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pesquisa_administracao_SEMAD_1999

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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/271767025
Pesquisa em Administração: uma introdução ao processo e às técnicas
qualitativas
Conference Paper · January 1999
DOI: 10.13140/2.1.2085.4567
CITATION
1
READS
283
2 authors, including:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
Innovation at the Bottom of the Pyramid View project
Market Studies: Research Networks and Analysis of Theoretical Construction in the Field View project
Francisco Giovanni David Vieira
Universidade Estadual de Maringá
109 PUBLICATIONS   418 CITATIONS   
SEE PROFILE
All content following this page was uploaded by Francisco Giovanni David Vieira on 03 February 2015.
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https://www.researchgate.net/publication/271767025_Pesquisa_em_Administracao_uma_introducao_ao_processo_e_as_tecnicas_qualitativas?enrichId=rgreq-ce685e801a3f15f5fd754b78ece8dc99-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MTc2NzAyNTtBUzoxOTI4NTAxMzExOTc5NTNAMTQyMjk5MDQ2MjIxOQ%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/publication/271767025_Pesquisa_em_Administracao_uma_introducao_ao_processo_e_as_tecnicas_qualitativas?enrichId=rgreq-ce685e801a3f15f5fd754b78ece8dc99-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MTc2NzAyNTtBUzoxOTI4NTAxMzExOTc5NTNAMTQyMjk5MDQ2MjIxOQ%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/project/Innovation-at-the-Bottom-of-the-Pyramid?enrichId=rgreq-ce685e801a3f15f5fd754b78ece8dc99-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MTc2NzAyNTtBUzoxOTI4NTAxMzExOTc5NTNAMTQyMjk5MDQ2MjIxOQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/project/Market-Studies-Research-Networks-and-Analysis-of-Theoretical-Construction-in-the-Field?enrichId=rgreq-ce685e801a3f15f5fd754b78ece8dc99-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MTc2NzAyNTtBUzoxOTI4NTAxMzExOTc5NTNAMTQyMjk5MDQ2MjIxOQ%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf
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https://www.researchgate.net/profile/Francisco_Vieira6?enrichId=rgreq-ce685e801a3f15f5fd754b78ece8dc99-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MTc2NzAyNTtBUzoxOTI4NTAxMzExOTc5NTNAMTQyMjk5MDQ2MjIxOQ%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf
https://www.researchgate.net/institution/Universidade_Estadual_de_Maringa?enrichId=rgreq-ce685e801a3f15f5fd754b78ece8dc99-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI3MTc2NzAyNTtBUzoxOTI4NTAxMzExOTc5NTNAMTQyMjk5MDQ2MjIxOQ%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf
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Anais da XIX Semana do Administrador (SEMAD). Maringá: DAD-UEM, 1999. p. 88-101 
 
PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO: 
UMA INTRODUÇÃO AO PROCESSO E ÀS TÉCNICAS QUALITATIVAS 
 
ELIZA EMÍLIA REZENDE BERNARDO ROCHA1 
FRANCISCO GIOVANNI DAVID VEIRA2 
 
Introdução 
 
 Fazer pesquisa em administração sempre foi um desafio. Por um lado, porque 
existem diferentes interpretações a respeito do que seja o objeto de estudo da 
administração. Por um outro, porque não se pode estudar a administração de forma isolada, 
em uma espécie de laboratório ou confinado a quatro paredes. Nos dias de hoje, devido ao 
grande volume e à velocidade das informações, esse desafio é ainda maior, tanto para 
aqueles que já têm experiência, quanto, sobretudo, para aqueles que se iniciam na pesquisa 
em administração. Tal situação, entretanto, torna-se mais complexa quando se questiona o 
que são os aspectos quantitativos e o que são os aspectos qualitativos da pesquisa em 
administração, por vezes contrapondo e elegendo uns em detrimento dos outros, como se 
aqueles que forem escolhidos sejam os únicos capazes de oferecer suporte metodológico e 
dar sustentação à construção do conhecimento em administração. 
 
