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APS-7semestre-direito-Unip

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UNIVERSIDADE PAULISTA
ATIVIDADE PRÁTICA SUPERVISIONADA de 2020/1.
CAMPINAS
2020
DESENVOLVIMENTO 
O Código Penal Brasileiro em seu artigo 272 prevê como crime a falsificação, a corrupção, a adulteração ou alteração de substância ou produto alimentício destinado a consumo, tornando-o nocivo à saúde pública ou reduzindo-lhe o valor nutritivo, culminando pena de reclusão de 4 a 8 anos e multa. 
Tal crime trata-se de um tipo penal misto alternativo, ou seja, as condutas previstas são fungíveis, tanto faz o cometimento de uma ou de outra, porque afetam o mesmo bem jurídico, que é a incolumidade pública, mais precisamente a saúde pública individual ou coletiva, havendo único delito, inclusive se o agente realiza mais de uma dessas condutas. Por e tratar de crime comum, qualquer pessoa pode figurar como sujeito ativo, e como sujeito passivo, estará a coletividade (crime vago). Por se tratar de crime formal, prescinde de resultado naturalístico, bastando a mera ocorrência da conduta, podendo ser esta realizada de forma livre cujos efeitos serão instantâneos. 
O referido crime é de ação penal pública incondicionada, regra geral em nosso ordenamento jurídico. Assim, a atuação do Ministério Público, titular da ação, independe da manifestação de vontade da vítima ou de terceiros pois depende dele o oferecimento da denúncia.
Conforme o paragrafo 1º-A do artigo 272 do Código Penal, incorre nas penas deste artigo quem fabrica, vende, expõe à venda, importa, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo a substância alimentícia ou o produto falsificado, corrompido ou adulterado. Bem como prevê o paragrafo 1º que está sujeito às mesmas penas quem pratica as ações previstas neste artigo em relação a bebidas, com ou sem teor alcoólico. Cabe ressaltar que a modalidade culposa do crime está prevista no paragrafo 2º do artigo em tela, sendo culminada a esta uma pena de detenção de 1 a dois anos e multa
Para a concretização de tal crime, é necessária a comprovação da nocividade positiva e o perigo, abstrato ou concreto que, no caso em tela, está sendo investigada a ligação do consumo da cerveja contaminada por dietilenoglicol, substância proibida para consumo, à ocorrência de 6 mortes e 35 internações por motivos graves de intoxicação. Estão sob investigação, duas hipóteses do que supostamente teria acontecido para que houvesse a contaminação nos tanques da cervejaria Backer, a primeira é a que um ex-funcionario teria sabotado a produção e a segunda seria de erro por parte da cervejaria. 
Caso seja confirmada a sabotagem, o ex-funcionário poderá responder pelo artigo 272, §1º do Código Penal, na sua forma qualificada prevista no artigo 285 do Código Penal, na medida que, existindo o resultado morte, como ocorreu neste caso, a pena privativa de liberdade deve ser aplicada em dobro. O artigo 285 do Código Penal define que, na forma qualificada dos crimes contra a saúde pública aplica-se o disposto no art. 258, salvo quanto ao definido no art. 267, e o artigo 258, por sua vez, prevê que nas formas qualificadas de crime de perigo comum, se do crime doloso de perigo comum resulta lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço. 
Entretanto, caso não seja apurada nenhuma ação dolosa com a intensão de prejudicar a empresa, verificando a existência por parte da Backer de erro por negligência, imprudência ou imperícia, visto que a empresa incorreu em falha grave e omissão intolerável acerca dos mecanismos internos de garantia dos processos de fiscalização e de segurança da qualidade da cerveja disponibilizada aos consumidores, a Cervejaria poderá ser responsabilizada pelo crime previsto no artigo 272, §1º e §2º do Código Penal, ou seja, por corrupção, adulteração ou alteração de bebida na modalidade culposa, sendo a pena de detenção estabelecida em 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
Tendo em vista as mortes ocorridas em razão da prática culposa do crime, aplica-se a pena combinada ao homicídio culposo, aumentada de um terço, consoante previsão no § 3º artigo 121 do Código Penal, que define a modalidade culposa do homicídio, culminando uma pena de detenção de 1 a 3 anos em combinação com o caso de aumento de pena do § 4o que dispõe que no homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3 (um terço), se o crime resulta de inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante.
