Buscar

Escherichia coli e infecções do trato urinário (ITUs) | Microbiologia

Prévia do material em texto

Aula 7 Escherichia Coli e Infecções do Trato Urinário 1
🧫
Aula 7: Escherichia Coli e 
Infecções do Trato Urinário
De maneira geral, o sistema urinário é composto por 2 rins, 2 ureteres, 1 
bexiga e a uretra, sendo responsável pela produção de resíduos (isto é, da 
urina) a partir do que é removido do sangue.
Nas mulheres, a uretra conduz somente urina ao exterior do corpo; ao 
passo que, nos homens, este canal é utilizado tanto para a excreção de 
urina, quanto para a de fluidos seminais.
Válvulas fisiológicas na união dos ureteres com a bexiga impedem o fluxo 
reverso da urina para os rins - ajudando a defendê-los de infecções que 
potencialmente acometam o trato urinário inferior.
A urina tem propriedades antimicrobianas (em função da presença de 
ureia) e, assim, o fluxo urinário tende a remover microrganismos 
potencialmente infecciosos durante a excreção.
A urina produzida pelos rins é estéril . Todavia, em relação às mulheres , 
quando se faz a coleta e o exame desse subproduto líquido do corpo, 
deve-se esperar encontrar o que chamamos de microbiota normal urinária 
feminina.
A uretra masculina, em contraste, é normalmente estéril - exceto por 
contaminações próximas à abertura externa.
Aula 7 Escherichia Coli e Infecções do Trato Urinário 2
💡 Os lactobacilos são os MO residentes predominantes da vagina. 
Estes são responsáveis pelo pH ácido do canal 3.84.5; uma vez 
que convertem glicose - advinda do glicogênio - em ácido 
lático) e pela inibição do crescimento de outros microrganismos 
potencialmente infecciosos (a partir da produção de peróxido de 
hidrogênio, que estabelece uma relação de exclusão 
competitiva). A sua presença no órgão está diretamente 
relacionada com a liberação de estrogênio, pois o aumento dos 
níveis do hormônio estimula a produção de glicogênio pelas 
células do epitélio vaginal e, dessa maneira, essas bactérias têm 
mais alimento para metabolizar (glicogênio → glicose → ácido 
lático). Por essa razão, em situações de desequilíbrio hormonal, 
como a gravidez e a menopausa, há um aumento de infecções 
pela baixa do estrogênio e pela consequente perturbação da 
microbiota vaginal normal. Além dos lactobacilos, podem estar 
presentes na vagina Streptococcus, bactérias 
anaeróbias,bactérias gram-negativas e, por vezes, Candida 
albicans 10%25% as portam de maneira assintomática).
Diferenças anatômicas entre a uretra feminina e a masculina determinam 
chances de infecção diferentes. Enquanto o canal uretral feminino é curto 
e reto, facilitando a entrada de patógenos e a invasão da bexiga por estes 
MO (a doença apresenta maior incidência entre mulheres sexualmente 
ativas); a uretra masculina é longa e curva. Ademais, os homens contam 
com um mecanismo de defesa adicional: a produção de secreções 
prostáticas com propriedades antibacterianas.
Infecções do trato urinário ITU
Endógenas: são provocadas pela invasão dos tecidos do trato por 
microrganismos que compõem a microbiota normal do organismo; 
estes se originam no trato gastrointestinal e colonizam a região 
periuretral, antes de subir para a bexiga.
Incluem infecções de próstata e do epidídimo;
Correspondem a 40% das infecções adquiridas em ambiente hospitalar; 
quando presentes, 50% das ITUs contribuem para o aumento da 
Aula 7 Escherichia Coli e Infecções do Trato Urinário 3
mortalidade e do tempo de hospitalização;
Sintomas comuns: febre, disúria (desconforto ao urinar), dor abdominal 
e cicatrizes permanentes nos rins
Se dividem em CAUTIs (infecção do trato urinário adquirida em 
comunidade) e NUTIs (infecção do trato urinário adquirida em 
ambiente hospitalar; classificadas quando o paciente apresenta 
sintomas em até 48h após internação hospitalar);
As infecções, de maneira geral, dependem do estado de saúde do 
hospedeiro. Quando hígido, o paciente apresenta níveis adequados de 
hidratação, fluxo urinário normal e integridade anatômica e funcional 
das vias urinárias (fatores essenciais devido às propriedades 
antibacterianas da urina e da mucosa do TU e ao efeito mecânico de 
limpeza que advém da micção), mecanismo vesical antibacteriano e, 
por fim, plenitude de atuação dos fagócitos e do sistema imunológico 
do corpo. Em contrário a estes, há os fatores predisponentes à 
infecção: debilitação do sistema imunológico, vida sexualmente ativa 
feminina, fatores de virulência do agente infeccioso e dinâmica urinária 
alterada, por exemplo.
Escherichia coli:  é o agente infeccioso mais frequente para o 
desenvolvimento de ITU tanto no Brasil, quanto no mundo.
CASO CLÍNICO 1: 
Mulher, 30 anos. Relata aumento na frequência da micção (polaciúria), disúria 