 De fato, tudo isso pode ser complexo ou simples, dependendo apenas do modo 
como se olhe a situação. Foi com essa preocupação em vista, ou seja, sem incorrer no erro 
de contrapor aspectos que são complementares, e pensando apenas em oferecer uma 
oportunidade de compreensão aos alunos que se iniciam nos caminhos da pesquisa em 
administração que o presente texto foi escrito e trabalhado em forma de um mini curso 
ministrado na XIX Semana do Administrador – SEMAD, realizada pelo Departamento de 
Administração da Universidade Estadual de Maringá na última quinzena do mês de 
outubro de 1999. Seus objetivos, portanto, estão circunscritos à realização de uma 
abordagem introdutória acerca do processo e das técnicas de pesquisa qualitativa que 
possibilitam a construção do conhecimento em administração. Isso foi feito, 
propositadamente, com base em um pequeno número de autores, de modo a facilitar a 
compreensão do texto, bem como familiarizar o leitor com os mesmos. 
 
 Nesse sentido, este texto está dividido em quatro partes. A primeira aborda os 
principais enfoques da pesquisa em ciências sociais, posto que a administração é 
considerada uma ciência social aplicada - ao final dessa primeira parte é dada uma atenção 
especial para a exemplificação de como um mesmo problema de pesquisa pode ser tratado 
sob diferentes enfoques. A segunda parte caracteriza, principalmente por meio de recurso 
gráfico, como se dá o processo de pesquisa quantitativa e o processo de pesquisa 
qualitativa. A terceira identifica, um pouco mais detalhadamente, técnicas utilizadas na 
coleta e análise de dados na pesquisa qualitativa. A última parte diz respeito a indicações 
de fontes para leitura e apoio na condução de pesquisas qualitativas, e poderia ter o seu 
conteúdo abrigado friamente no âmbito das referências bibliográficas ao final do texto. 
Entretanto, procuramos destacá-la por acreditarmos que os alunos que se iniciam nos 
 
1 Professora Assistente do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá. 
E-mail: eerbernardo@dad.uem.br 
2 Professor Assistente do Departamento de Administração da Universidade Estadual de Maringá. 
E-mail: fgdvieira@wnet.com.br Homepage: http://www.geocities.com/fgdvieira/ 
caminhos da pesquisa em administração terão melhor proveito com ela da forma em que 
foi escrita. 
 
Discussão dos principais enfoques na pesquisa em ciências sociais 
 
Positivismo – idéias básicas 
 
 Para compreender o positivismo, fundado por Auguste Comte3, é preciso ter claro, 
como lembra Trivinõs (1987:34), que ele surgiu como “uma reação à filosofia 
especulativa, especialmente representada pelo idealismo clássico alemão (Fichte, Scheling, 
Kant e Hegel) que imperava no pensamento europeu da época de Comte. Facilmente se 
observa que a filosofia positivista se colocou no extremo oposto da especulação para 
exaltar, sobretudo, os fatos.” 
 
 Partindo dessa observação destacamos algumas das principais idéias que 
fundamentam o positivismo: 
 
- os fatos são observados a partir de uma teoria. O positivismo pressupõe a existência de uma teoria que 
explica os fenômenos observados e os relaciona aos fatos gerais; 
 
- a “exaltação da observação dos fatos” resulta no que Trivinõs (1987:35) chamou de “submissão da 
imaginação à observação.” Entende-se a partir daí que o positivismo ao trabalhar com o real, com o 
concreto, possibilita autilidade, ou seja, a aplicabilidade do conhecimento e a sua precisão na 
perspectiva de condução do ser humano à certeza; 
 
- a realidade são os fatos observáveis; e 
 
- na concepção positivista o processo de geração do conhecimento científico é objetivo e assume uma 
seqüência linear. Essa característica do positivismo remete-nos à questão da neutralidade científica - 
questão essa, ainda hoje polêmica e que elimina qualquer possibilidade de subjetividade no processo de 
conhecimento. 
 
