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Órgão Oficial da Academia Brasileira de Neurocirurgia Volume 14 Número 1 Janeiro/Abril de 2003 EDITOR Ápio Cláudio Martins Antunes Porto Alegre / RS EDITOR ASSOCIADO Luiz Roberto Aguiar Curitiba / PR CONSELHO EDITORIAL Benedito Oscar Colli Ribeirão Preto / SP Fernando Menezes Braga São Paulo / SP Hildo Cirne de Azevedo Filho Recife / PE Luiz Renato Mello Blumenau / SC Oswaldo Inácio Tella Junior São Paulo / SP Paulo Niemeyer Soares Filho Rio de Janeiro / RJ Sebastião Gusmão Belo Horizonte / MG 2 JORNAL BRASILEIRO DE NEUROCIRURGIA EXPEDIENTE Expediente Academia Brasileira de Neurocirurgia Filiada à World Federation of Neurosurgical Societies DIRETORIA Biênio 2001/2003 Presidente: Hildo Rocha Cirne de Azevedo Filho – Recife Presidente eleito: Carlos Thadeu Parisi de Oliveira – Bragança Paulista Vice-presidente: Marcos Masini – Brasília Secretário: Geraldo José Dantas Furtado – Recife Tesoureira: Maria de Fátima Leal Griz – Recife CONSELHO DELIBERATIVO Anselmo Saturnino Teixeira – Rio de Janeiro Ápio Cláudio Martins Antunes – Porto Alegre Durval Peixoto de Deus – Goiânia Edson Mendes Nunes – Rio de Janeiro Evandro Pinto da Luz Oliveira – São Paulo Feliciano Pinto – Rio de Janeiro Flávio Belmino Barbosa Evangelista – Fortaleza Gervásio Brito de Mello Filho – Belém João Mairton Pereira de Lucena – Fortaleza Luiz Fernando Pinheiro Franco – São Paulo Luiz Roberto Aguiar – Curitiba Mário Ferreira Coutinho – Porto Alegre Raul Marino Júnior – São Paulo Roberto José Alves Toledo – Rio de Janeiro Sebastião Natanael Silva Gusmão – Belo Horizonte SECRETARIA PERMANENTE Secretário geral: Anselmo Saturnino Teixeira – Rio de Janeiro Secretário auxiliar: Hélio Ferreira Lopes – Rio de Janeiro SEDE PRÓPRIA Rua da Quitanda, 159, 10o andar Centro – CEP 22011-030 – Rio de Janeiro, RJ – Brasil Telefax: (0XX21) 2233-0323 Produção Editorial LEMOS EDITORIAL & GRÁFICOS LTDA. Rua Rui Barbosa, 70 – Bela Vista CEP 01326-010 – São Paulo, SP Telefax: (0XX11) 3371-1855 E-mail: lemos@lemos.com.br Diretor-presidente: Paulo Lemos Contato comercial: (11) 3371-1871 Distribuição de livros: (11) 3371-1898 Periodicidade: Quadrimestral Indexada: Base de Dados LILACS J Bras Neurocirurg 14(1), 2003 3 ÍNDICE Índice J Bras Neurocirurg 14(1), 2003 ........................................................................................................ 29 JORNAL BRASILEIRO DE NEUROCIRURGIA Índice / Contents ARTIGOS ORIGINAIS Tratamento da siringomielia associada à malformação de Chiari: técnica cirúrgica empregada em 60 casos .............................................................. 5 Treatment of the syringomyelia associated with Chiari malformation: surgical technique employed in 60 cases José Arnaldo Motta de Arruda, Oswaldo Inácio Tella Jr., Flávio Belmino Barbosa Evangelista, Edson Lopes Jr. Conduta terapêutica nos meningiomas em idosos ................................................. 13 Meningiomas in elderly patients: therapeutic options Paulo Henrique Aguiar, Oswaldo Inácio Tella Jr., Maurício Mandel, Ricardo B. V. Fontes, Marco Antônio Herculano, Manoel Jacobsen Teixeira ARTIGO DE REVISÃO Cérebro: um imbróglio terminológico ..................................................................... 19 Cerebrum: an “imbroglio” in terminology Luiz Coutinho Dias Filho RELATOS DE CASO Angioma cavernoso: ressecção microcirúrgica guiada por imagem – Relato de caso ......................................................................................... 21 Caudate nucleus cavernous angioma. Image-guided microsurgical resection. Report of a case Luiz Roberto Aguiar, Adriano K. Maeda, Alexandre N. Francisco, Carlos A. Mattozo, Robinson Marques Neuroblastoma metastático simulando hematoma subdural – Relato de caso ....................................................................................... 25 Metastatic neuroblastoma simulating subdural hematoma. Report of a case Carlos Umberto Pereira, Diego Chaves Rezende Morais, Gilberto Andrade Tavares, Moisés Correia Dantas OBITUÁRIO EVENTOS CIENTÍFICOS .......................................................................... 30 4 Jornal Brasileiro de Neurocirurgia O Jornal Brasileiro de Neurocirurgia é o órgão oficial da Academia Brasileira de Neurocirurgia e propõe-se a publicar artigos sobre Neurocirurgia e todas as ciências afins. Assim, trabalhos inéditos, sob a forma de artigos originais, resumo de teses, apresentação de casos ou notas técnicas poderão ser aceitos, desde que não tenham sido enviados para publicação em outro periódico. Os trabalhos deverão ser redigidos em português, com resumo em inglês, aceitando-se, excepcionalmente, artigos em língua inglesa. Todo e qualquer trabalho poderá receber modificações, para que se adapte à estrutura geral do Jornal. Os artigos que não se enquadrarem nas normas ou que não forem adequados às necessidades editoriais do Jornal serão devolvidos ao(s) autor(es), para que proceda(m) às adaptações necessárias. Os artigos deverão ser enviados em disquetes e poderão ser utilizados os editores de texto “MS Word”, nas versões DOS ou Windows, devendo ser enviadas também duas vias do texto original conforme digitação. A estruturação do artigo deverá obedecer à seguinte orien- tação: a) página-título, na qual constem o título do artigo, nome completo do(s) autor(es) e da instituição onde o trabalho foi realizado; b) página constando a sinopse do trabalho, com, no máximo, 200 palavras, transmitindo a idéia geral da publicação, seguida pelo abstract, que deve, mais que a sinopse, permitir um bom entendimento ao leitor de língua inglesa; c) corpo do artigo; d) referências bibliográficas, dispostas em ordem alfabética pelo sobrenome do primeiro autor, numeradas arábica e consecutiva- mente para efeito de citação no texto, de acordo com as normas da ABNT. Comunicações pessoais e trabalhos em preparação poderão ser citados no texto, mas não constarão das referências. Exemplos: • Artigos de revista: - sobrenome do autor, seguido pelas iniciais de seus prenomes, o que se repete para cada co-autor, se existente(s), intercalando- se “vírgula” e seguidos de “dois-pontos” após o último autor; - nome do artigo, seguido de “ponto”; - nome abreviado do periódico (conforme o Cumulated Index Medicus), em negrito, seguido de “vírgula”; - o número (em arábico) do seu volume, seguido de “dois-pontos”; - os números das páginas inicial e final do artigo, separados por “hífen” e seguidos de “vírgula”; - o ano de publicação do periódico, seguido de “ponto”. Ex.: 1. BORZONE M, GENTILE S, PEREIRA C, RIVANO C, ROSA M: Vertex epidural hematomas. Surg Neurol, 11: 277-84, 1979. • Livros (considerados como um todo): - sobrenome do autor, seguido pelas iniciais dos seus prenomes, o que se repete para cada co-autor, se existente(s), intercalando- se “vírgula” e seguidos de “dois-pontos”; - nome da obra (grifado), seguido de “ponto”; - número da edição (caso não seja a primeira), seguido de “vírgula”; - local da publicação, seguido de “vírgula”; - nome da editora, seguido de “vírgula”; - ano da publicação do livro, seguido de “ponto”; Ex.: 2.VINKEN PJ, BRUYN GW: Handbook of Clinical Neurology. Injuries to the Brain and Skull. Amsterdam, North Holand, 1976. Vol. 24. • Livros (considerados em parte – capítulo): - sobrenome do autor do capítulo, seguido pelas iniciais dos seus prenomes, o que se repete para cada co-autor, se exis- tente(s), intercalando-se “vírgula” e seguidos de “dois-pontos”; - nome do capítulo, seguido de “ponto”; - sobrenome do autor do livro, seguido pelas iniciais dos seus prenomes, o que se repete para cada co-autor, se existente(s), em maiúsculas, intercalando-se “vírgula” e seguidos de “ponto”, precedido de “In:”; caso seja(m) o(s) mesmo(s) autor(es) do capítulo, seu(s) nome(s) deverá(ão) ser substituído(s) por “__________”; - nome da obra (grifado) e com as iniciais em maiúsculas, seguido de “ponto”; - número da edição (caso não seja a primeira), seguido de “vírgula”; - local da publicação, seguido de “vírgula”; -nome da editora, seguido de “vírgula”; - ano da publicação do livro, seguido de “ponto”; - número do volume, caso existente, precedido de “Vol.”, seguido de “ponto”; - número do capítulo, precedido de “Cap.” e seguido de “vírgula”; - números iniciais e finais das páginas do capítulo, precedidos de “p”, intercalados por “hífen” e seguidos de “ponto”; Ex.: 3. McLAURIN RL, McLENNAN JE: Diagnosis and treatment of head injury in children. In: Youmans JR: Neurological Surgery. 