DECISÕES JURISPRUDENCIAIS 
 Jurisprudência STF
11/10/2011
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS 110.435 PARANÁ 
RELATOR : MIN. RICARDO LEWANDOWSKI
RECTE.(S) :MARIA DE FATIMA DOS SANTOS
ADV.(A/S) :JOSÉ PAULO PEREIRA GOMES
RECDO.(A/S) :MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL
PROC.(A/S)(ES) :PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA 
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PENAL. 
CRIME DE FALSIFICAÇÃO DE BEBIDA ALCÓOLICA (ART. 272, § 1o-A E § 1o, DO CÓDIGO PENAL). 
REGIME INICIAL DE CUMPRIMENTO DE PENA. PRETENSÃO AO SEMIABERTO. 
IMPOSSBILIDADE. ART. 33, § 2o, DO ESTATUTO REPRESSOR. PACIENTE REINCIDENTE. SENTENÇA DEVIDAMENTE FUNDAMENTADA. 
RECURSO IMPROVIDO. 
I – Embora a pena imposta à paciente tenha sido de 4 anos e 2 meses de reclusão, o que autorizaria, em tese, a fixação do regime semiaberto para desconto da sanção corporal, o art. 33, § 2o, b, do Código Penal, estabelece que esse regime destina-se ao condenado não reincidente, cuja pena seja superior a quatro anos e não exceda a oito. 
II - A sentença consignou tratar-se de ré reincidente, o que impede o acolhimento do pleito de fixação de regime semiaberto. 
III - Decisão devidamente fundamentada, que expôs, de modo inequívoco, as razões de convencimento do magistrado que o conduziram à fixação do regime inicial fechado para cumprimento da pena. 
IV – Recurso ordinário em habeas corpus ao qual se nega provimento. 
ACÓRDÃO 
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, sob a Presidência do Senhor Ministro Ayres Britto, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, por decisão unânime, negar provimento ao recurso ordinário em habeas corpus, nos termos do voto do Relator. Ausentes, justificadamente, os Senhores Ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa. 
Brasília, 11 de outubro de 2011.

RICARDO LEWANDOWSKI – RELATOR 
R E L A T Ó R I O 
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI (RELATOR): 
Trata-se de recurso ordinário em habeas corpus interposto por MARIA DE FÁTIMA DOS SANTOS, contra acórdão da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, que denegou a ordem pleiteada no HC 196.626/PR, Rel. Min. Og Fernandes. 
Infere-se dos autos que a paciente foi condenada à pena de 4 anos e 2 meses de reclusão, em regime inicial fechado, e ao pagamento de 12 dias- multa, pela prática do crime previsto no art. 272, § 1o-A e § 1o, do Código Penal (falsificação de bebida alcoólica). 
Irresignada, interpôs recurso de apelação, desprovido. Ainda inconformada, aviou recurso especial, inadmitido na origem, o que gerou a interposição de agravo de instrumento para o STJ, o qual não foi conhecido, dando ensejo a sucessivos agravos regimentais. Em razão do caráter meramente protelatório dos recursos foi determinada, pela Corte Superior, a imediata execução da sentença condenatória. 
Foi então que a recorrente manejou habeas corpus no STJ, pleiteando lhe fosse garantido o direito de permanecer em liberdade até o trânsito em julgado da condenação e, ainda, a fixação de regime menos rigoroso para o início do cumprimento da reprimenda, nos termos do enunciado da Súmula 440 daquele tribunal. 
A Sexta Turma do STJ, ao apreciar o writ, entendeu por conhecer em parte do mandamus, e nessa extensão, denegá-lo. 
É dessadecisão que se insurge a recorrente. 