 Finalizando essa rápida incursão acerca do positivismo observemos uma concepção 
complementar de ciência para o positivismo. Segundo Nagel (s./d.:3), ele é o “meio pelo 
qual se chega a prever os fenômenos após a descrição e a descoberta de relações. É a 
descrição, interpretação de fenômenos e de meios de adequação ou de ajustamento do 
homem ao desenvolvimento.” 
 
Fenomenologia 
 
 A fenomenologia de Husserl4 tem como idéia básica a intencionalidade. De acordo 
com Triviños (1987:42-5), intencionalidade é a consciência estar sempre dirigida a um 
objeto. Isso envolve reconhecer o princípio que não existe objeto sem sujeito. Trata-se da 
pressuposição de que o conhecimento somente se concretizará se o entendimento for 
direcionado, intencionalmente, para algo, para um objeto concreto. E para que isso ocorra é 
necessário a redução fenomenológica que implica no isolamento do fenômeno em toda a 
sua pureza. 
 
 A fenomenologia, conforme ainda explica Triviños (1987:43), tendo como base 
vários filósofos, e entre eles o francês Merleau-Ponty, é o "estudo das essências". Na 
 
3 Auguste Comte nasceu em Montpellier (França – 1798/1857). Principais obras: Curso de filosofia positiva 
(seis volumes, 1830), Discurso sobre o espírito positivo (1844), Catecismo positivista (1852). 
4 Edmund Husserl (1859-1938), o pai da fenomenologia, era alemão. 
fenomenologia todos os problemas tornam a definir essências, como por exemplo, a 
essência da percepção e a essência da consciência. Isso não significa dizer que a 
fenomenologia prescinda dos fatos para compreender o homem e o mundo. Ela é uma 
filosofia transcendental que coloca em ‘suspenso’, para compreendê-las, as afirmações da 
atitude natural, mas também uma filosofia segundo a qual o mundo está sempre ‘aí’, antes 
da reflexão, como uma presença inalienável, pronta para reencontrar esse contato ingênuo 
com o mundo para lhe dar enfim um status filosófico. É ambição de uma filosofia que 
pretende ser uma ‘ciência exata’, mas também uma exposição do espaço, do tempo e do 
‘mundo vivido’. É o ensaio de uma descrição direta da nossa experiência tal como ela é, 
sem nenhuma consideração com sua gênese psicológica e com as explicações causais que o 
sábio, o historiador ou o sociólogo podem fornecer dela (Triviños, 1987:43). 
 
 Trata-se, portanto, de descrever, e não de explicar nem de analisar. O que as 
pessoas sabem sobre o mundo, elas sabem a partir de suas próprias visões pessoais ou de 
experiências que elas viveram no mundo. Sem essas visões ou experiências, a ciência nada 
significa. Como ressalta Triviños (1987) em suas observações acerca dos ensinamentos de 
outros filósofos, "todo o universo da ciência é construído sobre o mundo vivido e, se 
quisermos pensar na própria ciência com rigor, apreciar exatamente seu sentido e seu 
alcance, convém despertarmos primeiramente esta experiência do mundo da qual ela é a 
expressão segunda." 
 
Materialismo histórico-dialético 
 
 O materialismo histórico, um dos aspectos principais do marxismo5, é a ciência 
filosófica do marxismo que estuda as leis sociológicas que caracterizam a vida da 
sociedade, de sua evolução histórica e da prática social dos homens, no desenvolvimento 
da humanidade. O materialismo histórico apresentou uma nova maneira de interpretação 
dos fenômenos sociais que, até o nascimento do marxismo, se apoiava em concepções 
idealistas da sociedade humana. 
 
