir o SNC de acordo com sua 
lipossolubilidade (se for alta, o medicamento atravessa a BHE e atinge). Como efeitos 
colaterais, podem provocar náuseas (Ach em M1 do centro do vômito no SNC), 
diminuição da frequência cardíaca (Ach em M2 do coração), incontinência urinária 
(Ach em M3 da bexiga) e outros. Os representantes são classificados quanto ao início 
e duração da ação/efeito, podendo ser de ação curta (início imediato e duração de até 
15min), intermediária ou longa: 
 Os de ação curta podem ser representados por: 
• Edrofônio (Tensilon®): é usado em emergência (via intravenosa), e logo em 
seguida é administrado um outro anticolinesterásico de ação mais duradoura. 
Também é usado no diagnóstico da miastenia gravis (fraqueza muscular – 
doença autoimune com produção de anticorpos específicos contra os 
receptores nicotínicos dos músculos esqueléticos) – ocorre uma avaliação da 
força de um paciente doente pela comparação com a de um saudável, cuja 
diferença é perceptível: se houver melhora, há a presença da doença (a dose 
administrada para se obter melhora varia, sendo que quanto maior, mais grave 
o estado da doença). 
 Os de ação intermediária podem ser representados por: 
• Neostigmina: utilizadas para o tratamento sintomático de miastenia gravis, e 
para reverter intoxicação por Atropina (somente perifericamente) ou por 
bloqueadores de junções neuromusculares. 
• Rivastigmina/Galantamina/Donepezila: altamente lipossolúveis – atingem o 
SNC, utilizadas para tratamento dos sintomas cognitivos do Alzheimer (Ach no 
hipocampo/córtex melhoram a atenção, memória e aprendizado). Os principais 
efeitos colaterais são náuseas, insônia, arritmia, cólicas intestinais e 
incontinência urinária. 
Os de ação longa podem ser representados por: 
• Organofosforados (inseticidas – não são fármacos): como o Gás Sarin 
(substância tóxica), que inibe as colinesterases irreversivelmente, aumentando 
muito os níveis de Ach. Quando ela se liga aos seus receptores cardíacos por 
muito tempo, gera bradicardia duradoura, e para que isso seja combatido e a 
morte seja evitada utiliza-se um antagonista da acetilcolina, como a Atropina. 
B. ANTICOLINÉRGICOS 
Classe dos antagonistas dos receptores muscarínicos da Ach, fazendo 
prevalecer os efeitos simpáticos. Esse bloqueio de receptores pode ser superado por 
concentrações maiores de Ach, como as produzidas pelos anticolinesterásicos, que são 
usados, dessa maneira, para reverter intoxicações por anticolinérgicos – da mesma 
maneira, os anticolinérgicos podem reverter as intoxicações

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