Postula, em suma, a fixação de regime menos gravoso para cumprimento da pena que lhe foi imposta, em observância à Súmula 440 do STJ, ao fundamento de que todas as circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal lhe foram favoráveis. 
As contrarrazões foram apresentadas. 
O Ministério Público Federal, em parecer da lavra da Subprocuradora-Geral da República Cláudia Sampaio Marques, opinou pelo desprovimento do recurso. 
É o relatório. 
V O T O 
O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI (RELATOR): Bem examinados os autos, tenho que o recurso não comporta provimento. 
O acórdão impugnado porta a seguinte ementa 
“HABEAS CORPUS. ART. 272, §§ 1o-A e 1o, DO CÓDIGO PENAL. PRISÃO CAUTELAR. DIREITO DE AGUARDAR EM LIBERDADE O TRÂNSITO EM JULGADO DA CONDENAÇÃO. PEDIDO PREJUDICADO. REGIME INICIAL FECHADO PARA O CUMPRIMENTO DA PENA. PRETENSÃO AO SEMIABERTO. PENA SUPERIOR A QUATRO ANOS. AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 269⁄STJ. 
1. Encontra-se prejudicado o pedido de aguardar em liberdade o trânsito em julgado da condenação, em virtude da decisão proferida pela Sexta Turma desta Corte, no AgRg no AgRg no AgRg no Agravo de Instrumento no 1.264.422⁄PR. 
2. Segundo o pacífico entendimento do Superior Tribunal de Justiça, quando as circunstâncias judiciais forem favoráveis ao réu e a pena não ultrapassar 4 (quatro) anos de reclusão, é cabível o estabelecimento do regime semiaberto para o início de cumprimento da privativa de liberdade, ainda que se trate de réu reincidente (Súmula 269⁄STJ). 
3. Na hipótese, embora as circunstâncias judiciais sejam favoráveis à paciente, a pena privativa de liberdade ultrapassa a 4 (quatro) anos, o que afasta a incidência da referida súmula, autorizando o estabelecimento do regime mais severo. 
4. Habeas corpus parcialmente conhecido e, nessa extensão, denegado”. 
Conforme relatado, a recorrente, condenada à pena de 4 anos e 2 meses de reclusão em regime inicial fechado, pela prática do delito tipificado no art. 272, § 1o-A e § 1o do Código Penal1, pugna pela fixação de regime menos gravoso para cumprimento da reprimenda. 
Entretanto, a pretensão não prospera. 
Isso porque o art. 33, § 2o, b, do Código Penal, estabelece que o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 anos e não exceda a 8 poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semiaberto. Ocorre, porém, que a sentença consignou tratar-se de ré reincidente, o que impede o acolhimento do pleito. 
Transcrevo, por oportuno, a dosimetria da pena levada à efeito pelo juiz sentenciante: 
“Na fixação da pena, vê-se pelas certidões acostadas às folhas 106, que a sentenciada possui antecedentes criminais, entretanto tais antecedentes não serão utilizados na exasperação da pena base, uma vez que caracterizam reincidência; agiu com dolo normal à espécie incriminada, imbuída que estava da intenção de obter lucro fácil; possui, ao que se vê, personalidade voltada à prática delitiva; sua conduta social deve ser presumida boa, diante das declarações juntadas às folhas 157/159; as circunstâncias que envolveram a prática de delito são normais, elementares do tipo; as consequências do crime foram de menor importância, uma vez que as bebidas foram 
“Art. 272 - Corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou produto alimentício destinado a consumo, tornando-o nociva à saúde ou reduzindo-lhe o valor nutritivo:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1o-A - Incorre nas penas deste artigo quem fabrica, vende, expõe à venda, importa, tem em depósito para vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo a substância alimentícia ou o produto falsificado, corrompido ou adulterado.
§ 1o - Está sujeito às mesmas penas quem pratica as ações previstas neste artigo em relação a bebidas, com ou sem teor alcoólico”. (Redação dada pela Lei no 9.677, de 2.7.1998) apreendidas, evitando-se, assim, a sua comercialização; o comportamento da vítima não interessa à dosimetria. 
