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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS EFLCH – Campus Guarulhos DIDÁTICA E FORMAÇÃO DOCENTE - Prof. Dr. Umberto de Andrade Pinto Discente: Sarah Soares Morais Curso: Pedagogia Termo/Período: 3º termo/Vespertino SÍNTESE DA PRIMEIRA UNIDADE DIDÁTICA: “Conceituação e o campo de estudos da Didática, das Ciências da Educação, da Pedagogia, e a Educação Escolar. O papel da escola na sociedade brasileira contemporânea e os desafios da prática docente.” I - AS RELAÇÕES ENTRE: DIDÁTICA, PEDAGOGIA E CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO De acordo com as concepções trabalhadas em aula, Didática é um dos campos de estudo da Pedagogia, que se debruça especificamente sobre educação formal no espaço da escola. Seu objeto de estudo são os processos simultâneos e interdependentes de ensino-aprendizagem que ocorrem na escola, onde o termo ensino diz respeito a função do educador, e aprendizagem ao direito do aluno. Nesse sentido, o processo de ensino-aprendizagem é desencadeado pelo o professor para o aluno e só é capaz de produzir sentido se ele garantir a aprendizagem dos alunos. Em um trecho de “Didática Magna”, Comenius (1997, p. 366) ressalta a importância da mediação pedagógica do educador: [...] as coisas que as crianças recebem de seus mestres sem a sua voz, que são os livros, são mudas, obscuras, imperfeitas; se, porém, for acrescentada a voz do professor (que explica racionalmente segundo a capacidade dos alunos e as põe em prática), então essas coisas se tornarão vívidas e ficarão profundamente impressas em suas mentes, de tal modo que, ao fim, eles estarão entendendo realmente o que aprenderam e saberão que entendem o que sabem. Atualmente, o conceito de Pedagogia é visto como amplo e complexo. No Capítulo 1 da Tese, “Pedagogia e Pedagogos Escolares”, desenvolvida pelo Dr. Umberto de Andrade Pinto, em 2006, o autor afirma que: A educação representa uma ação do ser humano sobre o ser humano, ou seja, a ação educativa objetiva humanizar o ser natural. A produção do ser natural em ser humano pelos seres humanos (educadores) não é fixada naturalmente nem ocorre de modo transcendental. Assim, a educação precisa de uma diretriz teórica por meio da Pedagogia. Pinto argumenta que a Pedagogia não deve ser apenas o saber empírico da educação, demanda ser simultaneamente um “conhecimento para a educação”. E é a partir dessa dialética entre os termos “da e para a educação” que se define a Pedagogia. Desse modo, o conceito de Pedagogia está diretamente ligado a relação entre “teoria e prática nas decisões e nos posicionamentos pedagógicos”. E portanto, Pedagogia é a ciência que estuda a educação, ou seja, seu objeto como ciência é a educação. São chamadas de Ciências da Educação, aquelas que a partir de seu objeto de estudo, são capazes de contribuir para a compreensão da realidade educacional, atuando como auxiliares da Educação, como a Psicologia, História, Filosofia e Sociologia (PINTO, 2006). Esse viés, deixa claro o entendimento de que a Pedagogia não é uma das Ciências da Educação, que ela é a Ciência da Educação, visto que o seu objeto específico de estudo é a educação. Assim, as relações estabelecidas entre os conceitos de Didática, Pedagogia e Ciências da Educação, são que a didática pode ser entendida como uma subárea da Pedagogia que se preocupa em atuar com os processos de ensino-aprendizagem que ocorrem na escola. A Pedagogia não é equivalente às Ciências da Educação (que são campos de investigação que contribuem para o entendimento da totalidade do conhecimento pedagógico), porque ela é a Ciência da Educação, “ela parte do fenômeno educativo como um todo e, com a contribuição da produção teórica das diferentes ciências, vai elaborando as sínteses possíveis para a apreensão do real” (PINTO, 2006). A pedagogia é um campo de conhecimento de alta complexidade por estar ligada a ordem da atividade prática, e desse modo, é preciso defender a Pedagogia como campo do conhecimento científico e passar a entendê-la como instrumento de emancipação do indivíduo e da sua realidade social. II - EM DEFESA DA PEDAGOGIA COMO CAMPO EPISTEMOLÓGICO A Pedagogia deve ser defendida como Campo Epistemológico por apresentar uma abordagem científica transdisciplinar de educação. Tal abordagem se torna efetiva através do Pedagogo como responsável, por intermédio da sua ação, de combinar as teorias e saberes, a fim de se transfigurar como ciência prático educativa e se relacionar a um campo de conhecimento movido a uma prática “compromissada com a transformação da realidade social” (PINTO, 2006). Sendo assim, é através do Pedagogo que a Pedagogia como ciência tornar-se prática na pesquisa e no ensino. É importante considerar, que o conhecimento que parte do educador enquanto está em situação educacional é superior do que qualquer conjunto de teorias pedagógicas, O campo de conhecimento da Pedagogia deve dispor-se ao educador para que este selecione os elementos (teóricos) necessários no encaminhamento tanto de uma ação que esteja ocorrendo em uma situação educacional específica, quanto na projeção de outras situações[...] (PINTO, 2006). Dessa maneira, a Pedagogia se distancia da idéia de ciência como um conjunto de técnicas a serem