 Conforme se lê em Triviños (1987: 51-52), o materialismo histórico esclarece 
conceitos como ser social (relações materiais dos homens com a natureza e entre si que 
existem em forma objetiva, isto é, independentemente da consciência); consciência social 
(as idéias políticas, jurídicas, filosóficas, estéticas, religiosas etc., assim como a psicologia 
social das classes, que se têm constituído através da história); meios de produção (tudo o 
que os homens empregam para originar bens materiais, tais como máquinas, ferramentas, 
energia e matérias químicas, entre outros); forças produtivas (os meios de produção, os 
homens e suas experiências de produção, além de seus hábitos de trabalho). Em que pese a 
importância única do homem, ressalta-se que a força de produção depende 
fundamentalmente dos instrumentos da tecnologia. As relações de produção, assim, não 
podem ser separadas das forças de produção. Podem ser relações mútuas de cooperação, de 
submissão ou de um tipo de relação que significa transição entre as formas assinaladas. 
São, em última análise, os vínculos que se estabelecem entre os homens. 
 
 O conceito de modo de produção é um outro conceito importante (historicamente se 
indicam cinco modos de produção: própria da comunidade primitiva, escravagista, 
feudalista, capitalista e comunista - essa, com duas fases: socialista e comunista). Além 
 
5 Karl marx (1818-1883) revoluciona o pensamento filosófico e um dos motivos para tal é a incorporação da 
política nas suas idéias. O marxismo compreende, precisamente, três aspectos principais: o materialismo 
dialético, o materialismo histórico e a economia política. 
desse último conceito, o materialismo histórico define outra série de conceitos 
fundamentais para compreender suas cabais dimensões, como: sociedade, formações sócio-
econômicas, estrutura social, organização política da sociedade, vida espiritual, cultura, 
concepção de homem, personalidade e progresso social, entre vários outros. 
 
 De modo complementar ao materialismo histórico, o materialismo dialético traz 
para análise do materialismo histórico-dialético, além das características (conceitos) 
destacadas acima, um conceito fundamental, o qual diz respeito ao conceito de dialético6. 
Diante disso, desenvolver uma pesquisa que esteja apoiada em um referencial teórico 
materialista histórico-dialético significa partir de pressupostos tais como os de que os 
fenômenos são passíveis de se conhecer e de que fora da consciência existe uma realidade 
objetiva, a qual, por sua vez, é contraditória; ou seja, na realidade objetiva (onde existem 
leis e categorias) existe a interação entre aspectos opostos. 
 
 Para ilustrar os enfoques acima mencionados, mostramos abaixo como um mesmo 
problema de pesquisa em administração pode ser formulado de três maneiras distintas a 
partir da perspectiva ou tendência teórica que se usa para formulá-lo. 
 
1. Perspectiva Positivista 
 
TEMA: A Baixa Produtividade Industrial 
DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA: A Baixa Produtividade Industrial nas pequenas indústrias de confecções 
da cidade de Maringá, PR. 
FORMULAÇÃO DO PROBLEMA: Existem relações entre a baixa produtividade das pequenas indústrias de 
confecções da cidade de Maringá - PR, e o nível sócio-econômico dos 
operários, escolaridade dos operários, lugar onde está situada a 
indústria, distrito ou periferia, sexo dos operários, anos de trabalho e 
experiência dos supervisores e/ou gerentes e/ou proprietário(s) da 
indústria e grau de formação profissional dos mesmos? 
 
2. Perspectiva Fenomenológica 
 
TEMA: A Baixa Produtividade Industrial 
DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA: A Baixa Produtividade Industrial nas pequenas indústrias de confecções 
da cidade de Maringá, PR. 
FORMULAÇÃO DO PROBLEMA: Quais são as causas, segundo a percepção dos operários e dos 
supervisores e/ou gerentes e/ou proprietários da indústria, da baixa 
produtividade industrial e o significado que esta tem para a vida dos 
operários, dos supervisorese/ou gerentes e/ou proprietários das 
pequenas indústrias de confecções da cidade de Maringá, PR? 
 