(dor e ardência no ato) e dores abdominais. Sem febre. Urina apresenta odor 
Aula 7 Escherichia Coli e Infecções do Trato Urinário 4
forte. Vida sexual ativa, utiliza anticoncepcional. Sensibilidade suprapúbica.
A análise dos exames solicitados permitiu observar que a paciente 
apresentava:
 Piúria (presença de leucócitos degenerados ou de pus na urina) → 
50 leucócitos/campo (referência de normalidade = 10 
leucócitos/campo);
 Bacteriúria → 3
 Nitrito + → Há metabolização de nitrato em nitrito
 Contagens de 10⁵ Unidades Formadoras de Colônia UFC são 
altamente específicas para indicar que a paciente possui uma ITU
 Colônias rosa em meio cromogênico sugerem infecção por E. coli
 Teste para Leucócito-esterase* LE positivo indica infecção ativa | 
*enzima produzida por neutrófilos
DIAGNÓSTICO 
Cistite → Infecção da bexiga; mais comum em mulheres (uretra reta, de 
menor comprimento e mais próxima do ânus e das bactérias intestinais 
concomitantes); taxa de infecção em mulheres é 8x maior que em homens; 
sintomas: disúria, polaciúria (aumento da frequência urinária), piúria 
(leucócitos aumentados ou presença de pus na urina) e dor suprapúbica.
CASO CLÍNICO 2
Mulher, 19 anos. Interna com histórico de ITU há 4 meses (tratada com 
ampicilina, sem complicações). Há 5 dias, sentiu náuseas, mas não vomitou; 
um dia depois, apresentou dor no flanco direito, febre, calafrios e polaciúria. 
Urina sem odor. T38.8°C e sensibilidade no ângulo costovertebral direito.
Urinálise EQU 50 leucócitos/campo; 10 eritrócitos/campo; bactérias 3
Urocultura: positiva, 10⁵ unidades formadoras de colônia (referência de 
normalidade = 10³ UFCs)
 Piúria (presença de leucócitos degenerados ou pus na urina) → 50 
leucócitos/campo (referência de normalidade = 10 leucócitos/campo)
 Bacteriúria → 3
Aula 7 Escherichia Coli e Infecções do Trato Urinário 5
 Hematúria → 10 eritrócitos/campo (referência de normalidade = 0 
eritrócitos/campo)
 Teste para Leucócito-esterase* LE positivo indica infecção ativa | 
*enzima produzida por neutrófilos
DIAGNÓSTICO
Pielonefrite → infecção de um ou de ambos os rins; cistites não 
adequadamente tratadas podem evoluir, em 25% dos casos, para 
pielonefrites; sua forma crônica pode formar cicatrizes nos rins, 
prejudicando seu funcionamento; mais frequente no sexo feminino; 
sintomas = febre, calafrios, dor nos flancos ou nas costas, náuseas e 
vômitos polaciúria.
CASO CLÍNICO 3:
Mulher, 65 anos, diabética e com histórico de sucessivas ITUs. Reclama: dores 
lombares, febre e retenção urinária. Inicialmente, recebeu o diagnóstico de 
cólica renal (cálculo). Exames demonstram piúria (leucócitos e pus na urina), 
bacteriúria e hematúria. Urocultura revela a presença de duas bactérias: S. 
aureus e Pseudomonas aeruginosa.
O tratamento com cefalosporinas não funcionou, levando à piora do quadro 
da paciente - que precisou ser internada. Observando-se piora no estado de 
saúde após 24h de internação, um novo exame qualitativo de urina EQU 
sugeriu comprometimento renal. Adaptou-se o tratamento para o uso de 
carbapenêmicos e vancomicina. A paciente foi transferida para a UTI, 
precisando de hemodiálise e de ventilação mecânica. Após 3 dias internada, 
foi a óbito.
 Exame físico: sensibilidade lombar, T38°C, retenção urinária
 Urinálise: 50 leucócitos/campo(piúria); bactérias 3 (bacteriúria); 
10 eritrócitos/campo (hematúria); cilindros céreos
 Urocultura: positiva para S. aureus e P. aeruginosa; ambos com 10⁵ 
unidades formadoras de colônia UFC/mL
 Hemocultura: S. aureus e P. aeruginosa multirresistentes
 PCT
 10ng/mL
Aula 7 Escherichia Coli e Infecções do Trato Urinário 6
Os exames reforçam o parecer clínico de ITU e de bacteremia, possivelmente 
pelo fato de que, sendo as bactérias multirresistentes, o tratamento não foi 
eficaz. A perda de função renal provocou a necessidade de hemodiálise. A 
perda de função do aparelho respiratório levou a ventilação mecânica. A PCT
(procalcitonina, proteína CRP de fase aguda) indica sepse.
DIAGNÓSTICO 
Falência múltiplas dos órgãos por Urosepse → disfunção causada por uma 
resposta imune descompensada do hospedeiro à uma ITU; alta morbidade 
e mortalidade.
CASO CLÍNICO 4: 
Homem, 70 anos. Apresenta: febre, calafrios, disúria, polaciúria e dor na área 
perineal.
Exame físico: inchaço e sensibilidade na próstata; T38.5°C
 Urinálise: 5 leucócitos/campo; 5 eritrócitos/campo; bactérias 3
Urocultura: positiva, Klebsiella pneumoniae com 10⁵ unidades formadoras 
de colônia UFC/mL
Os sinais e sintomas do paciente (febre, calafrios, dor na região perineal, 
disúria e polaciúria) indicam ITU, mesmo que não haja piúria. 
DIAGNÓSTICO 
Prostatite → ITU baixo.

Continue navegando