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Poesia nos Livros Didáticos de Português (Conceitos Linguísticos)

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1 Kelly Millena Pereira Velozo 
2 Raimunda Marycelle Santos Garcia – Tutora Externa 
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - Licenciatura em Letras (Turma FLX0405) – Prática 
Interdisciplinar II – 17/07/2020 
A POESIA NOS LIVROS DIDÁTICOS DE 
PORTUGUÊS 
 
Kelly Millena Pereira Velozo¹ 
Raimunda Marycelle Santos Garcia² 
 
1. RESUMO 
 
O presente trabalho tem como finalidade apresentar assuntos relacionados a abordagem do gênero 
discursivo poema em livros didáticos de Língua Portuguesa e a importância da poesia para o meio 
pedagógico e a formação de leitores. Para tanto, analisaram-se livros didáticos de Português 
(Ensino Fundamental II e Médio) utilizados pelas escolas de rede pública e privada, na cidade de 
São Luís-MA. Para além da pesquisa nesses livros, foram coletados dados por meio de livros, teses, 
dissertações e artigos que abordaram o tema proposto. Tendo em vista que os livros didáticos são 
um influente e essencial instrumental que viabiliza a prática do letramento e incentivo da leitura, 
tem-se por objetivo que esta pesquisa incentive o uso da poesia não apenas como formação de 
educadores e educandos, mas também como formação de leitores capazes de interagir com o texto e 
o mundo que os cerca. 
Palavras Chaves: Poema; Livro Didático; Língua Portuguesa. 
 
2. INTRODUÇÃO 
 
A análise intitulada “A poesia nos livros didáticos de Português” é um estudo que tem como 
base os textos poéticos contidos nos livros didáticos (LD) Singular & Plural: leitura, produção e 
estudo de linguagem (8° ano) dos autores Marisa Balthasar e Shirley Goulart (2018), Língua 
Portuguesa (9° ano) de Belarmina Monteiro Arrais e Volney da Silva Ribeiro (2012) e Português: 
contexto, interlocução e sentido (2° ano do Ensino Médio) das autoras Maria Luiza M. Abaurre, 
Maria Bernadete M. Abaurre e Marcela Pontara (2013). 
Com o desenvolver da Linguística Moderna, os livros didáticos passaram a sofrer muitas 
alterações para se adequarem aos ensinos teóricos da língua nas escolas. É claro que, devido a esse 
impacto, muitos escritores e professores também tiveram - e ainda têm - a tarefa de se adequarem 
para acompanhar as muitas perspectivas referentes à como o ensino da língua materna é abordado 
nos livros. Logo, tendo em vista essa observação acerca do ensino no campo pedagógico, é de notável 
importância saber como também são abordados os textos literários nos livros didáticos, em especial, 
os textos poéticos (BELO, 2014). 
 
 
Conforme aborda Bittencourt (1993), grande parte do ensino da leitura é feito – e também 
incentivado - por meio dos livros didáticos nas escolas. Logo, analisar as abordagens acerca da “arte 
da palavra”, que é a literatura, em tais instrumentos de aprendizagem é uma das formas de 
compreendermos “como se dá a formação do leitor literário (também de poemas) a partir dos 
fragmentos disponibilizados nesses livros”. No entanto, é sabido que não é de hoje que a literatura é 
usada pedagogicamente, visto que em meados do século XVIII essa arte já era vista como educativa. 
Logo, é compreensível que o gosto pela leitura seja cultivado, sobretudo, no meio escolar, na qual os 
– desde já – amantes de livros e poesias podem se encontrar no universo da leitura (BELO, 2014) 
(grifo meu). 
Sabe-se que é através da linguagem que interagimos com o mundo, logo, através dessas 
interações – realizadas, também, por meio da poesia – é que podemos encontrar as nossas próprias 
expressões de subjetividade; E que o LD, em grande parte, também se torna responsável pelo 
desenvolver da comunicação e saber crítico dos alunos. Sendo assim, algumas das facetas exploradas 
nesse trabalho se referem ao modo como os livros didáticos do ensino fundamental/médio tratam os 
textos poéticos, visando a formação do leitor e indivíduo que, influenciado por esses instrumentos, 
podem desenvolver seus próprios conceitos de mundo e, assim, conseguir compreender as 
informações complexas que os cercam (LOPES, 2020). 
Portanto, conforme já dito, serão abordadas e discutidas algumas análises de ordem teórico-
metodológica que auxiliaram o desenvolvimento deste trabalho. A abordagem será realizada tendo 
em vista o modo como a poesia é representada e utilizada nas unidades temáticas dos livros 
selecionados. Levando em conta que, tal como os livros didáticos são instrumentos de grande auxilio 
nas práticas de letramentos em sala de aula, a poesia é viva e pode, também, contribuir grandemente 
para a formação de sujeitos apreciadores – e praticantes – da leitura. 
 