2nd ed, Philadelphia, Saunders, 1982. Vol. 4. Cap. 59, p 2084-136. Os artigos serão classificados em quatro tipos: artigos originais, relatos de casos, artigos de revisão e notas breves. Sugestão para elaboração do corpo de cada artigo: • Artigos Originais - introdução - material e métodos - resultados - discussão • Relatos de Casos - introdução - apresentação do caso - discussão • Artigos de Revisão - introdução - apresentação do assunto As ilustrações devem ser enviadas soltas e em envelope à parte, não excedendo, em sua totalidade, a 1/4 do espaço ocupado pelo artigo; as fotografias, em papel brilhante e em dimensões de 12 cm x 8 cm, devem conter, no verso e a lápis, o título do artigo, sua seqüência e posição, acompanhadas das respectivas legendas, em folha separada; os gráficos e as tabelas poderão ser datilografados. Os artigos deverão ser enviados ao Editor-chefe, Dr. Ápio Antunes, Rua Luciana de Abreu, 471, cj. 308, CEP 90570-060, Porto Alegre, RS – Telefax: (0XX51) 3222-5760. end. eletrônico: apioantunes@hotmail.com dr.apioantunes@terra.com.br NORMAS PARA PUBLICAÇÃO indexado na base de dados LILACS Normas para Publicação J Bras Neurocirurg 14(1), 2003 JORNAL BRASILEIRO DE NEUROCIRURGIA 5 ARTIGO ORIGINAL J Bras Neurocirurg 14(1), 5-12, 2003ARRUDA JAM, TELLA JR. OI, EVANGELISTA FBB, LOPES JR. E – Tratamento da siringomielia associada à malformação de Chiari: técnica cirúrgica empregada em 60 casos JORNAL BRASILEIRO DE NEUROCIRURGIA Tratamento da siringomielia associada à malformação de Chiari: técnica cirúrgica empregada em 60 casos José Arnaldo Motta de Arruda* Oswaldo Inácio Tella Jr.** Flávio Belmino Barbosa Evangelista*** Edson Lopes Jr.*** Sinopse Os autores apresentam detalhes da técnica cirúrgica empregada em 60 pacientes com siringomielia (SM) associada à malformação de Chiari (MC), operados no período de 1982 a 2000. Foi utilizada, em todos os casos, a técnica de descompressão craniovertebral com laminectomia de C1 e eventualmente de C2, tonsilectomia cerebelar e plástica de dura-máter. Nove pacientes foram submetidos à fixação occipitocervical, e em três pacientes desse grupo foi realizada a ressecção transoral do processo odontóide do áxis. A complicação cirúrgica mais freqüente foi a pseudomeningocele, que ocorreu em 23,3% dos casos. Não houve óbitos nesse grupo de pacientes operados de SM associada à MC. Palavras-chave Siringomielia, malformação de Chiari, tratamento, técnica cirúrgica. Abstract Treatment of the syringomyelia associated with Chiari malformation: surgical technique employed in 60 cases The authors present in details the surgical technique of treatment of 60 patients presenting with syringomyelia associated with Chiari malformation, who were operated on from 1982 to 2000. All cases were submitted to craniovertebral decompression with C1 and eventually C2 laminectomy and cerebelar tonsilectomy with dural graft. Nine patients underwent occipitocervical fixation, three of which underwent the transoral resection of the odontoid process. Pseudomeningocele was the most frequent surgical complication, occurring in 14 patients (23.3%) of this series. There were no deaths. Keywords Syringomyelia, Chiari malformation, treatment, surgical technique. Introdução O tratamento da SM vem evoluindo com o melhor entendimento da patogênese das cavitações medulares. Nos casos de SM associada à MC, o objetivo do tratamento consiste em descomprimir a charneira occipitocervical, tendo como meta principal eliminar os mecanismos que, ao alterarem a circulação do líquido cefalorraquiano, produzem e perpetuam a SM11,31. Há um consenso na literatura no sentido de que os sintomas causados pela compressão das tonsilas cerebelares sobre a medula são significativamente melhorados pela descompressão craniovertebral2,5,6,9,10,14,15,18,22,26,29. * Faculdade de Medicina, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará. ** Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo. *** Hospital Neurocentro, Fortaleza, Ceará. 6 Histórico da evolução do tratamento cirúrgico Os tratamentos iniciais da SM foram dirigidos para a cavidade cística e não para a malformação no nível da transição occipitocervical. Abbe e Cole, em 1892, foram os primeiros a tratar cirurgicamente a SM com drenagem por agulha da cavidade cística15. Elsberg, em 1916, realizou uma mielotomia para o tratamento da SM. Com o aparecimento dos materiais biocompatíveis, as deri- vações da cavidade siringomiélica para o espaço subarac- nóideo, a pleura ou a cavidade peritoneal tornaram-se populares, cabendo a descrição do procedimento a Love e Olafson, em 196617. Os procedimentos cirúrgicos dirigidos às malformações da transição occipitocervical, obstruída pela impactação das tonsilas cerebelares no nível do forame magno, iniciaram-se com Penfield e Coburn, em 193825. Gardner e Goodall (1950)11 e Gardner (1965)12 descreveram a técnica cirúr- gica que consistia na descompressão do forame magno, abertura do forame de Magendie e obstrução do óbex com músculo. A cirurgia de Gardner sofreu várias modificações como as de Peerless e Durward (1983)24, que, além de tamponarem o óbex, derivavam o IV ventrículo para o espaço subaracnóideo da região cervical. Gilles Bertrand, de Montreal, em 1973, descreveu a ressecção subpial das tonsilas cerebelares como modificação da técnica de descompressão craniovertebral. A técnica de Bertrand também sofreu modificações feitas por Batzdorf (1991)5, vindo a se constituir na base da técnica que foi empregada no tratamento dos 60 pacientes deste estudo. Material e métodos O tratamento cirúrgico utilizado nos pacientes com SM associada à MC baseia-se na evidência de piora progressiva do quadro neurológico e nas teorias aceitas para explicar a fisiopatologia da formação, progressão e manutenção da cavidade siringomiélica. No universo de 129 pacientes com malformação da transição occipitocervical, tratados cirurgicamente no período de 1982 a 2000, 60 pacientes adultos com a associação de SM e MC foram submetidos à descompressão craniocervical com tonsilectomia cerebelar e plástica de dura-máter. Técnica cirúrgica Os pacientes dessa série foram submetidos à avaliação clínica pré-operatória que consistiu na avaliação da função pulmonar e cardíaca, assim como no estudo da bioquímica sangüínea. A partir do primeiro dia de pós-operatório, iniciou-se a fisioterapia respiratória. Todos os pacientes foram encaminhados para fisioterapia motora, por volta da segunda semana após a cirurgia. A descompressão craniovertebral com tonsilectomia e plástica de dura-máter foi realizada conforme as etapas descritas a seguir25,6,5,21: Na anestesia foi utilizada a narcose endovenosa inalatória sob respiração controlada com sistema fechado. Muito cuidado é tomado durante a entubação do paciente, para que não haja hiperextensão do pescoço. No posicionamento do paciente no suporte de cabeça de Mayfield, deve-se tomar cuidado com a hiperflexão do segmento cervical. Os pacientes no pré-operatório são solicitados a realizar hiperflexão e hiperextensão da cabeça para que se possa avaliar a extensão do movimento que o paciente suporta antes de referir algum desconforto. Os dois primeiros casos da série foram operados em decúbito lateral. Após os primeiros casos, os pacientes foram operados em posição sentada. A partir de 1987, todos os indivíduos foram operados em decúbito ventral com a cabeça fixada pelo suporte de Mayfield. Em alguns casos nos quais os pacientes apresentavam pescoço muito curto, foi necessária a retraçãodos ombros. Para isso foi utilizada uma larga faixa de esparadrapo para tracioná-los no sentido caudal, ou ainda a utilização de um ponto com fio de algodão ou absorvível grosso (número 2), para retrair a pele e a gordura da transição cervicotorácica no sentido caudal, “criando-se”, assim, espaço para que se pudesse realizar a incisão ao nível cervical (Figura 1). FIGURA 1 Paciente com impressão basilar, siringomielia e malformação de Chiari. Notar prega da pele na região occipital que dificulta a incisão cirúrgica ou mesmo a assepsia na região. J Bras Neurocirurg 14(1), 5-12, 2003ARRUDA JAM, TELLA JR. OI, EVANGELISTA FBB, LOPES JR. E – Tratamento da siringomielia associada à malformação de Chiari: técnica cirúrgica empregada em 60 casos A incisão da pele é vertical mediana, estendendo-se da projeção do processo espinhoso de C5 até cerca de três centímetros acima da protuberância occipital externa. A incisão da musculatura é mediana, seguindo-se a linha nucal. A remoção do osso occipital deve abranger os dois terços infe- riores da escama occipital e a borda posterior do forame magno, estendendo-se o mais lateralmente possível a esse nível, para que se possa ter um bom controle das artérias vertebrais e da porção lateral das tonsilas. A laminectomia engloba o atlas, que, geralmente, é malformado, parte ou toda lâmina do áxis e, eventualmente, parte ou toda lâmina de C3, para que se 7 possa atingir, sem dificuldade, a margem inferior das tonsilas herniadas. A laminectomia deve estender-se lateralmente sem necessariamente atingir as facetas articulares, que não devem ser removidas. Nessa fase da cirurgia, o uso de luz fria frontal e lupa de magnificação de 2,5x são de grande ajuda. A dura- máter deve ser aberta em Y, com a porção vertical sobre a medula e a porção com formato de V, rebatida e ancorada no sentido da tórcula. Geralmente não há necessidade de maior exposição, e as aberturas laterais na dura-máter por sobre os hemisférios cerebelares devem ser evitadas para minimizar o risco de ptose cerebelar (Figura 2). A dura-máter deve ter os lagos vasculares, que comumente se encontram nesses pacientes, coagulados ou ligados com miniclipes de titânio, ancorando-se a meninge à musculatura. Dessa fase cirúrgica em diante é necessário o uso do microscópio cirúrgico. A abertura da aracnóide é, algumas vezes, trabalhosa devido às aderências da região (Figura 3). FIGURA 2 Hérnia do biventre cerebelar ou ptose cerebelar. FIGURA 3 Aracnóide espessa recobrindo a transição occipitocervical. FIGURA 4 Tonsilas herniadas e aracnóide muito espessa que deve ser suturada lateralmente. FIGURA 5 Saco aracnóideo suturado lateralmente. Cavidade do IV ventrículo comunicando-se livremente com o espaço subaracnóideo. J Bras Neurocirurg 14(1), 5-12, 2003ARRUDA JAM, TELLA JR. OI, EVANGELISTA FBB, LOPES JR. E – Tratamento da siringomielia associada à malformação de Chiari: técnica cirúrgica empregada em 60 casos Caso seja possível, deve-se suturar a aracnóide lateral- mente junto com a dura-máter. Essa manobra ajuda a não haver sangue no campo cirúrgico e evita o desconforto de ter fragmentos de leptomeninge sendo aspirados pelas microcânulas dos aspiradores cirúrgicos (Figura 4). Para realizar a tonsilectomia, procede-se à coagulação bipolar dos microvasos da pia-máter da porção dorso-inferior das tonsilas cerebelares que, a seguir, são incisadas com bisturi de lâmina 11, permitindo a aspiração do conteúdo das amígdalas. O saco aracnóideo assim esvaziado é facilmente dissecado da alça da artéria cerebelar póstero-inferior e das aderências da linha média, podendo ser levantado lateralmente e suturado com fio 7-0 à aracnóide que recobre o cerebelo ao nível do forame magno (Figura 5). A partir de 1996, não foi mais tentada com muito empenho a ressecção total, ou mesmo o esvaziamento subpial das tonsilas cerebelares quando estas se apresen- tavam relativamente soltas. Nesses casos, é necessária, somente, a coagulação bipolar das amígdalas, o que promove excelente retração, permitindo, dessa maneira, a desobstrução do forame de Magendie5 (Figura 6). FIGURA 6 Cavidade do IV ventrículo aparente após a coagulação e a retração da tonsila esquerda (asterisco). Alça da PICA acom- panhando a tonsila direita herniada (seta). * FIGURA 8 Fixação occipitocervical e enxerto de costela. FIGURA 9 Paciente seis meses após a fixação com enxerto ósseo. Notar a excelente artrodese com osso recobrindo a haste metálica. bilateralmente em situação sublaminar nas vértebras C2, quando ainda existente, ou C3 e C4, executando-se, a seguir, o amarrilho. Para possibilitar a artrodese, enxertaram-se osso do ilíaco e fragmentos ósseos da escama occipital e da laminectomia19. Todos os pacientes foram submetidos, previamente ao procedimento, à tração transesquelética cervical, com o cabo de tração amarrado no nível da linha biauricular e peso inicial de 3 kg, podendo chegar até 5 kg. No ato cirúrgico, o paciente posicionado em decúbito ventral é mantido em tração, o que ajuda a evitar a hiperflexão e impossibilita a fixação occipitocervical em posição defeituosa. Cinco casos, correspondendo a 8,3% da casuística, foram submetidos à fixação occipitocervical com o enxerto ósseo de costela, utilizando-se, para isso, a oitava hemicostela esquerda que foi retirada com o paciente já posicionado na mesa cirúrgica em decúbito ventral, como preconizado por Sawin et al. (1998)27 (Figura 8). Três pacientes tiveram a fixação occipitocervical reali- zada com a utilização de cabos de titânio multifilamentados e alça occipitocervical pré-moldada, modelo Ransford, também de titânio. Os pacientes submetidos à fixação occipitocervical foram mantidos com colar cervical com apoio mentoniano pelo período de três meses (Figura 9). Três casos tiveram o processo odontóide do áxis retirado por via transoral em um período que variou de duas semanas a três meses após a descompressão craniovertebral com fixação occipitocervical. Os pacientes foram operados em decúbito dorsal com a cabeça levemente estendida. O palato Oito pacientes, correspondendo a 13,3% da série, tiveram essa forma de tonsilectomia. Muitas vezes, o forame de Magendie encontra-se ocluído por uma membrana que deve ser fenestrada para que possa haver livre comunicação do IV ventrículo com o espaço subaracnóideo. O fecha- mento da dura-máter deve ser hermético e sem tensão, realizando-se, com esse propósito, plástica da meninge que deve ser suturada com nylon 5-0 neurocirúrgico sob magnificação óptica (Figura 7). FIGURA 7 Plástica da dura-máter. J Bras Neurocirurg 14(1), 5-12, 2003ARRUDA JAM, TELLA JR. OI, EVANGELISTA FBB, LOPES JR. E – Tratamento da siringomielia associada à malformação de Chiari: técnica cirúrgica empregada em 60 casos Nos primeiros oito casos operados, foi utilizada a fáscia lata para a plástica da meninge. No período de 1989 até 1991, a plástica foi realizada em 12 pacientes utilizando-se pericárdio bovino. Em dez pacientes, foi usado fragmento de gálea subaponeurótica obtida da porção superior da incisão da pele que foi estendida cerca de três centímetros acima da protu- berância occipital externa, justamente para possibilitar a retirada da gálea. A partir de 1995, todos os pacientes foram operados com o uso do pericárdio bovino para a plástica da meninge. Em 1999 e 2000, foi utilizado um produto adesivo selante de fibrina em seis pacientes, na tentativa da vedação completa da sutura da dura-máter. Todos os pacientes tiveram dreno a vácuo extradural com saída por contra-abertura na região occipital e permaneceram com esse dreno por um período que variou de 24 a 48 horas. A síntese deve ser realizada com utilização de fios absorvíveis para o plano muscular e subcutâneo, usando-se nylon para a pele. Todos os pacientes foram mantidos com entubação traqueal até bem despertos, o que ocorreu na maioria dos casos até quatro horas após o término da cirurgia, e estimulados a movimentar-se e/ou deambular, se possível, logo no primeiro dia de pós-operatório. Nove pacientes,correspondendo a 15% da casuística, foram submetidos à fixação occipitocervical com a utilização de hastes metálicas. Quatro casos foram fixados com o uso de haste curva occipitocervical moldada no transoperatório a partir de um fio de aço de Steiner, com ranhuras, usando-se para a moldagem um pequeno torno esterilizado. A haste assim moldada foi fixada ao occipital com fios de Luque 1,2 passados por dois orifícios de trepanação realizados na escama occipital a 2,5 cm da linha média e cerca de 3 cm acima do forame magno. Os fios de