3. Perspectiva Dialética 
 
TEMA: A Baixa Produtividade Industrial 
DELIMITAÇÃO DO PROBLEMA: A Baixa Produtividade Industrial nas pequenas indústrias de confecções 
da cidade de Maringá, PR. 
FORMULAÇÃO DO PROBLEMA: Quais são os aspectos da ocorrência da baixa produtividade industrial 
em nível local, regional e nacional e suas relações com o processo de 
produção local e da comunidade nacional, e como se apresentam as 
contradições, primordialmente, em relação a estrutura produtiva, 
formação e desempenho profissional dos operários e supervisores e/ou 
gerentes e/ou proprietários, assim como em relação a situação de lugar 
 
6 Embora o conceito de dialética seja objeto do estudo e da produção de vários filósofos, o conceito de 
dialética aqui mencionado referencia-se em definições de Engels e Lênin, posto que são deles as definições 
trabalhadas pelos autores que serviram de referência para este texto. 
da indústria, distrito ou periferia, e especificamente nas pequenas 
indústrias de confecções de Maringá, PR? 
 
 
A caracterização do processo de pesquisa 
 
 Para caracterização do processo de pesquisa utilizaremos as figuras abaixo, 
elaboradas por Alencar (1999), com o intuito de ressaltar as diferenças entre o processo de 
pesquisa qualitativa e o processo de pesquisa quantitativa. 
 
 
 
Passo 1 Passo 2 Passo 3 Passo 4 
 
Definição do 
problema de 
pesquisa 
 Formula-
ção de 
Hipótese 
 Definição 
operacio-
nal das 
variáveis 
 Elaboração 
dos instru- 
mentos de 
pesquisa 
 
 
 
 
 Passo 5 Passo 6 Passo 7 Passo 8 
 
 Coleta 
dos 
dados 
 
 Análise 
Dos 
Dados 
 Estabeleci- 
Mento das 
Conclusões 
 Elaboração 
do relatório 
de pesquisa 
 
Fonte: Alencar (1999:10). 
 
Figura 1- Seqüência Linear da Pesquisa em Ciências Sociais 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: Alencar (1999:17). 
 
 
Figura 2- Seqüência Circular/Interativa da Pesquisa em Ciências Sociais 
 Organização 
 das 
 informações 
 Coleta 
 de 
informações 
 Análise 
 das 
informações 
Formulação 
de questões 
de pesquisa 
Elaboração 
do relatório 
de pesquisa 
Problema 
 de 
 pesquisa 
 
 
 Ao contrário do processo de pesquisa quantitativa (Figura 1), no processo de 
pesquisa qualitativa (Figura 2) o trabalho de campo acontece durante todo o processo de 
pesquisa. Pode acontecer, inclusive, durante a elaboração do próprio relatório de pesquisa, 
onde questões adicionais ou completamente novas podem também surgir, levando a 
necessidade de se fazer novas observações - ainda que em função de restrições 
orçamentárias, cronológicas, geográficas, etc., nem sempre isso seja possível. As análises 
parciais das informações obtidas nesse contexto são de grande valia, pois servem para 
ajudar a responder ao problema de pesquisa e também para estabelecer novas etapas da 
própria investigação. 
 
 Nesse sentido, a pesquisa qualitativa não estabelece conclusões finais ou definitivas 
em seu processo, o que já não ocorre com a pesquisa quantitativa, que prioriza a obtenção 
de um resultado último. A despeito do caráter estático de uma e dinâmico de outra, ou da 
linearidade de uma e da interatividade de outra, ambas têm sido usadas para a geração do 
conhecimento em administração. Todavia, o processo de pesquisa qualitativa ainda não é 
de todo conhecido pelos administradores de empresa que, de uma forma ou de outra, 
devido à educação que recebem, basicamente positivista, tendem a valorizar os aspectos 
mais quantitativos da administração, na tentativa de antecipar o futuro e proceder previsões 
e planejamentos estratégicos que lhes garantam a possibilidade de maximizar lucros 
organizacionais e aumentar a participação no mercado em que suas empresas atuam. 
 