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 
 
Entende-se como livro didático “o material impresso, estruturado, destinado ou adequado a 
ser utilizado num processo de aprendizagem ou formação” (OLIVEIRA; GUIMARÃES; BOMENY, 
1984, p. 11), portanto, fica claro que esses instrumentos de educação devem ser vistos, não apenas 
como meros “auxiliares de professor” em sala de aula, mas como “tesouros culturais” que poderão 
influenciar grandemente na vida dos estudantes. 
Sabe-se que é nas salas de aula que o florescimento de muitos leitores é desenvolvido, 
portanto, podemos pensar na escola como um local de solo produtivo em que, mediados pelos seus 
professores, os alunos podem ter seus primeiros contatos com a leitura. Por isso, conforme Lopes 
(2020), é que “faz-se necessário refletir acerca da importância de se trabalhar com diferentes 
 
 
categorias textuais, para que esse leitor em formação estabeleça relações significativas” e marcantes 
com a leitura. E é a poesia que, como uma dessas categorias textuais, pode despertar ainda mais o 
interesse dos estudantes acerca das muitas facetas da linguagem. No entanto, isso só será possível se 
– conforme será abordado – esta arte for manuseada e incentivada de forma correta pelos mediadores 
do ensino-aprendizagem, tal como os autores dos LD. 
Conforme já comentado, a influência dos LD pode ocorrer de muitas formas, e especialmente 
por meio dos gêneros de discurso - de variadas naturezas - empregados nas unidades temáticas; É por 
meio deles que observa-se, positivamente, que muitos – hoje – leitores tiveram (e tem) suas raízes 
cultivadas e repassadas no meio familiar, quer seja pelos contos, poemas, artigos, crônicas, entre 
outros, que estão intrinsicamente conectados ao contexto social cultural em que estão inseridos. 
Todavia, ainda que estes sejam motivos que ressaltem a importância da poesia nos textos didáticos, 
não são somente estas as razões pela qual destaca-se essa regalia como um gênero de discurso 
apreciado e usado nas abordagens dos aspectos literários e gramaticais, em sala de aula. 
Ora, temos a poesia como o retrato do real, e também do que transcende a realidade, do belo, 
do emocional. É a partir dela que nós nos despertamos em valores e fazemos o uso do sensível, daquilo 
que nos causa as mais diversas sensações, da vida. E, sabendo-se que a linguagem é como o espelho 
das nossas vivências (a nossa interação com o mundo), temos a poesia como comunicação e fonte 
inesgotável de sabedoria (BELO, 2020). Sendo assim, o uso dela nos livros didáticos está de acordo 
com o Art.36 da LDB nº 9394, de 20/12/1996, que estabelece a “língua portuguesa como instrumento 
de comunicação, acesso ao conhecimento e exercício da cidadania, contemplando, assim, todas as 
modalidades expressivas” (CLARE, 2020). 
Conforme Geraldi (1984), a linguagem possui três concepções: I) A linguagem como 
expressão do pensamento; II) A linguagem como instrumento de comunicação; e III) A linguagem 
como instrumento de comunicação. Referente a estas concepções podemos destacar que: 
Portanto, tal como "falar é falar-se", quando fazemos da linguagem, assim como da poesia, 
interagimos e expressamos ao mundo aquilo que realmente somos. É por meio da linguagem, dos 
textos, dos gêneros, que as pessoas se conectam conosco e é por deles que nos conectamos com o 
mundo. 
 