aço foram passados 9 mole foi seccionado lateralmente à úvula e ancorado late- ralmente com fios absorvíveis. Após a infiltração com lidocaína a 2% com adrenalina, a parede posterior da faringe é incisada longitudinalmente. Após a dissecção dos músculos longo da cabeça e longo do pescoço, é colocado o afastador autostático. Com broca de alta rotação longa e peça de mão semicurva, foi retirado o arco do atlas e o processo odon- tóide. O odontóide foi retirado sempre no sentido do ápice para a base, com o intuito de evitar que uma fratura da base provoque a retração do osso puxado pelos ligamentos. No fechamento, após aproximação da musculatura e sutura dos músculos e da mucosa da faringe, foi tomado um cuidado especial com o fechamento do palato mole, para evitar a formação de fístulas de difícil tratamento. A muscu- latura e a mucosa devem ser suturadas separadamente com pontos absorvíveis. Todos os pacientes submetidos à técnica transoral tiveram traqueostomia realizada imediatamente antes do procedimento. Esses pacientes só foram alimen- tados no segundo dia de pós-operatório através de sonda nasogástrica passada antes de o paciente recuperar-se da anestesia. Somente após a completa cicatrização do palato e da orofaringe, a sonda nasogástrica e o traqueóstomo foram retirados. No período pós-operatório, um paciente do estudo foi mantido em halovest por cinco meses. Discussão O tratamento cirúrgico da SM vem evoluindo com o melhor entendimento da patogênese das cavitações medulares. Levando-se em conta que a SM consiste em uma coleção de liquor represada em um determinado compartimento, é muito tentadora e algumas vezes efetiva, a “drenagem” ou a derivação desse fluido para outro compartimento. A drenagem dos cistos, apesar das van- tagens imediatas, como a redução instantânea da siringo e do fato de os procedimentos para drenagem ou derivação serem tecnicamente mais simples de realizar, apresenta diversas desvantagens que foram estudadas por Batzdorf et al. (1989)3, Sgouros e Williams (1995)28 e Batzdorf (2000)4. Esses autores encontraram um percentual de mau funcionamento ou complicações por volta de 50% nos procedimentos que envolvem derivações. Nesta série, a derivação siringopleural foi realizada como segundo procedimento em um paciente, utilizando-se a técnica descrita por Williams e Page (1987)30. Nos casos de SM associada à MC e/ou impressão basilar (IB), o objetivo do tratamento consiste em descomprimir a charneira occipitocervical, tendo como meta principal eliminar os mecanismos que, ao alterarem a circulação do líquido cefalorraquiano, produzem e perpetuam a SM. Os procedimentos cirúrgicos com objetivo de descom- primir o forame magno obstruído pelas tonsilas cerebelares iniciaram-se com Penfield e Coburn (1938)25. No entanto, existem diversas formas de tratamento da SM, tais como: craniectomia ou craniotomia suboccipital com ou sem laminectomia, com ou sem abertura dural, com ou sem abertura da aracnóide, com ou sem plástica da meninge, com ou sem alguma forma de tonsilectomia, com obstrução do óbex com músculo ou qualquer outro material, com derivação do IV ou do III ventrículo para as cisternas subaracnóideas, com ou sem derivação ventriculoperitoneal em casos associados à hidrocefalia, com derivações siringo- subaracnóidea, siringopleural, siringoperitoneal, lombo- peritoneal ou ventriculostomia terminal. Possivelmente, em muitos casos, os pacientes não melhoram de alguns sinais ou sintomas tão satisfatoriamente como o desejado, devido a lesões irreversíveis da medula, causadas pela compressão crônica do tecido nervoso22. A hidrocefalia associada à SM foi encontrada em quatro pacientes dessa série, correspondendo a 6,6% da casuística. Matsumoto e Symon (1989)18 encontraram hidrocefalia em 10,2% dos casos estudados. Logue e Edwards (1981)16 encontraram ventrículos “moderadamente aumentados” em 20% dos seus pacientes. Milhorat et al. (1999)21 encon- traram hidrocefalia em 13,4% dos seus casos de SM associada à MC tipo 1. A tonsilectomia cerebelar, utilizando a técnica descrita por Bertrand, em 19736, posteriormente modificada por Batzdorf, em 19915, foi utilizada em todos os pacientes deste trabalho, algumas vezes com coagulação e retração das tonsilas, outras vezes com extirpação subpial do tecido cerebelar herniado e outras vezes, ainda, com extirpação total da porção herniada das amígdalas. Em 52 casos (86,6%), foi enviado tecido da tonsila cerebelar para exame histopatológico, que mostrou alterações profundas da arquitetura cerebelar da região, inclusive com perda neuronal na camada de Purkinje, o que aponta para a inviabilidade desse tecido. Parece evidente que, se o desejo é manter livre o pertuito entre a cavidade do IV ventrículo e o espaço subaracnóideo, uma simples abertura do forame de Magendie não seria suficiente. As amígdalas alongadas e aderidas à medula pela espessa aracnóide, que invariavelmente é encontrada na região, impedem que as tonsilas migrem no sentido da cavidade craniana, como foi defendido por Banerji e Millar (1974)1. Ao se fechar a dura-máter, mesmo com plástica da meninge, as tonsilas herniadas voltam a obstruir o forame de Magendie (Figura 10). Assim, a tonsilectomia parcial ou total, com liberação do saco aracnóide vazio da superfície da medula, é o método que permitiu mais segurança quanto à descompressão definitiva da charneira occipitocervical e quanto à livre comunicação da cavidade do IV ventrículo com o espaço subaracnóideo. Nos pacientes que apresentavam IB sintomática associada à MC e SM também sintomáticas, realizou-se a fixação occipitocervical. A fixação com enxerto ósseo, inicialmente do ilíaco e mais recentemente com costela, foi realizada como uma preparação para a eventual retirada J Bras Neurocirurg 14(1), 5-12, 2003ARRUDA JAM, TELLA JR. OI, EVANGELISTA FBB, LOPES JR. E – Tratamento da siringomielia associada à malformação de Chiari: técnica cirúrgica empregada em 60 casos 10 transoral do odontóide. A presença de alterações ósseas em conjunto com o comprometimento de vias longas, síndrome sensitiva, comprometimento de nervos cranianos e síndrome cerebelar são indicativas de alterações tanto em nível anterior quanto posterior do forame magno8. A escolha da tática cirúrgica de realizar primeiramente a descompressão craniovertebral, seguida da fixação occipi- tocervical, se prende ao fato de que, em nove pacientes nos quais essa tática foi usada, somente três necessitaram da retirada transoral do processo odontóide do áxis. É verdade, no entanto, que em alguns casos com instabilidade occipitocervical associada, a descompressão via posterior pode agravar o quadro neurológico do paciente20, que passa a necessitar de cirurgia transoral para descomprimir anteriormente o forame magno, como no caso descrito por Bindall et al. (1995)7. É importante ter em mente que o oposto também é verdadeiro. Na série de Dyste et al. (1989)9, cinco dos sete pacientes, após a cirurgia transoral, foram submetidos à descompressão craniovertebral com obstrução do óbex e fixação occipitocervical. Goel et al. (1998)13, analisando 190 casos de IB dos quais 102 com MC associada, chegaram à conclusão de que nos pacientes com IB pura, a cirurgia transoral, seguida de fixação occipitocervical, num segundo tempo, seria o tratamento de escolha, enquanto nos pacientes com associação de MC a descompressão craniovertebral seria suficiente. Vale ressaltar que, no trabalho em questão, os pacientes que apresentaram sinais de compressãoanterior e posterior no forame magno foram submetidos à tração cervical transesquelética no pré-operatório, com intuito de identificar os pacientes que melhoram e necessitam de fixação occipito- cervical. Um dos nossos pacientes, mesmo com a retirada do odontóide e a fixação occipitocervical, voltou a piorar, sendo necessária uma nova tração cervical que fez regredir os sintomas e levou à colocação de halovest, mantido por cinco meses. O paciente, após a colocação do halovest, voltou a deambular e apresentou significativa melhora de sua sintomatologia. A pseudomeningocele foi a complicação cirúrgica mais freqüente dos nossos pacientes. Catorze pacientes de um total de 60 (23,3%) apresentaram