Técnicas utilizadas na coleta e análise dos dados na pesquisa qualitativa 
 
 Elencamos a partir desse momento as técnicas mais utilizadas na coleta de dados na 
pesquisa qualitativa. Facilmente constatamos a interação e a dinamicidade presentes no uso 
das mesmas. O fato de não mencionarmos aqui o questionário fechado não significa que tal 
técnica não possa ser utilizada na pesquisa qualitativa. Não a mencionamos apenas porque 
as outras são mais representativas do caráter interativo e dinâmico da pesquisa qualitativa. 
 
Observação participante e observação não-participante 
 
 A observação enquanto técnica de coleta de dados para geração do conhecimento 
científico pode ser participante e não-participante. Alencar (1999:72) define a observação 
participante como uma técnica através da qual o pesquisador junta-se ao grupo que está 
sendo estudado como se fosse membro dele e tenta ser, ao mesmo tempo, observador e 
uma das pessoas observadas. Isso significa que o pesquisador pode modificar e também ser 
modificado pelo contexto em que se dá a pesquisa. 
 
 Essa técnica, entretanto, tem os seus limites. Segundo Haguette (1987), suas 
limitações residem 
 
“(...) na relação observador/observados e na ameaça constante de obliteração 
da percepção do primeiro em conseqüência do seu envolvimento na situação 
pesquisada, envolvimento este inerente à própria técnica, que lhe confere a 
natureza que a distingue de outras técnicas; na impossibilidade de 
generalização dos resultados; por ser uma técnica que busca mais os sentidos 
do que as aparências das ações humanas ela coloca seus próprios limites; por 
exemplo, não pode pretender a abrangência do ‘survey’ embora o supere em 
termos de profundidade dos dados. Sua força é, também, sua fraqueza ...” 
(Haguette, 1987:67) 
 
 Quanto à observação não-participante, o pesquisador não se faz passar por um 
membro do grupo estudado, limita-se a ficar junto ao grupo dos que estão sendo 
observados. 
 
Entrevista estruturada e entrevista semi-estruturada 
 
 A entrevista estruturada caracteriza-se por apresentar perguntas fechadas onde os 
entrevistados respondem exatamente às mesmas perguntas e as respostas são estruturadas 
também exatamente da mesma forma para todos. A entrevista do tipo estruturada é 
bastante utilizada nas pesquisas do tipo “survey” (método que trabalha com análise 
estatística e, no geral, com amostragem). Já a entrevista semi-estruturada caracteriza-se por 
apresentar questões abertas. Ao contrário da entrevista estruturada, a entrevista semi-
estruturada não têm as respostas padronizadas. A importância da entrevista semi-
estruturada reside no fato dela permitir a participação espontânea do entrevistado a partir 
do momento em que este, tendo em vista sua experiência no assunto em questão, começa a 
participar efetivamente do conteúdo da pesquisa. Esta participação só é possível porque a 
entrevista semi-estruturada parte de questionamentos que, por sua vez, geram novos 
questionamentos (tanto por parte do entrevistado quanto por parte do entrevistador) 
originando com isso novas indagações que vão surgindo a partir das respostas do 
entrevistado. 
 
História de vida 
 
 Na revisão que faz de vários autores, Alencar (1999:116) define a história de vida 
como “(...) a autobiografia de uma pessoa, obtida por entrevistas guiadas por roteiros. É 
um método centrado na interpretação e na explicação que a própria pessoa tem sobre o seu 
comportamento e sobre as experiências que viveu.” Conforme ressalta Haguette (1987), a 
 
“história de vida, em virtude de sua riqueza de detalhes, pode ser importante 
naqueles momentos em que uma área de estudo torna-se estagnante por ter 
exaurido a busca de novas variáveis sem conseguir, com isto, incrementos de 
conhecimento. A história de vida pode sugerir novas variáveis, novas questões 
e novos processos que podem conduzir a uma reorientação da área.” 
(Haguette, 1987:72). 
 
Na opinião de Alencar (1999:117) o método da história de vida muito se assemelha ao 
estudo de casos. Para esse autor “na realidade, história de vida não deixade ser um caso.” 
 