Enquanto as duas primeiras se associam às correnteslinguísticas da gramática tradicional 
e do estruturalismo, a terceira está inter-relacionada à teoria da enunciação e leva em 
conta as práticas sociais e as ações que se desenvolvem por meio da língua. No que diz 
respeito ao ensino, conceber a língua e a linguagem como forma de interação social 
reflete, na escola, uma prática sociointeracionista que trata a linguagem como 
manifestação real de enunciação (BELO, 2014). 
 
 
4. ANÁLISE DA POESIA NOS LIVROS 
 
Para a análise dos textos poéticos selecionados fez-se uso e pesquisa dos poemas para o 
incentivo a reflexão e leitura, como estes estabelecem relações intertextuais e, por fim, qual foram as 
abordagens selecionadas pelo autores do livro ao proporem análises a partir deles para os alunos. Para 
tanto, fez-se uma sintetização de algumas características da poesias, tal como a nacionalidade dos 
autores, o período em que os poemas foram escritos e também se estes estão empregados de forma 
integral ou fragmentada, se são letras de músicas e se estão harmonicamente distribuídos pelos 
capítulos dos livros escolhidos ou concentrados em apenas algumas unidades específicas. 
Em vista disso, esta pesquisa abordará, primeiramente, a análise geral das poesias contidas 
nos livros didáticos do 8° e 9° ano do ensino fundamental. O primeiro a ser analisado é o livro 
Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem (8° ano) dos autores Marisa Balthasar e 
Shirley Goulart (2018). Este livro trata-se de um dos livros didáticos que compõe uma coleção – cujo 
nome é o mesmo do título – que inicia no 6° ano e termina no 9° ano, adotado por escolas de rede 
pública do Brasil. Ao todo ele possui cerca de 7 poemas, todos de autores nacionais, com 
predominância das obras de Carlos Drummond de Andrade e duas letras de música. 
Os textos poéticos inseridos foram publicados em épocas distintas, especificamente entre 1930 
e 2015, sendo que os mais recentes - em sua maioria - são canções. As poesias foram analisadas 
conforme a ordem em que constavam no livro. Resumidamente, todos os poemas encontrados eram 
de carácter nacionalista; Na qual, seis têm carácter universal e um poema de carácter nacionalista. 
Dando seguimento à análise dos conteúdos do ensino fundamental, passamos para o livro 
didático do 9° ano, intitulado Língua Portuguesa. Seus autores são Belarmina Monteiro Arrais e 
Volney da Silva Ribeiro. O livro foi publicado em 2012 e também trata-se de uma obra que compõe 
uma coleção de livros - cujos títulos são correspondentes às matérias – escrita por autores distintos, 
e adotada por redes particulares de ensino. Esta obra possui, ao todo, cerca de doze poemas, na qual 
um é de um autor estrangeiro (Luís Vaz de Camões) e todos os demais são nacionais (com destaque 
para as obras de Caetano Veloso e Ednardo), de predominância na área musical. Os poemas foram 
publicados em épocas distintas: um em meados de 1595, e os demais escritos entre o século XX 
(aproximadamente 1959 – 1984) até a contemporaneidade. Em resumo, nas poesias contidas, cinco 
são de carácter internacional e os demais todos são nacionalistas. 
Em seguida, foi-se analisado o livro didático do ensino médio Português: contexto, 
interlocução e sentido das autoras Maria Luiza M. Abaurre, Maria Bernadete M. Abaurre e Marcela 
Pontara. A data de publicação desse livro foi 2013 e, como já citado, também faz parte de uma coleção 
de livros didáticos – cujos são componentes curriculares para ensino médio – adotados pela rede 
pública de ensino brasileira. Possui em seu conteúdo cerca de sessenta e três poemas, de autores 
 
 
estrangeiros e – em sua maioria – nacionais, com predominância das obras de Castro Alves, Álvaro 
de Campos e Gonçalves Dias. Os poemas foram publicados, assim como nos livros anteriores, em 
épocas distintas: aproximadamente entre o século XIX e meados de 2002. E possuem, 
predominantemente, poemas de carácter nacional. 
 