fielmente aplicadas, para entendimento de Pedagogia como ciência da prática e para a prática, esbarrando na perspectiva de uma prática transformadora da realidade social. III - EM DEFESA DO DIREITO À EDUCAÇÃO PARA TODAS AS PESSOAS O direito à educação faz parte do conjunto de direitos humanos fundamentais, reconhecidos na Constituição Federal de 1988, que tem por objetivo garantir equidade entre as pessoas, incluindo à todos no processo de desenvolvimento próprio à condição humana que é a educação formal, através do espaço escolar que, segundo Libâneo (1998, p. 39), atua como “espaço de integração e síntese”, como um espaço onde os indivíduos convivam com as diferenças, aprendem a razão crítica para que possam atribuir significados próprios às mensagens e informações recebidas, a fim de que explorem todo seu potencial de pensamento e assim formar sujeitos analiticos e autônomos, preparados para transformar sua realidade social. De acordo com Libâneo (1998, p. 12), conceber a escola como espaço de síntese é acreditar nela como estrutura possibilitadora de significado e não como estrutura possibilitadora de informação. Em vista disso, se torna imprescindível defender a educação para todos pois não se trata apenas de desenvolver a capacidade de ler e escrever, se trata de prover a formação cultural básica, alinhando o desenvolvimento de capacidades cognitivas e operativas, como: capacitar o sujeito para saber pensar de modo analítico, promover a preparação para o uso e interpretação das tecnologias, formá-los para o exercício da cidadania crítica e ética. Desse modo, afirmo que defender o Direito à educação para todas as pessoas significa defender a Democracia. Concluo esse tópico com um trecho retirado da tese de Pinto (2006), citada nos tópicos anteriores: [...] mediante a centralidade do que deve constituir o trabalho educativo escolar: o desenvolvimento do pensamento racional reflexivo no processo de assimilação e crítica do conhecimento produzido historicamente pela humanidade. É desenvolver nos alunos o pensar metódico, pela atividade mental intensa de compreender, memorizar, comparar, organizar, analisar e relacionar conhecimentos de diferentes tipos e procedências. Essa atribuição é que confere à escola ser um espaço de sínteses. E para sintetizar conhecimentos, é fundamental que ela seja reconhecida como produtora de conhecimento,como local de pesquisa em que transitam diferentes saberes expostos ao debate público. Daí ser, também, o local privilegiado para desenvolver habilidades e atitudes de crianças, jovens e mesmo adultos, em um ambiente coletivo e, assim, firmar-se pelo trabalho coletivo, pelas aprendizagens coletivas. IV - EDUCAÇÃO ESCOLAR: REPRODUÇÃO OU TRANSFORMAÇÃO DA REALIDADE SOCIAL Como foi abordado até então, idealizamos uma escola que possa assegurar a todas as pessoas, conhecimento cultural e científico, possibilitando uma relação autônoma e construtiva com a sociedade em que vive, em suas várias manifestações. Entretanto, isso implica em articular os objetivos convencionais da escola às exigências postas pelos grupos dominantes da sociedade. O que nos leva a pensar em que tipo de conhecimento gera lucro e é valorizado pelas classes dominantes? Em que medida a imposição de determinados conhecimentos em detrimento de outros, perpertua o domínio do grupo dominante e acaba convencendo os dominados que isso é justo? Nessa disputa de poder e interesses econômicos, o sistema em que a escola está posta figura na escassez da escolarização do campo científico aos grupos dominados com objetivo de controlá-los e submetê-los a ocupar perpetuamente a margem. Para Bourdieu (1998), a forma como a sociedade organiza os processos educacionais está conectada com a divisão das classes. Os grupos dominados são segregados e menos favorecidos, o que reflete no mercado de trabalho e em sua posição socioeconômica. Diante disso, a educação escolar, perde seu papel transformador e democratizador dando espaço a uma visão institucional, por meio da qual se conserva e se reproduz os privilégios e as desigualdades sociais ao invés de transformá-los. Em consonância com as ideias defendidas por Pinto (2006) em sua tese, para modificar esse cenário, é preciso que haja esforço e luta, dos educadores em conjunto com os familiares e os próprios alunos, na defesa da qualidade da educação escolar, que não deve ser medida pelos interesses do mercado de trabalho e sim, ser considerada pela capacidade de seus egressos intervirem na vida pública, de modo a transformarem a realidade em que vivem e que essas transformações lhes possibilitem a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOURDIEU, Pierre. A escola conservadora: as desigualdades frente à escola e à cultura. In: NOGUEIRA, M. A.; CATANI, A. M. (org.) Escritos de Educação. Petrópolis: Vozes, 1998. COMÊNIO, J. A. Didática Magna: Tratado da arte universal de ensinar tudo a todos. São Paulo: Martins Fontes, 1997. LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? novas exigências educacionais e profissão docente. São Paulo: Editora Cortez, 1998. PINTO, Umberto de Andrade. Pedagogia e Pedagogos Escolares. Tese de Doutorado. Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, 2006.
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