pseudomeningocele occipital no pós-operatório. Um paciente necessitou de cirurgia para corrigir o problema, três pacientes foram tratados com drenagem liquórica por meio de cateter colocado no espaço subaracnóideo lombar pelo período de sete dias. Seis pacientes submeteram-se a punções percutâneas, no máximo de três, com aspiração dos cistos. Dois pacientes, após submeterem-se a essas punções, desenvolveram quadro de infecção meníngea. Nos outros casos, houve regressão espontânea dos cistos em um período que variou de quatro dias a duas semanas. Em seis pacientes, foi utilizado um produto selante de fibrina por sobre a sutura da dura-máter, com o intuito de vedar completamente a sutura da meninge. Desses seis pacientes, somente um apresentou pseudo- meningocele. A formação dessas bolsas liquóricas constituiu- se também na complicação mais comum da série de Batzdorf (1991)5, na qual três dos 21 pacientes necessitaram de uma segunda intervenção para a correção do problema. Ellenbogen et al. (2000)10 tiveram 6,2% de pseudomeningocele em sua série. Taricco e Pereira (1997)29 relatam dois casos de fístula liquórica pela incisão cirúrgica, fato que não ocorreu nesta série. Matsumoto e Symon (1989)18 não relataram a presença de pseudomeningocele em seus pacientes, mas relataram a presença de coleção de liquor na ferida cirúrgica em 8,2% dos casos estudados. Na tentativa de evitar pseudomeningocele, aderências com o tecido cerebelar e infecção, foi utilizada em todos os casos plástica da dura-máter, usando-se, nos primeiros casos, a fáscia lata, prática abandonada devido ao grau de desconforto relatado pelos pacientes. A técnica utilizada nos casos seguintes incluía o uso de dura-máter liofilizada, com ou sem colocação de acrílico sobre os pontos de nylon 5- 0, realizando-se a sutura sob magnificação do microscópio ou lupa. A partir de 1994 até 1998, foi utilizada gálea subapo- neurótica para a plástica de dura-máter. Essa gálea parece ser o material ideal, pois minimiza os riscos de infecção e permite uma sutura mais hermética do que a feita com a dura-máter liofilizada, além da vantagem de se obter a fáscia da mesma incisão cirúrgica, bastando, para isso, alongar a incisão cerca de 2,5 cm acima da protuberância occipital externa. O problema encontrado com a retirada da gálea diz respeito à criação de uma área com menor elasticidade e tensão na região occipital do couro cabeludo que fica propenso a coletar liquor com maior facilidade que outras regiões. Com a facilidade de se obter o pericárdio bovino, os pacientes, a partir de 1998, passaram a ter a plástica de dura-máter realizada com utilização dessa membrana serosa. A formação das bolsas liquóricas na ferida cirúrgica parece dever-se muito mais a uma dissociação pressórica craniocer- vical, devido à presença de coágulos no espaço subarac- nóideo medular cervical, ou mesmo a uma descompressão insatisfatória, que à técnica de fechamento da dura-máter. Assim, a presença de obstrução ao trânsito liquórico poderia levar o liquor a procurar uma área de menor resistência, FIGURA 10 O afastamento das tonsilas expõe amplamente o IV ventrículo. Ao soltar o afastador, as tonsilas voltam a obstruir a cavidade ventricular. J Bras Neurocirurg 14(1), 5-12, 2003ARRUDA JAM, TELLA JR. OI, EVANGELISTA FBB, LOPES JR. E – Tratamento da siringomielia associada à malformação de Chiari: técnica cirúrgica empregada em 60 casos 11 que, no caso, seria o espaço cervical suboccipital criado pela desinserção dos músculos da escama occipital e dos processos espinhosos e lâminas das vértebras cervicais altas. Após o restabelecimento do equilíbrio hidrodinâmico, como com a absorção de coágulos, essa coleção liquórica tenderia a desaparecer espontaneamente, como aconteceu em alguns casos dessa série. Quatro pacientes do estudo apresentaram meningite bacteriana no pós-operatório, com recuperação sem seqüelas atribuíveis ao quadro de infecção meníngea. A partir de 1987, todos os pacientes passaram a ser operados em decúbito ventral, não só pelo conforto e pela facilidade de posicionamento, mas também porque são evitadas a embolia gasosa e a hérnia do biventre cerebelar, que podem ocorrer ao se abrir a dura-máter que recobre os hemisférios. A hérnia cerebelar, ou ptose cerebelar, foi diagnosticada por ressonância nuclear magnética em um paciente, que foi submetido a uma nova intervenção para corrigir a ptose cerebelar e desfazer aderências ao nível da transição occipitocervical que estavam levando a um recrudescimento da síndrome siringomiélica. A hérnia do biventre cerebelar é pouco relatada na literatura, embora fosse descrita por Williams (1978)31 com o nome de cerebellar slump. Batzdorf (1991)5 denominou a complicação de “ptose cerebelar”, chamando atenção para o fato de que essa complicação por si só poderia vir a comprimir a transição occipitocervical, fazendo persistir a dissociação pressórica craniocervical. Holly e Batzdorf (2001)14 apresentaram a técnica de cranioplastia suboccipital para correção do problema. Um paciente que permaneceu com halovest, por cinco meses, apresentou saída de liquor pelo orifício frontal esquerdo de fixação do halo craniano, no momento da retirada dos pinos, sendo necessária somente a sutura da pele. A paciente de número 46, que apresentava um estado geral muito comprometido na ocasião da sua cirurgia, apresentou exposição da haste de fixação occipitocervical, sendo necessário refazer a sutura ao nível occipital. Esta mesma paciente apresentou fístula do palato após a retirada do odontóide por via transoral, necessitando de gastros- tomia. Um paciente apresentou pneumotórax após a retirada da oitava hemicostela posterior esquerda, para enxerto ósseo da fixação occipitocervical, necessitando de drenagem do tórax por dois dias. Embora o fato não esteja relacionado como complicação da cirurgia, convém relatar que em um caso houve recrudescimento de tuberculose pulmonar que havia sido tratada de maneira incompleta três anos antes. Este paciente, ao receber alta, ainda estava fazendo uso do esquema terapêutico para tuberculose. Na série de pacientes de Banerji e Millar (1974)1, a mortalidade foi de 5%. No grupo estudado por Matsumoto e Symon (1989)18, a mortalidade global foi de 3,1%. Na série de Logue e Edwards (1981)16, a mortalidade foi de 1,3%, na de Paul et al. (1983)23 foi de 1,4% e na de Taricco e Pereira (1997)29 foi de 7,6%. No estudo de Bindall et al. (1995)7, não houve óbitos, o mesmo acontecendo na série de Batzdorf (1991)5, que utiliza a mesma técnica cirúrgica de descompressão craniovertebral com tonsilectomia que foi empregada neste estudo. Na série em questão, não houve óbitos em nenhum dos 69 pacientes operados com a associação de MC e SM (9 pacientes não preenchiam os critérios de inclusão neste estudo; veja Material e Métodos). Convém, no entanto, ressaltar que os 60 pacientes deste estudo foram retirados de um universo de 129 pacientes com malformações em nível da charneira occipitocervical, operados no período de 1981 a 2000. Nesse universo de pacientes, ocorreram nove óbitos (6,9%), concentrados na década de 1980, quando ainda não se dispunha dos cuidados de pós-operatório com os quais se conta atual- mente. Dos casos mais recentes que foram a óbito, destaca- se o caso de um paciente tetraparético com insuficiência respiratóriadecorrente de importante compressão anterior à junção bulbopontina, sem SM ou MC, que foi submetido à retirada transoral do odontóide e mantido na unidade de terapia intensiva sob tração cervical, vindo a falecer no 5o dia de pós-operatório vítima de pneumonia e sangramento digestivo alto. Outro caso recente (1997) foi o de uma paciente com IB e MC que foi submetida à descompressão craniovertebral com fixação occipitocervical e apresentou parada respiratória súbita no 2o dia de pós-operatório. J Bras Neurocirurg 14(1), 5-12, 2003ARRUDA JAM, TELLA JR. OI, EVANGELISTA FBB, LOPES JR. E – Tratamento da siringomielia associada à malformação de Chiari: técnica cirúrgica empregada em 60 casos TABELA 1 Complicações do tratamento cirúrgico Complicação No de casos Percentual Pseudomeningocele 14 23,31 Meningite 4 6,6 Ptose cerebelar 1 1,6 Compressão por fibrose 1 1,6 Saída de liquor pelos pinos 1 1,6 da tração cervical Exposição da haste de 1 1,62 fixação occipitocervical Pneumotórax 1 1,63 Fístula do palato 1 1,64 1Um caso necessitou de cirurgia e três foram tratados com dreno lombar; 211,1% das fixações occipitocervicais; 320% dos pacientes fixados com costela; 433,3% dos pacientes submetidos à ressecção transoral do odontóide. Referências bibliográficas 1. BANERJI NK, MILLAR JHD: Chiari malformation presenting in adult life. Its relationship to syringomyelia. Brain, 97: 157- 68, 1974. 