4.1 ANÁLISE COMPARATIVA: RESULTADOS E DISCUSSÕES 
 
Sabe-se que, no Brasil, o Ministério da Educação tem se esforçado para que os livros didáticos 
possam ser compreendidos como “instrumento auxiliar, e não mais a principal e única ferramenta” 
nos livros didáticos (SILVA, 2000). No entanto, não pode-se deixar de lado que no território brasileiro 
o acesso aos outros instrumentos educacionais é, conforme Lopes (2020), “grandemente difícil, quer 
pela localização geográfica da escola, quer pelas condições financeiras da população local”. Tendo 
em vista essa necessidade, vale salientar o que o Plano Nacional de Livro Didático (PNLD) decretou 
em 18 de Julho de 2017 com o Decreto n° 9.099, na qual unificou-se: 
 
A partir disso, algumas análises acerca dos livros didáticos foram estabelecidas: como estão 
presentes os poemas no conteúdo educacional, se apresentam-se de forma fragmentada ou integral, 
se há presença de letras de músicas, se estão distribuídos harmoniosamente pelas unidades dos livros 
ou se há uma concentração maior em capítulos específicos – como os de enfoque na literatura – na 
qual estes são destinados a leitura de poesias. Para tanto, essas pesquisas têm como objetivo contribuir 
para novas perspectivas acerca dos textos poéticos, e, assim, modificar alguns paradigmas que causam 
“cansaço” nos alunos, para que então possa desperta-los da inércia que se encontram, tanto eles 
quanto alguns livros didáticos. 
Constatou-se que em ambos os livros selecionados há, predominantemente, os textos poéticos 
apresentados em fragmentos, quer seja com apenas algumas estrofes, ou até mesmo algumas frases 
retiradas de músicas. Destaca-se, em especial, esse acontecimento no livro Língua Portuguesa (2012), 
na qual a maior parte dos poemas – por estarem “mutilados” – perderam seus sentidos completos. 
Como é o caso de Alegria Alegria, de Caetano Veloso, presente na página 216 desse livro, na qual 
apenas a parte em itálico foi inserida: 
[...] ações de aquisição e distribuição de livros didáticos e literários, anteriormente 
contempladas pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) e pelo Programa 
Nacional Biblioteca da Escola (PNBE). Com nova nomenclatura, o Programa Nacional 
do Livro e do Material Didático – PNLD também teve seu escopo ampliado com a 
possibilidade de inclusão de outros materiais de apoio à prática educativa para além das 
obras didáticas e literárias: obras pedagógicas, softwares e jogos educacionais, materiais 
de reforço e correção de fluxo, materiais de formação e materiais destinados à gestão 
escolar, entre outros. (BRASIL, 2017, s. p.). 
 
 
 
Quadro 1 – Poema-canção Alegria Alegria (Caetano Veloso) 
Caminhando contra o vento 
Sem lenço, sem documento 
No sol de quase dezembro 
Eu vou 
 
O sol se reparte em crimes 
Espaçonaves, guerrilhas 
Em Cardinales bonitas 
Eu vou 
 
Em caras de presidentes 
Em grandes beijos de amor 
Em dentes, pernas, bandeiras 
Bomba e Brigitte Bardot 
O sol nas bancas de revista 
Me enche de alegria e preguiça 
Quem lê tanta notícia 
Eu vou 
Por entre fotos e nomes 
Os olhos cheios de cores 
O peito cheio de amores 
vãos 
Eu vou 
Por que não, por que não 
 