Assim, bem analisados e ponderados os parâmetros do artigo 59 da lei material penal, fixo a PENA BASE em 04 (quatro) anos de reclusão e 10 (dez) dias-multa, justificando que o faço, diante das circunstâncias judiciais acima analisadas. 
Não existem circunstâncias atenuantes; em razão da caracterização da circunstância constante do inciso “I” do artigo 61, do Código Penal (reincidência), AGRAVO a pena em 02 (dois) meses de reclusão e 02 (dois) dias-multa, estabelecendo-a provisoriamente em 04 (quatro) anos e 02 (dois) meses de reclusão e 12 (doze) dias-multa. 
Não existem causas de diminuição e de aumento de pena a serem aplicadas, motivo pelo qual, TORNO-A DEFINITIVA em 04 (quatro) anos e 02 (dois) meses de reclusão e 12 (doze) dias-multa. 
(...) 
Estabeleço para cumprimento da Pena Privativa de Liberdade o REGIME FECHADO, por se tratar de reincidente (CP, art. 33, § 2o, “a”), designando para tal a Penitenciária Estadual de Maringá. 
Infere-se, pois, sem maior esforço, que a paciente não preenche os requisitos para o regime semiaberto, em razão da reincidência. 
Verifica-se, ainda, que o decisum proferido em primeira instância encontra respaldo na lição de Guilherme de Souza Nucci2, in verbis: “a regra estabelecida pelo Código Penal é de que o condenado reincidente deve iniciar o cumprimento da sua pena sempre no regime fechado, pouco importando o montante da sua pena (ver alíneas b e c do § 2o deste artigo). E tem sido posição majoritária na doutrina e na jurisprudência não poder o réu reincidente receber outro regime, mormente quando apenado com reclusão, que não seja o fechado”. 
Deste modo, julgo que a sentença condenatória, além de observar o que estabelece o Código Penal em seu art. 33, § 2o, encontra-se em consonância com a jurisprudência desta Corte, consolidada na Súmula 719, segundo a qual: “A imposição de regime mais severo do que a pena aplicada permitir exige motivação idônea”. 
Nesse sentido, menciono o que decidido no RHC 103.547/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, que possui a seguinte ementa: 
“Habeas Corpus. 2. Tráfico ilícito de entorpecentes. Paciente condenado à pena de 7 (sete) anos e 8 (oito) meses de reclusão. 3. Pedido de fixação de regime semiaberto para o início do cumprimento da pena. Impossibilidade. Paciente que não cumpre os requisitos previstos no art. 33, § 2o, ‘b’, do Código Penal. 4. Recurso a que se nega provimento”. 
Colaciono, ainda, a ementa do HC 100.616/SP, Rel. Min. Joaquim Barbosa: 
“HABEAS CORPUS. PEDIDO DE LIBERDADE. SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. REINCIDÊNCIA. REGIME FECHADO. POSSIBILIDADE. ORDEM PARCIALMENTE CONHECIDA E, NESSA PARTE, DENEGADA. O impetrante, embora também tenha requerido a liberdade do paciente, não apresentou qualquer fundamento para tanto. Simplesmente fez o pedido. Além disso, o STJ não se manifestou sobre a questão. Portanto, não há como o habeas corpus ser conhecido nesse ponto, sob pena de supressão de instância. Quanto ao pedido de fixação do regime prisional aberto ou semiaberto, o TJSP, ao impor o regime fechado, considerou o fato de o paciente ser, de acordo com a sentença, 'multi- reincidente'. Tal fundamento está em harmonia com o disposto nas alíneas 'b' e 'c' do § 2o do art. 33 do Código Penal, segundo as quais tanto o regime aberto, quanto o semiaberto são reservados aos réus não reincidentes. Habeas corpus parcialmente conhecido e, nessa parte, denegado”. 
De igual modo, não tem aplicação, ao caso, a Súmula 440 do STJ, que possui o seguinte enunciado: 
“Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito”. 
Isso porque não se trata aqui, de fixação de regime mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, mas tão somente de observância ao comando legal, que é claro ao estabelecer que o regime semiaberto destina-se aos não reincidentes aos quais tenha sido aplicada pena que supera quatro anos mas não excede a oito. 