2. BARNETT HJM, FOSTER JB, HUDGSON P: Syringomyelia. Major Problems in Neurology. London, Saunders, 1973. 12 3. 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Fontes* Marco Antônio Herculano** Manoel Jacobsen Teixeira* * Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. ** Disciplina de Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo. Sinopse Os autores avaliam as dificuldades clínicas pré-opera- tórias, as complicações e as condutas para o manuseio de riscos nas cirurgias de meningiomas em pacientes idosos. Foram estudados 34 pacientes de 1994 a 2002 com 65 a 86 anos de idade. Todos os casos apresentavam algum tipo de comorbidade, estando entre as mais freqüentes: insuficiência coronariana, insuficiência cardíaca congestiva, enfisema pul- monar, osteoartrose cervical, diabetes melito e artrite reuma- tóide do idoso. A localização mais comum foi parassagital posterior e convexidade frontal (6 casos cada). Quanto à morbidade cirúrgica, 2 casos apresentaram déficit motor permanente e 3 casos foram reabordados para descompressão devido a infarto venoso extenso por trombose de seio. Três pacientes morreram no período pós-operatório por as- sociação entre edema cerebral por infarto venoso e com- plicações de ordem pulmonar. Conclui-seque a cirurgia dos meningiomas em idosos deve ser meticulosamente programada devido às co-morbidades inerentes, mas não deve ser negligenciada simplesmente em virtude da idade do paciente. Palavras-chave Meningiomas, idosos, tumores cerebrais, tumores de células meningoteliais. Abstract Meningiomas in elderly patients: therapeutic options The authors present 34 elderly patients with meningiomas who were submitted to surgical treatment (age range, 65–85 years). All patients presented with some sort of clinical comorbidity, such as congestive heart failure, pulmonary emphysema, diabetes and rheumatoid arthritis. Most tumors were located in the posterior parasagittal area and frontal convexity (6 cases each). Operative morbidity was 21% and mortality was 12,5%. Three cases were re-operated on due to venous thrombosis and infarction. The main cause of mortality was brain edema due to venous sinus thrombosis and infarction associated with pulmonary complications. Surgery in elderly patients suffering from menigiomas must be carefully planned due to associated clinical comorbidities. On the other hand, surgical treatment should not be discarded based only on patient’s age. Keywords Meningiomas, elderly, brain tumours, meningothelial cell tumours. Introdução A idade elevada, como fator isolado, não contra-indica a cirurgia de meningiomas25. Os autores estipulam idades entre 656, 8, 11, 16, 25, 27, 34, 39, 41, 43 e 70 anos12, 21, 24, 27, 31, 32, 35, 37, 44, 46 como os limite para se ingressar nesta faixa etária. Em decorrência da tendência mundial para o aumento da sobrevida média da população, é imprescindível o entendimento das pecu- liaridades e cuidados referentes a esses pacientes. 14 Os pacientes idosos compõem uma grande parcela dos pacientes com meningiomas na atualidade. Em breve, este número tende a alcançar um número ainda maior. A neurocirurgia geriátrica deve ser vista como uma especialidade à parte, e cada vez mais devemos nos dedicar a este campo. O paciente mais idoso descrito na literatura revisada tinha 87 anos6. A idade para inclusão neste grupo variou de 55 anos, na população da China comunista9, 10, até 80 anos, em uma série de pacientes italianos apresentada por Mastronardi et al.28, na literatura revisada. Os autores apresentam sua casuística de pacientes idosos com o objetivo de identificar fatores clínicos pré- operatórios, dificuldades técnicas cirúrgicas e complicações pós-operatórias neste grupo etário. Pacientes e métodos Foram analisados 34 pacientes operados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, Hospital Professor Edmundo Vasconcelos e Hospital Samaritano. Do ponto de vista prático, dividimos os pacientes em três grupos: I– 65 a 75 anos, II– 75 a 80 anos, III– acima de 80 anos. Quanto à presença e ao tipo de sintomatologia, podem ser classificados em: 1) assintomáticos (6 casos); 2) com déficits neurológicos focais (8 casos); 3) não- específicos (1 caso) ou 4) ambos (focais e não-específicos – 9 casos). A sintomatologia encontrada foi confusão mental (10 casos), ataxia (5 casos), cefaléia (8 casos), alterações visuais (5 casos) e hipertensão intracraniana (5 casos). Dois pacientes de 65 e 72 anos apresentavam quadro demencial e diagnóstico de hidrocefalia de pressão normal e doença de Alzheimer. A tabela 1 mostra as co-morbidades preexistentes de nossos pacientes, bem como suas freqüências relativas. Resultados Não houve relação da idade do paciente com a localização do tumor. Do ponto de vista anatomopatológico, todos os tumores foram classificados como meningoteliais (classifi- cação da World Health Organization – tipo I), não havendo nenhum caso de meningioma maligno. Todos os 34 pacientes foram tratados por meio de ressecção cirúrgica do tumor. A mortalidade perioperatória foi de 8,8% nesta série de casos (3 de 34 pacientes). Todos os casos de mortalidade perioperatória foram devidos a infartos venosos extensos seguidos por edema cerebral, que, apesar de terem sido submetidos à cirurgia descompressiva, evoluíram com complicações pulmonares e óbito. O seguimento variou de um a seis anos e, neste período, a mortalidade tardia cumu- lativa foi de 12,9% (4 em 31 pacientes), embora não houvesse nenhum óbito em decorrência de recidiva tumoral ou complicações cirúrgicas. Dois pacientes do sexo masculino faleceram no pós-operatório (PO) tardio por insuficiência coronariana e outro paciente, em decorrência de complicações de cirurgia de correção de aneurisma de aorta abdominal. Uma paciente do sexo feminino de 65 anos também faleceu dois anos após a cirurgia por insuficiência coronariana, tendo sido vítima previamente de acidente isquêmico cerebral. Nossa morbidade cirúrgica foi de 5,9% – dois pacientes apresentaram no pós-operatório novos déficits neurológicos, estando atualmente em acompanhamento neurológico e fisioterápico. Discussão A incidência anual de tumores primários intracranianos em idosos é de 18,1 casos por 100 mil pessoas/ano, sendo menor em homens (15,2 casos/100 mil pessoas/ano) do que em mulheres (20,3/100 mil pessoas/ano). A incidência por grupo etário, dentro da faixa etária idosa, também é variável: 23,2 casos/100 mil pacientes entre 70 e 74 anos; 18,1 nos pacientes entre 75 e 79 anos; 15,1 nos pacientes entre 80 e 84 anos e 7,6 nos pacientes com mais de 85 anos24. Awad et al. (1989) acreditam que pacientes com mais de 60 anos podem ser considerados idosos, porém devem ser reagrupados em dois subgrupos, sendo o primeiro dos 61 anos aos 70 anos e o outro acima de 71 anos, consi- derando a morbi-mortalidade maior no segundo grupo. Atualmente, consideramos como idade-limite 65 anos13, pois é a que se aproxima mais da expectativa de vida média da população brasileira. Metástases cerebrais, astrocitomas malignos e menin- giomas benignos são os tipos de neoplasias cerebrais mais comuns em pacientes com mais de de 65 anos38,41,45. Entre os tumores primários intracranianos, os meningiomas constituem 50,6%; gliomas malignos, 13,3%; adenomas de hipófise, 12,9%; schwannomas, 6,6%; linfomas malignos 3,7% e astrocitomas benignos, 3,7%24. TABELA 1 Co-morbidades clínicas em nossa série de casos e suas freqüências relativas Doença Número de casos Osteoartrose cervical moderada e leve 22 (64,7%) Osteoartrose lombar 15 (44,1%) Diabetes melito 7 (20,6%) Hipotireoidismo 4 (11,8%) Insuficiência coronariana + cirurgia 4 (11,8%) cardíaca prévia Alto risco para doença cerebrovascular 3 (8,8%) Glaucoma 3 (8,8%) Demência preexistente 2 (5,9%) Doença reumatóide do adulto 2 (5,9%) Osteoartrose cervical grave 1 (2,9%) Insuficiência cardíaca congestiva 1 (2,9%) AGUIAR PH, TELLA JR. OI, MANDEL M, FONTES RBV, HERCULANO MA, TEIXEIRA MJ – Conduta terapêutica nos meningiomas em idosos J Bras Neurocirurg 14(1), 13-18, 2003 15 As localizações anatômicas mais comuns dos menin- giomas em idosos, segundo Comu et al. (1990)11 e Umansky et al.