Ela pensa em casamento 
E eu nunca mais fui à escola 
Sem lenço, sem documento 
Eu vou 
 
Eu tomo uma coca-cola 
Ela pensa em casamento 
E uma canção me consola 
Eu vou 
 
Por entre fotos e nomes 
Sem livros e sem fuzil 
Sem fome sem telefone 
No coração do brasil 
 
Ela nem sabe até pensei 
Em cantar na televisão 
O sol é tão bonito 
Eu vou 
Sem lenço, sem documento 
Nada no bolso ou nas mãos 
Eu quero seguir vivendo, amor 
Eu vou 
Por que não? Por que não? 
Por que não? Por que não? 
Por que não? Por que não? 
 FONTE: https://www.letras.mus.br/caetano-veloso/43867/ Acesso em: 16/07/2020 
 
A fragmentação é utilizada por ambos os autores do três livros didáticos, no entanto, a 
abordagem utilizada é diferente. Notou-se que nos livros Português: contexto, interlocução e sentido 
(2013) e Singular & Plural: leitura, produçãoe estudo de linguagem (2018) há uma preocupação 
maior dos autores no uso dos fragmentos que, em sua maioria, são utilizados de forma que não 
comprometam o significado geral dos textos poéticos. Como é o caso dos poemas Amar de Carlos 
Drummond de Andrade, presente na página 231 do Singular e Plural (2018) e em A Esperança de 
Augusto dos Anjos, presente na página 56 do livro Português (2013), nas quais as partes em itálico 
foram utilizadas: 
Quadro 2 – A Esperança (Augusto dos Anjos) 
A Esperança não murcha, ela não 
cansa, 
Também como ela não sucumbe 
a Crença. 
Vão-se sonhos nas asas da 
Descrença, 
Voltam sonhos nas asas da 
Esperança. 
 
Muita gente infeliz assim não 
pensa; 
 
No entanto o mundo é uma 
ilusão completa, 
E não é a Esperança por sentença 
Este laço que ao mundo nos 
manieta? 
 
Mocidade, portanto, ergue o 
teu grito, 
Sirva-te a crença de fanal 
bendito, 
 
 
Salve-te a glória no futuro – 
avança! 
 
E eu, que vivo atrelado ao 
desalento, 
Também espero o fim do meu 
tormento, 
Na voz da morte a me bradar: 
descansa! 
FONTE: https://blogdospoetas.com.br/poemas/a-esperanca/. Acesso em 16/07/2020 
 
 
Quadro 3 – Amar (Carlos Drummond de Andrade) 
 
Que pode uma criatura senão, 
entre criaturas, amar? 
amar e esquecer, amar e 
malamar, 
amar, desamar, amar? 
sempre, e até de olhos vidrados, 
amar? 
 
Que pode, pergunto, o ser 
amoroso, 
sozinho, em rotação universal, 
senão rodar também, e amar? 
amar o que o mar traz à praia, 
o que ele sepulta, e o que, na 
brisa marinha, 
é sal, ou precisão de amor, ou 
simples ânsia? 
 
Amar solenemente as palmas do 
deserto, 
o que é entrega ou adoração 
expectante, 
e amar o inóspito, o cru, 
um vaso sem flor, um chão de 
ferro, 
e o peito inerte, e a rua vista em 
sonho, e 
uma ave de rapina. 
 
Este o nosso destino: amor sem 
conta, 
distribuido pelas coisas pérfidas 
ou nulas, 
doação ilimitada a uma completa 
ingratidão, 
 
e na concha vazia do amor a 
procura medrosa, 
paciente, de mais e mais amor. 
 