Ante o exposto, nego provimento ao recurso. 
EXTRATO DEATA 
Decisão: recurso ordinário desprovido, nos termos do voto do Relator. Decisão unânime. Ausentes, justificadamente, os Senhores Ministros Celso de Mello e Joaquim Barbosa. 2a Turma, 11.10.2011. 
Presidência do Senhor Ministro Ayres Britto. Presentes à sessão os Senhores Ministros Gilmar Mendes, Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski. Ausente, justificadamente, o Senhor Ministro Celso de Mello. 
Subprocurador-Geral da República, Dr. Paulo da Rocha Campos. 
Karima Batista Kassab Coordenadora 
Jurisprudência STJ 
Processo 
HC 510915 / PA HABEAS CORPUS 2019/0141782-4 
Relator(a) 
Ministro REYNALDO SOARES DA FONSECA (1170) 
Órgão Julgador
T5 - QUINTA TURMA 
Data do Julgamento 
06/08/2019 
Data da Publicação/Fonte 
DJe 22/08/2019 
Ementa 
HABEAS CORPUS SUBSTITUTIVO DE RECURSO ORDINÁRIO. VENDA DE PRODUTOS ADULTERADOS. PRISÃO PREVENTIVA. FUNDAMENTAÇÃO. IMPRESCINDIBILIDADE NÃO DEMONSTRADA. PACIENTE PRIMÁRIO. APLICAÇÃO DE MEDIDAS CAUTELARES. POSSIBILIDADE. WRIT NÃO CONHECIDO. ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 
1. O habeas corpus não pode ser utilizado como substitutivo de recurso próprio, a fim de que não se desvirtue a finalidade dessa garantia constitucional, com a exceção de quando a ilegalidade apontada é flagrante, hipótese em que se concede a ordem de ofício. 2. Para a decretação da prisão preventiva, é indispensável a demonstração da existência da prova da materialidade do crime e da presença de indícios suficientes da autoria. Exige-se, mesmo que a decisão esteja pautada em lastro probatório, que se ajuste às hipóteses excepcionais da norma em abstrato (art. 312 do CPP), demonstrada, ainda, a imprescindibilidade da medida. Precedentes do STF e STJ. 
3. No caso, a fundamentação indicada no decreto não destaca uma excepcionalidade além das características do tipo penal denunciado (art. 272, caput e § 1o do Código Penal), valendo ressaltar que o paciente não foi denunciado por associação criminosa. Ademais, o fato de morar em outro estado e de ainda não ter sido interrogado não é motivo para mantê-lo preso. Paciente reconhecidamente primário (e-STJ fl. 62), tem residência fixa e preso desde 16/2/2019 na comarca em que reside. Possibilidade de aplicação de outras medidas mais brandas. Precedentes. 
4. Habeas corpus não conhecido. Contudo, concedo a ordem de ofício para revogar a prisão preventiva do paciente, mediante a aplicação
de medidas cautelares. 
Acórdão 
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do pedido e conceder "Habeas Corpus" de ofício, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Ribeiro Dantas, Joel Ilan Paciornik e Jorge Mussi votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Felix Fischer. 
Presente na Tribuna: Dra. Elaine Cristina Pereira Silva Cerqueira (P/PACTE). 
Informações Complementares à Ementa 
"[...] 'a prisão preventiva somente se justifica na hipótese de impossibilidade que, por instrumento menos gravoso, seja alcançado idêntico resultado acautelatório' [...]". 
"A prevalência dos critérios da necessidade e da adequação das cautelares pressupõe a proporcionalidade da medida frente a sua razão de ser. Além disso, a aplicação das medidas está submetida ao poder geral de cautela do magistrado, levando em conta as condições pessoais do acusado". 