(1992) são: base de crânio (40%), convexidade (35%), parassagitais e falcinos (25%), tentoriais e da fossa poste- rior. Conforme citado anteriormente, em nossa casuística encontramos maior porcentagem na região parassagital posterior e convexidade frontal. Muitas doenças neurológicas podem mascarar a sinto- matologia incipiente causada por um tumor cerebral em um idoso. Comparativamente aos pacientes jovens portadores de meningiomas, os idosos costumam apresentar maior inci- dência de confusão mental (32% versus 4%) e ataxia (28% versus 10%), mas menores incidências de cefaléia (23% versus 49%) e alterações visuais (21% versus 43%)46. Em relação à presença e ao tipo de sintomatologia, os menin- giomas podem ser classificados meningiomas podem ter em: assintomáticos (2%); déficits neurológicos focais (38%), não-específicos (6%) ou ambos (focais e não-específicos simultaneamente: 34%)46. A nossa casuística mostrou resultados semelhantes na análise dos mesmos itens. A demência, causando lentificação de pensamentos, esque- cimento e mudanças na personalidade, pode ter como causa,também nesta idade, tumores do sistema nervoso central e não outras causas mais usuais nessa faixa etária, como doença de Alzheimer ou vascular17,38. Em nossa casuística, um caso apresentava Alzheimer e outro, demência por hidrocefalia de pressão normal. As crises convulsivas de início na faixa etária mais avançada ou acima de 65 anos são atribuídas a quadros apopléticos decorrentes de acidentes vasculares cerebrais isquêmicos ou hemorrágicos. Contudo, os pacientes porta- dores de meningiomas nessa faixa etária têm como sintoma inicial freqüente quadro convulsivo ou epileptiforme4,14,26,38. Em particular, 0,4% dos pacientes diagnosticados como tendo acidente vascular cerebral isquêmico podem apresentar como causa da sintomatologia tumor cerebral42. Sintomas e sinais anômalos como retropulsão associada à retração da cabeça já foram descritos em uma paciente idosa portadora de meningioma cerebelar22. Volumosos meningiomas em idosos, ao contrário de pacientes jovens, podem causar poucos sin- tomas devido à grande redução volumétrica do parênquima cerebral normalmente observada nesta idade e à reduzida tendência a desenvolver edema cerebral36 (Figura 1). Está comprovado na literatura que pacientes portadores de meningiomas intracranianos com bom estado neuro- lógico pré-operatório se beneficiam do tratamento cirúr- gico16,33. Entretanto, doenças clínicas podem ser fatores complicadores na cirurgia de idosos portadores de menin- giomas. Umansky et al.43 encontraram a seguinte freqüência de doenças associadas: hipertensão arterial (35%), doença isquêmica crônica coronariana (22%), doença pulmonar obstrutiva crônica (19%) e diabetes (14%). Grosse20 relata o caso de uma paciente idosa portadora de meningioma que apresentava cirrose hepática, diabetes melito, hiper- tensão arterial, obesidade e colecistopatia representando grande risco para o ato cirúrgico. A tabela 2 mostra as principais doenças que acometem pacientes idosos e que podem alterar o curso da evolução cirúrgica perioperatória. FIGURA 1 Ressonância magnética (corte axial, T1). Exemplo de um paciente de 70 anos com sintomatologia frustra comparada ao volume do processo expansivo. O pós-operatório não evidenciou déficits motores importantes. TABELA 2 Doenças clínicas mais comuns na população idosa Placas de carótida sintomáticas Insuficiência coronariana Arritmias cardíacas crônicas Insuficiência cardíaca Insuficiência renal crônica Diabetes Enfisema pulmonar Bronquite crônica Prostatismo Osteoporose Doenças osteodegenerativas da coluna cervical Insuficiência venosa profunda Artrites Quadro neurológico isquêmico de repetição Síndromes demenciais Parkinsonismo Hidrocefalia de pressão normal Hipotiroidismo AGUIAR PH, TELLA JR. OI, MANDEL M, FONTES RBV, HERCULANO MA, TEIXEIRA MJ – Conduta terapêutica nos meningiomas em idosos J Bras Neurocirurg 14(1), 13-18, 2003 16 Acima dos 65 anos o índice de complicações pós-ope- ratórias e de mortalidade cresce assustadoramente e pode alcançar cifras de até 18,5% de mortalidade em algumas casuísticas39. Apesar de todos os avanços nas técnicas operatórias, neuroanestesia e terapia intensiva, a indicação de cirurgia radical em meningiomas intracranianos perma- nece uma dolorosa escolha dentro do grupo etário em discussão34. Por essas razões, pacientes com indicações cirúrgicas devem ser cuidadosamente avaliados do ponto de vista clínico. As taxas de complicações clínicas pós- operatórias podem alcançar valores de 47,2% em pacientes idosos, porém, a taxa de mortalidade cirúrgica pode variar desde 1,8%, como na série de 57 pacientes de Black et al.6, a 16%, como em 417 doentes compilados na literatura pelo mesmo autor. Nesta última série, a taxa de complicações cirúrgicas em pacientes jovens portadores de meningiomas foi de 8,8%. Todavia, os últimos apresentaram localizações mais críticas do que no grupo idoso, demonstrando que o fator localização também é importante6. A mortalidade nos primeiros 30 dias nesta compilação feita por Black et al. foi de 16%, incluindo causas por afecções pulmonares6. A tabela 3 mostra uma compilação das cifras percentuais relativas à mortalidade operatória e morbidade pós-cirúrgica em pa- cientes idosos em diversas casuísticas revisadas na literatura. Já a tabela 4 mostra as complicações mais comuns a serem evitadas nos pacientes em questão. A sobrevida média em cinco anos de pacientes com mais de 65 anos operados de meningiomas pode perfazer 56%, enquanto a dos 21 aos 64 anos pode alcançar 81%29. A idade não é o único fator pré-operatório que influi no prognóstico, mas outros fatores também são estatisticamente significativos: estado neurológico pré-operatório, operações múltiplas prévias, malignidade histológica, grau de edema perilesional TABELA 3 Meta-análise da morbimortalidade operatória de pacientes idosos portadores de meningiomas. NA – Não-avaliado Autor (ano) Mortalidade perioperatória No de pacientes (%) / Morbidade (%) Awad et al.4 8/52 25 Arienta et al.3 12/NA 46 Comu et al.11 16/34 96 Okada et al.33 2,9/NA 34 Umansky et al.43 5,4/12 37 Maurice-Williams et al.27 9,0/35 46 Gijteenbeek et al.16 14/41 93 Salvati et al.39 18,5/4 120 Proust et al.37 7,6/10,3 38 Pompili et al.35 9,0/24 43 Lieu e Howng25 11,1/47,2 36 Black et al.6 1,8/39 57 TABELA 4 Complicações clínicas mais comuns em pacientes idosos que devem ser evitadas Lacerações durais com fístula liquórica Meningites pós-operatórias Atelectasias Broncopneumonias Tromboembolismo pulmonar Trombose venosa profunda Arritmias cardíacas perioperatórias Isquemias coronarianas perioperatórias Descompensação diabética (corticóides, hipoglicemiantes orais, infecção) Acidente vascular isquêmico cerebral Acidente vascular hemorrágico primário, por transformação hemorrágica de isquemia arterial ou infarto venoso Descompensação da pressão arterial Descompensação de glaucoma e taxa proliferativa celular1,25,32. Os fatores clínicos no período pré-cirúrgico preditivos de má evolução são diabetes melito e obesidade3,35. Pacientes com estado neurológico pré- operatório avaliado pela escala de Karnofsky, cujos índices são menores que 70%, também possuem prognóstico desfavorável. Entretanto, isoladamente, os baixos índices nesta escala não contra-indicam cirurgia11,28,37. Pacientes idosos com disfunção cognitiva pré-operatória têm um índice de 50% de melhora após a ressecção de 80% de volume tumoral27. AGUIAR PH, TELLA JR. OI, MANDEL M, FONTES RBV, HERCULANO MA, TEIXEIRA MJ – Conduta terapêutica nos meningiomas em idosos J Bras Neurocirurg 14(1), 13-18, 2003 17 O grau de ressecção é um fator prognóstico pós- operatório que determina o período esperado de recidiva40. Ressecções totais de meningiomas podem alcançar a taxa de 76%, contra 24% de ressecções subtotais em idosos43. Diâmetro tumoral de 5 cm ou mais condicionou na casuística de 17 casos de Mastronardi et al. (1995)28 piores resultados pós-operatórios em pacientes na nona década de vida. Segundo Pompili et al.35 os resultados pós-ope- ratórios imediatos das cirurgias de meningiomas em idosos são bons em 71% dos casos35. A taxa de recorrência em idosos é inferior à dos pacientes jovens portadores de meningiomas operados5. Conclusão A cirurgia para meningiomas em pacientes idosos, na grande maioria dos casos, melhora a qualidade de vida e a sobrevida desses pacientes. Contra-indicações absolutas, levando-se em conta apenas a idade, não devem ser aplicadas nesses casos. Esta mudança deve-se muito mais aos avanços das equipes de apoio do que aos avanços em técnicas neurocirúrgicas. A avaliação pré-operatória de cada paciente, baseada em uma equipe multiprofissional e levando-se em conta co-morbidades comuns na faixa etária, é o que deve definir a indicação para o ato cirúrgico. Referências bibliográficas 1. 