Amar a nossa falta mesma de 
amor, 
e na secura nossa amar a água 
implícita, 
e o beijo tácito, e a sede infinita. 
FONTE: https://www.escritas.org/pt/t/4234/amar. Acesso em 16/07/2020 
 
Sabe-se que é inevitável a utilização de fragmentos dos textos poéticos nos livros didáticos, e 
esta é utilizada por muitos autores ao desenvolverem os conteúdos dos livros, porém, cabe ao autor 
que incentive a leitura integral das obras e que, ao utiliza-la como fragmento, se atente ao sentido 
geral e os recurso que ele pode prover. Pois, ao cortar os textos poéticos – na verdade, qualquer texto 
literário – pode deixá-los “sem coerência, sem coesão e sem clareza”, sendo assim, pouco atrativo ao 
leitor (BELO, 2020). Logo, como esses fragmentos poderão dialogar com os alunos e, dessa forma, 
induzir a sua formação literária? É interessante observar o que Soares (2001) diz sobre o assunto, 
quando –com clareza – conclui: 
A partir dessa observação conclui-se que alguns autores dos livros didáticos do fundamental 
utilizam os poemas apenas como base para análise de questões, como o caso do livro Português 
(2012). Logo, isso explica o fato de que alguns dos textos poéticos utilizados, são recortados e 
colocados apenas como exemplos. No entanto, felizmente não são todos os livros que possuem essa 
debilidade. Pois os livros utilizados em escolas públicas aparentam ter um cuidado maior com o uso 
dos poemas, utilizando-os não apenas em questões como fragmentos, e sim, em muitos casos, optando 
"ao selecionar o fragmento de um texto, este tem de constituir-se, ele também, como 
texto, isto é: uma unidade de linguagem, tanto do ponto de vista semântico - uma unidade 
percebida pelo leitor como um todo significativo e coerente - quanto do ponto de vista 
formal - uma unidade em que haja integração dos elementos, que seja percebida como 
um todo coeso" 
 
 
por usar o texto integral. Como constam os poemas No meio do Caminho de Carlos Drummond de 
Andrade na página 157 de Singular e Plural (2018) e Mal Secreto de Raimundo Correia na página 
169 do Português (2013). 
Dando seguimento às análises, abordaremos como a utilização das letras de músicas, se há 
harmonia na distribuição dos demais poemas entre as unidades dos livros e com que finalidade eles 
foram adotados. Inicialmente, é bom recordar que até meados do século XX a oralidade era mantida 
– especialmente – nos contos, quando então se espalhou “com bastante frequência nos domínios 
superpovoados da canção nas sociedades modernas”, como afirma Lopes (2020). Desde então a 
oralidade se reformou e expandiu-se na mídia, na rádio, televisão, e também nos livros. Ainda que o 
foco dessa pesquisa não seja explicitamente abordar como essa nova oralidade expande a poesia, 
pôde-se constar que – também devido a ela – hoje há uma presença muito mais marcante de 
poemas/canção nos livros didáticos brasileiros. Como por exemplo Alegria Alegria de Caetano 
Veloso já citado no Quadro 1, e também o poema/canção Certas Coisas de Lulu Santos, que consta 
na página 233 e 234 do livro Singular & e Plural (2018), na qual a parte em itálico foi inserida: 
 
Quadro 4 – Certas Coisas (Lulu Santos) 
 
Não existiria som 
Se não houvesse o silêncio 
Não haveria luz 
Se não fosse a escuridão 
A vida é mesmo assim 
Dia e noite, não e sim 
 
Cada voz que canta o amor não 
diz 
Tudo o que quer dizer 
Tudo o que cala fala 
Mais alto ao coração 
Silenciosamente eu te falo com 
paixão 
 
Eu te amo calado 
Como quem ouve uma sinfonia 
De silêncios e de luz 
Nós somos medo e desejo 
Somos feitos de silêncio e som 
Tem certas coisas que eu não sei 
dizer 
 
A vida é mesmo assim 
Dia e noite, não e sim 
 
Cada voz que tanto amou não diz 
Tudo o que quer dizer 
Tudo o que cala fala 
 
Mais alto ao coração 
Silenciosamente eu te falo com 
paixão 
Eu te amo calado 
Como quem ouve uma sinfonia 
De silêncios e de luz 
Nós somos medo e desejo 
Somos feitos de silêncio e som 
Tem certas coisas que eu não sei 
dizer 
 