Referência Legislativa 
LEG:FED DEL:002848 ANO:1940 ***** CP-40 CÓDIGO PENAL ART:00272 PAR:0001A 
LEG:FED DEL:003689 ANO:1941
***** CPP-41 CÓDIGO DE PROCESSO PENAL 
ART:00282 INC:00001 INC:00002 PAR:00006 ART:00312 ART:00319 
LEG:FED CFB:****** ANO:1988
***** CF-1988 CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 
ART:00005 INC:00061 INC:00065 INC:00066 ART:00093 INC:00009 
Jurisprudência Citada 
(PRISÃO PREVENTIVA - EXCEPCIONALIDADE) STF - HC-AGR 128615-SP, HC 126815-MG STJ - HC 321201-SP, HC 296543-SP 
(PRISÃO PREVENTIVA - INDICAÇÃO DE CIRCUNSTÂNCIAS ELEMENTARES DO CRIME - FUNDAMENTAÇÃO INIDÔNEA) 
STJ - RHC 63254-RJ
(PRISÃO PREVENTIVA - FALSIFICAÇÃO DE PRODUTO ALIMENTÍCIO - MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS - POSSIBILIDADE) 
STJ - RHC 95939-SP, RHC 51324-RS, HC 316777-RS 
Jurisprudência TJ - RS
HABEAS CORPUS. 
MUNICÍPIO DE GUAPORÉ. 
EMPRESA TRANSPORTADORA E COMERCIALIZADORA DE LATICINIOS. 
PACIENTE SÓCIO-PROPRIETÁRIO. 
ADULTERAÇÃO DE LEITE. ART. 272 DO CÓDIGO PENAL. CRIME GRAVE. REPERCUSSÃO SOCIAL. PRISÃO PREVENTIVA. REQUISITOS PRESENTES. ORDEM DENEGADA. 
Pareceres técnicos que atestam que o leite transportado pela empresa de propriedade do paciente estava adulterado, havendo indícios suficientes de autoria em relação ao mesmo. A adulteração do leite "in natura" com a adição de água, ureia e formol, além de reduzir os nutrientes do alimento, pode causar danos à saúde humana. Tratando-se de fatos que tiveram enorme repercussão social, compete ao Estado dar uma resposta eficiente à sociedade, para que não impere a sensação de impunidade e o descrédito na Justiça. O crime, em tese, praticado, ainda que não conste no rol dos crimes hediondos, é tão ou mais grave que aqueles, fazendo-se impositiva a manutenção da prisão preventiva, para a garantia da ordem pública. Ordem denegada. (Habeas Corpus Nº 70054676655, Quarta Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Gaspar Marques Batista, Julgado em 27/06/2013)
(TJ-RS - HC: 70054676655 RS, Relator: Gaspar Marques Batista, Data de Julgamento: 27/06/2013, Quarta Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 06/08/2013)
BIBLIOGRAFIA
CUNHA, Rogério Sanches. Código Penal para Concursos: 13ª ed., ver., atual. e ampl. – JusPodivm, 2020.
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm 
Acesso em 21/05/2020
Cervejaria tem responsabilidade, mesmo que contaminação seja acidental. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2020-jan-15/cervejaria-responsabilidade-mortes-dizem-advogados Acesso em 24/05/2020.
Investigação determinará responsável penal. Disponível em: https://domtotal.com/noticia/1426436/2020/03/investigacao-determinara-responsavel-penal/ Acesso em 27/05/2020. 
Backer admite presença de dietilenoglicol em cervejas e diz não ter como arcar com despesas médicas. Disponivel em: https://revistapegn.globo.com/Noticias/noticia/2020/03/backer-admite-presenca-de-dietilenoglicol-em-cervejas-e-diz-nao-ter-como-arcar-com-despesas-medicas.html Acesso em 27/05/2020.
Jurisprudência STF. Disponível em: https://jurisprudencia.stf.jus.br/pages/search?base=acordaos&sinonimo=true&plural=true&page=1&pageSize=10&queryString=art%20272%20cp&sort=_score&sortBy=desc Acesso em 30/05/2020
Jurisprudência STJ. Disponível em: https://scon.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=ART+272+CP&b=ACOR&thesaurus=JURIDICO&p=true Acesso em 30/05/2020

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