História Oral 
 
 Segundo Alencar (1999:118), história oral é "o relato do entrevistado sobre um 
acontecimento (colonização de uma região, conflitos sobre a posse da terra, processos de 
cultivo do solo, etc.) do qual ele tenha participado ou que chegou até ele através de relatos 
de antepassados e outras pessoas, ou mesmo através dos meios de comunicação da época.” 
 
 É importante ressaltar que as técnicas apresentadas têm limitações de ordem 
diversa, algumas delas ressaltadas neste texto. Ressalta-se ainda que pode-se utilizar mais 
de uma técnica, numa perspectiva de complementaridade, para se estudar um mesmo 
problema. Nesse sentido, Haguette (1987) assinala que 
 
“deve ter ficado evidente que a história oral representa um tipo de entrevista, 
já que é produzida através do contato direto entre duas pessoas: uma delas 
coloca as questões enquanto a outra fornece informações. No caso da 
entrevista biográfica, ela representa também uma história de vida, já que as 
questões são orientadas em função do percurso histórico do entrevistado, 
embora seja mais flexível em termos da liberdade que concede ao depoente. 
Cada uma tem suas vantagens e limitações, mas não resta dúvidas que, quando 
obedecendo ao rigor científico, todas contribuem com uma parcela na 
produção da ciência.” (Haguette, 1987:87) 
 
Por fim, cabe-nos destacar que, como decorrência das definições das várias técnicas de 
coleta de dados aqui apresentadas e, reportando mais uma vez à Figura 2 (seqüência 
circular/interativa da pesquisa em ciências sociais), a análise e interpretação dos dados na 
pesquisa qualitativa ocorre durante todo o processo de pesquisa, ou seja, não devem existir 
demarcações rigorosas entre a coleta de dados e a análise e interpretação dos dados. 
 
Indicações de fontes para leitura e apoio na condução de pesquisas qualitativas 
 
 Os livros e artigos abaixo relacionados são algumas das referências que podem ser 
encontradas para um maior entendimento e, sobretudo, utilização da pesquisa qualitativa 
em estudos de administração. Alguns deles são mais antigos e simples, e nos ajudaram 
bastante nos nossos primeiros passos em pesquisa qualitativa - tanto que preferimos 
referenciá-los ao longo desse texto -, e outros são mais recentes, amplos e completos - 
verdadeiros manuais de mesa. Esses mais recentes são frutos particulares de visitas à 
maravilha que é a Internet, não apresentam os viéses ortodoxos dos manuais da década de 
40, 50 e até mesmo 60, e o único efeito colateral que apresentam para o leitor é a fatura do 
cartão de crédito no fim do mês. 
 
 
01. Livros que contêm fundamentos e origens, bem como técnicas da pesquisa qualitativa, de uma forma 
clara e bastante didática: 
 
 
ALENCAR, Edgard. Introdução à metodologia de pesquisa social. Lavras: UFLA, 1999. 125p. 
 
CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1991. 
 
LARA, Tiago A. Caminhos da razão no ocidente: a filosofia ocidental do renascimento aos nossos dias. 2ª 
ed. Petrópolis: Vozes, 1986. 
 
HAGUETTE, Teresa M. F. Metodologias qualitativas na sociologia. Petrópolis: Vozes, 1987. 
 
TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação 
(o positivismo, a fenomenologia, o marxismo). São Paulo: Atlas, 1987. 
 
 
02. Artigos e Livro que contêm técnicas da pesquisa qualitativa e exemplos de sua aplicação: 
 
 
BRIOSCHI, Lucila R.; TRIGO, Maria H. B. Relatos de vida em ciências sociais: considerações 
metodológicas. Ciência e Cultura, Brasília, v. 39, n. 7, p. 631-637, jul. 1987. 
 
DENZIN, Norman K. Interpretando a vida das pessoas comuns: Sartre, Heidegger e Faulkner. Dados - 
Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro, v. 27, n. 1, p. 29-43, 1984. 
 
DEUTSCHER, Irwin. What we say - what we do: sentiments & acts. Glenview: Scott Foresman Company, 
1973. 
 