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OI, MANDEL M, FONTES RBV, HERCULANO MA, TEIXEIRA MJ – Conduta terapêutica nos meningiomas em idosos J Bras Neurocirurg 14(1), 13-18, 2003 19 ARTIGO DE REVISÃO J Bras Neurocirurg 14(1): 19-20, 2003DIAS FILHO LC – Cérebro: um imbróglio terminológico JORNAL BRASILEIRO DE NEUROCIRURGIA Cérebro: um imbróglio terminológico Luiz Coutinho Dias Filho* “Se quiser conversar comigo, defina seus termos.” (Voltaire) * Neurocirurgião da Disciplina de Neurologia e Neurocirurgia da Universidade Federal de Pernambuco. Professor Auxiliar da Disciplina de Anatomia da Universidade Federal de Pernambuco. Sinopse É comum a neurologistas e neurocirurgiões considerarem erroneamente o cérebro como sendo formado pelo diencéfalo e o telencéfalo. Tal erro está consignado em várioslivros- textos de Neuroanatomia utilizados nas universidades brasileiras. O correto é incluir entre os componentes do cérebro apenas as estruturas telencefálicas, como estabe- lecido na Terminologia Anatômica Internacional e em renomados dicionários médicos. Palavras-chave Cérebro, diencéfalo, nomenclatura anatômica, telencéfalo. Abstract Cerebrum: an “imbroglio” in terminology It is common for neurologists and neurosurgeons to erroneously consider the cerebrum as being constituted by diencephalon and telencephalon. This error is consigned in many textbooks of Neuroanatomy used in brazilian univer- sities. The correct way is to include among the components of the cerebrum only the telencephalic structures, as established in the International Anatomical Terminology and renowned medical dictionaries. Keywords Anatomic nomenclature, cerebrum, diencephalon, telen- cephalon. Introdução No caso de, como já realizado em outros idiomas15, ser feito em língua portuguesa um levantamento das palavras que são mais freqüentemente utilizadas para denominar partes do corpo, decerto o nome cérebro ocupará o topo da lista dos termos relacionados ao sistema nervoso. É desconcertante que a mais corriqueira das palavras utilizadas em um “colóquio neurológico” seja repetidamente proferida com um significado diverso daquele que a nomenclatura anatômica oficial recomenda. Esse tropeço semântico consiste em fazer uso da palavra cérebro para designar o telencéfalo junto com o diencéfalo. A etimologia nos remete ao latim cerebrum, palavra utilizada pelos antigos romanos para designar o conteúdo da cavidade craniana, o próprio crânio ou a cabeça como um todo9. Com o passar do tempo, a abrangência do termo foi se restringindo e, há décadas, a nomenclatura anatômica oficial vem apresentando como cérebro apenas a porção do sistema nervoso que provém da mais cranial das vesículas encefálicas embrionárias, o telencéfalo. Rigorosamente, a palavra telencéfalo deveria ser reser- vada para o embrião, contudo tornou-se usual utilizá-la com respeito ao sistema nervoso plenamente desenvol- vido, circunstância em que surge como sinônimo de cérebro. Assim está na nomenclatura referendada pela Federação Internacional de Associações de Anatomistas (FIAA), vigente desde 1998; tal Terminologia Anatômica (TA) apresenta cérebro e telencéfalo como sinônimos, ambas as palavras sendo associadas a um único número de referência: A14.1.09.00113. A TA deixa claro que o diencéfalo (número de referência A14.1.08.001) não é parte do cérebro13, assim, é incon- 20 cebível o hábito, arraigado entre neurologistas e neuroci- rurgiões brasileiros, de considerar o cérebro como sendo formado por estruturas telencefálicas e diencefálicas. Em Anatomia, a TA tem autoridade bíblica e isso por si só se basta; contudo, não custa buscar apoio no dicionário: “Cérebro S.m. 1. Anatom.: O órgão mais largo e volumoso do encéfalo, correspondendo a sete oitavos de seu peso. Resulta do desenvolvimento do telencéfalo e compõe-se de dois hemisférios cerebrais, separados por uma fissura longitudinal e unidos pelo corpo caloso...” 5; “Cérebro – (NA, BNA) – A porção maior do encéfalo, que ocupa toda a parte superior do crânio, consistindo dos hemisférios direito e esquerdo; telencéfalo”6; “Cerebrum: 1. [NA] A porção principal do encéfalo, que ocupa a parte superior da cavidade craniana; seus dois hemisférios (ver cerebral hemisphere, em hemisphere), unidos pelo corpus callosum, formam a maior parte do sistema nervoso central no homem. Ele é derivado (desenvolvido) do telencéfalo do embrião”7; “Cerebrum, pl. ce.re.bra, cer.e.brums [TA]. Cérebro; originalmente se referia à maior parte do encéfalo, incluindo praticamente todas as partes dentro do crânio, exceto o bulbo (medula oblonga), a ponte e o cerebelo; agora, geralmente refere apenas as partes derivadas do telencéfalo e inclui principalmente os hemisférios cerebrais”12. A raiz do erro está na sala de aula. Qualquer um que tenha o destemor de afirmar que uma lesão talâmica não está no cérebro corre o risco de ser torpedeado pelos livros- textos de Neuroanatomia adotados em muitas das universidades brasileiras. Abaixo foram relacionados trechos de alguns desses livros: “O diencéfalo e o telencéfalo formam o cérebro, que corresponde, pois, ao prosencéfalo”10; “O termo cérebro designa o par de hemisférios cerebrais e o diencéfalo”11; “Das três divisões básicas do encéfalo, o prosencéfalo, ou cérebro anterior, é de longe o maior. Também é chamado de cérebro”3; “O termo diencéfalo refere-se à parte do sistema nervoso central que, em conjunto com o telencéfalo, constitui o cérebro”2; “O diencéfalo, junto com o telencéfalo, forma o cérebro”8; “Quando se considera o cérebro (diencéfalo + telencéfalo) e se examina a base da peça, observa-se a presença de formações macroscópicas, como o quiasma óptico...”14; “O cérebro (cérebro anterior ou prosencéfalo) consiste em telencéfalo e diencéfalo”4. Época houve em que cerca de 5 mil estruturas anatô- micas eram conhecidas e, para denominá-las, havia mais de 50 mil termos1. O esforço para dirimir essa confusão “babelesca” resultou na TA, uma nomenclatura que prima pela simplificação e deve ser adotada em todo o mundo. Quanto às partes do encéfalo, deve-se considerar o cérebro como sendo formado apenas por estruturas telencefálicas e ponto final. Referências bibliográficas 1. BECKER I: Nomenclatura Anatômica da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan S.A., 1977. 2. CARDOSO F: Diencéfalo – Epitálamo e Subtálamo. In: MENESES MS: Neuroanatomia Aplicada. Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan S.A., 1999. Cap. 13, p 195. 3. CROSSMAN AR, NEARY D: Neuroanatomia. 2a edição, Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan S. A., 2002. Cap.1, p 7. 4. DeGROOT J, CHUSID JG: Neuroanatomia. 21a edição, Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan S.A., 1994. Cap. 1, p 1. 5. Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde. 2a edição, Rio de Janeiro, Editora Guanabara Koogan S.A., 2003. 6. 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A lesão foi completamente ressecada utilizando-se um procedimento guiado por imagem, sem
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