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INTERRUPÇÃO DE SERVIÇOS PUBLICOS E INADIMPLEMENTO - EVOLUÇÃO JURISPRUDENCIAL Os serviços públicos estão previstos no art. 175 da Constituição Federal e são de titularidade do Estado. Esta titularidade nunca sai das mãos do poder público, mesmo que o serviço seja executado por particular. O particular só poderá prestar serviço público caso o estado delegue, via contrato de concessão ou permissão. Entretanto, há exceções, como nos casos das atividades essenciais, previstas no art. 6° da CF, que podem ser executadas por particulares, em razão do interesse público. Os serviços públicos, enquanto atividades típicas do Estado, submetem-se ao regime jurídico administrativo. Este, por sua vez, como qualquer outro regime jurídico, compõe-se de regras e de princípios jurídicos reguladores. Um desse princípios é o princípio da continuidade que dispõe que os serviços públicos devem ser prestados de maneira contínua, sem interrupções, não podendo ser suspensos sem a comunicação prévia das autoridades pertinentes aos administrados. Este princípio limita o direito de greve do servidor público previsto no art. 37, inciso VII, da C.F., mas o assunto ainda aguarda regulamentação legal. Para o militar, por exemplo, há proibição expressa de greve. Nesse sentido, dispõe o artigo 22, do Código de Defesa do Consumidor: Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código. Em contrapartida, a redação do art. 6°, §3°, inc. II da Lei 8987/95 autoriza a interrupção ante ao inadimplemento do usuário, in verbis: Art. 6o Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato. (...) § 3o Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a sua interrupção em situação de emergência ou após prévio aviso, quando: I - motivada por razões de ordem técnica ou de segurança das instalações; e, II - por inadimplemento do usuário, considerado o interesse da coletividade. Ante a controvérsia presente no ordenamento jurídico brasileiro quanto ao tema, o STJ entendeu que a Lei 8987/95 é especial em relação ao CDC e deve ser aplicada. Com isso, a interrupção é permitida desde que não desrespeite os direitos fundamentais do usuário. Por outro lado, quando o poder público for o usuário do serviço público a inadimplemento não acarretará no interrompimento quando se tratar de uma atividade essencial. Assim, quando por exemplo, o Município for inadimplente, é possível interromper o serviço público deste município desde que não atinja atividades públicas essenciais: hospitais, escolas, logradouros. Por todo exposto conclui-se que se o serviço público diz respeito a dignidade da pessoa, ele não poderá ser interrompido, mesmo que haja o inadimplemento.
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