QUEIROZ, Maura I. P. de. Relatos orais: do "indizível" ao "dizível". In: VON SINSON, O. M. (Org.) 
Experimentos Com Histórias de Vida. São Paulo: Vértice, 1988. P. 14-43. 
 
 
03. Artigos sobre fundamentos, técnicas e categorias da pesquisa qualitativa, relacionados à administração: 
 
 
CAMPOMAR, Marcos C. Do uso de "estudo de caso" em pesquisas para dissertações e teses em 
administração. Revista de Administração, São Paulo, v. 26, n. 3, p. 95-97, jul./set. 1991. 
 
GODOY, Arilda S. Pesquisa qualitativa: tipos fundamentais. Revista de Administração de Empresas, São 
Paulo, v.35, n. 3, p.20-29, mai./jun. 1995a. 
 
______________. A pesquisa qualitativa e sua utilização em administração de empresas. Revista de 
Administração de Empresas, São Paulo, v. 35, n. 4, p. 65-71, jul./ago. 1995b. 
 
SERVA, Maurício & JAIME, Pedro Júnior. Observação participante e pesquisa em administração: uma 
postura antropológica. Revista de Administração de Empresas, São Paulo, v. 35, n. 3, p. 64-79, 
mai./jun. 1995. 
 
TEIXEIRA, Hélio J. & PELLEGATTI, Marco. Métodos para coleta de dados sobre o trabalho 
administrativo. Revista de Administração de Empresas, Rio de Janeiro, v. 26, n. 2, p. 61-64, abr./jun. 
1986. 
 
 
04. Livros mais recentes e completos sobre pesquisa qualitativa: 
 
 
BICKMAN, Leonard & ROG, Debra J. (Orgs.) Handbook of applied social research methods. London: 
Sage, 1997. 
 
CRESWELL, John W. Qualitative inquiry and research design: choosing among five traditions. Thousand 
Oaks: Sage, 1998. 
 
DENZIN, Norman K. & LINCOLN, Yvonna S. (Eds.) Handbook of qualitative research. Thousand Oaks: 
Sage, 1994. 
 
LAVILLE, C.; DIONNE, J. A construção do saber: manual de metodologia da pesquisa em ciências sociais. 
Belo Horizonte: Editora UFMG, 1999. 
 
LEE, Thomas W. Using qualitative methods in organizational research: organizational research methods. 
London: Sage, 1998. 
 
KING, Gary.; KEOHANE, Robert O. e VERBA, Sidney. Designing social inquiry: scientific inference in 
qualitative research. Princeton: Princeton University Press, 1994. 
 
SILVERMAN, D. Interpreting qualitative data: methods for analysing talk, text and interactions. London: 
Sage, 1993. 
 
 
 
 
 
 
 
Referências bibliográficas 
 
ALENCAR, Edgard. Introdução à metodologia de pesquisa social. Lavras: UFLA, 1999. 
125p. 
 
DEMO, Pedro. Introdução à metodologia das ciências. 2a ed. São Paulo: Atlas, 1987. 
118p. 
 
HAGUETTE, Teresa M. F. Metodologias qualitativas na sociologia. Petrópolis: Vozes, 
1987. 163p. 
 
NAGEL, Lízia H. Algumas características do materialismo histórico, da 
fenomenologia e do positivismo (notas de aula). Maringá: UEM, s.d. 26p. 
(Mimeografado). 
 
SEVERINO, Antônio J. Metodologia do trabalho científico. 17a ed. São Paulo: Cortez 
Autores Associados, 1991. 237p. 
 
TRIVINÕS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa 
qualitativa em educação (o positivismo, a fenomenologia, o marxismo). São Paulo: 
Atlas, 1987. 175p. 
 
ZANELLI, José C. Pesquisa qualitativa em psicologia e administração. In: Coletâneas 
ANPEPP (Trabalho, Cultura e Organizações). v.1, n. 11, p. 85-93, set.,1996. 
 
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