FONTE: https://www.letras.mus.br/lulu-santos/35063/. Acesso em 16/07/2020 
 
Dando seguimento, também contatou-se que os poemas inseridos foram distribuídos de forma 
distinta nos três livros. Pois, enquanto que no livro Português (2013) há presença constante em quase 
todas as unidades do livro, especialmente nas partes de enfoque na literária, nos demais há uma 
concentração específica, e em poucas unidades. No caso do livro do Singular e Plural (2018), há uma 
concentração a partir da unidade 8, que tem como tema “Intervenções Poéticas”. Já no livro Língua 
Portuguesa (2012), os poemas foram inseridos nos dois últimos capítulos, que tratam – inicialmente 
 
 
– de temas literários. Em ambos os livros os textos poéticas foram usados em análise de questões, 
interpretação de textos, e exemplificações de aspectos morfossintáticos. 
No entanto, notou-se que nos livros usados em rede pública os textos poéticos foram inseridos 
de forma que explorem o entendimento e a reflexão dos aluno nos temas sugeridos, de forma que eles 
possam reconhecer como a poesia é explorada em aspectos sociais e literários, especialmente por 
meio dos exercícios propostos, e incentivem o aluno que procure os textos integrais. Como é o caso 
dos poemas Capitu de Luiz Augusto de Moraes, presente de forma integral no livro do fundamental 
na página 213, e A mãe do cativo de Castro Alves, localizado em fragmento no livro do ensino médio 
na página 67. 
Em vista disso, pode-se concluir (ver quadro abaixo referente às análises) que há presença da 
representação social por maioria dos poemas nos livros didáticos, especialmente por meio dos textos 
nacionais e dos diálogos propostos entre eles e os alunos, tal como visa a Tese Bakthiniana – já citada 
anteriormente - que concebe a linguagem, os textos como um todo, como eixo de interação – e 
inclusão – social. E que a utilização desses textos poéticos contribui, de fato, para a formação de 
leitores, ainda que nãosejam todos os livros didáticos que empregam o gênero poema de forma 
atrativa – e, grosseiramente falando, correta – ou os exploram de maneira que possam despertar a 
sensibilidade e ânsia pelo saber por parte dos alunos. 
 
Quadro 5 – Análise sobre poesia nos livros didáticos 
Livro I: Língua Portuguesa, 9° ano, de Arrais e Ribeiro (2012) 
Livro II: Singular & Plural: leitura, produção e estudo de linguagem, 8° ano, Balthasar e Goulart (2018) 
Livro III: Português: contexto, interlocução e sentido, 2° ano EM, Abaurre, L; Abaurre, B. e Pontara (2013) 
 
Os livros contribuem para a formação de leitores e 
representação social? 
Sim (maioria) 
Descritores L. I L. II L. III 
Despertam nos alunos a busca por textos poéticos 
e/ou outras leituras fora do livro didático? 
N S S 
Estabelecem algum tipo de relação com outros 
textos alheios ou dentro do livro? 
N S S 
Despertam nos alunos a reflexão sobre assuntos 
sociais e/ou culturais? 
N S S 
Há presença de letras de músicas? S S S 
Permitem que os alunos consigam identificar e/ou 
interpretar o significado dos poemas? 
N S S 
Há predominância de textos nacionalista e/ou 
autores nacionais? 
S S S 
 S/N = Sim/Não; L = Livro 
 
 
 
O quadro 5 apresenta que, como já analisado, não são todos os livros que contribuem para a 
formação de leitores – especialmente de poesias – e que, portanto, incentiva-se aos autores que 
explorem o máximo dos textos poéticos inseridos; Para que, dessa forma, proporcionem experiências 
mais vívidas e satisfatórias para aqueles que estão tendo – talvez pela primeira vez – contato direto 
com esse gênero de discurso. 
Conclui-se também que, infelizmente, nem todos os livros didáticos satisfazem por completo 
as necessidades do leitor literário, pois somente alguns livros estabelecem relações intertextuais com 
textos presentes ou fora deles. Esse fato é algo a se lamentar, pois é – também – por meio dessas 
relações que os alunos conseguem despertar a reflexão acerca do mundo que vivem. 
Dando seguimento à análise, também confirmou-se que há representação social por parte dos 
poemas na maioria dos livros didáticos, em decorrência tanto do carácter nacional – e internacional 
– quanto por parte da predominância de obras de autores nacionais, presente em todos os livros 
analisados. E também por parte das letras de músicas que, predominantemente nos livros didáticos 
do fundamental, estão contidas em todos livros. Esse fato é algo elogiável pois, como já comentado 
no início da pesquisa, é por meio dessas representações sociais que os alunos conseguem se identificar 
e, assim, decifrar por si mesmo o significado dos poemas. Visto que há muitas outras formas de se 
olhar e enxergar-se dentro de um poema. 
Por fim, constata-se nas pesquisas realizadas que, conforme Lopes (2020), a inserção das 
poesias nos livros didáticos contribui grandemente para a “geração de identidade culturais e étnicas” 
do alunos, e que, portanto, esses instrumentos educacionais devem ser produzidos pelos autores, 
usados pelos professores, e manuseados pelos estudantes de forma que ambos possam tirar pleno 
proveito do material contido. Levando-se em conta que o livro didático não deve ser o único 
instrumento educacional utilizado pelos professores (tanto de português como das demais 
disciplinas), mas que este pode também contribuir, grandemente, para a formação tanto de educadores 
e educandos, como também de leitores capazes de interagir com o texto e o mundo que os cerca. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 REFERÊNCIAS 
 
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais – 1ª a 4ª séries: 
língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1997. 
BELO, Roberto; O Poema no livro didático. 2014. Disponível em: 
http://www.periodicoseletronicos.ufma.br/index.php/littera/article/view/2673. Acesso em: 
07/07/2020 
BITTENCOURT, Circe M. F. Livro didático e conhecimento histórico: uma história do saber 
escolar. São Paulo, 1993. 369p. Tese (Doutorado em História Social). Faculdade de Filosofia, Letras 
e Ciências Humanas da USP. 
CLARE, Nícia de Andrade Verdini. 50 anos de ensino de língua portuguesa (1950 -2000). 
Disponível em: http://www.filologia.org.br/vicnlf/anais/caderno06-05.html. Acesso em: 11/07/2020. 
GERALDI, João W. (Org.). O texto na sala de aula: leitura e produção. Cascavel: Assoeste, 1984. 
LOPES, José de Sousa Miguel. A poesia nos livros didáticos de português de Moçambique e 
Brasil: um estudo comparativo. Disponível em: 
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022020000100514) Acesso em: 
04/07/2020. 
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Guia de livros didáticos: PNLD 2011: Língua portuguesa. 
Brasília: MEC/SEB, 2010. 
OLIVEIRA, João Batista Araújo; GUIMARÃES, Sonia Dantas Pinto; BOMÉNY, Helena Maria 
Bousquet. A política do livro didático. 2. ed. São Paulo: Summus; Campinas: Unicamp, 1984. 
SILVA, Rafael Moreira da. Textos didáticos: crítica e expectativa. Campinas: Alínea, 2000. 
SOARES, Magda. O livro didático como fonte para a história da leitura e da formação do 
professor-leitor. In: MARINHO, Marildes. (Org.). Ler e Navegar: espaços e percursos da leitura. 
Campinas, SP: Mercado das Letras, 2001. 
 
 
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https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022020000100514
	Kelly Millena Pereira Velozo¹
	1. RESUMO
	2. INTRODUÇÃO
	3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
	4. ANÁLISE DA POESIA NOS LIVROS
	4.1 ANÁLISE COMPARATIVA: RESULTADOS E DISCUSSÕES
	5 REFERÊNCIAS

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